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A emergência de um novo saber geográfico: o retorno da ciência à filosofia.

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Academic year: 2017

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A EMERGÊNCIA DE UM NOVO SABER GEOGRÁFICO: O RETORNO DA CIÊNCIA À FILOSOFIA.

The emergence of a new geographic knowledge: the return of science to philosophy

Roberison Wittgeinstein Dias da Silveira Mestre e Doutorando em Geograia pela IG-Unicanp Campinas/SP – Brasil silveira_r@yahoo.com.br

Antônio Carlos Vitte Doutor em Geograia Física pela USP Professor do Departamento de Geograia, Programa de Pós – Graduação em Geograia – IG – Unicamp.

Pesquisador CNPq Campinas/SP – Brasil

vitte@uol.com.br

Artigo aceito recebido para publicação em 11/10/2010 e aceito para publicação em 13/04/2011

RESUMO: No cenário atual do conhecimento, a separação outrora traçada entre ciência e Filosoia encontra seu ponto limite, cabendo agora uma nova unidade. A Geograia, nesse contexto geral do saber, encontra a

justa forma de sua história fracassada enquanto ciência moderna e, ao mesmo tempo, a função pioneira de para além dos limites caminhar. Perdida em sua falta de unidade investigativa, em sua esquizofrenia

Física/Humana, lida a Geograia com o ponto nodal de toda a diiculdade contemporânea do saber, na

medida em que, nesse nada ser, busca a compreensão geral da unidade posta ao mundo pela relação

do homem com a natureza. Propriamente aqui, onde se funda toda a diiculdade histórica da análise geográica, toma forma um saber que transcende a barreira criada pela cisão entre Filosoia e ciência.

Palavras-chave: Filosoia. Ciência moderna. Geograia.

ABSTRACT :In the current scenario of knowledge, the separation between science and Philosophy inds its limit, searching now a new unit. Geography, in this context of knowledge, presents its failed history while modern science and, at the same time, its capacity for moving beyond the limits. Lost in its lack of investigative unit, in its schizophrenia Physical/Human, Geography deals with the nodal point of all contemporary dificulty of knowledge, in that seeks the understanding of the world unit by the relationship of man with nature. Just at this point, where all historical dificulty of geographic analysis is founded, takes form a knowledge that transcends the barrier created by the split between Philosophy and science.

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INTRODUÇÃO

Emerge no debate geográico um novo tempo, imaturo ainda para que a dimensão de sua atividade possa ser reconhecida; para que se vislumbre à dis-tância um ruir que anuncia as formulações que agora se engendram. A Geograia se vê as voltas com um refazer de si que é retorno, que é retomada do que deixado fora em nome de uma especialização do saber sob a igura de uma ciência moderna. Hoje, no alvorecer de seu novo dia, mostra a face deformada, uma caricatura de si em que, símbolo do teatro e da comédia, como é sua história, se parte ao meio em duas expressões distintas.

Trataremos de mostrar que o cenário recente da Geograia, e em especial uma proposta geográica, anuncia esse quadro de mudanças e faz ver ao olho atento que os sentidos do geográico precisam mudar porque mudaram, e, o mais importante, que em nosso tempo se põe como fundamental uma nova postura cientíica, que não por acaso mostra suas primeiras manifestações na Geograia. De maneira mais clara, pretendemos mostrar o caminho suscitado por uma Geograia que pretende, em último sentido, superar uma dicotomia que é a representação acabada do pro-blema geral posto ao saber; falamos, evidentemente, da repisada divisão entre uma Geograia Física e outra Humana. Mostraremos como esse debate reúne toda a diiculdade contemporânea do saber e, mais do que isso, como, por sua manifestação viva no cenário epistemológico geográico, começa a despontar em sua resposta uma reformulação do saber que será, em pouco tempo, uma necessidade geral de todo conhecer que se pretenda legítimo e que busque mais do que a esfera técnica de controle e atuação.

A RUPTURA ENTRE AFILOSOFIA E A CIÊN-CIA MODERNA

A nossa premissa é que há uma tendência geral de aproximação dos campos cientíicos (BOURDIEU, 2003) com a ilosoia que foram separados durante a formação da ciência moderna. É neste cenário que Geograia se ediicou como ciência moderna e enfrenta seus problemas epistemológicos a partir dessa carência investigativa de cunho ilosóico.

O caminho tomado pela ciência moderna no inal do século XVIII e início do século XIX gerou uma série de ramiicações e especializações que vi-savam o domínio cada vez maior da esfera empírica de investigação e que, em contrapartida, excluía do universo cientíico a busca por uma verdade última ou pelo fundamento essencial da realidade. A ciência moderna, pretensamente buscou a verdade, que seria alcançada por meio da reunião de um conhecimento meticuloso sobre o mundo para a composição de uma explicação cada vez mais sóbria e válida acerca da re-alidade. Tinha-se a ilusão, como em especial acontece nos campos da Física, da Química e da Biologia, que se caminha, a cada descoberta, na direção da com-preensão do que somos, do ser-em-sina direção das respostas elementares e essências de toda existência. Ao longo dos tempos, tal premissa demonstrou-se impossível, pois os campos disciplinares icaram des-conectados de suas premissas ilosóicas, no momento de gênese moderna das Ciências.

