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Surto de Klebsiella pneumoniae produtora de beta-lactamase de espectro estendido...

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(1)

Í

CARO

B

OSZCZOWSKI

Surto de

Klebsiella pneumoniae

produtora

de

β

-lactamase de

espectro estendido relacionada à colonização persistente

das mãos de uma profissional de saúde em uma unidade de

terapia intensiva neonatal

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Área de concentração: Doenças Infecciosas e Parasitárias

Orientadora: Anna Sara Shafferman Levin

(2)
(3)

Agradecimentos

Aos meus pais Eloi e Kátia, pelos valores herdados. Minha maior herança.

À Anna Sara, pelo grande aprendizado proporcionado.

Ao pessoal do LIM-54, pela disponibilidade.

Ao André Luiz, pela paciência e companheirismo.

Aos amigos Chris, Lourdes e Job que sempre formaram uma rede de

amparo em momentos difíceis.

À Clara que nos trouxe uma alegria imensa com sua chegada.

Ao amigo Rovilson pela sua grande disponibilidade.

À toda a comunidade do Hospital Geral de Itapecerica da Serra, instituição

(4)

Sumário

Resumo

Summary

1. Introdução ... 1

2. Objetivo... 23

3. Métodos ... 25

3.1 Local e período ... 26

3.2 Método de vigilância... 27

3.3 Indicadores... 28

3.4 Critérios de notificação... 30

3.4.1 Infecção do trato urinário em menores de 12 meses... 30

3.4.2 Pneumonia hospitalar em menores de 12 meses... 31

3.5 Infecção da corrente sangüínea em menores de 12 meses ... 33

3.6 Identificação do surto ... 34

3.6.1 Etapas da investigação... 35

3.7 Microbiologia ... 37

3.7.1 Identificação ... 37

3.7.2 Análise da identidade genética ... 38

4. Resultados ... 40

5. Discussão ... 44

6. Conclusões ... 59

7. Anexo... 61

8. Referências... 64

(5)

Resumo

Boszczowski I. Surto de Klebsiella pneumoniae produtora de ß-lactamase de

espectro estendido relacionada à colonização persistente das mãos de uma

profissional de saúde em uma unidade de terapia intensiva neonatal

(dissertação). São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São

Paulo; 2007. 72p.

O objetivo desta dissertação foi descrever a investigação de um surto de

Klebsiella pneumoniae em uma unidade de terapia intensiva neonatal cujo

elo entre os casos foi a mão, persistentemente colonizada pelo agente, de

uma técnica de enfermagem que apresentava onicomicose em primeiro

quirodáctilo esquerdo. Revisou-se a história da aplicação do método

epidemiológico na investigação de surtos de infecção relacionada à

assistência à saúde. Foi revisada também a literatura pertinente à

investigação de surtos na busca de situações semelhantes. Embora seja

bem conhecido o papel das mãos de profissional de saúde na transmissão

cruzada de agentes causadores de infecção nosocomial, poucos surtos

foram publicados em que estes profissionais atuaram como fonte comum e

persistente de infecção. É mais freqüente Gram-positivos envolvidos,

havendo cinco relatos de Gram-negativos neste contexto. A contribuição

desta dissertação é alertar para o risco que profissionais de saúde com

alterações tróficas em mãos e anexos podem representar quando atuam em

unidades críticas de assistência, assim como durante investigações de surto

em que a evidências apontam para uma fonte comum, a busca de

profissional com tais alterações deve ser considerada.

Descritores: 1.Surtos de doenças 2.Infecção hospitalar/prevenção & controle

(6)

Summary

Boszczowski I. Outbreak of extended spectrum beta-lactamase-producing

Klebsiella pneumoniae infection in a neonatal intensive care unit related to

the hands of a healthcare worker (dissertation). São Paulo: “Faculdade de

Medicina, Universidade de São Paulo”; 2007. 72p.

The aim of this study was to describe the investigation of an outbreak of

Klebsiella pneumoniae at a neonatal intensive care unit, associated with the

persistently colonized hands of a nurse who had onychomycosis on her left

thumb. We reviewed the use of the epidemiological method for investigating

healthcare related outbreaks of infections. We also reviewed the literature

concerning the hands of health care personnel. Although the hands of

healthcare workers (HCW) play a role in the cross-transmission of

nosocomial pathogens, there are few reports in which the persistently

colonized hands act as a common source perpetuating an outbreak. In this

setting, positive outbreaks are frequently reported and five

Gram-negative outbreaks were reported. By means of this work, we have sought to

draw attention to the role of the healthcare professional with chronic lesions

on the hand skin and/or fingernails. They may pose a risk of persistent

transmission of nosocomial pathogens, especially for critical patients with

invasive devices. During healthcare infection outbreaks, examination of the

hands of HCW should be included in the investigation.

Descriptors: 1.Outbreaks 2.Nosocomial infection/prevention and control

(7)
(8)

A organização da assistência à saúde desenvolvida ao longo do

século XX, com o modelo hospitalar central, surge no final do século

XVIII1. Numa etapa anterior, o hospital serviu como um depositário de

doentes, afastados da sociedade com o objetivo de receber tratamento,

constituindo-se em cordão de isolamento de indivíduos doentes2. Na

ocasião, não havia conhecimento científico acumulado de microbiologia e,

conseqüentemente, pouco se conhecia acerca dos mecanismos de

transmissão de doenças infecto-contagiosas. Com a sistematização da

assistência hospitalar, surge uma nova entidade, a infecção hospitalar.

Atualmente com seu conceito ampliado, denomina-se infecção

relacionada à assistência à saúde (IRAS), compreendendo as infecções

adquiridas durante o cuidado do paciente, seja no ambiente hospitalar,

assistência domiciliar, hospital-dia, ou nos serviços especializados como

hemodiálise e quimioterapia. Os primeiros passos no sentido de se

disciplinar ou sistematizar o cuidado do paciente internado se confunde

com o nascimento da enfermagem como disciplina ou atividade

reconhecida3. A separação de doentes em enfermarias e a higiene dos

pacientes, assim como do ambiente hospitalar, surge mais por questões

humanitárias procurando trazer conforto, do que propriamente por medida

(9)

A história da assepsia/antissepsia cirúrgica é igualmente interessante.

Lister, cirurgião escocês da segunda metade do século XIX, é considerado o

criador da técnica de cirurgia asséptica. Baseando-se nos achados de

Pasteur, inferiu que as secreções purulentas presentes na febre traumática

tinham origem nos corpúsculos observados pelo pesquisador francês e

capazes de fermentação. Após a implementação de curativos à base de

fenol, além de ferver e lavar os instrumentais com a mesma solução,

observou redução importante da infecção pós-amputação5. Ainda, o

desenvolvimento da técnica cirúrgica asséptica teve contribuições

permeadas mais por questões pessoais e menos técnicas. Halsted, difusor

das técnicas de Lister nos Estados Unidos, tinha uma auxiliar, enfermeira

chefe da sala de cirurgia, com quem se casaria posteriormente, e a mesma

apresentava dermatite nas mãos em decorrência do uso de fenol para a sua

higiene antes das cirurgias, fato que o levou a desenvolver luvas de látex a

fim de proteger as lesões de pele de sua auxiliar. A idéia foi amplamente

aceita pelos cirurgiões da época com o objetivo de proteção dos mesmos5.

No final do século XIX, neste contexto de transformação das técnicas de

cirurgia, houve um grande avanço no conhecimento microbiológico, como

veremos posteriormente, e logo as medidas anteriormente descritas

passaram a ser ratificadas com base técnico-científica.

Muito embora admita-se que o grande marco do conhecimento

moderno acerca de infecção hospitalar seja o trabalho clássico de

Semmelweis6, médico húngaro que clinicava e ensinava medicina em Viena

(10)

surge apenas mais tarde, com as primeiras publicações científicas sobre o

assunto no início da segunda metade do século XX7.

