FÍSICA
Área temática: Gestão Econômica e FinanceiraLuiz Fernando Lopes
lopesfer@ig.com.br
Andréia Cristina Sarti Leme andreiaangelgirl@hotmail.com Alexandre Leme Sanches
alex_sanches68@hotmail.com
Resumo: Este estudo visa entender a relação da inadimplência com o spread bancário de créditos livres para pessoas físicas no Brasil e verificar quais fatores tem maior contribuição para as elevadas taxas de juros cobradas pelos bancos quando se trata de empréstimos bancários para pessoas físicas. O trabalho se deu pela aplicação de um modelo econométrico, tendo como principal fonte, os dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil. A análise dos dados feitas por meio da correlação e regressão linear múltipla não indicou uma forte correlação entre o spread bancário de créditos livres e a inadimplência, mas indicou outros determinantes mais relevantes para as altas taxas praticadas.
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1. INTRODUÇÃO
As linhas de créditos no Brasil são onerosas demais para a pessoa física, pois os juros cobrados pelas instituições financeiras por empréstimos concedidos a pessoas físicas ultrapassam cerca de dez vezes o valor que essas mesmas instituições pagam aos seus poupadores.
Segundo a FEBRABAN (2009, Apud Fernandes; Sousa, 2010), o principal motivo das altas taxas de juros cobrados no sistema bancário brasileiro é a alta taxa de inadimplência. Diante dessa afirmação, buscou-se investigar a composição do spread bancário brasileiro de créditos livres para pessoas físicas, para verificar se a inadimplência realmente tem grande influência nas altas taxas de juros cobradas pelos bancos brasileiros na concessão desse tipo de crédito.
O Brasil é um país com um dos maiores spreads bancários do mundo e, a nível mundial, a inadimplência aqui encontrada não se difere muito das taxas de inadimplência encontradas em outros países.
O objetivo desse trabalho é analisar os componentes do spread bancário brasileiro referente a créditos livres para pessoas físicas entre os anos de 2010 a 2014 e verificar a importância do fator inadimplência nesse contexto, considerando variáveis como taxa Selic, IPCA, taxa de desemprego, saldo de empréstimos totais e prazo médio de empréstimos de pessoas físicas que podem impactar diretamente no spread bancário de créditos livres.
A relevância consiste em demonstrar por meio da correlação e da regressão linear múltipla, quais variáveis tem maior influência nas altas taxas de juros cobradas pelos bancos quando se trata de empréstimos de créditos livres a pessoas físicas.
A metodologia do trabalho se deu pela aplicação de um modelo econométrico, baseando-se em dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil (BCB).
REFERENCIAL TEÓRICO
Spread bancário é simplesmente a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA). O valor do
spread varia de acordo com cada operação, dependendo dos riscos envolvidos e, normalmente, é mais
alto para pessoas físicas do que para empresas. O Brasil é famoso por ter um dos maiores spreads bancário do mundo (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA).
Do volume de crédito disponível na economia brasileira, mais de 50% do total é destinado ao crédito livre. O Gráfico 1 mostra a composição do crédito no Brasil e sua distribuição.
3 Gráfico 1- Composição do Crédito
Fonte: Banco Central do Brasil
No Gráfico 2, pôde-se observar a variação do spread bancário tomando como base as operações de crédito livre no período de março de 2011 a março de 2014. Existe uma diferença substancial entre o tomador de crédito pessoa física e pessoa jurídica. Para pessoa física o spread bancário foi equivalente a mais da metade do spread bancário cobrado nas operações com pessoas jurídicas, no mês de março de 2014.
Gráfico 2- Spread Bancário – Operações de Crédito Livres
Fonte: Banco Central do Brasil
Uma das justificativas para a diferença acentuada entre o spread para pessoa física e pessoa jurídica é que a taxa de inadimplência é bem mais alta quando se trata de pessoa física. Ainda para justificar o elevado spread brasileiro, há o custo de oportunidade nas épocas de elevação dastaxas da Selic, pois nessas condições é mais atrativo para os bancos, adquirirem títulos do governo, que são de baixíssimo risco, ou seja, possuem retorno garantido, do que deixar uma quantidade maior de crédito à disposição do tomador de empréstimo.
