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Política fiscal e crescimento econômico no Brasil e na América Latina

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Academic year: 2017

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TEXTO PARA DISCUSSÃO 242•FEVEREIRO DE 2010• 1

Os artigos dos Textos para Discussão da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da

FGV-EESP. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos, desde que creditada a fonte.

Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas FGV-EESP

(3)

Pol´ıtica Fiscal e Crescimento Econˆomico no

Brasil e na Am´erica Latina

Vladimir K¨uhl Teles

5 de Fevereiro de 2010

Resumo

Este artigo desenvolve um modelo de crescimento econˆomico end´ogeno com

d´ıvida p´ublica onde o governo pode alocar seus gastos de diferentes formas.

As-sim, para aumentar gastos em educac¸˜ao ou infra-estrutura o governo tem de se

endividar. Obtˆem-se as condic¸˜oes fiscais pelas quais tais tipos de gastos podem

ter seu efeito maximizado e os limites da sustentabilidade fiscal deste tipo de

pol´ıtica s˜ao determinados. Os resultados deixam claro que os efeitos dos gastos

produtivos do governo sobre o crescimento dependem do tamanho da d´ıvida e

do super´avit prim´ario configurando um cen´ario com equil´ıbrios m´ultiplos. Al´em

disso a equac¸˜ao de crescimento obtida atrav´es do modelo te´orico ´e estimada para

a Am´erica Latina, comprovando as predic¸˜oes te´oricas.

Palavras-Chave:D´ıvida P´ublia, Crescimento End´ogeno, Pol´ıtica Fiscal.

JEL Class:O23, O41, O54.

Fundac¸˜ao Get´ulio Vargas, Escola de Economia de S˜ao Paulo (EESP-FGV), Rua Itapeva, 474, 12o.

(4)

1

Introduc¸˜ao

H´a uma vasta literatura que busca investigar as relac¸˜oes entre a pol´ıtica fiscal e o cresci-mento econˆomico. Diversos trabalhos tˆem encontrado evidˆencias emp´ıricas que uma alocac¸˜ao dos gastos p´ublicos em prol de gastos em educac¸˜ao, sa´ude e infra-estrutura afeta positivamente o crescimento econˆomico (e.g. Aschauer, 1989; Easterly e Rebelo, 1993; Devarajan et al, 1996; Gupta et al, 2005; Chen, 2006). Para os casos espec´ıficos do Brasil e da Am´erica Latina tais evidˆencias s˜ao amplamente comprovadas (e.g. Fer-reira, 1996; Ferreira e Malliagros, 1998; Calder´on e Serven, 2004; Teles e Mussolini, 2010).

Ao mesmo tempo outros trabalhos te´oricos demonstram que o tamanho d´ıvida p´ublica pode afetar o crescimento negativamente (Saint-Paul, 1992; Br¨auninger, 2005). Estes trabalhos utilizam um arcabouc¸o de modelos de crescimento end´ogeno onde os gastos p´ublicos s˜ao em consumo, e portanto, improdutivos. O presente estudo estende estes modelos relacionando d´ıvida p´ublica e crescimento econˆomico em um arcabouc¸o onde o governo pode alterar a composic¸˜ao dos gastos p´ublicos entre gastos com con-sumo e gastos produtivos como em infra-estrutura, educac¸˜ao e sa´ude que podem afetar o produto marginal do capital privado.

Particularmente ser´a considerado o caso onde o governo aumenta os seus gastos produtivos atrav´es de maior endividamento. Assim, a quest˜ao que ser´a respondida ´e qual ´e o limite da capacidade do aumento de gastos produtivos do governo em elevar o crescimento uma vez que estes s˜ao obtidos atrav´es de uma d´ıvida maior. Al´em disso, uma outra quest˜ao que naturalmente ser´a abordada ´e: Quando os gastos produtivos do governo s˜ao auto-sustent´aveis no longo-prazo?