O reconhecimento de que o profissional de saúde desempenha um

papel importante como veiculador de infecção assim como a utilização do

método investigativo epidemiológico como ferramenta para diagnóstico de

surtos de infecção são demonstrados por meio da história ocidental da

infecção puerperal. No século XVIII, White, Clarke e Collins conseguiram

redução na incidência de febre puerperal a partir da redução de toques

vaginais durante o trabalho de parto6. Gordon apud Williams e Stewart, em

1795, elaborou a hipótese de contágio da febre puerperal por meio de

profissionais de saúde8,9. Holmes(1843) também sugeriu que a febre

puerperal fosse contagiosa e transmitida pelas mãos de médicos6. A

transmissão da febre puerperal foi elegantemente demonstrada por

Semmelweis, utilizando as etapas clássicas do método epidemiológico,

importante instrumento de trabalho para o controlador de infecção, assim

como para o investigador de doenças infecciosas em geral. A

epidemiologia originou-se a partir do estudo das epidemias e hoje se aplica

a qualquer evento relacionado à saúde de populações específicas,

incluindo as IRAS10. Exemplo clássico é John Snow, médico inglês do

século XIX, que por meio de estudo epidemiológico conseguiu explicar a

distribuição geográfica da cólera em Londres, antes mesmo do

estabelecimento definitivo de sua etiologia11.

A prova irrefutável de que o Vibrio cholerae era o responsável pela

(11)

anos após os estudos de Snow sobre sua transmissão através da água.

Durante um intervalo entre dois períodos epidêmicos, que foi de 1849 a

1853, houve mudança no fornecimento de água de Londres. Uma das

empresas fornecedoras, a Lambeth Company, optou por bombear água do

rio Tâmisa antes do mesmo entrar na cidade e se tornar mais poluído. Por

outro lado, as empresas Southwark e Vauxhall mantiveram seu

fornecimento anterior, obtido de uma área, já dentro do perímetro urbano,

mais poluída do rio. Snow parte da observação de que em 1849, a

mortalidade por cólera era similar nas áreas em que as três empresas

forneciam água, mas que em 1853, a mortalidade foi menor na região

abastecida pela Lambeth Company (que captava água da área não

poluída). Snow interpretou o fenômeno como um “experimento” natural,

onde grupos humanos foram divididos ao acaso, segundo suas fontes de

consumo de água. O investigador utilizou mapas da cidade correlacionando

o abastecimento de água com a taxa de mortalidade por cólera. A fim de

evitar erros de classificação de exposição, foram realizados testes

bioquímicos da água das diferentes regiões, corroborando a exatidão dos

mapas. Dessa maneira, concluiu que a doença era veiculada pela água,

convencendo as autoridades londrinas a impor a filtragem da água por

parte das companhias fornecedoras11. Assim, antes de ser estabelecida

definitivamente a etiologia da cólera, John Snow consegue o controle da

(12)

Tabela 1. Mortes por cólera em Londres em 1854, Grande Experimento de Snow

Companhia de

fornecimento de água Número de habitantes Mortes por cólera 10.000 habitantes Mortes por

Companhias Southwark e Vauxhall (captação de água mantida na área

urbanizada de Londres) 40.046 1.263 315

Companhia Lambeth (alterou a captação de água para área mais limpa, antes do rio adentrar em área

urbanizada de Londres) 26.107 98 37

Demais áreas de

Londres 256.423 1,422 59

Fonte: Frerichs RR11

Como dito anteriormente, embora muitos médicos na Europa e

Estados Unidos estivessem ocupados em entender os mecanismos de

transmissão da febre puerperal desde o século XVIII, foi Semmelweis que,

antes mesmo de se compreender a etiologia desta doença, estabeleceu um

elo plausível entre os casos e propôs medidas eficazes de controle utilizando

o método epidemiológico. Antes que Snow demonstrasse seu estudo de

transmissão da cólera, Semmelweis conduziu estudo epidemiológico com

suas etapas clássicas do processo investigativo, quais sejam, definição de

caso, confirmação de surto a partir do estudo prévio da ocorrência do

evento, descrição dos casos, busca de fatores predisponentes, formulação

de hipótese, implementação de medidas de controle e comprovação da

(13)

época em que começou a trabalhar na primeira clínica obstétrica da

Maternidade de Viena6. Esta maternidade era dividida em duas clínicas, na

primeira as parturientes eram atendidas por estudantes de medicina e, na

segunda, por parteiras. A mortalidade da primeira clínica era três vezes

maior em decorrência da febre puerperal. A explicação mais aceita à época

era a de que a doença era produzida por miasmas, que seriam substâncias

geradas fora do corpo e que, espalhando-se pelo ar, produziam a doença. A

teoria miasmática como causa da doença parecia pouco plausível para esse

investigador, uma vez que as clínicas eram contíguas e os miasmas não

seriam capazes de reconhecer os limites físicos entre elas. Então, a partir de

uma definição do problema, passou a investigar a causa da febre puerperal

e o motivo pelo qual era mais prevalente na primeira clínica obstétrica

(tabela 2). Estudou os casos detalhadamente por meio de exame clínico e

necrópsia, estabelecendo uma definição de caso. Examinando os laudos do

exame pos mortem de um colega ferido acidentalmente durante uma

necrópsia, encontrou descrições semelhantes às necrópsias das puérperas.

A partir dessa observação, considerou que o contato com cadáveres que

faleciam em decorrência de febres purulentas e infecções traumáticas

poderiam veicular a doença para as parturientes, uma vez que os achados

anátomo-patológicos eram semelhantes entre esses casos e os de febre

puerperal. Ainda, o fato de que as parteiras não entravam em contato com

cadáveres nas salas de necrópsia, reforçava a idéia de que os estudantes

de medicina estariam veiculando a causa da febre puerperal justificando a

(14)

A primeira demonstração desse elo entre os casos foi verificar que desde a

fundação da maternidade em 1784 até 1822, quando não havia estudo de

anatomia no hospital, a mortalidade era de 1,2%. Após a implantação das

salas de anatomia, a mortalidade subiu para 5,4%6, conforme demonstrado

na tabela 3.

Tabela 2. Comparação da mortalidade na Primeira e Segunda Clinicas Obstétricas da Maternidade de Viena entre 1841 e 1846

Ano Primeira Clínica(%) Segunda Clínica(%)

1841 7,7 3,5

1842 15,8 7,5

1843 8,9 5,9

1844 8,2 2,3

1845 6,8 2,0

1846 11,4 2,7

Fonte: Fernandes AT6

Tabela 3. Mortalidade materna na maternidade de Viena antes e após a implantação do ensino de anatomia na instituição

Período Ensino Partos Óbito

materno Mortalidade (%)

1784-1822 Pré-anatômico 71.395 897 1,2

1823-1846 Anatômico 28.429 1.509 5,3

(15)

A construção dessa série histórica permitiu de certa forma reforçar

sua hipótese embora não tenha tido força de evidência suficiente dentro da

sociedade médica da época para comprová-la.

A partir da formulação de sua hipótese, Semmelweis implementou

intervenções em maio de 1847 a fim de testá-la e controlar a doença. Suas

intervenções foram o isolamento dos casos, instituição da lavagem das mãos

com solução de ácido clórico para os médicos que entrassem na clínica

obstétrica, além da fervura dos materiais. A mortalidade caiu após a instituição

das medidas descritas (tabela 4). Ainda, foi observado que durante a internação

de pacientes com processos infecciosos na unidade, as taxas voltavam a subir

e Semmelweis observou que os médicos higienizavam as mãos antes de entrar

na unidade mas não o faziam ao examinar diferentes pacientes dentro da

unidade. De maneira que foi instituída a lavagem de mãos após o exame de

todo paciente, além do isolamento dos pacientes com processos infecciosos.

Em função da resistência de seus pares a adotarem tais medidas assim como

por questões políticas, os achados de Semmelweis foram subestimados, sendo

sua contribuição apenas reconhecida posteriormente.