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Os bancos embutem um prêmio de risco suplementar nas margens cobradas para a concessão de empréstimos, além de aumentarem o grau de exigências junto aos mutuários, seja sob a forma de colaterais, seja de prazo de pagamento, já que terão como base de retorno obtido a partir da aquisição de papéis do governo, ativos de risco quase nulo e liquidez e remuneração elevadas. (OLIVEIRA e CARVALHO, 2006, p.2)
Segundo Costa e Nakane (2004), somente a partir de 1999 o Banco Central do Brasil passou a se preocupar com os fatores do spread bancário brasileiro, isso se deu pela necessidade de identificar e entender a composição do spread e principalmente reduzir as altas taxas de juros, que fazem com que o crédito seja tão caro até nos dias atuais, prejudicando em muito a expansão do crédito na economia brasileira.
Os relatórios de economia bancária e créditos, publicados anualmente pelo Banco Central do Brasil trazem diversas análises à disposição da população para entender quais são os determinantes do spread bancário brasileiro.
“O spread bancário é analisado como uma composição de fatores de custo e de margem: custos da contribuição para o sistema de seguro depósito, custo das reservas obrigatórias, custos administrativos, perdas por inadimplência E custos tributários.” (COSTA; NAKANE, 2004, p.9).
Baseados nos dados demonstrados na tabela 1 construiu-se o gráfico 3 para melhor visualização dos componentes do spread bancário dos dados consolidados no período de 2009 a 2013.
Tabela 1 - Decomposição do spread bancário com dados consolidados (%)
2009 2010 2011 2012 2013
1 - Spread Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2 - Inadimplência 33,50 24,40 21,27 33,60 28,50
3 – Compulsório + Subsídio + Encargos Fiscais e FGC 12,71 11,68 9,06 9,25 6,80 4 - Margens brutas, Erros e Omissões (1-2-3) 53,78 63,92 69,67 57,15 64,70
5 - Impostos Diretos 21,51 25,57 27,87 22,86 25,90
6 - Margens Líquidas, Erros e Omissões (4-5) 32,27 38,35 41,80 34,29 38,80 Fonte: adaptado do Banco Central do Brasil.
Observa- se que, quando a margem líquida, os impostos diretos e a margem bruta aumentam a taxa de recolhimento compulsório e a inadimplência diminuem.
5 Fonte: autoria própria, dados do Banco Central do Brasil.
Para melhor compreensão dos componentes da decomposição do spread, segue o que cada componente significa dentro do spread bancário de créditos livres para pessoa física.
Recolhimento Compulsório:
Os recolhimentos compulsórios representam o percentual incidente sobre os depósitos captados pelos bancos que devem ser colocados à disposição do Banco Central. É um instrumento de controle monetário bastante eficiente, já que atua diretamente sobre os meios de pagamento através do multiplicador bancário. (NETO, 2012, p.21).
Quanto maior o depósito compulsório exigido pelo Banco Central, menor o valor de crédito disponível para os tomadores de empréstimos, pois esses recolhimentos geram um custo de oportunidade para os bancos, deixando de gerar receitas provenientes dos juros que seriam cobrados por esse valor que seria disponibilizado para empréstimos. Dessa forma, o Banco Central controla a expansão ou a retração da atividade econômica no país.
A inadimplência, que é o compositor do spread que está sendo estudado nesse trabalho a fim de explorar a sua significância sobre o spread bancário dos créditos livres, tem a ver com o risco de crédito.
“O risco é a possibilidade do tomador de empréstimo (pessoa física) se tornar incapaz de honrar a sua dívida e suas obrigações contratuais.” (LINARDI, 2008).
O índice de inadimplência considerado na equação do spread bancário desse trabalho representa a parcela de empréstimos concedidos pelos bancos com pendência de pagamento a mais de noventa dias.
6 Segundo Linardi (2008), quanto maior a taxa de inadimplência, maior será o risco a que as transações financeiras estão expostas.