A primeira premissa ilosóica, e que parece relativamente respondida pelas Ciências, é quanto ao caráter material da realidade (BUNGE, 2010). As ciências modernas em geral, e em especial as Ciências Naturais, partem do pressuposto de que seu objeto é um recorte da realidade. Há aqui um duplo problema ilosóico: o de apontar um objeto como real e o de sugerir um recorte analítico dessa realidade. Quando falamos de um objeto de análise que é um recorte da realidade estamos dizendo, de partida, que aquilo que examinaremos tem uma existência em si real, ou seja, é atribuída uma primazia da materialidade e uma efetividade do que se dá então como objeto. Essa primeira postura admite que o objeto indepen-dente do sujeito, o que, ilosoicamente falando, é no mínimo arbitrário. A prova de que realmente assim é compreendido o objeto na ciência moderna pode ser facilmente constatado pela crença de que a compre-ensão sistemática pela ciência levará à comprecompre-ensão geral da realidade, enim, que esta nos conduzirá a alguma verdade(BUNGE, 1981).

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de análise, em termos ilosóicos, é dada por Kant (KANT, 1982), que considerou que é a partir do exame crítico das faculdades humanas, em especial da razão, que se chegará à validade e o dimensionamento do em-pírico como única esfera possível de todo e qualquer conhecimento. É na validação de um pressuposto a priori transcendental (KANT, 1982), enim, de uma resposta metafísica, que se origina a validade de toda a investigação empírica. Ora, isso é possível porque, em Kant (1982), o fundamento de toda e qualquer coisa que experimentamos como existente, como empírico, é dado de maneira a priori pelas intuições puras de espaço e tempo. Onde as formas de ligação e articulação do mundo são, em geral, postulados necessários dados pelo a priori do entendimento, conforme enunciado na Analítica dos Princípios, da Crítica da Razão Pura, particularmente na segunda e na terceira analogia da experiência (KANT, 1982, p.61-70). Tanto a deinição do campo da experiência, quanto às formas de ligação que nele se reconhecem, diz respeito ao sujeito e ilosoicamente, o domínio empírico não tem valor como coisa em si, ou seja, o empírico pertence a esfera fenomênica, pressuposta e legitimada pela aceitação dos argumentos expostos por Kant 1982)( na defesa de um a priori da intuição, do entendimento e da razão.

Para Kant (1982) a Ciência (de base newtonia-na) não deveria trabalhar com questões ilosóicas; erro que o próprio Kant (1992, 1995) tratou de concertar na medida em que percebeu que a metodologia newto-niana não dava conta de explicar as diversidades da natureza, pois a regulação, a ordenação e mesmo o pôr do mundo não poderiam ser admitidos como resultado da experiência e sim como dados a priori, para e no qual nenhum domínio empírico pode algo acrescer. O início de este questionar em Kant, inicia-se com a obra Primeiros Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza(KANT, 1990), em que o ilósofo de Köni-gsberg, permite ao cientista procurar a verdade, que é a composição de explicações e ordenações seguindo as orientações gerais da razão a priori. O cientista não isola um objeto, mas um fenômeno aplicando os pressupostos da faculdade de entendimento, como por exemplo, com o uso dos princípios causais, na compreensão de um dado fenômeno. A conformidade dos princípios adquiridos em um fenômeno pode se

estender a todo campo fenomênico, pois se trata de um mesmo domínio dado pelos mesmos pressupostos a priori da razão.

A Ciência Moderna e sua esfera técnica de controle e atuação constroem o fetiche de domínio da realidade, fato que segundo Heidegger (1997) preen-che o vazio da metafísica, a Ciência Moderna trans-forma-se ela no substituto ilosóico da modernidade. Para os defensores do indutivismo restaria apenas a busca de uma regularidade que seria fornecida pelo próprio objeto, competindo à razão somente o trabalho de traduzir em linguagem lógica e, de preferência, matemática, as condições gerais de uma ordenação colocada e dada efetivamente pelo mundo. É nesse cenário intelectual que começam a se fortalecer as ciências em seu caráter moderno, com métodos que caminham na direção do objetivo e são construídos de forma diferenciada de acordo com a demanda do objeto. Em poucas palavras, deu-se, com a ignorância da discussão ilosóica, a tomada dos pressupostos e conceitos como se fossem já prontamente dados e sem que os cientistas se atentassem para o fato de que a escolha de um método implica, de antemão, uma visão geral da realidade, pela qual se estabelece os princípios e a forma de proceder diante de qualquer objeto e, mesmo, de reconhecer como tal qualquer objeto da ou na experiência.

