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Redução do imposto sobre produtos industrializados: uma análise econômico-tributária dos reais efeitos das medidas de incentivo ao mercado automotivo

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Academic year: 2017

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(1)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO FGV DIREITO RIO

GRADUAÇÃO EM DIREITO

FERNANDO MANCILHA SALOMÃO

REDUÇÃO DO IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS:

UMA ANÁLISE ECONÔMICO-TRIBUTÁRIA DOS

REAIS EFEITOS DAS MEDIDAS DE INCENTIVO

AO MERCADO AUTOMOTIVO

Rio de Janeiro,

(2)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO DO RIO DE JANEIRO

GRADUAÇÃO EM DIREITO

FERNANDO MANCILHA SALOMÃO

REDUÇÃO DO IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS:

UMA ANÁLISE ECONÔMICO-TRIBUTÁRIA DOS

REAIS EFEITOS DAS MEDIDAS DE INCENTIVO

AO MERCADO AUTOMOTIVO

Trabalho de Conclusão de Curso,

sob Orientação da professora Melina

de Souza Rocha Lukic apresentado à

FGV DIREITO RIO como requisito

parcial para obtenção do grau de

bacharel em Direito.

Rio de Janeiro,

(3)

REDUÇÃO DO IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS:

UMA ANÁLISE ECONÔMICO-TRIBUTÁRIA DOS

REAIS EFEITOS DAS MEDIDAS DE INCENTIVO

AO MERCADO AUTOMOTIVO

Elaborado por FERNANDO MANCILHA SALOMÃO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado à FGV DIREITO RIO como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Comissão Examinadora:

Nome do orientador: _________________________________

Nome do Examinador 1: _________________________________

Nome do Examinador 2: _________________________________

Assinaturas:

_____________________________________ Professor Orientador

_____________________________________ Examinador 1

_____________________________________ Examinador 2

Nota Final: ___________

(4)

Dedico as próximas páginas àqueles que participaram e contribuíram com a minha formação acadêmica e profissional. Em especial, à minha família, que sempre me apoiou nos momentos de dificuldade.

(5)

Agradeço aos meus pais, por terem me proporcionado estudar em uma Instituição como a Fundação Getúlio Vargas.

(6)

Aborda-se as medidas de redução da alíquota do Imposto sobre Produtos

Industrializados para o mercado automotivo, como instrumento extrafiscal de

incentivo ao setor em questão, diante dos efeitos da crise econômica mundial de

2008.

O estudo efetuado tem como objetivo verificar os reais efeitos

econômico-tributários da redução do IPI para o setor automotivo, verificando se as vendas, de

fato, aumentaram com os programas de incentivo, assim como em que medida o

consumidor final foi beneficiado pela desoneração tributária concedida pelo

Governo.

Como forma de viabilizar o estudo proposto, serão analisados os diferentes

programas de incentivo ao setor automobilístico, levando em consideração seus

períodos de vigência e evolução das alíquotas no decorrer do tempo. Nesse sentido,

demonstra-se necessário analisar a progressão das vendas no período analisado,

assim como a evolução dos preços dos automóveis objetos do benefício fiscal.

Conforme se verificará, as medidas de redução do IPI proporcionaram a

recuperação do setor automotivo, com um considerável aumento nas vendas, além

de terem beneficiado o consumidor final, com uma significativa redução do preço de

mercado dos automóveis.

PALAVRAS–CHAVE: Redução da alíquota do Imposto sobre Produtos

(7)

The approach is on the reduction measures of the Industrial Product Tax (IPI)

aliquot on the automotive market, as an incentive instrument to the automotive

sector, in light of the effects of the Global Financial Crisis of 2008.

The study carried out aims to analyze the actual economic impact of the IPI

reduction on the automotive sector, analyzing whether the sales have, in fact,

increased with the encouragement programs, as well as to which extent the final

customer has benefited from the tax unburdening granted by the Government.

As a means to make this study possible, different encouragement programs to

the automotive sector will be analyzed, taking into account the periods in which they

were in effect and the evolution of the aliquots in the course of time. Therefore, it is

necessary to analyze the sales progression throughout the period studied, as well as

the evolution of the prices of the automobiles that have received the fiscal benefit.

As will be further verified, the reduction measures of the IPI have afforded the

recovery of the automotive sector, with a sizable increase in sales, aside from having

benefited the final customer, with a considerable reduction in the sale prices of

automobiles.

KEYWORDS: Reduction of the Industrial Product Tax aliquot. Incentive. Final price.

(8)

INTRODUÇÃO ... 9

CAPÍTULO I - REGIME JURÍDICO DO IPI – ASPECTOS RELEVANTES ... 11

1.1 Conceitos Gerais ... 11

1.2 Dos Princípios ... 13

1.2.1 Não cumulatividade ... 14

1.2.2 Seletividade ... 14

1.2.3 Legalidade e Anterioridade ... 18

CAPÍTULO II – AS MEDIDAS DE REDUÇÃO DO IPI NO SETOR AUTOMOTIVO .. 20

2.1 Contexto ... 20

2.2 Dos programas de redução da alíquota de IPI ... 22

2.2.1 Governo de Luiz Inácio Lula da Silva ... 22

2.2.2 Governo de Dilma Rousseff ... 24

CAPÍTULO III – DOS EFEITOS DAS MEDIDAS DE REDUÇÃO DO IPI ... 30

3.1 Desempenho geral do mercado – efetividade da medida ... 30

3.2 Do repasse do benefício ao consumidor final ... 33

3.2.1 Análise de dados: GOL 1.0 ... 35

3.2.2 Análise de dados: SANDERO 1.6 FLEX. ... 41

CONCLUSÃO ... 46

(9)

O presente trabalho se propõe a estudar as medidas de incentivos fiscais ao

mercado automotivo, as quais se efetivaram, por meio da redução da alíquota do

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor automobilístico.

Com o avanço da crise econômica mundial de 2008, a economia brasileira

começava a sentir os reflexos da recessão global. Como consequência do cenário

macroeconômico vivenciado, o desempenho do mercado automotivo sofreu

consecutivas quedas, colocando em risco um setor fundamental para a estabilidade

e desenvolvimento da economia nacional.

Desta forma, o Governo Federal passou a aplicar, com certa regularidade,

medidas de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados para o mercado

automotivo. Tais medidas tinham como objetivo, recuperar o desempenho do setor,

com a desoneração da cadeia de produção do automóvel, proporcionando assim,

um maior lucro operacional para os agentes econômicos envolvidos.

Como consequência das medidas de redução do IPI, o custo de produção do

automóvel ficaria menor, o que levaria, em tese, à diminuição do valor final do

produto, incentivando as vendas de veículos novos.

Contudo, deve-se atentar para os reais efeitos da concessão do retratado

benefício fiscal. O estudo realizado pelo trabalho apresentado terá como objetivo

identificar os reais efeitos das medidas de redução do IPI no mercado automotivo,

verificando se tais medidas proporcionaram um aumento significativo nas vendas de

veículos, como o especulado. Ademais, têm-se como objetivo averiguar em que grau

o consumidor final foi, de fato, beneficiado pela redução do imposto estudado, isto é,

se o desconto do IPI concedido pelo Governo foi repassado, em alguma

porcentagem, ao mesmo.

O estudo em questão demonstra absoluta relevância político-social, uma vez

que, caso não se verifique um aumento significativo nas vendas de automóveis,

assim como uma redução no preço final do automóvel, por meio do repasse de parte

(10)

aumentar o lucro operacional das montadoras automotivas, desvirtuando, dessa

forma, a justificativa original para se conceder tal redução tributária.

Como forma de viabilizar o proposto pelo presente trabalho, serão analisados,

em um primeiro momento, os programas de incentivo ao mercado automotivo,

determinando suas particularidades e períodos de vigência. Posteriormente, com

base nos programas identificados, será efetuado um estudo mercadológico, com o

objetivo de analisar os efeitos das medidas de redução do IPI no desempenho geral

do mercado, identificando a variação do número de veículos novos emplacados em

um determinado período de estudo.