Um aumento da inadimplência pode acarretar uma diminuição da atividade econômica em um país, desencadeada pela baixa oferta de crédito do sistema bancário, que em situação de risco elevado assume uma postura mais cautelosa nas transações creditícias, afinal, a inadimplência causa uma erosão da rentabilidade dos bancos. (TABAK et al, 2007).
Impostos diretos: inclui as despesas com Imposto de Renda (IR) e com a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Margem líquida:
Margem líquida: Por margem entenda-se a remuneração do capital do banco, que é determinada pelos ganhos gerados na atividade de intermediação, deduzidos os custos inerentes à sua prática. Por margem como componente do spread entenda-se a parcela do spread que é apropriada pelos bancos depois de deduzidos todos os custos gerados na concessão do empréstimo realizado — e recuperado. (COSTA; NAKANE, 2004).
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para essa pesquisa é a modelagem matemática com uma avaliação quantitativa e descritiva, visando esclarecer os índices que tem maior correlação com a alta taxa do
spread bancário de créditos livres para pessoas físicas no Brasil, através de dados de séries temporais
coletados e submetidos a testes estatísticos.
Foram utilizados dados oficiais do Banco Central do Brasil, incluindo os relatórios de economia bancária e crédito, divulgados anualmente pelo Banco Central e analisados uma série temporal de cinco anos.
O método utilizado para análise dos dados foi a regressão linear múltipla. Esse método foi aplicado para determinar os fatores macros e microeconômicos que possuem relevância na composição do
spread bancário de créditos livres para pessoas físicas no Brasil entre os anos de 2010 a 2014.
“Em alguns casos, a análise de regressão não é usada para determinar a causalidade, mas para simplesmente observar se duas variáveis são positiva ou negativamente relacionadas, de modo muito parecido com uma análise-padrão de correlação.” (WOOLDRIDGE, 2010, p.33).
7 Foram coletados dados mensais em séries temporais, disponível no site do Banco Central do Brasil, para que fosse possível executar o modelo econométrico aqui abordado, os dados foram:
Índice de inadimplência sobre operações de créditos livres para pessoas físicas;
Taxa Selic;
Taxa de inflação IPCA;
Taxa de desemprego;
Saldo de empréstimos totais;
Prazo médio de empréstimos de pessoas físicas;
Spread bancário de créditos livres para pessoas físicas.
A econometria é baseada no desenvolvimento de métodos estatísticos para estimar relações econômicas, testar teorias, avaliar e implementar políticas de governo e de negócios. A aplicação mais comum da econometria é a previsão de importantes variáveis macroeconômicas, tais como taxas de juros, taxas de inflação e produto interno bruto (PIB). (WOOLDRIDGE, 2010, p.1)
Como o objetivo é explorar quais os componentes que mais influenciam realmente o spread bancário de créditos livres para pessoas físicas no Brasil, foi realizada a correlação dos dados coletados no Banco Central do Brasil com períodos correspondentes e também foram realizados alguns testes com defasagens por meio da regressão múltipla, dos dados das variáveis independentes para se evitar problemas de endogeneidade.
Os testes com defasagens foram necessários para analisar o comportamento das variáveis, pois alguns dos componentes do spread possivelmente não são afetados no mês correspondente, mas sim alguns meses depois, como é o caso da inadimplência.
Por meio dos dados disponibilizados no Banco Central do Brasil, foi feita a estatística descritiva do período de 2010 a 2014 como demonstra a tabela 2 e em sequência o gráfico 4.
Tabela 2 – Estatística Descritiva.
Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Spread 34,38 3,55 27,36 40,10
Inadimplência 6,32 0,59 5,48 7,53
Selic 9,91 1,58 7,25 12,50
Taxa de Juros Médio 45,21 3,82 39,12 51,23
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Desemprego 5,69 0,82 4,30 7,60
IPCA 0,50 0,24 0,00 0,92
Prazo Médio PF 46,36 2,15 41,49 52,20
Fonte: Autoria própria com dados do Banco Central do Brasil
O gráfico 4 demonstra os índices dos componentes do spread bancário de crédito livre para pessoas físicas com base nos dados disponibilizados pelo Banco Central do Brasil, referente ao período de 2010 a 2014.