Estas quest˜oes s˜ao de clara importˆancia para o desenvolvimento de pol´ıticas p´ublicas dos pa´ıses uma vez que o senso comum tˆem sido na direc¸˜ao que um aumento de gas-tos produtivos s˜ao suficientes para aumentar o crescimento. Um exemplo disso ´e o Programa de Acelerac¸˜ao do Crescimento (PAC) engendrado pelo governo brasileiro com o objetivo de alavancar o crescimento econˆomico. Os resultados do modelo aqui desenvolvido mostram quais as limitac¸˜oes de tal tipo de pol´ıtica, e como potencializar seus resultados.

(5)

de investimento ´e capaz de aumentar o crescimento econˆomico, em quanto, e quais medidas fiscais seriam importantes para potencializar seus resultados. As sec¸˜oes 2 a 4 apresentam o modelo te´orico e suas implicac¸˜oes. As sec¸˜oes 5 e 6 apresentam a an´alise emp´ırica e as conclus˜oes, respectivamente.

2

Modelo Te´orico

Consideraremos um modelo simples de crescimento econˆomico end´ogeno onde os gastos p´ublicos afetam a produtividade da economia em um arcabouc¸o AK, similar a Barro (1990). Entretanto, diferentemente do modelo de Barro, o governo pode se endividar e aumentos da d´ıvida implicam em queda de investimento, uma vez que absorvem parte da poupanc¸a privada.

2.1

Produc¸˜ao

A func¸˜ao de produc¸˜ao da firmai´e dada por,

Yi =AX α

K1α

i (1)

ondeY ´e a produc¸˜ao da firma,X s˜ao os gastos produtivos do governo, ou seja, gastos que afetam o produto marginal do capital, e K ´e o estoque de capital empregado na produc¸˜ao. Essa func¸˜ao de produc¸˜ao ´e idˆentica `a de Barro (1990), se assumirmos, por simplificac¸˜ao, que a oferta de trabalho ´e igual a 1. Por sua vez o governo delimita a quantidade de gastos produtivos como uma parcela do produto agregado:

X =xY (2)

ondex´e a parcela da produc¸˜ao destinada a gastos produtivos. Substituindo (2) em (1) e isolandoX temos que,

X = (xA)1−1αK (3)

Assim, substituindo (3) em (1) temos que,

Y =ZKx1−αα (4)

(6)

Assim, a func¸˜ao de produc¸˜ao agregada da economia exibe retornos marginais con-stantes para o capital, apesar de que para a firma os retornos sejam decrescentes. Isso ocorre por causa da externalidade dos gastos produtivos do governo. Fica claro tamb´em que a parcela dos gastos produtivos aumenta a produtividade da economia, e, por conseq¨uˆencia, o produto marginal do capital.

A taxa de juros da economia pode ser obtida pela maximizac¸˜ao de lucro das firmas, que leva a relac¸˜ao trivial de que a taxa de juros ser´a igual ao retorno marginal do capital:

∂Y

∂K = (1−α)AX

α

K−α

=r

onder ´e a taxa de juros. Substituindo (3) nesta equac¸˜ao teremos que,

r= (1−α)A(xA)1−αα (5)

Assim, como os gastos produtivos do governo afetam a produtividade da economia, eles naturalmente afetam tamb´em a taxa de juros, que ´e dada pelo produto marginal do capital.

2.2

Governo

O governo gasta uma proporc¸˜ao fixa0< g < 1do produto nacional em seu consumo

G, ou seja G = gY, e tamb´em empresta uma parcela fixa0 < b < 1do produto, de forma queB =bY ´e o montante emprestado pelo governo. Assim, a taxa de variac¸˜ao da d´ıvida ´e dada porD˙ =B, e o governo pagarDde servic¸o da d´ıvida.

O montante de tributos T ´e obtido pela cobranc¸a de 0 < t < 1 sobre a renda da economia, que ´e a soma da produc¸˜ao e do recebimento do servic¸o da d´ıvida pela economia, ou seja,T =t(Y +rD).

