1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Cláudia Maria de Figueiredo Moreira Leite Carneiro.
ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação de Mestrado
2
CLÁUDIA MARIA DE FIGUEIREDO MOREIRA LEITE CARNEIRO
ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Engenharia de Produção.
ORIENTADORA: Profa. D.Sc Karen Maria da Costa Mattos. Co – ORIENTADOR: Prof. D. Sc Nominando Andrade de Oliveira.
3
Ficha Catalográfica
Carneiro, Cláudia Maria de Figueiredo Moreira Leite.
Elaboração de um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos no Restaurante Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Cláudia Maria de Figueiredo Moreira Leite Carneiro. – Rio Grande do Norte: UFRN/ Centro de Tecnologia, 2011.
xii, 150 f. Il..; 31 cm.
Orientadores: Karen Maria da Costa Mattos e Nominando Andrade de Oliveira. Dissertação (mestrado) – UFRN/ Centro de Tecnologia/ DIP, 2011.
Referências bibliográficas: f. 136-142.
4
CLÁUDIA MARIA DE FIGUEIREDO MOREIRA LEITE CARNEIRO
ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Esta Dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do Título de Mestre
em Engenharia de Produção no programa de Pós Graduação em Engenharia de
Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Profa. Mariana Rodrigues de Almeida. .
Coordenadora do Programa.
BANCA EXAMINADORA
__________________________
Profa. Karen Maria da Costa Mattos, D. Sc.
___________________________
Prof. Nominando Andrade de Oliveira, D.Sc.
________________________
Prof. Mario Orestes Aguirre González, D.Sc.
__________________________
5
A Deus pela promessa e fidelidade.
Ao meu esposo, Rommel pelo apoio incessante.
As minhas filhas pelo amor e compreensão paciente.
A minha mãe Maria de Figueiredo, eterna saudade e ao meu pai, pela fiel dedicação e
6
Agradecimentos
A Deus pelas promessas que sempre se cumprem.
A orientadora Profa. Karen Maria da Costa Mattos, ao Professor Nominando Andrade de
Oliveira e aos Professores
Mario Orestes Aguirre González e Carlos Henrique Catunda Pinto pelo acompanhamento
competente e paciente.
A minha linda família, Rommel, Giovanna e Isabelle, gratidão eterna pela compreensão, amor
e ajuda.
Aos meus pais, sogro e sogra por sempre acreditarem em mim.
Ao meu querido sobrinho Guilherme de Mello pela colaboração.
Aos professores do curso de Pós Graduação.
Á gestora do Restaurante Kátia Maria Bezerra da Silva e demais colegas de trabalho pela
cooperação nas coletas.
E carinhosamente as estagiárias e colegas Antônia Rafaela da Silva Castro, Agnes Martins de
Lima, Camila Xavier Alves, Gabriela Mahara e Julane Braga Azevedo, sem as quais a
instrumentalidade do projeto ficaria inviável.
7
RESUMO
CARNEIRO, Cláudia Maria de Figueiredo Moreira Leite. Elaboração de um Plano de
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos no Restaurante Universitário da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. 2011. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) –
Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, UFRN, Natal, RN.
A preocupação com a conservação do meio ambiente atinge diferentes camadas e setores
da sociedade mundial. A qualidade do meio ambiente de nosso planeta só poderá ser
alcançada através de mudanças nas atitudes tomadas em relação aos resíduos gerados pela
sociedade, isto também acaba por envolver o setor da educação, a exemplo das instituições de
Ensino Superior onde o conceito de gestão ambiental necessita ganhar um espaço crescente.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, encontra-se o Restaurante Universitário,
que a exemplo de uma Unidade de alimentação e Nutrição, é um restaurante destinado a
prestar serviços à comunidade acadêmica com a produção e distribuição de refeições. Neste
contexto operacional o trabalho objetiva subsídios para à busca da geração mínima possível
de resíduos, aplicando práticas e processos ambientalmente corretos. O trabalho foi
desenvolvido no período de setembro de 2009 a outubro de 2009 no Campus Universitário da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no Restaurante Universitário da referida
instituição. O projeto envolveu todos os funcionários do restaurante e utilizou como método a
pesquisa ação. Caracterizaram-se os resíduos produzidos, dispostos de acordo com sua
natureza (orgânica ou inorgânica) segundo classificação da NBR ISO 14004, adaptada por
Kinasz (2004) que ajusta às normas à realidade específica dos Serviços de Alimentação e
Nutrição. Sendo diagnosticado um expressivo volume de resíduos produzidos no Restaurante
Universitário, pode-se afirmar que existe uma cultura de desperdício, contribuindo para o
aumento de geração de resíduos sólidos, prejudicando o meio ambiente e refletindo
consequentemente nos custos e gastos da Unidade, fato este que caracteriza e justifica a
necessidade de promoverem-se ações que resultem na redução da produção deste resíduo, seu
manejo e destinação adequada, com reflexos positivos na área econômica e ambiental,
elaborando um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos no Restaurante
Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Palavras chaves: Resíduos Sólidos, Unidade de Alimentação e Nutrição, Meio Ambiente,
8
ABSTRACT
CARNEIRO, Cláudia Maria de Figueiredo Moreira Leite. Drafting a Plan for Integrate Management of Solid Residues on the Universitary Restaurant of Federal University of Rio
Grande do Norte. 2011. Essay (Master’s Degree in Production Engineering) – Post-Graduation Program in Production Engineering, UFRN, Natal, RN.