Tabela 4. Taxa de mortalidade materna na Primeira Clínica Obstétrica da Maternidade de Viena entre abril e agosto de 1847

Período Mês Partos Óbitos Mortalidade (%)

Abril 312 57 18,27

Pré-intervenção

Maio 294 36 12,24

Junho 268 6 2,38

Julho 250 3 1,20

Pós-intervenção

(16)

Com o estabelecimento no final do século XIX da teoria microbiana e

do reconhecimento de agentes etiológicos como da osteomielite por

Staphylococcus spp. e febre puerperal pelo gênero Streptococcus descritos

por Pasteur, assim como da tuberculose pelo Mycobacterium tuberculosis e

cólera pelo Vibrio cholerae por Koch, inaugurou-se o que podemos chamar

de era bacteriológica12. A medicina passa a incorporar os conceitos de

microbiologia, investigando e compreendendo os mecanismos de

transmissão das doenças infecciosas. Um dos primeiros exemplos, já citado

anteriormente é o de Lister5, que entusiasmado com a apresentação dos

trabalhos de Pasteur sobre a teoria dos germes, cria a técnica de cirurgia

asséptica. Nessa ocasião, inicia-se a sistematização de conhecimento a

respeito da transmissão de patógenos dentro dos hospitais, a partir da

convergência dos saberes clínico, microbiológico e epidemiológico.

O controle de infecção hospitalar nasce formalmente como

disciplina na década de 50 do século XX, para responder à demanda das

infecções estafilocócicas hospitalares13. Apesar de haver grande

discussão ainda hoje acerca do termo, nasce o conceito de

“epidemiologia hospitalar” já em 1940 em trabalho publicado por Felsen e

Wolarsky14. Hoje, de maneira bem estabelecida, o controle de infecção

hospitalar ou relacionada à assistência à saúde (IRAS) é um ramo da

epidemiologia que se ocupa da análise de eventos adversos infecciosos

ocorridos no âmbito da assistência à saúde.

À medida que se delineou uma nova disciplina, a epidemiologia

(17)

também cresceu a complexidade dos pacientes tratados dentro dos

hospitais, fruto do avanço tecnológico que permite a sobrevida de pacientes

cada vez mais graves, como pacientes onco-hematológicos, grandes

queimados, pacientes em terapia intensiva com múltiplas invasões com

finalidades terapêutica e diagnóstica e prematuros extremos.

A relação entre o aumento da sobrevida desses pacientes e o risco de

adquirir IRAS é diretamente proporcional. Dessa maneira, a epidemiologia

hospitalar vem crescendo como disciplina que estuda os fatores de risco

para se adquirir infecção no processo de assistência à saúde com o objetivo

de propor medidas de prevenção e controle deste evento adverso. Além

disso, ocupa-se também da identificação, investigação das causas e controle

dos surtos destas infecções.

O epidemiologista hospitalar, termo que vamos adotar neste texto

para designar o controlador de infecção, se orienta pelo método

investigativo epidemiológico clássico para proceder à investigação e

controle de surtos.

A tarefa precípua dos controladores de infecção é a prevenção das

IRAS, protegendo pacientes, cuidadores e profissionais envolvidos no

processo de assistência ao paciente. No Brasil, as ações de controle de

infecção hospitalar são regulamentadas pela portaria do Ministério da Saúde

no 2616 de 1998. Os serviços de controle de infecção relacionadas à

assistência à saúde, devem ter um programa estruturado que oriente o seu

trabalho. De uma forma geral, um programa de controle de infecção envolve

(18)

1. Vigilância das IRAS – determinar os níveis endêmicos de

infecção. O método de vigilância deve ter definições precisas dos

eventos notificados assim como cálculo uniforme das taxas, de

modo que permita a comparação da ocorrência desses eventos

ao longo do tempo;

2. Investigação de surto – determinar a causa da ocorrência do surto

e controlá-lo, objeto de estudo desta dissertação;

3. Educação – atualizar as equipes assistenciais com as melhores

evidências obtidas em estudos de prevenção e controle de IRAS,

como por exemplo estudos de desinfecção e esterilização de artigos

em unidades de saúde, higienização do ambiente, manejo de

resíduos sólidos dos serviços de saúde, assistência médica e de

enfermagem na inserção e manutenção de dispositivos invasivos em

pacientes críticos e não críticos e, sobretudo, educação continuada

de toda a comunidade envolvida na assistência à saúde acerca da

higienização das mãos, um dos pilares do controle de IRAS;

4. Proteção ocupacional – elaborar juntamente com a medicina do

trabalho, políticas de prevenção de doença infecciosa ocupacional

por meio de programa de imunizações assim como programas

educativos para redução de acidentes com material biológico;

5. Controle de antimicrobianos – racionalizar o uso desta classe de

drogas, reduzindo custos e efeitos adversos relacionados à sua

(19)

6. Apoio técnico-administrativo – oferecer subsídio técnico para

decisões administrativas na unidade onde o serviço de controle de

infecção está inserido. O serviço de controle de infecção ou de

epidemiologia hospitalar, tem interface com praticamente todos os

outros serviços da unidade hospitalar. A dependência de outros

serviços para a adequada execução de seu trabalho também é

grande, como exemplo, um bom desempenho técnico do

laboratório de microbiologia é fundamental para a determinação

dos níveis endêmicos de determinados agentes, assim como a

qualidade organizacional da farmácia é importante para o controle

de antimicrobianos. De maneira que muitas decisões

administrativas, envolvendo diferentes serviços, devem ter a

cooperação técnica do serviço de epidemiologia hospitalar.

Vamos nos deter mais na tarefa de investigação de surtos, que é o

objeto de estudo desta dissertação. Definiremos surto de IRAS como a

ocorrência de um número de casos de infecção relacionada à assistência à

saúde por um determinado agente numa população específica num dado

período de tempo, acima dos seus limites endêmicos10. Obviamente, tal

detecção depende da construção de uma série histórica da ocorrência. A

partir da vigilância sistemática desta ocorrência com critérios

epidemiológicos bem estabelecidos é possível elaborar taxas de infecção

assim como acompanhar as tendências de ocorrência de determinados

(20)

A ocorrência de um surto pode ter origem numa fonte comum ou

propagada10. A fonte comum ocorre quando indivíduos susceptíveis se

expõem mutuamente a um mesmo agente num mesmo período de tempo.

Como exemplos, citamos um surto de Salmonella enteritidis por contaminação

de nutrição enteral16, ou surto de Burkholderia cepacia numa unidade de

terapia intensiva neonatal, onde se aqueciam as mamadeiras em um

banho-maria com a água contaminada pelo agente. Nesse tipo de fonte os casos se

concentram num curto período de tempo, estabilizando-se ou declinando

rapidamente, de acordo com a disponibilidade de novos susceptíveis.

A fonte propagada ocorre por transmissão direta ou indireta e de

indivíduo a indivíduo. As formas de transmissão podem ser por via respiratória

ou contato ou ambas, como exemplo, um surto hospitalar de varicela ocorrido

em unidade de pediatria. A progressão do surto é mais lenta podendo haver

aumentos e declínios do número de casos ao longo do tempo.

Algumas circunstâncias devem levar à suspeita de surto de IRAS,

como a) o aumento da ocorrência de infecções semelhantes (mesmo

diagnóstico etiológico ou sindrômico) numa unidade ou num grupo específico

de pacientes; b) o aumento da ocorrência de infecções relacionadas a um

determinado dispositivo invasivo; c) a ocorrência da mesma infecção entre

pacientes e profissionais de saúde; d) o aumento da ocorrência de infecções

causadas por agentes tipicamente hospitalares, como por exemplo, agentes

resistentes a múltiplos antimicrobianos15.

