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Agrocombustíveis no Brasil e na América Latina: impactos no campo e na cidade

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Academic year: 2019

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Agrocombustíveis no Brasil

e na América Latina:

impactos no campo e na cidade

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Expediente:

CONCRAB - Confederação das

Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil

Processo 55.3670/2005-0

Setor Comercial Sul, Quadra 6, Bloco A, Ed. Arnaldo Villares, sala 213, 2° Andar CEP. 70 310 - 500

Tel.: (61) 3225-8592 Correio eletrônico: secretaria@concrab.org.br

Organização:Luiz Henrique Gomes

Capa e diagramação: Fábio Carvalho

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Sumário

Introdução ... 7

Una lectura geopolítica a la problemática de los agrocombustibles en America Latina

Elizabeth Bravo ... 13

Impactos econômicos, sociais e ambientais devido à expansão da oferta do etanol no Brasil

Horacio Martins de Carvalho... 23

Contextualização e problematização dos agrocombustíveis no Brasil

Jean Pierre Leroy... 41

Agrocombustibles: impactos sobre el ambiente, la soberania y la seguridad alimentaria global

Elizabeth Bravo ... 49

Carta final da 1º Conferência Nacional Popular Sobre Agroenergia ... 62

Declaração Final do Encontro Mulheres em Luta por Soberania

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1. Alimentos, energia e agrocombus-tíveis: a relação dialética entre meio ambiente e agricultura frente às crises mundiais

A última metade desta década têm se apresentado como um momento de inflexão dentro dos rumos que o sistema capitalista gerou para espaços importantes da humanidade e mesmo para sua própria reprodução. Além da crise estrutural financeira que vem se aprofundando, a qual não é objeto direto desta publicação, visualizamos um debate mundial sobre as mudanças climáticas e a redução exponencial das reservas alimentares do mundo.

A constante expansão do objetivo fundamental do capitalismo – gerar lucros – e a necessidade intrínseca deste sistema de avançar os meios de produção por meio da alta tecnologia promoveram o consumo exorbitante de recursos naturais, principalmente a partir da segunda metade do século passado. Por exemplo, o consumo mundial de carvão mineral entre 1950 e 2002 multiplicou-se por 4,7 vezes1, enquanto, por sua vez, o petróleo teve a produção aumenta de 48 milhões de barris por dia em 1970, para 86 milhões de barris por dia, em 20042. O consumo de florestas,

recursos hídricos, solos e minerais possuem números igualmente impres- sionantes.

De maneira geral, tanto a manutenção em funcionamento da sociedade como um todo, quanto o beneficiamento e transformação constante das matérias primas, vem promovendo a liberação de gases que aceleram o conhecido aquecimento global. Embora este efeito seja causado por diversos fatores, tem-se o padrão de consumo de bens duráveis e não-duráveis apresentando-se em um patamar altíssimo na Europa e nos EUA, os quais são referência para o resto do mundo.

Diante disto, apesar de parecer evidente a necessidade de rediscutir o próprio padrão de consumo hegemônico no contexto global, diversos setores apresentaram soluções pontuais e diferentes para alterar o quadro de cataclísma que se estabeleceu tanto na sociedade, quanto nos meios acadêmicos. Desde a defesa de acordos internacionais como o Protocolo de Kyoto, passando pela racionalização da matriz energética fóssil, até a produção massiva e mundial de agrocombustíveis, a gama de alternativas falsas ou insuficientes é considerável.

No caso de nosso país, a “alternativa” chamada agrocombustíveis vem

1 FONTE: OCDE, OECD Environmental Data 2002 (Paris: 2002), p. 11 “Norway –Household Waste Increases More ThanEver”, Warmer

Bulletin, 28/06/03

2 Dados obtidos no site HTTP://www.census.gov

Introdução

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impactando de forma substanciosa a realidade agrária do país. O governo brasileiro, ao perceber a crise energética e a necessidade das grandes corporações automotivas de manterem sua política de venda massiva de veículos individuais, retomou o programa PROALCOOL, concebido em outro momento de crise (na década de 70), e o remodelou, projetando-o nãprojetando-o mais cprojetando-omprojetando-o sprojetando-oluçãprojetando-o naciprojetando-onal, mas sim como solução mundial.

O surgimento dos agrocombustíveis tende a impactar severamente a estrutura produtiva global da agricultura em todo o mundo. É importante e talvez fundamental estabelecer uma clara distinção entre a visão e a posição dominante no setor do agronegócio e na mídia em geral, e a leitura que fazem diversas organizações camponesas e ecologistas, por todo o planeta.

As corporações capitalistas falam em se tornar mais amigáveis ao meio ambiente, “mais verdes”, no entanto, o que as move é tão somente a busca de lucro, a abertura de novas frentes para acúmulo de capital. Não há de fato uma preocupação ambiental de fundo no centro das prioridades.

Antes de simplesmente buscar alternativas, a sociedade poderia se perguntar e debater se o atual modelo de consumo de combustíveis e energia é sustentável e desejável. A resposta certamente seria não!

Definitivamente é impossível substituir o combustível fóssil pelos agrocombustíveis. Além destes não serem isentos como poluidores (alias, dependendo do agrocombustível, o diferencial energético liquido chega a ser

pequeno se comparado aos combustíveis fósseis), muita terra será necessária para produzir culturas energéticas. E isto vem afetando, junto com outros fatores, a produção, o preço, e a disponibilidade dos alimentos.

O grande peso político colocado – em nível mundial – na solução agrocombustível acendeu então a fagulha para outra grande crise, que vem devastando a economia dos países mais pobres: a crise alimentar. Esta crise estourou com o rápido declínio dos estoques mundiais e a elevação brusca no preço das principais commodities agrícolas.

Sem dúvidas, não são os agrocom-bustíveis o fator principal desta crise, e defender esta tese é continuar observando a realidade apenas por questões pontuais. A crise alimentar tem sua origem nos processos econômicos iniciados na década de 70, conhecidos mundialmente pelo termo neoliberalismo.

Com esta nova escola econômica, muitos governos passaram para a iniciativa privada o controle de setores estratégicos, dentre eles a alimentação. No Brasil, uma forte e consolidada rede de abastecimento nacional (sintetizada na Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB) foi estrategicamente sucateada e vendida, de tal forma de em apenas uma década (a de 90) os estoques nacionais passem do controle público ao controle total do mercado. Portanto, grandes volumes de alimentos, ou melhor, commodities, são hoje mercadoria estocada nas grandes corporações, as quais desejam apenas um resultado com essas mercadorias – gerar lucro.

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política agrícola hegemônica orientou a produção mundial para as commodities, transformando alimentos e fibras em pura mercadoria, fonte de lucro. E para sustentar o consumo destas commodities, grande campanhas publicitárias e uma afinada estratégia entre governos mundiais e transnacionais alimentícias reduziram a base alimentar mundial a menos de uma dezena de produtos (milho, soja, trigo, leite e arroz, principalmente). Essa produção de commodities veio associada ao pacote da Revolução Verde, modelo agrícola petrodependente e de alto impacto ambiental.

Uma estratégia desta envergadura também deveria possuir um planejamento espacial da produção agrícola, que se encaixaria dentro da Divisão Internacional do Trabalho. Nesta divisão, coube aos países da América latina o papel de celeiros do mundo, produzindo de forma expressiva principalmente grãos, que sustentam a produção pecuária e de outros alimentos industrializados em todo o mundo. Entretanto, esta divisão geográfica demandou a estruturação de uma complexa e onerosa logística de circulação da mercadoria, toda ela baseada nos petroderivados. Com o brutal aumento do petróleo em um curto espaço de tempo, os alimentos sofreram um forte impacto em seus preços.

Afora estas questões estruturais, é importante lembrar que a atual crise alimentar tem no sistema financeiro em colapso um de seus fatores conjunturais. Com o mercado “virtual” de ações e investimentos futuros apresentando grandes incertezas, o capital dito flutuante migrou para investimentos mais seguros, como imóveis e as commodities, incluindo as agrícolas. Desta forma, a elevação do preço dos alimentos também tem seu

cunho especulativo.

No entanto, os agrocombustíveis também possuem sua importância conjuntural na explosão da crise alimentar mundial. O principal impacto global vem das lavouras de milho estadunidenses. Com o forte apoio governamental, os fazendeiros investiram muito na cadeia produtiva do milho para produção de etanol, e grandes parques industriais de produção de etanol foram estruturados. O preço de uma commodity é tabelado em dólar, já que estes produtos são sempre comercializados em operacionais transnacionais. Neste caso, o preço do milho elevou-se consideravelmente nos EUA, mas teve impacto no preço de todos os negócios realizados em âmbito internacional.