The concern about preservation of the environment reaches different layers and sections of global society. The environmental prior quality of our planet can only be reached through changes in the attitudes taken in relation due to the waste generated by society, this also lead involving the education sector, in example of the Superior Education Institutions where the concept of ambiental management needs to gain a growing space.In the Federal University of Rio Grande do Norte, can be found the Universitary Restaurant as an example of a Food and Nutrition Unit, it is a restaurant destined to provide services to the academic comunity with the production and distribution of meals. In this operational context the work itself aims subsidies and funds to the search of as minimal generation of residues as possible, applying environmentally correct processes and practices. The work was developed in the period of September to October of 2009 in the Universitary Campus of Federal University of Rio Grande do Norte, in the Universitary Restaurant of the referred institution. The project involved all the employees of the restaurant and used like method the action survey. The
produced waste was characterized, arranged according with it’s nature (organic or inorganic)
classificated following the NBR ISO 14004, adapted by Kinasz (2004) that adjusts the Standards to the specific reality of Food and Nutrition Services being diagnosed an expressive amount of produced waste in the Universitary Restaurant, it can be assured that a culture of wasting is very present and exists, contributing to the rise of solid residues, damaging the environment and consequently reflecting in the costs and expenses of the Unity, a known fact that characterizes and justifies the need of a promoting and active action that leads to positive reflexes in the economic and environmental area, drafting a Plan for Integrate Management of Solid Residues on the Universitary Restaurant of Federal University of Rio Grande do Norte
Keywords: Solid Residues, Food and Nutrition Unit, Environment, Waste, Residue
9 SUMÁRIO
Página
Lista de figuras I
Lista de quadros II
Lista de tabelas III
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos IV
RESUMO V
ABSTRACT VI
CAPÍTULO 1 18
1. INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização 18
1.2 Objetivo 21
1.2.1 Objetivo Geral 21
1.2.2 Objetivos Específicos 21
1.3 Relevância a pesquisa 21
1.4 Estrutura da dissertação 22
CAPÍTULO 2 24
2. RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITO E HISTORICIDADE DOS MOVIMENTOS
AMBIENTAIS NO MUNDO E NO BRASIL
24
2.1 Resíduos Sólidos no Mundo e no Brasil 28
2.2 Legislações Ambientais Brasileiras 29
2.3 Modelos de Gestão de Resíduos Sólidos no Setor Público 33
10
2.5 Modelos para elaboração do Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos
Sólidos
39
2. 6 As Unidades de Alimentação e Nutrição e sua inserção na problemática 43
2.6.1 Unidades de Alimentação e Nutrição: Processos e instalações 47
2.6.2 Relevância do Gerenciamento de Resíduos em Restaurantes 51
2.6.3 Caracterização do Restaurante Universitário da UFRN x problemática dos
Resíduos
52
2.7 A Administração do Restaurante Universitário
2.8 Síntese da Revisão Bibliográfica
55
58
CAPÍTULO 3
3. MÉTODO DA PESQUISA 60
3.1 Localização da pesquisa 63
3.2 Caracterização dos resíduos produzidos 63
3.3 Educação ambiental 64
3.3.1 Funcionários 64
3.3.2 Gestores, estagiários (as) e supervisores 65
3.4 Análise dos processos produtivos e operacionais 65
3.5 Elaboração do plano de gerenciamento 66
CAPÍTULO 4 68
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 68
4.1 A caracterização dos Resíduos gerados 68
4.2 Levantamento relacionado à educação ambiental de funcionários 74
11
4.4 Aspectos operacionais e subjetivos para a geração de Resíduos Sólidos 78
4.4.1 O Fator de correção 78
4.4.2 Os restos da produção e aceitação dos cardápios 79
4.4.3 Fatores promotores do desperdício de estoque no Restaurante Universitário da
UFRN
87
CAPÍTULO 5 92
5. PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO
RU
92
5.1 Etapa 1- Identificação do gerador 94
5.2 Etapa II – Diagnóstico atual 103
5.3 Etapa III - Descrição do Plano de Gerenciamento. 126
CAPÍTULO 6 131
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 131
CAPÍTULO 7 136
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 136
ANEXOS 143
Anexo 1- Cálculo do Rejeito. 143
APÊNDICES 145
Apêndice A - Mapa de controle de resíduos. 145
Apêndice B - Questões aplicadas para funcionários. 146
Apêndice C - Questionário com a chefia. 148
12
Lista de Figuras
Página
Figura 1 – Ciclo de vida de um produto. 36
Figura 2 – Organograma do Restaurante Universitário da UFRN. 55
Figura 3 – Momento da Pesquisa 62
Figura 4 - Porcentagem de Resíduos Sólidos produzidos na UAN do RU em 31
dias.
68
Figura 5 – Apresentação dos Resíduos gerados na UAN do RU em 31 dias. 69
Figura 6- Apresentação dos Resíduos gerados por semana e fim de semana na
UAN.
69
Figura 7 – Peso (emkg) dos Resíduos Sólidos produzidos na UAN do RU, no
período de 31 dias, separados por mês, semana e fim de semana.
70
Figura 8 – Maiores problemas enfrentados para minimizar problemas com o lixo.
75
Figura 9- Fluxograma das operações executadas na UAN do RU. 95
Figura 10 - Fluxograma das matérias primas na UAN do RU. 95
Figura 11 – Layout da UAN do Restaurante Universitário. 100
Figura 12- Planta baixa da UAN do Restaurante Universitário. 101
Figura 13 – Peso em kg dos resíduos sólidos produzidos na UAN do RU, no período de 1 mês, separados por mês, semana e fim de semana.
106
Figura 14- Fluxo dos plásticos recebidos e descartados no Restaurante
Universitário.
117
Figura 15 - Fluxo do papel recebido e descartado no Restaurante Universitário. 118
Figura 16 - Fluxo do metal recebido e descartado no Restaurante Universitário. 119
13
Universitário.
Figura 18 - Fluxo dos Resíduos não recicláveis recebidos e descartados no
Restaurante Universitário.
121
Figura 19 - Fluxo do Vidro recebido e descartado no Restaurante
Universitário.
122
Figura 20 - Fluxo do lixo comum gerado e descartado no Restaurante
Universitário.
14
Lista de Quadros
Página
Quadro 1 - Fatores de correção da UAN do Restaurante Universitário. 78
Quadro 2 – Aceitação do cardápio da segunda feira. 80
Quadro 3- Aceitação subjetiva do cardápio planejado e implantado na segunda
feira.
81
Quadro 4 – Aceitação do cardápio da terça feira. 82
Quadro 5- Aceitação subjetiva do cardápio planejado e implantado na terça
feira.
83
Quadro 6 – Aceitação do cardápio da quarta feira. 84
Quadro 7- Aceitação subjetiva do cardápio planejado e implantado na quarta
feira.
84
Quadro 8 – Aceitação do cardápio da quinta feira. 85
Quadro 9- Aceitação subjetiva do cardápio planejado e implantado na quinta
feira.
85
Quadro 10 – Aceitação do cardápio da sexta feira. 86
Quadro 11- Aceitação subjetiva do cardápio planejado e implantado na sexta
feira.
86
Quadro 12 – Controle dos pedidos realizados pelo RU – coleta 1. 87
Quadro 13- Controle dos pedidos realizados pelo RU – coleta 2. 88
Quadro 14- Controle dos pedidos realizados pelo RU – coleta 3. 89
Quadro 15 - Controle do desperdício das mercadorias em estoque no
Restaurante
90
15
RU.
Quadro 17 - Quadro técnico com o número de funcionários do Restaurante
Universitário.
102
Quadro 18 - Fatores de correção do Restaurante Universitário. 109
Quadro 19 - Identificação das razões para desperdício de estoque da UAN. 110
Quadro 20 - Custos para execução das atividades para implantação do GIRS. 112
Quadro 21 - Custos de insumos para a Coleta seletiva 113
Quadro 22 - Classes de resíduos produzidos no RU, seus tipos, manuseio e
acondicionamento.
116
Quadro 23- Disposição dos coletores para coleta seletiva por quantidades, tipos
e áreas.
124
16
Lista de tabelas
Página
Tabela 1 - Quantidade (em kg) de resíduos orgânicos e inorgânicos, na
semana e no fim de semana, produzidos na UAN do RU no período em 31
dias.
70
Tabela 2 - Quantidade (em kg) de resíduos orgânicos da produção de
refeições e do rejeito proveniente do refeitório, na semana e no fim de
semana, produzidos na UAN do RU no período de 31 dias.
