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O direito com foco no desenvolvimento

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Academic year: 2017

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G E T U L I O

Julho 2008

M E S T R A D O

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O DIREITO

COM FOCO NO

DESENVOLVIMENTO

D

esde o início a Escola de Direito da Fundação

Getu-lio Vargas em São Paulo foi pensada como criação de um bem público e não como meio de obter A idéia foi, desde as primeiras rodadas de discussão, conceber um centro que capacitasse jovens advoga-dos a operar nessa situação de transição por que o país passa, neste marco da globalização. Um mundo mais complexo em que o direito não vem dando conta de preparar advogados em sintonia com as novas demandas.

A criação do Mestrado Direito e Desenvolvimento tem uma dupla inalidade. Em primeiro lugar, produzir juristas capazes de uma interlocução com outras ciências – principal-mente com a economia, a ciência política, com a gestão da coisa pública. E que pudessem contribuir intelectualmente na produção de conhecimento no âmbito de um direito que não fosse autista, alheio aos desaios que a sociedade brasilei-ra enfrenta. Seja em seu desenvolvimento interno seja na sua integração no cenário internacional. Preparar pesquisadores capazes de uma interlocução e de uma relexão que leve o direito a contribuir com o desenvolvimento e não servir de obstáculo para esse desenvolvimento.

A segunda proposta do Mestrado é formar advogados ca-pacitados para a docência. Uma das diiculdades das escolas de direito é que elas têm professores que jamais receberam treinamento para a atividade docente. São práticos que en-sinam, repetindo modelos que já eram superados quando freqüentavam os bancos de suas faculdades. O mestrado da Direito GV também tem essa missão: qualiicar advogados que dominem métodos de ensino, capazes de inovar no ce-nário acadêmico brasileiro.

O desafio da excelência

Como o próprio presidente da FGV e o diretor da facul-dade insistiram, o mestrado não é uma unifacul-dade de receita dentro da instituição. Ele tem como objetivo ser instituição que preste à sociedade brasileira uma contribuição de natu-reza pública. Sua missão é produzir excelência.

Isso trouxe conforto aos professores que participam do pro-grama de mestrado, pois o desaio está muito claro: qualiicar ao máximo esses pesquisadores e contribuir para que sejam bons docentes. Então, no processo seletivo que terminamos

nesta última semana de junho, entre 60 candidatos vindos de diferentes partes do país, selecionamos 10 jovens extremamen-te talentosos para um total de 20 vagas: icamos com os melho-res, na proposta da excelência. E esses melhores passaram por provas difíceis e tiveram de apresentar propostas de projetos.

Com satisfação, analisamos projetos bastante alinhados com as diretrizes da escola, que dizem respeito à de que modo o desenvolvimento pode se relacionar com a susten-tabilidade ambiental, por exemplo. Ou de como o sistema tributário pode estar sendo obstáculo para o desenvolvimento econômico, sem gerar resultados positivos em termos de jus-tiça social. Outro projeto, entre os aprovados, quer analisar como a governança coorporativa consegue alavancar maiores investimentos junto à Bolsa de Valores. Outro projeto, tam-bém muito interessante, de uma jovem candidata aprovada, pretende trabalhar com cartórios e a titulação da propriedade como instrumento para obtenção de credito – baseada nas idéias do economista peruano Hernando de Soto, que intuiu que boa parte dos problemas dos países periféricos vem de que uma parcela da população não obtém credito por não ser proprietária de bens imóveis. De Soto criou uma política em seu país, incorporada pelo governo, que foi a titulação em massa nas favelas e comunidades mais pobres, o que trouxe forte impacto na inserção dessas famílias no mercado.

Outra candidata aprovada, vinda da Bahia, apresentou projeto sobre “Políticas publicas de educação no Brasil e sua relação com o direito universal e de que forma isto se realiza na prática”. Uma mostra de que nosso mestrado foi procurado por estudantes preocupados com o impacto que o direito traz à sociedade. Deu para perceber, ainda, que boa parte dos candidatos selecionados vem de fora de São Paulo, o que reforça a imagem de que a FGV é uma instituição com presença nacional – e que nosso projeto não é algo que margeia a avenida Paulista. Esses alunos voltarão depois de formados a seus Estados, seja Pará, Piauí ou Bahia, e lá continuarão a irradiar essas idéias.

Condições de financiamento

O mestrado da Direito GV pode ser realizado em 18 me-ses, tempo mínimo, ou 24 meses no máximo, e tem incorpo-rado o conceito da “integralidade”, uma imersão em tempo

Terminado o primeiro processo seletivo para o Mestrado

da Direito GV em São Paulo, seu coordenador fala sobre o curso

integral num ambiente de pesquisa. Esse fator eliminou bons candidatos, que se deram conta, por serem funcioná-rios de órgãos públicos, por exemplo, de que não teriam a possibilidade da dedicação integral. A preocupação com o custo de curso, que ao exigir integralidade impossibilita tra-balhar para manter-se, pode parecer um complicador. Mas há vários mecanismos para inanciar a empreitada. Como os potenciais inanciadores externos, tanto do mercado como de fundações – como da própria FGV, que está criando me-canismos, como a bolsa pagável no inal do curso, para que a questão inanceira não seja obstáculo. Essa bolsa é um modo de que o candidato possa abdicar do trabalho durante dois anos, vir para a escola, se empenhar nas atividades acadêmi-cas e depois sair, amortizando o empréstimo. O que não se quer é que falta de recurso se torne obstáculo.