Como o milho é base alimentar tanto para a pecuária (nas diversas rações para bovinos, suínos, aves etc) quanto para a humanidade, o efeito-dominó foi inevitável e transformou-se em mais um fator da crise alimentar.

Se esta complexa “estrutura” de falsas alternativas, reais urgências e impactos concretos e potenciais apresenta um forte impacto no cenário internacional, esta realidade se materializa em sua forma mais intensa no Brasil. Enquanto experimentamos um crescimento inigualável do setor automobilístico e dos parques industriais nacionais – e de seus conseqüentes impactos ambientais – somos o país que se encontra na vanguarda dos agrocombustíveis, experimentando em suas terras a disputa real entre a produção de energia proveniente de culturas agrícolas e a produção de alimento para sua população.

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onde as mudanças climáticas³ se dão de forma mais tênue, as alterações são consideráveis na agricultura. Os períodos de seca assolam regiões impensáveis anteriormente, como a Amazônia (por exemplo a grande seca do ano de 2005), e acentuam-se em outras regiões. Por outro lado, tempestades se apresentam mais agressivas, como as inéditas formações de furacões na região Sul do país.

Com uma matriz energética fortemente apoiada na energia hidráulica, o Brasil aparentemente seria “vítima” do uso exacerbado de combustíveis fósseis por países desenvolvidos, mas sua contribuição para o aquecimento global é fato devido a devastação das florestas dos vários biomas, principalmente por meio das queimadas. Por este motivo, o Brasil dedicou ao agrocombustível o papel de “agente purificador” da imagem de poluidor adquirida pelo país. A toda a frota nacional sendo fabricada com motores flexíveis (gasolina e álcool) e a eficiência energética da produção de etanol a partir da cana-de-açúcar tornou o Brasil em um arauto desta tecnologia.

Com uma política agressiva de incentivo fiscal, financeiro e acadêmico, e com um mercado comprador ascendente, o setor sucroalcooleiro foi alçado da falência para as principais negociações internacionais feitas pelo governo brasileiro. A área plantada de cana voltou a crescer: no estado de São Paulo, em 1998 eram utilizados 2,5 milhões de hectares, enquanto que em 2007 este total foi de 3,9 milhões de ha4.

Por sua vez, o biodiesel, estratégia

governamental para agricultura familiar, vem se apresentando como alternativa para os grandes produtores de soja no período de baixa dos preços internacionais do produto como grão. Hoje, aproximadamente 85% do biodiesel é proveniente a soja.

Este avanço das lavouras destinadas à produção energética tem impacto sobre os alimentos de forma diferente. O primeiro impacto, e talvez mais evidente, é a disputa direta entre áreas para plantio de cana e áreas para outras culturas, principalmente milho, feijão, arroz e mandioca. Esta disputa acontece agressivamente no estado de São Paulo, onde freqüentemente os empreendimentos sucro-alcooleiros “vencem” a “queda-de-braço”.

O segundo impacto, e que necessita de um exercício maior de analise econômica da realidade, demonstra-se no preço da terra em toda a região centro-sul. Com a voracidade da agroindústria dos agrocombustíveis, as terras nesta região começam a receber propostas de compra para expansão das áreas cultivadas, sempre com uma considerável inflação a fim de concretizarem rapidamente a negociação. Portanto, torna-se mais caro produzir qualquer produto agrícola, incluindo os alimentos.

Todo este quadro influencia diretamente na reforma agrária e em seu público beneficiário. Há cerca de 10 anos o governo federal vem fortalecendo a sua política de compra de terras – ao invés da clássica desapropriação por interesse social. Esse mecanismo, no entanto, é altamente suscetível a estas oscilações no valor de

3 Para um estudo mais aprofundado, observar o relatório Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas: como o aquecimento global já afeta o

Brasil, Greenpeace: 2008.

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compra da terra. Portanto, a reforma agrária vem se inviabilizando nas áreas onde o agrocombustível está avançando.

Em outro aspecto, o projeto de expansão das áreas cultivadas com lavouras destinadas aos agrocombustíveis pressionam os assentados e assentadas, aliciando-os com crédito, insumo e assistência técnica, em troca das terras e mão de obra do assentamento. No estado de São Paulo esta realidade é muito presente nos assentamentos do Pontal do Paranapanema e próximos das áreas de Ribeirão Preto e Araraquara.

2. As bases da produção camponesa de agrocombustíveis

É diante desta realidade concreta que a CONCRAB, diversas ONGs e os movimentos sociais do campo vêm trabalhando na posição política de defesa da segurança alimentar das famílias e da soberania alimentar das comunidades rurais e urbanas. Com base na conciliação destes dois objetivos, esta estratégia visa estimular um sistema produtivo diversificado, eficiente e correspondente às necessidades locais.

Tendo referencia nas experiências e reflexões obtidas nos últimos anos em diversos trabalhos, se busca na agroecologia o paradigma produtivo que abarca essa possibilidade de diversificação, sustentabilidade e eficiência. A agroecologia apresenta-se como uma matriz tecnológica produtiva que promove o entendimento ecológico do ecossistema agrícola, compreendendo a inter-relação entre culturas agrícolas, florestais, criações animais e populações selvagens.

Entretanto, tornar reais estes princípios agroecológicos é mote de diversos experimentos acadêmicos e de trabalhos iniciais de movimentos sociais e ONGs. Porém, no campo dos agrocombustíveis aliado com a produção de alimentos, esta matriz tecnológica ainda se apresenta bastante incipiente. Como a estratégia institucional de promoção dos agrocombustíveis foi por meio do agronegócio, todas as tecnologias (implementos, insumos e tratos culturais) estão voltadas para grandes propriedades e monocultura.

É diante desta conjuntura nacional que se faz urgente e necessário o debate sobre a transição agroecológica em sistemas produtivos de agrocombustíveis. Primeiramente, se faz necessária a reflexão sobre o que significa os agrocombustíveis em um contexto mundial e nacional. Em um segundo momento, considerar as reflexões feitas pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil que debatem o tema sob a ótica os agricultores e assentados. E, por fim, realizar experiências práticas de transição agroecológica. Os textos contidos nesta revista cumprem os dois primeiros objetivos: problematizar sobre os agrocombustíveis e apresentar as reflexões da sociedade civil organizada.

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Agosto del 2007. Dos presidentes. Dos giras en América Latina. Por un lado, el presidente Lula hizo un recorrido por México y el Caribe, para dar continuidad a lo que se le ha llamado su “diplomacia del etanol”, cuyo objetivo es crear un mercado seguro para el etanol y posesionarse como un nuevo líder en el sur del mundo.

En esos mismos días, el presidente Hugo Chávez visita cuatro países aliados en cinco días sudamericanos, donde visitó a sus principales aliados (Argentina, Bolivia y Ecuador) y trató de recomponer sus relaciones con Uruguay1.

En estas dos visitas podría resumirse dos visiones geopolíticas en disputa, en torno al control de la energía y de la integración latinoamericana. Mientras Chávez privilegia el petróleo como base de

la integración, desde una perspectiva de la soberanía sobre el recurso, pues, mientras los hidrocarburíferos son patrimonio estatal, y aunque los gobiernos establezcan contratos desfavorables para los intereses nacionales, y aun cuando un alto porcentaje de las rentas petroleras se dediquen a pagar la deuda externa y en otros gastos ilegítimos; de cualquier manera, los ingresos petroleros se redistribuyen en la sociedad.

En contraste, los agrocombustibles son producidos por el sector privado; el Estado no puede tener el mismo grado de control sobre todas las fases de la cadena productiva, como sucede con el petróleo; y las divisas generadas en su exportación, no se redistribuyen. Lula entonces vende su idea de agrocombustibles desde una lógica empresarial.