71
Tabela 3 - Caracterização segundo à natureza baseada na classificação de
Kinacz (2007).
73
Tabela 4 - As quantidades e os tipos de resíduos gerados no RU. 105
Tabela 5 - Quantidade (em kg) de resíduos orgânicos e inorgânicos, na
semana e no fim de semana, produzidos na UAN do RU no período de 31
dias.
106
Tabela 6 - Quantidade (em kg) de resíduos orgânicos da produção de
refeições e do rejeito proveniente do refeitório, na semana e no fim de
semana, produzidos na UAN do RU no período de 31 dias.
107
Tabela 7 - Caracterização segundo à natureza segundo classificação de
Kinacz para semana e fim de semana (2007).
108
Tabela 8 - Caracterização segundo à natureza segundo classificação de
Kinacz (2007).
17
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
BPF– Boas Práticas de Fabricação.
CNPJ/CPF – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica/ Pessoa Física.
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente.
IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
NBR – Norma Brasileira.
POP – Procedimento Operacional Padronizado.
RDC – Resolução da Diretoria Colegiada.
RT – Responsável Técnico.
RU – Restaurante Universitário.
SINMETRO - Sistema Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial. SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente.
SNVS - Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.
SUASA - Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. UAN – Unidade de Alimentação e Nutrição.
18
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho realizou levantamentos e planos de ação que atuarão para fornecer
instrumentos para elaboração de um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos
produzidos em Restaurantes, partindo de uma pesquisa-ação no Restaurante Universitário
(RU) da UFRN favorecendo a elaboração de um plano tendo em vista a eficiência dos
processos produtivos e conseqüente redução de consumos e de produtos a tratar, reduzindo
riscos ambientais, através do controle operacional e a manutenção de planos de monitorização
que garantam a sua prevenção e/ou minimização e assim atenuando o impacto ambiental
gerado pelo restaurante. Ainda, o objeto de estudo proporcionará melhoria da imagem e da
realidade do Restaurante Institucional (RU - UFRN) pela capacidade de antecipação em face
de crescentes expectativas de desempenho ambiental.
Neste capítulo será apresentada a contextualização do trabalho proposto, o objetivo, a
relevância da pesquisa e a estrutura da dissertação.
1.1Contextualização
A degradação ambiental é um problema a ser enfrentado, sendo decorrente principalmente
do aumento e sofisticação da atividade humana, aliados ao crescimento econômico e
demográfico, que no decorrer de seus processos produtivos e de consumo degradam cada vez
mais o ambiente (KINACZ e WERLE, 2006).
Este incremento econômico e demográfico amplia as necessidades de matérias-primas e
de energia esbarrando nos limitados recursos do planeta, e desta forma nós, enquanto
humanidade estamos ameaçando nossa própria sobrevivência. Dentre as principais causas da
deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial estão os padrões insustentáveis de
consumo e produção (MICHELS, 2004).
A qualidade do meio ambiente de nosso planeta só poderá ser alcançada através de
mudanças nas atitudes tomadas em relação aos resíduos gerados pela sociedade. A
preocupação com a conservação do meio ambiente atinge diferentes camadas e setores da
sociedade mundial isto também acaba por envolver o setor da educação, a exemplo das
instituições de Ensino superior (IES) onde o conceito de gestão ambiental necessita ganhar
um espaço crescente (TAUCHEN & BRANDLI, 2006). As IES, uma vez que formam os
19
de impacto quanto à ação e educação ambiental, são de fundamental importância nesta
contextualização.
A conservação ambiental é uma questão a ser enfrentada e defendida e assim sendo, as
instituições de ensino necessitam entender que no decorrer de seus processos produtivos e de
vias consumo, se houver uma condução irresponsável, ela agredirá cada vez mais o meio
ambiente.
A implantação de um sistema de gestão ambiental nas IES, além de ser politicamente
correto, para o fim a que as instituições se propõem, seus benefícios obtidos vão desde
otimização dos recursos, práticas de combate ao desperdício, ecoeficiência, racionalização e
ganho econômico, até a instauração de uma nova cultura institucional, visando à mobilização
dos servidores e usuários para melhoria dos insumos no serviço, reduzindo custos e
racionalizando eficazmente os recursos disponíveis.
No raciocínio de desenvolver positivamente esta questão, em 1999, o Ministério do
Meio Ambiente, pela Portaria nº 510/2002 cria a Agenda Ambiental na Administração
Pública (A3P), que busca combater o desperdício e uma melhor qualidade no ambiente de
trabalho, ratificando a proposta da nova cultura institucional.
Após 19 anos de tramitação na Câmara dos Deputados, foi aprovado no dia 10 de
março de 2010, um marco regulatório para resíduos sólidos, um substitutivo a PL 203-B/ 91.
Sendo aprovado no dia 07 de julho de 2010 e encaminhado para sanção do Presidente da
República. Em 02 de agosto de 2010, o Presidente da República sanciona a lei nº 12.305 que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, alterando a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro
de 1998. Esta lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispõe sobre seus
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre diretrizes relativas à gestão integrada e
ao gerenciamento de resíduos sólidos, ás responsabilidades dos geradores e do poder público
e aos instrumentos econômicos aplicáveis (REVISTA LIMPEZA PÚBLICA, 2010).
Em conformidade com o estabelecido pela Legislação e pela Constituição Brasileira,
as discussões sobre a solução dos problemas advindos dos resíduos sólidos passam pelas
alternativas da reutilização, reciclagem e redução. Observando ainda a questão da geração e
da responsabilidade do gerador numa perspectiva de redução dos resíduos que produzem, da
reutilização e reciclagem dos que são passiveis, a gestão ambiental deve ser parte integrante
do sistema de gestão global de qualquer organização.
Uma das dificuldades existentes no trato do problema dos resíduos sólidos seja este de
20
que o tratamento meramente técnico tem apresentado resultados poucos animadores
(DEMAJOROVIK, 1995). Demonstrando assim com clareza à importância de um diagnóstico
real sobre as questões de gerenciamento e impacto ambiental, em qualquer sistema produtivo
o qual haja geração de resíduos.
Dentro de vários sistemas produtivos geradores de resíduos, destacam-se as Unidades
de Alimentação e Nutrição (UAN), que além da produção de refeições com qualidade, deve
também se utilizar de práticas e processos de trabalho ambientalmente corretos, pois essas
unidades atuam como produtoras de resíduos, lançando-os no meio ambiente e utilizando por
muitas vezes, recursos naturais para concluir seu produto final.
A produção de resíduos provenientes de Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN)
constitui-se uma evidência em toda a cadeia de produção da refeição até sua distribuição.
Controlar a demanda destes resíduos com objetivo de preservar o meio ambiente é
fundamental para que haja uma interação das ferramentas de Gerenciamento de resíduos com
as rotinas operacionais da Unidade de Alimentação e Nutrição.