Mesmo o positivismo lógico guardou alguns dos problemas decorrentes desse fortalecimento da crença na empiria como coisa em si e, o mais impor-tante, no fortalecimento de uma ilusão que leva a crer que as linguagens lógicas e matemáticas são capazes de compor uma ordenação pertencente ao mundo.

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complexidade na Biologia, na Química, até atingir seu ponto máximo de complexidade na esfera social. Signiica isso que o agrupamento de informações e dados quantitativos, bem como a especialização do conhecimento necessária e remetidos a uma visão geral de maior complexidade.

A concepção positivista de mundo assumia diferentes formas metodológicas de acordo com os ramos especíicos do saber, como na Física onde o fundamento do método é a experiência, na Bio-logia a comparação, na Astronomia a observação (BORDEAU, 2008), mas todas as metodologias assentavam-se no campo comum do valor da em-piria como realidade e no reconhecimento de uma lei que deveria partir do simples para o complexo. Esta concepção representou um recuo signiicativo da complexidade ilosóica, legitimando-se teori-camente na proposição de uma ordem do mundo, a ser descoberta e desvendada pela linguagem matemática.

O positivismo Lógico não se pretendia uma separação entre ciência e Filosoia, ao contrário, imaginava-se, um sistema ilosóico que justiicava a postura e condução da ciência para além de uma perspectiva fenomênica limitada ao aparato trans-cendental do sujeito, ainal, tratava-se de apontar os pensamentos teológico e metafísico como for-mas retrógadas de proposição do saber humano. Entretanto, acabou-se na verdade por suplantar os argumentos ilosóicos mais elevados, como o fato necessário de o mundo ser dado para nós, antes de mais, pelo pôr em pensamento. A consideração do mundo e de nós como algo outro é já fruto de um pôr disso tudo por um “eu”, de modo que relegar essa importante questão ao universo fantasioso de uma teologia ou a uma pejorativa concepção de metafísica é suprimir elementos da investigação ilosóica e simpliicar erroneamente a compreen-são do que seja a realidade. Assim, a tentativa de compor um sistema ilosóico em unidade com a ciência acabou por distanciar ainda mais estes dois domínios, deixando de lado a relexão necessária sobre as premissas adotadas e admitindo, arbitraria-mente, que o mundo poderia ser considerado em si a partir da empiria e que, como tal, seria regulado e retratado por uma linguagem lógico-matemática.

No entanto, não devemos desprezar o positi-vismo lógico, pois há nele uma proposta ilosóica, a tentativa de oferecer uma ilosoia capaz de servir como fonte de premissas conceituais para toda e qualquer ramo disciplinar; de modo especíico, a linguagem lógico-matemática seria a voz ressoante em todas as áreas do conhecimento, se estendendo desde a Física até a explicação sociológica. A falha, como advertimos, foi propor de forma supericial e rasteira tal sistema, sem as considerações prelimi-nares e sem a investigação mais elevada que exige o tema na Filosoia. Como conseqüência, houve não a unidade que se pretendia, mas um caminho cada vez mais especializado e diferenciado metodologi-camente dentro das inúmeras disciplinas cientíicas. Assim, libertas por Kant da investigação ilosóica e, em muitos casos, justiicada erroneamente a partir do positivismo, puderam as ciências direcionar seu método às demandas do objeto e do objetivo. Como dissemos anteriormente, a variação metodológica de acordo com o objeto implicou numa diversiicação das concepções de mundo subjacentes às teorias e análises em cada ciência. Sem uma investigação ilosóico-metafísica ou erroneamente estruturadas sobre um sistema positivista, as ciências começa-ram, no diferenciar metodológico que exigia seu objeto e seus objetivos, a falar línguas distintas, de maneira que a relação entre elas se tornou mesmo insustentável, imaginando cada uma em seu domí-nio caminhar no rumo da verdade pela compreensão cada vez mais apurada e detalhada a partir de seus métodos, cujos pressupostos ilosóicos nem de longe haviam sido discutidos.