Gráfico 4 – Índices das variáveis independentes que influenciam o spread pessoa física.
Fonte: autoria própria com dados do Banco Central do Brasil
O gráfico 4 demonstra a variação dos índices que compõe o spread pessoa física no período de 2010 a 2014, objeto de estudo no presente trabalho. Pode-se visualizar o comportamento dos índices e a relação entre variáveis. O spread e a taxa de juros médio se correlacionam perfeitamente.
Foram realizados cálculos de correlação entre variáveis do spread mensalmente e foram obtidos os seguintes resultados verificados na tabela 3:
Tabela 3 - Correlação das variáveis do spread crédito livre em períodos correspondentes. Spread Inad. Tx. J. Méd. Selic Desemp. P. Méd. PF IPCA Ep.R. Liv.
9 Spread 1 Inad. -0,0582 1 Tx. J. Méd. 0,9317 -0,3108 1 Selic 0,3714 -0,6174 0,6545 1 Desemp. -0,4418 0,3769 -0,3495 -0,0213 1 P. Méd. PF 0,3294 -0,5804 0,3109 0,0925 -0,7769 1 IPCA -0,0716 -0,1115 -0,0487 -0,0289 -0,1667 0,0244 1 Ep. R. Liv. 0,4171 0,0832 0,1518 -0,4578 -0,7541 0,6158 -0,0014 1 Fonte: autoria própria
A correlação visa explicar o grau de relacionamento no comportamento de duas ou mais variáveis [...] Assim, a correlação entre duas variáveis indica a maneira como elas se movem em conjunto. A quantificação desse relacionamento é obtida estatisticamente por meio do coeficiente de correlação, que pode variar de +1 a -1. (NETO, pg. 122, 2012).
Quando o coeficiente de correlação for próximo ou igual a -1, pode-se dizer que as variáveis em estudo estão negativamente correlacionadas, ou seja, quando a variável y diminui, a variável x tende a aumentar e quando o coeficiente de correlação for próximo ou igual a +1, diz-se que as variáveis estão positivamente correlacionadas, ou seja, as variáveis y e x alteram-se paralelamente no mesmo sentido. E quando o índice for próximo ou igual a 0, não existe correlação entre as variáveis. (NETO, pg. 123, 2012).
Observa–se que com base nos dados mensais, sem influência da defasagem, a variável que mais apresentou correlação com o spread bancário de créditos livres foi a taxa de juros médios, com 0,9317, indicando uma alta correlação entre essas variáveis, enquanto o índice de inadimplência, apresentou -0,0582, indicando uma baixa correlação de forma negativa.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este estudo está voltado para analisar os componentes do spread bancário brasileiro referente a créditos livres para pessoas físicas e constatar qual fator tem mais influência na formação do spread bancário de créditos livres no período de 2010 a 2014. Para tanto, a análise dos dados foi realizada por meio da regressão linear múltipla.
10 Primeiramente foram realizados cálculos de correlação entre variáveis independentes que compõe o
spread pessoas físicas, onde foi possível visualizar quais os componentes se correlacionam entre si, e
quais as variáveis impactam diretamente o spread pessoas físicas.
Após esta primeira análise foi aplicada a regressão linear múltipla sem levar em consideração a defasagem de qualquer variável em relação ao spread, analisando as variáveis com períodos correspondentes, mês a mês, no período de 2010 a 2014.
Tabela 4 – Regressão múltipla linear sem defasagem.
Estatística de regressão R múltiplo 0,992 R-Quadrado 0,984 R-quadrado ajustado 0,982 Erro padrão 0,471 Observações 60
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P
Interseção -16,047 4,310 -3,723 0,000
Inadimplência (%) 1,354 0,216 6,277 0,000
Taxa de Juros Médio (%) 1,000 0,028 35,662 0,000
Selic (%) -0,452 0,087 -5,189 0,000
Desemprego (%) -0,506 0,131 -3,867 0,000
IPCA (%) -0,304 0,269 -1,131 0,263
Prazo Médio PF (%) 0,090 0,060 1,515 0,136
Fonte: Autoria Própria.