Uma vez instalada a suspeita de um surto de IRAS, a primeira tarefa

(21)

tanto, é fundamental estabelecer uma definição de caso que pode se

modificar ao longo da investigação. A definição de caso consiste na reunião

de critérios clínicos, laboratoriais e epidemiológicos10. Uma vez definido o

caso, confirma-se a ocorrência do surto por meio da análise da série

histórica do evento e aplicação de testes estatísticos para curva de

tendência quando se tratar de agente endêmico. Quando a taxa de um

determinado evento num período de tempo excede o intervalo de confiança

de 95%, comparando-se à série histórica, está indicada a investigação de

surto13. Eventualmente, essa resposta é óbvia em virtude da raridade da

ocorrência de determinados eventos.

É importante considerar, nesse momento, se houve alterações na

metodologia de vigilância, como mudanças nos critérios de notificação ou

ampliação da vigilância tornando-a mais sensível, ou ainda, incorporação de

novas tecnologias, como técnicas microbiológicas mais eficientes. Variações

desta natureza podem determinar o que se denomina pseudosurto15.

Confirmada a ocorrência do surto, o método investigativo deve ser

implementado. A seguir demonstramos as etapas da investigação de IRAS

segundo Wenzel13:

1. Armazenar as cepas envolvidas para análise posterior;

2. Estabelecer definição de caso;

3. Utilizando a definição de caso, demonstrar que o seu número

encontra-se acima dos níveis endêmicos;

4. Revisar sistematicamente a literatura médica relacionada, o que

(22)

5. Construir um gráfico da curva epidêmica;

6. Revisar os prontuários de pacientes-caso, elaborando planilha

com dados demográficos e possíveis fatores de risco envolvidos;

7. Construir gráfico com dados de todos os eventos comuns. Os

casos novos colocados no eixo X e o intervalo de tempo entre

infecção e possível fator de risco (procedimento, medicação,

profissional de saúde) no eixo Y;

8. Formular hipótese, propondo a possível fonte de infecção e o

mecanismo de transmissão;

9. Proceder a um estudo caso-controle, comparando, por exemplo,

pacientes de mesma idade, submetidos a um mesmo

procedimento, compartilhando a mesma unidade de internação;

10. Instituir medidas gerais de controle de infecção hospitalar;

11. Obter culturas de fontes comuns suspeitas;

12. Realizar biologia molecular a fim de se estabelecer relação entre

os casos;

13. Comunicar os achados da investigação à Comissão de Controle

de Infecção Hospitalar;

14. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar deve rever sua

política de controle de infecção relacionada ao surto.

Muitas dessas etapas ocorrem simultaneamente e, evidentemente,

algumas podem ser alteradas em decorrência da natureza do surto. Quando

(23)

exemplo, o aumento de infecção urinária relacionada à utilização de

sondagem vesical de demora, causada por diferentes agentes, o problema

pode estar mais relacionado à técnica de sondagem e não a uma fonte

comum, de maneira que o foco de atenção deve ser direcionado sobre a

revisão das práticas de sondagem e, nesse caso, um estudo caso-controle

pode não se fazer necessário17.

As etapas acima descritas têm origem na investigação epidemiológica

clássica onde encontramos exemplo nas diretrizes para investigações

epidemiológicas de campo publicadas por Goodman18 e em conceitos

epidemiológicos de Evans19 e adaptadas para a investigação de infecções

ou complicações decorrentes do processo de assistência à saúde13.

Quando o surto decorre do aumento do número de infecções por um

microrganismo com perfis idênticos de sensibilidade à análise do

antibiograma (análise fenotípica), possivelmente monoclonal, é importante o

armazenamento das cepas envolvidas para estudo de biologia molecular

(análise genotípica) em momento oportuno20. É importante ressaltar que a

falta de recursos técnicos de biologia molecular não impede

necessariamente a identificação de fontes comuns, como veremos adiante

na descrição do surto, objeto de estudo desta dissertação, assim como a

interrupção da transmissão de fontes propagadas. Isto assume particular

importância nos países em desenvolvimento, onde há escassez de recursos

técnicos, sendo possível a realização de tipagem molecular apenas em

(24)

Entre as tarefas iniciais, como já apontamos anteriormente estão a

definição de caso, que é obtida a partir da eleição de critérios clínicos,

epidemiológicos e microbiológicos. Como exemplo de definição de casos

durante a investigação de surtos de IRAS, temos: a) num surto hospitalar de

síndrome da pele escaldada, ocorrido em uma maternidade de um hospital

geral em Paris entre 2 de dezembro de 2002 e 5 de março de 2003,

definiu-se como caso todos os pacientes nascidos entre 29 de novembro de 2002 e

5 de março de 2003 e que apresentavam lesões de pele descamativas, com

cultura de coto umbilical positivas para Staphylococcus aureus produtores de

toxina esfoliativa A. Considerou-se o tempo decorrido entre a transmissão e

a incubação do agente antes de causar doença21; b) Todos os pacientes de

uma unidade de terapia intensiva neonatal que durante os meses de agosto

e setembro de 2000 apresentaram sinais clínicos de sepse e hemoculturas

com isolamento de Acinetobacter baumannii foram definidos como casos de

um surto de bacteremia causada por por este agente num hospital

universitário de Taiwan nos meses de agosto e setembro de 200022.

Eventualmente, o estabelecimento de um diagnóstico de certeza é difícil,

podendo-se categorizar os casos como confirmados e possíveis. Tomemos

como exemplo hipotético um surto de diarréia por rotavírus numa unidade de

terapia intensiva neonatal. Nesta situação podemos ter casos confirmados,

quais sejam, pacientes internados na unidade durante o mês de maio de

2005, com diarréia e pesquisa positiva para rotavírus nas fezes e os casos

possíveis seriam aqueles pacientes com diarréia internados na mesma

(25)

Qualquer que seja a definição de caso adotada inicialmente, ela pode

ser alterada à medida que mais dados a respeito do surto são acumulados

durante a investigação. Além disso, em fases iniciais, quando ainda não há

hipótese clara da causa do surto, as definições de caso devem ser mais

amplas, portanto, mais sensíveis. Ao longo da investigação, quando a

hipótese vai se delineando, uma definição mais restritiva, portanto mais

específica pode ter um poder discriminatório maior. Ainda, logo após a

definição inicial de casos, é importante voltar-se para os dados iniciais e

verificar se todos os casos notificados preenchem os critérios de caso para o

surto em curso.

Geralmente, as investigações iniciam-se durante a ocorrência do

surto, o que torna necessária a implantação imediata de medidas de controle

iniciais, por meio dos serviços de controle de infecção com o objetivo de se

prevenir novos casos. Essas medidas, são, na maioria das vezes, reforço

das boas práticas de assistência, como higiene das mãos e adequação

técnica em relação à inserção e manutenção de dispositivos invasivos e

eventualmente medidas específicas dependendo do surto em questão.

A revisão da literatura relacionada ao surto é de fundamental

importância nas fases iniciais com o objetivo de definir o caso de maneira a

mais sensível possível, recomendar medidas empíricas gerais de controle

baseadas em experiências semelhantes relatadas e fundamentar

teoricamente a formulação da hipótese13. Atualmente, a busca da

informação, extremamente facilitada por meio da rede mundial de

(26)

informação durante a investigação de um surto de IRAS, alguns autores já

se ocupam com a criação de base de dados especializada na compilação de

resumos com descrições de investigação de surtos bem detalhadas23.

O trabalho de revisão de prontuários constitui-se numa etapa

importante de acúmulo de informação e pode auxiliar a identificar novos

casos. A partir da construção de gráficos dos eventos comuns entre casos

ou a construção de uma planilha com a exposição desses dados, pode-se

obter um elo plausível entre eles. Até aqui a análise do evento foi

absolutamente descritiva, e uma vez controlado o surto poderia-se prescindir

de estudo epidemiológico analítico do tipo caso-controle. No entanto, como

ressalta Reingold24, a investigação do surto por meio de estudo analítico,

empreendido mesmo após o seu controle, pode acrescentar conhecimento

acerca dos mecanismos de transmissão e contribuir para a prevenção de

eventos futuros.