A partir dos dados obtidos, passar-se-á para a análise dos preços praticados

no mercado durante o período de vigência das medidas. Trata-se de uma forma de

verificar se a redução do IPI foi repassada, em algum percentual significativo, ao

consumidor final, beneficiando-o com preços mais baixos.

Cumpre destacar que, as medidas de redução de IPI abrangem, em períodos

e porcentagens diferentes, categorias diversificadas do setor automotivo, como por

exemplo, os automóveis, caminhões e comerciais leves. Entretanto, como forma de

metodologia de pesquisa, apenas o setor especifico de automóveis (carros) será

estudado. Isto porque, tal setor apresenta maior participação de pessoas físicas no

papel de consumidores, as quais possuem menor poder de negociação, quando

comparadas com pessoas jurídicas, que em regra, efetuam compras em volumes

maiores, podendo conseguir um repasse maior do benefício fiscal perante as

(11)

Para melhor compreender o estudo aplicado por este trabalho, demonstra-se

necessário a análise conceitual de alguns aspectos relevantes do Imposto sobre

Produtos Industrializados (IPI), os quais serão abordados ao longo deste capítulo.

1.1 Conceitos Gerais

A Constituição Federal de 1988, outorgou expressamente à União, a

competência para criar imposto sobre produtos industrializados. Tal hipótese de

incidência do IPI está disposta no artigo 153, IV da Constituição Federal, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre

I importação de produtos estrangeiros;

:

II exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;

III renda e proventos de qualquer natureza;

IV produtos industrializados

V operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;

;

VI propriedade territorial rural;

VII grandes fortunas, nos termos de lei complemento

Importante destacar que o IPI não pode ser caracterizado apenas como um

imposto sobre o consumo. Trata-se de um imposto que incide sobre operações

jurídicas praticadas com produtos industrializados. De acordo com o lecionado por

EDUARDO DOMINGOS BOTALLO:

“(...) nos termos da Constituição, ele deve ter por hipótese de incidência o fato de alguém industrializar produto e levá-lo para além do estabelecimento produtor, por força da celebração de um negócio jurídico translativo de sua posse ou propriedade”1.

No mesmo sentido, LEANDRO PAULSEN dispõe que a base econômica do

IPI deve ser interpretada de maneira sistemática. Conforme destacado pelo

renomado autor:

1

(12)

“(...) a base econômica do IPI deve ser analisada à luz do inciso IV do art. 153 da Constituição de 1988 c/c o seu §3º e incisos. Pela sua interpretação sistemática, depreende-se que incide sobre a “operação” com “produtos industrializados”, ou seja, sobre o negócio jurídico que tenha por objeto bem, ainda que não necessariamente destinado ao comércio (mercadoria), submetido por um dos contratantes s processo de industrialização. Pressupõe, pois, a industrialização e a saída do produto do estabelecimento industrial. Assim, o IPI incide nas operações de que participa o industrial que industrializou o produto, mas que não, e.g., na venda por comerciante ao consumidor, porque, embora possa se tratar de produto industrializado(como qualidade do produto), não se trata de operação com produto que tenha sido industrializado pelo comerciante.”2

Válido ressaltar que, a Constituição Federal não apresenta qualquer definição

legal-jurídica acerca da expressão “produto industrializado”. Contudo, o Código

Tributário Nacional realiza a conceituação em seu artigo 46, parágrafo único, in

verbis:

Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos

industrializados tem como fato gerador:

I - o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;

II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo 51;

III - a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.

Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se

industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.

Tal conceito é amplamente recepcionado pela doutrina e pela jurisprudência.

Logo, é importante destacar a posição do magistrado GERALDO ATALIBA, o qual

assegura ainda mais a receptividade e aceitação do conceito contido no Código

Tributário Nacional ao dispor que é possível presumir que o legislador constitucional

“tomou como referencial este conceito, ao elaborar o texto de 1988”3.

Vejamos então, as palavras de EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO:

2

PAULSEN, Leandro e MELO, José Eduardo Soares de. Impostos Federais, Estaduais e Municipais, 6ª ed., rev. e atual, Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011, pp. 82/83

3

(13)

Haverá “produto industrializado, na acepção do art. 153, IV, da Constituição Federal e do art. 46, parágrafo único, do CTN, quando um bem in natura passa por qualquer tipo de ação, que lhe altere a natureza ou finalidade ou, mesmo, facilite sua utilização, para satisfazer uma necessidade humana”.4

Contudo, cumpre esclarecer que, conforme posição do Superior Tribunal de

Justiça5, a hipótese de incidência do IPI “ocorre em ciclo único, no momento da

saída da mercadoria do estabelecimento do fabricante, onde ela sofre o processo de

industrialização”. Sendo assim, para que ocorra a incidência do IPI, é necessário

que o produto tenha sido industrializado por umas das partes presentes na relação

jurídica.

Dessa forma, consoante o exposto, não há incidência do IPI na relação de

consumo entre o comerciante e o consumidor, tendo em vista não se demonstrar

presente a industrialização de um determinado produto por nenhuma das partes

contratantes.

Tal constatação é de absoluta relevância para o presente trabalho, uma vez

que o IPI não irá incidir na relação entre a concessionária automotiva e o

consumidor final, pois a industrialização do produto ocorreu em uma etapa anterior

àquela relação de consumo, isto é, a industrialização do automóvel ocorreu na etapa

fabril, produtiva. Portanto, o IPI irá incidir apenas na relação entre a

montadora-fábrica e o concessionário automotivo.

1.2 Dos Princípios

Para entender o mecanismo jurídico e potenciais efeitos da redução do IPI no

mercado automotivo é necessário analisar os principais princípios aplicáveis ao

retratado imposto.

4

BOTTALLO, Eduardo Domingos. Ob.cit., p. 29

5

(14)

1.2.1 Não cumulatividade

Cabe, inicialmente, fazer uma breve exposição do princípio da não

cumulatividade. A Constituição Federal dispõe em seu artigo 153, § 3º, II, que o

imposto previsto no inciso IV, isto é, o imposto sobre produtos industrializados, “será

não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o

montante cobrado nas anteriores”.

Dessa forma, é constitucionalmente vedada a incidência sucessiva do IPI na

cadeia produtiva de um determinado produto industrializado. Tal medida tem como

objetivo não permitir a oneração excessiva do produto final, em razão da incidência

em cascata do IPI em um mesmo processo produtivo. Constituiu-se, assim, um

sistema de compensação, em que o contribuinte está autorizado a deduzir o

montante pago em uma operação anterior.

Isto é, a incidência do IPI em uma determinada operação, com a saída de um

produto que será insumo para outro produto final, por exemplo, gera um crédito que

poderá ser deduzido pelo contribuinte. Na produção automotiva, o sistema de não

cumulatividade do IPI contribui para a diminuição do preço final do automóvel, tendo

em vista que um automóvel é composto por uma série de insumos e produtos

intermediários, os quais têm os montantes pagos à título de IPI, nas operações

anteriores, devidamente deduzidos em sua cadeia produtiva.

1.2.2 Seletividade

A Constituição Federal determina ainda, em seu artigo 153, § 3º, I, que o

Imposto sobre Produtos Industrializados será seletivo. A seletividade, nas palavras

de LEANDRO PAULSEN, “implica tributação diferenciada, conforme a qualidade do

que é objeto da tributação”6.

Trata-se, portanto, do estabelecimento de alíquotas conforme a

essencialidade do produto, análise que leva em consideração aspectos políticos,

6

(15)

sociais e econômicos, como por exemplo, a capacidade contributiva. Nas palavras

de JOSÉ MAURÍCIO CONTI:

“A seletividade em função da essencialidade é uma forma pela qual se aplica o princípio da capacidade contributiva aos impostos indiretos, porque é possível admitir-se que, na generalidade dos casos, os produtos essenciais são indispensáveis aos indivíduos com baixa capacidade contributiva, e os produtos supérfluos são adquiridos por aqueles com maior capacidade contributiva.7”

O princípio da seletividade do IPI encontra embasamento no plano da

extrafiscalidade, permitindo, dessa forma, que o tributo transcenda a simples noção

de instrumento de arrecadação de recursos.