As UANs estão no contexto de sistema produtivo e independente de se posicionarem
como atividade meio (um subsistema da estrutura hospitalar ou de outras instituições, como as
Universidades Federais) ou atividade fim (como um sistema propriamente dito (ex.
estabelecimentos comerciais) são consideradas como uma unidade de trabalho ou órgão de
uma empresa que desempenha atividades relacionadas à alimentação e à nutrição (TEXEIRA
et al., 1997). E devem primar, além do conceito clássico de fornecimento de refeições
nutricionalmente adequadas, e pela implantação do Programa de Gerenciamento de Resíduos
(PGR).
Um dos principais conceitos para práticas e processos de trabalho ambientalmente
corretos é o gerenciamento de resíduos. O gerenciamento de resíduos implica em buscar
meios que minimizem os dispêndios dos recursos a curto, médio e longo prazo (MENEZES e
MENEZES, 1999).
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), encontra-se o Restaurante
Universitário (RU), que a exemplo de uma UAN, é um restaurante destinado a prestar
serviços à comunidade acadêmica com a produção e distribuição de refeições sob aspectos de
quantidade, qualidade, segurança sanitária, custo e satisfação da clientela atendida, mas que
também se torna importante neste contexto operacional à busca da geração mínima possível
21
1.2Objetivo
1.2.1 Objetivo Geral
Elaborar um plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos em Restaurantes,
utilizando como objeto de estudo o Restaurante Universitário da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
1.2.2 Objetivos Específicos
Diagnosticar o local da pesquisa e processos produtivos, definindo âmbito de aplicação do
plano de gerenciamento.
Caracterizar resíduos produzidos quanto à sua natureza orgânica e inorgânica e local de
geração.
Elaborar um plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos que atenda processos
produtivos em Unidades de Alimentação e Nutrição, contextualizando com a realidade do
Restaurante Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
1.3Relevância da Pesquisa
No Restaurante Universitário da UFRN há uma geração intensa, não quantificada e nem
qualificada de resíduos sólidos. Atualmente no RU não existe nenhuma medição,
monitorização e avaliação do desempenho ambiental da Unidade de Alimentação e Nutrição.
O manejo adequado de resíduos sólidos inexiste, não há nenhuma manutenção de
procedimentos e planos que visem garantir um Sistema de Gerenciamento. Não há nenhuma
proposição para racionalização na geração, nenhum concreto objetivo para minimização,
difíceis possibilidades de reutilização ou reciclagem e sem destinação temporária adequada.
A instrumentação de um gerenciamento de resíduos beneficiará o Restaurante
Universitário, desde com a redução do custo com sua produção, como por exemplo, com a
redução do desperdício de gêneros, até o comprometimento positivo da Unidade com a
questão ambiental.
Além disso, o RU possui um grande fluxo populacional e torna-se um ótimo local para
divulgação de projetos de consciência ambiental, envolvendo a comunidade universitária com
a problemática do lixo.
Neste contexto observa-se a intrínseca importância da implementação de ações
voltadas para um trabalho de sensibilização que envolva todos os participantes do processo de
22
colaboradores e usuários das Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) (VENZKE, 2000;
NUNESMAIA, 2002).
Todas as profissões envolvem responsabilidades quanto à questão ambiental e nas
unidades produtoras de refeições existem diversas atividades que expõe o profissional
nutricionista ao clamor do problema da geração inadequada de resíduos. Assim, quanto à
responsabilidade social e ambiental, o nutricionista, enquanto profissional importante no
contexto organizacional e econômico, e isto em qualquer meio de produção que esteja
inserido, deve ressaltar que a sua atuação vai além da produção de refeições adequadas para a
coletividade e do controle higiênico sanitário dos alimentos. Pois na atualidade, este
profissional necessita passar a ter um olhar voltado para o meio ambiente, preocupando-se
com o gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos em sua UAN.
O êxito deste processo passa pelo uso de medidas que atuem desde a fase de aquisição
do produto, com redução do consumo de recursos naturais de material, transitando por
mudanças com alterações no modelo de produção, com redução da poluição recorrente deste,
finalizando com redução do volume de resíduos.
1.4ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
No primeiro capítulo apresenta-se uma breve contextualização sobre a geração de
Resíduos, aspectos relevantes sobre produção em Restaurantes e implicações sobre esta
geração. Aspectos estes abordados especificamente focando o Restaurante Universitário da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com objetivos focados na elaboração de um
Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos.
No segundo capítulo, Referencial Teórico, trata-se dos seguintes temas:
Resíduos sólidos: conceito e historicidade dos movimentos ambientais no mundo e no
Brasil;
Resíduos Sólidos no Mundo e no Brasil;
Legislações Ambientais Brasileiras;
Modelos de Gestão de Resíduos Sólidos no Setor Público;
Considerações sobre Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos;
Modelo para elaboração do Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos;
As Unidades de Alimentação e Nutrição e sua inserção na problemática;
Unidades de Alimentação e Nutrição: Processos e instalações;
23
Caracterização do Restaurante Universitário da UFRN x Problemática dos Resíduos;
O Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos no Restaurante Universitário
No terceiro capítulo é apresentado o procedimento metodológico para execução dos
objetivos gerais e específicos do trabalho. Transitando pelo tipo da pesquisa empregada, pelo
diagnóstico da visão dos colaboradores da Unidade relacionada a resíduos, pela coleta e
caracterização dos Resíduos gerados e pela descrição do modelo do plano de Gerenciamento
de Resíduos escolhido para implantação no RU.
No quarto capítulo são apresentados os resultados coletados durante a fase de pesquisa de
campo com a descrição das características ambientais e locais do estudo, com os dados
relacionados à educação ambiental de funcionários, gestores, estagiários e supervisores da
unidade, com a caracterização dos resíduos produzidos, delimitando alguns aspectos
operacionais do processo produtivo e as implicações na sua geração e finalizando com a
proposta de um plano baseado na realidade do RU.
No quinto capítulo é apresentada uma síntese geral do trabalho, com considerações finais,
24
CAPÍTULO 2
2.
RESÍDUOS
SÓLIDOS:
CONCEITO
E
HISTORICIDADE
DOS
MOVIMENTOS AMBIENTAIS NO MUNDO E NO BRASIL
A ordem ambiental internacional está em construção. Os conceitos de segurança
ambiental global e de desenvolvimento são centrais para o estabelecimento de técnicas de
manejo ambiental, de combate ao desperdício e à poluição (RIBEIRO, 2001).
O reconhecimento dessas duas premissas e de que elas envolvem a promoção de
ajustes globais, nos quais vários atores do sistema internacional certamente devem contribuir
para que metas comuns sejam alcançadas, será passo importante para entendimentos reais de
modificação cultural.
Até a década de 50 a noção de desenvolvimento esteve diretamente ligada à
industrialização e ao crescente desenvolvimento econômico, entretanto, a acumulação de
indústrias nos países em desenvolvimento cujos resíduos de sua produção eram despejados
sem nenhum tratamento iniciou uma série de catástrofes ecológicas que fizeram com que se
iniciasse uma reflexão sobre os rumos das atividades humanas no planeta. Surge então a idéia
da imposição de limites ao crescimento industrial para que o mesmo não cause danos
irreparáveis aos recursos físicos e humanos na terra (RIBEIRO, 2001).