A formulação de hipótese com base teórica bem fundamentada,

geralmente depende da análise descritiva inicial, obtida pela revisão dos

casos e da literatura acerca do evento em questão. Eventualmente, a

literatura nos traz informações que ampliam possibilidades de relação de

causa e efeito que sejam incomuns, portanto não consideradas na fase

inicial de investigação, como exemplo Cannabis sativa como fonte de

Salmonella25 ou caldo de cana como fonte de Trypanosoma cruzi26. Quando

a análise descritiva ou a revisão da literatura não são suficientes para a

formulação da hipótese, pode-se lançar mão de outros métodos, como

(27)

fluxo de pacientes e materiais, das técnicas utilizadas em procedimentos

invasivos, explorando-se ao máximo a peculiaridade do serviço envolvido24.

Na maioria das vezes, o investigador formula várias hipóteses, ou seja,

seleciona várias exposições a que os casos foram submetidos a fim de

examiná-las como possível causa.

Uma vez formulada a hipótese, esta deve ser testada por meio de

estudo analítico. Embora estudo caso-controle seja mais freqüentemente

utilizado para surtos de IRAS, outros estudos analíticos, como coorte

restrospectiva ou estudo transversal podem ser utilizados. O objetivo desses

estudos é avaliar a relação entre uma dada exposição e o evento em

questão.

É importante considerar que muitas associações estatisticamente

significativas entre uma dada exposição e o evento analisado possam

ocorrer ao acaso. Se o valor de p for estabelecido como <0,05, o acaso

poderá ocorrer em até 5% das vezes. Segundo Reingold24, apesar de haver

métodos para ajuste de variáveis de confusão, é preciso ir além dos testes

estatísticos, de maneira que a magnitude do efeito observado entre

exposição e o evento com seus riscos relativos ou razões de chance e

intervalos de confiança de 95%, assim como a plausibilidade biológica,

devem ser elementos importantes para a definição da causa de surtos.

Eventualmente após o teste de hipóteses, podemos não encontrar

relação entre as exposições e o evento, provavelmente em função das

hipóteses formuladas não contemplarem a exposição causadora do evento.

(28)

que, na maioria das vezes, surtos de IRAS contam com um número pequeno

de casos e portanto, com baixo poder estatístico. Finalmente, a

inconsistência dos dados colhidos deve ser verificada.

A investigação de contaminação ambiental ou reservatório humano,

atuando como fonte comum, não deve ser iniciada antes que a análise

descritiva ou o estudo analítico apontem nesse sentido. A investigação

microbiológica tem custo elevado e os recursos humanos e técnicos

disponíveis na maioria dos serviços de assistência à saúde são escassos.

No entanto, nas fases iniciais, por ocasião da eventual separação física de

indivíduos em coortes de casos e contactantes de casos e coortes de novos

indivíduos admitidos em uma unidade assistencial, pode-se reservar

amostras de insumos utilizados coletivamente a depender dos dados

encontrados na revisão da literatura pertinente.

A comunicação dos achados às esferas administativas envolvidas ao

longo da investigação é fundamental quando se precisa implantar medidas

de controle que dependam do poder executivo local. Entretanto, não é raro o

investigador atuar em meio à ocorrência do surto sendo pressionado por

resultados rápidos além de poder estar envolvido numa esfera de conflitos

de interesse quando a qualidade de um determinado insumo está

comprometida. No entanto, a isenção do investigador e a preservação de

seu rigor técnico frente a essa possível realidade adversa depende do

(29)
(30)

Descrever um surto de Klebsiella pneumoniae produtora de

beta-lactamase de espectro ampliado relacionado à mão persistentemente

colonizada de uma profissional de saúde, demonstrando por meio de

tipagem molecular, a relação entre a cepa da mão da funcionária com

(31)
(32)

3.1 Local e período

O surto ocorreu na unidade neonatal do Hospital Geral de

Itapecerica da Serra, situado a 30 km da cidade de São Paulo, entre os

meses de julho e outubro de 1999. O hospital é um centro de referência de

obstetrícia de alto risco da região. Na ocasião, a unidade neonatal era

composta de 20 leitos, sendo 8 de cuidados intensivos, 10 de cuidados

intermediários e dois de isolamento, distribuídos em 6 salas interligadas

por um corredor (Figura 1).

Figura 1. Planta baixa da unidade de terapia intensiva neonatal do

(33)

3.2 Método de vigilância

Desde a inauguração do hospital, em março de 1999, foi empregado o

método NNISS (National Nosocomial Infection Surveillance System) de

vigilância de infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) na unidade

de terapia intensiva neonatal (UTIN).

Diariamente um enfermeiro do serviço de controle de infecção

hospitalar (SCIH) visita a unidade, coletando os dados para a vigilância. Neste

registro diário, é computado o número de pacientes presentes na unidade e

de novas admissões. Segundo o método adotado, um paciente é incluído na

vigilância quando este é admitido numa data distinta de sua saída. A vigilância

compreende ainda o registro do número de pacientes submetidos à ventilação

mecânica, cateter venoso central (cateter umbilical e flebotomia) e nutrição

parenteral prolongada. Além de registrar os dados citados, durante sua visita

diária, o enfermeiro busca ativamente casos de IRAS. Os critérios

epidemiológicos de IRAS adotados são aqueles definidos pelos Centers for

Diseases Control and Prevention(CDC) dos Estados Unidos e serão descritos

posteriormente. As informações para estabelecer o diagnóstico de IRAS

podem ser obtidas das seguintes formas: a) com o médico ou enfermeiro

assistentes da unidade; b) com informações do prontuário do paciente

anotadas nas evoluções médica e de enfermagem, além de análise da curva

térmica e prescrição de antimicrobianos; c) avaliação das culturas recebidas

do laboratório de microbiologia. A notificação é registrada em ficha própria,

(34)

Na UTIN, para efeito de vigilância e notificação, os pacientes são

categorizados em quatro grupos de acordo com o seu peso ao nascer:

peso menor ou igual a 1000 g, de 1001 a 1500 g, de 1501 a 2500 g e

acima de 2500 g.

Consideramos IRAS na população neonatal, toda infecção

manifestada clinicamente pelo paciente em qualquer momento após o

nascimento desde que o mesmo não tenha estado fora do hospital por pelo

menos 48 horas. Também são consideradas IRAS aquelas diagnosticadas

até 48 horas após a saída do paciente.

Por ocasião do surto, eram utilizados apenas indicadores de

resultados. Taxas de infecção hospitalar eram calculadas mensalmente. O

cálculo das taxas seguem os critérios determinados pelo ministério da saúde

do Brasil na portaria 2616 de 1988. Os critérios para notificação de infecção

hospitalar são aqueles descritos por Garner61.

3.3 Indicadores

Numeradores

• no de IH – número total de infecções hospitalares notificadas no mês;

• no de IPCS – número de infecção primária da corrente sangüínea

notificadas no mês;

• no de ITU – número de infecção do trato urinário notificadas no mês;

(35)

Denominadores:

• total de saídas - altas+óbitos+transferências (ocorridas no mês);

• paciente-dia – é obtido computando-se diariamente o número de

pacientes presentes na UTIN. Deve ser incluído todo paciente cuja

data de admissão seja distinta de sua saída;

• CVC-dia – é obtido computando-se o número de cateter venoso

central em uso pelos pacientes da UTIN. Pacientes que tenham

mais de um acesso venoso central têm um único registro para

efeito de vigilância;

• VM-dia – é obtido computando-se o número de pacientes em

ventilação mecânica na UTIN;

• SVD-dia – é obtido computando-se o número de pacientes

submetidos à drenagem vesical por sonda vesical de demora (SVD)

na UTIN. Este procedimento é pouco utilizado nesta unidade;

Cálculo das taxas

• Taxa bruta de IH (TIH) por faixa de peso ao nascer:

TIH (%) = no de IH/total de saídasX100

• Densidade de Incidência (DI) de IH por faixa de peso ao nascer:

DI de IH = no de IH/no de pacientes-diaX1000

• Densidade de incidência de infecção primária da corrente

sangüínea associada a CVC:

(36)

• Densidade de incidência de pneumonia relacionada à ventilação

mecânica:

DI de pneumonia= no de pneumonias/no de VM-diaX1000

• Densidade de infecção do trato urinário associado a sonda vesical

de demora (SVD):

DI de ITU= no de ITU/no de SVD-diaX1000

• Distribuição percentual de IH por sítio topográfico (DST):

DST= no de IH por sítio específico/total de IHX100

3.4 Critérios de notificação

Os critérios de notificação de infecção hospitalar são aqueles do

Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos63.