Assim, a restric¸˜ao orc¸ament´aria do governo ´e dada pela receita tribut´aria somada ao endividamento igualada `a soma dos gastos produtivos, improdutivos e com o servic¸o da d´ıvida:

T +B =X+G+rD

(7)

alcanc¸ar sua restric¸˜ao orc¸ament´aria. Isso ´e relevante pois estamos assumindo que toda a vez que o governo resolve aumentar seus gastos ele decide, em paralelo, aumentar a sua taxa de endividamento. No nosso caso de interesse, que s˜ao os gastos produtivos do governo, teremos que estes aumentam o produto por elevar a produtividade, por´em o seu aumento implica em um d´eficit maior, de forma que os gastos produtivos tˆem um efeito limitado sobre a economia pois s˜ao financiados por aumentos na d´ıvida p´ublica. Substituindo as equac¸˜oes de comportamento do governo na sua restric¸˜ao teremos a equac¸˜ao de restric¸˜ao orc¸ament´aria intertemporal do governo,

˙

D=gY +xY +rD−t(Y +rD) (6)

2.3

Dinˆamica do Capital

A renda dispon´ıvel dos agentes ´e dada porYd = (1−t)(Y +rD), ou seja, ´e a renda

n˜ao tributada proveniente do ganho de juros e da produc¸˜ao. Vamos assumir um modelo simples onde os indiv´ıduos poupam uma parcela fixa s de sua renda dispon´ıvel, ou seja, S = sYd. A poupanc¸a dos agentes ´e ent˜ao alocada entre investimento privado e

financiamento do governo, logo,I =S−B, de forma que quando o governo aumenta a sua taxa de endividamento diminui os recursos alocados diretamente `a produc¸˜ao. Assumindo que n˜ao h´a depreciac¸˜ao teremos que K˙ = I. Destas identidades segue diretamente que,

˙

K =s(1−t)(Y +rD)−B

Ou, comoD˙ =B, temos que,

˙

K+ ˙D=s(1−t)(Y +rD) (7)

Assim, o sistema (4), (5), (6), e (7) caracteriza completamente o modelo.

3

Dinˆamica da Economia e Equil´ıbrio de Longo-Prazo

Para determinar a dinˆamica da economia temos de avaliar qual a taxa de crescimento de capital f´ısico no equil´ıbrio, uma vez que a relac¸˜ao capital-produto ´e claramente constante seguindo a equac¸˜ao (4). Assim, substituindo (6) em (7) e colocandoY erD

(8)

˙

K = [s(1−t)−(g+x−t)]Y −[(1−s)(1−t)]rD

De (4) e (5) temosY e r, logo substituindo na equac¸˜ao acima, e em seguida di-vidindo porK, temos,

˙

K

K =s(1−t)Zx α

1−α −(g+x−t)Zx α

1−α −[(1−s)(1−t)](1−α)Zx α

1−α D K (8)

A princ´ıpio vamos assumir que h´a equil´ıbrio est´avel na economia, ou seja DK ´e

constante. Neste caso a equac¸˜ao (8) nos informa a dinˆamica de equil´ıbrio do capital, e conseq¨uentemente do produto. No lado direito da equac¸˜ao h´a trˆes componentes que nos mostram os trˆes caminhos pelos quais um aumento dos gastos produtivos do governo afetam o crescimento.

A primeira parte da equac¸˜ao mostra que um aumento em tais gastos aumenta o crescimento, refletindo o seu impacto sobre a produtividade da economia, aumentando a poupanc¸a agregada e o crescimento econˆomico.

O segundo componente da equac¸˜ao se tornaria zero quando o d´eficit prim´ario(g+

x−t) fosse zero. E mostra que o efeito marginal dos gastos produtivos do governo depende do super´avit prim´ario. Isso mostra que quando o governo aumenta os gastos produtivos, como em educac¸˜ao, infra-estrutura ou sa´ude, isso tem um componente perverso sobre o crescimento uma vez que aumenta o endividamento do governo e reduz a poupanc¸a destinada ao investimento privado. Por outro lado, em um caso onde o governo simplesmente realoca seus gastos diminuindo os gastos improdutivos g na mesma quantidade que aumenta os gastos produtivosxo efeito marginal desta pol´ıtica sobre o crescimento seria maior.

O terceiro componente da equac¸˜ao reproduz o impacto indireto dos gastos produ-tivos do governo sobre o endividamento, e, logo, sobre o crescimento. Uma vez que aumentos emxelevam a taxa de juros, e o governo paga juros no servic¸o da d´ıvida, um aumento dos gastos produtivos tˆem um efeito sobre os custos da d´ıvida, elevando in-diretamente a taxa de endividamento do governo. Assim, quanto maior for o tamanho da d´ıvida p´ublica, mais perversa ser´a esta relac¸˜ao e menor ser´a o efeito marginal dos gastos produtivos no crescimento.

