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Políticas públicas para a terceira idade: uma avaliação do Programa Idoso Cidadão da Prefeitura Municipal de Mossoró/RN

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Academic year: 2017

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DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MESTRADO

Magnólia Maria da Rocha Melo

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A TERCEIRA IDADE: UMA

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA IDOSO CIDADÃO DA

PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ/RN

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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A TERCEIRA IDADE: UMA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA IDOSO CIDADÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ/RN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande – UFRN, como exigência para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social, sob a orientação do Prof. Dr. João Bosco Araújo Costa.

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Ao Senhor Jesus, razão de toda a minha existência, que esteve ao meu lado em todo meu caminhar. “Mas tu, Senhor, és um Deus compassivo e benigno, longânimo, e abundante em graça e em fidelidade” (Salmos 86:15).

Aos meus pais, pelo incentivo e pelo apoio para a concretização deste trabalho. “ Pois Deus ordenou: honra a teu pai e a tua mãe; e, quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, certamente, morrerá” (Mateus 15:4).

A Rosineide e a Luiz, que muito mais do que minha família, foram amigos e incentivadores. Sem vocês eu não teria conseguido chegar até aqui. “ Levanta-te, resplandece, porque é chegada a tua luz, e é nascida sobre ti a glória do Senhor’ (Isaias 60:1).

A Lígia e a Chaguinha, que não foram somente colegas ou amigos, mas irmãos que compartilharam comigo todos os momentos dessa jornada. “ E chegando nós a Jerusalém, os irmãos nos receberam alegremente” (Atos 21:17).

Ao meu orientador João Bosco, pela ajuda nos momentos de dificuldades, mas, sobretudo, por acreditar em mim. “Instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens na lei a forma da ciência e da verdade” (Romanos 2:20).

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Nos últimos anos, o tema velhice tem despertado mais a atenção de diversos setores da sociedade. O resultado disso é o aumento de reportagens, artigos, monografias, dissertações e teses sobre ele.O Brasil está caminhando para se tornar a sexta população de idosos no mundo, fruto do grande avanço tecnológico, intensificado na segunda metade do século XX, facilitando as conquistas da medicina, da saúde e da genética. Vale salientar que essa problemática está inserida em um contexto social, político e econômico específico, que é o da resignificação do poder local. É nessa conjuntura que situamos o presente trabalho, que é um estudo sobre a avaliação de políticas públicas. Nesse sentido, procuramos analisar a efetividade do Programa Idoso Cidadão, da Prefeitura Municipal de Mossoró. O quadro de referência teórico-metodológico situa-se na revisão da literatura sobre terceira idade, poder local e avaliação de políticas públicas, observação assistemática; e entrevista semi-estruturada com os gestores, os profissionais envolvidos e particularmente com os usuários do Programa, tendo como meta averiguar como esses agentes percebem a implementação e os resultados do Programa. Com este tratamento conceitual foi possível apreender as condições em que se deu o estudo sobre a efetividade do referido programa para o processo de inclusão dos idosos na sociedade. O Programa Idoso Cidadão é, sem dúvida, um avanço no trabalho com os idosos e na inclusão destes na sociedade. É um espaço para a construção da cidadania, embora apresente muitas limitações, principalmente na área física e no quadro profissional. Constatou-se que, de modo geral, o Programa atende às necessidades básicas de sua clientela. Portanto podemos dizer que a avaliação da efetividade dessa política de atendimento ao idoso se mostrou eficaz, uma vez que podemos perceber o quanto o programa é importante para a vida de seus usuários, promovendo a elevação de sua auto-estima e de sua aceitação como categoria social.

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In the last few years, the subject of aging has been getting the attention of several sections of the society more and more. The result of that is the increase of reports, articles, monographs, dissertations and thesis on that matter. Brazil is about to become the sixth place of seniors’ population in the world, result of the great technological progress, intensified in the second half of the 20th century, helping the advances in medicine, health and genetics. It is valid to point out that such matter is inserted in a specific social, political and economical context, which is the re-signification of the local power. It is in that picture that this work is presented, being it a study about the evaluation of public politics. In that sense, we tried to analyze the effectiveness of the Programa Idoso Cidadão (Senior Citizen Program), of the Municipal City hall of Mossoró. The theoretical-methodological reference of this work lies in the revision of the literature about 3rd age, local power and evaluation of public politics, non systematic observation; and semi-structured interviews with the managers, the involved professionals and especially with the users of the Program, having as main goal finding out how those agents notice the implementation as well as the results of the Program. With this conceptual treatment it was possible to understand the conditions of the study about the effectiveness of the referred program towards the process of the seniors’ inclusion in the society. The Senior Citizen Program is, without a doubt, a progress in the work with the seniors as well as in their inclusion in the society. It is a space for the construction of the citizenship, although it holds a lot of limitations, mainly in the facilities field and in the professional staff. It was verified that, in general, the Program assists to the basic needs of its clientele. Therefore we can say that the evaluation of the effectiveness of such assistance politics to the senior was seen as effective, once we can notice how important it is for its users' life, promoting the increase of their self-esteem and of their acceptance as social category.

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Foto 01 – Mossoró atualmente...59

Foto 02 – Salina em Areia Branca...62

Foto 03 – Campo do Amaro...63

Foto 04 – Pólo Fruticultor Mossoró-Açu...67

Foto 05 – UERN ...70

Foto 06 – ESAM...70

Foto 07 – Mater Christi...71

Foto 08 – UNP ...71

Foto 09 – CEFET ...72

Foto 10 – Centro de Apoio do Carnaubal...84

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Tabela 01 – Expectativa Média de

Vida...30

Tabela 02 – IBGE/ Censo

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COEX – Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral

ESAM – Escola Superior de Agricultura de Mossoró ICMS – Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

JUCERN – Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte PIB – Produto Interno Bruto

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SESC – Serviço Social do Comércio

SINDVAREJO – Sindicato do Comércio Varejista

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INTRODUÇÃO...13

I CAPÍTULO: SOCIEDADE, ESTADO E IDOSO...20

1.1 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO IDOSO...21

1.2 – ENVELHECER NA SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA...29

1.3 – A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO DO ESTADO BRASILEIRO...37

II – CAPÍTULO: PODER LOCAL, POLÍTICAS PÚBLICAS E IDOSO...45

2.1 – O PODER LOCAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO...46

2.2 – O PODER LOCAL E A POLÍTICA SOCIAL PARA O IDOSO...52

2.3 – A AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O IDOSO...55

III – CAPÍTULO: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA IDOSO CIDADÃO, DA PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ/RN...59

3.1 – AS CARACTERÍSTICAS SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS DA CIDADE DE MOSSORÓ...59

3.2 – O ENVELHECIMENTO NA PERCEPÇÃO DO IDOSO EM MOSSORÓ...74

3.3 – A AVALIAÇÃO DO PROGRAMA IDOSO CIDADÃO... 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS...88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...91

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ampare-me...

Se minha audição não é boa e tenho de me esforçar para ouvir o que você está dizendo, procure entender-me... Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento é escasso, ajude-me com paciência...

Se minhas mãos tremem e derrubam comida na mesa ou no chão, por favor, não se irrite, tentei fazer o melhor que pude...

Se você me encontrar na rua, não faça de conta que não me viu, pare para conversar sinto-me tão só...

Se você na sua sensibilidade me vê triste e só, simplesmente partilhe um sorriso e seja solidário...

Se lhe contei pela terceira vez a mesma "história" num só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me...

Se me comporto como criança, cerque-me de carinho... Se estou com medo da morte e tento negá-la, ajude-me na preparação para o adeus...

Se estou doente e sou um peso em sua vida, não me abandone, um dia você terá a minha idade...”

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INTRODUÇÃO

A discussão aqui posta, sobre a terceira idade, surgiu a partir da nossa vivência e experiência profissional no Serviço Social do Comércio – SESC, a qual nos suscitou inquietações e questionamentos sobre essa problemática. Partindo, pois dessas inquietações, fizemos uma investigação e reflexão sobre políticas públicas relativas ao idoso no município de Mossoró, mais especificamente os programas e projetos destinados à terceira idade, implementados por instituições, bem como por organizações não-governamentais, que constituem o terceiro setor, e/ ou pelo poder público nas três esferas de governo.