A aula inaugural do curso já aconteceu. Foi no lança-mento do projeto do mestrado – e muitos candidatos assisti-ram a ela. Uma aula magistral proferida pelo professor José Eduardo Faria, que é de algum modo a igura idealizada do jurista que o curso se propõe preparar. Um jurista de nature-za interdisciplinar que pensa o país socialmente e de forma profunda sem

descola-mento da realidade bra-sileira. E faz isso numa inserção no cenário internacional. É esta realidade que fomenta as relexões de Faria.

Na grade curricular, pensada com esse foco, alguns cursos serão da linha comum e obriga-tórios, como o de Direi-to e DesenvolvimenDirei-to,

ministrado pelos professores Carlos Guilherme Mota e por mim, Oscar Vilhena. Colocar esse curso no início do progra-ma é importante para que os alunos tenham uprogra-ma gramática comum sobre a concepção de desenvolvimento.

Outra matéria será “metodologia de pesquisa”, ministra-da pelos professores José Reinaldo Lopes e Luciana Gross Cunha. É também disciplina estratégica, pois a grande di-iculdade dos alunos que fazem mestrado e doutorado em Direito é que aprendem muita teoria do Direito, mas não necessariamente o modo de produzir conhecimento em Direito. Há uma tradição entre nós de dissertações que são meras descrições temporais ou factuais de procedimentos ou revisão bibliográica manualesca. Uma das propostas do mes-trado da Direito GV será aguçar e aperfeiçoar a capacidade de os advogados olharem para as instituições jurídicas não apenas da perspectiva de compreender qual é a regra que ela determina, mas de como essa instituição interfere e interage com o todo, afetando o desenvolvimento e o crescimento.

Desenvolvimento com foco no cidadão

No caso dessa proposta matricial de nosso curso, que tem duas linhas de pesquisa, Direito dos Negócios e Desenvolvi-mento Econômico e Social; e Instituições do Estado Demo-crático de Direito e Desenvolvimento Político e Social, vale

um comentário. O Brasil teve um ciclo de desenvolvimento nos anos 70 que gerou riquezas, mas provocou um enorme desequilibro social. Houve um crescimento que aumentou a riqueza, industrializou o país, mas sem desenvolver as pes-soas implicadas no processo, criando as periferias em nossas grandes cidades, com as favelas de São Paulo e Rio de Janeiro. Por isso, no momento em que houve a desaceleração ou a desindustrialização, ocorreu a explosão de criminalidade e a favelização das periferias. Tivemos desenvolvimento, mas que não foi socialmente sustentável, não beneiciou o cidadão de modo coletivo.

A própria noção de desenvolvimento, como formulada por Adam Smith, tinha preocupação com a acumulação de capital, e o excedente reinvestido possibilitaria avanços tecnológicos, novas divisões do trabalho, etc. Essa visão teve contrapontos posteriores, com a crítica marxista e neomar-xista, de que tivemos grandes intelectuais pensando o de-senvolvimento, como Celso furtado e Fernando Henrique Cardoso – com a visão de que a acumulação se dá de modo distinto nos países da periferia. Já os weberianos insistem que fatores culturais são imprescindíveis, etc.

O ponto em que nos encontramos, hoje, nes-se debate, é que os ciclos de desenvolvimento se dão na medida em que haja respeito pelas nor-mas jurídicas, responsa-bilidade nas relações, e que o crescimento traga melhoria de vida para a maior parcela da po-pulação. Não é possível pensar em desenvolvi-mento que não busque incluir o maior número de cidadãos.

As instituições do direito são tema nuclear na construção do desenvolvimento. E quem conhece melhor estas institui-ções, por operar de dentro, são os juristas: eles são os espe-cialistas no modo de operar as normas, sabem dos detalhes que geram conseqüências no arranjo institucional. São eles que estabelecem as regras do jogo e são essas regras que es-tabelecem expectativas. Na medida em que as expectativas se conirmam acontece a coniança social e as possibilidades de ciclos de desenvolvimento.

Essa é uma preocupação brasileira antiga. Se pegarmos os grandes debates em que se discutiu o crescimento e o futuro do país, ali estavam bacharéis. De Rui Barbosa a Alberto Torres, de Sergio Buarque e Raimundo Faoro. É possível perceber uma preocupação comum a todos eles: de que for-ma estamos criando as instituições no Brasil? Ou seja, de que forma estabilizamos as regras de convívio social ou de que modo essa “institucionalização” produzirá efeito bené-ico para a sociedade. Na esteira dessa busca, o programa de mestrado da Direito GV terá um olhar novo para a forma como esses bacharéis pensaram a “institucionalidade”. Para, daí, compreender o papel que essas instituições têm num desenvolvimento que beneicie a sociedade e promova um mundo mais democrático e justo.

O Brasil teve um ciclo de

desenvolvimento nos anos 70 que

gerou riquezas, mas provocou grande

desequilibro social. Hoje não faz sentido

pensar crescimento que não crie um

mundo mais democrático e justo

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