(9)

Figura 1: Estabilidade do Equil´ıbrio

educac¸˜ao e sa´ude, ou quaisquer outros gastos produtivos, impulsionem o crescimento em economias onde o tamanho improdutivo do governo e a relac¸˜ao d´ıvida-PIB sejam menores.

Para verificar se h´a equil´ıbrio de steady-statena economia a caracteriz´a-lo temos de verificar a dinˆamica da d´ıvida. Assim, substituindo (4) e (5) em (6) e dividindo por

Dtemos,

˙

D

D = (g+x−t)Zx α

1−αK

D + (1−t)(1−α)Zx α

1−α (9)

Assim, para que as taxas de crescimento deK e de Dsejam constantes, ou seja, haja um equil´ıbrio, ´e necess´ario que a relac¸˜ao KD seja constante, ou seja, que

˙

K K =

˙

D D.

Para ilustrar essa condic¸˜ao vamos considerar a Figura 1 onde as equac¸˜oes (8) e (9) s˜ao plotadas em um exemplo onde(g+x−t)<0e h´a equil´ıbrio.

(10)
(11)
(12)

econˆomico ´e localmente est´avel e o segundo, caracterizado por baixo crescimento e elevada raz˜ao d´ıvida-PIB ´e inst´avel.

Na Figura 2 avaliamos a situac¸˜ao onde em uma economia que se encontra em equil´ıbrio h´a um aumento de gastos do governo improdutivos (g). Neste caso a curva do crescimento do capital se desloca para baixo e a de crescimento da d´ıvida para cima. Se a economia estiver inicialmente em uma situac¸˜ao de equil´ıbrio est´avel com alto crescimento isso implica em uma queda do crescimento econˆomico de steady-statee aumento da raz˜ao d´ıvida-PIB. Em uma situac¸˜ao extrema de aumento excessivo de gastos improdutivos as duas curvas n˜ao se cruzam mais, o que significa que a taxa de crescimento da d´ıvida seria maior que a da economia, implicando em um aumento explosivo da d´ıvida e um colapso absoluto da economia. Esse seria o caso claro onde n˜ao haveria equil´ıbrio desteady-state. Este resultado ´e basicamente o mesmo obtido por Br¨auninger (2005).

Por´em o caso que estamos mais interessados e que o presente artigo visa fornecer alguma contribuic¸˜ao ´e o de aumentos de gastos produtivos do governo. Este ´e o caso ilustrado pela Figura 3. Com um aumento dos gastos produtivos (x) as duas curvas mudam de inclinac¸˜ao. No caso em que a economia se encontra no steady-state est´avel o crescimento econˆomico aumenta, assim como a raz˜ao d´ıvida-PIB. Isso ocorre porque o custo fiscal de se aumentar esse tipo de gastos ainda ´e pequeno diante dos ganhos de produtividade proporcionados. Como conseq¨uˆencia, a economia ainda tem o fˆolego fiscal necess´ario e uma pol´ıtica desse tipo ´e bem sucedida. Por outro lado, no equil´ıbrio com alta relac¸˜ao d´ıvida-PIB o efeito sobre o crescimento e um aumento dos gastos produtivos ser´a negativo, embora o efeito sobre a relac¸˜ao d´ıvida-capital seja incerto pois depender´a da inclinac¸˜ao das curvas, que ´e determinada pelos demais parˆametros do modelo.

(13)

4

Sustentabilidade da Pol´ıtica Fiscal

Uma vez que entendemos os limites fiscais dos gastos produtivos do governo uma quest˜ao que naturalmente surge ´e se estes s˜ao sustent´aveis do ponto de vista fiscal. Em outras palavras, se o governo aumentar seus gastos produtivos o ganho de tributac¸˜ao oriundo de um maior crescimento obtido ser´a suficiente para manter o equil´ıbrio orc¸a-ment´ario do governo?