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GEOGRAFIA: DE SUA GÊNESE MODERNA À DICOTOMIA FÍSICO/HUMANO

Tomando como ponto de partida a sepa-ração entre Filosoia e Ciência, podemos destacar uma característica singular na gênese moderna da Geograia: sua unidade cientíico-ilosóica. Quando falamos dos fundadores do saber geográico, quase sem nenhuma polêmica, identiicamos as proposições de Ritter e Humboldt como as grandes aglutinadoras de um conjunto de trabalhos em torno do que seria o cerne de toda e qualquer investigação que atenda, em seu sentido moderno, pelo nome de geográica: a expressão das interações e relações entre o homem e natureza. Sabemos que as propostas de Humboldt e Ritter eram integradoras, ou seja, pretendiam e ana-lisavam o mundo em sua interação com o humano sob a perspectiva da unidade(ANDRADE, 2006). Chamadas por Moreira (2006) de holistas, as propostas de Ritter e, em especial, de Humboldt, eram muito mais do que conhecemos hoje sob o nome de ciência, eram, isto sim, um conluir ilosóico-cientíico, no caso de Humboldt, também artístico. E não poderia ser de outro modo, ainal, a tarefa de pensar o mundo em sua unidade, bem seja, a relação entre homem e natureza como coisas indissociáveis, era uma tarefa que, então, não podia se limitar ao universo restrito da ciência e, tampouco, à pura abstração da Filosoia. Tratava-se, de fato, de não só unir homem e natureza, mas pensar como seria possível, na análise do mundo, do “Cosmos”, propor em síntese as esferas subjetiva e objetiva, ideal e material. O objeto colocado en-tão como a expressão dessa relação entre homem e natureza estava carregado de um debate ilosóico profundo, representado pelas proposições de Kant, Fichte, Goethe, Schelling, Schopenhauer e Hegel, contemporâneos e muitos deles próximos dos referidos autores, especialmente de Humboldt. Assim, quando se pretende aqui falar de gênese da Geograia moder-na, fala-se, igualmente, da proposição inicial de uma análise do mundo a partir de uma leitura elevada da relação entre homem e natureza em uma perspectiva cientíico-ilosóica (SILVEIRA, 2008).

Vimos, entretanto, que havia uma tendência geral para a separação entre Filosoia e Ciência no período, não nos esquecendo, evidentemente, que

tal tendência, como haveria de ser, estava sendo contrabalançada por propostas que caminhavam na direção oposta, atreladas então ao que se poderia rotular supericialmente como idealismo romântico alemão (BEISER,2003), para não irmos muito além das esferas filosóficas e adentrar nas concepções cientíicas vitalistas que, inclusive, inluenciaram Humboldt. A tendência contrária a uma ruptura entre Filosoia e Ciência, na verdade avessa à separação do saber como um todo, e inclusive do sentimento e suas expressões estéticas e artísticas, foi um importante ponto de referência e mesmo o fundamento intelectual e cultural que permitiu à Geograia uma condição de sistematização moderna extremamente singular, uma vez que, ao contrário do que se supunha então como legítimo campo disciplinar investigativo, com seus domínios especíicos, fazia-se, de uma então Geogra-ia Comparada, no caso de Ritter, ou de uma Ciência Humboldtiana do Cosmos, tomada então como geo-gráica, a construção e constituição de uma ciência cuja característica fundamental era, e só poderia ser pela demanda de seu objeto, a unicidade cientíico--ilosóica. Dizemos que só poderia ser deste modo justamente porque a proposição inicial era a tomada do homem e da natureza em seu caráter unitário, o que a ciência estritamente concebida jamais poderia alcan-çar metodologicamente, recorrendo, desse modo, ao aporte teórico de uma rica Filosoia acerca do tema no período (CUNNINGHAM e JARDINE,1990; VITTE e SILVEIRA, 2010)

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geográico deixará à margem uma importante relexão que modiicou estruturalmente o saber geográico em toda a sua construção histórica. De fato, não há de nossa parte qualquer manifestação que pretenda negar o fato histórico de que a Geograia tomou lugar na academia a partir das demandas sociais de inal do século XIX. Entretanto, destacamos que a centralidade das diiculdades epistemológicas que se seguem na Geograia moderna reside efetivamente naquilo que é secundário em Capel (1981): a “lógica interna do conhecimento cientíico” (p. 80, trad. nossa). Quando se pretende colocar em segundo plano os fundamentos conceituais, dizendo que foram menos importantes do que as suas fontes materiais e sociais e que, quando foram fundamentais acabaram estes conceitos sendo retirados das antigas ciências constituídas e não das propostas inaugurais de Humboldt e Ritter, deixa-se de lado o fato de ser justamente essa desiguração, aliada a uma manutenção das propostas inaugurais, que levou a inconsistência epistemológica da Geo-graia moderna.

Vimos que há um cenário geral de separação entre Filosoia e Ciência no momento de formação da ciência geográica moderna; onde a Geograia toma forma sistemática com as propostas diferenciadas e integradoras de Humboldt e Ritter, quer dizer, pro-postas que caminhavam na contramão das tendências gerais da Ciência em seu processo de sistematização. Do mesmo modo, acabamos de destacar que o pro-cesso de institucionalização e consolidação do saber geográico não caminhou na direção proposta pelos fundadores da Geograia, acabando por tomar o rumo ordinário dos saberes modernos constituídos, empres-tando aqui e acolá os métodos de análise das ciências então constituídas, como a Geologia e a Historia. Entretanto,a noção central de um campo de relação entre o homem e a natureza, então representados na superfície terrestre foi mantida, muito embora houve uma despolitização ilosóica desta noção e por conse-quencia um empobrecimento epistemológico da Geo-graia. O objeto central da Geograia, justamente esse campo de interação natural e humano seguiu como o centro de sua investigação cientíica, com conceitos e categorias de análise com signiicados diametralmente opostos aos empregados pelas formulações originais de Humboldt e Ritter.