A extrafiscalidade consiste, nas palavras de CARVALHOSA, no “emprego dos

instrumentos tributários com objetivos não fiscais, mas econômicos, ou seja, para

finalidades não financeiras, mas regulatórias de comportamentos sociais em matéria

econômica, social e política”8.

No mesmo sentido, dispõe JOSÉ REINALDO DE LIMA LOPES:

“O sistema tributário contemporâneo tem funções próprias, fundamentadas na concepção do Estado dentro de uma sociedade capitalista e de mercado. Geralmente fala-se nas funções fiscais, que significam a arrecadação para a manutenção dos serviços públicos universais e gerais. E fala-se, também, nas funções extrafiscais, de orientação econômica geral (função promocional): de estímulo ou desestímulo ao mercado.9”

Evidente que o poder de tributar acarreta consequências, negativas ou

positivas, para os agentes econômicos. Isto porque “a tributação constitui, senão o

principal, seguramente um dos mais poderosos instrumentos de ação estatal sobre a

economia”10

7

CONTI, José Maurício. Sistema Constitucional Tributário Interpretado pelos Tribunais. Oliveira Mendes e Del Rey, 1997, p. 166

. Tal afirmação encontra absoluta aplicação ao presente trabalho, tendo

em vista que a política de redução de IPI para automóveis acarretou uma perceptível

8

CARVALHOSA, Modesto. A ordem Econômica na Constituição de 1969, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1972, p. 90

9

LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História – Lições Introdutórias, São Paulo: Max Limonad, 2000, p. 245

10

(16)

alteração no desempenho do mercado, o qual foi claramente incentivado pelo plano

extrafiscal aplicado, conforme será demonstrado nos capítulos seguintes.

Isto porque, por meio da seletividade, o Estado pôde atribuir função

extrafiscal ao tributo em questão, fazendo-se valer de um eficiente instrumento de

regulação da ordem econômica, efetuando assim a manutenção de um mercado

absolutamente importante para a economia nacional.

A seletividade do IPI pode ser efetivada por meio de mecanismos diversos,

como por exemplo: a alteração da base de cálculo, concessão de incentivos fiscais,

ou a manipulação de alíquotas. O plano aplicado pelo governo para incentivar o

mercado automobilístico, diante da crise global de 2008, foi efetivado por meio da

manipulação de alíquotas, aplicando, inicialmente, o sistema de alíquota zero, para

automóveis de até mil cilindradas, e reduções na alíquota de automóveis entre mil

cilindradas e duas mil cilindradas. Posteriormente, o Governo aumentou a alíquota

do IPI gradativamente, conforme o desempenho do mercado.

O instituto da redução da alíquota zero possui ampla aplicação, como forma

de efetivar a seletividade do IPI. Os doutrinadores equiparam tal instituto à isenção,

conforme leciona EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO:

“Neste contexto, figura largamente empregada no campo do tributo é a da alíquota zero já anteriormente examinada que, como visto, não passa de isenção, concedida mediante redução da alíquota do tributo a zero, disso resultando a impossibilidade de surgimento de obrigação tributária.”11

Importante destacar ainda, que a seletividade pode ser aplicada, também, em

razão da finalidade específica do produto. No mesmo sentido, dispõe LEANDRO

PAULSEN:

“A seletividade já foi abordada, também, não em face da natureza do produto, mas da sua finalidade específica, tendo-se decidido que não se justificava a tributação de cartões magnéticos para transporte ferroviário à alíquota de 15%, não por se tratar de cartões

11

(17)

magnéticos, mas em razão da essencialidade do transporte público de passageiros.”12

Portanto, evidente que a política de manipulação da alíquota do IPI para o

mercado automotivo teve como agente causador a fragilidade econômica vivenciada

globalmente em 2008, a qual começava a atingir a economia brasileira. Como forma

de assegurar a estabilidade macroeconômica, tendo em vista o papel crucial

desempenhado pela indústria automotiva no Brasil, o governo concedeu a redução

do IPI para o mercado automotivo, com o objetivo de aquecer o mercado e

movimentar a economia, uma vez que o preço final do automóvel ficaria,

teoricamente, reduzido, beneficiando, dessa forma, os consumidores finais.

Ademais, sob o ponto de vista dos agentes econômicos envolvidos, tem-se

que o IPI incide sobre a cadeia de produção do automóvel. Com a desoneração

desta, as montadoras poderiam se recuperar da crise financeira, aumentando os

seus lucros e diminuindo os custos de produção.

Contudo, o presente trabalho tem como objetivo analisar a efetividade da

política de redução das alíquotas do IPI aplicada, assim como em que medida tal

benefício tributário foi repassado ao consumidor final. Evidente que são os

consumidores finais que suportam o ônus tributário do IPI, pois são caracterizados

como contribuintes de fato, tendo em vista que tal tributo é repassado, por meio do

preço do produto, aos consumidores finais.

Sobre o assunto, dispõe EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO:

“Reiteramos que a essencialidade de que aqui se cogita tem por escopo favorecer os consumidores finais, que, como não se contesta, são os que suportam a carga econômica do IPI”.13

Dessa forma, cumpre analisar os efeitos reais da política de redução da

alíquota estabelecida, isto é, se de fato houve um aumento significativo nas vendas

e consequente aquecimento do setor automotivo, assim como em que medida tal

12

PAULSEN, Leandro e MELO, José Eduardo Soares de, Ob.cit. p. 89

13

(18)

política beneficiou os consumidores finais, ou seja, se os descontos de IPI foram

repassados, em parte, ao consumidor final.

Caso contrário, considerando que não houve qualquer repasse da redução do

IPI para o consumidor final, isto é, caso o preço final do automóvel tenha se mantido

inalterado após o benefício fiscal, pode-se supor que tal medida teria como efeito

majoritário aumentar o lucro operacional das montadoras automotivas, desvirtuando,

dessa forma, a motivação para se aplicar o instituto em questão.

1.2.3 Legalidade e Anterioridade

A Constituição Federal flexibiliza o princípio da legalidade em relação ao

Imposto sobre Produtos Industrializados, conforme dispõe o artigo 153, §1º do

referido instituto legal:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros;

II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;

IV - produtos industrializados;

V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;

§ 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.

Evidente, portanto, que o Poder Executivo por meio de decreto, pode alterar

as alíquotas de IPI, devendo sempre motivar a sua decisão, observando a

supremacia do interesse público e ao próprio princípio da seletividade, abordado no

tópico anterior.

Vejamos as palavras de EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO:

“Em suma, é imprescindível que o decreto que altera as alíquotas do IPI seja motivado (fundamentado), em ordem a permitir, se necessário, que se afira, inclusive e especialmente pelo Poder Judiciário, sua adequação aos parâmetros constitucionais do tributo, sobretudo o da seletividade.”14

14

(19)

Consoante o exposto, têm-se que, a majoração, revogação, ou instituição de

benefícios relacionados ao Imposto sobre Produtos Industrializados não devem

observar a anterioridade de exercício, disposta no artigo 150, III, alínea “b” da Carta

Magna.

Isto porque o IPI cumpre uma função extrafiscal, devendo existir uma relativa

agilidade na manipulação de sua alíquota para a efetiva orientação econômica geral.

Contudo, a anterioridade nonagesimal deverá ser observada, tendo em vista que o

artigo 153, §1º da Carta Magna não excepciona o IPI de tal obrigação.

Portanto, percebe-se que a atenuação ao princípio da legalidade, assim como

a exceção à anterioridade de exercício, permitem ao Poder Executivo aplicar

políticas extrafiscais ao IPI com relativa agilidade, visando a orientação econômica

geral ou manipulação de um determinado mercado. Tal constatação pode ser

representada pelos decretos que serão analisados no decorrer deste presente

(20)

Neste capítulo, será abordado o contexto político-econômico que

fundamentou a adoção de políticas extrafiscais de incentivo ao mercado automotivo.