Isso ocorrer´a apenas quando o aumento do crescimento for maior ou igual ao au-mento da d´ıvida, reduzindo ou pelo menos mantendo a raz˜ao d´ıvida-PIB no seu pata-mar inicial. Logo, podemos dizer que a condic¸˜ao da sustentabilidade fiscal dos gastos produtivos do governo ´e,

dKˆ dx ≥

dDˆ dx

ondeKˆ = ˙K/KeDˆ = ˙D/D.

Utilizando as equac¸˜oes (8) e (9) e fazendo algumas manipulac¸˜oes para isolar x

chegamos `a condic¸˜ao dada por,

x≤ α{s(1−t)−[(1−t)(1−α)][1 + (1−s)

D

K]−[(g−t)(1 + K

D)]} K

D + 1

(10)

Logo, existe um limite segundo o qual o governo pode aumentarxde forma fiscal-mente sustent´avel. No caso em que a economia est´a emsteady-stateeste ser´a o mesmo valor para que ela se mova e continue em equil´ıbrio.

Este x cr´ıtico depende de diversos parˆametros da economia. ´E poss´ıvel ver, por exemplo, que em pa´ıses com elevada taxa de poupanc¸a se externalidade dos gastosα

oxcr´ıtico ´e maior. Por outro lado, pa´ıses onde o governo tem um gasto improdutivog

maior o limite de gastos produtivos que s˜ao sustent´aveis ´e menor.

Assim como os efeitos dos gastos produtivos do governo sobre a taxa de cresci-mento dependem de outras vari´aveis fiscais e estruturais da economia, o mesmo ocorre com a sua sustentabilidade fiscal.

5

Evidˆencias Emp´ıricas

(14)

gov-erno. Logo, para testar a validade destas implicac¸˜oes temos de estimar uma equac¸˜ao de crescimento onde os gastos produtivos do governos afetem o crescimento, por´em incluindo interac¸˜oes com a raz˜ao d´ıvida-PIB e com o super´avit prim´ario.

Com um painel de dados para pa´ıses da Am´erica Latina utilizamos uma especificac¸˜ao tradicional de modelos de crescimento (ver Durlauf et. al., 2005) onde o crescimento depende de valores defasados no n´ıvel de PIB per capita e de demais controles, al´em da vari´aveis de interesse. Logo o modelo de regress˜ao ´e dado por,

grit =αyit1+γ0xit+γ1xit∗superavitit+γ2xit∗Dit/Yit+wit′ β+ui+eit (11)

ondegr ´e a taxa de crescimento do PIB per capita. A vari´avelyit1, o PIB per capita

defasado, busca capturar o componente de convergˆencia de crescimento, e o vetor w

inclui os demais controles previstos na literatura, como as raz˜oes investimento-PIB (INV) e tamanho do governo-PIB (GOV). As vari´aveis de interesse s˜ao xit e suas

interac¸˜oes com d´ıvida e super´avit prim´ario. A vari´avelx ´e o log da soma dos gastos per capita do governo central dos pa´ıses com educac¸˜ao, transporte, comunicac¸˜oes, energia e sa´ude, a vari´avel superavit ´e o super´avit prim´ario do governo central em percentual do PIB e a vari´avel D/Y ´e a raz˜ao d´ıvida PIB em valores percentuais. Os componentes de efeitos fixos que captam as diferenc¸as idiossincr´aticas entre os pa´ıses s˜ao captados pelos termosuina equac¸˜ao.

Um problema evidente nesta estimac¸˜ao ´e a endogeneidade dos gastos com relac¸˜ao ao crescimento. Uma forma geralmente encontrada para remediar este problema ´e o uso de vari´aveis instrumentais, como origem colonial (Acemoglu et. al., 2001) e origem legal (La Porta et. al., 1999). No nosso caso estas soluc¸˜oes n˜ao se aplicam pois quase todos os pa´ıses inclu´ıdos na amostra tˆem a mesma origem legal e carac-ter´ısticas coloniais similares, ou seja, tˆem-se muito pouca variˆancia dessas vari´aveis instrumentais.

