DENSIDADE DOS MOVIMENTOS OCULARES RÁPIDOS
DURANTE O SONO ATIVO EM RECÉM-NASCIDOS
PRÉ-TERMO
RUBENS REIMAO * HELIO LEMMI **
JAMES HAMLETT III*** CRAIG SANDER*** ROGER VANDER ZWAAG ****
Na avaliação polissonográfica de adultos, a densidade dos movimentos
oculares rápidos que ocorrem durante o sono REM, ou densidade REM, é tida
como um índice confiável do grau de atividade fásica desse estágio
3 , 1 2. Sua
medida consiste da determinação dos movimentos oculares rápidos por unidade
de tempo. Dada a inexistência de índices representativos do período neonatal
na literatura, objetivamos verificar nesta pesquisa o processo de maturação da
densidade REM nessa faixa etária, focalizando principalmente os recém-nascidos
pré-termo.
C A S U Í S T I C A E M E T O D O L O G I A
Avaliamos 28 recém-nascidos (20) meninos; 18 meninas) de 34 a 39 semanas de
idade concepcional (IC). A monitorização polissonográfica padronizada, compreendendo
5 horas de sono. foi realizada entre u m a e duas s e m a n a s de vida. E s t a s crianças não
apresentavam alterações neurológicas evidentes e tinham traçado polissonográfico normal.
Os pacientes foram divididos em 3 grupos etários: 34-35, 36-37 e 38-39 s e m a n a s IC, que
contavam respectivamente com 10, 9 e 9 crianças.
A monitorização incluía eletrencefalograma, eletrooculograma, eletrocardiograma,
pneumograma para avaliação da expansibilidade toráxica, termistor nasal para detecção
de f l u x o aéreo e medida transcutanea contínua d e saturação d e o x i g ê n i o ( t c P 0 2 ) . A
colocação de eletrodos para eletrooculograma s e g u i u o s padrões d e Rechtschaffen e
col. (17). T o d o s os traçados foram feitos em sala com atenuação de sons e temperatura
mantida em torno d e 23°C. A monitorização foi sempre iniciada após a primeira mamada,
às 8:00 h. Os traçados foram j u l g a d o s quanto a o s e s t á g i o s de sono pelos critérios de
Anders e col. (1). Utilizamos aqui estágio ativo como símbolo de sono REM no t a n g e n t e
ao período neonatal. P a r a cada paciente, a densidade REM foi medida de duas formas
d i s t i n t a s : a — Densidade REM considerada como a relação percentual entre duração
dos movimentos oculares rápidos e duração dos períodos REM ( P R E M ) . b — Densidade
REM como percentagem d o s s e g m e n t o s de 10 s dos P R E M nos quais ocorriam
movi-m e n t o s oculares rápidos. P a r a amovi-mbos os critérios, a densidade REM foi avaliada emovi-m
relação ao primeiro e s e g u n d o P R E M a s s i m como ao total dos P R E M e as diferenças
julgadas pelo teste estatístico de análise de variância.
Com o objetivo de detalhar o sono R E M em estudo, também avaliamos a evolução
da duração dos P R E M , da duração dos ciclos REM e da duração dos P R E M como
percentagem do tempo total de sono.
R E S U L T A D O S
A densidade R E M vista pelo critério a se revelou maior no primeiro P R E M do
que no s e g u n d o ou no total dos P R E M , em todas as f a i x a s etárias (Tabela 1). As
crianças de 36-37 semanas IC apresentavam índices maiores do que as demais. O estudo
baseado n o critério b mostrou valores m a i s elevados n o primeiro P R E M do que no
segundo ou no total de P R E M , em t o d a s as faixas etárias (Tabela 2). N o grupo 36-37
semanas IC os índices foram maiores porém só n o segundo P R E M atingiu diferença
estatisticamente significante. D e s s a forma, os critérios a e b revelaram as m e s m a s
tendências e evidenciaram sua faixa estreita de variação. A duração do primeiro P R E M
PREM, período REM; IC, idade concepcional; NS, não significante.
COMENTARIOS
Os dados homogêneos que obtivemos utilizando dois critérios distintos
atestam a reprodutibilidade da quantificação da densidade REM nesta faixa
etária, a exemplo do que é visto em adultos. Na literatura, a densidade REM
é medida por critérios vários mas consistentemente reprodutíveis em controles
normais
3,8,11,12,14,15.King e col.