Em seguida, serão apresentados e analisados os programas de incentivo ao setor

automotivo por meio da redução do IPI, verificando os seus períodos de vigência,

prorrogações, e evoluções nas alíquotas do imposto retratado.

2.1 Contexto

Conforme disposto, serão apresentadas as razões econômicas globais e

nacionais que motivaram a adoção da política de reduções na alíquota do Imposto

sobre Produtos Industrializados para o mercado automotivo, Trata-se de uma

contextualização, com o objetivo de identificar a motivação para a política extrafiscal

aplicada.

As estratégias econômicas aplicadas pelo Governo Brasileiro foram uma

resposta à crise global de 2008, que cada vez mais ameaçava a estabilidade

econômica nacional. Considerada a maior crise econômica desde a crise de 1929, a

crise de 2008 teve o seu epicentro nos Estados Unidos, após o colapso da bolha

imobiliária especulativa.

Fatores como o aumento excessivo de concessão de créditos bancários,

assim como a grande globalização econômica, contribuíram diretamente com o

agravamento da crise nos Estados Unidos. Considera-se o marco da crise, a

falência de um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Lehman Brothers.

Outro marco da crise foi a iminência de falência da General Motors, que até o

ápice da recessão era considerada a maior montadora automotiva do mundo.

Dezenas de fábricas foram fechadas, e calcula-se que cerca de três mil funcionários

foram dispensados. Contudo, o Governo Americano interviu, injetando cerca de 30

bilhões de dólares no setor, viabilizando, então, a recuperação financeira de uma

(21)

Como reflexo da crise vivenciada mundialmente, o mercado automotivo

brasileiro começou a dar sinais de fragilidade, conforme demonstra a reportagem da

Revista Veja:

“Em dois meses, as montadoras no Brasil viram o faturamento cair 15%, tiveram de dar férias a 45 000 funcionários e acumulam 80 000 veículos em seus pátios e concessionárias. Elas cancelaram a produção de 400 000 carros, até recentemente encomendados para o Natal. As montadoras, contudo, são apenas um dos elos numa ampla cadeia produtiva. Para cada emprego criado em uma delas, treze vagas são abertas em outras empresas. São ao todo quarenta tipos de negócio, agrupados em seis grandes núcleos. As histórias que aparecem nestas páginas são contadas por pessoas ligadas a cada uma das principais etapas da produção ― da fundição de aço e zinco para confeccionar peças para o motor às montadoras, concessionárias e financeiras. Todos sentem o impacto da crise, em maior ou menor grau15”

Evidente que as montadoras automotivas desempenham, historicamente, um

papel determinante no desenvolvimento econômico nacional. Trata-se de um setor

que representa, por si só, 6,5% do Produto Interno Bruto brasileiro e gera 1,5

milhões de vagas de emprego16. Tais dados demonstram o papel fundamental

desempenhado pelo setor automotivo no Brasil.

Ocorre que, os reflexos da crise internacional passaram a atingir diretamente

o setor automotivo brasileiro. Em comparação com o mesmo período do ano

anterior, os últimos quatro meses do ano de 2008 tiveram uma queda de 19,4% nas

vendas. A tendência de queda nas vendas foi observada em todos os demais

setores automotores, como por exemplo, os comerciais-leves, caminhões e ônibus.

Contribuindo com o agravamento da queda nas vendas, tem-se: (i) a redução

na concessão de créditos, devido à instabilidade macroeconômica mundial,

dificultando, dessa forma, o financiamento de automóveis; e (ii) o aumento do dólar,

fator que elevou o valor do automóvel importado, além de indiretamente, elevar o

valor do automóvel nacional. Segundo o site GLOBO.COM, “o câmbio, que estava

em cerca de R$ 1,60 em agosto de 2008, chegou cerca de R$ 2,40 em dezembro do

mesmo ano”17

(22)

Diante da crise no mercado, o setor automotivo necessitava de uma ação

governamental para evitar o colapso. No mesmo sentido dispõe o especialista

econômico Marcelo Cioffi, ao afirmar que “De uma hora para a outra, o segmento

que ajudou a alavancar o PIB brasileiro por tanto tempo viu-se pedindo ajuda”18.

Portanto, tendo em vista o contexto econômico nacional e internacional

vivenciado, o Poder Executivo, por meio da Medida Provisória nº 451 de 15 de

dezembro de 2008, iniciou um programa de incentivo ao mercado automotivo,

concedendo reduções na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados para o

setor, de acordo com a cilindrada e motorização do automóvel.

O programa de incentivo ao mercado automotivo, por meio da redução das

alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados, foi aplicado em dois

momentos distintos. Inicialmente, o programa foi aplicado pelo até então Presidente

da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da Medida Provisória nº 451 de 15

de dezembro de 2008. Posteriormente, a atual Presidenta da República, Dilma

Rousseff, também adotou a medida de incentivo fiscal, por meio do Decreto nº

7.725, de 21 de maio de 2012.

Como forma de facilitar a análise e compreensão do estudo aplicado, os

programas extrafiscais retratados, serão analisados no tópico a seguir,

possibilitando, avaliar a evolução das alíquotas do IPI em cada governo específico,

assim como os seus efeitos práticos.

2.2 Dos programas de redução da alíquota de IPI

2.2.1 Governo de Luiz Inácio Lula da Silva

Conforme demonstrado, a crise econômica mundial de 2008 afetou o

desempenho do mercado automotivo brasileiro. Em razão do papel econômico

fundamental desempenhado pela indústria automotiva no Brasil, o então Presidente

da República, Luiz Inácio Lula da Silva, expediu a Medida Provisória nº 451 de 15 de

18

(23)

dezembro de 2008, iniciando, dessa forma, o regime automotivo de redução das

alíquotas de IPI.

Inicialmente, o regime automotivo diferenciado teria vigência até 31 de março

de 2009. Contudo, a vigência foi prorrogada, pela primeira vez, até 31 de junho de

2009, por meio do Decreto nº 6.809/09.

Cumpre destacar que, o regime automotivo diferenciado abrangia o mercado

de automóveis comerciais leves, assim como o mercado de caminhões e ônibus.

Contudo, o presente trabalho tem como objetivo a análise do mercado específico de

carros, desconsiderando, os demais mercados. Vale destacar ainda, que os efeitos

práticos e econômicos em todos os mercados abrangidos pela medida de

extrafiscalidade seguiram um mesmo padrão, havendo uma expressiva recuperação

do setor em razão da medida aplicada.

As reduções nas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados

tiveram como parâmetro a cilindrada cúbica e a motorização do automóvel. Para os

automóveis de até mil cilindradas, a alíquota de IPI passou de 7% para 0%,

caracterizando, assim, uma isenção. Para os automóveis de mais de mil cilindradas,

até duas mil cilindradas, a alíquota passou de 13% para 6,5%, para os automóveis a

gasolina, e de 11% para 5,5%, para os automóveis flex (álcool/gasolina).

O programa de redução das alíquotas foi prorrogado novamente, após 31 de

junho de 2009, passando a ter vigência até 30 de setembro de 2009. A partir desta

data, as alíquotas de IPI subiriam gradualmente, voltando ao patamar original em

janeiro de 2010. Em princípio, a alíquota de carros de até mil cilindradas subiu de

0% para 1,5%, em setembro, passando para 3% no mês seguinte, e assim

sucessivamente, até o patamar de 7%, percentual que deveria ser aplicado em

janeiro de 2010. A alíquota de carros de mais de mil cilindradas até duas mil

cilindradas seguiriam o mesmo aumento progressivo, voltando ao patamar de 13%,

para os veículos a gasolina, e de 11% para os veículos flex, até janeiro de 2010.

Contudo, tal previsão foi novamente modificada. Em novembro de 2009, o

(24)

(álcool/gasolina), considerados verdes, até 31 de março de 2010. Dessa forma, a

alíquota para carros flex de até mil cilindradas se manteria no patamar de 3%

(percentual vigente no mês de novembro de 2009, conforme o programa de aumento

progressivo) até 31 de março de 2010. A alíquota de carros flex de mais de mil

cilindradas até duas mil cilindradas se manteria no patamar de 7,5% (patamar

vigente no mês de novembro de 2009, conforme previsão de aumento progressivo)

até 31 de março de 2010.

As reduções das alíquotas de carros a gasolina não foram abrangidas pela

prorrogação em questão, Dessa forma, o programa de aumento gradual das

alíquotas, iniciado em setembro de 2009, estava mantido para os automóveis

movidos à gasolina, voltando ao patamar original até janeiro de 2010. Sendo assim,

a alíquota de automóveis à gasolina de até mil cilindradas, voltaram ao patamar de

7% em janeiro de 2010, e a alíquota para automóveis a gasolina de mais de mil

cilindradas até duas mil cilindradas voltaram ao patamar e 13% em janeiro de 2010.

Em 31 de março de 2010, o programa de redução de alíquotas, iniciado pela

Medida Provisória nº 451 de 15 de dezembro de 2008, se encerrou. As alíquotas de

automóveis flex voltaram então ao patamar original, isto é, 7% para os automóveis

de até mil cilindradas, e 11% para os automóveis de mais de mil cilindradas até duas

mil cilindradas.

2.2.2 Governo de Dilma Rousseff

Conforme abordado anteriormente, o programa de redução de IPI para

automóveis adotado no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva se encerrou em março

de 2010.

Contudo, a crise econômica global, que se iniciou em 2008, continuava

abalando a economia brasileira, e consequentemente, o setor automotivo. As

montadoras se viram obrigadas a demitir funcionários, devido à queda de produção

nas fábricas. No mesmo sentido, outras montadoras passaram a aplicar programas

de demissão voluntária, como forma de incentivar a demissão de seus funcionários,

(25)

Segundo o site de notícias GLOBO.COM, nos seis primeiros meses de 2012

a indústria automotiva demitiu mais de 3 mil funcionários19, havendo previsão para

mais demissões no decorrer dos meses. O significativo número de demissões no

setor demonstra o agravamento da crise após o fim das medidas extrafiscais

aplicadas em 2008, as quais recuperaram a indústria no período de sua vigência.

Outro fator relevante no agravamento da crise, foi a queda de concessão de

crédito. A inadimplência cresceu 20% no primeiro semestre de 2012, quando

comparada com o mesmo período do ano anterior20.

Em relação ao setor automotivo específico, a inadimplência em 2012 atingiu

níveis nunca atingidos antes, levando em consideração uma base de dados que se

iniciou em junho de 2000. Segundo o site de noticias GLOBO.COM:

“Dados do BC mostram que, em março, a inadimplência para compra de veículos, que registra atrasos superiores a 90 dias, atingiu a marca de 5,7%, o maior valor de toda a série histórica, que começa em junho de 2000.”21

Com o aumento da inadimplência, assim como com a crise econômica global

vivenciada desde 2008, os bancos começaram a dificultar a concessão de crédito

para financiamentos.

No mesmo sentido, dispõe José Eduardo Gonçalves, diretor da Abraciclo:

“Atualmente 20% dos pedidos de financiamento são aprovados pelos bancos. Então se conseguíssemos aprovar isso para 30%, 35%, 40% já seria um grande passo. Mas hoje esse rigor na oferta de crédito tem dificultado a viabilização dos negócios.”22

Tal quadro impactou diretamente nas vendas automotivas, tendo em vista

que, segundo o site VEJA.COM, “cerca de 70% dos carros são vendidos por meio

de financiamento”23

19

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2012/07/montadoras-de-veiculos-tem-queda-na-producao-e-demitem-funcionarios.html . Considerando que o financiamento, em geral, é uma ferramenta

(26)

fundamental para viabilizar a compra de um carro, conforme os dados apresentados,

pode-se concluir que as vendas de automóveis estavam profundamente afetadas

pelo cenário econômico geral, o que acabou, de certa forma, inviabilizando a

subsistência do setor automotivo.

Diante do contexto econômico apresentado, agravado ainda pelas demissões

em massa, o governo decidiu repetir o programa de incentivos ao setor automotivo

aplicado de 2008 a março de 2010. Segundo o Ministro da Fazenda, Guido

Mantega:

"Estamos diante do agravamento da crise financeira internacional. E isto está trazendo problemas para os emergentes como um todo. Exige esforços redobrados para manter a taxa de crescimento em um patamar razoável (...) O governo tem de tomar medidas de estímulo para combater as consequências dos problemas trazidos pela crise financeira internacional.”24

A medida de redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos

Industrializados para o mercado automotivo, se iniciou no final do mês de maio de

2012, por meio do Decreto nº 7.725. Inicialmente, o governo determinou que tais

medidas seriam válidas até 31 de agosto de 2012, isto é, atribuiu-se um curto prazo

de vigência.

Contudo, as medidas aplicadas em maio de 2012 se diferenciam das medidas

aplicadas em 2008, em alguns aspectos. A primeira diferença consiste no fato de

que o novo pacote de medidas de incentivo ao mercado automotivo também se

aplicava aos automóveis importados. O IPI para automóveis importados havia sido

majorado em 30%, como forma de incentivar a produção e desenvolvimento

econômico nacional, buscando aumentar os investimentos estrangeiros no país,

assim como a geração de novas vagas de empregos.

Vale destacar que os automóveis oriundos do México (acordo bilateral

automotivo), ou de países integrantes do Mercosul, não são considerados

importados para fins de majoração de IPI25

24

http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/05/governo-reduz-ipi-de-carros-e-tributo-sobre-operacoes-de-credito.html .

25

(27)

Sendo assim, a redução da alíquota de IPI foi aplicada de forma igual para

automóveis nacionais e importados. Isto é, se para o modelo de até mil cilindradas

nacional aplicou-se uma redução de 7% na alíquota do IPI, indo de 7% para 0%,

aplicar-se-á a mesma redução de 7% para o modelo de até mil cilindradas

importado, reduzindo, o IPI de 37% para 30%, tendo em vista a majoração de 30%

da alíquota de IPI para automóveis importados.

Consoante o exposto, a tabela26 abaixo demonstra de forma clara e objetiva

as mudanças nas alíquotas de cada categoria de automóvel, de acordo com o

determinado pelo Decreto nº 7.725:

26

(28)

A segunda diferença das medidas adotadas pelo governo de Dilma Rousseff

em relação às medidas adotadas em 2008, no começo da crise mundial, consiste na

exigência de uma contrapartida das montadoras. Em acordo com a Associação

Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, ANFAVEA, o governo

estabeleceu índices de descontos obrigatórios nas tabelas vigentes, à época, como

forma de garantir maior redução no preço final do automóvel.

Para os veículos de até mil cilindradas, os descontos nas tabelas deveriam

ser de 2,5%. Já para os veículos de mais de mil cilindradas até duas mil cilindradas,

os descontos deveriam ser de 1,5%. Em relação aos utilitários, os descontos na

tabela deveriam ser de 1%27.

Segundo o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, a redução das alíquotas do

IPI, em conjunto com a redução obrigatória sobre o preço de tabela, e com outras

medidas de incentivo econômico (como por exemplo, a redução do Imposto sobre

Operações Financeiras, o qual incide nos financiamentos), levaria a uma redução de

aproximadamente 10% no valor final do automóvel28.

O acordo firmado entre o governo e a ANFAVEA também abordou a questão

das demissões em massa efetuadas pelas montadoras no decorrer do ano de 2012.

Pactuou-se que as montadoras deveriam assegurar a “manutenção do atual nível de

emprego”29.

As medidas de redução do IPI e incentivo ao mercado automotivo, adotadas

em maio de 2012, seriam vigentes, inicialmente, até 31 de agosto de 2012. Contudo,

o governo prorrogou a redução das alíquotas do IPI, assim como efetuado pelo

primeiro pacote de medidas iniciado em 2008.