Una lectura geopolítica a la problemática

de los agrocombustibles en America Latina

Elizabeth Bravo Red por una América Latina Libre de Transgénicos

LAS GIRAS ENERGETICAS LATINOAMERICANAS

PRESIDENTE LULA

México: plantea la cooperación en agro-combustibles y pide a México ingresar al Mercosur

Honduras: habló de un TLC entre Centro América y Mercosur. Se incorporó el tema de los agro-combustibles

Nicaragua: firmó un acuerdo, pero Lula no pudo vender su idea del etanol

Panamá: dará tecnología para agro-combustibles

Jamaica: más tecnología de agro-combustibles

PRESIDENTE CHAVEZ

Argentina: compró bonos por 500 millones de dólares y firmó un acuerdo energético con Kirchner

Uruguay: suscribió un acuerdo de seguridad energética y ofreció una refinería

Ecuador: construirá una refinería en Manabí2

y comprará bonos ecuatorianos

Bolivia: pondrá en marcha una asociación de petroleras estatales

Fuente: El Comercio, 9 de agosto del 2007

1 Significativamente una semana después, el presidente Tabaré Vásquez viajó a Ecuador

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He usado este ejemplo como introducción al hecho que se está construyendo una nueva geopolítica energética en el mundo, en la que América Latina juega un papel muy importante.

ALGO SOBRE LA GEOPOLÍTICA

Aunque el término geopolítica ha sido utilizado desde inicios del siglo XX por intelectuales europeos, fue general nazi Karl Haushofer, que la modernizó y utilizó como instrumento que justificaba la expansión territorial de Alemania durante el Tercer Reich, para asegurar la subsistencia alemana a través del manejo del territorio de otro país, para apoderarse de los recursos estratégicos requeridos para garantizar el desarrollo y seguridad de Alemania. Él incluyó varios elementos del geógrafo Friedrich Ratzel, quien propuso que un Estado tiene que crecer, extender o morirse dentro de «fronteras vivientes», por ello tales fronteras son dinámicas y sujetas al cambio. Estos conceptos han sido ampliados para enfrentar problemas militares y geoestratégicos, y no sólo de Alemania sino también de otros países.

En el campo petrolero, la Doctrina Carter, define al crudo del Golfo Pérsico como de «interés vital» para Estados Unidos, y debe ser defendido «por cualquier medio necesario, incluida la fuerza militar». Eso ha sido demostrado en los últimos años hasta la saciedad.

¿QUÉ PASA CON EL PETRÓLEO?

En Estados Unidos, en el año 2000, el 55% de las importaciones de crudo provinieron apenas de 4 países: Canadá, Arabia Saudita, Venezuela y México. De

estos, por lo menos dos son políticamente poco estables, y Canadá no es un país de Tercer Mundo al que se pueda entrar como en el patio trasero. Es por tanto urgente diversificar las fuentes de aprovisionamiento, y por lo mismo, el petróleo mundial se ha constituido en un asunto de seguridad nacional para Estados Unidos.

El Vicepresidente Cheney advirtió que en el 2001, Estados Unidos se enfrentó a la más seria carencia de energía desde los embargos petroleros de los 70, y que la dependencia de crudo aumenta cuando poderes extranjeros no siempre tienen a Estados Unidos en su corazón.

Este es el caso del Presidente Chávez, que ha sido calificado por Estados Unidos como parte del “eje del mal”, a pesar de ser Venezuela es el principal proveedor de productos derivados de petróleo a Estados Unidos. Existe entre Venezuela y Estados Unidos una dependencia mutua, y ambos están resueltos a dejar esa dependencia. Venezuela por medio de crear nuevos aliados y nuevos mercados en el Sur, y Bush a través del etanol.

Dentro de su Plan de Seguridad Energética, Bush propuso diversificar sus fuentes, tanto de crudo como de combustibles alternativos3. Para ello es necesario aumentar substancialmente el porcentaje de maíz en la producción de etanol (White House, 2007), lo que desataría conflictos con importantes grupos económicos estadounidenses, que usan grandes cantidades de maíz como materia prima dentro de Estados Unidos4. Por lo que Estados Unidos va a tener que abastecerse de la importación.

Se necesita, por tanto, establecer una nueva geopolítica en torno a los

agro-3 35.000 millones de galones de combustibles alternativos al año hasta el 2017, que podrían ser a partir de maíz.

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combustibles. Bush ve necesario “alentar a sus amigos y aliados a aumentar su producción de petróleo y alternativas, diversificar sus fuentes, reducir su consumo y aumentar sus reservas de petróleo” para reforzar la seguridad energética de Estados Unidos (y el resto del mundo). Y mira con preocupación las acciones en el extranjero que “menoscaban los mercados libres, abiertos y competitivos para el comercio y la inversión en fuentes de energía” (White House, 2007).

Es ahí donde entra Brasil como un nuevo amigo y aliado de Estados Unidos.

LA GEOPOLÍTICA DEL ETANOL

La nueva geopolítica que se está conformando en torno a los agro-combustibles, tiene como objetivo asegurar que estos puedan sustituir paulatinamente al petróleo, y así perpetuar el patrón de vida de las sociedades del Norte, en base a la vieja dependencia de tipo colonial sobre los ecosistemas y pueblos del Sur. Es necesario por tanto, asegurar el control de territorios enteros, lo que implicará el desplazamiento de comunidades locales y de sus formas de vida, reemplazo de ecosistemas naturales por cultivos energéticos, y pérdida de soberanía alimentaria y patrimonial.

El punto más alto de esta nueva “diplomacia del etanol” fue la visita del presidente Bush a Brasil, donde se consagró una nueva geopolítica energética. Un paso previo a la consumación de la alianza Lula – Bush, fue la creación de la Comisión Interamericana del Etanol, que es un grupo del sector privado co-dirigido por Luis Moreno - Presidente del BID, Jeb Bush, ex

gobernador de Florida y hermano del presidente estadounidense, y Roberto Rodrigues, presidente del Consejo Superior de Agronegocios de la Federación de Industrias del Estado de Sao Paulo, y ex Ministro de Agricultura en el primer gobierno de Lula.

El objetivo de Estados Unidos es contar con una fuente de abastecimiento de sus nuevas necesidades energéticas.

Lula, por su parte, aspira posicionarse como el líder del Sur y hacer de Brasil una potencia energética en base al etanol; asegurar un mercado estable para los agro-combustibles, así como de toda la cadena productiva relacionada (transferencia tecnológica para la producción agrícola, procesamiento, refinación y distribución).

Una manifestación de las alianzas Lula – Bush fue la creación de la empresa Brazilian Renewable Energy Company (Brenco), una de las industrias más grandes en la materia5, formada por inversionistas estadounidenses y brasileños. Con sede en Las Bermudas y encabezada por James Wolfenson ex-presidente del Banco Mundial, la empresa es dirigida por Phillippe Reichstul, el ex-presidente de Petrobras. Otro de sus inversionistas es David Zylbersztanjn, antiguo director de ANP6 y pariente político del ex Presidente Cardozo.

LAS RUTAS DE LOS AGROCOMBUS-TIBLES

a. Brasil y Estados Unidos

El gobierno brasileño está promocionando los agro-combustibles en

5 Se iniciará con un capital de 240 millones de dólares e intentarán captar 2.000 millones de dólares

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varios países del mundo. Desde el 2006, altos funcionarios del gobierno brasileño y representantes empresariales han visitado varios países latinoamericanos y del Caribe; y han establecido alianzas con varios países de la región y de África. Igualmente Petrobrás está asistiendo a varios países a desarrollar el marco técnico y legal en el tema.

El proyecto político de Lula es convertirse en el nuevo líder del Sur y conseguir que Brasil acceda al Consejo de Seguridad de la ONU. En su gira nórdica, en septiembre de este año, Lula obtuvo ya el apoyo de varios países escandinavos.

En el plano económico el objetivo es convertir a Brasil en el principal proveedor de agrocombustibles y de tecnología para etanol a escala mundial. Entre sus planes se incluye acceder al mercado de los Estados Unidos y Europa, vía las ventajas arancelarias que tienen los países de la Región Andina, Centro América y Caribe. Por eso quiere expandir la producción de caña de azúcar y palma aceitera, y plantas de procesamiento a esos países. También se ha volcado hacia el continente africano, y ha logrado obtener el apoyo de varios países africanos a través de acuerdos bilaterales y trilaterales de cooperación, y se ha apuntalado en la Unión Africana, pasando por alto varias agencias de las Naciones Unidas, para asegurarse la implementación de instrumentos legales y técnicos.

Petrobrás y algunas compañías japonesas firmaron un memorando de entendimiento para la producción y venta de etanol, plantas para quemar el bagazo de la caña para la producción energética y oportunidades de venta de créditos MDL, y en su gira por la región Escandinava y

España, consiguió también importantes contratos.