A primeira proposta para resolução da questão veio na década de 60, através do
“Relatório do Clube de Roma”, redigido com a participação de representantes dos países industrializados com a proposta de “crescimento zero”, que obviamente não agradou aos
países menos desenvolvidos que pleiteavam sua própria industrialização e equiparação aos
países mais desenvolvidos (RIBEIRO, 2001).
Durante a década de 1970, tomou corpo uma discussão que procurava aproximar algo
até então muito distante e até então sem proposta concreta e razoável: a produção econômica e
a conservação ambiental. Esta aproximação ocorreu através de reuniões internacionais e
relatórios preparatórios, criados para legitimar a ordem ambiental internacional, procurando
garantir-lhe uma base científica. Iniciada com o conceito de desenvolvimento sustentável,
tentou-se analisar propostas de solução para os problemas da vida contemporânea, buscando
avaliar a capacidade de mantermos condições de reprodução na terra, permitindo à gerações
vindouras condições de habitabilidade no futuro, considerando a herança de modelos
tecnológicos devastadores e possíveis alternativas a eles. Os seres humanos no futuro também
25
Os presságios dessa nova concepção são esboçados no encontro preparatório de
Fourneux na Suíça, em 1971, onde se iniciou uma reflexão a respeito das implicações de um
modelo de desenvolvimento baseado exclusivamente no crescimento econômico, da
problemática ambiental. Em 1972, na Suécia, foi realizada a Conferência sobre o Meio
Ambiente Humano em Estocolmo pela Assembléia Geral das Nações Unidas, gerando a
“Declaração sobre o Meio Ambiente Humana”, marco fundamental que tornou os impactos
ambientais algo a ser efetivamente minimizado. É nessa época que surge a idéia de
harmonizar justiça social, crescimento econômico e preservação ambiental através do
conceito de “ecodesenvolvimento” para estabelecer uma relação positiva entre o
desenvolvimento e o meio ambiente.
Esta discussão ganhou destaque com o economista Ignacy Sachs, pois em 1973, na
primeira reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
realizada em Genebra, a expressão “ecodesenvolvimento” foi empregada, mas não definida
conceitualmente. Para Sachs, ele seria “um estilo de desenvolvimento particularmente
adaptado às regiões rurais do Terceiro Mundo, fundado em sua capacidade natural para a
fotossíntese” (SACHS, 1974. In LEFF, 1994:317).
A formulação teve continuidade com a Declaração de Coyococ (México), organizada
pelo PNUMA e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, em
1974. Nesse documento, lê-se que o ecodesenvolvimento seria uma “relação harmoniosa entre a sociedade e seu meio ambiente natural conectado à autodependência local” (LEFF, 1994: 319).
O Relatório Que Faire, de 1975, atualiza o termo, grafando a expressão que vai
consolidar esta idéia de desenvolvimento sustentado. A consolidação do conceito de
desenvolvimento sustentável na comunidade internacional virá anos mais tarde, a partir do
trabalho da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), criada
em 1983 através de uma deliberação da assembléia Geral da ONU. Esta comissão foi
presidida por Gro Harlem Brundtland, o documento mais importante produzido sob seu
comando foi o relatório “Nosso Futuro Comum”, conhecido também como Relatório “ Brundtland”. Neste instante surge o termo desenvolvimento sustentável empregado até os dias
de hoje. O relatório entende que os problemas ambientais e a busca pelo desenvolvimento
sustentável estão diretamente ligados com o fim da pobreza, a satisfação básica de
alimentação, saúde e habitação, a busca de novas matizes energéticas que privilegiem as
26
Em resposta à solicitação do Relatório Brundtland , foi criada em 1989 a Comissão
Latino Americana de Desenvolvimento e Meio Ambiente que elaborou a “Nossa Própria
Agenda”, documento este que estabeleceu vínculos entre população, riqueza, pobreza e meio ambiente.
Em 1991, México, reuniões preparatórias foram iniciadas reuniões para a Conferência
Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNICED/92). E em
1992, aconteceu a conferência que pode ser considerada o grande marco das discussões
ambientais globais. A “ECO-92” como ficou conhecida a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente. Nela foram gerados documentos importantes visando à
concretização da proposta de desenvolvimento sustentável. Dentre eles destacam-se a “Carta
da Terra”, a Convenção sobre a Diversidade Biológica, a Convenção do Marco sobre
Mudanças Climáticas, a Declaração sobre as florestas e a Agenda 21, que é o documento mais
amplo e aborda diretrizes, bem como roteiros com detalhes orientando governos, setores
independentes e instituições das Nações Unidas em como efetivar a proposta de exercer o
desenvolvimento com preservação dos ecossistemas, com qualidade de vida, transformando e
mudando o rumo das atividades humanas do planeta. Estimulando países em desenvolvimento
e facilitando o acesso em tecnologias ambientalmente não agressivas e fortalecendo
instituições dedicadas aos estudos destas tecnologias.
Em Kyoto, Japão, em 1997, foi assinado um novo componente da Convenção do
Marco sobre mudanças climáticas: o Protocolo de Kyoto. O objetivo do documento é o
comprometimento das Nações mais industrializadas a reduzir no período de 2008 a 2012 as
emissões de componentes que interferem no clima da terra em 5,2% aos índices de emissões
de 1990.
Em 2002, na Conferência de Johannesburgo, que também ficou conhecida como “RIO + 10”, na qual foi formada a “Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável” pelos países
participantes. O objetivo desse evento foi avaliar o progresso das metas determinadas na ECO
92, principalmente em relação à Agenda 21, verificando os resultados obtidos pelos países
participantes, com a proposição de alterações para que os objetivos ambientais fossem
alcançados.
Com a entrada em vigor da Convenção do Clima em 1994, representantes dos países
signatários da UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change)
passaram a se reunir anualmente para discutir a sua implementação. Estes encontros são
chamados de Conferências das Partes (COPs). Neste caso, Parte é o mesmo que País e a COP
27
trata do mais importante encontro da CDB - Convenção sobre Diversidade Biológica das
Nações Unidas, adotada em 1992 durante o evento Rio-92. A proposta, acertada na época, era
a de frear antes de 2010 o ritmo de devastação da biodiversidade do planeta.
A décima edição da Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP-10) reuniu em
Nagoya, no Japão, de 18 a 29 de outubro de 2010, representantes de cerca de 170 países para
analisar o resultado das metas de preservação da fauna e da flora assumidas em 2002 e definir
quais serão os próximos objetivos até 2020.
A segurança ambiental global, diferente do que ocorreu com o desenvolvimento
sustentável, pois foi sendo elaborado ao longo de várias reuniões internacionais e está
servindo como base para a implementação de políticas. A idéia de Segurança Ambiental
Global, não está configurada como um conceito que leva à ação, mas sim a implementação de
estratégias por uma unidade política. Ela evolui de maneira mais lenta, encontrando muito
mais resistência que o conceito de desenvolvimento sustentável (ELLIOT, 1998).