A articulação entre o tema da avaliação de políticas públicas e o idoso, dá-se na medida em que os projetos e programas destinados à terceira idade, particularmente os implementados pelo poder público, destacaram a exigência de verificar-se, hoje, a efetividade dessas políticas, ou seja,como em qualquer política pública, há a necessidade de avaliar a efetividade de seus resultados.

Como nos últimos trinta anos o poder público local (os municípios) tem assumido novos papéis e responsabilidades, entre estas a de formular e implementar políticas públicas, mesmo quando se trata de programas orientados e financiados pela União, pensar as políticas públicas para a terceira idade, implica a necessidade de discutir qual é, na atualidade, o papel do poder local no contexto nacional.

Na contemporaneidade, as discussões sobre a terceira idade vêm ganhando mais destaque nas várias esferas da sociedade. Prova disso, é a crescente quantidade de registros sobre o tema, feitos por meio de reportagens, artigos, monografias, dissertações e teses. Como exemplo podemos citar a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Estatuto do Idoso, documento que legitima um conjunto de direitos sociais desta categoria, que ganhou nos anos de 1990, visibilidade tanto pela sociedade quanto pelo poder público, federal, estadual ou municipal.

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familiar, dos novos papéis assumidos pelos homens e mulheres, nas crescentes exigências de novos direitos, dentre outros aspectos.

A família moderna sofreu profundas transformações, impulsionada, entre outros fatores, pela industrialização e pela urbanização. O declínio da família patriarcal, a participação das mulheres no mercado de trabalho, a revolução sexual, os novos padrões culturais e de sociabilidade provocaram mudanças significativas na estrutura familiar nas últimas décadas do século XX nas sociedades ocidentais, centrais ou periféricas.

O envelhecimento da população mundial traz para a sociedade uma questão que foi considerada durante muito tempo, como exclusiva das famílias ou da caridade. Hoje o que podemos ver é que o idoso deixou de ser um assunto familiar para se tornar uma questão inerente a toda a sociedade e, conseqüentemente, ao Estado, uma vez que aquele tem direitos e necessidades que reclamam respostas através de políticas públicas.

No Brasil, não é diferente, uma vez que estamos caminhando para nos tornar a sexta população de idosos no mundo, resultado do grande avanço tecnológico registrado na segunda metade do século XX, aliado às notáveis conquistas da medicina, da saúde e da genética.

De acordo com estudos realizados sobre a terceira idade, verificamos que, no Brasil, o aumento da população idosa, segundo projeções estatísticas, chegará, nos próximos 20 anos, a aproximadamente 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos.

Esse crescimento reflete na relação entre a sociedade civil e o Estado, uma vez que os múltiplos atores sociais, tais como sindicatos, partidos políticos, organizações não-governamentais, dentre outros estão incorporando, em suas propostas e programas, ações direcionadas aos idosos.

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O resultado desse processo ganha espaço com a Constituição Federal de 1988, que trouxe para o centro das discussões a questão do idoso, culminando na criação, em 1996, da Política Nacional do Idoso–PNI. As políticas sociais, em suas várias áreas, sofreram transformações, uma vez que a descentralização das políticas públicas, fruto também das inovações postas pela Constituição de 1988, repercutiu na gestão e na implementação dessas políticas. Uma dessas inovações foi a transferência de novas responsabilidades do poder local.

Essa descentralização incidiu diretamente na organização do poder local, sofreu modificações significativas no Brasil nas últimas três décadas do século XX. Até a década de oitenta do século passado, o poder, na esfera local era permeado por relações coronelísticas nas pequenas e médias cidades e por relações clientelistas e populistas nos médios e grandes municípios.

A partir daquele período, o poder local passou a ser visto como espaço de democratização das relações entre o poder público e a sociedade. Nos anos de 1990, o poder público local, no Brasil, passou a ser protagonista do desenvolvimento sócio- econômico local, através da implementação de políticas públicas sob sua responsabilidade.

É também a partir dos anos de 1990 que o poder local no Brasil torna-se potencializador de novos padrões de relacionamento entre o poder público e os atores públicos e privados que constituem a sociedade local. Isso porque não se pode deixar de considerar que, para receber os recursos da esfera federal para a implantação de projetos e programas, os municípios tiveram de democratizar suas relações com a sociedade, a partir da criação de canais de participação como os conselhos, que se propõem elaborar, implementar e monitorar as políticas públicas em âmbito local.

Essas mudanças relativas ao poder local no Brasil inserem-se em um processo mais amplo, no qual temos a combinação da crise do Estado-Nação, do processo de globalização e do neoliberalismo com as lutas dos atores sociais pela descentralização e democratização, que permearam o campo político desde os anos de 1970.

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218.413 habitantes, 15.510 têm mais de 60 anos, perfazendo um total de 7.7% da população.

O mesmo censo destacou que parte significativa dos idosos mossoroenses compõe-se de pessoas de baixa renda, o que demanda ao poder público uma política social especifica que atenda as suas necessidades. Nesse contexto, a Prefeitura Municipal de Mossoró, via Secretaria Municipal de Ação Comunitária e Social, assume o trabalho de atendimento ao idoso, por meio do Programa Idoso Cidadão, moldado pelos princípios da Política Nacional do Idoso-PNI.

O Programa Idoso Cidadão, sediado na Secretaria Municipal de Ação Comunitária e Social, localizada no bairro Santo Antonio, atende a uma média de 2.815 idosos, dos quais 523 são homens e 2266 são mulheres, divididos em trinta e um grupos que funcionam nas zonas norte, sul, leste e oeste.

Através desse projeto, executado pela Prefeitura Municipal em parceria com o Governo Federal, são implementadas atividades nas áreas psicossocial buscando favorecer a integração social do idoso no que se refere à melhoria das condições de enfrentamento da questão da velhice -era da educação, oferecendo nas quais são organizados grupos para serem alfabetizados.

Na área da saúde, busca-se assistir o idoso em parceria com a Secretária Municipal de Saúde, realizando palestras sobre as principais doenças da terceira idade; na de lazer e cultura, desenvolvem-se atividades de recreação e passeios, favorecendo o convívio grupal, com o objetivo de integrar e socializar o idoso; e na do trabalho, proporcionam-se educação e terapia ocupacional.

A pesquisa Políticas Públicas para a Terceira Idade: uma Avaliação do Programa Idoso Cidadão, da Prefeitura Municipal de Mossoró/RN teve como objetivo geral avaliar a efetividade da política de atendimento ao idoso executado pelo o referido programa e, como objetivos específicos, verificar em que medida o atendimento ao idoso no Programa Idoso Cidadão está articulado com a PNI e identificar que lógica permeia as políticas sociais de enfretamento da questão social dos idosos na cidade de Mossoró.

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espaço mais amplo, no qual valores e o conhecimento sobre a realidade social estão interligados, contribuindo para o resultado da pesquisa.

A avaliação de políticas públicas, de acordo com vários autores, dentre eles Figueiredo e Figueiredo (1999), pode dar-se a partir dos critérios de eficiência, eficácia e efetividade. Em nossa pesquisa realizamos uma avaliação da efetividade do Programa Idoso Cidadão, pois estes nos permite ir além da avaliação de metas e custos e averiguar em que medida o programa atinge o objetivo de transformar a vida sócio–cultural dos seus usuários.

Salientamos que, mesmo sendo uma pratica recente em nossa cultura política – administrativa, a avaliação da efetividade do gasto público, principalmente com relação aos programas sociais, constitui exigência crescente em nosso país. Isso ocorre por vários motivos, dentre os quais podemos destacar uma maior participação dos diversos atores sociais, a descentralização e a busca de uma administração pública transparente.

Para alcançarmos os objetivos propostos, realizamos o seguinte percurso metodológico: na primeira etapa, realizamos a pesquisa bibliográfica em livros, revistas, dissertações e teses que versam sobre terceira idade, poder local e avaliação de políticas públicas para a construção do quadro teórico analítico.

Na segunda, desenvolvemos a pesquisa documental nos arquivos da Prefeitura Municipal e especificamente nos do Programa Idoso Cidadão para detectar os seus objetivos e as atividades propostas para a execução de suas proposições. O passo seguinte foi realizarmos entrevistas semi-estruturadas com os gestores do programa, com os profissionais envolvidos e particularmente com os usuários do programa. Nessas entrevistas, buscamos averiguar como esses agentes percebem a implementação e os resultados do programa. Também utilizamos a observação assistemática nas reuniões e encontros das atividades do programa.