Para cubrir las necesidades del nuevo mercado agroenergético que se está construyendo, el Plan Nacional de Agroenergía de Brasil estima como área potencial para expansión de cultivos energéticos la cifra de 200 millones de hectáreas, incluyendo la “recuperación de áreas degradadas, reconversión de pastos y ‘reforestación’ de la Amazonia con palma”. Para poner en marcha el Plan, se debe construir una red de Alcohol-ductos, plantas de acopio, procesamiento, puertos, carreteras e hidrovías, lo que incrementará el uso de hierro proveniente de las minas del Gran Carajás, la destrucción de ecosistemas naturales y del tejido social en esta región de Amazonia, además de incrementar dramáticamente la producción de cemento y concreto, una de las industrias más sedientas de energía.

b. La soya transgénica en Argentina y el Cono Sur.

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La apuesta del agronegocio por la exportación de agrocombustibles ha puesto funcionar un engranaje de producción de agrodiesel en el que participan empresas como Vicentín, AGDBunge S.A y SACEIF -Louis Dreyfus, y del sector petrolero (Repsol-YPF y la nacional ENARSA) que participan en proyectos de entre 25 y 30 millones de dólares. La capacidad prevista por el total de las plantas a instalar es de 3,1 millones de toneladas anuales.

Para suplir la demanda de exportación de aceites y granos, y ahora la del agrodiesel de soya, y además cumplir con las nuevas metas para agrodiesel, se programa la deforestación de entre 4 y 7 millones más de hectáreas de bosques nativos para avanzar con la frontera soyera, e importar entre 3 y 4 millones de toneladas de soya provenientes de Bolivia, Brasil, y especialmente Paraguay, así como implementar toda una infraestructura para facilitar la exportación de soya desde el interior del país hacia los puertos y plantas de refinación.

c. Las plantaciones de palma en ecosistemas naturales y territorios indígenas

En la actualidad el 88% del comercio mundial de aceite de palma proviene de Malasia e Indonesia, lo que obedece a una expansión del área cubierta por este cultivo. En los últimos 20 años la producción se duplicó en Malasia y se triplicó en Indonesia, a costa de la desaparición de sus bosques tropicales. El crecimiento de las plantaciones de palma en Malasia e Indonesia responden a la creciente demanda de aceite de palma especialmente para el mercado europeo.

A pesar de la defensa oficial de que la industria de la palma aceitera no ha producido deforestación, el gobierno de Sarawak, en el Borneo malayo, aceptó que

se ha concesionado 2,4 millones de hectáreas de bosques para la industria palmícola y de la pulpa y papel, extensión que puede llegar a 3 millones de hectáreas a finales del 2007, que constituyen una cuarta parte del área total de Sarawak. Las empresas madereras transnacionales, una vez que deforestan una zona para la extracción de la madera, la siembran con monocultivos de palma, transformando el bosque en aceite.

Aun cuando estos bosques son reclamados por comunidades indígenas como parte de sus territorios tradicionales, y aunque muchas de estas comunidades dependen de los recursos del bosque para su subsistencia, ni la legislación ni el gobierno han reconocido totalmente su derecho consuetudinario; y a pesar de sus continuas protestas, las plantaciones de palma continúan extendiéndose.

El aceite de palma se perfila como la principal fuente para la producción de agrodiesel a costa de ecosistemas naturales y territorios indígenas también en otros países tropicales, constituyendo el caso más preocupante el de Colombia, donde las plantaciones de palma se extienden de la mano del paramilitarismo, desplazando a poblaciones enteras.

En el Ecuador las plantaciones de palma se expanden a costa del territorio de poblaciones indígenas y afro-descendientes, destruyendo los últimos bosques del Chocó biogeográfico ecuatoriano.

LOS ACTORES PRIVADOS

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beneficiar al creciente sector de los agronegocios que en cada uno de los países se han beneficiado tradicionalmente de la agricultura industrial dirigida a la exportación, como son los empresarios cañicultores de Sao Paulo, los grupos soyeros A Maggi y Los Grobo en Brasil y Argentina, etc. En el sector de agronegocios se deben sumar las grandes transnacionales que se dedican a la comercialización de granos y sus derivados (en este caso agrocombustibles), entre los que se incluyen las estadounidenses ADM, Cargill y Bunge y la francesa Louis Dryfus.

Pero debido a la complejidad de esta nueva industria, hay otros sectores que trabajan en asociación con el sector de los agronegocios, entre los que se incluyen las empresas petroleras que, aunque aparentemente podrían ser las principales perjudicadas del surgimiento de los agrocombustibles, han tenido la habilidad de reciclarse y adaptarse a las nuevas circunstancias. La industria biotecnológica, que ve en los agrocombustibles una manera de vender sus semillas transgénicas, sin tener que enfrentarse a la resistencia que han generado los alimentos transgénicos. Y tenemos a la gran consumidora final que es la industria automovilística que se encuentra muy ocupada haciendo modificaciones tecnológicas en los motores de los nuevos automóviles en base a etanol o agrodiesel.

En torno a los agrocombustibles, se han establecido un nuevo tipo de alianzas entre empresas de distintas ramas, siendo un ejemplo paradigmático, la sociedad establecida entre la petrolera BP y la

biotecnológica DuPont quienes van a desarrollar, producir y comercializar en el mercado británico el biobutanol como un biocomponente de la gasolina, y su argumento es que no van a competir con cultivos alimenticios. Las empresas están aprovechando la capacidad biotecnológica de DuPont y la experiencia y know-how de BP en la elaboración de combustibles. En este contexto, BP anunció que ha seleccionado a la Universidad de Berkeley, al Laboratorio Lawrence junto la Universidad de Illinois para crear un Instituto de Biociencia. En el acuerdo, BP se compromete entregar a Berkeley la suma de US$ 500 millones por 10 años, suma que duplica todos los fondos corporativos que recibe la Universidad. El Instituto trabajará en 5 programas7 y en 24 laboratorios. Colaboran también con British Sugar para la introducción del biotetanol en el mercado.

ACTORES INTER-GUBERNAMEN-TALES

Varias organizaciones interguber-namentales están trabajando en la promoción de los agrocombustibles, desde sus distintas perspectivas, para en definitiva beneficiar a los sectores privados antes mencionados.

En la próxima Reunión de las Partes del Protocolo de Kyoto, es muy posible que los agro-combustibles sean aceptados en el nuevo negocio del comercio de carbono. En varios países ya han calificado como

proyectos MDL8 relacionados con

7 Incluyendo secuestro de carbono, biocombustibles, bioproducción de combustibles fósiles (con el uso de microorganismos) y

depolimerización de biomasa

8MDL o Mecanismo de Desarrollo Limpio, a través del cual países del Norte transfieren fondos a Estados del Sur para que lleven a cabo

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agrocombustibles, por ejemplo en Indonesia se han presentado 3 proyectos MDL relacionados con palma; en Malasia, 12 proyectos MDL relacionados con el sector palma (lo que represente el 90,3% de los fondos), y hay varios fondos para palma en lista de espera. En el Ecuador hay 3 proyectos MDL relacionados con la generación de energía a partir de caña. En la región Latinoamericana, la Organización Latinoamericana de Energía OLADE, trabaja también en promover proyectos MDL e impulsa el desarrollo de marcos regulatorios y técnicos para la promoción de los agrocombustibles.

Otra organización que tiene competencias con el tema agrícola y que impulsa los agrocombustibles es el IICA9, En el pasado, esta agencia impulsó la revolución verde en la región. Hoy promueve los agrocombustibles, de la mano de los transgénicos.

A nivel latinoamericano, el Banco Interamericano de Desarrollo BID está financiando varios proyectos relacionados con la promoción de agrocombustibles, incluyendo un fondo de 120 millones de dólares para la empresa Usina Moema Acucar E Alcool Ltda. de Brasil. Para Centro América ha aprobado un proyecto para facilitar el comercio local e internacional de agrocombustibles a través de “un marco sólido de normatividad y regulación para la producción y el uso de biocombustibles, promoviendo así el aumento de una producción sostenible”. El BID ha creado además un fondo de energía sostenible y cambio climático. Financia el desarrollo y ejecución de evaluaciones nacionales, análisis de estructura de políticas y asistencia a reformas de políticas

de inversiones en agrocombustibles, energía renovable y eficiencia energética.

Entre las organizaciones que no están muy convencidas de los agrocombustibles se incluye el Fondo Monetario Internacional (FMI), y la Organización Mundial de Comercio. Le preocupa al FMI que los precios de los alimentos estén sujetos al precio de petróleo con la substitución de combustibles fósiles por agro-carburantes, y también los altos subsidios que requieren estos nuevos combustibles, pero tiene altas esperanzas en la segunda generación de agro-combustibles.