3.4.1 Infecção do trato urinário em menores de 12 meses

Um ou mais dos seguintes sinais e sintomas sem outra causa

conhecida:

• Febre (T≥37,8°C) ou hipotermia (T≤35,5°C);

(37)

• Letargia;

• Bradicardia;

• Apnéia;

E um dos seguintes:

• Urocultura por punção supra-púbica ou cateterização com

contagem ≥104 UFC/ml de agente único;

• Urocultura por saco coletor com isolamento do mesmo agente com

contagem≥105 UFC/ml em 2 amostras colhidas em dias diferentes;

• Na vigência de antibiótico, considera-se urocultura por punção

supra-púbica ou cateterização com contagem ≥ 103 UFC/ml de

agente único

E

• Sedimento urinário com≥ 10 leucócitos por campo ou≥ 104

leucócitos/ml.

3.4.2 Pneumonia hospitalar em menores de 12 meses

3.4.2.1 Em ventilação espontânea

Pelo menos dois dos seguintes:

• Tosse, dispnéia (batimento de asa de nariz, retrações intercostais),

(38)

• Febre (T≥37,8°C) ou hipotermia (T≤35,5°C);

• Leucopenia (≤5000 leucócitos/mm3) ou leucocitose (≥15000

leucócitos/mm3) com desvio à esquerda;

• Produção de secreção purulenta ou mudança na característica da

secreção já observada anteriormente ou aumento de sua quantidade;

E

• Rx de tórax demonstrando piora de infiltrados já existentes ou

aparecimento de consolidação, cavitação ou derrame pleural;

E

• O médico que assiste ao paciente não descarta o diagnóstico de

pneumonia.

3.4.2.2 Em ventilação mecânica

Pelo menos três dos seguintes:

• Tosse, taquipnéia, estertores ou abolição do murmúrio vesicular,

percussão demonstando macicez, broncofonia aumentada ou

abolida, alteração do nível de consciência;

• Febre (T≥37,8°C) ou hipotermia (T≤35,5°C);

• Leucopenia (≤5000 leucócitos/mm3) ou leucocitose (≥15000

leucócitos/mm3) com desvio à esquerda;

E

• Rx de tórax demonstrando piora de infiltrados já existentes ou

aparecimento de consolidação, cavitação ou derrame pleural;

(39)

• Produção de secreção purulenta ou mudança na característica da

secreção já observada anteriormente ou aumento de sua quantidade;

E

• O médico que assiste ao paciente não descarta o diagnóstico de

pneumonia.

3.5 Infecção da corrente sangüínea em menores de 12 meses

Critério 1:

Paciente com pelo menos um patógeno isolado em uma ou mais

hemocultura e o patógeno não está relacionado com uma infecção em

outro sítio.

Critério 2:

Paciente com pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas:

• Febre(T≥37,8°C) ou hipotermia(T≤35,5°C);

• Apnéia;

• Bradicardia;

E

• Duas ou mais hemoculturas colhidas em diferentes ocasiões e

isolado contaminante de pele(ex: difteróides, Bacillus sp,

(40)

Critério 3:

Paciente com pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas:

• Febre(T≥37,8°C) ou hipotermia(T≤35,5°C);

• Apnéia;

• Bradicardia;

E

• Uma hemocultura positiva com contaminante comum de pele(ex.

difteróides, Bacillus sp, Propionibacterium sp, Staphylococcus

coagulase negativo ou Micrococcus).

E

• Paciente com cateter venoso central;

E

• Médico inicia a terapia antimicrobiana adequada.

3.6 Identificação do surto

Em julho de 1999, o serviço de controle de infecção hospitalar (SCIH)

notificou quatro casos de IRAS em pacientes internados na unidade de

terapia intensiva neonatal (UTIN) causados por Klebsiella pneumoniae com

resistência a cefalosporinas e aminoglicosídeos observada no teste de

difusão em disco, sendo o teste positivo para detecção de ESBL (Extended

(41)

O reconhecimento do surto foi imediato, uma vez que nos cinco

meses prévios de existência da unidade neonatal, não havia sido identificado

nenhum caso de infecção por este agente.

A partir da identificação do surto, foi solicitado ao laboratório de

microbiologia que se armazenasse todos os novos isolados.

3.6.1 Etapas da investigação

A partir da identificação do surto, a investigação teve início com as

etapas descritas a seguir.

3.6.1.1 Definição de caso

Inicialmente adotamos dois critérios de definição de caso: a) paciente

admitido na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), há pelo menos 48

horas, com infecção por Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL

(extended spectrum beta-lactamase) laboratorialmente confirmada; b)

paciente admitido na unidade de terapia intensiva neonatal, há pelo menos

48 horas, cuja cultura de vigilância resultasse positiva para Klebsiella

pneumoniae produtora de ESBL.

A literatura pertinente foi revisada e as medidas iniciais

implantadas como estratégia de controle de disseminação do agente

(42)

• Isolamento dos quatro casos;

• coleta de culturas de vigilância (peri-anal, orofaringe e periumbilical)

semanais de todos os neonatos com mais de 48 horas de

internação na UTIN, com o objetivo de identificar novos neonatos

colonizados (figura 2);

• Isolamento com precauções de contato para todos cujas culturas

de vigilância resultavam positivas;

• Mudança na recomendação de tratamento empírico de sepse tardia

ocorrida no hospital, de amicacina e oxacilina para imipenem ;

• Revisão com a equipe de enfermagem e médica, das rotinas de

manuseio de cateter, preparo de medicações, manuseio de

circuitos ventilatórios, rotinas de banho e higienização e,

principalmente higienização das mãos;

• Reuniões foram programadas para esclarecimento de toda a

equipe de assistência acerca da ocorrência do surto assim como

das medidas adotadas.

Os prontuários de todos os pacientes admitidos na unidade no mês de

julho de 1999 foram revistos.

A hipótese inicialmente formulada foi de transmissão cruzada por

meio de profissionais de saúde, a partir de quebra grosseria de técnica

como higienização inadequada de mãos. Além das medidas iniciais

acima mencionadas, esperava-se erradicar o agente da unidade por

meio de treinamentos continuados e isolamento de novos casos de

(43)

3.7 Microbiologia

3.7.1 Identificação

• O método inicial de cultivo dos swab de vigilância foi realizado pelo

método ViteK (BioMerieuxR, Marcy-L’Étoile, França). Trata-se de

sistema automatizado de identificação bacteriana e de seu perfil de

sensibilidade.

• A triagem de Klebsiella sp. produtora de beta lactamase de

espectro estendido (ESBL) foi realizada com teste de difusão em

disco segundo os critérios do NCCLS (atual CLSI- Clinical

Laboratory Standards Institute), pelos quais a cepa é suspeita de

produzir ESBL quando há redução na sensibilidade a alguns

agentes específicos ( Cefpodoxima≤22 mm, Ceftazidima ≤22 mm,

Ceftriaxona ≤25 mm, Cefotaxima≤ 27 mm e Aztreonam≤ 27 mm) .