Considerando o significativo número de grupos de idosos que participam do programa, elegemos dois deles para a pesquisa: o Centro de Convivência Hilda Brasil Leite, localizado na zona sul da cidade, e o Centro de Apoio do Carnaubal, na zona oeste. A escolha desses dois grupos se deu pelo fato de deterem o maior número de idosos cadastrados. De cada centro, trabalhamos com uma amostra que contemplou 05 idosos de cada grupo.

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trabalhado. O principal deles diz respeito ao controle exato do número de idosos que participam efetivamente do programa. A equipe técnica que compõe o Programa Idoso Cidadão dispõe de um controle preciso dos idosos cadastrados, mas não tem um controle exato da saída desses idosos. Há uma enorme variação da assiduidade dos membros dos grupos, muitos dos quais deixam de participar das atividades e não comunicam a sua saída, seja ela permanente ou provisória.

O grupo que se reúne no Centro de Convivência Hilda Brasil Leite tem mais de 150 idosos cadastrados, mas em nossas visitas, observamos que a freqüência às reuniões era de no máximo, 50 dias. No grupo que se reúne no Centro de Apoio do Carnaubal, a realidade não é diferente, dos 120 idosos cadastrados, a participação máxima era de 40 idosos.

Outro aspecto que nos chamou a atenção foi o de sempre os mesmos idosos participarem das reuniões e dos eventos. Fundamentados nesses fatos, calculamos a nossa amostra em 10% de um universo de noventa idosos. Além dos idosos, trabalhamos também com os profissionais envolvidos no programa (coordenadora, assistentes sociais e professor de educação física).

A escolha da entrevista semi-estruturada se deu por acreditarmos que, por ela trabalhar com perguntas predeterminadas e, ao mesmo tempo, com perguntas abertas, facilitaria nossa posterior análise dos dados. A proposta de trabalhar a observação assistemática ou não estruturada se processou em virtude de ser ela um instrumento útil para armazenar informações inerentes à realidade e que, muitas vezes, não são expressas na voz dos entrevistados.

A pesquisa bibliográfica nos permitiu construir um referencial teórico inicial que nos auxiliou ao traçarmos as diretrizes a serem seguidas na elaboração de um plano geral para o nosso trabalho. Já a pesquisa de campo nos permitiu averiguar o grau de efetividade alcançado pelo Programa Idoso Cidadão. Salientamos que essa última pesquisa objetivou obter dados sobre um problema para o qual se procura uma resposta, ou uma hipótese que se queira comprovar ou, ainda estabelecer relações entre esses dados.

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elaboração coletiva, abre-se assim, um espaço mais amplo para discussão, haja vista ser uma pesquisa que busca a complementaridade e não a exclusão.

Por meio desse processo, realizamos uma análise do conteúdo das falas dos sujeitos acima especificados, buscando avaliar a efetividade ou não da política pública que tem como foco o Programa Idoso Cidadão, da Prefeitura Municipal de Mossoró.

A presente dissertação é composta de três capítulos. No primeiro, desenvolvemos uma reflexão sobre sociedade, Estado e idoso, o qual dividimos em três subcapítulos, nos quais discutimos o idoso como uma construção social, refletindo sobre o processo social do envelhecimento na sociedade brasileira contemporânea e sobre a política que o Estado brasileiro desenvolve para a terceira idade.

No segundo, fizemos uma reflexão sobre poder local, políticas públicas e idoso, dividindo-o também em três subcapítulos, nos quais discutimos as mudanças ocorridas em relação ao poder local no Brasil nos últimos trinta anos, a articulação entre o poder local e a política social para o idoso e a avaliação de políticas públicas destinadas aos idosos.

No terceiro e último, fizemos uma avaliação do Programa Idoso Cidadão, da Prefeitura Municipal de Mossoró/RN. Nesse capítulo, traçamos um perfil da cidade de Mossoró, do envelhecimento na percepção do idoso em Mossoró, e por último, a avaliação do Programa acima destacado.

Nas considerações finais, discutimos algumas noções que poderão contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a avaliação de políticas públicas, uma vez que o presente tema constitui algo recente nos estudos e debates acadêmicos e institucionais e, portanto, é bastante limitado em termos de estudos e trabalhos publicados.

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1 – SOCIEDADE, ESTADO E IDOSO

Nos últimos anos, o tema velhice tem despertado mais a atenção de diversos setores da sociedade. O reflexo disso é a crescente quantidade de trabalhos, sejam eles reportagens, artigos, monografias, dissertações ou teses. A explicação para esse fato provavelmente reside no considerável aumento da vida média do ser humano.

O envelhecimento da população mundial, de acordo com Guita G. Debert (1999, p.113), traz para a sociedade uma questão que foi considerada, durante muito tempo, “como própria da esfera privada familiar, uma questão de previdência individual ou de associações filantrópicas”. Na contemporaneidade, o idoso deixa de ser um assunto da família para se tornar uma questão pública.

No Brasil, essa problemática também é visível, pois estamos caminhando para nos tornar a sexta população de idosos no mundo, fruto do grande avanço tecnológico, intensificado na segunda metade do século XX, facilitando às conquistas da medicina, da saúde e da genética.

Neste capítulo, discutiremos a relação entre o Estado, o idoso e a sociedade. Nesse sentido, destacamos, no primeiro item do capítulo, o fato de que o idoso é uma construção sócio-histórica, destacando os aspectos mais relevantes desta construção nas sociedades ocidentais. Estas, a partir da segunda metade do século XIX, começaram a tratar o processo de envelhecimento1 como uma fase da

vida do ser humano, assinalada pelo declínio físico e pela ausência de papéis sociais. Para Debert (1999, p.14):

essa visão foi responsável por um conjunto de imagens negativas associadas à velhice, mas foi também um elemento fundamental para a legitimação de direitos sociais, como a universalização da aposentadoria.

Vale salientar que, na contemporaneidade, essa visão conservadora sobre a velhice está sendo revista. A tendência é pensar que essa etapa da vida

1 “Definidos em termos biológicos, o envelhecimento compreende os processos de transformações do

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pode ser um momento para novas conquistas, aliadas às experiências vividas e aos saberes acumulados.

No segundo item do capítulo, enfocaremos o processo sócio-cultural do envelhecimento na sociedade brasileira contemporânea. De acordo com Debert (1999, p.11), hoje, no debate sobre políticas públicas, “[...] a definição de novos mercados de consumo e novas formas de lazer, o idoso é um ator que não mais está ausente do conjunto de discursos produzidos”.

No terceiro e último item do capítulo, discutiremos a Política Nacional do Idoso na sociedade brasileira, a qual expressa tanto o passado de acolhimento institucional das demandas da terceira idade, quanto a construção do idoso como ator social, sinalizando para as exigências postas para as políticas públicas destinadas a esse segmento. Como analisa Debert (1999, p.230),

a criação de ator político implica o estabelecimento de laços sociais entre indivíduos heterogêneos numa multiplicidade de outros aspectos. O idoso como ator político converteu a solidariedade entre gerações e a dimensão moral das políticas em uma questão central da cidadania.

Salientamos que as ações desenvolvidas pelo Estado, voltadas para a terceira idade, necessitam ser articuladas nas três esferas de governo – federal, estadual e municipal – bem como com os espaços governamentais em cada uma dessas áreas. O crescimento numérico dos idosos exige o seu reconhecimento como atores políticos não somente pelo Estado, mas também pela sociedade civil, uma vez que será ela a maior responsável pela transformação da percepção que a sociedade têm sobre a velhice.

1.1 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO IDOSO

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As projeções estatísticas da Organização das Nações Unidas – ONU2

indicam que a população mundial crescerá em torno de 1,3% durante os próximos 50 anos, se a fecundidade continuar a cair. O envelhecimento demográfico da população mundial, de acordo com a ONU, será de aproximadamente 1 bilhão e 100 milhões em 2025, levando em conta que a população mundial será de 8 bilhões e 200 milhões.