Essa continuidade e diferença são por demais evidentes na caracterização da Geograia como ciência de síntese, quer dizer, o sentido de pensar as formas de representação da relação entre o homem e a natureza foi mantido, contudo, a carência de uma estrutura ilosóica, gerou a necessidade de compor a Geograia como um grande compêndio de informações geográ-icas, recolhidas então sob as categorias de região, de território, por exemplo, a im de, nessa aglutinação espacial dos dados, promover a representação neces-sária do objeto de estudo da geograia: a integração e expressão das relações humanas e naturais.

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A entrada do positivismo lógico (LENCIONI, 1999)nas análises geográicas, de algum modo, pretendia justamente uma unidade metodológica na Geograia, permitindo então que as então desconexas natureza e sociedade pudessem ser concebidas sobre uma base comum e, desse modo, pudessem compor o campo das interações, e não simplesmente a aglutinação das informações pelas categorias geográicas. O positivismo lógico pretendia ser uma conluência entre ciência e Filosoia, e, nesse sentido, poderia ter funcionado para estabelecer uma unidade dos saberes que povoam o uni-verso da Geograia. Não obstante, as formulações gerais positivistas, por seu fraco reletir e propor ilosóico, não tinham condições de sustentar como válidas as leituras estritamente simplistas de um mundo posto em uma linguagem lógico-matemática, especialmente quando pretendiam, nessa leitura, retratar o componente humano no campo de interação físico-social. Aqui, o caldo ilosó-ico requerido para conceber a relação do humano com a natureza e, mesmo, para situar e pôr esse humano em sua complexidade, não foi suiciente, e as contradições do que se tinha então como realidade a ser observada distava em grande medida do que propunha explicar a ciência geográica. Não podemos dizer, que o positi-vismo lógico foi um projeto cientíico pouco eiciente, ainda que, todo saiba pelas advertências do pensamento crítico, tenha servido a interesses que representam um longo processo de dominação ideológica e política. Não devemos deixar de notar que no positivismo lógico uma parte considerável do problema epistemológico geográ-ico estava reduzida, não em favor de uma solução, mas a favor de uma mudança de postura e atitude cientíica que, de algum modo, resolvia as demandas ilosóicas do objeto da Geograia.

Pensada em seu interesse pragmático e estri-tamente objetivo, a ciência geográica sob o método positivismo lógico era capaz de colocar numa mesma base, a matemática e a geometrização do espaço,a natureza e o humano. Assim, o humano poderia ser inserido como dado em uma equação matemática, ou seja, como uma variável que responderia, através dos índices estatísticos, a uma série de tendências que, por sua vez, encontravam uma série de variáveis e tendências naturais igualmente exprimidas matema-ticamente, compondo desse modo um campo de inte-ração físico-humano a partir dos números e projeções

matemático-estatísticas. Eiciente, essa leitura atendia bem ao planejamento, atendia à demanda técnica e prática e, acima de tudo, era internamente coerente.

A ciência moderna, em seu abandono da investigação ilosóica, não pode caminhar no rumo da compreensão da realidade e, tampouco, na elucidação de qualquer verdade, ainal, trata de utilizar o método para atender as demandas do objeto e do objetivo e nunca de resolver as questões fundamentais da realidade ou de chegar ao campo das essências (o debate ontológico-metafísico). Assim, o positivismo não foi nem mais nem menos eiciente na busca de qualquer verdade, a não ser por partilhar, em conjunto com as outras ciências e cientistas, a crença de nesse sentido de caminhar.

Diante desse cenário geográico, as propostas de uma via crítica, apoiadas no pensamento de Marx (QUAINI, 1983) vieram trazer nova luz ao debate epistemológico geográico, na verdade, é nesse mo-mento de crítica que de fato uma consciência acerca das possibilidades e limites da Geograia começa verdadeiramente a surgir e a ser conscientemente enfrentada. A sequência de debates suscitados por La-coste em 1974, que anteriormente já havia destacado as contradições e misérias mascaradas pela suposta metodologia isentam do positivismo, anuncia a crise epistemológica geográica e denuncia sua falta de orientação metodológica, além do completo abandono dos geógrafos com relação às teorias. A aplicação de modelos no positivismo lógico ou a manutenção das bases de uma Geograia Tradicional resultavam no iso-lamento cientíico geográico e no abarcar aleatório de concepções e métodos, além de reforçar uma divisão entre uma chamada Geograia Física e outra Humana, quando em verdade advogavam os geógrafos, há todo momento, que seu saber caminha na relação entre os fatores sociais e naturais.

