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Efeitos da intoxicação crônica com o etanol na evolução da Tripanosomíase cruzi experimental no camundongo.

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Academic year: 2017

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R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 ( 4 ) : 1 9 1 - 1 9 8 , O u t- D e z , 1 9 8 9 .

E F E I T O S D A I N T O X I C A Ç Ã O C R Ô N I C A C O M O E T A N O L N A E V O L U Ç Ã O D A T R I P A N O S O M Í A S E C R U Z I E X P E R I M E N T A L N O C A M U N D O N G O

Nildete das Graças Lima Gomes e Fausto Edmundo Uma Pereira

D o i s e x p e r i m e n t o s f o r a m r e a l i z a d o s p a r a e s t u d a r o e f e i t o d a i n t o x i c a ç ã o c r ô n i c a

c o m o e t a n o l ( s o l u ç ã o a 7 % c o m o ú n i c a f o n t e d e l í q u i d o ) s o b r e a e v o l u ç ã o d a i n f e c ç ã o p e l o T. cruzi e m c a m u n d o n g o s : ( 1 ) a n i m a i s a p ó s 6 0 d i a s d e i n f e c ç ã o c o m c e p a m i o t r ó p i c a d o T. cruzi f o r a m s u b m e t i d o s à i n t o x i c a ç ã o c r ô n i c a c o m o e t a n o l d u r a n t e 6 m e s e s ; ( 2 ) a n i m a i s c r o n i c a m e n t e i n t o x i c a d o s c o m e t a n o l d u r a n t e 5 m e s e s f o r a m i n f e c t a d o s c o m a m e s m a c e p a d o T. cruzi e, c o n t i n u a n d o a i n g e s t ã o d o e t a n o l , f o r a m a c o m p a n h a d o s a t é 4 5 d i a s a p ó s a i n f e c ç ã o . O s a n i m a i s i n f e c t a d o s e t r a t a d o s c o m e t a n o l a p r e s e n t a r a m , e m r e l a ç ã o a o s q u e n ã o i n g e r i r a m á l c o o l e t í l i c o : ( a ) m o r t a l i d a d e s e m e l h a n t e n o s d o i s e x p e r i m e n t o s ; ( b ) p a r a s i t e m i a m a i s a l t a n a f a s e a g u d a e p a r a s i t e m i a p a t e n t e m a i s f r e q ü e n t e n a f a s e c r ô n i c a ; ( b ) m i o c a r d i t e c o m e x s u d a t o i n f l a m a t ó r i o m e n o s i n t e n s o e f i b r o s e m i o c á r d i c a m a i s e x t e n s a n a f a s e c r ô n i c a ; ( c ) n o

m ú s c u l o e s q u e l é t i c o , m i o s i t e m e n o s i n t e n s a e a r t e r i t e c o m t r o m b o s e h i a l i n a m e n o s f r e q ü e n t e .

Palavras-chaves: Alcoolismo e doença de Chagas. Alcoolismo. T r y p a n o s o m a

c r u z i .

O etilismo crônico é problema freqüente na

população em geral, inclusive no Brasil, onde dados epidemiológicos, embora escassos, revelam alta fre­ qüência^4. Supõe-se, portanto, que nas regiões onde a doença de Chagas é endêmica, deve ser freqüente a ingestão do etanol. Como o etilismo crônico pode in­ duzir lesões cardíacas no homem e em animais de

laboratório^ 3 5 6 12 13 32 33 34 35 aiém de interferir

nos mecanismos de defesa do organismo^, é possível que possa também alterar a evolução da doença de Chagas.

Manigot e colaboradores^ estudando um grupo de chagásicos crônicos alcoólatras e não alcoólatras, encontraram número semelhante de pacientes assin- tomáticos (radiografia de tórax e eletrocardiograma normais) nos dois grupos; no entanto, a freqüência de xenodiagnósticos positivos foi maior no grupo etilista.