O crescimento dos idosos em todo o mundo é, em números absurdos e relativos, um fenômeno único na história humana. Nunca chegamos a idades tão avançadas e em tão grande número. Em 1950, os idosos eram cerca de 204 milhões; em 1998, quase cinqüenta anos depois, esse contingente chegou a 579 milhões, o que representa um crescimento de quase 8 milhões de pessoas idosas por ano. O gráfico abaixo destaca o crescimento da população idosa em vários países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Fonte: Censo 2000 - IBGE

Podemos perceber que o aumento da população idosa é mais significativo nos países em desenvolvimento. Contudo, numericamente, ocorre em menor proporção do que nos paises desenvolvidos.

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O Brasil, na América Latina, assume uma posição intermediária, respondendo por 8,6% da população total de idosos. Os países do continente europeu têm uma taxa de longevidade mais expressiva, destacando-se a Itália com o maior percentual.

Isso significa que, pela primeira vez na história,nos países industrializados, o número de pessoas com mais de sessenta anos será maior do que o número de jovens com 14 anos ou menos. Nos países em desenvolvimento, essa situação é ainda mais evidente: mesmo a população jovem tendo comparativamente maior, está envelhecendo mais depressa que a do restante do mundo, que terá em 2025 aproximadamente 72% de idosos.

Na França, por exemplo, passaram-se 140 anos para a parcela da população com 65 anos ou mais passar de 9% para 19.7%. Na China, o mesmo feito levará apenas 34 anos e na Venezuela, 22 anos. Em países como o Brasil, prover a população idosa emergente será uma questão bastante complexa e delicada, pois não estamos preparados para assumir a responsabilidade com a terceira idade3.

Renato Veras (1994) ressalta que durante muito tempo, populações idosas em grande número constituíram um fenômeno próprio de paises desenvolvidos. Por isso, nas últimas décadas, esses países vêm destinando uma maior atenção à população idosa, que começou a crescer, mais significativamente, no decorrer do século XX.

Como resultado, percebemos que o idoso está deixando de ser um problema de cada família, que decide o que fazer com seus velhos, e está se transformando em uma preocupação internacional dos governos, face às implicações sociais e econômicas que o crescimento desse segmento acarreta para a sociedade.

O envelhecimento é uma construção social que pode ser negativa se enfatizarmos a questão biológica, a partir da qual muitas vezes, é vislumbrado como algo sofrido e acuado. Contudo, do ponto de vista psicossocial, o idoso não deve, necessariamente, ser visto como alguém doente, triste e abandonado.

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De acordo com Philippe Ariès (1981), na conjuntura atual, por darmos ênfase à juventude, pensar o envelhecer significa pensar o convívio intergeracional no contexto da produção e do consumo de valores invertidos, o que nos remete a uma revisão crítica dos papéis sociais institucionalizados na sociedade.

Simone de Beauvoir, em seus estudos sobre a velhice4 em sociedades primitivas, destaca o amor dos filhos para com os pais idosos, destinando a estes uma maior proteção, tal como a destinada às crianças. Isso nos remete a uma história que a autora acima citada destaca:

Conta-se, em Bali, que outrora, numa aldeia perdida nas montanhas, os velhos eram sacrificados e devorados. Numa certa época, não restava mais um só deles, e as tradições se perdiam. Quis-se construir uma grande sala para abrigar o Conselho. Entretanto, examinando os troncos de árvores abatidas para esse fim, ninguém soube distinguir a parte do alto da de baixo: poderiam desencadear-se catástrofes se fosse invertido o sentido dos pedaços. Um jovem disse que se lhe prometessem não comer mais os velhos, ele saberia resolver o problema. A promessa foi feita. O jovem trouxe seu avô, que conservara escondido e que ensinou a comunidade a distinguir a parte de baixo da do alto (1990, p.96).

Essa história nos proporciona indagações a respeito do valor da experiência vivida pelos mais velhos.No percurso da história, constatam-se elos entre povos e épocas, lugares e tempos, vida e morte, juventude e velhice. Joel Birman (1995) percorre trilhas do tempo e da história no Ocidente para demonstrar a representação da existência humana nos registros biológico, psicológico e filosófico.

A melhoria da qualidade de vida proporcionada pelos avanços tecnológicos e da medicina preventiva, aliada ao rebaixamento da taxa de fertilidade, traz para o seio da sociedade contemporânea a problemática do idoso. Como é que essa sociedade concebe a velhice? Ou ainda: como o individuo analisa o seu envelhecimento numa sociedade que cultua o mito da eterna juventude? Para Ecléia Bosi (1995, p.74), uma caracterização do idoso é que a de que:

4 – “É a última fase do ciclo vital e é determinada por eventos de natureza múltipla [...]. Á medida que

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os atos públicos dos adultos interessam quando revestidos de um sentimento familiar, íntimo, compreensível no dia-a-dia. Os feitos abstratos, as palavras dos homens importantes só se revestem de significado para o velho e para crianças quando traduzidos por uma grandeza da vida cotidiana. Como pode uma anciã justificar a glória do filho premiado na academia científica se ele não ajuda os sobrinhos pobres, ou se ele não cura o reumatismo da cozinheira?

Geralmente, concebe-se a terceira idade como sinônimo de doença. Daí a morbidez que perpassa quase todos os trabalhos que estudam os idosos, pois só os vêem como os asilados, abandonados, esquecendo-se dos idosos ativos, saudáveis, que, como todos nós, padecem de enfermidades plenamente curáveis, não impedindo a sua participação nos diversos momentos da vida social, expressando idéias, anseios e também explicitando frustrações.

É difícil comprovar a idade cronológica que atesta a velhice. De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, o ingresso na terceira idade se dá por volta dos 60 anos. Marisete Santos (1999, p. 50) amparada em outros autores destaca que:

uma estreita marcação para esse início é a tendência individual ao isolamento e à ruptura com os padrões de vida anteriores, bem como os cabelos brancos, a pele flácida, a diminuição da destreza -equilíbrio - agilidade - diminuição da força física e mental .

Segundo Sandra Matsudo (1994, p.221-226) o envelhecimento pode ser definido como uma série de processos que ocorrem nos organismos vivos e que, com o passar do tempo, levam à perda da adaptabilidade, à alteração funcional e, eventualmente, à morte. Para Wagorn (19991, p.31) "envelhecer é o processo de acumular experiências e enriquecer nossas vidas por meio de conhecimento e habilidades físicas”. Essa sabedoria adquirida proporciona-nos o potencial para tomar decisões razoáveis e benéficas a respeito de nós mesmos.

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não são mais novas, pois o que perpassa o imaginário social é que o velho não serve mais para nada. Segundo Beauvoir (1990, p.265),

uma sociedade é uma totalidade destotalizada. Os membros estão separados, mais unidos por relações de reciprocidade: os indivíduos se compreendem uns aos outros, não tanto enquanto são todos homens abstratos, mas através da diversidade de sua práxis.

Nas sociedades tribais, o idoso tem uma função vital para a sobrevivência da cultura, uma vez que a maior parte dos povos aborígines de diversas etnias desconhece a escrita, por isso, a transmissão dos costumes é feita por meio oral. Comumente, as histórias são narradas pelos idosos, uma vez que eles detêm o conhecimento acumulado da sua própria experiência e do contato com as outras gerações. O velho é um elo entre os ancestrais e as novas gerações.

A busca por uma valorização dos idosos por meio das lembranças acumuladas e do convívio intergeracional exige reflexões e estudos sobre a concepção que a sociedade produz sobre juventude e velhice. Para Birman (1995, p.30) essas concepções são oriundas dos espaços sociais em que estão inseridos os jovens e os idosos, esboçados nos valores que orientam o processo da história biológica e psicológica dos indivíduos. Qualquer substancialidade absoluta “[...] da velhice e da juventude [...] se insere [...] ativamente na dinâmica dos valores e das culturas que enunciam algo sobre o seu ser”.

A idade cronológica em si mesma não é uma medida de envelhecimento psíquica nem física.Convém assinalar que não existem normas de idade, senão diferentes padrões de envelhecimento, posto que todos sabemos que existem velhos com grandes variações em seu estado físico e cognitivo-intelectual. O envelhecimento cronológico é um dos múltiplos fatores que influenciam o processo da velhice.

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cada idoso nos transmite uma imagem pessoal e particular do que seja envelhecer. Muitas imagens são luminosas, vigorosas, expressando e traduzindo tranqüilidade, [...] e sabedoria nessa fase da existência. Outras vezes, nos defrontamos com imagens sombrias, tristes, refletindo uma situação de insegurança, carência e sofrimento. Diante de tão diversidade de imagens [...], você percebe que existem várias maneiras de vivenciar o envelhecimento e a velhice[...] .