Por otro lado, Organización Mundial de Comercio identifica algunos problemas relacionados con los agro-combustibles, pues son productos altamente subsidiados, y por otro lado, es difícil clasificarlos, porque pueden ser productos agrícolas, industriales o ambientales, y cada uno de ellos se rige por sus propias normas.

En contraste, el UNCTAD, organización de las Naciones Unidas que trata temas de comercio y desarrollo ha lanzado la Iniciativa UNCTAD de Biocombustibles para promover la producción y mercado de agro-combustibles. Esta organización considera importante la participación privada en la promoción de estos nuevos combustibles, y la necesidad de insertar proyectos de agrocombustibles en el MDL. Propone establecer espacios de colaboración con otras organizaciones intergubernamentales y banca multilateral y regional.

Desde distintos abordajes, todas estas organizaciones intergubernamentales

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ven en los agrocombustibles una oportunidad para la creación de un nuevo mercado energético; y a nombre del desarrollo, la protección ambiental y la erradicación de la pobreza, lo que hacen es exacerbar estos problemas.

LA PROPUESTA DESDE EL SUR10

En una reunión llevada a cabo en la ciudad de Quito, con organizaciones de diversos países del “Sur Global”, hicimos un análisis sobre la problemática de los agrocombustibles, sus orígenes e implicaciones para nuestro futuro, y entre otros aspectos, se analizó que los agrocombustibles pertenecen a una matriz que se basa en la ideología del “desarrollo”, que fue elaborada después de la Segunda Guerra como una manera de extender el colonialismo, continuar y profundizar de saqueo del que hemos sido objeto en los últimos 500 años. A finales del siglo XX, el desarrollo se vistió de verde y se acuñó el término “desarrollo sustentable”, que lo que hace en realidad es “sustentar” la dominación y el abastecimiento colonial, y se crea el “ambientalismo de mercado”, que pretende resolver la crisis ambiental (local o global) a través de instrumentos técnicos como los agrocombustibles, o de mercado, como la venta de servicios ambientales, los mecanismos de desarrollo limpio, la certificación, etc.

Propusimos la necesidad de iniciar una transición hacia una sociedad

post-petrolera sobre bases ecológicas, con un nuevo sentido del “desarrollo” que incluya la superación del capitalismo y el garantizar la Soberanía Energética en acuerdo y complementariedad con la defensa radical de la Soberanía Alimentaria.

Propusimos un nuevo paradigma de des-desarrollo que incluya una transformación estructural radical de toda la economía y de nuestro estilo de vida y el desmantelamiento del macro sistema energético que sustenta y garantiza el poder global, que incluya la des-urbanización, para restituir la existencia de la población a escala humana, supliendo las necesidades en el mercado local y con fuentes de energía locales; la des-globalización del comercio y el transporte de mercancías, la des-petrolizar la economía, y la des-centralización en la generación y distribución de energía.

FUENTES

Isch, Edgar. Geopolítica de la apropiación de la naturaleza. Revista Opción, noviembre 2005

El Comercio. Los ejes del biocombustible y el petróleo. 9 de agosto del 2007. Quito.

ESMAP. 2005. Potencial of Biofuels for Transport in Developing Countries. The World Bank Group. Washington.

10 Basado en el documento de posición del Sur Global sobre Soberanía Alimentaria, Soberanía Energética y la transición hacia una sociedad

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IMF. World Economic Outlook. Spillovers and Cycles in the Global Economy. April 2007

Klare, M. 2004. Bush-Cheney Energy Strategy: Procuring the Rest of the World´s Oil. Foreign Policy in Focuys. Eneero 2004.

Ríos Roca. A. Programa regional de biocombustibles. Perspectiva energética regional. OLADE.

Prensa Latina. Lula con empresarios suecos de salida hacia Copenhague. 12 de septiembre de 2006.

Quagliotti De Bellis, B. Constantes geopolíticas en Oriente Cercano. La sórdida guerra del Petróleo. GestionPolis. Conferencia ofrecida en el Club Libanés del Uruguay. 21-noviembre-200

Soto, A. Lula busca apoyo escandinavo a la candidatura de Brasil para el Consejo de Seguridad de la ONU. Helsinki, 11 de septiembre del 2007. El País.

UNTAC. 2006. The Emerging Biofuels Market: regulatory, market and Development Implications.

Vergara, E. 2006. FAO impulsa desarrollo de agroenergías y biocombustibles. 27 de julio 2006. Associated Press

White House. Veinte en Diez: Reforzr la Seguridad Energética de Estados Unidos, 23 de enero del 2007.

Sitios web

http://www.iica.int/noticias/detalles/ 2006/CP24-2006_eng.pdf

IICA Proposes Cooperation Program for Biofuels

http://biopact.com/2007/03/leading-investors-create-major-biofuel.html

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1. Preliminares

O padrão de crescimento econômico estabelecido na sociedade capitalista contemporânea repousa, em particular nesta fase de afirmação global e hegemônica das idéias e práticas neoliberais, nas megaempresas capitalistas multinacionais, ainda que estas tenham origens nacionais bem determinadas.

É, antes de tudo, um padrão econômico que tem como referencial a concepção de mundo na qual a direção do desenvolvimento e do governo das sociedades nacionais deve ocorrer cada dia mais sob o império de uma nação-rede (império dos EUA e dos paises industrializados que lhe são orgânicos na dominação mundial) e de um grupo restrito dessas megaempresas multinacionais, as quais definem a natureza e a forma do desenvolvimento econômico e do progresso técnico.

Essa racionalidade capitalista contemporânea, que vem sendo construída há várias décadas, determinou e determina a forma como se dá e se dará a industrialização e, numa relação de causa e efeito, a composição da matriz energética mundial.

Foram diversos os fatores que determinaram a dependência mundial da fonte energética não renovável com base no petróleo após o final do séc. XIX. O principal, talvez, tenha sido a diversidade de usos que o petróleo proporcionou com o sistemático avanço das ciências e das tecnologias aplicadas para a sua utilização desde o início da sua extração comercial (1859). Foi, no entanto, com o advento da indústria automobilística e da aviação, assim como das guerras, que o petróleo se tornou o principal produto estratégico do mundo moderno. As maiores 100 empresas do século XX estavam ligadas ao automóvel ou ao petróleo.2

Em 2004, a OIE (Oferta Interna de Energia) no mundo foi de 86,7% de energia de fontes não renováveis e 13,2% de fontes renováveis. Na OCDE3, nesse ano, a OIE foi de 93,9% de energia de fontes não renováveis e de 6,1% de fontes renováveis. E o petróleo respondeu, em 2004, por 34% de toda a oferta energia gerada no mundo, sendo que na matriz energética brasileira ele respondeu por 37,9% da OIE em 2006.

Segundo o governo dos EUA se prevê que o consumo mundial de energia aumentará 71% entre 2003 e 2030, e a maior parte desse aumento terá como fonte uma maior demanda de petróleo, carvão e gás natural. Para o final desse período (2030)

Impactos econômicos, sociais e ambientais

devido à expansão da oferta do etanol no Brasil

1

Horacio Martins de Carvalho

1 Este texto corresponde a uma nova versão, revista e ampliada, do meu texto denominado “Avalanche do Imperialismo Verde 2”.

Curitiba, mimeo 5 p. 3 de maio de 2007.

2 As crises do petróleo. Introdução. In História, por Voltaire Schilling.

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/petroleo.htm.

3 São os seguintes os 30 países membros da Organisation de Coopération et de Développement Économiques - OCDE: Alemanha,

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toda a energia renovável (incluído os agrocombustíveis) está estimada em 9% do consumo mundial de energia. Nesse sentido é relativo e perigoso se considerar como certo que os agrocombustíveis jogarão um papel importante na luta contra o aquecimento global.4

A política global de créditos de carbono evidencia que a intenção dos paises mais industrializados é a de manter o padrão econômico historicamente estabelecido na sua industrialização, mesmo com esforços de melhoria do seu rendimento energético. Isso quer dizer que a pretensão dos governos desses paises é a redução mínima da emissão de gases de efeito estufa (GEE) num nível apenas necessário para servir de base para a sua ideologia de pseudoparticipação no controle e redução do aquecimento global. Ao mesmo tempo, esses paises ampliam os processos de transferência das suas indústrias eletrointensivas e aquelas ambientalmente poluidoras do meio ambiente para os paises ditos como em desenvolvimento.