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nossa condição no mundo já não é posta como ativi-dade intelectual, porque ao tempo que conhecemos a verdade da lei e dos números renunciamos àquela que se comunica diretamente com a mudança da condição posta. As disparidades entre uma lutuante e abstrata formulação teórica e as contradições e demandas de um mundo real em sua miséria e dominação eram o ponto central a ser atacado, destacando a esse tempo que as teorias supostamente imparciais atendiam a interesses bem especíicos e que, no plano das idéias, reletiam os embates reais, materiais, que se sucediam nas trincheiras do dia-a-dia, nos hábitos, nos valores e nos sentidos impostos à existência. A idéia de que o positivismo pretendia tratar com isenção a realidade é atacada por essa via “radical”, na medida em que os dados e as fórmulas matemáticas mascaram ten-sões importantes da sociedade e, o mais importante, se mostram propositalmente incapazes de explicar a origem e as formas de superação dessa condição. Compromissadas e reféns dos interesses do processo de acumulação, as correntes positivistas não deixavam espaço para uma análise crítica das condições postas, portanto, ser isento nesse contexto era estar aliado aos interesses hegemônicos.

O que reaparece aqui, sem a consciência dos próprios marxistas geógrafos, é a necessidade de uma resposta ilosóica válida na análise do objeto geográico. A falta de coerência do positivismo só pode ser encontrada na medida em que ele falseia uma explicação da realidade, ou seja, na medida em que se admite a existência de uma reposta real a ser dada, ainal, se não fosse assim não haveria uma crítica à legitimidade do positivismo.

O que se coloca é que para além das condições políticas de um mundo bipolar e suas representações ideológicas, há uma lacuna deixada pela falta de um debate ilosóico elevado capaz de fundamentar uma postura ontológica válida; é nisso que reside a recu-peração de Marx, no sentido de que sua proposição ilosóica é a base de uma compreensão geral aliada aos elementos materiais da realidade em seu caráter cientíico. O materialismo-histórico-dialético1defende

que, para além de uma indicação oferecida pelos ob-jetivos do pesquisador, o método deve estar, antes de

1 Em artigo que estamos elaborando faremos uma análise da proposta de

uso do materialismo histórico e dialético na geografia.

mais, em conformidade com a própria realidade. Não se trata de elencar e escolher o método segundo o bel prazer do pesquisador, mas de tratar o objeto segundo a concepção geral ilosóica que se reconhece para e na realidade, trazendo para o método as expressões teóricas dessa concepção. Isso é um salto qualitativo muito grande na proposição cientíica moderna, uma vez que, ainda sem consciência de fazê-lo, coloca o problema para as ciências de terem que encontrar uma legítima resposta ilosóica para a realidade, a im de, a partir dela, construírem uma análise cientíica coe-rente. A grande questão aqui é que o sistema ilosóico proposto, se pretende ser válido, deve ser concebido sem qualquer incoerência e, acima de tudo, ser capaz de agrupar tudo o que se dispõe como realidade, seja numa perspectiva subjetiva ou objetiva; seja numa perspectiva humana ou natural; seja numa perspectiva ideal ou material.

PARA ONDE CAMINHA A CIÊNCIA E, COM ELA, A GEOGRAFIA?

Ruy Moreira (2006) em seu Para onde vai o pensamento geográico?, Fazendo um breve apanhado histórico, que revela, evidentemente, toda a iliação metodológica que o ligou ao pensamento crítico dentro da Geograia, demonstrou que os desaios são ainda aqueles colocados no início desse movimento crítico marxista dentro da ciência geográica. Atestando as-sim, que não se trata de falar de uma pós-modernidade, com demandas outras ou estruturas epistêmicas di-ferenciadas, mas de uma extrapolação daquilo que já se anuncia na modernidade; trata-se, portanto, de uma hipermodernidade, que reclama, igualmente, a superação das condições ideológicas que povoam o universo do conhecimento e, evidentemente, sua fonte, o mundo real de que foram paridas.

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so-bre uma unidade de investigação? Qualquer estudante do primeiro ano do curso de Geograia ouve e trata dessa falta de unidade investigativa, retratada no mais das vezes a partir da dicotomia entre uma Geograia Física e outra Humana. Acertadamente nesse ponto, o colocar dessa dicotomia revela muito do que fomos historicamente enquanto Ciência e, mais oportuno ainda, o colocar dessa divisão caminha na direção de uma resposta à pergunta sugerida por Moreira (2006): “Para onde vai o pensamento geográico?”. O que devemos agora esclarecer com essa airmação é: por que a separação entre uma Geograia Física e outra Humana é tão importante para os rumos da Geograia contemporânea? De pronto, podemos dizer que a raiz da dicotomia no saber geográico é o ponto de conlu-ência do saber contemporâneo e, mais do que isso, que somente na elucidação desse ponto central poderemos entender as demandas atuais de nossa ciência.