(15)

Os dados de PIB per capita, INV e GOV s˜ao da Penn World Table, os dados com gastos produtivos do governo central e do superavit prim´ario s˜ao do GFS do FMI e a raz˜ao d´ıvida-PIB tem como fonte o BID. Assim as estimac¸˜oes compreendem um painel n˜ao balanceado abrangendo 10 pa´ıses Latino Americanos de 1972 a 2004.

Os resultados das estimac¸˜oes est˜ao apresentados na Tabela 1. Na primeira coluna s˜ao apresentados os resultados sem a correc¸˜ao para endogeneidade. Na segunda col-una s˜ao apresentados os modelos estimados por system GMM. Os erros padr˜ao dos estimadores est˜ao em parˆenteses abaixo da estimac¸˜ao dos coeficientes, e um asterisco implica significˆancia a pelo menos 10% e dois asteriscos significˆancia a 5%

Nos dois modelos as vari´aveis apresentam os sinais esperados, ou seja, sinal pos-itivo para os gastos produtivos e para a interac¸˜ao com o super´avit prim´ario, e sinal negativo para a interac¸˜ao com a relac¸˜ao com a d´ıvida-PIB. A vari´avel tamanho do governo, GOV, apresenta sinal negativo e significante em todas as estimac¸˜oes, eviden-ciando que os gastos improdutivos tˆem um efeito perverso no crescimento, assim como previsto pela literatura e confirmado pelo modelo desenvolvido nas sec¸˜oes anteriores.

No modelo estimado com system-GMM s˜ao apresentadas as estimac¸˜oes dos efeitos de longo-prazo das vari´aveis e a sua significˆancia para as vari´aveis de interesse. Todas as vari´aveis s˜ao significantes e com sinal esperado. Para avaliar como um choque nos gastos produtivos pode aumentar o crescimento podemos calcular o efeito destes gastos na taxa crescimento desteady-stateutilizando os valores estimados. Tais efeitos marginais s˜ao apresentados na Figura 4.

Os valores da figura mostram quantos pontos percentuais aumentam no cresci-mento per capita anual do pa´ıs se houver um aucresci-mento perp´etuo de 100% nos gastos produtivos do governo. As trˆes linhas apresentam os resultados para os casos quando o super´avit prim´ario ´e de -1.8%, que ´e a mediana na amostra, e nos casos de super´avit iguais a -6.76% e 1.15%, que s˜ao os percentis 10 e 90 na amostra. Assim, a figura deixa claro que, dependendo do super´avit prim´ario, um choque de 100% nos gastos aumen-taria a taxa de crescimento em 1.4 a 1.7 pontos percentuais ao ano em um pa´ıs onde a d´ıvida ´e de 10% do PIB e de 0.5 a 0.8 pontos percentuais onde h´a uma d´ıvida p´ublica igual a 120% do PIB. Tais resultados mostram que a magnitude dos efeitos da pol´ıtica fiscal sobre o crescimento variam muito dependendo das condic¸˜oes fiscais, e que uma pol´ıtica de aumento de gastos produtivos pode ter seus resultados comprometidos em pa´ıses que n˜ao tˆem um equil´ıbrio fiscal adequado.

(16)

Tabela 1: Efeito dos Gastos Produtivos do Governo (x) no Crescimento Econˆomico

modelo 1 modelo 2 Constante 1.3021 -3.5801

(7.99) (5.90)

INV 0.0484 0.0473

(0.08) (0.10) GOV -0.2651** -0.3357**

(0.11) (0.12)

yt1 -0.0003**

(0.00)

grt1 0.2757**

(0.10)

x 1.0077 1.2680**

(0.78) (0.44)

x∗superavit 0.0198 0.0269** (0.02) (0.01)

x∗D/Y -0.0068** -0.0061* (0.00) (0.00) Efeitos noSteady-State

x 1.7507**

(0.44)

x∗superavit 0.0371* (0.01)

x∗D/Y -0.0083*

(0.00) Teste de Sargan

Estat. (p-valor) 78.03 (0.60) Teste de Autocorrelac¸˜ao

Ordem 1

Estat. (p-valor) -1.98 (0.04) Ordem 2

(17)

Figura 4: Efeito do Aumento dos Gastos Produtivos no Crescimento

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

E

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to

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s G

asto

s Pr

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Cr

e

scim

e

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Dívida Pública / PIB (%)

