• Nenhum resultado encontrado

Congelamento jurídico dos planos econômicos?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Congelamento jurídico dos planos econômicos?"

Copied!
2
0
0

Texto

(1)

Rubens Glezer  Favoritar 

Coordenador do Supremo em Pauta da FGV Direito SP

Publicado: 15/08/2014 16:22 BRT  Atualizado: 15/10/2014 07:12 BRST

Congelamento jurídico dos planos econômicos?

Uma ameaça ronda o chamado julgamento dos planos econômicos no Supremo Tribunal Federal. Conforme noticiado pelo Valor Econômico em  12.08.14,  a  depender  do  ministro  escolhido  para  preencher  a  vaga  deixada  por  Joaquim  Barbosa,  o  julgamento  estaria  fadado  a  ser postergado por tempo indeterminado. Esse pessimismo não é justificado, mas sua exploração permite elucidar algumas questões relevantes sobre o funcionamento da Justiça.

Todos  os  juízes,  em  todos  os  tribunais  do  país,  estão  sujeitos  a  algumas  regras  e  mecanismos  que  visam  preservar  a  imparcialidade  no julgamento. Um desses mecanismos consiste em proibir que as ações judiciais sejam julgadas por juízes que possivelmente tenham uma certa proximidade com as pessoas envolvidas no processo. Em certos casos, chamados de suspeição, a relação de proximidade precisa ser discutida  e  provada,  como  no  caso  desse  juiz  manter  "amizade  íntima"  com  alguma  das  partes  da  ação.  Em  outros  casos,  chamados  de impedimento do juiz, a presença de uma certa situação objetiva é suficiente para afastar o juiz sem que seja necessária qualquer discussão, se for verificado, por exemplo, que um filho desse juiz seja advogado no processo.

No Supremo Tribunal Federal esse tipo de situação é esperada na medida em que muitos dos ministros já atuaram de uma forma ou de outra ­ seja como advogados particulares, advogados públicos, ou mesmo juízes em outros tribunais ­ em casos relevantes, ou mesmo por uma relação mais direta com as partes.

É comum que os próprios juízes declarem sua suspeição ou impedimento, com o objetivo de preservar sua reputação. O ministro Marco Aurélio de Mello preferiu não participar do julgamento do ex­presidente Fernando Collor de Mello, seu primo, enquanto o ministro Joaquim Barbosa renunciou à relatoria do processo do mensalão, declarando sua suspeição, após dar início a uma representação criminal contra o advogado de José Genuíno. Há casos, porém, em que há dúvidas se há realmente um caso de suspeição e mesmo assim o juiz se mantém na causa, como fez o ministro Dias Toffoli ao se manter no julgamento do mensalão, ainda que muitos dos réus fossem figuras de alto escalão do partido para o qual advogou durante anos.

O  problema  proposto  pelo  jornal  Valor  Econômico  consiste  em  indicar  que  eventual  nomeação  do  atual  Advogado  Geral  da  União  Luis Inácio Adams resultaria no impedimento de quatro ministros do STF, tendo em vista relações de impedimento em torno dos ministros Luis Roberto  Barroso,  Luis  Fux  e  Carmen  Lúcia.  Como  a  lei  exige  que  pelo  menos  oito  ministros  votem  em  certas  ações,  tal  como  ocorre  no julgamento da ADPF 165 que versa sobre os expurgos inflacionários dos Planos Econômicos, o periódico inferiu que essa ação corria o risco de não poder ser julgada por tempo indeterminado, ou seja, até a nomeação de um novo ministros desimpedido; o que ocorreria somente no caso de aposentadoria de outro ministro, provavelmente Celso de Mello.

Entretanto,  o  STF  possui  precedentes  de  como  lidar  com  situações  como  essa.  Quando  o  Senado  Federal  declarou  a  perda  dos  poderes políticos do ex­presidente Fernando Collor de Mello por oito anos, o ex­presidente ajuizou ação judicial perante o Supremo, com o objetivo de  anular  a  decisão  do  Senado.  Na  época,  como  três  ministros  do  STF  estavam  impedidos  ou  sob  suspeição,  o  Presidente  no  Tribunal convocou extraordinariamente três ministros do Superior Tribunal de Justiça para julgar o caso. Uma solução elegante para resolver esse impasse jurídico.