A primeira prorrogação se deu em agosto de 2012, quando o governo

prorrogou o benefício até 31 de outubro de 2012. A segunda prorrogação se deu em

27

http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/05/governo-reduz-ipi-de-carros-e-tributo-sobre-operacoes-de-credito.html

28

http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/05/governo-reduz-ipi-de-carros-e-tributo-sobre-operacoes-de-credito.html

29

(29)

outubro de 2012, quando a redução das alíquotas do IPI foi prorrogada até 31 de

dezembro de 2012.

Em janeiro de 2013, o governo iniciou o aumento progressivo do IPI, o qual

deveria voltar aos índices normais até julho de 2013. Sendo assim, no primeiro mês

de 2013 as alíquotas do IPI subiram, pela primeira vez, desde maio de 2012. Para

os veículos de até mil cilindradas, a alíquota subiu de 0% para 2%; Para os veículos

flex com mais de mil cilindradas até duas mil cilindradas, a alíquota passou de 5,5%

para 7%; e para os veículos à gasolina com mais de mil cilindradas até duas mil

cilindradas, a alíquota passou de 6,5% para 8%.

Conforme mencionado, as alíquotas deveriam voltar ao índice original, de

forma gradual, até julho de 2013. Contudo, em abril de 2013 o Governo prorrogou as

alíquotas vigentes até aquele momento, conforme disposto no parágrafo anterior, até

31 de dezembro de 2013.

Finalmente, em janeiro de 2014, o IPI voltou a subir, de forma gradual. Para

os automóveis de até mil cilindradas, a alíquota passou de 2% para 3%; Para os

automóveis com motor flex entre mil cilindradas e duas mil cilindradas, a alíquota

subiu de 7% para 9%; e para os automóveis com motor a gasolina entre mil

cilindradas e duas mil cilindradas a alíquota subiu de 8% para 10%.

A previsão é de que em julho de 2014 o Governo fará uma análise do

mercado com o objetivo de verificar se de fato as alíquotas voltarão aos patamares

originais.

O presente capítulo teve como objetivo apresentar os programas de incentivo

ao mercado automotivo, diferenciando as medidas aplicadas sob o mandato de Luiz

Inácio Lula da Silva, das medidas aplicadas sob o mandato de Dilma Rousseff. Tal

estudo possibilitou, identificar a progressão das alíquotas do IPI no decorrer do

tempo, dado fundamental para efetuar a análise dos efeitos mercadológicos

resultantes, assim como averiguar em que medida o consumidor final foi beneficiado

(30)

Em sequência ao abordado no capítulo anterior, serão analisados os efeitos

da redução das alíquotas do IPI no decorrer do tempo, com o objetivo de verificar se,

realmente, houve um aumento considerável e significativo nas vendas, de forma a

justificar a adoção de tal medida. Ademais, o presente capítulo tem como ponto

fundamental verificar em que medida o consumidor final foi beneficiado pelas

reduções das alíquotas de IPI, isto é, em que medida a redução foi repassada ao

consumidor final, o qual desempenha o papel de contribuinte de fato, suportando,

então, o ônus tributário do retratado imposto.

Conforme destacado na introdução do presente trabalho, para fins de

pesquisa será considerado apenas o mercado de automóveis, tendo como objetivo

analisar e isolá-lo empiricamente.

3.1 Desempenho geral do mercado – efetividade da medida

Inicialmente, as vendas totais de automóveis serão analisadas, a partir dos

gráficos de vendas totais, considerando o período do ano de 2008 até 2014. Os

gráficos representam o desempenho do mercado, mês a mês, levando em

consideração dados obtidos no site da Federação Nacional da Distribuição de

Veículos Automotores – Fenabrave30, e no site da a Associação Nacional dos

Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea31.

Ambos os gráficos abordam os mesmo dados. Contudo, o primeiro sobrepõe

os anos em um mesmo plano, com o objetivo de facilitar a comparação entre os

anos. Já o segundo gráfico, demonstra a evolução contínua nas vendas, com o

intuito de explicitar de forma mais clara as mudanças de desempenho do mercado

de acordo com o mês e ano.

30

http://www3.fenabrave.org.br:8082/plus

31

(31)

Gráfico 01

(32)

A partir da análise dos gráficos, pode-se identificar padrões bem definidos.

Evidencia-se uma queda considerável nos emplacamentos de veículos novos a

partir de setembro de 2008, chegando a novembro de 2008 com a pior média de

emplacamentos de todo o período analisado, com 132.384 veículos emplacados.

Trata-se da crise econômica de 2008, que começava a atingir o mercado

automobilístico brasileiro.

Nesse contexto, têm-se o anúncio da redução das alíquotas de IPI, em

dezembro de 2008. De janeiro de 2009 até março de 2009, evidencia-se uma clara

recuperação do setor, demonstrando que a medida aplicada é absolutamente eficaz.

Consoante o exposto, verifica-se que, com o fim das medidas do primeiro programa

de incentivo, em março de 2010, têm-se uma significativa queda nos

emplacamentos de veículos novos.

Importante destacar outro padrão evidente. Nos meses em que o governo

havia determinado como data para o término do benefício, há um notável ápice nos

emplacamentos, seguidos de uma forte queda. Tal padrão pode ser observado nos

meses pré-determinados como marcos finais do benefício, como por exemplo março

de 2009, junho de 2009, agosto de 2012 e dezembro de 2012.

Tal comportamento poderia ser explicado pelo fato de que, com o provável

término da redução do IPI, os consumidores se adiantam, efetuando a compra do

automóvel antes do previsto, com o objetivo de aproveitar o benefício. Como

consequência direta, há uma significativa queda nos emplacamentos após o ápice,

pois a grande maioria dos consumidores potenciais, já se adiantaram e efetuaram a

compra no “último mês” de redução do IPI. A queda nos emplacamentos de veículos

novos é novamente recuperada, com o anúncio de prorrogação da medida de

redução do IPI, conforme demonstra o gráfico.

Repetindo o analisado no período de 2008, de dezembro de 2011 a fevereiro

de 2012 há uma tendência negativa do mercado. Isto porque, novamente, a crise

passava a atingir o desempenho do mercado. Em maio de 2012, o Governo

anunciou o pacote de medidas de incentivo do mercado automotivo, e

(33)

veículos novos atingiu o número de 325.723, maior índice de todo o período

analisado.

Contudo, a partir de setembro de 2012 o mercado se demonstrou estável em

um nível médio, não havendo qualquer pico de venda, conforme notado

anteriormente no decorrer das medidas de redução de IPI.

Cumpre destacar a estratégia adotada pelas montadoras. Sabendo do fim do

benefício, as montadoras produziam o máximo possível nos meses próximos ao

término, assim como as concessionárias enchiam os seus pátios com veículos zero

quilômetro. Assim, com o final da redução, ainda havia estoques de veículos com

redução de IPI, o que ajudou a amenizar os efeitos iniciais do fim da medida de

incentivo ao mercado.

Portanto, com a análise dos gráficos em questão, pode-se afirmar que a

medida de redução da alíquota de IPI constituiu um eficaz mecanismo de incentivo

ao mercado automotivo.

3.2 Do repasse do benefício ao consumidor final

Neste tópico específico, será averiguado em que medida a redução do IPI

beneficiou, de fato, os consumidores finais. Conforme explicado no capítulo I do

presente trabalho, são os consumidores finais que suportam o ônus do pagamento

do IPI, tendo em vista que tal tributo é repassado ao consumidor final, embutido no

preço do veículo.

Como forma de viabilizar esse estudo, serão utilizados os preços obtidos com

a pesquisa efetuada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE32

32

http://www.fipe.org.br/web/index.asp

. A

tabela efetuada com base nos dados fornecidos pelo renomado Instituto de

Pesquisas, leva em consideração o preço de um modelo específico de automóvel

zero quilômetro, em um determinado mês escolhido. Dessa forma, é possível saber

(34)

uma determinada data específica. Para fins de pesquisa, o período analisado será

de janeiro de 2008 a dezembro de 2013.