O panorama geral do conhecimento é caracte-rizado por um extenso domínio de especialidades que puderam atingir níveis de detalhamento nunca antes imaginados, haja vista a consideração do objeto como um recorte especíico da realidade e a promulgação de uma liberdade cientíica com relação às demandas ilosóicas. Em geral, podemos dizer que o caráter atual do saber cientíico encontrou sua justa forma na separação que destacamos entre Filosoia e Ciência, cabendo à primeira somente o fornecimento de pre-missas, gerando assim a chamada Filosoia da Ciência, que procurou um estatuto as demandas do objeto ou dos objetivos traçados na análise.

A Filosofia deixou de representar para a Ciência uma explicação de mundo, enquanto, na verdade, não deixa de fazê-lo, na medida em que na consideração do objeto e na deinição do método já está o cientista, sem saber, tomando para si e para sua análise uma visão geral da realidade, pela qual cami-nha e estende o domínio de sua investigação empírica.

O resultado desse livre vôo das ciências em seus domínios especíicos começa a esbarrar, já há algum tempo, nos limites da pressuposição ilosóica que adotam os cientistas sem o saber; quer dizer, a concepção de um mundo dado como passível de fragmentação em objetos de análise e a medida de uma realidade em si independente não conseguem mais oferecer a ilusão de uma resposta convincente.

O campo teórico-metodológico começa a apresentar carências explicativas no trato das problemáticas e, nesse sentido, projeta-se que a solução não poderá vir com a manutenção das ferramentas metodológicas atualmente dispostas ao pesquisador.

Lentamente a Ciência começa a buscar na proposição de questões ilosóicas a tentativa geral de compreender a realidade para além do objeto especíi-co, procurando enquadrá-lo em uma teoria geral capaz de abarcá-lo como caso singular. Este é o percurso de construção de um sistema ilosóico, que os físicos, os biólogos, os químicos, por exemplo., começam a trilhar. Cada vez mais a sociedade e as ciências co-meçam a tomar consciência de que o mundo é uma trama onde se desenvolvem teias e cadeias, relativas e redeinem os campos cientíicos e potencializam novas visões epistemológicas (DUTRA, 2010).

O resultado mais patente desse processo é notado numa tendência geral em torno da interdisci-plinaridade; no reconhecimento, por parte de alguns, de que é necessário recompor em unidade tudo o que foi acumulado no campo especíico de cada domínio cientíico. As diiculdades dos cientistas como em ge-ral não podem ver, é que nunca caminharam na direção de uma verdade, mas que compuseram explicações a partir de métodos diversiicados e mutuamente excludentes, ainal, se cada método representa uma visão de mundo, um sistema ilosóico subjacente, como poderia então dialogar estas ciências e seus mundos contrapostos? Essa diiculdade é ainda maior quando pensamos na divisão que tomou forma entre as ciências chamadas Humanas e as ciências Naturais. Excetuando o positivismo que pretenderam integrar sobre uma base matemática estes dois domínios, o caminho apresentado por eles, no que diz respeito ao método, é totalmente divergente e excludente.

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lembrado disso quando os próprios limites metodoló-gicos começaram a anunciar, no campo da Física, que há uma indeterminação posta pela própria presença do observador. Limitada aqui a uma inluência objetiva, essa interferência do sujeito no objeto deixa ver que há um debate ilosóico que foi relegado ao segundo plano. No caso das ciências Humanas, as diiculdades impostas pela compreensão da dinâmica do homem, seja como indivíduo, seja como sociedade, permitiu, em especial recentemente, a introdução de métodos mais reinados no que se refere ao debate ilosóico.

Todavia, como em geral acontece, não há qualquer possibilidade de ligação destes métodos com o domínio constituído de um saber físico-natural, que adquiriu grande legitimidade pela capacidade técnica de intervenção e pela precisão erigida como estandarte da verdade revelada pelos números e suas equações. Além disso, no que concerne ao próprio homem, não coube às ciências Humanas lidar com a colocação ilosóica do sujeito, do homem, o que seria então uma fundamentação antropoilosóica, ao contrário, pretendeu considerar o homem pela perspectiva da análise cientíica, seja como ser natural e composto por demandas biológicas e genéticas, seja pela considera-ção social ou psicológica do sujeito, inclusive o sujeito proponente da ciência, ou seja, a composição crítica a partir de uma sociologia da atividade cientíica. De todo modo, resta suprimido a investigação ilosóica acerca do homem e a colocação do mundo a partir dele. Mas e para a Geograia, o que representou esse processo de ruptura? E o que representa hoje em seu cenário de discussão epistemológica? Para a Geograia, a ruptura entre Filosoia e ciência repre-sentou a ruína completa de sua proposta de análise. Essa ruptura, que está no caminho de consolidação da Geograia como saber cientíico moderno, signi-ica a impossibilidade de responder às demandas de seu objeto. Vimos que a proposta dos fundadores da Geograia caminhava na direção de uma explicação integrada capaz de dar conta da interação e relação do homem com a natureza, postos mesmo como mu-tuamente dependentes. Sabemos, entretanto, que em sua institucionalização, a Geograia passou a se valer dos métodos oferecidos pelas ciências já constituídas, como a Geologia, a História, compondo grupos e departamentos para analisar, a partir destes métodos,