A matriz energética brasileira apresenta uma composição mais dependente do petróleo (37,9% em 2006) do que a matriz mundial (34% em 2004), porém menos dependente do carvão mineral (Brasil 6,0% em 2006 e a mundial de 25,1% em 2004) e do gás natural (Brasil 9,6% em 2006 e a mundial 20,9% em 2004). No caso brasileiro a energia de fontes renováveis tem percentagem relativa bem elevada.

Em 2006, a OIE no Brasil foi de 55,1% de energia não renovável e 44,9% de fontes renováveis. A composição da matriz energética brasileira em 2006, por fonte de OIE, foi:

⋅ não renovável: petróleo com 37,9%; gás natural 9,6%; carvão mineral 6,0%; urânio 1,6%

⋅ renovável: energia hidráulica 14,8%; produtos da cana-de-açúcar 14,6%; lenha 12,4% e outras fontes 3,0%.

Apesar dessa melhor qualidade da matriz energética brasileira em relação à matriz energética mundial, a composição das fontes de energia renovável apresenta problemas de outra natureza, mas muito preocupantes, tanto do ponto de vista econômico e social como ambiental.

Duas fontes importantes de energia renovável, a hidráulica e a da biomassa, que representaram somadas 41,8% da oferta total de energia em 2006, tendem a se constituírem como espaços econômicos privilegiados das megaempresas multinacionais e nacionais, associadas entre si ou não, para a produção e consumo a partir de seus interesses corporativos, seja interno nas suas indústrias seja para venda nos mercados interno e externo.

Por exemplo, “(...) a Associação

Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (elétrica - HMC) e de Consumidores Livres (Abrace) reúne as principais companhias da indústria eletrointensiva ... consomem 20% da energia elétrica produzida no País ou 45% da soma total do consumo industrial. O faturamento das empresas filiadas à Abrace resvala nos R$ 260 bilhões anuais, o equivalente a 46,1% do valor da produção da indústria extrativa e de transformação; a 13% do faturamento de todas as empresas do país e a 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro”, como a própria associação define em seu site. Esse poder de fogo proveniente da união de empresas como Alcoa, Aracruz, Bunge, Camargo Corrêa, Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Gerdau e Votorantim exerce uma substantiva influência na definição de novos investimentos no setor de infra-estrutura e, em especial, no setor elétrico. Parte desses grupos têm interesse direto tanto na participação de consórcios para obras quanto no acesso à

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energia barata como ‘consumidores livres’

(consomem acima de 3 mil MW por mês e podem comprar eletricidade diretamente do produtor que desejarem- HMC) (...)”5.

Um outro exemplo, um caso particular, ajuda a compreender essa tendência à monopolização no setor elétrico. “(...) Dados do Ministério de Minas e Energia demonstram que 408 indústrias eletrointensivas consomem 28,8% de toda a energia elétrica produzida no País, o que a faz, ao mesmo tempo, massiva exportadora de energia elétrica e água. Vejamos um exemplo prático -metade da energia elétrica produzida em Tucuruí é contratualmente destinada à industria de alumínio. Cerca de 41% do custo final do processamento do alumínio corresponde à energia elétrica e, no caso de Tucuruí, isto é significativo porque sua tarifa subsidiada é 30% menor do que seria no sul ou sudeste do país. É por isto que o Japão produzia 1,1 milhão de toneladas de alumínio por ano e baixou a produção para apenas 41 mil toneladas/ano, passando a importar o restante. Neste caso, a indústria eletrointensiva é ‘competitiva’ porque, como todas as exportações de bens primários de baixo valor agregado, soma mão de obra barata, energia elétrica subsidiada e gigantescas quantidades de água virtual.”6

Com relação à fonte de energia a partir da biomassa, em particular a oferta de etanol e de lenha, a perspectiva é de oligopolização da produção pelo controle seja das usinas sucroalcooleiras para a oferta de etanol combustível e dos fornos de produção do carvão vegetal para a indústria siderúrgica, seja pelo controle em parte direto e em outra parte indiretamente da produção da matéria prima cana-de-açúcar e eucalipto.

Portanto, por um lado, mesmo que a matriz energética brasileira, ainda

dependente do petróleo, tenha na sua composição uma forte presença de fontes renováveis de oferta de energia, o que é desejável, por outro lado, essas fontes renováveis de energia estão sob controle econômico oligopolístico. Esse controle econômico das megaempresas lhes dá poder político de determinar como, quando e onde se dará essa oferta de energia renovável.

Esse controle oligopolístico das fontes renováveis de energia ao mesmo tempo em que operam com fontes que poderiam desenvolver mecanismos limpos de produção de energia renovável permitem que as megaempresas se tornem os principais violadores das normas institucionais e da opinião pública no que se referem às questões sociais e ambientais.

As fontes renováveis de energia a partir das usinas hidroelétricas e da biomassa (etanol, óleos vegetais e madeira) não devem ser dissociadas de outras variáveis como o controle do território (produção da biomassa), da água doce (energia elétrica e transportes), da presença do capital estrangeiro na economia do país, da oligopolização das fontes de energia renovável e da permissividade na remessa de lucros (royalties, dividendos, etc.). E como conseqüência desses fatores os impactos perversos de natureza econômica, social, ambiental, política e institucional na dinâmica do desenvolvimento do país.

Dessa maneira, a reflexão sobre o caso particular da oferta de energia renovável a partir da biomassa, em especial do etanol combustível, não deveria ser dissociada da apreciação das demais fontes que constituem a OIE no Brasil.

5 In Mercado Ético. Assimetria entre empresas e consumidores define setor elétrico. http://mercadoetico.terra.com.br/

noticias.view.php?id=55

6 Henrique Cortez. O século do hidronegócio. Jornal do Brasil, 26/07/2005.

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2. A matriz energética brasileira

Retomando os dados gerais sobre a matriz energética brasileira, tem-se que OIE no Brasil, em 2006, apresentou a seguinte composição: 55,1% de energia não renovável e 44,9% de fontes renováveis. Essa composição por fonte foi:

⋅ não renovável: petróleo com

37,9%; gás natural 9,6%; carvão mineral 6,0%; urânio 1,6%

⋅ renovável: energia hidráulica

14,8%; produtos da cana-de-açúcar 14,6%; lenha 12,4% e outras fontes 3,0%.

⋅ Os derivados de petróleo

continuam a liderar a participação na matriz energética, com 37,9% de oferta, ainda que tenha apresentado discreta redução (-2,1%) em relação a 2005.

⋅ O gás natural é a fonte que mais

cresce entre as fontes não renováveis da matriz energética. Nos últimos anos, sua participação na oferta interna dobrou de 3,7%, em 1998, para 9,5%, em 2006.

⋅ A geração de energia de carvão

mineral e de seus derivados caiu 3% em relação a 2005. E a oferta interna de energia elétrica cresceu 4,5%, chegando a 461,3 TWh, enquanto a geração termelétrica nuclear, com a operação das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, expandiu-se em 40%.

⋅ Com relação à fonte renovável

biomassa, em particular a

cana-de-açúcar, a oferta interna de energia fornecida pelos seus derivados cresceu de 13,8%, em 2005, para 14,4% em 2006.

⋅ O etanol destaca-se como

grande fornecedor de energia a partir da biomassa. Na safra 2005/2006 produção nacional de etanol foi de 17,47 bilhões de litros, 10,8% maior do que a de 2004/5. Para a safra 2006/2007 a previsão é de 20,1 bilhões de litros, ou seja, 14,54% maior que a anterior.7

3. Energias de fontes renováveis na matriz energética brasileira

⋅ De acordo com a OCDE, o Brasil deve manter a liderança na produção de energias renováveis pelos próximos 25 anos entre os países emergentes.

⋅ A energia renovável representa 44,9% da matriz energética brasileira, ante 14% no mundo e apenas 6% nos países mais desenvolvidos da OCDE.

⋅ No caso do Brasil, a expressiva

participação da energia hidráulica (14,8 % da energia renovável) e o uso representativo de biomassa (cana 14,6 % e lenha 12, 4%) proporcionam indicadores de emissões de CO2 bem menores que a média dos países desenvolvidos.

⋅ No Brasil, a emissão é de 1,57

ton. de CO2 por tep8 da OIE,

enquanto nos países da OCDE a emissão é de 2,37 toneladas de CO2 por tep, ou seja, 51% maior.