Em virtude da escassez de dados sobre os possíveis efeitos da ingestão do etanol na evolução da tripanosomlase americana, foi proposta a presente investigação com a finalidade de verificar os efeitos da intoxicação crônica com o etanol na evolução da

infecção de camundongos com o T . c r u z i .

Departamento de Patologia Centro Biomédico. Universi­ dade Federal do Espírito Santo.

Endereço para correspondência: Dr. Fausto Edmundo Lima Pereira. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. CP: 780-29000 Vitória, ES.

Recebido para publicação em 23/11/88.

M A TERIA L E M ÉTODOS

Foram utilizados camundongos albinos ma­ chos, não isogênicos, alimentados a d l i b i t u m c o m ração comercial Probiotério (Anderson Clayton, SP). Nos grupos infectados a inoculação foi realizada por

via intraperitoneal, com cepa miotrópica do T . c r u z i ,

isolada de um triatomíneo naturalmente infectado, originado do E. Santo. Os exames de parasitemia foram realizados pela método de B rener'1, ou em gota espessa, sem volume conhecido, com contagem dos parasitos em até 150 campos de 400X. O etanol foi administrado em solução a 7% como única fonte de líquido (etanolp r o a n a l y s i s , Merck). Foram realiza­ dos dois experimentos.

E x p e r i m e n t o I . Para verificar os efeitos da

intoxicação crônica pelo etanol em animais previa­

mente infectados pelo T . c r u z i . Os camundongos (27-

31 g) foram distribuídos nos seguintes grupos: grupo T .

c r u z i - etanol, de 12 animais que após 2 meses de in­

fecção com 5x10^ tripomastigotas, receberam a solu­ ção de etanol durante 6 meses; grupo T . c r u z i de 12 animais que foram infectados na mesma data e com o mesmo número de parasitas do grupo anterior mas que

não receberam etanol; grupo etanol, de 12 animais que

receberam o etanol durante 6 meses a partir da mesma

data que os do grupo T . crazí-etanol; grupo - controle

de 6 animais que não foram infectados, nem ingeriram

etanol. A parasitemia foi avaliada nos dias 15°, 60.°, 120.°, 180.° e 240.° após a infecção.

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G o m e s N G L , P e r e i r a F E L . E f e i t o s d a i n t o x i c a ç ã o c r ô n i c a c o m o e t a n o l n a e v o l u ç ã o d a t r í p a n o s o m í a s e c r u z i e x p e r i m e n t a l n o c a m u n d o n g o . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 1 9 1 - 1 9 7 , O u t - D e z , 1 9 8 9 .

camundongos (29 a 32g) foram assim distribuídos: grupo etanol T . c r u z i II, de 8 animais que tratados com o etanol durante 6,5 meses foram infectados com

16x10^ tripomastígotas no final do 5.° mês. Grupo T .

c r u z i II, de 6 animais não tratados pelo etanol, que

receberam o mesmo inóculo, na mesma data que o grupo anterior. A parasitemia foi medida diariamente até o 15° dia de infecção e em dias alternados até o final do experimento (45 dias de infecção nos 2 grupos).

Os animais sobreviventes no final dos expe­ rimentos foram sacrificados e necropsiados. Frag­ mentos de músculo esquelético (quadríceps femural) e coração foram incluídos em parafina, cortados de forma semi-seriada (entre 20 e 30 cortes), corados pelas técnicas de hematoxilina-eosina, tricrômico de Mallory, hematoxilina fosfotungstica e Giemsa para tecidos. O exame microscópico foi dirigido para uma análise comparativa entre os grupos de cada expe­ rimento, em separado, no que se refere a distribuição, intensidade e qualidade das lesões.

Quando necessário foi utilizado o teste t de

Student para análise estatística.

RESULTADOS

A solução de etanol a 7% foi bem aceita pelos animais e não ocorreram diferenças importantes em relação à ingestão da ração entre os diversos grupos, sendo pequenas as variações de peso corporal durante os experimentos (Tabela 1).