Países como França, Alemanha, Inglaterra, Suécia e Estados Unidos vivenciaram o envelhecimento de suas populações com as grandes transformações sociais e econômicas e com os consideráveis avanços e melhorias no que diz respeito às condições de vida e de bem estar geral da população. O crescimento da população idosa trouxe uma maior visibilidade ao segmento, por isso se faz necessário que a sociedade reformule sua concepção de velhice.

Essa visibilidade é conseqüência de fatores variados, dentre eles destaca-se o aumento da população idosa em todo o mundo. O resultado reflete diretamente na percepção consciente dos seus direitos, no papel que eles ainda podem desempenhar nas várias áreas da sociedade. Novos valores, novas necessidades, novos questionamentos surgem a cada dia, muitos dos quais permanecem sem solução.

Quem sabe algumas das respostas possam ser encontradas quando buscarmos compreender a questão da velhice por meio de uma análise histórica e cultural. Simone de Beauvoir (1990), destaca que civilizações como a da China, da Esparta, da Grécia e de Roma tinham o idoso como juízes quando se tratava de manter a ordem estabelecida, contudo, em época de revoluções ou transformações, eram deixados de lado, em detrimento da colaboração dos jovens.

No Brasil, ainda no Império, Gilberto Freire (1966), em seus estudos, destacou que o patriarcalismo mesmo na época do declínio, quando os mais idosos começaram a perder seu domínio sobre a família e os mais jovens iniciaram o seu predomínio na esfera social e política, a figura do patriarca ainda era um modelo a ser seguido.

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ocidentais, a urbanização e a produção de mercadorias em massa foram os principais responsáveis pela deterioração da velhice.

Esses dois elementos, em conjunto, paulatinamente extinguiram a base econômica da antiga família extensiva, na qual a decisão dos mais velhos era inquestionável. No Brasil, esse processo não é diferente. A urbanização e as mudanças ocorridas nos séculos XIX e XX proporcionaram muitas rupturas, destacando a juventude como algo inerente à nossa sociedade. O Brasil passou a ser visto como o país do futuro, o país da juventude.

Atualmente, podemos ver que a redução da família trouxe para o idoso o isolamento, a sua substituição no comando familiar por um membro mais jovem.Isso acarretou-lhe a morte social, resultando no fato de o idoso passar a ser encarado, muitas vezes, como um peso para a sua família. A nossa sociedade, que enaltece a “eterna” juventude, impõe para os idosos o estigma do preconceito e da exclusão, exigindo severos esforços para mumificar a juventude que acabou.

Úrsula Kalache (1987, p.208) destaca que a longevidade a que toda sociedade aspira para a sua população está ligada à manutenção da saúde de cada indivíduo, com a autonomia para o desempenho das funções do dia-a-dia que, de modo a tornar o idoso independente, dentro do seu contexto sócio-econômico-cultural. Neri (2001, p.33) acrescenta que a instalação de doenças, as perdas de papéis ocupacionais, bem como as perdas afetivas, comumente presentes na velhice, podem provocar elevação no grau de ansiedade dos idosos.

O corpo pode está envelhecido, mas a sabedoria e o conhecimento, fruto de suas vivências, é algo que pode perdurar por toda a vida. Na visão de muitos estudiosos, a sabedoria das pessoas mais velhas configura-se com uma especialização na pragmática cognitiva (inteligência cristalizada), abrangendo aspectos fundamentais da condição humana, como a finitude biológica e os condicionamentos culturais, que remetem o sujeito idoso às questões referentes à condução, à interpretação e ao significado da vida.

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Enquanto o adulto, preso às tarefas do presente, não se alonga nas lembranças do passado, fazendo da memória “fuga, arte, lazer, contemplação [...], o velho não se contenta, em geral, em aguardar passivamente que as lembranças o despertem, ele procura precisa-las, ele interroga os outros velhos [...] e, principalmente, conta aquilo que se lembra” (1995, p.23).

Na visão de Bosi, é necessário um trabalho de reflexão e de localização precisa, acompanhado de sentimento, para que a memória dos velhos crie uma reaparição e não uma repetição daquilo que já se passou. A autora enfatiza a presença de um rastro do passado, aparentemente desaparecido, na escrita da história, tais como datas, descrições dos períodos, nomes, narração de fatos.

O que as gerações mais novas recebem das mais velhas não são apenas dados dessa história escrita, mas é, principalmente, a história vivida pelos mais velhos, que compõem o processo de socialização dessas novas pessoas, garantindo a construção da memória.

No Brasil, a preservação da cultura por meio da memória ainda está longe de se configurar como algo abrangente, inerente à maioria. Contudo, estando o país envelhecendo, a tendência é que tenhamos o resgate da nossa memória por meio das vivências e recordações dos que são ou estão chegando à terceira idade.

Como podemos perceber, o idoso é uma construção social que atualmente ganha visibilidade, o que traz implicações sociais e econômicas que não podem deixar de ser analisadas pela sociedade civil e pelo Estado.

1.2 – ENVELHECER NA SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, entre 1950 e 2025, a população brasileira irá crescer 16 vezes contra 5 vezes da população mundial total. É o crescimento populacional mais acelerado do mundo, só comparável ao do México e da Nigéria. Hoje o Brasil tem em torno de 12 milhões de idosos, ou seja, 7,5% da população e, segundo projeções estatísticas, no ano 2025, passará para 15%, representando 12 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.

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fecundidade,com uma população predominantemente jovem, em expansão, para uma situação de baixa fecundidade, com o aumento significativo da faixa etária idosa.

O grande avanço tecnológico registrado na segunda metade do século XX, aliado às notáveis conquistas da medicina, da saúde e da genética, aumentou consideravelmente a expectativa de vida das pessoas da terceira idade, que, no Brasil, passou de 61 anos (homens) e 65 (mulheres,) para 71 e 75, respectivamente.

A ênfase para esse fenômeno inclui as transformações sofridas pelo Brasil, que deixou de ser uma sociedade rural, tornando-se mais urbana e, como tal, abrigando a maioria dos idosos nas grandes cidades. Aristotelina P. B. Rocha (2004, p.182) desta em seus estudos que

em apenas cinco décadas do século passado, a população brasileira passa de majoritariamente rural para urbana. O Brasil em 1940 possuía 68,8% da sua população no campo, invertendo essa posição em 1980, quando 67,8% da população passou a residir em centros urbanos.

De acordo com Veras (1995), ao se estudar a problemática do idoso no Brasil, temos que levar em conta a heterogeneidade latente em nossa sociedade. Os contrastes são nítidos e marcantes, convivemos com regiões nas quais o índice de miséria é comparável ao dos países mais pobres do mundo e regiões semelhantes aos países do Primeiro Mundo.

Além dessas características, o autor, acima destacado, enfatiza a feminização da velhice no Brasil. Projeções realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, constata que 72% das mulheres vivem só, considerando-se a população total de idosos nessa condição.

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Tabela 01 Fonte: IBGE, 2000

Além de Veras, Elza Berquó (1996), em seus estudos sobre a velhice no Brasil, destaca a questão da feminização5 do envelhecimento, o que remete uma

especificidade ao tratamento destinado aos idosos em termos de políticas sociais e, sobretudo, à saúde. Dados levantados pelo IBGE (Censo 2000) enfatizam que de 2000 a 2020 a população idosa no Brasil em termos percentuais será de maioria feminina, a tabela abaixo enfatiza bem essa questão:

Tabela 02

Berquó destaca ainda que mais da metade dos idosos (60%) são constituídos por brancos, uma vez que os negros por terem sido os mais pobres e desassistidos, resistem menos a idades mais avançadas. As mulheres, além da

viuvez, também são maioria entre as solteiras, e as negras vivenciam uma situação ainda mais difícil pela questão da cor.

5 “Do ponto de vista sociopsicológico o conceito de feminização da velhice está associado a

evidências de mudanças nas normas e expectativas sociais relativas aos desempenhos esperados para mulheres na velhice [...]. As alterações são atribuídas não somente ao contingente feminino na população idosa, mas à crescente integração em diversas esferas da vida social que excedem o âmbito da família, antes o reduto das mulheres idosas”(NERI, 2001, p. 51).