7 Fonte: Balanço mostra mais energia da cana em 2006. Empresa de Pesquisa Energética (EPE ). 07/04/2007

8 TEP: tonelada equivalente petróleo. Poder calorífico do petróleo = 10.000 kcal/kg ou 1 Tep; poder calorífico da lenha = 3.100 kcal/kg

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⋅ No entanto, apesar da produção mais limpa de energia, essa organização (OCDE) estima que as emissões de dióxido de carbono (CO2) pelo Brasil para a atmosfera vão aumentar em 70,5% até 2030, superior à média mundial, que será de 52%.9⋅

. Em relação a 2005, a demanda por

energia renovável no Brasil decresceu apenas nos usos da lenha (-1,4%), em razão de recuo na cocção de alimentos pelo maior uso do GLP. A maior demanda por energia renovável continuou sendo “hidráulica e eletricidade”, com 14,8% do total da oferta interna de energia. Houve, porém, expressivo aumento da participação dos derivados da cana-de-açúcar, que passou a representar 14,6 % da matriz energética brasileira (9,6% de crescimento).

Todavia, esse esforço governamental e privado de aumento das fontes de energia não renováveis reforça um viés que mantém esse aumento da oferta de energia de fonte hidráulica e da biomassa dependente dos megaprojetos e do capital estrangeiro.

Segundo o prof. Garzon10, o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC instituído em 2007 pelo governo federal reforça o abastecimento energético de forma enviesada: ele já vem contaminado pelos interesses particulares e de projetos específicos de grandes grupos econômicos. O PAC é, desse ponto de vista, um programa perverso, pois reforça os que já são fortes e não estabelece nenhum tipo de prioridade para resgatar os setores que encadeiam a economia nacional, ou seja, voltados para o mercado interno, para os mercados regionais, para processos de

agregação de valor e multiplicação de talentos, de capacidade, de geração de tecnologias.

É crescente o esforço da classe dominante no Brasil, seja a partir dos organismos governamentais, seja das grandes empresas privadas nacionais e estrangeiras, de aumentar a oferta de energia de fontes renováveis como a energia de fonte hidroelétrica e a da biomassa, esta em particular a partir da cana-de-açúcar. Isso porque essas megaempresas nacionais e multinacionais já possuem o controle efetivo da oferta de energia elétrica no país, tem garantias de que ganharam novas licitações para novas hidroelétricas e construam as barragens e usinas com a impunidade pelos impactos ambientais e sociais típicos de situações de exceção política favoráveis ao grande capital. Caminho similar, ainda que um pouco mais amplo, se constrói para a expansão oferta de etanol e de madeira, seja para celulose seja para carvão vegetal, tanto no nível da produção da matéria prima seja no da sua industrialização.

Sem dúvida que há uma demanda mundial crescente por agrocombustíveis e que o Brasil apresenta condições favoráveis para participar de maneira importante no atendimento dessa demanda. No entanto, as formas como cresce a oferta de agrocombustíveis no Brasil, em especial a de etanol combustível, revela desde logo uma inadequação entre o aumento da oferta de etanol e a afirmação da soberania popular no país. Continuam sendo reproduzidas aquelas condições e práticas econômicas, sociais e ambientais absolutamente incompatíveis com o que se afirma pela noção de desenvolvimento de mecanismos limpos e sustentáveis de incremento das fontes renováveis de energia.

9 Soraia Abreu Pedrozo. Brasil mantém liderança em energia limpa. BM&F Brasil, 28 de junho de 2007, 11h17 (site BM7F).

10 Entrevista sobre PAC, obras de infraestrutura do governo, etc. com Luis Fernando Nóvoa Garzón, da Unicamp. Páginas da Unisinos,

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4. Demanda de etanol combustível

Três fatores têm sido determi-nantes para a tendência de alteração discreta da matriz energética mundial: a) a elevação, discreta mas crescente, dos custos da extração, do refino e da distribuição do petróleo; b) a inviabilidade objetiva das grandes empresas multinacionais do petróleo controlarem como desejavam as fontes de petróleo no oriente médio e, recentemente, na Venezuela; c) as questões ambientais, entre elas a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) que contribuem para o aquecimento global.

Já há, no entanto, a determinação da maioria dos governos dos paises do mundo de substituírem parte da gasolina pelo etanol. A referência é se alcançar em 2017 a substituição de 20% da gasolina pelo etanol em todo o mundo. No Brasil, essa percentagem de mistura de etano, na gasolina já alcança 25% desde 1º de julho de 2007. Mesmo com essa percentagem de mistura de etanol na gasolina o país ainda terá 4 bilhões de litros de etanol excedente.11

⋅ Os EUA possuem 40% de toda a

frota mundial de veículos. Portanto, as demandas esperadas de etanol por parte desse país são muito significativas pelo volume da demanda potencial.

⋅ O EUA e o Brasil produzem juntos

70% de todo etanol do mundo. Isso significou em 2006 cerca de 38,5 bilhões de litros de etanol combustível. Sendo que os EUA produziram 20 bilhões de litros e o Brasil 18,5 bilhões de litros.

⋅ No entanto, o consumo de etanol

nos Estados Unidos deve ter ultrapassado os 22,7 bilhões de litros em 2006.

⋅ Em 2005, o governo norte-americano

impôs uma meta compulsória de uso de 28,3 bilhões de litros de agrocombustíveis ao ano até 2012; no começo de 2007, 37 governadores propuseram que esse número fosse elevado a 45,3 bilhões de litros ao ano em 2010, e o presidente Bush elevou ainda mais essa meta, para 132 bilhões de litros anuais em 2017.

⋅ Nos EUA mais de 22 bilhões de

litros de etanol serão necessários a cada ano para substituir o aditivo

conhecido como MTBE12, tendo em

vista reduzir os seus efeitos poluentes sobre o lençol freático. Desde 1990 a gasolina sem chumbo poderia conter de 10% a 15% desse produto.13

⋅ A perspectiva é de que os Estados

Unidos reduzam o consumo de gasolina em 20% até 2017. Isso supõe aumentar em 800% o consumo de etanol em 2017. Mesmo que a produção de milho dos Estados Unidos cresça a 30% ao ano, não alcançará volume para satisfazer demanda de agrocombustíveis além de garantir a oferta para alimentos.

⋅ Acresce-se a isso que o custo do

etanol da cana-de-açúcar é muito menor do que aquele extraído do milho. Surge daí uma das causas da necessidade dos capitalistas buscarem sócios estratégicos nos paises onde o etanol possa ser produzido com menor custos e a partir da cana-de-açúcar.

11 Mistura de anidro na gasolina passa para 25% em 1º de julho, (13/06/2007) in http://www.portalunica.com.br/portalunica/?Secao=ÚNICA.

12MTBE: éter metil-butil terciário, molécula criada a partir da mistura do isobutileno e metanol e que potencializa a octanagem. É um

aditivo oxigenado que melhora a combustão no motor. É cancerígeno. Contamina as águas e solos e pode ser persistente nas águas subterrâneas.

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A demanda potencial de etanol combustível no nível mundial será crescente e continuada. É necessário salientar que somente a China e a Índia possuem juntas um terço da população mundial (2,3 bilhões de habitantes) e devem continuar a ter altas taxas de crescimento econômico, o que implicará supostamente em aumento da demanda de etanol e de óleos vegetais combustíveis para dar conta das recomendações da mistura etanol com gasolina e dos óleos vegetais para utilização pura ou em mistura com o diesel. E se considerarmos, ainda, os paises industrializados como aqueles da Comunidade Européia, o Japão, a Coréia e a Rússia tudo leva a crer que a corrida pelo etanol e pelos óleos vegetais significará mais do um processo conjuntural. Representará uma mudança estrutural no perfil da oferta de matéria prima mundial para o etanol e os óleos vegetais combustíveis, em especial no Brasil.

Essa tendência de alteração da matriz energética mundial está induzindo as grandes empresas capitalistas multinacionais a viabilizarem alternativas energéticas mais rentáveis em curto e médio prazo, em particular relacionadas com os agrocombustíveis como o etanol e os óleos vegetais.

Está-se, portanto, em presença de uma disputa mundial pela dominação das fontes de energia a partir da biomassa, em especial pelos territórios com recursos naturais mais adequados para a produção da matéria prima necessária.

5. Monopolização da oferta da energia da biomassa

As fontes de energia a partir da biomassa se inserem no movimento geral

e histórico de monopolização das fontes de energia não renováveis pelos grandes capitais. Na atual conjuntura é o etanol o principal produto, mas tudo leva a crer que os óleos vegetais seguirão o mesmo curso. Isso se deve ao fato de que o etanol e os óleos vegetais tornar-se-ão uma importante fonte de agrocombustível para consumo mundial, tendo já se transformado num grande negócio de caráter multinacional.