A partir dos dados fornecidos pela FIPE, será efetuado um cruzamento de

informações, utilizando a análise efetuada no Capítulo II deste trabalho.

Trata-se de uma análiTrata-se em conjunto, dos valores médios praticados, com a

evolução das alíquotas de IPI, de modo a comparar, a alíquota vigente de

IPI, com os descontos no valor final de um determinado modelo, em uma data

específica. Tal processo permitirá saber, em média, a porcentagem de

descontos vigente, com a porcentagem de descontos repassada aos consumidores

finais.

Tendo em vista que a redução de IPI teve como parâmetro a motorização do

automóvel, dois modelos distintos foram escolhidos para estudo. O primeiro modelo

a ser analisado é o Volkswagen Gol 1.0. Tal modelo foi escolhido levando em

consideração o fato de que se trata de um automóvel líder de mercado há 27 anos,

não sofrendo, variações significativas no preço, em razão da concorrência ou

reposicionamento de mercado.

O segundo automóvel escolhido para estudo é o Renault Sandero 1.6 flex. Tal

modelo está inserido na categoria de mais de mil cilindradas até duas mil

cilindradas, flex. Destaca-se, também, que o Sandero, em regra, está posicionado

na lista dos 10 carros mais vendidos, o que contribuiu para uma relativa estabilidade

dos preços, além do fato de que o veículo não foi reposicionado no mercado, ou teve

um lançamento de um modelo novo substitutivo.

Demonstra-se importante destacar que ambos os modelos são fabricados no

Brasil, e possuem motorização flex (álcool/gasolina). Ademais, cumpre ressaltar que

os valores dos veículos também estão sujeitos a fatores econômicos, como por

exemplo, alteração na demanda ou na oferta, inflação, valor do dólar, entre outros.

Portanto, as flutuações do preço do automóvel não são, exclusivamente, reflexo das

(35)

Contudo, pode-se perceber uma forte influência do IPI na atribuição do valor

dos automóveis, desempenhando, dessa forma, um papel determinante na aferição

do valor deste, conforme restará demonstrado.

As tabelas efetuadas demonstram, de forma objetiva, os preços médios

praticados no mercado, assim como a variação destes mês a mês, e a variação

percentual em relação ao “preço base”. Para fins de estudos, o preço base foi

determinado realizando a média aritmética dos preços praticados nos últimos 4

meses do ano de 2008.

Dessa forma, foi possível aferir um valor médio, antes de qualquer medida de

redução do IPI, sendo considerado, um valor “puro” para estudo. Consoante com o

exposto, têm-se que a análise dos últimos 4 meses anteriores ao anúncio das

medidas de redução de IPI, eliminaria, na medida do possível, a influência de fatores

econômicos, como por exemplo a inflação, se levarmos em comparação a média

anual do ano de 2008.

Tendo em vista a existência de alíquotas diferenciadas em razão da

motorização, os modelos escolhidos serão analisados separadamente. Os

automóveis específicos escolhidos para estudo são:

(i) Gol City (Trend) 1.0 Mi Total Flex, 8 válvulas, 4 portas;

e

(ii) Sandero Privilège Hi-Flex 1.6, 8 válvulas, 5 portas

3.2.1 Análise de dados: GOL 1.0

As tabelas a seguir, assim como o seu respectivo gráfico evolutivo do valor do

automóvel no tempo, demonstram de forma evidente a flutuação do preço do

produto em questão, assim como a variação percentual em relação ao preço base

(36)
(37)

Gráfico 03

A partir dos dados obtidos por meio das tabelas comparativas, assim como

pelo gráfico evolutivo, pode-se realizar algumas constatações. Em fevereiro de 2009,

logo após o início da vigência das reduções nas alíquotas do IPI, percebe-se que o

valor do automóvel em questão teve uma queda de 11,29%, em relação ao preço

base (médias aritmética dos últimos 4 meses de 2008), e de 7,03% em relação ao

mês anterior.

Nos meses seguintes, percebe-se que houve um aumento em relação ao

valor praticado no mês de fevereiro de 2009. Isto porque, com o aumento

considerável da demanda, o preço, seguindo a tendência natural econômica, tende a

subir, ajustando-se ao mercado.

Contudo, percebe-se que nos meses de 2009, o valor do automóvel escolhido

se manteve em níveis estáveis, com descontos próximos ou até maiores que a

redução da alíquota do IPI, como por exemplo, nos meses de março, abril, setembro

e novembro de 2009, em que o carro em questão atingiu variação negativa superior

ao índice de 7% de redução da alíquota de IPI, concedida pelo governo para

(38)

Destaca-se, também, que a partir de 30 de setembro de 2009, as alíquotas

subiram gradualmente, passando de 0% para 1,5% em outubro de 2009, chegando

até 3% no mês seguinte. Tal aumento na alíquota é evidente no preço final do

automóvel em questão, evidenciando que o mesmo foi repassado ao consumidor

final. Tal afirmativa se deve ao fato de que em outubro de 2009, o preço do Gol 1.0

subiu 0,49%, se comparado ao mês anterior, subindo mais 1,68% no mês

subsequente, se comparado ao mês anterior, passando para uma elevação de

1,60% em dezembro de 2009, se comparado a novembro, e assim sucessivamente,

havendo aumentos contínuos no valor até fevereiro de 2010, conforme demonstra a

tabela.

Em março de 2010, o programa de medidas de redução de IPI chegou ao fim,

com um desconto de 11,24% em relação ao preço base, valor muito superior ao

desconto de IPI vigente no período, com índice de 3% (portanto, com uma redução

de 5% de IPI). Tal redução relevante pode ser explicada pelo fato de que, por se

tratar do último mês de redução do IPI, houve um aumento excessivo nas vendas,

sendo certo que os consumidores estavam determinados a comprar um automóvel

zero quilômetro naquele mês, conforme demonstra a tabela de vendas totais

analisada anteriormente. Tal fenômeno, apelidado de “corrida às concessionárias”

pelo setor, ocasionou uma forte concorrência entre as montadoras, que queriam

aumentar as vendas e a participação no mercado, aproveitando, dessa forma, o

momento do mercado, o que causou a redução do preço.

Após o fim do primeiro programa de medidas para redução do IPI, há um

claro e evidente aumento no preço do automóvel escolhido para análise, tendo em

vista que a alíquota para modelos de até mil cilindradas voltou ao índice original, de

7%. Acumulando os aumentos sucessivos ocorridos entre abril e julho de 2010,

têm-se um aumento de 8,15% no preço final do automóvel. A variação em razão do

preço base chegou a -3,83% em julho de 2010, demonstrando que os descontos no

preço estavam ficando cada vez menores.

Contudo, vale destacar dois aspectos relevantes. Conforme explicado

anteriormente, as montadoras, sabendo do fim do benefício fiscal, aumentaram a

(39)

estoques com o maior número de veículos possível. Tal estratégia permitiu amenizar

os efeitos negativos do fim do benefício fiscal, mantendo, de certa forma, os preços

em patamares aceitáveis pelo mercado.

O segundo aspecto relevante consiste no fato de que, após julho de 2010, os

preços voltaram a cair. Trata-se de uma adaptação e reação natural econômica, em

que o mercado se autorregula, conforme os fatores econômicos de cada período

específico.

Tendo em vista o analisado, verifica-se que, de certa forma, a redução do IPI

ocasionou a redução nos parâmetros de preços do mercado, uma vez que, conforme

exemplificado pelo estudo em questão, a montadora não retornou aos valores

originais, praticados em 2008, em nenhum momento. Apenas a título de exemplo,

em maio e junho de 2008, o mesmo automóvel tinha preço superior a R$ 31.000,00.

No mesmo sentido, o preço base, estabelecido com a média dos preços praticados

nos últimos 4 meses de 2008, é igual a R$ 30.659,00. Se efetuarmos a média dos

preços praticados entre abril e dezembro de 2010, período em que não havia

qualquer redução de IPI, temos a média de preço de R$ 28.465,333.