E x p e r i m e n t o I A mortalidade foi semelhante

nos 2 grupos infectados. (Tabela 2). N o final do expe­ rimento, após 6 meses de ingestão de etanol e 8 meses de infecção, 62,5% dos animais do grupo T . c r u z i -etanol mostraram parasitas circulantes, fato observa­

do em apenas 16,6% dos animais do grupo T . c r u z i

(Tabela 3). Exame macroscópico. Foi observado aumento de peso do coração nos 3 grupos experimen­ tais em relação ao grupo-controle (Tabela 1). Exame microscópico, a) Grupo etanol (não infectado). No coração, hipotrofia e degeneração hidrópica e hialina segmentares de miocélulas e por vezes focos de

necrose com exsudato de polimorfonucleares. Fibrose endomisial e perivascular discretas, com raros focos de espessamento endocárdico. Epicardite com exsu­ dato mononuclear, sem comprometimento ganglionar e de fibras nervosas. N o músculo esquelético, hipo­ trofia, necrose e inflamação discretas, com exsudação de polimorfonucleares. b) Grupo T . c r u z i . N o cora­ ção, inflamação caracterizada por exsudato de mono- nucleares, geralmente focal, comprometendo o peri­ cárdio, miocárdio e endocárdio, mais intensa nos átrios e no ventrículo direito; ganglionite, periganglio- nite e perineurite em todos os animais (Figura 1). No músculo esquelético, focos extensos de miosite com exsudato mononuclear e polimorfonuclear, incluindo grande quantidade de eosinófilos e mastócitos; dege­ neração hialina, hipotrofia e centralização dos nú­ cleos em algumas miocélulas. Lesões inflamatórias na parede das pequenas artérias e arteríolas, com necrose fibrinóide da parede e formação de trombos hialinos; neurite e perineurite com exsudato de mononucleares; não foram observados pseudocistos de amastigotas

(Figura 2). c) Grupo T . cmzz-etanol. N o coração, a

inflamação mostrou extensão e distribuição semelhan­ tes às do grupo infectado que não recebeu etanol, porém dois aspectos chamaram atenção: a fibrose endomisial foi mais intensa e havia maior número de polimorfonucleares no exsudato. As lesões ganglio­ nares e neurais foram semelhantres às do grupo não tratado pelo etanol (Figura 3). No músculo esquelético a miosite foi menos intensa, as lesões degenerativas mais acentuadas, e arterite e trombose foram muito menos freqüentes que no grupo não tratado com o álcool etílico (Figura 4). d) Grupo controle. No coração, raros focos de miocitólise. No músculo esquelético, aspecto histológico normal.

E x p e r i m e n t o I I . N o experimento II, o uso

crônico do etanol não alterou a mortalidade, visto que nenhum animal morreu espontaneamente no período de 45 dias de infecção. N o 14? dia de infecção, 50%

dos animais do grupo etanol-7! c r u z i II tinham

parasitas circulantes, o que ocorreu em 20% dos

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G o m e s N G L , P e r e i r a F E L . E f e i t o s d a i n t o x i c a ç ã o c r ô n i c a c o m o e t a n o l n a e v o l u ç ã o d a t r i p a n o s o m i a s e c r u z i e x p e r i m e n t a l

n o c a m u n d o n g o R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 1 9 1 - 1 9 7 , O u t - D e z , 1 9 8 9 .

F ig u ra 1 - C o r a ç ã o d e c a m u n d o n g o s i n f e c t a d o s c o m T .

c ru zi e q u e n ã o i n g e r i r a m e t a n o l . A : E p i c a r d i t e ,

m i o c a r d i t e e e n d o c a r d i t e f o c a i s n o s á t r i o s . H E 4 0 X . B: G â n g l i o e p i c á r d i c o a t r i a l c o m g a n g l i -o n i t e e p e r i g a n g l i -o n i t e . H E 1 6 0 X . C : M i -o c a r ­ d i t e c o m e x s u d a t o d e m o n o n u c l e a r e s n o v e n t r í ­ c u l o d i r e i t o . H E 1 6 0 X .

da parasitemia foi também mais rápida no grupo que ingeriu etanol e, a partir do 15? dia de infecção, o número de tripomastigotas circulantes foi significati­ vamente maior, mantendo-se assim até o final do experimento (Figura 5). O peso corporal e do coração, fígado e baço estão relacionados na Tabela 4. Exame

microscópico a) Grupo T . c r u z i II. As lesões inflama­

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G o m e s N G L , P e r e i r a F E L . E f e i t o s d a i n t o x ic a ç ã o c r ô n ic a c o m o e t a n o l n a e v o lu ç ã o d a tr i p a n o s o m i a s e c r u z i e x p e r i m e n t a l n o c a m u n d o n g o . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 1 9 1 - 1 9 7 , O u t- D e z , 1 9 8 9 .

Figura 2 - M ú s c u l o e s q u e l é ti c o d e c a m u n d o n g o s i n f e c t a d o s c o m T. cruzi e q u e n ã o in g e r ir a m e t a n o l. A : M i o s i t e e m f o c o s e x te n s o s . H E 1 6 0 X . B: A r t e r i t e e p e r ia r t e r ite , c o m t r o m b o s e h i a l i n a e m u m a a r t e r i o la . H E 1 6 0 X . C: A r t e r i t e e p e r i a r te r it e c o m tr o m b o o r g a n i z a d o e m u m a a r t e r i o l a . H E 4 0 X . D: A r t e r i t e c o m n e c r o s e f i b r i n o i d e d a p a r e d e

a r t e r io la r . H E 1 6 0 X .

respeito à qualidade e distribuição do exsudato, foram semelhantes àquelas verificadas no grupo apenas infectado examinado na fase crônica (Experimento I). A proliferação fibroblástica no coração foi muito discreta, assim como a vasculite e a perivasculite no músculo esquelético, e em ambos foram também escassos os fenômenos degenerativo-necróticos da

inflamação, b) Grupo etanol- T . c r u z i II. A inflamação

observada, quando comparada com a do grupo an­ terior, tanto no coração como no músculo esquelético, foi de distribuição e tipo de exsudato semelhantes, entretanto, de menor intensidade, notadamente com relação às lesões vasculares.

O parasitismo tecidual foi escasso, independen­ temente do uso do etanol.

DISCUSSÃO

Os resultados dos dois experimentos mostram que a intoxicação crônica com etanol não alterou a mortalidade dos camundongos infectados, quer quan­ do a ingestão foi iniciada após a fase aguda (Experi­ mento I) ou cinco meses antes (Experimento II). Por

outro lado, observou-se nos dois experimentos alte­ rações na parasitemia, mais elevada nos animais que ingeriram etanol.

A maior freqüência de parasitemia patente na fase crônica (Experimento I) e parasitemia nitida­ mente mais elevada na fase aguda (Experimento II) podem ter sido conseqüências de alterações dos meca­ nismos inespecíficos de defesa ou da resposta imuni­ tária, induzidos pelo uso crônico do etanol.

Existem evidências de que a ingestão crônica de etanol reduz a resistência à infecção bacteriana no

homem 1 36, admitindo-se que haja interferência do

álcool etílico nos mecanismos imunitários. Assim, tem sido descrita, em alcoólatras crônicos, resposta humo­ ral diminuída frente a antígenos T independentes 18, havendo, no entanto, diversos relatos mostrando ele­ vação total ou parcial de imunoglobulinas séricas em pacientes etilistasl 9 21 28 29 Experimentalmente, demonstrou-se em ratos que a resposta por anticorpos frente a antígenos T independentes estava aumentada durante a intoxicação alcoólica crônica, mas a resposta a antígenos T dependentes estava significativamente

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G o m e s N G L , P e r e ir a F E L . E f e i t o s d a i n t o x i c a ç ã o c r ô n ic a c o m o e t a n o l n a e v o lu ç ã o d a t r i p a n o s o m i a s e c r u z i e x p e r i m e n t a l n o c a m u n d o n g o . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 1 9 1 - 1 9 7 , O u t- D e z , 1 9 8 9 .

Figura 3 - C o r a ç ã o d e c a m u n d o n g o s i n f e c ta d o s c o m T.

cruzi e t r a t a d o s c o m e t a n o l d u r a n t e s e i s m e s e s .

A: M i o c a r d i t e n o á tr io ; g a n g l i o n i t e e p e r i g a n -g l i o n i t e e m -g â n -g l i o e p ic â r d ic o a tr ia l. H E 1 6 0 X .

B: M i o c a r d i t e n o v e n t r íc u l o d ir e i to c o m e x s u -d a t o -d e m o n o n u c l e a r e s e -d is c r e ta n e o fo r m a ç ã o c o n ju n t iv a . H E 1 6 0 X . C : M i o c a r d i t e n o v e n t r í­ c u lo e s q u e r d o c o m f i b r o s e p e r i e e n d o m i s i a l . T r i c r ô m io d e G o m o r i . H E 1 6 0 X .

reduzida 30 dias após o uso do etanol8. Por outro lado, a produção de anticorpos antieritrócitos de carneiros foi normal em camundongos intoxicados durante 45 dias15. Já a resposta imunitária celular parece estar comprometida, tanto em pacientes alcoólatras crôni­

cos9 16 18 39 como em animais experimentalmente

in-toxicados com etanol37. Camundongos infectados com S c h i s t o s o m a m a n s o n i e tratados com o etanol formaram granulomas menores do que os controles3! . Também a atividade do sistema fagocitário mononu­ clear está diminuída, tanto em alcoólatras crônicos 25 como em camundongos, ratos e coelhos submetidos à

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G o m e s N G L , P e r e i r a F E L , E f e i t o s d a i n t o x i c a ç ã o c r ô n i c a c o m o e t a n o l n a e v o l u ç ã o d a t r i p a n o s o m i a s e c r u z i e x p e r i m e n t a l n o c a m u n d o n g o . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 1 9 1 - 1 9 7 , O u t - D e z , 1 9 8 9 .

F ig u ra 5 - P a r a s i t e m i a d e c a m u n d o n g o s i n f e c t a d o s c o m T .

c ru zi ( 1 6 0 0 0 t r i p o m a s t i g o t a s p o r v i a i . p . ) a p ó s

t e r e m s i d o t r a t a d o s d u r a n t e c i n c o m e s e s c o m e t a n o l ( s o l u ç ã o a 7 % ) .

intoxicação experimental còm o etanol4 19 20 30 É possível, portanto, que o comprometimento da resposta imunitária e as alterações nos fagócitos possam explicar a maior parasitemia nos animais cronicamente intoxicados com o etanol, embora, este comprometimento não tenha sido suficientemente grande para desequilibrar a relação do parasita com o hospedeiro, razão pela qual a mortalidade foi seme­ lhante nos dois grupos.

Nos experimentos aqui relatados, a menor esplenomegalia observada nos animais infectados e tratados com o etanol, foi uma indicação indireta do comprometimento da resposta imunitária induzido pelo álcool etílico.

Quanto às lesões observadas no coração, cha­ mou a atenção a maior neoformação conjuntiva nos animais que receberam o etanol por seis meses após a fase aguda. Burchl2 descreveu aumento da prolifera­ ção fibroblástica no coração de camundongos tratados com etanol a 8% durante 24 semanas e, no fígado, admite-se que o etanol induza maior neoformação de colágeno, indiretamente, pela ativação da prolina hidroxilase devido ao aumento da produção de lacta­ to24. N o entanto, aumento da produção de lactato no miocárdio, não foi observado em ratos tratados com o etanol26.

No músculo esquelético as lesões inflamatórias foram bem menos extensas no grupo que recebeu etanol, apesar dos fenômenos degenerativos mais intensos e da maior freqüência de parasitemia patente neste grupo. É possível que vários mecanismos pos­ sam ter contribuído para a menor extensão das lesões inflamatórias no músculo esquelético, entre os quais (a) redução da resposta imunitária celular, a qual parece importante na patogênese das lesões

inflama-tórias na tripanosomiase cruzi; (b) possíveis efeitos antiinflamatórios do etanol ao reduzir a capacidade migratória de fagócitos, especialmente, dos polimor- fonucleares10 18 podendo também interferir na ação de alguns mediadores da inflamação7; (c) alteração nas plaquetas, induzidas pelo etanol, o que explicaria a redução das lesões vasculares (arterite) muito menos freqüentes nos animais intoxicados como o etanol; trombocitopenia e redução da adesividade plaquetária têm sido descritas após o uso do etanol 17 22 23 e nos experimentos aqui relatados foi observado maior tempo de sangramento, no momento de se avaliar a parasitemia, nos animais cronicamente intoxicados com o etanol.

SUMMARY

T h e e f f e c t o f c h r o n i c e t h y l a l c o h o l i n t o x i c a t i o n o n t h e e v o l u t i o n o f Trypanosoma cruzi i n f e c t i o n i n m i c e w a s s t u d i e d b y t w o e x p e r i m e n t a l p r o c e d u r e s : ( 1 ) m i c e a f t e r 6 0 d a y s o f i n f e c t i o n w i t h a m y o t r o p i c s t r a i n o f T . cruzi w e r e s u b m i t t e d t o c h r o n i c a l c o h o l i c i n t o -x i d a t i o n r e c e i v i n g a 7 % e t h a n o l s o l u t i o n a s o n l y l i q u i d s o u r c e f o r s i x m o n t h s ; ( 2 ) m i c e c h r o n i c a l l y i n t o x i c a t e d w i t h e t h a n o l d u r i n g f i v e m o n t h s w e r e i n f e c t e d w i t h t h e s a m e s t r a i n o f T. cruzi a n d w e r e f o l l o w e d u p f o r 4 5 d a y s d r i n k i n g t h e 7 % a l c o h o l i c s o l u t i o n . I n c o m p a r i s o n w i t h t h e i n f e c t e d g r o u p , n o t

t r e a t e d w i t h e t h a n o l , t h e i n f e c t e d m i c e t h a t r e c e i v e d t h e e t h a n o l s h o w e d : a ) s i m i l a r m o r t a l i t y i n t h e t w o

e x p e r i m e n t s ; ( b ) h i g h e r p a r a s i t e m i a i n t h e a c u t e p h a s e a n d m o r e f r e q u e n t b l o o d p a r a s i t e s i n t h e c h r o ­ n i c p h a s e ; ( c ) m y o c a r d i t i s w i t h l e s s s e v e r e c e l l u l a r e x u d a t i o n b u t w i t h i n c r e a s e d f i b r o s i s ; ( d ) i n t h e s k e l e ­ t a l m u s c l e , m i l d e r m y o s i t i s a n d l o w f r e q u e n c y o f a r t e ­

r i t i s a n d h y a l i n e t h r o m b i .

K e y - w o r d s : A l c o h o l i s m a n d C h a g a s ’ d i s e a s e .

A l c o h o l i s m . Trypanosoma cruzi.

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G o m e s N G L , P e r e ir a F E L . E f e i t o s d a in t o x ic a ç ã o c r ô n ic a c o m o e t a n o l n a e v o lu ç ã o d a tr i p a n o s o m i a s e c r u z i e x p e r i m e n t a l n o c a m u n d o n g o . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 1 9 1 - 1 9 7 , O u t- D e z , 1 9 8 9 .

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