Masculina Feminina Masculina Feminina Masculina Feminina Proporção de população

idosa (60 e mais) 7,8% 9,3% 8,4% 10,5% 11,1% 14,0%

Proporção da população

Grupos de idades

60-64 46,8% 53,2% 46,4% 53,6% 45,6% 54,4%

65-69 45,8% 54,2% 45,2% 54,8% 44,5% 55,5%

70-74 44,8% 55,2% 43,2% 56,8% 42,8% 57,2%

75-79 43,9% 56,1% 40,2% 59,8% 39,9% 60,1%

80 ou mais 39,9% 60,1% 34,7% 65,3% 33,8% 66,2%

População idosa 6.533.784 8.002.245 7.952.773 10.271.470 11.328.144 15.005.250

2000 2010 2020

HO MENS MULHERES

50 A N O S 76 A N O S 80 A N O S

55 A N O S 77 A N O S 81 A N O S

60 A N O S 79 A N O S 82 A N O S

65 A N O S 81 A N O S 83 A N O S

70 A N O S 83 A N O S 85 A N O S

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Vale salientar que estes dois elementos destacados por Berquó (1996), cor e gênero, chamam a atenção para uma dimensão não priorizada nos estudos sobre o idoso e especialmente na elaboração de políticas voltadas para essa faixa etária. Essas questões devem ser levadas em consideração quando da formulação de políticas públicas sociais direcionadas para a terceira idade.

A nossa população – não apenas a sociedade civil, mas também o estado, na qualidade de gestos das políticas públicas só recentemente passou a ter uma noção sobre envelhecimento populacional. De acordo com Potyara Pereira (1996, p. 130), políticas públicas constitui uma

linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei. É mediante as políticas públicas que são distribuídos ou redistribuídos bens e serviços sociais, em resposta às demandas da sociedade.

Esse evidente crescimento da população idosa está repercutindo na relação entre a sociedade civil e o Estado, influenciando movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos etc, levando-os a incorporar, em suas propostas e programas, ações voltadas para a terceira idade. Segundo Karsch (2001, p. 50), “surge no cenário brasileiro uma população que não se conhece e só era conhecida pelas famílias dentro de casa”.

Essa visibilidade dá-se, dentre outros motivos, pelas demandas feitas ao Estado em suas diversas esferas – União, estados e municípios – pelos movimentos sociais e pela população idosa, dentre outros atores sociais e políticos. Isso ocorre porque, como avalia Magalhães (1989, p.42),

a luta pelo saneamento, do valor das aposentadorias, dos benefícios e cuidados domiciliares etc, cresce a cada dia, e começa a desempenhar papel progressivamente significativo, para as classes trabalhadoras e assalariadas.

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penetram com maior força na esfera das ações do poder estatal, assim como geram novos núcleos de poder no interior do Estado e na própria sociedade, dando maior impulso às reivindicações sociais.

O resultado de tudo isso pode ser percebido nas mudanças que estão ocorrendo na área das políticas sociais, voltadas para os idosos, que estão deixando, progressivamente, de ser assistenciais e tradicionais, representadas pelos asilos e ações filantrópicas, para se tornarem políticas integrativas fundamentadas em direitos como aposentadoria, benefícios e cuidados sociais que poderão auxiliar os idosos na sua vida após o período laboral.

Esses cuidados e benefícios terão de propor-se responder à gradual perda da autonomia do idoso, acarretada pelas limitações de ordem biológica que a idade avançada inevitavelmente cria. Na perspectiva de pensar a questão do idoso como política pública, Magalhães (1989, p.45) destaca que a política assistencialista em relação à terceira idade, por meio do asilamento e da obrigação familiar, segrega e marginaliza a velhice, tornando-a invisível e fora dos contatos sociais e de sociabilidade mais ampla, além das fronteiras de parentesco e de vizinhança.

Os debates e estudos têm como resultado a mudança de concepção sobre a velhice, visto que constrói um outro significado para essa fase da vida, o de terceira idade, que é vista como uma nova fase da vida do indivíduo e não como uma etapa esquecida e anônima de ociosidade mal remunerada. Rita de Cássia da S. Oliveira (2002, p. 38-39), em seus estudos, destaca que

O ser humano deve se preparar para a velhice, para que tenha uma boa vida social e afetiva e continue dando sua contribuição para a humanidade. [...] É preciso combater a visão do envelhecimento como um prenúncio da morte. A morte não é privilégio da velhice. O envelhecimento deve ser encarado como uma seqüência da vida, um processo natural.

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a política ativista da Terceira Idade só será efetivamente posta em prática se os seus impulsos forem suficientemente fortes para fazer prevalecer os direitos de aposentadoria, de benefícios e cuidados sociais para todas as camadas sociais, especialmente para a população de menor renda, e menor capacidade de influir nos espaços de decisão política e nos núcleos tecnoburocráticos que implementam suas decisões.

Países em desenvolvimento, como o Brasil, possuem uma centralização de renda muito aguçada, tanto no meio rural quanto no urbano, no qual vivenciamos espaços que são prósperos e outros cujas exclusão e pobreza são quase absolutas. Como avalia Magalhães (1989, p.24),

Numa economia polarizada entre grandes proprietários e massas rurais assalariadas vegetam os idosos da classe rural e trabalhadora, alguns com o meio salário mínimo [...]. Mas grande parte vivendo da mendicância, da assistência religiosa e familiar [...]. No meio urbano, junto às camadas salariais de baixa renda, temos contingentes em que se inscrevem os recém-egressos do meio rural, a periferia [...], os moradores de favelas e cortiços.

Nesse cenário, especialmente quando se trata da população de baixa renda, a proteção ao idoso encontra níveis diferenciados de precarização. Seja a reprodução de padrões assistenciais de organização que propõe a cidadania ao idoso, seja pela falta de apoio da família, dos vizinhos ou no trabalho, e que não estão preparados para prestar os cuidados de que os idosos necessitam.

Na aposentadoria e no asilamento, os idosos perdem o espaço físico e afetivo da família, bem como segurança econômica. Ana P Fraimam (1988, p.33) destaca que, atualmente, o que se verifica na velhice reflete a caricatura das diferentes condições sociais. Estamos autorizados, pois, a considerar o envelhecimento como uma problemática social que se inicia na infância carente e culmina na velhice abandonada.

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e mobilizada para reivindicar os direitos inerentes aos idosos. Veras (1994, p.04) destaca que

já é hora de nos estruturarmos para responder a mais esta importante demanda social: a questão social do idoso, em face de sua dimensão, exige uma política ampla e expressiva que suprima ou, pelo menos, amenize a cruel realidade que espera aqueles que conseguem viver até idades mais avançadas. Após tantos esforços realizados para prolongar a vida humana, seria lamentável não se oferecer condições adequadas para vivê-la.

Nesse contexto, percebemos que o Brasil está envelhecendo, deixando de ser um país jovem para se tornar o país com maior população idosa da América Latina. Diante disso, faz-se necessário que governos (federal, estadual e municipal), empresas e outras instituições busquem meios para atender a essa parcela da sociedade, contribuindo para que os idosos tenham assegurado a cidadania.

O aumento desse segmento populacional no Brasil demanda, dentre outras questões, a Reforma da Previdência, a Concessão do Benefício da Prestação Continuada, recursos humanos capacitados (na área de gerontologia6), apoio a programas, projetos e pesquisas governamentais e não governamentais.

O crescimento dessa população trará como conseqüência um custo social mais elevado, obrigando o Estado a desenvolver políticas sociais mais eficazes de atendimento. Paralelo a isso, destacamos um crescimento significativo de grupos de idosos, universidades da terceira idade, clínicas de gerontologia, casas de repouso, dentre outros.

É função do Estado criar programas e projetos que instiguem a participação dos idosos em diversas atividades, destinando, para isso, recursos que garantirão o atendimento das necessidades que incidam diretamente na melhoria da qualidade de vida. Para que isso realmente aconteça, o papel desempenhado pela sociedade civil nesse processo será crucial para que tenhamos a efetividade das políticas públicas voltadas para os problemas e necessidades da terceira idade.