Devido ao valor –P do IPCA e do prazo médio PF ter sido maior que 5, que é o nível de confiança estipulado para a análise, foi feita uma nova regressão linear múltipla, eliminando as variáveis supracitadas.
Tabela 6 – Regressão múltipla sem IPCA e prazo médio de empréstimos para pessoa física.
11 R múltiplo 0,9913 R-Quadrado 0,9828 R-quadrado ajustado 0,9815 Erro padrão 0,4831 Observações 60
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P
Interseção -10,4230 1,3344 -7,8108 0,0000
Inadimplência (%) 1,1606 0,1717 6,7578 0,0000
Taxa de Juros Médio (%) 1,0162 0,0273 37,2053 0,0000
Selic (%) -0,5110 0,0804 -6,3599 0,0000
Desemprego (%) -0,5992 0,1078 -5,5574 0,0000
Fonte; Autoria Própria.
Analisando os resultados encontrados, o R múltiplo de 99,1%, demonstra uma correlação entre as variáveis independentes e a variável dependente.
O R- Quadrado de 98,3%, é um poder de explicação do modelo de regressão para a variabilidade do
spread.
O R- Quadrado ajustado de 98,2% é semelhante com o R-quadrado, porém ajustado ao número de variáveis independentes.
Erro padrão de 48,3% é o desvio padrão do modelo, dado pela raiz quadrada da variância. Finalizando esta etapa de cálculos em períodos correspondentes obtive-se a seguinte equação:
Equação 1:
Spread = 1,16 * inad + 1,02 * tx Juros - 0,51 * selic - 0,60 * desemp - 10,42
Em continuidade aos estudos, foi considerado uma possível variação nos cálculos por defasagem da variável inadimplência, após observar seu comportamento em dados consolidados como no Gráfico 3 – Decomposição anual do spread bancário brasileiro, onde há variação significativa no percentual do período em relação ao período subsequente.
12 Foram realizadas análises empíricas por meio de testes estatísticos com períodos de defasagem para a variável inadimplência, pois os dados até o momento nos leva a aceitar que possivelmente a variável inadimplência não afeta o spread do mesmo período e sim no período subsequente.
Inicialmente foram calculados os índices com defasagem de um mês, prosseguindo com dois, três, quatro, oito meses e finalizando com o período de um ano. Foram verificados os índices de correlação entre as variáveis pela aplicação da regressão múltipla. Os testes demonstraram um erro padrão elevados e variáveis com valores fora do intervalo de segurança.
Os índices com defasagem se mostraram correlacionados, porém a regressão com defasagem da variável inadimplência de um, dois e três meses apresentaram um índice fora do intervalo de segurança, portanto, esses cálculos foram desconsiderados, pois a variável foco do estudo, a inadimplência, não constaria na regressão desses períodos.
Foi dada continuidade nos testes com o período de defasagem de quatro, oito meses e um ano, como demonstram as tabelas 6, 7 e 8.
Tabela 6 - Regressão múltipla com defasagem da inadimplência em 4 meses.
Estatística de regressão R múltiplo 0,9909 R-Quadrado 0,9818 R-quadrado ajustado 0,9794 Erro padrão 0,5103 Observações 60
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P
Interseção -36,0394 8,3134 -4,3351 0,0001
Inadimplência (%) 0,0307 0,0114 2,6879 0,0096
Taxa de Juros Médio (%) 0,9137 0,0450 20,2856 0,0000
Selic (%) -0,1973 0,1467 -1,3444 0,1847
Desemprego (%) 0,4026 0,2272 1,7718 0,0823
IPCA (%) 0,0666 0,3224 0,2064 0,8373
Prazo Médio PF (%) -0,3247 0,0674 -4,8182 0,0000
Emp. Recursos Livres (%) 2,8941 0,5718 5,0616 0,0000
13 O nível de confiança utilizado para as regressões múltiplas é de 95%, com nível de significância de 5%. Considerando esses critérios, o valor-P da taxa de IPCA ficou acima do intervalo com 0,8373, portanto, essa variável foi desconsiderada para a próxima regressão múltipla.