Dessa forma, evidencia-se que a redução ocasionou uma redução nos

parâmetros de preços gerais do mercado, mesmo após o fim da sua vigência, tendo

em vista que as montadoras tiveram que adaptar o preço dos automóveis em

parâmetros gerais aceitáveis, para manter um nível sustentável nas vendas.

No ano de 2011, ocorreu um aumento relativo no preço final do automóvel em

questão. Entretanto, os preços praticados, mesmo com o fim da redução do IPI,

ainda estão abaixo dos valores praticados no ano de 2008.

Conforme analisado anteriormente, com o agravamento da crise mundial em

2012, e consequente queda nas vendas dos automóveis, conforme gráfico de

emplacamentos de veículos, o governo decidiu conceder, novamente, a redução das

(40)

As medidas de redução da alíquota do IPI foram aplicadas a partir de maio de

2012. Dessa forma, os modelos de até mil cilindradas tiveram a sua alíquota

reduzida em 7%, passando de 7% para 0%. Os efeitos dessa medida são

absolutamente claros e evidentes na tabela, demonstrando a efetividade

incontestável desse instrumento extrafiscal de regulação econômica.

Isto porque, se considerarmos o período de junho a dezembro de 2012,

verifica-se que o preço praticado pelo mercado foi, em média, 13,92% abaixo do

preço base obtido para estudo. Mesmo considerando fatores econômicos externos,

que possuem o condão de influenciar o preço final do automóvel, a redução média

de 13,92% do valor final do automóvel em comparação com o preço base

estabelecido por meio da média aritmética dos últimos 4 meses de 2008, constituiu

um relevante dado empírico, o qual demonstra a efetividade do instrumento de

redução das alíquotas do IPI.

No mesmo sentido, se considerarmos os descontos dados, mês a mês, entre

maio de 2012, início da redução do IPI, a agosto de 2012, temos um montante

acumulado de 10,15% de descontos no preço final do automóvel. Os dados

apontados demonstram que as reduções do IPI foram repassadas ao

consumidor final, havendo períodos em que os repasses são maiores, e períodos

em que os repasses diminuem. Trata-se de uma flutuação natural, efetuada

pelos agentes econômicos, que buscam se adaptar ao desempenho do mercado,

assim como aos fatores econômicos externos, em prol de uma rentabilidade

maior.

Em janeiro de 2013, as alíquotas subiram de 0% para 2% para os veículos de

até mil cilindradas. Tal aumento, novamente, foi repassado ao consumidor final,

conforme demonstra a variação percentual mês a mês. Somente nos 4 primeiros

meses de 2013, o valor do automóvel subiu 4,71%. No ano de 2013, os sucessivos

aumentos de preço representaram um aumento acumulado de 6,74% no preço final

do automóvel em questão. Vale destacar, contudo, que os preços praticados no

mercado no ano de 2013, foram, em média, 9,64% menores que os valores

(41)

Portanto, pode-se afirmar, com base nos dados apresentados, que a redução

do IPI beneficiou os agentes econômicos, que com a redução da alíquota de IPI,

obtiveram uma redução de custos na cadeia de produção, possibilitando, dessa

forma, reduzir o valor final do produto, e consequentemente, aumentar as vendas.

No mesmo sentido, pode-se concluir por meio da tabela de variação percentual do

preço no decorrer do tempo, que o consumidor final também foi beneficiado com a

redução do IPI, tendo em vista que tal redução foi repassada aos consumidores

finais, por meio da redução do valor final do automóvel, de acordo com o

desempenho do mercado e com os fatores econômicos de cada período

específico.

3.2.2 Análise de dados: SANDERO 1.6 FLEX.

Assim como efetuado com o modelo anterior, a análise da tabela de variação

de preços demonstra-se requisito fundamental para averiguar se o consumidor final

foi beneficiado pela medida de redução das alíquotas de IPI, por meio da diminuição

do preço final do automóvel em questão.

Cumpre destacar, inicialmente, que o automóvel escolhido para análise está

inserido em uma categoria diferente do anterior, pois possui motorização de 1.6

litros, identificando-se na categoria de automóveis com motor flex, maior que mil

cilindradas, e menor ou igual a duas mil cilindradas.

A seguir a tabela comparativa, em conjunto com o gráfico de evolução dos

preços no decorrer do tempo, e do gráfico de vendas totais do veículo sob estudo,

(42)
(43)

Gráfico 04

O mesmo padrão de comportamento apresentado pelo modelo da

Volkswagen, de mil cilindradas, pode ser observado no modelo da Renault, de mil e

seiscentas cilindradas. Com o inicio das medidas de redução de IPI, os preços

reduziram, indicando, um repasse de parte do benefício ao consumidor final.

A alíquota para modelos de mais de mil cilindradas até duas mil cilindradas,

com motorização flex, era de 11%, passando para 5,5% após a redução,

representando, dessa forma, uma redução de 5,5% na alíquota original. Com a

implementação das medidas de redução, em dezembro de 2008, os efeitos nos

preços começaram a ficar evidentes no ano de 2009. No primeiro trimestre de 2009,

o acumulado de redução mês a mês demonstra uma redução de 8,32% no preço

final do automóvel.

No mesmo sentido, a variação em relação ao preço base, obtido por meio da

média aritmética dos últimos 4 meses de 2008, demonstra que no ano de 2009, em

média, o preço praticado nas concessionárias foi 4,67% menor que o preço base.

(44)

desta categoria subiu de 5,5% para 7,5%, isto é, houve um significativo aumento de

2% na alíquota de IPI.

Mesmo com o aumento na alíquota em setembro de 2009, os preços

praticados durante o ano de 2009, em média, conforme demonstrado pela tabela,

foram na ordem de 4,67% menores que os preços praticados nos últimos 4 meses

de 2008. Tal análise comprova, assim como observado no modelo de mil litros

abordado, que a medida de redução de IPI é absolutamente eficaz, e beneficia,

também, os consumidores finais, ao proporcionar um relativo desconto no preço final

do produto.

Em março de 2010 o primeiro programa de redução do IPI chegou ao fim,

com uma redução de 7,71% do preço praticado neste mês em relação ao preço

base. A partir de abril de 2010, os preços voltaram a subir, assim como aconteceu

com o modelo de mil cilindradas analisado. Destaca-se, novamente, que as fábricas

aumentaram a produção e as concessionárias encheram os seus pátios com o

conhecimento do fim da redução do IPI, o que amenizou os impactos do fim da

medida no mercado.

Em maio de 2012, com o retorno da redução do IPI, as alíquotas do IPI para

os automóveis com mais de mil cilindradas até duas mil cilindradas, com

motorização flex, passou de 11% para 5,5%, representando, novamente, uma

redução de 5,5% na alíquota do retratado imposto. No período de maio a dezembro

de 2012, verifica-se uma redução média, mês a mês, de 4,57% no valor final do

automóvel.

Consoante o exposto, o preço médio praticado pelas concessionárias foi, no

período de maio à dezembro de 2012, 10,45% menor que o preço praticado nos

últimos 4 meses de 2008. Tais dados apenas confirmam o padrão de

comportamento percebido com o modelo da Volkswagen, demonstrando que o

benefício é repassado, em parte, ao consumidor final. Conforme o mercado se

recupera, a tendência mercantil é o ajuste dos preços conforme o desempenho das

vendas, possibilitando dessa forma, uma recuperação sustentável de uma indústria

(45)

A partir de janeiro de 2013, houve um aumento das alíquotas de IPI. Sendo

assim, as alíquotas da categoria do modelo analisado passou de 5,5% para 7%,

representando um aumento de 1,5% na alíquota do IPI. Seguindo o mesmo padrão,

o aumento na alíquota de IPI foi repassado ao consumidor final, conforme

demonstra o acumulado da variação mês a mês, que no ano de 2013 atingiu o

montante de 2,41% de aumento no preço final do automóvel. Contudo, a tabela

demonstra que o preço praticado no mercado foi, em média, 7,48% menor que o

Imagem

Gráfico 01
Gráfico 03
Gráfico 04

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