D I S M I E L I N I Z A Ç Õ E S P R I M Á R I A S N O S I S T E M A N E R V O S O C E N T R A L
O R L A N D O A I D A R *
Característica c o m u m e fundamental das doenças d i s m i e l i n i z a n t e s é a d e g e n e r a ç ã o p r i m á r i a das f i b r a s nervosas no sistema n e r v o s o central, inde-pendente de lesões das células nervosas ou dos vasos. Outras a l t e r a ç õ e s , c o m o necrose, g l i o s e , i n f i l t r a d o s i n f l a m a t ó r i o s , e t c , a p a r e c e m i s o l a d a s ou associadas e m duas ou m a i s dessas doenças, ou e m variantes de cada u m a destas. A extensão e o grau dessas alterações, a p r e d i l e ç ã o l o c a l i z a t ó r i a e a i d a d e e m que i n c i d e m , i n f l u e n c i a d a s de v á r i o s m o d o s pela intensidade
do agente causai, constituição e estado de r e c e p t i v i d a d e do paciente, e t c , d e p e n d e r ã o de fatores ainda desconhecidos, e são outros tantos m o t i v o s das numerosas v a r i a ç õ e s que e x i s t e m de caso para caso. A s transições d e uma p a r a outra dessas doenças freqüentemente são apenas quantitativas, e n ã o é m u i t o r a r a , e m um m e s m o caso, a c o n c o m i t â n c i a de q u a d r o s t i d o s c o m o de doenças diferentes.
P o r esses m o t i v o s , numerosos p a t o l o g i s t a s têm tentado l e u n i r as doen-ças dismielinizantes p r i m á r i a s e m u m só g r u p o , atribuindo-lhes p a t o g e n i a semelhante, e m b o r a a d m i t i n d o d i v e r s i d a d e de f a t o r e s e t i o l ó g i c o s desenca¬ deantes. P a r a esses autores, o m e c a n i s m o responsável p e l a s lesões seria de natureza a l é r g i c a . Fundamentamse, p a r a tanto, e m a r g u m e n t o s p o n -d e r á v e i s e -demonstrações e x p e r i m e n t a i s sugestivas. Outras autori-da-des n ã o r e c o n h e c e m a v a l i d e z da teoria a l é r g i c a e i n v o c a m a r g u m e n t o s t a m b é m respeitáveis. A v e r d a d e é que os fatores causais dessas doenças continuam i g n o r a d o s . T e m - s e i n c r i m i n a d o t a m b é m , c o m o seus agentes, as reações tó-x i c a s , as i n f e c ç õ e s , a ç ã o de enzimas l i p o l í t i c a s , distúrbios v a s c u l a r e s , etc.
E x p e r i m e n t a l m e n t e , e m animais de l a b o r a t ó r i o , têm sido p r o v o c a d a s d i s m i e l i n i z a ç õ e s de v á r i a s m a n e i r a s , sem que os q u a d r o s o b t i d o s c o r r e s p o n -d a m exatamente aos o b s e r v á v e i s nas -doenças humanas. P o r é m , o fato -de serem essas e x p e r i ê n c i a s feitas e m animais j á j u s t i f i c a r i a a l g u m a s dessas d i f e r e n ç a s . A c r e s c e q u e , m e s m o entre as v á r i a s espécies, há d i v e r s i d a d e de reações a tal ou qual agente m ó r b i d o . Considere-se t a m b é m q u e , na e x p e r i m e n t a ç ã o , as c o n d i ç õ e s nunca r e p r o d u z e m exatamente as naturais.
T r a b a l h o a p r e s e n t a d o n o D e p a r t a m e n t o d e N e u r o - P s i q u i a t r i a da A s s o c i a ç ã o P a u l i s t a d e M e d i c i n a , e m 8 a g ô s t o 1951.
D i s m i e l i n i z a ç õ e s e x p e r i m e n t a i s têm sido obtidas p o r m e i o de oclusão p a r c i a l de vasos cerebrais, a n ó x i a q u í m i c a , i n j e ç ã o de toxinas, i n j e ç ã o
in-tracerebral ou e x t r a c e r e b r a l de emulsões e extratos cerebrais.
São representantes p r i n c i p a i s dessas doenças as que v ê m sendo
rotu-ladas c o m o esclerose difusa ( d e S c h i l d e r ) , n e u r o m i e l i t e ó p t i c a ( d e D e v i c ) ,
esclerose m ú l t i p l a ou disseminada, d e g e n e r a ç ã o c o m b i n a d a subaguda da
me-dula, e n c e f a l o m i e l i t e s disseminadas pós-infecciosas e e n c e f a l o m i e l i t e
alér-gica e x p e r i m e n t a l .