• O teste confirmatório foi feito por meio de E-teste com critério do

NCCLS para confirmação de ESBL – redução da concentração

inibitória mínima (CIM) em pelo menos quatro vezes quando

comparadas sensibilidade à ceftazidima e ceftazidima+clavulanato

.Esse teste é realizado utilizando-se uma fita com duas extremidades:

uma contém ceftazidima e a outra extremidade contém ceftazidima

associada a ácido clavulânico. A tira da fita indica concentrações

crescentes das drogas à medida que avança para as extremidades. O

(44)

3.7.2 Análise da identidade genética

A identidade genética foi verificada por meio de eletroforese em gel de

campo pulsado (pulsed-field gel electrophoresis-PFGE)27. Trata-se de um

método comparativo, comumente utilizado em surtos a fim de se identificar a

existência de relação clonal entre os isolados clínicos testados. Utiliza-se a

digestão do DNA bacteriano com enzimas de restrição que se ligam a sítios

específicos ao longo do DNA cromossômico ou plasmidial, fragmentado-o. É

um método de bom poder discriminatório e possui grande aplicabilidade para

a maioria das bactérias Gram-negativas e Gram-positivas. Segue,

resumidamente, as etapas do método27:

1. As bactérias após a identificação fenotípica acima descrita são

cultivadas em caldo de cultura ou meio sólido. As colônias obtidas

desta cultura são misturadas em agarose com o objetivo de

proteger o DNA bacteriano de quebras e degradação.

2. Na etapa de extração do DNA bacteriano, os blocos de agarose

são submetidos à lise celular com enzimas que rompem a parede e

membrana celulares. Lavagens subseqüentes eliminam resíduos

celulares. Ao fim desta etapa, adiciona-se enzimas de restrição

que, neste caso, foram XbaI e SpeI.

4. Após a digestão celular, os blocos de agarose são colocados em

géis de agarose e submetidos à eletroforese.

5. Ao final da eletroforese, o gel é corado com brometo de etídio e

(45)

Perfis de restrição (número de fragmentos ou bandas) e migração

(avalia o peso molecular da banda) são critérios utilizados para análise dos

resultados.

Para interpretação utilizou-se o critério de Tenover28, segundo o qual,

os isolados são considerados idênticos quando não há diferença entre

bandas; provavelmente relacionados quando diferem por uma a três bandas;

possivelmente relacionados quando diferem por quatro a seis bandas e não

(46)
(47)

Os dados obtidos de prontuário de todos os pacientes de julho de

1999 podem ser vistos no anexo1. De imediato, não se evidenciou o

mecanismo que explicasse o surto.

Após a implementação das medidas iniciais, não houve novos casos

de infecção, no entanto não havia decréscimo no número de novos neonatos

colonizados ao longo do tempo. Em outubro de 1999 foi decidido realizar

culturas das mãos dos funcionários com o intuito de realizar posteriormente

sessão de treinamento utilizando os resultados como suporte didático, sem

identificação. Foram realizados 25 swab de mãos de profissionais de saúde,

sendo 8 médicos, 4 enfermeiros e 13 técnicos de enfermagem. O swab de

mãos de uma técnica de enfermagem resultou positiva para Klebsiella

pneumoniae produtora de ESBL. A profissional apresentava lesão extensa

sugestiva de onicomicose em polegar direito. Ela atuava como técnica de

enfermagem, de modo que prestava cuidados diretos aos pacientes da

unidade neonatal, incluindo manipulação do acesso venoso, como

administração de medicamentos endovenosos, curativos de cateter venoso

central e procedia a punções venosas periféricas. Por ocasião da emissão

dos resultados de cultura de mãos, a técnica de enfermagem encontrava-se

de férias. Neste momento, observou-se que durante um período em que a

(48)

esteve ausente da assistência direta ao paciente, não houve novos casos de

pacientes colonizados, coincidindo o ressurgimento de casos com o retorno

da funcionária às suas atividades. De maneira sigilosa para o restante dos

funcionários, foi definido o afastamento da profissional da unidade neonatal.

Imediatamente após o afastamento, não surgiram novos casos de pacientes

colonizados durante um período de seis semanas (Figura 2). Foi então

definido o fim do surto, revogadas as culturas de vigilância e reiniciado o

tratamento empírico para sepse tardia hospitalar com o esquema antigo.

Todas as cepas envolvidas foram guardadas.

Figura 2. Número de novos casos de colonização por Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL, identificados por vigilância ativa semanal dos pacientes

da UTIN. A – Atividade educativa de higienização das mãos com coleta de

swab de mãos de funcionários. B – Funcionária com onicomicose afasta-se

da assistência (férias). C – funcionária retorna às atividades assistenciais na

(49)

Após dois meses do afastamento definitivo de suas atividades

assistenciais, ainda durante tratamento da lesão ungueal, a funcionária

persistia com cultura positiva para Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL.

Os casos de doença invasiva ocorreram em julho quando foi

identificado o surto. Foram 3 infecções primárias da corrente sangüínea e 1

infecção urinária. Durante o período de vigilância ativa, houve apenas casos

de colonização.

Ao longo das 25 semanas de vigilância foram cultivados swab de 72

pacientes. Destes, 11 resultaram positivos para Klebsiella pneumoniae

produtora de ESBL.

O estudo de biologia molecular demonstrou que as cepas da mão da

funcionária e dos pacientes colonizados eram geneticamente idênticas (Figura 3).

Figura 3. Resultado de tipagem molecular de Klebsiella pneumoniae produtora

de β-lactamase de espectro estendido (ESBL) relacionadas ao surto.

(50)
(51)

Comumente encontramos na literatura, relatos de surtos de IRAS cuja

transmissão paciente a paciente se dá por transmissão cruzada pelas mãos

de profissional de saúde35. Guardadas as peculiaridades de cada patógeno,

via de regra a bactéria coloniza o paciente e seus dispositivos invasivos,

assim como o ambiente próximo ao paciente. O profissional de saúde coloniza

transitoriamente suas mãos durante a assistência, e uma vez negligenciadas

as técnicas adequadas de higienização das mãos, coloniza novo paciente e

seu ambiente próximo, estabelecendo um círculo vicioso35,36,37.

De outra maneira encontramos surtos cuja transmissão se dá

diretamente de uma fonte comum aos pacientes. Esta fonte geralmente está

relacionada à contaminação ambiental como a contaminação por

Pseudomonas aeruginosa de um pasteurizador em um banco de leite

humano38 ou por Legionella pneumophila no sistema de distribuição de água

para uma unidade de transplante renal39 ou ainda de um insumo relacionado

à assistência como frascos de medicação de múltiplo uso40 como demonstra

a tabela 5. Não raramente, a transmissão se inicia por fonte comum e se

perpetua de paciente a paciente via mãos de profissionais de saúde

colonizadas transitoriamente.

Durante as fases iniciais da investigação de um surto, após a análise

(52)

pode-se ter uma idéia da forma de transmissão e pode inclusive haver

sugestão da existência de fonte comum. Geralmente, quando a investigação

inicial aponta para uma fonte comum em surtos com envolvimento de

bactérias Gram-negativas, após as medidas gerais de controle comum à

maioria das situações, lança-se mão de investigação ambiental em função

do grande número de publicações mostrando sua importância.