(18)

1.5% e 45% do PIB, respectivamente, tem um valor calculado de impacto de efeito marginal de 1.43. Esse resultado deve ser visto com cautela pois o modelo considera que a relac¸˜ao d´ıvida-PIB ´e mantida constante assim como o super´avit prim´ario. As-sim, o que de fato podemos dizer ´e que um aumento de 100% dos gastos totais em infra-estrutura, sa´ude e educac¸˜ao, acompanhado de ajustes fiscais significativos, como queda de gastos improdutivos, para manter a raz˜ao d´ıvida-PIB e o super´avit prim´ario constantes, teria um impacto de 1.43 pontos percentuais na taxa de steady-state de crescimento do PIB per capita.

6

Conclus˜oes

O presente trabalho buscou avaliar como pol´ıticas de gastos produtivos do governo, como em educac¸˜ao, sa´ude e infra-estrutura, afetam o crescimento econˆomico dos pa´ıses da Am´erica Latina. Ao levar em conta a possibilidade de endividamento como forma de financiar estes gastos, um modelo te´orico de crescimento end´ogeno foi con-stru´ıdo e foi poss´ıvel concluir que o efeito marginal dos gastos produtivos do governo sobre o crescimento dependem do tamanho da d´ıvida p´ublica e do super´avit prim´ario. Assim, os pa´ıses podem ter sucesso ou n˜ao em adotar essa pol´ıtica diante de diferenc¸as em suas condic¸˜oes fiscais.

O modelo te´orico constru´ıdo assumiu um formato AK onde os gastos do governo afetam a produtividade total dos fatores na economia similarmente a Barro (1990). En-tretanto considerou-se aqui que estes gastos s˜ao financiados via d´ıvida, e n˜ao tributac¸˜ao. Como um aumento de gastos produtivos afeta a produtividade da economia, tamb´em afeta os juros. Assim, o governo tˆem um efeito perverso nas suas contas de servic¸o da d´ıvida, al´em do efeito direto de aumento de gastos. Estes efeitos limitam o impacto de choques de produtividade positivos sobre o crescimento econˆomico.

Um resultado obtido, diante de algumas hip´oteses sobre os valores dos parˆametros do modelo, foi uma economia com m´ultiplos equil´ıbrios, com um equil´ıbrio local-mente est´avel com elevado crescimento e baixa raz˜ao d´ıvida-PIB e outro inst´avel com baixo crescimento e elevada relac¸˜ao d´ıvida-PIB. Os efeitos dos gastos produtivos sobre o crescimento dependem de em qual equil´ıbrio a economia se encontra.

(19)

do governo dependem do tamanho da d´ıvida e do super´avit prim´ario do governo, com os valores podendo variar entre 0.5 a 1.7 pontos percentuais ap´os um choque de 100% nos gastos produtivos do governo,ceteris-paribus.

Ao se utilizar os resultados para fazer um exerc´ıcio simples para verificar qual o tamanho deste impacto para o caso do Brasil calculou-se que um aumento de 100% dos gastos totais em infra-estrutura, sa´ude e educac¸˜ao, acompanhado de ajustes fiscais significativos, como queda de gastos improdutivos, para manter a raz˜ao d´ıvida-PIB e o super´avit prim´ario constantes, teria um impacto de 1.43 pontos percentuais na taxa de

steady-statede crescimento do PIB per capita.

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Referˆencias

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[2] Aschauer, David Alan, 1989. ”Is public expenditure productive?,”Journal of Monetary Economics, Elsevier, vol. 23(2), pages 177-200, March.

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Figura 1: Estabilidade do Equil´ıbrio
Figura 2: Aumento dos Gastos Improdutivos do Governo (g)
Figura 3: Aumento dos Gastos Produtivos do Governo (x)
Tabela 1: Efeito dos Gastos Produtivos do Governo (x) no Crescimento Econˆomico modelo 1 modelo 2 Constante 1.3021 -3.5801 (7.99) (5.90) INV 0.0484 0.0473 (0.08) (0.10) GOV -0.2651** -0.3357** (0.11) (0.12) y t−1 -0.0003** (0.00) gr t−1 0.2757** (0.10) x 1
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Referências

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