Pensar globalmente os problemas ambientais exige conhecimento científico e
perspicácia política. De nova ética do comportamento humano, passando pela proposição de
uma revolução ambiental, até ser considerado o ajuste da sociedade capitalista, a questão
ambiental tornou-se um discurso poderoso, promovido por organizações internacionais,
empresários e políticos, repercutindo na sociedade civil internacional e na ordem ambiental
internacional como um todo (ELLIOT, 1998).
A busca do desenvolvimento sustentável tem dado oportunidade para a criação de
regras mais rígidas no que diz respeito ao meio ambiente. A inserção das metrópoles nas
diretrizes da Agenda 21 e a adaptação aos métodos de produção mais limpa são exemplos de
esforços mundiais para enfrentamento de realidades insustentáveis (RIBEIRO, 2005).
O novo cenário busca um gradativo abandono do modelo linear vigente, no qual a
capacidade de exploração das fontes de materiais e energia, com crescente atividade das
indústrias e um aumento do consumo de bens, explora ao máximo a capacidade de saturação
do ambiente. Este aspecto demonstra a irresponsabilidade com que a nossa espécie vem
tratando a questão dos recursos naturais, ocasionando uma super exploração das matérias
primas, na maioria das vezes, além da capacidade local de regeneração das mesmas. Assim,
numa época de aumento da consciência ambiental, urge não somente o crescente
conhecimento das implicações sobre o meio ambiente, o aumento da consciência ambiental,
mas ainda a responsabilidade e cuidado com os subprodutos dos sistemas produtivos, pois sua
28
natureza. A perspectiva da sustentabilidade deve ser incorporada no gerenciamento desses
resíduos gerados pela sociedade como um todo (DEMAJOROVIC, 1995).
2.1 Resíduos Sólidos no Mundo e no Brasil
Segundo a Norma Brasileira NBR 10004, de 2004 para classificação de Resíduos
sólidos urbanos se incluem aqueles produzidos pelas inúmeras atividades desenvolvidas em
áreas com aglomerações humanas, abrangendo resíduos de várias origens, como residencial,
comercial, de estabelecimentos de saúde, industriais, de limpeza pública, da construção civil e
agrícola.
A composição desses resíduos sólidos urbanos (RSU) pode ser bastante diversificada,
compreendendo restos de alimentos, papéis, metais, vidro e até componentes considerados
perigosos por serem prejudiciais ao meio ambiente e à saúde pública (ZANTA; FERREIRA
apud CASTILHO JÚNIOR, 2003, p.6).
Como todo processo produtivo é gerador de resíduos, eles necessitam de integração
das ações que visam operacionalizar seus objetivos desde a geração até disposição final. O
correto gerenciamento de resíduos tem como foco principal o de propiciar à melhoria ou
manutenção a saúde, isto é, o bem estar físico, social e mental da comunidade. E seu mau
gerenciamento acarreta problemas sérios ambientais e de saúde pública, refletindo de forma
danosa na sociedade.
A falta da gestão de resíduos sólidos levou a óbito metade da população da Europa do
século XIV, cerca de 43 milhões de pessoas faleceram, com episódio conhecido como peste
negra. A partir da revolução industrial, o advento de crescimento das cidades, a produção em
série, bem como a industrialização em larga escala, gerou um aumento na produção de
resíduos sólidos e a sua má gestão passou a causar riscos e grandes impactos para o meio
ambiente (MORENO, 2006).
Atualmente o crescimento dos centros urbanos tem levantado cada vez mais
freqüentemente a problemática dos resíduos gerados. Após o progresso tecnológico
desencadeado a partir da segunda guerra mundial também acarretou um novo incremento de
impactos negativos para o meio ambiente, principalmente pela geração elevada de produtos
para o consumo humano.
Na Europa ação para redução nas quantidades de resíduos produzidos tem sido
efetivada. Programas de conscientização ambiental implementados por autoridades
29
Dentro das regiões do Brasil, na região nordeste se observa o surgimento de sérias
questões ambientais na ordem sanitária, econômica, política e social, que vão desde a prática
indiscriminada da catação, queima de resíduos, lançando-se chorume nos cursos de água ou
infiltrando no aqüífero subterrâneo, contaminando lençol freático. A essas práticas errôneas se
agrega um ineficiente programa de educação ambiental associado ainda a inexistência de
ações que busquem a redução, reutilização e a reciclagem dos produtos gerados das produções
(MORENO, 2006).
Dentre as capitais do Nordeste, na do Rio Grande do Norte - Natal, a gestão dos
resíduos sólidos tem sido marcada por lenta evolução. A primeira área para disposição dos
resíduos na cidade de Natal situava-se no local onde está atualmente instalada a produção de
mudas do horto municipal, às margens da linha férrea, limitando-se pelo riacho do Baldo. Na
década de 30 foi transferido para a área do mangue, no Bairro Nordeste. E na década de 60 até
2004, a disposição final dos resíduos ficou localizada no “Lixão” de cidade Nova. A partir de 2004, os resíduos domiciliares produzidos na capital potiguar, estão sendo encaminhados até a
unidade de transferência dos resíduos através de carretas para o aterro metropolitano do Natal.
A localização do aterro é em Ceará-Mirim num distrito chamado Maçaranduba e ele tem
capacidade de receber aproximadamente 1300 toneladas por dia (MORENO, 2006).
Em linhas gerais, qualquer Unidade da Federação Brasileira, Nordeste ou em outra
região, a determinação das prioridades do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos e da
tecnologia da destinação final é uma tomada de decisão no nível de gestão e envolve a
integração de estabelecimento de condições políticas, institucionais, legais, financeiras,
sociais e ambientais necessárias. Ainda sendo essencial a participação ativa e cooperativa
dessas condições no âmbito do governo, iniciativa privada e bem como da sociedade civil
organizada (ZANTA; FERREIRA apud CASTILHOS JUNIOR, 2003, p.5).
2.2 Legislações Ambientais Brasileiras
Em análise sobre aspectos de historicidade das legislações ambientais brasileiras surge
o primeiro documento ambiental, em 10 de julho de 1934, o Decreto nº 24.643, que definiu o
direito de propriedade e exploração dos recursos hídricos para abastecimento, irrigação,
navegação, usos industriais e geração de energia. Na década de 30 surgem outros dois
documentos importantes: o Decreto nº 1.713 de 14 de julho que cria o Parque Nacional do
Itatiaia e o Decreto Lei nº 25 de 30 de novembro, organizando o Patrimônio Histórico e
30
Na década de 40, outros decretos são promulgados, entretanto foi na Conferência de
Chicago de 1944 que se iniciou uma preocupação real com o desenvolvimento de uma
política ambiental brasileira através do Decreto nº 21.713 de 02 de Agosto de 1946, sobre a
Aviação Civil. A criação áreas de preservação ambiental (APP) surge nos anos 60. Na mesma
década cria-se o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, que define a
função social da Terra. Após este período, já na década de 70, inicia-se a criação de diversas
Organizações não Governamentais (ONGs) e Greenpeace (RIBEIRO, 2001).