Grupo "Esclerose Difusa" ( f i g . 1 ) — N a doença de S c h i l d e r e
va-riantes encontram-se áreas extensas e difusas de destruição da substância
branca dos h e m i s f é r i o s , c o m certa simetria b i l a t e r a l ; os n e r v o s ó p t i c o s são
a f e t a d o s e m muitos casos, o que t a m b é m p o d e o c o r r e r , c o m freqüência
men o r , menas outras partes d o men e u r o e i x o . N o s h e m i s f é r i o s , as lesões c o m p r o
-m e t e -m às vezes t a -m b é -m o c ó r t e x , -mas freqüente-mente o respeita-m, b e -m
co-m o às f i b r a s a r q u e a d a s subcorticais. Os f o c o s lesionais p o d e co-m ter, e co-m
um m e s m o caso, caracteres d i f e r e n t e s : 1) E m alguns, de consistência
pas-tosa, há a m o l e c i m e n t o da substância branca. A p r e s e n t a m e n o r m e
quanti-dade de corpúsculos granulares c o m p o s t o s ( G i t t e r z e l l e n ) c a r r e g a d o s de
de-tritos e p i g m e n t o h e m o s s i d e r ó t i c o , e s p e c i a l m e n t e e m t o r n o dos vasos, de
mistura então c o m l i n f ó c i t o s ; os astrócitos e v i d e n c i a m r e a ç ã o p r o g r e s s i v a ,
i n i c i a n d o certo grau de g l i o s e , e muito s deles a p a r e c e m sob a f o r m a de
Gemástetezellen ou sob a de células m u l t i n u c l e a d a s . 2 ) P o r outro l a d o ,
c o m o na f o r m a clássica da doença, os f o c o s c r ô n i c o s são m u i t o
consisten-tes e i r r e g u l a r e s , d e v i d o à retração c i c a t r i c i a l causada p e l a intensa g l i o s e
h e t e r o m o r f a ; nestes, são escassos os i n f i l t r a d o s p e r i v a s c u l a r e s e corpúsculos
g r a n u l a r e s c o m p o s t o s . 3 ) O u t r o s f o c o s , e n f i m , representam graus de
transição entre os a g u d o s e os c r ô n i c o s , c o m passagem g r a d u a l de p r e d o m i
-nância dos f e n ô m e n o s r e g r e s s i v o s p a r a a das reações r e p a r a d o r a s .
S e g u n d o p r e d o m i n e m tais ou quais tipos de l e s ã o , e e m consonância
c o m a história c l í n i c a , fala-se e m f o r m a s aguda, subaguda ou crônica da
d o e n ç a . P a r e c e h a v e r certa p r e v a l ê n c i a das lesões agudas nas crianças, e
das crônicas e m adultos. A v a r i a b i l i d a d e de l o c a l i z a ç ã o dos f o c o s no
n e u r o - e i x o , da p r e d o m i n â n c i a de lesões agudas ou crônicas e de incidência
na i d a d e , c o n d i c i o n a q u a d r o s c l í n i c o s diferentes, r a z ã o p o r que se tem
tentado considerar as v a r i a ç õ e s c o m o entidades m ó r b i d a s d e f i n i d a s . A s
f o r m a s de B a l o , K r a b b e , P e l i z â u s - M e r z b a c h e r , S c h o l z , e t c , p a r e c e m não
ser mais do que variantes da doença de S c h i l d e r , e m b o r a as últimas tenham
s i d o descritas c o m o de tendência f a m i l i a l .
Neuromielite. óptica ( f i g . 2 ) — A doença de D e v i c se caracteriza p o r
focos de a l t e r a ç ã o tecidual nas vias ópticas e m e d u l a e s p i n a l , sob a f o r m a
de a m o l e c í m e n t o s e esclerose q u e a t i n g e m t a m b é m a substância cinzenta.
Essas áreas apresentam-se d i s m i e l i n i z a d a s e e x i b e m desmantelo da
estru-tura, e m alguns casos c o m g r a n d e n ú m e r o de c o r p ú s c u l o s granulares
com-postos e outras f o r m a s de m i c r o g l i ó c i t o s , juntamente c o m o l i g o d e n d r ó c i t o s
e a s t r ó c i t o s ; os p r i m e i r o s f o r m a m t a m b é m espessos manguitos
perivascula-res, de mistura c o m l i n f ó c i t o s . E m outras p a l a v r a s , o q u a d r o é então
se-melhante ao das lesões " a g u d a s " da substância branca na esclerose difusa.