Tabela 8 - Regressão múltipla com defasagem da inadimplência em 8 meses
Estatística de regressão R múltiplo 0,9904 R-Quadrado 0,9810 R-quadrado ajustado 0,9792 Erro padrão 0,5123 Observações 60
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P
Interseção -43,7418 4,6977 -9,3114 0,0000
Inadimplência (%) 0,0388 0,0088 4,4222 0,0000
Taxa de Juros Médio (%) 0,8581 0,0199 43,1076 0,0000
Desemprego (%) 0,5523 0,1631 3,3872 0,0013
Prazo Médio PF (%) -0,3785 0,0553 -6,8412 0,0000
Emp. Recursos Livres (%) 3,5498 0,2209 16,0734 0,0000
Fonte: Autoria Própria
A regressão múltipla do fator inadimplência tanto com 8 meses quanto com 12 meses de defasagem, obtiveram os mesmos resultados.
Tabela 9 – Regressão múltipla com defasagem da inadimplência em 12 meses.
Estatística de regressão
R múltiplo 0,9904
R-Quadrado 0,9810
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Erro padrão 0,5123
Observações 60
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P
Interseção -43,7418 4,6977 -9,3114 0,0000
Inadimplência (%) 0,0388 0,0088 4,4222 0,0000
Taxa de Juros Médio (%) 0,8581 0,0199 43,1076 0,0000
Desemprego (%) 0,5523 0,1631 3,3872 0,0013
Prazo Médio PF (%) -0,3785 0,0553 -6,8412 0,0000
Emp. Recursos Livres (%) 3,5498 0,2209 16,0734 0,0000
Fonte: Autoria Própria
Os cálculos de regressão múltipla com defasagem da variável inadimplência apresentaram correlação entre a inadimplência e o spread bancário de créditos livres para pessoa física, porém o erro padrão elevou-se com a defasagem, alterando de 0,4831 inicial para 0,5103 com 4 meses de defasagem e
15 CONCLUSÃO
Correlacionando os dados mensalmente, obtiveram-se resultados não conclusivos, pois os índices de inadimplência refletem perdas de empréstimos concedidos no passado, portanto possuem um caráter histórico e suas taxas provavelmente influenciarão nos spreads futuros.
Após a aplicação da correlação linear e da regressão linear múltipla, pode-se dizer que a inadimplência, ao contrário de diversas afirmações, não é o componente com maior influência e que mais justifica as elevadas taxas do spread bancário de crédito livre para pessoa física no Brasil.
Os cálculos demonstraram que os índices que mais influenciam o spread bancário de créditos livres para pessoas físicas são a taxa de juros médio seguido da taxa Selic.
Desconsiderou-se o cálculo da regressão múltipla com a defasagem da variável inadimplência com um, dois e três meses, em razão da variável inadimplência ser considerada na equação do spread bancário desse trabalho como sendo as parcelas de empréstimos concedidos pelos bancos com pendência de pagamento a mais de noventa dias e, ter apresentado índices fora do intervalo de confiança, o qual, deixaria de ser foco de estudo.
A regressão linear múltipla considerando quatro, oito e doze meses de defasagem da variável inadimplência apresentou correlação entre as variáveis dependentes e o spread bancário de créditos livres para pessoas físicas, porém, com um erro padrão mais elevado, dando destaque para o cálculo com defasagem de um ano, onde o spread e inadimplência apresentaram o maior índice de correlação, porém de forma negativa.
Os testes realizados com períodos de defasagens não foram conclusivos, não sendo possível afirmar quanto tempo as taxas de inadimplência levam para influenciar o spread bancário de créditos livres para pessoas físicas no Brasil.
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REFERÊNCIAS
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BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Economia Bancaria e Credito 2013: Departamento de Estudos e Pesquisas: Brasília/DF, 2014. 117p.
COSTA, Ana Carla Abrão; NAKANE, Márcio Issao. “A Decomposição do Spread Bancário no Brasil”. In: Seminário de Economia Bancária e Crédito, 2004, São Paulo. Anais do Seminário de Economia Bancária e Crédito. Brasília: Banco Central do Brasil, 2004.
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