6 “é o campo multi e interdisciplinar que visa à descrição e à explicação das mudanças típicas do

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É grande a queixa dos idosos quanto à falta de educação e de como são tratados, por exemplo, nos transportes coletivos por inúmeros motoristas e cobradores, demonstrando o desrespeito e a falta de preparo da população em geral para o convívio com os mais velhos. Sobre a educação, Maria José da R. Barroso (1999, p.34) destaca que

a omissão oficial tem sido formal. Se tudo perpassa pela Educação, onde ela se situa numa Política que não aparece? A educação, por suas inúmeras formas de atuação, teria possibilidades ímpares para informar, criar, incentivar, introduzir novos conceitos, e estimular valores orais como um suporte, uma janela viabilizadora de novas condições para uma vida prazerosa. Há duas décadas, espera-se das Universidades a inclusão da Geriatria e Gerontologia como disciplinas de Currículo, e o empenho na preparação de Recursos Humanos.

O convívio nos grupos voltados para a terceira idade é um espaço importante para desencadear, tanto na pessoa idosa quanto na comunidade, a mudança de mentalidade que leve à inserção e ao fortalecimento do papel social do idoso. Lilia Ladislau (2002, p.10) destaca que “a partir da constatação da necessidade de se criar espaços e condições em que essas pessoas pudessem exercer o direito à participação, percebendo a velhice sob outro prisma [...]”, é que se pode construir uma nova forma de ver e, conseqüentemente, transmitir para a sociedade e o Estado uma nova forma de se conceber a terceira idade.

Vale salientar que o aumento da população idosa no Brasil não deve ser visto como um fator de responsabilidade restrita do Estado, mas como uma problemática de toda a sociedade. Para que isso aconteça, faz-se necessária “uma reflexão sobre a velhice [...] redimensionando o entendimento não apenas do velho, mas do ser humano contextualizado na sociedade contemporânea” (LADISLAU, 2002, p.10).

É a sociedade que, por meio dos movimentos sociais, sindicatos partidos políticos etc, poderá buscar, junto ao Estado, a efetiva implantação de uma política voltada para a terceira idade. É a “defesa e ação progressiva em favor da velhice e da política de envelhecimento, principalmente na defesa das camadas sociais mais carentes” (MAGALHÃES, 1989, p. 46).

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os parceiros naturais para compartilhar a execução de uma política coordenada, em que os direitos dos idosos sejam realmente respeitados e implementados na sociedade brasileira.

Envelhecer em nossa sociedade tornou-se um fenômeno complexo. O idoso é hoje uma parcela significativa da sociedade, transformando o Brasil, que há poucas décadas era visto como jovem, em um país reconhecidamente envelhecido.

Esse novo contexto remete a um estudo mais aguçado em que perpassa questões como gênero, saúde, classe social e políticas sociais, as quais têm de levar em conta toda essa heterogeneidade, para implementar programas que auxiliem na melhoria da qualidade de vida, no Brasil, são de terceira idade ou estão chegando a ela.

1.3 – A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO DO ESTADO BRASILEIRO

De acordo com a Política Nacional do Idoso – PNI (1996), o Brasil está envelhecendo, passando de um país de jovens para um país de feições mais velhas. Contudo, mesmo com o aumento da expectativa de vida, não melhoraram as condições objetivas da maior parte da população, inclusive as dos idosos. Eneida G. de Macedo Haddad (1999, p.206) destaca que “além do mais, a expectativa de vida [...] é um dado genérico e, enquanto tal, esconde particularidades. Ela não é a mesma nos diferentes Estados brasileiros7” .

Ademais, podemos constatar também que o cuidado com a velhice, mesmo com o passar de séculos, ainda não é visualizado pelo Estado como dever público. É verdade que a Constituição da República de 1988 trouxe, pela primeira vez na história, o cuidado para com a população idosa como sendo dever do Estado e direito do cidadão. Ainda assim, a proteção ao idoso ficou sendo, em primeiro lugar, da família: em segundo, da sociedade; e, em última instância, do Estado. Conforme aponta Barroso (1999, p.32),

Consubstanciada na Constituição Federal de 1988, a lei Orgânica da Assistência Social explicitou como Dever do Estado e Direito do

7 Em São Paulo, a expectativa de vida era, em 1980, de 63,6 anos; em Santa Catarina, de 66,8 anos;

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Cidadão a Política de Seguridade Social, como não contributiva, objetivando atender às necessidades básicas, através da iniciativa pública, em parceria com a sociedade. O universo de atenção alcança da gestante ao idoso; está pautada em princípios éticos, de supremacia do atendimento às necessidades básicas, através dos direitos sociais, prevalecendo a dignidade e autonomia do cidadão em qualquer idade. As formas de atendimento se compõem de benefícios, serviços, Programas de Assistência Social, Benefícios eventuais e Projetos de enfrentamento à pobreza.

Diante desse contexto, faz-se necessário levantarmos alguns questionamentos sobre a família. Em primeiro lugar, nós indagamos como ela pode dispensar atenção e assistência ao idoso, se muitas vezes não dispõe de meios financeiros para isso. Acrescente-se a isso o fato de parte das famílias não ter acesso, mesmo que mínimo, de informações sobre o envelhecimento e cuidados de que o idoso necessita.

Em segundo lugar, indagamos onde buscar um atendimento específico da área da saúde, se sabemos que postos de saúde e hospitais não dispõem de geriatra ou espaços destinados a essa clientela. Sem dúvida alguma, o ideal seria que a família cuidasse de seus idosos, mas a estrutura familiar tradicional passou por profundas transformações nas últimas décadas, além de as famílias das classes subalternas evidenciarem hoje, diversos níveis de exclusão social8. Barroso (1999,

p.32) afirma que

a Carta Magna consagrou o Direito à Vida sem prever condições mínimas de satisfação e qualidade. [...] Sem Políticas Públicas como ferramentas, torna-se difícil a participação familiar no trato com pessoas idosas, dispensando-lhes tratamento condigno, como cidadãos, e viabilizando padrões mínimos de satisfação existencial.

A institucionalização do Sistema Único de Saúde – SUS – consubstanciado pela Constituição Federal de 1988, como direto do cidadão e dever do Estado, foi um grande avanço, porém constata-se que os serviços públicos

8“O conceito de exclusão social vem se generalizando amplamente na literatura e no discurso de

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direcionados à saúde são sobrecarregados, precários e ineficientes. Os idosos, além de um atendimento específico, devem contar com uma infra-estrutura médico-hospitalar eficiente, pois quanto maior a idade, mais suscetível são às doenças.

Acrescentam-se ainda as doenças crônico-degenerativas que são mais dispendiosas e que exigem tratamentos mais longos. Nesse contexto, “o setor hospitalar, sem dúvida, [...] sofrerá as maiores pressões, em termos de saúde curativa, diante do envelhecimento progressivo da população” (HADDAD, 1990, p.192).

É certo que o Ministério da Saúde desenvolve uma Política Nacional de Saúde voltada para Idoso, que tem como objetivo potencializar a expectativa de vida ativa e autônoma junto à família e à sociedade. Vale salientar que essa percepção sobre saúde não deve se limitar somente à cura da doença, mas englobar um conjunto de medidas que busquem a medicina preventiva e a integração, buscando também a inter-setorialidade com outros Ministérios e com outras políticas públicas. Ana Maria Figueiredo (1999, p. 42) destaca que as Diretrizes da Política Nacional de Saúde ao Idoso são:

a promoção de um envelhecimento saudável; a manutenção da capacidade funcional; a assistência às necessidades de saúde do idoso, contemplando a humanização do seu atendimento;a reabilitação da capacidade funcional comprometida;a capacitação de recursos humanos especializados; e o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais.

Mesmo diante das dificuldades relacionadas a políticas voltadas para o idoso, podemos constatar alguns avanços como a busca pela humanização do atendimento em hospitais públicos do SUS, que hoje já permite, a exemplo da pediatria, de um acompanhante para o idoso, enquanto durar a sua internação. O reconhecimento do direito de o idoso ter um acompanhante quando de sua internação não significa substituir os cuidados dos profissionais de saúde. Conforme Salienta Figueiredo (1999, p. 44)

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Reconhecer o processo de envelhecimento como algo inevitável e irreversível é o primeiro passo para tomarmos consciência de que as condições crônicas e incapacitantes, as quais normalmente acompanham esse processo, podem ser prevenidas ou retardadas, não só através de intervenções da área médica, mas também das áreas social, econômica e ambiental.