Em outubro de 1973 cria-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
Decreto nº 73.030. Em 1975 é adotado o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras
(SLAP), primeira manifestação do SEMA. A partir desse momento, o Estado poderia solicitar
a entrega do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), caso julgasse a operação de atividades
potencialmente poluidoras.
Na década de 80, especificamente em 31 de agosto de 1981, entra em vigor a Lei nº
6.938, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e criou o Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). A partir de então a avaliação dos impactos
ambientais tomam proporções Federais e dentro do PNMA, cria-se o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA). Em 1986, surge a Resolução nº 001 do CONAMA, que institui
critérios básicos para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental, no licenciamento de
projetos de atividades poluidoras de origem pública ou privada.
A legislação ambiental brasileira, desenvolvida através da PNMA, consolidou-se com
a nova Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, que dedicou capítulo
especial para as questões ambientais.
Entretanto, levantando aspectos legais e normativos, além da Constituição Federal, o
Brasil dispõe de uma legislação que por si só não tem conseguido equacionar o problema do
gerenciamento dos resíduos. Zanta e Ferreira citam em Castilho Junior (2003) que:
“Nas diferentes esferas governamentais, ainda são iniciativas recentes ou
inexistem leis específicas de políticas de gestão de resíduos sólidos que estabeleçam objetivos, diretrizes e instrumentos em consonância com as características sociais, econômicas e culturais dos Estados e Municípios
(ZANTA; FERREIRA apud CASTILHOS JUNIOR, 2003, p 4).
De acordo com o artigo 23 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), a proteção ao
meio ambiente e o combate à poluição é de competência da União, Estados, Distrito Federal e
31
do solo, proteção ao meio ambiente e controle da poluição. Em seu artigo 30, dispõe que cabe
ao Município suplementar a Legislação Federal e Estadual.
Segundo consta ainda na Constituição Federal, Art. 225, do Meio Ambiente: “Todos
tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 2000). Porém, como observa Costa et al (2004) percebe-se que os recursos naturais vêm sendo explorados de forma errônea
e a conseqüência disso, é o desequilíbrio ambiental, onde um dos grandes problemas
diagnosticados é a produção crescente de resíduos sólidos sem manejo adequado.
Outras legislações federais de interesse são a Resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente - CONAMA nº 358 - que dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos
resíduos de serviços de saúde, e a Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) RDC nº 306/2004 que trata sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de
resíduos de serviços de saúde. A ANVISA, ainda na Resolução nº 306 de 2004, define como
resíduos sólidos de serviços de saúde todos aqueles resultantes de atividades exercidas nos
serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal que, por suas
características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não
tratamento prévio à sua destinação final (BRASIL, 2004).
Essas Resoluções devem ser seguidas por Estados e Municípios, incluindo as
Unidades de Alimentação e Nutrição, enquanto subsistemas dessas instituições. Quanto aos
Estados e Municípios possuidores de Leis que dispõe sobre a Política de Resíduos Sólidos,
cabe a verificação da consonância com as Resoluções nº 358 do CONAMA e RDC nº 306 da
ANVISA.
Os resíduos sólidos de serviços de saúde (RSSS) são de natureza heterogênea.
Portanto, é necessária uma classificação para a segregação desses resíduos. Diferentes
classificações foram propostas por várias entidades, incluindo o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), governos
estaduais e municipais.
De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 e Resolução CONAMA nº 358/05, os
RSSS são classificados em cinco grupos:
32
- Grupo B – contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade e toxicidade;
-Grupo C – quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação;
- Grupo D – não apresentam riscos biológicos, químico ou radiológico e suas características são similares às dos resíduos domésticos comuns;
- Grupo E – materiais perfuro-cortantes ou escarificantes.
Nos termos desta resolução pode-se perceber a variedade no que se refere aos tipos de
resíduos sólidos de serviço de saúde, os quais devem ter técnicas apropriadas de separação e
tratamento em cada caso.
A Resolução nº 283 do CONAMA, de 2001, que atualiza e complementa a Resolução
nº 5, determina que caberá ao responsável legal pelo estabelecimento gerador a
responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos desde a geração até a disposição final.
Vários estados e municípios possuem legislações próprias específicas sobre o
gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, estabelecendo normas para a classificação,
segregação, armazenamento, coleta, transporte e disposição final desses resíduos. Contudo, as
legislações em vigor não são claras e muitas vezes eram conflitantes, o que provocavam
dúvidas e impossibilitando a adoção de normas práticas eficazes para o gerenciamento dos
resíduos de serviços de saúde em todo o país.
Como ferramenta para equacionar essas dificuldades, esteve em tramitação no
Congresso Nacional, uma alteração a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, versando sobre
a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Sendo esta sancionada em 02 de Agosto de 2010, a
Lei nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada
e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os perigosos, às responsabilidades dos
geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicados. Aplicam-se aos
resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, as leis nº 11.445, de 05 de Janeiro de 2007, nº
9.974 de 06 de junho de 2000 e nº 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas
pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), do Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária
(SUASA) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial
33
Na definição da Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, para os efeitos da
mesma, no artigo 3º, inciso X, trata do gerenciamento de resíduos sólidos e suas etapas e
parâmetros exigidos na forma da Lei. Das diretrizes aplicáveis aos resíduos sólidos, no artigo
11, inciso I, trata da necessidade da promoção da integração da organização, do planejamento
e da execução das funções públicas de interesse comum relacionadas à gestão dos resíduos
sólidos.
Estes dispositivos legais estão voltados à redução do impacto ambiental promovido
pela emissão dos resíduos sólidos com conseqüente melhoria do meio ambiente e da
qualidade de vida da população.
2.3 Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos no Setor Público
A preocupação com a conservação do meio ambiente reflete-se nas mais distintas
camadas e setores das diferentes instituições públicas e desta forma acaba por envolver
também o setor da educação, a exemplo das Instituições de Ensino Superior (IES) onde o
conceito de gestão ambiental necessita ganhar um espaço crescente (TAUCHEN et al, 2006).
Na visão de Careto e Vendeirinho (2003) as Universidades e Instituições de Ensino Superior
precisam praticar aquilo que ensinam. No entanto, ainda são poucas as boas práticas
ambientais observadas nas IES, as quais têm o papel de qualificar e conscientizar os cidadãos
formadores de opinião do amanhã. Nisto as Universidades assumem grande papel na
formação de cidadãos críticos, instrumentados para implementação dessas necessárias
mudanças. E como promotora do desenvolvimento de novas tecnologias pode, ainda,
estabelecer diretrizes e incentivar pesquisas sobre os diversos aspectos do controle da
poluição relacionada com os resíduos. Além do que, as Academias de Ensino Superior
apresentam importante papel de divulgadora e estimuladora de novas idéias, convidando a
população a se empenhar na busca de novas soluções para a problemática dos resíduos.