aquele mesmo objeto colocado por Ritter e Humboldt: o campo de interação e relação do homem e da nature-za. Como já havia na composição dos métodos usados uma divergência e, em especial, um distanciamento profundo com relação ao debate ilosóico, coube aos produtores das teorias geográicas a tarefa de tentar aglutinar tudo isso sob o seu complexo objeto de aná-lise: a Geograia como ciência de síntese. Esse conluir de tudo que nada é fez da Geograia uma caricatura de ciência moderna, ainal, não tinha para si um método de análise deinido e perambulava vadia em meio às outras ciências, tentando encontrar respostas para um objeto que jamais poderia ser explicado por qualquer dos métodos então oferecidos. Em verdade, a Geo-graia nunca encontrou seu “espaço” enquanto ciência moderna, porque não poderia, em tempo algum, ser uma ciência alheia ao debate ilosóico, uma vez que essa relação é uma demanda do seu objeto. Mais do que isso, nunca se encontrou como ciência porque o domínio de seu objeto compreende dois campos que assumiram vias distintas dentro do universo cientíico: o natural e o humano. Nesse sentido, nunca poderia haver uma unidade do saber geográico porque os métodos para pensar a natureza e para pensar o hu-mano carregaram explicações gerais e concepções ilosóicas de mundo diametralmente opostas: como poderia então se falar em um discurso geográico? A Geograia, entre as ciências modernas, é a representa-ção acabada da falência do projeto de integrarepresenta-ção dos saberes. Por isso, por esse nada ser que quer ser tudo, esteve constantemente em crise e nunca se irmou no cenário das ciências.

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reencon-tra sua condição no fracasso de sua sistematização enquanto ciência moderna. Não há espaço para uma Geograia no saber cientíico posto por uma ruptura entre Filosoia e ciência, resistindo somente por força institucional e por incorporar em si, interesses político--estratégicos extremamente relevantes, nesse sentido a crítica constante de atender aos interesses do Estado. A colocação da Geograia enquanto saber transcende a esfera da surrada ciência moderna, representa na verdade a superação de uma condição limitada de saber e, mais do que isso, de todo e qualquer limite ou fronteira disciplinar. A solução do problema con-temporâneo representa para a Geograia a condição de sua existência, por isso deve despontar nela as primeiras respostas efetivas para essa diiculdade geral de separação entre Filosoia e ciência, que é, de fato, a fonte de toda a divisão entre as chamadas ciências humanas e naturais. Reside nessa ruptura a chave para todo o problema epistemológico da Geograia e sua diiculdade continua de se irmar como saber moderno, ainal, em seu objeto com demandas ilosóicas, nunca pôde plenamente explicar-se e deinir-se dentro de um cenário geral de divisão. Restará que, ao término de todo esse processo, longo ainda, não sobrará uma coisa tal como hoje concebemos sob o nome de Geograia, mas um campo de explicação geral das relações e expressões desenvolvidas na interação e relação entre homem e natureza. Em poucas palavras, tomará lugar uma atividade cientíico-ilosóica, cujas fronteiras disciplinares deixarão de existir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos diante de um cenário geral de mudan-ça dos saberes cientíicos constituídos, com demandas tais que os limites disciplinares e os ferramentais metodológicos dispostos nem de perto delineiam uma resposta satisfatória. Explicamos essa condição do saber a partir da ruptura entre ciência e Filosoia, deixando claro que o processo de especialização do saber e seu abandono das questões elementares e pri-meiras resultaram, de um lado, no avanço de conhe-cimentos especíicos e detalhados da esfera empírica como nunca antes suposto ou imaginado, e de outro, numa redução tal da capacidade de pensar o mundo e o homem em sua complexidade e unidade, que não

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conta da proposição de um eu ilosóico, mas somen-te de uma subjetividade cientíica. Nesse sentido, a Geograia Radical ou Crítica falhou na compreensão e consideração do seu objeto de análise: o campo de interação físico/humano, chamado então de espaço geográico. O artigo pretendeu mostrar que, nesse sen-tido, novas contribuições, ainda que sem a consciência de fazê-lo, caminham na superação do problema pelo único caminho possível: a reaproximação entre ciência e Filosoia. Totalmente dependente dessa reaproxima-ção, a Geograia espera aqui a retomada legitima de sua análise e, nessa redeinição de si, o inaugurar de uma tendência geral do saber contemporâneo.

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