Além dos direitos assegurados pela Constituição Federal de 1988 (Título VIII, da Ordem Social cap. II da Seguridade Social, seção III da Previdência Social, Seção IV da Assistência Social), o idoso tem assegurado por meio da Lei nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994 e do Decreto nº 1.948, de 03 de julho de 1996, a Política Nacional do Idoso – PNI, que normatiza os seus direitos sociais, promovendo sua “autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (PNI, 1996:05).

A Lei nº 8.842 atribui a coordenação da Política Nacional do Idoso à Secretaria da Assistência Social, a qual tem por objetivo “promover ações setoriais integradas, de forma a viabilizar a implementação da referida Lei” (PNI, 1996, p.05). Essa lei prevê, principalmente, o atendimento não asilar, estimulando ações como a implantação de centro de convivência, que promovem o fortalecimento de práticas associativas, produtivas e promocionais, com o objetivo de favorecer o convívio familiar e comunitário.

Além disso, há também: os centros de cuidados diurnos, voltados para o atendimento ao idoso dependente, com deficiência temporária ou que necessite de assistência multiprofissional; casa lar, voltada para o idoso sem família e com renda insuficiente para sua sobrevivência; atendimento domiciliar, que proporciona meios para que o idoso permaneça com sua família e na comunidade; atendimento asilar, atendimento excepcional ao idoso sem família e sem condições de prover suas necessidades básicas; e oficinas abrigadas de trabalho, com atividades voltadas para a capacitação e a reciclagem profissional, promovendo, para o idoso, a oportunidade de elevar sua renda.

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A PNI “assegura os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Desta forma, assegura o direito de exercer sua cidadania” (996, p.05).A PNI é, sem dúvida, um avanço quanto ao trato da questão social do idoso, porém plenamente algumas questões.

Exemplo disso é a ausência de uma política educacional no cenário efetivo da Política Nacional do Idoso, uma vez que esta é o canal primordial para a construção de uma consciência gerontológica no Brasil. Outro elemento que merece análise diz respeito à cultura, que é uma questão muito importante para a sociedade e para a terceira idade e, como tal, deve ser incluída no rol de direitos assegurados pela Política Nacional do Idoso.

Conforme nos diz Jeruza Maria B. de Mendonça (1999, p. 58), “a pessoa idosa, depositária de informações acumuladas, deveria ter oportunidades de ser transmissor de cultura, de tradição, de folclore, de dança, de canto etc; transmissor de toda uma memória cultural”. Como sabemos, a história pode muito bem ser contada por meio das experiências dos indivíduos, e nenhuma delas é tão rica quanto a dos idosos, pois são a história viva.

Na área do lazer, o idoso pode ser considerado como uma força para o desenvolvimento de atividades criativas, passando de apenas consumidor para produtor. O lazer é uma necessidade básica do homem, constituindo um tempo que deve ser preenchido como um canal de ocupação, de construção e de expressão da criatividade individual.

Na iniciativa particular, encontramos um selo secular de atuação sob o signo da caridade, da bondade, do espírito de compaixão e da solidariedade. As igrejas (católicas e protestantes) foram, sem dúvida, o grande esteio, a grande rede de serviços e programas destinados a terceira idade. Talvez seja essa uma das razões pelas quais o poder público se omite, considerando as questões da velhice como próprias da filantropia e da caridade. A sociedade civil tem se esforçado para iniciar ações educativas de formação de recursos humanos e do próprio idoso. Algumas entidades sociais não precisaram de uma lei, de uma política oficial para justificar suas ações.

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programas e atividades voltados para a área de saúde, cultura, esportes, recreação e lazer. Debert (1999, 9.196-197) enfatiza que o SESC

Congregando aposentados do comércio, através do que depois passariam a ser grupos de convivência, escolas abertas e cursos de preparação para a aposentadoria, o SESC promoveu a especialização de profissionais na área[...].Constituiu o Centro de Estudos da Terceira Idade e possibilitou a divulgação de conhecimentos sobre o tema, através de publicações como os Cadernos da Terceira Idade [...].

A SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – desenvolve e aprimora atividades de caráter técnico-científico, além de outros objetivos a que se propõe. A ACEPI – Associação Cearense Pró-Idosos – a primeira do Brasil a se organizar em defesa dos direitos dos idosos, vem realizando inúmeros tipos de eventos com objetivos de sensibilizar a sociedade e reivindicar, junto ao Estado, na esfera da União, dos Estados e dos Municípios, os direitos assegurados por lei.

A Política Nacional do Idoso, desde sua promulgação e implementação, tem sido um documento importante para a população idosa. Por isso, é essencial que todos a conheçam. Nesse contexto, a política voltada para a população idosa no Brasil, conforme foi regulamentada em lei, visa tratar as questões dos idosos, pautada pelos seguintes princípios, destacados por Mendonça (1999, p.60):

a)O idoso é um sujeito de direito, de cidadania, é responsabilidade da família, da sociedade e do Estado assegurá-lo em toda a sua abrangência; b) O idoso é um ser total, conseqüentemente a proteção que lhe é devida deve compreender todas as dimensões do ser humano; c) o idoso é sujeito de relação, portanto, não deve sofrer discriminação e marginalização de qualquer natureza, com a conseqüente perda dos vínculos relacionais; d) e finalmente o idoso é sujeito único e, portanto, os programas e serviços devem reconhecer a múltipla dimensão do envelhecimento.

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A participação dos estados e municípios, por intermédio dos diversos atores envolvidos no âmbito dessa política, é imprescindível para a elaboração de projetos, definição de prioridades, levantamento de estratégias, que respondam, de uma maneira mais próxima e imediata, às necessidades dos idosos no âmbito local.

A PNI (1996) vem sendo implementada em parceria com oito ministérios e para tanto foi elaborado o Plano Integrado de Ação Governamental para o desenvolvimento delas. A coordenação é do Ministério da Previdência e Assistência Social/ Secretaria de Estado da Assistência Social, integrada pelos Ministérios: Esporte e Turismo, Cultura, Justiça, Orçamento e Gestão, por intermédio da Secretaria de Urbanismo, Saúde, Educação, Trabalho e Emprego.

É importante que as ações concernentes ao idoso e contempladas no PNI sejam desenvolvidas em parcerias, em que cada ministério tem a sua parcela de contribuição em estreita articulação com estados e municípios. O Governo Federal elabora as diretrizes, mas não operacionaliza serviços, programas e projetos locais. É importante destacar que esse plano integrado tem por objetivo promover ações setoriais integradas, de forma a viabilizar a implementação da Política Nacional do Idoso.

Como objetivos específicos, citamos: definir ações e estratégias para cada órgão setorial; negociar recursos financeiros entre as três esferas do governo; acompanhar, controlar e avaliar as ações desenvolvidas; mobilizar a sociedade; ampliar o alcance social das políticas públicas de atenção ao idoso; modernizar a gestão e criar mecanismos de controle social, tais como: fóruns, conselhos e outros.

O Estado brasileiro ensaia atualizar-se para trabalhar a problemática da velhice e do envelhecimento populacional, e isso é resultado da mobilização da sociedade civil, liderada pelas classes médias com seus representantes. Com relação aos problemas específicos que o envelhecimento já criou e criará, faz-se necessário uma política de envelhecimento, consciente e dirigida em conjunto e de forma compartilhada pelo Estado e pela sociedade civil, criando melhores condições de vida para os que envelhecerão nos próximos anos.

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teremos “uma população de 32 milhões de idosos, só perdendo para a China (1º lugar, com uma população de 284 milhões de idosos), a Índia (2º lugar, com uma população de 246 milhões), a antiga URSS (3º lugar, com uma população de 71 milhões, EUA ( 4º lugar, com 67 milhões) e Japão (5º lugar, com 33 milhoes de Idosos).

Uma política voltada para o problema do envelhecimento emerge da sociedade civil e de suas classes sociais, antes de chegar ao Estado e ganhar forma normativa e operacional. Vale salientar que a elaboração de políticas gerontológicas, para serem efetivas, deve apoiar-se na realidade cultural de cada sociedade, pois só assim poderá propor programas realistas para o envelhecimento, que levem em conta a família e as outras relações intergeracionais na sociedade, como uma das bases para a assistência aos idosos.

Imagem

Tabela 01 Fonte: IBGE, 2000
Gráfico 01
Foto 01 - Mossoró atualmente (fonte www.wikipedia.org.br)
Foto 08 UNP -Mossoró                                          Fonte: classiguianet.com.br
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