É verdade que na época o Regimento Interno do STF previa expressamente a possibilidade de convocação de ministros do extinto Tribunal Federal de Recursos. Porém, mesmo sem uma previsão expressa nesse sentido, é possível manter o mesmo mecanismo por uma analogia com o artigo 41 do regimento, que prevê o mecanismo de "empréstimo" de ministros entre Turmas do STF.

BLOG

Apresenta novidades e análises em tempo real da equipe de colaboradores do HuffPost Brasil

11 novembro 2015

(2)

Entrar RSS Dúvidas comuns Contrato do usuário Privacidade Política de comentário Sobre nós Entre em contato Arquivo

©2015 Abril Comunicações S.A. ou seus licenciadores (em especial, o The Huffington Post International). Todos os direitos reservados.  "HuffPost Brasil" é uma marca registrada da TheHuffingtonPost.com, Inc. Todos os direitos reservados. 2015©

Parte de HPMG News MAIS:

A resposta não é simples. Se toda a conjuntura de impedimento de quatro ministros realmente vier a ocorrer, a Presidência do STF pode colocar  para  o  Plenário  a  dúvida  sobre  como  interpretar  corretamente  o  Regimento  Interno.  Não  seria  uma  ocasião  inédita.  Durante  o chamado julgamento do mensalão, os ministros tiveram longas deliberações sobre como lidar com dispositivos regimentais que não parecem se adequar às questões de moralidade política em jogo. Eles rechaçaram a diretriz prevista expressamente de que casos de empate seriam resolvidos  com  o  "voto  de  minerva"  do  Presidente  em  favor  da  regra  (não  prevista)  de  que  o  empate  favorece  o  réu.  Além  disso,  como esquecer  o  longo  debate  sobre  a  existência  ou  não  do  recurso  de  embargos  infringentes,  que  também  estava  expressamente  previsto  no regimento.

Apesar de ser uma questão difícil, o ministro Ricardo Lewandowski possui a opção de convocar ministros do STJ para dar prosseguimento ao julgamento da ADPF 165 que discute os expurgos inflacionários dos Planos Econômicos, ou ao menos de colocar essa questão para o Plenário.

Felizmente a indicação da pessoa que ocupará a vaga deixada pelo ministro Joaquim Barbosa poderá ser realizada e debatida com base em outros critérios mais amplos e profundos do que o impedimento para um só caso. A responsabilidade sobre julgar ou postergar o caso está nas mãos da composição atual do STF.

Acompanhe mais artigos do Brasil Post na nossa página no Facebook.  Para saber mais rápido ainda, clique aqui.

Julgamento Planos Econômicos Brasil Política Julgamentos Postergados Stf Joaquim Barbosa Sai Do Stf Julgamento Ricardo Lewandowski Supremo Tribunal Federal País Prorrogado Julgamento Planos Econômicos Julgamentos Prorrogados Stf Julgamentos Joaquim Barbosa

Referências

Documentos relacionados

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

Assim, com a unificação do crime de estupro e do atentado violento ao pudor em um único tipo penal, os condenados que tiveram suas penas aumentadas em razão do

MATRÍCULA nº 4.540 do 1º CRI de Piracicaba/SP: 01 (UMA) GLEBA DE TERRAS, situada no imóvel denominado “Algodoal”, contendo a área de 53.982,00m², desta cidade, que assim

Após a queima, para os corpos com a presença do sienito observou-se que os valores de densidade diminuíram (comparados às respectivas densidades a seco), já

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Aplicar um curativo no local da punção (Manual Técnico do PNTN bvsms. Armazenamento: Após o período de secagem de 3 horas na posição horizontal, as amostras devem

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários