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Fundação GetúUo Vargas
Escol,ode Administração
de
Empresas
de São Paulo
Luzia Maria Mazzeo
São Paulo, 1996
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Fundação Getúlio Vargas
Escola de Administração de Empresas de São Paulo
A Informática no Brasil e o Novo Paradigma Industrial
Luzia Maria Mazzeo
Orientador: Prot. Gesner José Oliveira Filho
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Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas como requisito para obtenção do grau de Doutor em Administração Contãbil e Financeira, com domínio conexo em Economia de Empresas.
São Paulo, 1996.
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.~ Fundação Getulio Vargas
Escola de Administraçao
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.
'Agradecimentos
Estudos como este, envolvem sempre uma quantidade razoável de pessoas e
instituições que auxiliam, direta ou indiretamente, na concepção, execução, redação e
discussão de textos e idéias. Entretanto, gostaria de fazer alguns agradecimentos
especiais.
Inicialmente agradeço ao meu professor orientador Professor Or. Gesner José
Oliveira Filho pela sua orientação e amizade.
À SEPIN - Secretaria de Política de Informática e Automação, do Ministério da
Ciência e Tecnologia, na pessoa do Secretário Or. Ivan Moura Campos, por ter
permitido e dispensado do trabalho neste período de curso e colaborado no
fornecimento de todas as informações necessárias relativas ao setor de informática.
Aos meus amigos Célia Joselí do Nascimento e José Maria Gomes Martins
pelo apoio, amizade e colaboração em todos os momentos de reais dificuldades pelos
quais se passa quando se toma a decisão de enfrentar um curso como este.
Agradeço também, de forma especial, a Célia Joselí do Nascimento, Bernardo
Estellita Lins, Maria José da Costa e Lígia Maria Mazzeo pela contribuição com
comentários sobre alguns aspectos do tema estudado, discussão de textos
preliminares, análise dos dados, acompanhamento estatístico realizado neste estudo e
revisão ortográfica.
Agradeço também, a todos os funcionários da Secretaria de Política de
Informática e Automação que de forma sempre pronta colaboram, tais como, Scheyla
Vasconcelos, Eurípedes José de Souza, Celso Wiliam Borges, Lycia Maria Mello
Machado, Carlos Lombardi, Rosângela Ferreira dos Santos, Alice Soares de Azevedo
Marques e Sbnia Maria Soares Pantoja.
Desejo externar também meus agradecimentos às empresas de informática
que participaram desta pesquisa pela colaboração e apoio no fornecimento de
informações, extremamente relevantes para a efetivação deste estudo.
Finalmente, expresso meus agradecimentos aos professores da Fundação
Getú!io Vargas de São Paulo que de alguma forma me ajudaram nestes anos
dedicados ao curso.
,
.
índice
Agradecimentos
Introdução
.
4Parte I: Modelos de Desenvolvimento e a Política
de Comércio Exterior no Brasil
141. Considerações sobre Aspectos da Economia Brasileira e
Instituição da Política de Informática no Brasil
151.1. O Consenso de Washington, a Crise Fiscal e a Política
Nacional de Informática - Um Breve Histórico 15
1.2. A Crise dos Anos 90 e o Novo Paradigma Industrial 22
2. Política de Comércio Exterior e Desenvolvimento Econômico
282.1. O Conceito de Desenvolvimento Econômico 28
2.2. O Desenvolvimento Econômico e os Países Subdesenvolvidos 30
2.3. Estratégias de Crescimento Econômico em Países em Desenvolvimento 31
2.3.1. A Teoria da Base Exportadora 32
2.3.2. O Modelo de Substituição de Importações 34
2.3.2.1. Vantagens 34
2.3.2.2. Desvantagens 37
2.4. Análise Comparativa dos Modelos 38
2.5. Desenvolvimento Industrial e a Política de Comércio Exterior do Brasil 39
2.5.1. Primeira e Segunda Revoluções Industriais 39
2.5.2. Terceira Revolução Industrial 46
2.5.2.1. A Inserção do Brasil na Terceira Revolução Industrial 49 2.5.2.2. Constrangimentos Externos 50 2.5.2.3. Constrangimentos Internos 51
3. A Nova Teoria do Comércio e o Atual Programa de Abertura Comercial
no Brasil
533.1. A Nova Teoria do Comércio e a Política Industrial e de Comércio Exterior 53
3.2. Principais Obstáculos ao Programa de Abertura Comercial no Brasil 57
3.3. Discussões Complementares da Política de Abertura Comercial 59
Parte 11:Economia Aberta e a Nova Ordem Mundial
651. Mercado Global: A Ordem Mundial Emergente e o Brasil
661.1. A Nova Ordem Mundial e os Estados Nacionais 66
1.2. O Pensamento Neoliberal 68
1.3. Postura Frente
à
Nova Ordem Mundial 701.3.1.A Posição Norte-Americana 74
1.3.2.A posição Européia 77
1.3.3.A Posição dos Países Periféricos 78
2. Modernização, Liberalização e Política Econômica Externa no Brasil
812.1. Liberalização e Modernização Tecnológica 81
2.1.1. Regulamentaçãoe Desregulamentaçãodo Mercado 81
2.1.2. O Processode ModernizaçãoTecnológica 83
2.2. A Política de Modernização Tecnológica num Mercado Global 88
2.2.1. A Rodadado Uruguai 88
2.3. Política Econômica Externa, Comercial e de Modernização Permanente 93
Parte 111:
Impactos da Abertura Comercial sobre o Setor de
Informática no Brasil
981-lnformática no Brasil: Ruptura com o Projeto de Industrialização e as
Bases do Projeto de Modernização
991.1 - O Desafio da Abertura Econômica 99
1.2 - A Reserva de Mercado de Informática e seus Resultados 102
1.3 - O Projeto de Modernização 110
1.4 - Desempenho da Indústria de Informática no Brasil 114
1.4.1 -Os Resultados da Política Nacional de Informática - Período: 1980 a 1990 116 1.4.2 - Os Resultados da Política Nacional de Informática - Período: 1991 a 1994 125 1.4.3 - Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento 137
2 Comércio Exterior, Desenvolvimento e o Setor de Informática no Brasil
-Os Novos Rumos
1432.1 - Competitividade Internacional: Os Novos Rumos da Informática no Brasil 143
2.1.1 - Pesquisa: Impactos da Política de Abertura Comercial sobre a Competitividade
da Indústria de Informática no Brasil 146
2.2 - Resultados da Pesquisa 147
2.2.1 - Competitividade da Indústria Brasileira de Informática 147
2.2.2 - Política de Abertura Comercial e a Informática no Brasil 150
2.2.2.1-Mudanças Organizacionais e Estruturais 157
2.2.2.2-Investimentos nas Empresas 161
2.2.2.3-CrIticas e Sugestões quanto ao Processo de Abertura e ao Papel do Estado 164
2.2.3 - Inovação Tecnológica 166
2.2.3.1-Importância da Tecnologia na Atualidade 166 2.2.3.2-Inovação tecnológica e Competitividade 169 2.2.3.3-Cooperação com Empresas, Universidades e Centros de Pesquisa 172 2.2.3.4-Transferência e Licenciamento de Tecnologia Externa 176 2.2.3.5-Atual Regulamentação da Transferência de Tecnologia no Brasil 185 2.2.3.6-Dificuldades para Desenvolver Tecnologia no Brasil 190 2.2.3.7-A Nova Lei de Informática e os Incentivos para Investimentos em Tecnologia 191
2.2.4 - Qualidade e Produtividade 197
2.2.4.1-Gestão da Qualidade nas Empresas de Informática no Brasil 201 2.2.4.2- Indicadores. da Qualidade e Produtividade nas Empresas de Informática 205
2.2.4.3-Gerência de Processos 216
2.2.4.4-Satisfação dos Clientes 221
2.2.4.5-Capacitação de Recursos Humanos em Qualidade 226
2.2.4.6-Garantia da Qualidade 227
Conclusão
232Anexos
247Bibliografia
267Introdução
o
presente estudo tem por propósito efetuar uma análise setorial do processo ~de abertura comercial brasileira, identificando e avaliando os impactos provocados pelo
fim da reserva de mercado de informática, em termos de estratégias empresariais,
modernização tecnológica e informatização da sociedade.
Supõe-se, neste trabalho, que a Política Nacional de Informática e Automação
seja um dos instrumentos efetivos na solução de problemas primordiais brasileiros e na
construção de uma sociedade desenvolvida.
--..,
Portanto, o objetivo geral deste estudo é o de identificar os novos desafios
que a indústria de informática brasileira terá que enfrentar, face ao novo modelo de
competição internacional estabelecido nas últimas décadas e as transformações
ocorridas em âmbito nacional neste início dos anos 90, apontando as eventuais
dificuldades a serem enfrentadas pelas empresas de informática e o comportamento
provável do setor diante deste novo padrão de concorrência internacional.
A justificativa para o aprofundamento sobre a análise deste setor baseia-se no
fato de que a informática possui duas vertentes que a diferenciam dos demais setores
industriais. A primeira relaciona-se com a robótica, ou seja, sua aplicação no meio
físico, ampliando a possibilidade de atuação do homem no mundo da física, ou seja,
da força, da precisão e velocidade. A segunda vertente relaciona-se com a sua
aplicação nas redes de comunicação, ou seja, a teleinformática, que amplia a
possibilidade de maior comunicação entre pessoas e máquinas, tratando e
disseminando a informação de forma adequada.
Vista dessa forma, a informática passa a ser um instrumento para todos os
demais setores, constituindo-se em insumo básico do desenvolvimento industrial e
com transcendência para o social.
o
objetivo fundamental da Lei nO 7232, de 29 de outubro de 1984, queinstituiu a Política Nacional de Informática e Automação (PNI), consistiu em
estabelecer estratégias para alcançar o domínio da tecnologia de informática,
fundamental para a competência nacional. Optou-se então, quando da sua instituição,
pela estratégia de desenvolvimento de uma indústria nacional de informática, visando
se criar um ambiente propício para o efetivo desenvolvimento tecnológico.
O processo de capacitação tecnológica nacional, entretanto, pressupõe ainda
a existência de empregos especializados, investimentos em pesquisa e
desenvolvimento e produção e uso da tecnologia, portanto, da existência de empresas
viáveis economicamente.
As grandes transformações que estão ocorrendo no mundo hoje estão
promovendo, ao mesmo instante, grandes riscos e oportunidades de negócios. Dentre
as mudanças verificam-se o processo de globalização econômica; forma de competir
no mercado; franca expansão dos serviços oferecidos; qualidade como fator essencial;
preocupação com o meio ambiente; reestruturação das relações
sindicato/empresa/empregado; mudanças culturais das organizações e
desenvolvimento tecnológico acelerado.
Este processo tem tornado necessária a criação de parcerias entre empresas,
levando a sociedade a novas tendências mundiais e os países a adotarem novas
estratégias de crescimento, com tendências neoliberais, visando o desenvolvimento
econômico sustentado.
Neste cenário mundial, a indústria de informática brasileira está tendo que
alterar sua estratégia competitiva, pois se por um lado, a evolução tecnológica da
informática é colocada como a causadora de todas essas transformações mundiais
que estão ocorrendo na atualidade, a indústria de informática é, ao mesmo tempo,
extremamente afetada por elas.
Desta forma, este estudo procura identificar o efeito dessas transformações
mundiais sobre o setor de informática no Brasil, apontando os novos rumos que terá
que tomar, para poder continuar no mercado e concorrer em nível competitivo no
mercado internacional.
(
Alguns objetivos específicos embasam este estudo, ainda que aprofundados (--....
de forma genérica, tais como o grau de especialização intraindustrial do setor de
informática no Brasil, o grau de atualização tecnológica e infra-estrutura de
componentes, visando discutir as condições necessárias para que tais empresas
possam responder às crescentes pressões competitivas domésticas, penetrar no
mercado internacional e sustentar exportações de produtos de informática.
São revisadas também, as estratégias adotadas pelas empresas nacionais,
visando a elevação da capacidade tecnológica e redução de custos e preços para
poder competir no mercado internacional, assim como, são analisados os impactos
que o processo de abertura provocou nos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento (P&D) de novos produtos por parte das empresas nacionais.
Em termos de política econômica, neste estudo são aprofundadas as recentes
estratégias adotadas pelo governo, visando a continuidade da Política Nacional de
Informática e das instituições e organismos ligados ao setor, assim como, a política
tarifária adotada, tendo em vista o MERCOSUL.
Desta forma, neste estudo confirmam-se algumas hipóteses, tais como a de
que a indústria brasileira de informática não está formada e nem apta a competir no
mercado internacional, sendo fonte de questionamento, portanto, a opção de proteção
à indústria nacional (reserva de mercado institucionalizada pela PNI), efetuada pelo
governo brasileiro até o processo de abertura da economia brasileira. Segunda, que a
abertura comercial proporcionou uma evolução tecnológica nos produtos brasileiros
pela possibilidade de importação mais facilitada de partes e peças e produtos
acabados, provocando impacto nos investimentos em P&D efetuados pelas empresas
nacionais. E terceira, que o fim da reserva de mercado de informática comprometeu a
sobrevivência de muitas empresas, mas por outro lado, propiciou uma melhoria no
grau de competitividade de algumas empresas brasileiras, através de produtos de
melhor qualidade e preços competitivos.
Na revisão bibliográfica deste estudo enfatiza-se o fato de que a década de 90
iniciou com algumas noções de extrema importância para o Brasil.
A primeira é a de que a estrutura da velha ordem está sendo substituída por
uma nova ordem mundial, deixando claro que alguns modelos de desenvolvimento
voltados "para dentro", ou seja para o mercado interno, chegaram ao seu final. Com as
introduções de um novo paradigma tecnológico-industrial e de um processo de
globalização dos mercados, novos desafios estão surgindo para a indústria brasileira,
em virtude das profundas transformações nas regras de operação da economia
mundial, exigindo uma reestruturação profunda do sistema empresarial brasileiro.
A segunda noção é a de que, neste momento de ruptura, onde estão em
discussão as futuras regras do jogo, abre-se uma "janela de oportunidades" aos países
marginalizados na partida anterior, instituindo-se um hiato momentâneo de liberdade
que deve ser aproveitado com rapidez.
A possibilidade de auferir algumas vantagens competitivas neste mercado de
extrema concorrência exige condições ambientais às empresas. Isto significa afirmar
que as políticas macroeconômica, industrial e tecnológica necessitam estar
coerentemente articuladas afim de que possam fomentar um desenvolvimento
industrial competitivo, que é a base do crescimento econômico sustentado.
Os segmentos difusores de progresso técnico, como a informática e
telecomunicações, entre outros, foram afetados pelo longo período de instabilidade da
economia brasileira e pelas políticas protecionistas do Estado.
Os argumentos do "Iearning by doing" e de "proteção à indústria nascente"
defendidos pelo modelo de substituição de importações não encontram mais espaço
na indústria de informática nacional que necessita de investimentos maciços em P&D e
reestruturação de seu parque industrial para poder competir em condições de
igualdade no mercado mundial.
Este novo período da indústria de informática no Brasil marca a transição de
uma estratégia de desenvolvimento, baseada no modelo de substituição de
importações, para um novo modelo cujos contornos estão sendo delineados na
atualidade. Correspondendo a uma nova realidade mundial, a reserva de mercado de
informática foi substituída por uma nova política de incentivo à produção local,
buscando a inserção do País no mercado internacional, tendo como novo modelo a
busca da qualidade e competitividade.
A PARTE I trata, pois, dos modelos de desenvolvimento e a política de
comércio exterior adotados no Brasil. Constituída de três capítulos, nesta parte da
pesquisa são apresentadas algumas considerações sobre aspectos da história
econômica brasileira e da implementação da política de informática, com enfoque para
a crise econômica das últimas décadas, agravada principalmente pelas políticas de
curto prazo implementadas na década de oitenta.
Os anos noventa se iniciam ainda imersos numa grave crise econômica,
política e social. Deve-se ressaltar que a década de 90 para o Brasil caracteriza o
momento de ruptura com o modelo de desenvolvimento adotado até então (o modelo
de substituição de importações). O novo paradigma tecnológico-organizacional e o
processo de globalização dos mercados mundiais estão forçando os países
industrializados a adotarem um novo modelo de desenvolvimento, voltado para
exportações e livre comércio, ou seja, de tendência neoliberal.
Em seguida faz-se uma análise teórica dos modelos de desenvolvimento
econômico baseados na substituição de importações e na teoria da base exportadora,
efetuando-se uma análise comparativa entre eles e definindo quais foram as
estratégias de crescimento econômico adotadas pelos países em desenvolvimento,
como o Brasil, nas últimas décadas. Resume-se também, o desenvolvimento industrial
brasileiro e a política de comércio exterior adotada nas últimas décadas, especificando
as dificuldades que os países subdesenvolvidos terão que enfrentar, em termos de
constrangimentos externos e internos de cada um, para inserirem-se definitivamente
na Terceira Revolução Industrial.
É apresentado também os esboços da nova teoria do comércio internacional e
dos principais obstáculos ao programa de abertura comercial brasileira, a partir do
início dos anos 90.
O novo padrão de comércio internacional incorpora ao seu arcabouço teórico
os "ganhos" de economia de escala, a concorrência imperfeita dos mercados e a
diferenciação de produtos, impondo aos países industrializados uma revisão na teoria
tradicional de comércio internacional, baseada nas vantagens comparativas oferecidas
e concorrência perfeita dos mercados. Enuncia também, que o processo de abertura
do comércio ao mercado externo pode ser uma estratégia estatal de desenvolvimento,
com ações coordenadas entre Estado e setor privado.
As medidas adotadas pelo Governo brasileiro, a partir de 1990, sinalizam uma
disposição de liberalizar o comércio e abrir a economia. Este programa de abertura foi
proposto dentro de um contexto de desequilíbrio macroeconômico e de elevada dívida
pública (interna e externa). O Brasil enfrentou por isso várias dificuldades, tais como, a
desorganização momentânea do processo produtivo, ocasionada pelo processo de
tentativa de estabilização da economia; a redução na taxa de investimentos; a política
de taxa de câmbio adotada; a credibilidade interna e externa na política econômica
brasileira e a ausência de uma política industrial efetiva que proporcionasse melhor
articulação entre o Governo e o setor privado.
A PARTE 11trata da economia aberta e a nova ordem mundial. Constituída de
dois capítulos, esta parte traduz as transformações econômicas, ideológicas e de
poder que estão ocorrendo em nível mundial e que estão provocando o
desmoronamento da chamada "velha ordem" e instituindo uma "nova ordem" mundial,
levando a mudanças radicais no cenário internacional.
Com isso, enfatiza-se debates sobre o fim dos Estados Nacionais, onde o
nacionalismo, de base defensiva, não encontra mais espaço. O cosmopolitismo liberal,
na forma de um ultraliberalismo econômico está se fazendo presente neste final de
século.
O mundo entrou na era da "informação instantânea", acumulando nas últimas
décadas transformações culturais, produzidas pelas mutações tecnológicas,
notadamente no campo da informática e telecomunicações. Os recentes avanços de
tecnologias eletrônicas vêm permitindo aumentar simultaneamente o grau de
centralização da produção e a extensão e velocidade de circulação de valores,
símbolos e informações, apontando o mundo como uma "aldeia global", onde se
verifica uma enorme capacidade de difundir informações de forma simples, econômica
e quase instantânea por toda a parte.
Face a todas essas transformações, no capítulo 2 da Segunda Parte,
examina-se o processo de modernização, liberalização e política econômica externa no
Brasil, retratando as dificuldades que terão os países subdesenvolvidos, como o
nosso, para desenvolver tecnologia de ponta, tendo em vista a grande defasagem
existente entre a ciência e a tecnologia brasileiras. e as dos países industrializados
mais avançados. Outros fatores ainda prejudicam este processo, tais como, as
instabilidédes econômica e social existentes e a impossibilidade de retomada do
desenvolvimento econômico no curto e médio prazos.
A despeito desses fatores, o entendimento das transformações que sinalizam
o perfil da realidade mundial emergente neste final de século e a definição de qual
deverá ser a estratégia de uma política econômica externa para os países periféricos
levam a um esforço de globalização e a aceitar algumas premissas estabelecidas.
A compreensão da necessidade de modernização permanente coloca para o
Brasil o fato de que precisa aumentar sua capacidade tecnológica, investindo
maciçamente no desenvolvimento de áreas estratégicas como a informática,
biotecnologia, química fina e energia nuclear.
Os setores considerados estratégicos, tais como a informática e bens de
capital são os que permitem introduzir nos processos produtivos de outros setores, de
forma contínua, inovações tecnológicas de produtos e processos ou geram novos
processos capazes de reduzir custos ou fabricar novos produtos.
A informática se aplica a todos os segmentos da indústria, nas mais diversas
fases de planejamento, programação e controle automático de operações industriais,
tornando possível a redução de custos e a inovação de produtos e processos. Os
produtos de informática são essenciais pela capacidade de armazenar e manipular
informações complexas com rapidez, eficiência e eficácia.
Uma política de modernização permanente exige uma política ativa de
investimentos o bastante para criar e manter vantagens comparativas, que privilegie o
capital nacional, sem prejudicar o capital estrangeiro. É necessário que não apenas se
importe bens de capital de última 'geração, mas também que se crie condições de
acesso ao mercado brasileiro desses bens sob pena de inviabilizar o parque de bens
de capital existente, não alcançar custos internacionais competitivos e não desenvolver
a capacitação tecnológica.
A PARTE 111trata dos impactos da abertura comercial sobre o setor de
informática no Brasil. Constituída de dois capítulos, essa parte analisa o setor de
informática, desde sua implantação através de uma política de mercado reservado até
este início dos anos 90, com os desafios da abertura comercial e fim da reserva,
visualizando um cenário em que novos rumos terão que ser tomados, visando a
concorrência de empresas estrangeiras tanto no mercado nacional como internacional.
Inicialmente, examina-se o setor de informática no Brasil, contextualizando o
processo de ruptura com o projeto de industrialização e as bases do projeto de
modernização, impostas pelos novos desafios do processo de abertura comercial.
Registram-se, de forma resumida, o período da reserva de mercado de informática e
seus resultados e o projeto de modernização estabelecido pela ascensão do
I
neoliberalismo. Este último instituído no Brasil, a partir dos anos 90, com a demolição
do aparato institucional e dos instrumentos de política.
Por fim, os novos rumos da informática no Brasil são analisados através da
nova PNI, instituída a partir do processo de abertura da economia brasileira e de uma
pesquisa efetuada junto a empresas do setor, enfocando a competitividade da
indústria brasileira de informática, os impactos da abertura comercial, o processo de
inovação tecnológica e a necessária mudança cultural das empresas com relação à
qualidade de seus produtos e processos como também a produtividade de sua
mão-de-obra.
Finalmente, à guisa de conclusão, ressaltam-se às principais evidências
alcançadas nesta pesquisa e fazem-se algumas considerações, enquanto projeções,
sobre os novos desafios que a indústria de informática no Brasil terá que enfrentar,
face ao novo modelo de competição internacional estabelecido nas últimas décadas e
as transformações ocorridas em âmbito nacional neste início dos anos 90.
A introdução de um novo paradigma tecnológico-industrial e o processo de
globalização dos mercados colocam novos desafios para a indústria brasileira de
informática, em virtude das profundas transformações nas regras de operação da
economia mundial.
Incorporar e transpor essas transformações, superando as dificuldades de
inserção neste novo modelo de competitividade internacional e posicionar-se dentro de
um processo de modernização permanente constituem-se em grandes desafios para a
indústria brasileira de informática, nesta década.
l.
J
Parte I
Modelos de Desenvolvimento
e a
1. Considerações sobre Aspectos da Economia Brasileira
e Instituição da Política de Informática no Brasil
1.1. O Consenso
de Washington,
a Crise
Fiscal
e a Política
Nacional de Informática - Um Breve Histórico
A crise econômica na América Latina e particularmente a brasileira, tem raízes
econômicas e políticas, embora interdependentes, mas que se influenciam mutuamente.
Não se pode achar que a crise seja meramente política ou só econômica. As práticas
políticas e as ideologias contrárias à adoção de uma política racional realmente existem,
mas não são as únicas causas da crise econômica que o país atravessa (BRESSER
PEREIRA, 1991).
Os maiores obstáculos à adoção de políticas econômicas racionais e
consistentes no Brasil e na América Latina são as ideologias e práticas políticas
populistas e o monetarismo ortodoxo.
Os principais reflexos das ideologias, do populismo econômico e do
monetarismo ortodoxo, no momento atual, são a crise fiscal que a maioria dos países
latino-americanos atravessam, os problemas do balanço de pagamentos e a elevada
taxa de inflação.
Analisando a história da industrialização brasileira e, particularmente, a
implementação da indústria de informática neste contexto, verifica-se que a estratégia
seguida foi a proclamada pela CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina, ou
seja, a de promover o desenvolvimento econômico e social nos países subdesenvolvidos,
via industrialização por substituição de importações e a acumulação de capital via
poupança compulsória.
Dentre os principais aspectos do desenvolvimento industrial no Brasil,
destaca-se a hegemonia do processo de substituição de importações a partir dos anos 30; o
papel desempenhado pelo Estado como fornecedor de poupança forçada para formação
estatais para a construção da infra-estrutura básica e a importância das empresas
multinacionais em setores mais avançados tecnologicamente a partir dos anos 50.
A década de 70 pode ser focalizada como o período de esgotamento do modelo
de substituição de importações, postergando, através do endividamento excessivo, os
problemas latentes no final do "milagre", tais como a baixa propensão a poupar para
assegurar os investimentos e o desequilíbrio dinâmico no balanço de pagamentos.
Problemas estes, que não foram solucionados, uma vez que as políticas adotadas foram
insuficientes para fazer frente aos desajustes da economia e conter as pressões
inflacionárias.
Contextualizando a implantação da indústria de informática neste processo,
verifica-se que com o advento dos circuitos integrados e sua extraordinária evolução, a
partir de 1959, e dos microprocessadores, em meados da década de 70 (que
possibilitaram o desenvolvimento dos processadores distribuídos e da microinformática),
pode-se detectar o início de uma revolução na tecnologia da informação, constituindo-se
em um dos fundamentos do novo paradigma tecno-econômico-industrial no momento
atual.
A popularização e uso de computadores no Brasil que se alastrou por toda a
década de 60, ampliou a percepção da dependência do País em relação à tecnologia
estrangeira e a de que o domínio tecnológico do uso dos bens importados era
insuficiente para gerar localmente a tecnologia desenvolvida em nível mundial. De acordo
com MCT/SEPIN (1991), o mercado nacional era atendido por computadores importados
ou montados localmente, disponíveis em âmbito mundial, considerados de médio e
grande porte na época.
As discussões em tomo da criação de uma indústria de informática local
começaram a tomar força a partir da segunda metade da década de 60, com o
surgimento dos minicomputadores no mercado mundial, "constituindo-se num ponto de
inflexão tecnológico, na medida em que abria a oportunidade para o projeto/concepção
(e produção) de computadores, a níveis de complexidade tecnológica bem mais baixos
Os pressupostos básicos foram os de que a criação de uma industria de
informática constituiria numa importante contribuição para o avanço do processo de
industrialização, geraria empregos intensivos em conhecimentos e permitiria a superação
ou redução da dependência tecnológica.
O não entendimento dos problemas surgidos na década de 70 e do
esgotamento do modelo de substituição de importações levaram o País a continuar
adotando políticas protecionistas, calcadas na ideologia do desenvolvimentismo. Esta
ideologia contava com o apoio teórico e político de diversas forças sociais e correntes de
pensamento que lutavam para superar o subdesenvolvimento do País.
No que tange à informática, a ideologia desenvolvimentista foi acrescida de um
elemento adicional, ou seja, o da segurança nacional. A PNI - Política Nacional de
Informática surgiu, na década de 80, de três forças sociais, ou seja, dos militares, da
tecnoburocracia estatal e do meio acadêmico, com o objetivo explícito de criar
capacitação tecnológica autônoma e estimular a produção nacional de bens e serviços
de informática.
Os anos 80 foram marcados por políticas essencialmente preocupadas com o
curto prazo, resultando numa estagnação profunda, com queda no nível de investimentos
e crise fiscal, provocando imobilização da economia, uma vez que o Estado perdeu sua
capacidade de realização de investimentos diretos e de subsidiar a formação de capital
privado.
De acordo com Bresser Pereira:
"O Estado teve um papel estruturador e fomentador do desenvolvimento
brasileiro entre os anos 30 e os anos 70. Suas funções estavam sempre mudando, as
formas de intervenção variaram a cada década, mas sempre seu papel foi decisivo na
promoção de um desenvolvimento econômico que nesse período foi realmente muito
grande. Entretanto, a partir dos anos 80, o Estado transforma-se em um obstáculo ao
desenvolvimento econômico do país. Qual é a causa dessa repentina ineficiência, ou,
mais amplamente, dessa desfuncionalidade recente do Estado?" (BRESSER PEREIRA,
A análise desta questão leva a duas teorias conflitantes sobre a crise econômica
latino-americana, ou seja, a visão neoliberal dominante nos países centrais ou do
chamado "Consenso de Washington" e a versão da "Crise Fiscal" acoplada à teoria do
caráter cíclico da intervenção do Estado na economia.
Para os seguidores do Consenso de Washington, surgido nos países centrais
após a crise do keynesianismo e da teoria do desenvolvimento econômico, as causas da
crise na América Latina seriam duas: populismo econômico, traduzido em indisciplina
fiscal e excesso de intervenção do Estado. Para tanto, os remédios seriam disciplina
fiscal e monetária, liberalização da economia e privatização. Ou seja, os países
latino-americanos deveriam combater o populismo econômico, lograr o equilíbrio fiscal e a
estabilização e adotar uma estratégia "market oriented", ou seja, baseada na redução do
tamanho do Estado, na liberalização do comércio exterior e na promoção das
exportações.