O BID diz que o Brasil tem 120 milhões de hectares disponíveis para o plantio de matérias-primas para os agrocombustíveis, e os grupos de pressão de Europa estão falando de quase 400 milhões de hectares que estariam disponíveis para plantações com destino a agrocombustíveis em 15 países africanos. Está-se falando de uma expropriação de territórios numa escala sem precedentes.14 Há a hipótese, segundo especialista alemão15, de que o Brasil tem o potencial de abastecer 40% do combustível mundial proveniente da biomassa.16

O Brasil tem uma posição privilegiada nessa estratégia mundial devido ao clima favorável com cerca de 200 milhões de hás terras potencialmente disponíveis, com disponibilidade de força-de-trabalho abundante e barata. Além de conhecimento e experiência na extração do etanol da cana-de-açúcar. No entanto, essas pretensões das megaempresas e dos governos de diversos paises industrializados sobre o território brasileiro, sobre as supostas áreas passíveis de serem ocupadas com culturas que forneçam matérias primas para a produção de agrocombustíveis, nega a presença nesses territórios de populações originárias, de camponeses, de vilas e áreas de proteção ambiental, entre outros elementos. Supõe, como o fez na ocupação

14 GRAIN. ¡No a la fiebre de los agrocombustibles! Junio de 2006, http://www.grain.org/go/agrocombustibles.

15 Ernst Schrimpff, Presidente da Associação Federal Alemã de Óleos Vegetais.

16 Schrimpff, Ernst (2006). A experiência européia de combustíveis renováveis, com destaque aos óleos vegetais. In Werner Fuchs (ed.).

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européia do continente americano no século XVI, que há no Brasil um território vazio, de gentes e de biodiversidade, passível de ser explorado, agora pelo capital monopolista das megaempresas multinacionais.

⋅ Para abastecer 5% do mercado

mundial de etanol combustível, o Brasil precisará aumentar a sua produção em seis vezes, atingindo 100 bilhões de litros. O dobro disso seria necessário para substituir 10% do consumo mundial de gasolina.

⋅ Conforme a CONAB (2007)17 a área

ocupada com cana-de-açúcar no Brasil na safra 2007/2008 é de 6,6 milhões de hectares, superior em 7,40 % à safra anterior, e assim distribuída: 82,49% nas regiões Centro-Sul e 17,51 % nas regiões N e NE. A cana vem crescendo basicamente nas áreas anteriormente ocupadas com pastagens.

⋅ A produção nacional estimada de

álcool para a safra 2006/2007 será de 20,01 bilhões de litros, superior em 14,54% (2,54 bilhões de litros) à da safra anterior. Desse total a região Centro-Sul participa com 91,20% (18,25 bilhões de litros) e a Norte e Nordeste com 8,80% (1,76 bilhões de litros).

⋅ Dos 20,01 bilhões de litros de álcool, 46,73% (9,35 bilhões de litros) serão de anidro; 53,11% (10,63 bilhões de litros) de hidratado e 0,16% (32,08 milhões de litros) de neutro, cf. CONAB (op.cit.).

⋅ A produção total estimada de

cana-de-açúcar no Brasil para a safra 2007/ 2008 é de 528 milhões de ton. Desse total, 88,67% destina-se à indústria sucroalcooleira, e o restante para a

fabricação de cachaça, alimentação animal, sementes, fabricação de rapadura, açúcar mascavo e outros fins.

⋅ Do total de cana-de-açúcar (468,15

milhões de ton.) que estará sendo esmagada em 2007 pelo setor sucroalcooleiro, São Paulo esmagará 59,41% (278,11 milhões de ton.); o Paraná 8,97% (42,00 milhões de ton.); Minas Gerais 7,85% (36,74 milhões de ton.); Alagoas 5,16% (24,14 milhões de ton.); Goiás 4,24% (19,85 milhões de ton.) e Pernambuco 3,50% (16,39 milhões de ton.) (cf. CONAB, op.cit.).

⋅ Supõe-se que em cinco anos a área

com cana-de-açúcar deverá atingir 10,3 milhões de hectares com produção prevista de 728 milhões de toneladas. Dessa matéria-prima sairão 38 milhões de toneladas de açúcar e 38 bilhões de litros de álcool, variando essa percentagem entre açúcar e álcool em função das demandas futuras.

Numa estimava para um futuro de médio prazo a indústria sucroalcooleira tem a pretensão de atingir no país a marca de 110 bilhões de litros de etanol anuais. Nessa perspectiva, se mantido os atuais níveis médios de produtividade da cana-de-açúcar e os de rendimentos na fabricação do etanol, os canaviais teriam que ocupar 28 milhões de hectares, próximo à metade dos cerca de 60 milhões que perfazem toda a área usada hoje pela agricultura nacional.

As áreas de expansão dos plantios de cana-de-açúcar estão localizadas nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, sudoeste de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão, sudoeste do Piauí e oeste da Bahia.

(31)

O Estado de São Paulo detém 58,52% da produção de cana-de-açúcar do país, com 3,5 milhões de has plantados em 2007 (52,1% da área total de cana no país), e tem como expectativa ampliar mais 1,7 milhão de hectares do produto nos próximos cinco anos, somando uma área total de 5,2 milhões de hectares. Mas, o preço das terras poderá transferir essa produção para Minas Gerais.

O Brasil vai construir, em média, duas a 3 usinas de álcool e açúcar por mês até 2013. Hoje com 336 unidades, deve chegar a 409 (ou 598, com os projetos em consultas) até o final da safra 2012/2013. Fora as 73 usinas confirmadas, há hoje no Brasil 189 consultas em andamento, tanto para construção como para ampliação de unidades.

As regiões de Ribeirão Preto e Araçatuba no interior de São Paulo se tornaram área de visitação obrigatória para os interessados na fabricação do álcool. Somente o presidente da Usina Moema, Maurílio Biagi Filho, recebeu, no seu escritório de Ribeirão Preto, vários grupos de executivos, autoridades governa-mentais e empresários de mais de 20 paises nos últimos 16 meses com um interesse em comum: o álcool. Originários de países da América Central (Cuba, inclusive), Venezuela — com um grupo de usineiros e quatro diretores da estatal de petróleo (PDVSA), Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, México, Estados Unidos, China, Coréia do Sul, Japão, Tailândia, Índia, Austrália, Alemanha, França, Suécia, Holanda e África do Sul.18

O grupo Odebrecht, líder da construção e petroquímica na América Latina, está disposto a investir R$ 5 bilhões

na produção de etanol nos próximos oito anos. Sua meta é tornar-se líder do setor num prazo de dez anos, quando terá capacidade de moagem de 30 bilhões a 40 bilhões de toneladas de cana.19

A perspectiva é de que o etanol combustível brasileiro seja negociado como “commodity” na próxima safra. A pretensão de certificação poderá tornar-se possível devido ao projeto “Programa de Qualidade Triplo A - Etanol” da empresa de pesquisa brasileira Triplo A – Normas. É um programa que está filiado ao “FoodPlus/Eurepgap” — empresa da União Européia que desenvolve protocolos de qualidade para as cadeias produtivas do agronegócio.20

A Case IH comemorou a produção de sua 1000 colheitadeira de cana no Brasil. “Não temos limite de capacidade, uma vez que essa máquina tem índice de nacionalização de 92% e os nossos fornecedores estão bem preparados”, declarou Valentino Rizzioli, presidente da CNH Latin America. Segundo Isomar Marticher, diretor comercial da CNH para o Brasil e Argentina, a produção em 2007 será de 550 unidades, ante 265 unidades em 2006. Para 2008, ele espera produzir 40% mais. “Produziremos em 2007 e 2008 mais do que nos últimos dez anos”. 21

Essa abertura indiscriminada para a produção de etanol combustível é que torna o Brasil um território global em disputa pelas grandes potenciais mundiais e suas megaempresas multinacionais. A presença do capital estrangeiro é elevada tanto para a aquisição de terras como de usinas sucroalcooleiras (ver adiante em Impactos, capítulo 7).

18 Angela Fernanda Belfort. Álcool : o Brasil no foco mundial. LQES NEWS. (esta matéria foi primeiramente veiculada no Jornal do

Commércio (Recife, Brasil), em 20 de agosto de 2006, dentro da rubrica JC Economia).

19 CEPAT

. Conjuntura da Semana. Uma leitura das Notícias do Dia do IHU de 27 de junho a 03 de julho de 2007.

20 Márcio Rodrigues. Projeto brasileiro pode garantir certificação do álcool na próxima safra, in Folha ON LINE 04/06/2007 - 09h00

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