Neste surto, mesmo após as medidas iniciais de controle, os casos

novos de colonização não paravam de surgir, indicando persistência da

transmissão. O encontro do elo entre os casos se deu durante uma atividade

que tinha como objetivo educar para prevenir. O resultado desta

investigação reforça a necessidade de ir além da suspeita de fontes

ambientais quando se trata de Gram-negativos e considerar a possibilidade

de haver reservatório humano, como profissionais com mãos

(53)

Tabela 5. Surtos causados por utilização de frascos de múltiplo uso publicados no período de 1983 a 2002

Medicação Patógeno Infecção Pacientes Óbito Evidência de relação Ano

Propofol E. cloacae ICS 4 2 Epi, bimol 2002

Propofol S. marcescens ICS, ferida 7 2 Epi, bimol 2001

Propofol S. aureus Ferida 5 Bimol 1990

Propofol S. aureus ICS 5 Epi, bimol 1997

Propofol S. aureus,

C. albicans, M. osloensis, E. agglomerans, S. marcescens Infecção hospitalar

62 Epi, bimol 1995

Propofol K. pneumoniae ICS 4 Microbiol 1994

Propofol HCV Hepatite 5 Epi, bimol 2001

Solução salina HCV Hepatite 17 Epi, bimol 2003

Solução salina A. xylosoxidans 7 Microbiol 2000

Solução salina HCV Hepatite 2 Bimol 2002

Solução salina e anestésico

S. aureus ICS, abscesso

7 Bimol 2000

Solução salina HBV Hepatite 30 Bimol 2000

Epoetina alfa S. liquefaciens ICS 15 Bimol 2001

Vacina DT Estreptococos

do grupo A

Abscesso 2 Microbiol 1985

Vacina DPT Estreptococos

do grupo A

Abscesso 9 Microbiol 1993

Heparina B. cepacia ICS 14 Epi, bimol 1993

Heparina Plasmodium

falciparum

Malária 1 Epi 2000

Heparina e Solução salina

(54)

Tabela 5 (continuação). Surtos causados por utilização de frascos de múltiplo uso publicados no período de 1983 a 2002

Medicação Patógeno Infecção Pacientes Óbito Evidência de relação Ano

Dextrose E. cloacae e

P. aeruginosa

ICS 6 2 Epi, bimol 1998

NPT C. albicans ICS 8 3 Bimol 2000

Anestésico HBV Hepatite 2 Epi, bimol 1999

Água destilada P. picketti ICS 7 Microbiol 1991

Bupivacaína HBV Hepatite 10 Epi, sorotip 1983

Metil-prednisona

S. marcescens Artrite 10 Microbiol 1987

Iomeprol P. aeruginosa Meningite 5 2 Bimol 2001

Não

especificada

HIV SIDA 1 Epi, bimol 1999

Não

especificada

HCV Hepatite 11 Epi, bimol 2002

NPT: nutrição parenteral total; DT: vacina dupla - difteria e tétano; DPT: vacina tripla - difteria, pertussis e tétano; HCV: vírus da hepatite C; HBV: vírus da hepatite B; HIV: vírus da imunodeficiência humana; Epi: estudo epidemiológico; Bimol: biologia molecular.

Fonte: Mattner e Gastmeier40

Embora o papel do profissional de saúde esteja bem estabelecido na

transmissão cruzada35, é menos usual atuando como fonte comum. Há

poucos registros na literatura de surtos cujas fontes comuns identificadas

foram o profissional de saúde21,41,39,42,44,45. Neste contexto, o profissional

persistentemente colonizado atua como reservatório dentro da unidade

(55)

Esta forma de transmissão nosocomial de patógenos é bem conhecida,

sendo mesmo um dos motivos pelos quais foram criadas, nos Estados Unidos,

as comissões de controle de infecção hospitalar50. Na década de 50, as

infecções estafilocócicas eram um grande problema entre os hospitais

americanos e o reconhecimento de que profissionais de saúde portadores

nasais de Staphylococcus aureus tinham importância na cadeia de transmissão

ficou bem estabelecido na ocasião51. Profissionais de saúde podem

permanecer períodos prolongados com suas narinas anteriores colonizadas por

Staphylococcus aureus. A partir desse sítio, pode haver colonização secundária

para outras áreas como mãos e região inguinal e assim perpetuando a

transmissão via mãos do profissional ao paciente. Outra forma de transmissão

desse agente, objeto de debate51, é a possibilidade de disseminação por via

aérea a partir de profissionais de saúde com narina colonizada durante o curso

de uma infecção viral das vias aéreas superiores. Essa interação vírus-bactéria

levaria a um fenômeno que ficou conhecido como “cloud effect”. O termo surgiu

na década de 60 quando se observou que em unidades neonatais, bebês

colonizados por Staphylococcus aureus tinham a capacidade de dispersar o

agente no ar durante infecção viral, esses bebês ficaram conhecidos como

“cloudy babies”52. Após infecção por Rhinovirus induzida em um médico com

narinas colonizadas por Staphylococcus aureus foi observada a dispersão

aérea da bactéria numa distância de até 6 m, o que ficou conhecido como

“cloud adult”53. Há descrição de surto de mediastinite após cirurgia cardíaca

cuja fonte foi cirurgião com dermatite em mão colonizada por Staphylococcus

(56)

mãos atuando como reservatório em um surto de síndrome da pele escaldada

em unidade de terapia intensiva neonatal21.

Staphylococcus coagulase negativos são colonizantes naturais da

pele e anexos, sendo a bactéria mais prevalente da flora residente. Mesmo

após higienização adequada das mãos, a população bacteriana rapidamente

se recompõe a partir de organismos localizados nos folículos pilosos e que,

portanto, não são removidos durante o procedimento. Um estudo encontrou,

em uma UTI neonatal, relação genética entre Staphylococcus epidermidis

causadores de infecção em neonatos e aqueles cultivados a partir de mãos

da equipe de enfermagem, demonstrando que a colonização de mãos de

profissionais de saúde é um fator importante na cadeia de transmissão54.

Mãos de cirurgião como reservatório de Staphylococcus epidermidis já foram

implicadas em surtos de infecção de sítio cirúrgico55,56.

Embora após a introdução da antibioticoterapia as infecções

nosocomiais causadas pelo gênero Streptococcus tenham diminuído

sobremaneira, e a sua contribuição como causador deste tipo de infecção

segundo relatos do NNISS (National Nosocomial Information Surveillance

System) no período de 1986-89 tenha sido de menos de 2%, estes

organismos podem estar envolvidos em surtos. Há na literatura várias

descrições de surtos de infecção de sítio cirúrgico causadas por Streptococci

β-hemolíticos do grupo A a partir da colonização de um profissional de

saúde57. Na maioria das vezes, o profissional envolvido apresentava

colonização anal e há também descrições de colonização vaginal. Estes

(57)

pele íntegra, foram encontrados em lesões de pele de profissionais de saúde

durante investigação de surto57. Um paciente desenvolveu bacteremia

relacionada a um cateter inserido por um médico que tinha em suas mãos

ferida colonizada pelo mesmo agente57. A investigação de um surto de 20

infecções de sítio cirúrgico identificou um técnico da sala de cirurgia que

tinha um agente idêntico em lesões psoriáticas de couro cabeludo58. Há

ainda relato de surto de infecção de sítio cirúrgico causado por

Streptococcus do grupo C, resolvido após descolonizações anal e retal de

um cirurgião envolvido59.

A colonização persistente de mãos de profissionais com lesão de pele

foi responsável pela ocorrência de pseudo-surtos. Um profissional de bancada

de microbiologia clínica apresentando celulite de mãos contaminou diversas

placas de cultura desencadeando pseudo-surto de Staphylococcus aureus e

Streptococcus pyogenes60. Durante a investigação de um surto, foi

identificada uma funcionária do serviço de coleta de sangue que não utilizava

luvas durante o procedimento e que apresentava eczema em mãos. Culturas

obtidas das áreas de lesão de pele e unhas identificou o agente relacionado

ao surto. A contaminação ocorria durante a coleta de hemoculturas61.

O trato gastrointestinal (TGI) de pacientes é o principal reservatório de

Enterococcus sp. no ambiente hospitalar. Embora profissionais de saúde

possam ter seu TGI colonizado, não se sabe qual é o significado desta

condição na cadeia de transmissão. Há, na literatura, relato de surto em que

uma enfermeira foi identificada como sendo cronicamente colonizada em seu

Referências

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