As idéias precursoras do Consenso de Washington podem ser vistas como
advindas do movimento de globalização das informações que provocaram
transformações importantes no plano da economia e da divisão internacional do trabalho.
A década de 80 trouxe as principais novidades e desafios à sobrevivência dos estados
nacionais, ocorridas pela crise econômica internacional dos anos 70 (fim do padrão dólar,
primeiro choque nos preços do petróleo) e se aprofundou na primeira metade dos anos
80, movida pelo segundo choque do petróleo e pela política monetária norte-americana
(o choque dos juros), iniciada no final do governo Carter.
Os países capitalistas ocidentais responderam a esses novos desafios, em sua
quase totalidade, seguindo o modelo proposto pela gestão neoliberal dos governos
conservadores de Thatcher e Reagan. As palavras-chave passaram então a ser
estabilizar, desregular e privatizar em quase todas as políticas econômicas.
Os conceitos neoliberais, hegemônicos nos anos 80, contaram com o apoio dos
governos e da comunidade financeira internacional, levando a mensagem do mercado
As idéias do neoliberalismo têm se projetado no meio acadêmico brasileiro atual,
influenciando a interpretação de economistas, que em primeiro lugar, não adotaram a
teoria da "Nova Dependência". E, em segundo lugar, não conseguiram enxergar a crise
fiscal pela qual o País já atravessava.
Segundo vários estudos, a crise fiscal da América Latina e particularmente a
brasileira foi resultado de dois fatores, ou seja, do excessivo endividamento externo dos
anos setenta e do atraso em abandonar a estratégia de substituição de importações e
em adotar uma estratégia orientada para exportações.
As reformas necessárias, de acordo com a abordagem da Crise Fiscal, são mais
abrangentes do que as previstas pela abordagem de Washington, argumentando que
não basta estabilizar através de disciplina fiscal e redução do tamanho do Estado. É
necessário, adicionalmente, superar a crise fiscal através da redução ou cancelamento
da dívida pública (interna e externa) que é excessiva e recuperar a capacidade de
poupança do Estado, que hoje é negativa, para que possa voltar a investir.
Deve-se ainda, definir uma nova estratégia de desenvolvimento ou um novo
padrão de intervenção, onde o Estado desempenhe um papel significativo, promovendo
o desenvolvimento tecnológico e aumentando seus gastos na área social. Desta forma,
haverá possibilidade de reversão dos problemas atuais, tais como a inexistência de
crédito público, déficit público elevado e ausência de credibilidade na capacidade dos
governos em solucionar os problemas nacionais. Logo, é necessário atacar de frente a
crise fiscal, recuperar a capacidade de poupança do Estado e definir uma nova estratégia
de intervenção (BRESSER PEREIRA, 1992).
As reflexões sobre a crise fiscal derivam da crítica efetuada à nova ortodoxia
acerca das reformas estruturais impostas aos países devedores para a superação da
crise.
A receita ortodoxa, sob a qual originou-se a teoria do Consenso de Washington,
é influenciada pelo surgimento de uma nova direita, neoliberal, a partir das contribuições
da escola austríaca, dos monetaristas (ou da chamada escola de Friedman), dos novos
expectativas) e da escola da escolha pública e se restringe na análise de que os
principais problemas da América Latina refletem a exaustão do modelo de
desenvolvimento voltado para o mercado interno ou para dentro e pela forte intervenção
do Estado nessas economias.
Com base nas experiências do Leste Asiático, destacam o sucesso relativo de
estratégias de desenvolvimento voltados para fora, advogando também, a necessidade
de substituir o sistema intervencionista de Estado por um sistema de mercado.
Para esta nova ortodoxia, a política de orientação externa deve incluir a redução
da intervenção estatal no mercado de capitais e de fatores; redução do nível global de
tributação e despesas governamentais; privatização de empresas estatais; depreciação
da taxa de câmbio real e unificação da taxa cambial e liberalização do comércio.
De acordo com JEFFREY SACHS (1988), esta série de recomendações ou
"pacote de liberalização" como é comumente chamado, é estimulado pelo governo norte
americano, pelo FMI - Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial que
caracterizam tais medidas como instrumento chave de controle da crise nos países
devedores. O FMI enfatiza a promoção das exportações e destaca a exigência de uma
política ativa de depreciação da taxa de câmbio, afim de elevar os ganhos de receita
advindos de exportação, ficando as metas de inflação como secundárias neste processo.
Com relação ao Banco Mundial, as reformas são estruturais, oferecendo aos países
membros planos detalhados, de médio prazo e voltados para o mercado externo, para
desnormatização, privatização e liberalização do comércio.
Ainda de acordo com JEFFREY SACHS (1988), o problema mais grave, para a
maioria dos países latino americanos, é a atual crise fiscal que eclodiu nos primeiros
anos da década de 80, surgida por várias razões: gastos exagerados na década de 70,
resultando em elevadas dívidas públicas (externa e interna); aumento elevado nas taxas
de juros internacionais em 1980, elevando os encargos da dívida do setor público;
suspensão dos empréstimos internacionais aos países latino-americanos em 1982,
impossibilitando-os de financiarem seus débitos fiscais; mudanças nos termos de
renda real nos países latinos a partir de 1982, provocando redução adicional na
arrecadação de impostos.
A abordagem da Crise Fiscal no Brasil está, portanto, embasada no
entendimento do processo de desenvolvimento econômico brasileiro e particularmente da
crise estrutural por que passa a vivenciar a economia brasileira a partir dos anos 80.
Centra-se também, na crítica àreceita ortodoxa oferecida pelo Consenso de Washington,
considerando que o diagnóstico feito da crise é incompleto e em parte equivocado, sendo
pois, suas propostas insuficientes.
Em meio a todas essas discussões, a indústria nacional de informática,
protegida pela reserva de mercado, cresceu de forma assustadora por toda a década de
80, sob o "guarda-chuva" do artigo 22 da Lei 7.232/84 (Lei de Informática) que
estabelecia a estratégia de acesso ao mercado interno, privilegiando a empresa nacional
de informática. Desta forma, a produção de bens e serviços de informática por empresas
que não se enquadravam como empresas nacionais somente poderia ocorrer no caso de
não haver empresas nacionais capazes de atender as necessidades efetivas do mercado
interno.
A manutenção desta política de ideologização da reserva de mercado, por toda
a década de 80, denotam o atraso brasileiro em entender seus problemas latentes e a
necessidade de reformas estruturais e de mudanças de rumo na política econômica.
Por outro lado, as conseqüências verificadas no processo como foi instituída a
política de informática geraram um quadro de fragilidades que tornaram a PNI - Política
Nacional de Informática - vulnerável frente aos interesses nacionais, já no final da década
de 80, tais como,a necessidade de maior capacitação tecnológica reclamada por todos
os setores do parque industrial brasileiro, a necessidade de aumento de desempenho da
indústria brasileira, considerando-se os padrões internacionais, o grau de
internacionalização da economia e o peso das empresas estrangeiras no País, a
impossibilidade da reserva para enfrentar, sozinha, os desafios do desenvolvimento
construir aliados e parceiros e a política de informática única no conjunto das políticas
setoriais.
No plano político, a crise da América Latina e particularmente a brasileira, pode
ser explicada, de acordo com BRESSER PEREIRA (1991), pelas ideologias e práticas
políticas tais como populismo econômico, desenvolvimentismo, crenças nacionalistas
anacrônicas, distributivismo ingênuo, neoliberalismo, ortodoxia monetarista e
incapacidade das elites de definir o interesse nacional constituem-se em sérios
obstáculos às políticas econômicas coerentes e progressistas, essenciais para se
conseguir a retomada do crescimento e estabilidade dos preços.
No Brasil, o que se tem verificado, a partir da segunda metade dos anos 80, é
uma alternância de desenvolvimentismo, populismo e políticas econômicas ortodoxas.
1.2. A Crise dos Anos 90 e o Novo Paradigma Industrial
Os anos 90 iniciaram com duas noções de extrema importância para o Brasil.
Primeiro, a de que a ordem econômica imperante no mundo estava em vias de ser
substituída por uma nova ordem, deixando claro que o modelo de desenvolvimento
fechado, voltado para o mercado interno, tinha chegado ao seu final. As economias
industrializadas de mercado aproximavam-se de um momento de ruptura. Segundo, que
neste momento de ruptura, onde estão em discussão as futuras regras do jogo
econômico, abre-se uma "janela de oportunidades" aos países marginalizados na partida
anterior, de tomar um lugar à mesa de discussões, uma vez que estes são momentos de
liberdade, que devem ser aproveitados com rapidez.
De acordo com NAKANO (1994), "o desafio que a indústria brasileira terá de
enfrentar nos próximos anos não será trivial, pois ocorre num momento em que um novo
paradigma tecnológico-organizacional e o processo de globalização dos mercados estão
uma reestruturação industrial de longo alcance, cujos contornos não estão ainda
claramente delineados".
Este novo paradigma tecnológico-organizacional irá exigir uma reestruturação
profunda do sistema empresarial brasileiro, com mudança de comportamento dos
empresários e dos administradores. De acordo com COUTINHO (1994), "as estratégias
de crescimento, as relações capital-trabalho, a reorganização produtiva e os acordos e
alianças devem viabilizar o avanço, não apenas em direção à gestão competitiva no
interior das empresas, mas também em direção a cadeias produtivas e grupos
empresariais mais coesos, melhor articulados com o setor financeiro e com maior
capacidade de gerar sinergias".
Entretanto, este momento de transição depara-se com um Brasil ainda imerso na
crise econômica e social, agravada pelos anos 80. Definida por altas taxas de inflação e
estagnação da renda por habitante, teve como origem uma profunda crise do Estado,
que, por sua vez, caracteriza-se pela crise fiscal e pelo esgotamento do modelo de
substituição deimportações.t
Com a economia desestabilizada, o Estado tem encontrado dificuldades para
recuperar as finanças públicas e articular fontes de financiamento tanto no setor público
como no setor privado, essenciais para recobrar dos agentes econômicos um mínimo de
confiança que possa traduzir-se em investimentos. Um dos indicadores de crescimento
econômico sustentado é a taxa de investimento da empresa, do setor e do país. E, de
acordo com NAKANO (1994), algumas das principais forças motoras do crescimento
econômico encontram-se no comércio, investimento e financiamento internacional.
Por outro lado, as políticas macroeconômica, industrial e tecnológica não estão
coerentemente articuladas afim de que possam fomentar um desenvolvimento industrial
competitivo, que é a base do crescimento econômico sustentado.
A principal vantagem competitiva da indústria brasileira é o tamanho do mercado
interno. Este se encontra, porém, estagnado para a maioria dos setores industriais,
devido ao baixo dinamismo apresentado na última década. Essa retração do mercado é
traduzida pela ociosidade de equipamentos e pelos baixos níveis de investimentos. Este
fator coloca em risco a sobrevivência de setores considerados essenciais ao processo de
desenvolvimento, como o de bens de capital.
Outro fator a acrescentar é o de que esse tamanho do mercado poderia ser
explorado com maior grau de potencialidade se ele não enfrentasse, como coloca
COUTINHO (1994), "as restrições decorrentes da crescente desigualdade na distribuição
da renda e da marginalização de parcela significativa da população do consumo dos
bens industriais".
Esta disparidade dos níveis de renda e consumo da população leva a uma
heterogeneidade de possibilidades competitivas na indústria brasileira, muito embora, na
fase atual, tem-se podido verificar um aumento da eficiência e da qualidade industrial,
principalmente por parte das empresas líderes, na maioria dos setores industriais.
Entretanto, este aumento de eficiência e qualidade não pode ainda ser considerado
como um salto qualitativo significativo do ponto de vista da competitividade, para vários
setores, pois não foi baseado em uma renovação profunda de equipamentos e processos
industriais.
Os setores que apresentam avanço de competitividade estão concentrados,
principalmente, em "commodities" que são a base da pauta de exportações brasileiras.
Ainda que esses setores apresentem boa capacidade de gestão de processos, escalas
técnicas adequadas e elevado grau de atualização tecnológica de processos, os
mercados internacionais para esses produtos apresentam-se com tendência a um baixo
verifica-se uma série de dificuldades de expansão externa, em virtude da ampliação .
recente das barreiras técnicas ao comércio por parte dos principais mercados.
Os setores com deficiências competitivas estão voltados apenas para o mercado
interno. Uma reativação sustentada do mercado interno propiciaria a multiplicação das
oportunidades de desenvolvimento competitivo da indústria brasileira. De acordo com
COUTINHO (1994), "mantidos os ajustes pró-competitividade, como a taxa de câmbio
real estável, estímulo à competição interna, desenvolvimento do tecido de fornecedores
com qualidade, modernização das relações de trabalho, o mercado interno certamente se
dinamizará. Um quadro de maior dinamismo e competitividade do mercado interno
acarretaria uma série de outros ajustes na formulação das politicas empresariais, como
por exemplo: escalas de produção crescentes e mais eficientes; mercados mais
exigentes e capazes de absorver novos produtos com mais velocidade; desenvolvimento
de novas aplicações, serviços e produtos com marcas e características brasileiras;
ampliação e renovação do parque de máquinas e equipamentos, viabilizando saltos de
qualidade e produtividade, com introdução de novos processos; aprimoramento da
qualidade maior conteúdo tecnológico e reforço à capitalização e à capacidade de
acumulação das empresas".
Os setores difusores de progresso técnico, como a informática e
telecomunicações entre outros, apresentam-se extremamente afetados pelo longo
período de instabilidade da economia brasileira e pelas políticas protecionistas do
Estado. A retração de seus investimentos criou uma cadeia de retrações dos demais
mercados e afetou a competitividade estrutural de todo o parque industrial, provocados,
principalmente, pela demora no processo de modernização apresentado pela indústria
brasileira.
Para COUTINHO (1994), "existe no País um nível satisfatório de capacitação
produtiva e disponibilidade de recursos humanos qualificados em alguns segmentos,
resultantes do aprendizado acumulado por diversas empresas. Há, entretanto, sérias
deficiências de articulação, seja na cadeia produtiva, com fornecedores de peças e
clientes, fator fundamental para o desenvolvimento de produtos mais adequados às
necessidades específicas dos usuários e indispensável para a elevação da
competitividade tanto nos produtores como nos utilizadores de bens de capital. ... A
política de desenvolvimento competitivo da indústria brasileira não será eficaz se não
tornar os setores difusores de progresso técnico capazes de contribuir para a
modernização do parque industrial".
A despeito deste quadro, o momento porque passa a economia mundial irá exigir
decisões estratégicas decisivas por parte do Brasil, visando sua inserção no mercado
internacional. Uma estratégia de desenvolvimento deverá ser definida, que assimile as
mudanças ocorridas no cenário econômico mundial nas últimas décadas, afim de que
possa participar da concorrência internacional.
Para BRESSER PEREIRA (1994), "o Brasil precisa rever sua estratégia de
inserção internacional não apenas porque o modelo de substituições de importações
esgotou-se, e porque a abertura comercial demonstrou que o Brasil possui uma indústria
internacionalmente competitiva, mas também porque a economia mundial sofreu nos
últimos 20 anos um extraordinário processo de transformação. Primeiro, a economia
globalizou-se definitivamente devido ao grande aumento do comércio internacional, dos
investimentos multinacionais e das transações financeiras internacionais. Segundo, a
Terceira Revolução Industrial, baseada na microeletrônica e na organização flexível e
cooperativa do trabalho, aumentou dramaticamente a produtividade das empresas,
obrigadas a sobreviver em um mercado internacional cada vez mais competitivo, não
apenas porque os custos dos transportes e das comunicações baixaram, mas também
porque a crise fiscal do Estado do Bem-Estar, nos países desenvolvidos, levou os
governos a ajustes fiscais necessários mas recessivos. Terceiro, houve um forte aumento
da concorrência internacional, em decorrência da desaceleração das taxas de
crescimento nos países centrais .... Finalmente, uma quarta transformação da economia
internacional foi o desaparecimento da hegemonia econômica norte-americana e a
formação de três grandes blocos regionais: o Bloco Europeu, o Bloco América do Norte e
É dentro deste quadro competitivo que o Brasil necessita tomar suas decisões e
2. Política de Comércio Exterior e Desenvolvimento
Econômico
2.1. O Conceito de Desenvolvimento Econômico
A definição de desenvolvimento econômico pode ser colocada como um
processo em que uma economia tradicional, que empregue técnicas primitivas de ,
produção, transforma-se numa economia moderna, de elevada tecnologia e de elevada
renda, envolvendo a substituição de técnicas de produção que envolvem trabalho
intensivo por capital intensivo. Esta economia moderna requer, portanto, o emprego
intensivo de capital, mão-de-obra qualificada e conhecimentos científicos para produzir a
variedade de produtos requeridos pelo mercado consumidor.
a pré-requisito fundamental do crescimento econômico é a acumulação de
maiores estoques dos fatores de produção, tais como os bens de capital físicos, o capital
humano e o capital intangível (conhecimento científico significativo), necessários para o
aproveitamento do conhecimento científico e para a aplicação de técnicas de produção
sofisticadas, objetivando a elevação do padrão de vida da sociedade (WILLlAMSaN,
1989).
a envolvimento do comércio exterior explica-se em função da opção por uma
estratégia de desenvolvimento, ou seja, a escolha dos bens que serão produzidos ou o
ambiente no qual será feita esta escolha por aqueles que tomam as decisões
microeconômicas. a comércio internacional interessa tanto ao desenvolvimento de
mercados visando o aumento de produção como para a aquisição de insumos
intermediários.
a desenvolvimento normalmente começa quando um pequeno setor exportador
desenvolve-se ao lado de uma economia de subsistência, produzindo uma faixa estreita
de bens baseados na dotação de fatores do país. Com isso desenvolve-se um setor de:
,
serviços dentro da economia monetária para atender ao setor exportador, paralelamente!
são usadas para adquirir bens de consumo, de capital e intermediários para o setor
moderno. E, na medida em que o setor moderno compre bens de consumo do setor
tradicional, este adquire moeda que pode ser usada para a compra de bens de consumo
importados. Assim, começa-se a gerar ofertas cada vez maiores de fatores de produção
necessários para a expansão do setor moderno (WILLlAMSON, 1989).
A questão a ser colocada é sobre a utilização destas ofertas afim de assegurar
um mercado para a produção resultante e a oferta necessária de bens intermediários.
A literatura econômica apresenta algumas estratégias alternativas de
desenvolvimento, ou seja, a teoria do Crescimento Equilibrado, o Modelo exportador e o
Modelo de Substituição de Importações.
A Teoria do Crescimento Equilibrado, desenvolvida por ROSENSTEIN-RODAN
(1943) e NURSKE (1953), é baseada no equilíbrio da procura. Os principais aspectos
desta teoria baseiam-se nas premissas de que as diversas partes de uma economia em
desenvolvimento devem acertar o passo para evitar as dificuldades de suprimento e que
as necessidades de capital fixo social devem ser supridas em quantidade para suportar e
estimular o crescimento da indústria. O papel do Estado é pois, o de assegurar uma
simultaneidade de investimentos, numa ampla variedade de empreendimentos que se
consideram necessários para garantir o bom êxito das empresas particulares, no sentido
de governo centralizado e coordenador do processo de desenvolvimento. Verifica-se que
é a "Teoria do Grande Impulso" ("big push") que está implícita na teoria do
desenvolvimento equilibrado, ou seja, a de que não é possível passar da estagnação ao
desenvolvimento através de um esforço contínuo, necessitando de um "grande impulso".
Esta teoria não foi corroborada com o passar do tempo, em função da não
praticidade de um avanço simultâneo num campo extenso, principalmente em países
pequenos, em função das economias de escala e também, porque a economia
internacional serve de fontes alternativas de mercados e oferta de bens intermediários.
O modelo Exportador é baseado na promoção das exportações, destinando as
ofertas adicionais de fatores aos setores que já estejam produzindo para exportação ou
o
modelo de Substituição de Importações baseia-se numa economia fechada,com o crescimento econômico efetuando-se com base no mercado interno e as
exportações crescendo marginalmente.
Para efeito deste estudo, será efetuado uma avaliação dos modelos exportador
e substituição de importações.
2.2. O Desenvolvimento Econômico e os Países Subdesenvolvidos
A história econômica dos países latino-americanos, a partir deste século, tem
mostrado que a instabilidade das monoculturas de exportação levou muitos países a
adotarem uma política comercial de "fechamento de suas fronteiras" ao resto do mundo,
ou seja, a uma tentativa de "auto-suficiência econômica", por vezes nociva ao seu próprio
desenvolvimento. Embora o modelo de substituição de importações tenha sido
responsável pelo processo de industrialização em países como o Brasil e México, estes
países deixaram de exportar maiores quantidades de produtos, que poderiam ter
proporcionado um crescimento mais rápido, uma vez que nem todos os produtos
primários de exportação tiveram seus preços deteriorados secularmente (SOUZA, 1993).
O elevado grau de "pessimismo" quanto às possibilidades de expansão das
exportações por parte dos países subdesenvolvidos tem suas raízes históricas baseado
no fato de que a demanda por produtos primários, por parte dos países desenvolvidos,
não tem aumentado na mesma proporção de seu crescimento. Isto desencadeia um
embaraçamento do crescimento de países não-industrializados, em face das dificuldades
óbvias que têm estes países em exportar produtos manufaturados, devido aos seguintes
problemas: descontinuidade dos custos comparativos (devido à escala, carência de
mão-de-obra especializada, protecionismo nos países desenvolvidos, etc..);
Diante disso, os países subdesenvolvidos, após a Segunda Guerra Mundial,
tornaram-se muito protecionistas, taxando fortemente suas importações de bens
manufaturados e mantendo impostos na exportação de produtos primários. Como
resultado pode-se verificar uma perda efetiva de participação no mercado internacional,
tanto de produtos primários, como de produtos manufaturados, em face de dificuldades
internas tais como discriminação contra a agricultura em favor da indústria,
descontinuidades de políticas econômicas, carência de infra-estruturas, câmbio
supervalorizado e inflação. Como dificuldade externa, pode-se apontar a
inelasticidade-preço dos produtos primários como principal fator da perda de participação por parte
deste países no mercado internacional (SOUZA, 1993).
2.3. Estratégias de Crescimento Econômico em Países em
Desenvolvimento
Pode-se detectar duas correntes de pensamento, ou mais especificamente, duas
estratégias de crescimento econômico que permeiam os países em desenvolvimento.
Uma delas, baseada na expansão das exportações, segundo as vantagens
comparativas do país e na substituição seletiva de importações, com a economia
relativamente aberta ao exterior. Tese esta defendida por autores como KRUEGER
(1980) e BALASSA (1989), que acreditam na possibilidade de expansão das exportações
pelos países subdesenvolvidos, considerando infundado o elevado grau de pessimismo
que permeia este países e que políticas internas de substituição de importações têm
prejudicado o crescimento das exportações e da economia no seu conjunto.
A outra corrente, defendida por autores como FAJNZYLBER (1981) e BRUTON
(1989), apoia-se na substituição de importações, com a economia fechada, o crescimento
econômico baseando-se no mercado interno e as exportações crescendo marginalmente.
assimilação tecnológica e geração de novos produtos com vantagens comparativas que
levam a um aumento das exportações.
2.3.1. A Teoria da Base Exportadora
o
crescimento econõmico através da expansão das exportações levanecessariamente à abertura comercial, pois as interdependências entre as exportações e
a renda interna incrementam a demanda de bens importados, exigindo que o país
exportador não se utilize exageradamente de políticas protecionistas.
De acordo com esta teoria, a interdependência existente entre as exportações, o
setor de mercado interno e as importações de bens de consumo, insumos industriais e
bens de capital, concilia os interesses entre crescimento da periferia e centro, cabendo
aos países centrais a possibilidade de um maior desenvolvimento, através do
deslocamento de sua produção para setores de mão-de-obra mais especializada, com
capital e tecnologia mais intensivos, enquanto que para os países periféricos caberia
centrar o desenvolvimento de sua produção para setores com tecnologia mais simples e
intensivos em trabalho.
Outros argumentos são utilizados para embasar esta teoria, afirmando que a
abertura às exportações, com economias orientadas para fora, promove maior
competitividade, cria economias de escala, gera empregos e pode levar a uma maior
produtividade, melhorando o nível de renda da população. Além disso, esta estratégia de
crescimento voltada para fora, com promoção das exportações, não requer um completo
abandono do modelo de substituição de importações.
Os pressupostos básicos da teoria da base exportadora é o de que o
crescimento das exportações gera efeitos de multiplicação e de aceleração no setor de
encadeamentos para frente e para trás no processo produtivo, criando demanda por
serviços como transportes, comunicações, financiamentos, etc.
Os efeitos importantes a considerar são que além dos reflexos sobre as
atividades secundárias de processamento, originados pela demanda de insumos
domésticos pela agricultura, indústria e serviços, verificam-se efeitos significativos sobre
a demanda final, em função do crescimento da renda e do emprego. Este efeito sobre a
demanda final amplia os impactos das exportações sobre a produção doméstica,
gerando maiores impactos sobre a renda e o emprego. Com isso, verifica-se também
uma elevação das importações de insumos, máquinas e bens de consumo final, dado a
variação verificada no nível de renda, exigindo assim, maiores cuidados com possíveis
déficits no balanço de pagamentos, apesar do crescimento das exportações e do afluxo
de capitais externos.
Ao produzir para o mercado mundial, as exportações reduzem o custo médio,
diminuindo os custos sociais, o grau de capacidade ociosa da economia e,
conseqüentemente, a relação capital-trabalho, aumentando a produtividade dos fatores.
Os efeitos multiplicadores de renda e emprego sobre o setor de mercado interno, não
exportador, ampliam o parque produtivo interno, emergindo novas substituições, mais
seletivas, dando lugar a um crescimento mais diversificado e ao surgimento de novas
vantagens comparativas. A economia sendo orientada para setores de maiores
vantagens comparativas, proporciona maior eficiência aos investimentos, gerando maior
nível de renda, de poupança e de crescimento econômico.
Um dos motivos do sucesso de países orientados para a exportação, é que esta
orientação exige um conjunto de restrições, ou mais precisamente, uma severa disciplina
na condução da política econômica. Maior abertura favorece a competição, permite a
especialização e o surgimento de economias de escala, reduzindo as indivisibilidades,
expondo rapidamente os erros de política para correção. A extensão da liberalização
melhora o funcionamento dos mercados, proporcionando rápido crescimento econômico
Como observou SOUZA (1993), "as trocas internacionais de bens, serviços,
capitais, tecnologias e informações magnificam· a concorrência e expõem a estrutura
econômica interna a um alto grau de competitividade e eficiência, em relação às
economias concorrentes. Essa interdependência constitui o chamado círculo virtuoso do
desenvolvimento: uma economia voltada às exportações obriga-se a adotar um conjunto
de políticas coerentes, continuamente revisadas, para dar ao País as condições de
enfrentar a concorrência externa e manter suas exportações em crescimento. Os custos
das intervenções aumentam com o crescimento, mas o sucesso inicial gera a
liberalização que, por sua vez, permite novos ganhos com a estratégia de certo grau de
abertura comercial. Além disso, esta abertura evita substituições indiscriminadas em
indústrias com altos custos médios, cujos produtos podem ser obtidos com menor custo
no exterior, beneficiando os consumidores e as empresas insumidoras".
2.3.2. O Modelo de Substituição de Importações
2.3.2.1. Vantagens
As vantagens apresentadas pelos defensores da teoria baseada na substituição
de importações se resume no fato de que o protecionismo ajuda o País a traçar os rumos
de sua economia, pois leva a adoção de processos de produção que já deram certo em
outros países, possibilitando o processo de aprendizagem (Iearning by doing) e a
geração de técnicas endógenas, que elevam a produtividade do trabalho,
proporcionando o surgimento de retornos crescentes de escala. O progresso técnico'
estimula o crescimento econômico, o qual, por seu turno, induz a inovações tecnológicas
posteriores.
Um dos argumentos básicos é o de que a substituição de importações pode ser
tecnológica. A tecnologia pode ser gerada através do "Iearning by doing", ou seja,
através do processo de aprendizagem. Aprende-se fazendo, ou seja, adquire-se
tecnologia no ato de produzir. Com isso, ao se atingir maior base industrial e
diversificação, a própria economia irá produzir a especialização necessária e propiciar
vantagens comparativas, proporcionando aumento das exportações.
Um outro argumento é o de que a economia passa a produzir para um mercado
cativo, já existente. Com isso, consegue fugir da deterioração dos termos de troca,
agravada pela especialização da base exportadora, uma vez que os preços relativos
elevam-se em favor da indústria e dos países exportadores de produtos industriais. Neste
crescimento voltado para dentro, o controle da demanda interna pode ser efetuado por
instrumentos de política monetária e fiscal, viabilizando uma estratégia de crescimento
com base no setor de mercado interno, reduzindo riscos e incertezas.
Um terceiro argumento provém da necessidade de proteção à indústria
nascente, e aqui pode-se exemplificar com o caso da indústria de Informática no Brasil,
por parte dos países subdesenvolvidos.
Analisando as vantagens comparativas por um princípio mais amplo que a
análise estática proporcionada pelo padrão da divisão internacional do trabalho,
verifica-se que, no longo prazo, com a própria industrialização, os produtos passam a apreverifica-sentar
especialização, reduzindo custos no tempo. Baseado neste processo dinâmico de
redução de custos no tempo, novos ramos podem tornar-se competitivos, resultando em
retornos crescentes de escala, em virtude da produção para mercados mais amplos e
induzindo a inovações tecnológicas posteriores.
O surgimento de retornos crescentes pode estar associado ao processo de
aprendizagem, através da adoção de técnicas que elevem a produtividade do trabalho,
ouà implantação de inúmeras indústrias simultaneamente que somente seriam rentáveis
quando implantadas em bloco, em face das interdependências. O aumento da escala e a
redução dos custos médios geram novas vantagens comparativas, em relação a outros
produtos. Ocorrendo vantagens comparativas em um contexto dinâmico, indústrias com