1 4, utilizando medida idêntica ao critério a
apresentado aqui, obtiveram valor médio de densidade REM 18,0 ± 6,6 em
adultos controles. Desta forma, os valores que observamos encontram-se
pró-ximos aos desses adultos normais. A densidade REM tem sido também
inves-tigada extensivamente em condições patológicas, como na apnéia do s o n o
1 2,
depressão io, várias patologias clínicas
1 4, e com o uso de drogas hipnóticas
7 , n , i 3 , i 6)sedativos
7 , ne aminoácidos
18.Verificamos maiores índices de densidade REM no primeiro PREM do que
nos demais. Tal achado difere do relatado por Aserinsky
3>4
>5
em adultos
nor-mais, com menores níveis no início da noite e atingindo um máximo estável
ao redor de 7:30 a 10 h de sono. Benoit e col.
8Em adultos, estudos de privação de sono REM indicam que a densidade
REM é uma variável independente das medidas tônicas desse estágio
2- 3 . Após
privação por uma ou mais noites se observa rebote com aumento da
percen-tagem de tempo dispendido em sono REM. sem contudo se modificar sua
den-sidade. Antonioni e col.
2apontam a estabilidade desse índice e sugerem sua
independência em relação a outros parâmetros do sono REM. Zimmerman e
col.
1 9, realizando experimentos de isolamento do ambiente observaram que a
densidade REM continua a ciclar da mesma forma que nos períodos-controle
com condições usuais de 24 h. Por outro lado, nas condições experimentais,
passa a ocorrer maior duração dos primeiros PREM e acúmulo mais rápido de
sono REM, sugerindo dissociação entre densidade e sincronização do sono REM,
levando a supor que tal índice fásico seja governado por oscilador endógeno
próprio.
Nas faixas etárias que estudamos, o primeiro PREM era menor que o
segundo, embora a duração do ciclo REM fosse constante. Tal padrão clássico
é observado há mais de duas décadas na polissonografia de a d u l t o s
9e aqui
indicamos a existência dessa tendência em fase ontogenética precoce. Todavia,
a duração do ciclo REM é mais prolongada nos adultos (90-120 min) do que
nos recém-nascidos aqui avaliados (63,1 - 83,0 min). O encontro de PREM
tomando ao redor de dois terços do tempo total de sono, visto em nossa
casuística, aponta o decréscimo acentuado que deverá ocorrer até alcançar
níveis normais de 20-25% na idade adulta.
Nossos achados estabelecem padrões de densidade REM em recém-nascidos
pré-termo sem afecções neurológicas. Sugerem também que, embora a duração
do sono REM se reduza acentuadamente até a idade adulta, a sua densidade
fásica permanece marcadamente constante.
RESUMO
SUMMARY
Rapid eye movement density in preterm infanfs active sleep.
Rapid eye movement (REM) density has been helpful as a reliable index
of phasic eye movements activity during REM (active) sleep in adults. We
eva-luated this index in 28 newborns, at 34 to 39 weeks of conceptional age (CA).
The 5 hours Polysomnographie recording during sleep included
electroence-phalogram, electrooculogram, electrocardiogram, pneumogram, nasal thermistor
for detecting airflow, and continuous oxygen saturation (tcP02) monitoring.
REM density was measured by two distinct criteria: a — REM density as the
duration of phasic eye movements in relation to REM periods (REMP). Such
index varied from 10.6 to 14.1% and was higher in the 36-37 weeks CA group.
b — REM density was calculated as a percentage of 10-second epochs of REM
sleep in which phasic eye movements occurred. This criterion confirmed the
narrow range of such index in this age bracket (39.9-44.6%), was higher in the
first REMP and in the 36-37 weeks CA group. Our data suggest that REM
density is a consistent phasic REM sleep feature in preterm newborns with levels
close to the adult population, inspite of the gradual decrease of REM sleep
duration with age. Higher indices were also found in the first REMP and in
the 36-37 weeks CA grou by both methods.
R E F E R Ê N C I A S
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Sleep Disorders Center, Department of Neurodiagnostics, Baptist Memorial Hospital —