Mesmo que a degradação ambiental seja um problema a ser enfrentado pela sociedade
como um todo e as instituições de ensino também devem entender que no decorrer de seus
processos produtivos e de vias consumo, se houver uma condução irresponsável, agredirá
cada vez mais o meio ambiente.
A implantação de um sistema de gestão ambiental nas IES, além de ser politicamente
correto, para o fim a que as instituições se propõem, seus benefícios obtidos vão desde
otimização dos recursos, práticas de combate ao desperdício, ecoeficiência, racionalização e
ganho econômico, até a instauração de uma nova cultura institucional, visando à mobilização
34
Em 1999, o Ministério do Meio Ambiente, pela Portaria nº 510 de 2002 cria a Agenda
Ambiental na Administração Pública (A3P), que busca combater o desperdício e uma melhor
qualidade no ambiente de trabalho, ratificando a proposta da nova cultura institucional
(BARATA, KLIGERMAN e MYNAIO-GOMEZ,2007).
Os resíduos sólidos gerados nos processos produtivos foram classificados durante
vários séculos como meros subprodutos do sistema econômico. Atualmente os resíduos são
considerados como importante insumo na produção, com valor econômico agregado. A
incorporação de valor aos resíduos, nessas condições, não significa que se possa garantir o
desenvolvimento de uma política eficaz de gestão de resíduos sólidos (DEMAJOROVIC,
1996).
No que concerne a atuação do setor público, o aprimoramento de instrumentos que
visem modificar o comportamento dos diversos atores sociais geraram duas modalidades de
ação governamental que vêm sendo mais comumente utilizadas: a política de comando e
controle e instrumentos econômicos. A política de comando e controle se caracteriza por
impor normas e padrões de acesso e de utilização dos recursos naturais. Os instrumentos
econômicos por sua vez, empregam sinais de mercado (preços, taxas e subsídios) com o
objetivo de influenciar o comportamento de agentes econômicos, de modo a garantir o uso
mais racional dos recursos naturais (DEMAJOROVIC, 1996).
A administração pública pode demonstrar por muitas vezes certa preocupação de
ordem econômica, quanto ao volume de resíduos gerados, mas frequentemente não existe
interesse quanto ao ambiental, de forma a minimizar sua produção e consequentemente, os
efeitos negativos desses resíduos no ambiente. Será preciso implantar o conceito da
não-geração e a redução da não-geração de resíduos na sua origem, não só porque eles identificam
perdas e desperdícios, mas também pelas inerentes questões de competitividade de mercado,
redução de custos, demandas legais, conscientização da comunidade e preservação ambiental.
Dentro do setor público, os modelos de gestão de resíduos devem ser reavaliados,
como por exemplo nas Universidades Federais onde os restaurantes universitários atuam
cumprindo o papel fundamental de fornecer refeições nutricionalmente equilibradas para
atendimento da comunidade universitária. Entretanto, temos como resultado dessa atividade, a
geração de grande quantidade de resíduos sólidos, provenientes tanto da preparação desses
alimentos, como dos restos dos usuários, conhecidos como comensais, não passam, por
muitas vezes, pelo mínimo cuidado ou manejo ( KINAZC, 2007).
As unidades produtoras de refeições são consideradas como uma unidade de trabalho
35
(TEXEIRA et al., 1997). E com demandas ambientais atuais devem primar, além do conceito
clássico de fornecimento de refeições nutricionalmente adequadas, pela implantação do
Programa de Gerenciamento de Resíduos (PGR) ou Sistema de Gestão de Resíduos (SGR).
2.4 Considerações sobre Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos
A política ambiental brasileira, ao implantar leis ambientais, dotou a sociedade de
novos instrumentos legais para fiscalização e controle de todas as áreas que envolvem a
questão ambiental. A lei nº 12.305/2010 preencheu uma lacuna que faltava para impulsionar,
força e respaldo para uma fundamental conscientização das responsabilidades de todos para
conservação do ambiente em que vivemos e sua preservação para futuras gerações.
O gerenciamento integrado de resíduos sólidos (GIRS) é definido pela legislação que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos como um “conjunto de ações exercidas direta
ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com
plano de gerenciamento sólidos exigidos nesta Lei” (BRASIL, 2010).
Muito se tem falado sobre a implantação do gerenciamento de resíduos sólidos,
entretanto escassos são os artigos onde se analisa um sistema integrado, que considere e
avalie todas as etapas necessárias para a maximização da utilização dos recursos disponíveis.
Menezes e Menezes (1999) relatam que a coleta, tratamento e disposição inadequada
dos resíduos sólidos têm fortes impactos sociais e econômicos. Entretanto, apesar de muitos
desses impactos negativos serem de amplo conhecimento, a questão do lixo e mesmo dos
resíduos tem sido, por muitas vezes negligenciadas, produzindo estragos posteriores e sobre
gerações futuras. E que os custos necessários à reparação dos danos causados ao meio
ambiente e à população são hoje superiores ao da prevenção.
Um programa integrado fundamentado na maximização dos recursos disponíveis ao
homem deve envolver etapas como descritas na definição da Lei (coleta, transporte,
transbordo, tratamento e destinação final) e ordenadas didaticamente como:
Identificação dos resíduos.
Redução do volume gerado na fonte.
Reutilização possível.
Reciclagem possível.
36
Transporte interno e externo.
Tratamento.
Disposição do mínimo de forma ambientalmente correta.
Educação ambiental.
A identificação dos resíduos tem por finalidade garantir o conhecimento dos produtos
gerados e garantir subsídios para a segregação que for realizada nos locais de geração
fornecendo objetos para conhecimento da realidade e permitindo o delineamento de ações
normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que envolvem a questão do
processamento articulado das ações e operações posteriores envolvendo os resíduos dentro de
um sistema produtivo (MONTEIRO et al., 2001).
A redução do volume gerado na fonte é primeira etapa para andamento do gerenciamento
e a maneira mais efetiva de conservação de energia, pois a economia é integral (100%). Sendo o
produto completamente consumido e não descartado, melhorando produtividade, reduzindo
desperdícios, promovendo qualidade total e outros.
A análise da redução da fonte passa pela análise do ciclo de vida que também levanta e
analisa todos os resíduos gerados em cada etapa da fabricação, transformação, transporte, uso de
um produto até descarte final. Para um melhor entendimento, um esquema de ciclo de vida de
um produto, foi idealizado com um sistema produtivo com entradas e saídas (Figura 1).
Figura 1. Ciclo de vida de um produto
ENTRADAS – INPUTS SAÍDAS – OUTPUTS
Matérias primas primárias Aquisição de matérias primas emissões atmosféricas
Reciclagem Fabricação Resíduos aquosos
Energia Distribuição e transporte Resíduos sólidos
Uso e manutenção Co produtos reciclados
Reciclagem e gerenciamento de resíduos Outras emissões
Fonte: Menezes e Menezes, 1999.
A implementação de técnicas e procedimentos que visem reduzir a geração ou