O n ú m e r o de astrócitos é r e l a t i v a m e n t e p e q u e n o , e é escassa a g l i o s e
re-p a r a d o r a nos f o c o s m e d u l a r e s . A s células nervosas são afetadas e m graus
q u e v a r i a m de c r o m a t ó l i s e até f r a g m e n t a ç ã o , podendo-se encontrar
sateli-tose e n e u r o n i o f a g i a . N o n e r v o ó p t i c o e, às vezes, na m e d u l a , a g l i o s e
p o d e ser intensa, q u a n d o então o q u a d r o m i c r o s c ó p i c o se s u p e r p õ e ao das
lesões " c r ô n i c a s " da esclerose difusa de S c h i l d e r . A l i á s , há a l g u n s casos
descritos e m que esse q u a d r o se apresentou associado ao da esclerose
di-fusa de S c h i l d e r , o que p a r e c e i n d i c a r p a t o g e n i a c o m u m destas doenças.
A i n d a recentemente t i v e m o s o p o r t u n i d a d e de v e r i f i c a r a o c o r r ê n c i a dessa
associação e m um de nossos casos, e presentemente estamos estudando
F i g . 2 — Neuromielite óptica. E m A , necrose em segmento cervical da medula, com massas de Gitterzellen, gliose escassa e infiltrado perivascular de linfócitos e Gitterzellen ( H . E . , x 1 2 0 ) . E m B , nervo óptico esclerosado, com infiltrado linfocitário perivascular ( H . E . ,
X 3 6 0 ) . E m C , foco cerebral de dismielinização em outro caso de neuromielite óptica. O campo de gliose é atravessado p o r a l g u m a s fibras nervosas íntegras. Intenso infiltrado linfocitário em torno do vaso m a i o r ; ao longo de seu afluente há numerosas Gitterzellen
( H . E . , X 1 2 0 ) .
Esclerose múltipla ( f i g . 3 ) — N a esclerose e m placas, as manchas
são disseminadas p e l o n e u r o - e i x o . P o r é m , as alterações p a t o l ó g i c a s não se
l i m i t a m a elas, p o d e n d o ser encontradas difusamente, inclusive em raízes
nervosas e, segundo alguns, em n e r v o s p e r i f é r i c o s . A s placas são de
di-mensões, f o r m a e n ú m e r o v a r i a d o s , c o m limites nítidos, de c o l o r a ç ã o
acin-zentada após f i x a ç ã o , consistentes, sem r e l a ç õ e s t o p o g r á f i c a s constantes c o m
vasos, septos ou substância cinzenta. P r e d o m i n a m na substância branca,
mas t a m b é m se estendem à cinzenta, sem afetar, no entanto, as células
ner-vosas. Diz-se serem mais freqüentes p r ó x i m o aos v e n t r í c u l o s e substância
cinzenta.
Essas placas representam a fase f i n a l das a l t e r a ç õ e s ; outras e x i s t e m ,
p o r é m , p á l i d a s , o n d e a destruição tecidual é m e n o r , e há uma fase ainda
mais p r e c o c e no t e c i d o aparentemente n o r m a l , v i z i n h o às p l a c a s . N e s t e ú l t i m o , encontram-se a l g u m a s f i b r a s e m vias de destruição, c o m bainhas
m i e l í n i c a s entumescidas ou e m i n í c i o de d e s i n t e g r a ç ã o , e c i l i n d r o s - e i x o s
irr e g u l a irr e s , a l g u n s j á i n v a d i d o s p o irr m i e l o c l a s t o s ( m i c irr o ou o l i g o n d e n d irr ó
-citos m o d i f i c a d o s ) . N a s manchas em fase de transição, a m i e l i n a j á está f r a g m e n t a d a em m a i o r número de f i b r a s , e há m i e l ó f a g o s em certa
quan-t i d a d e , G i quan-t quan-t e r z e l l e n , g l ó b u l o s de M a r c h i , equan-tc., e m a i o r número de a x ô n i o s
estão c o m p r o m e t i d o s ; os f a g o c i t o s v ã o sendo i m p e l i d o s para os espaços
p e r i v a s c u l a r e s ; há certa h i p e r p l a s i a dos astrócitos, c o m i n í c i o de g l i o s e . F i n a l m e n t e , na última fase, as placas tornam-se cicatrizes dc g l i o s e
de m i e l i n a ; os corpúsculos g r a n u l a r e s c o m p o s t o s j á a l c a n ç a r a m a l e p t o ¬
m e n i n g e , o n d e estão de mistura c o m alguns l i n f ó c i t o s . A l g u n s vasos
po-dem apresentar paredes h i a l i n i z a d a s . Essas placas assemelham-se,
portan-to, aos f o c o s " c r ô n i c o s " de esclerose de S c h i l d e r .
F i g . 3 — Esclerose múltipla. E m A , corte de medula torácica com dismielinizaçào de g r a n d e parte das substâncias branca e cinzenta ( M é t . YVeil, x
' 2 , 5 ) . E m 15, medula torácica com gliose intensa, tendo sido focalizado um ninho de Gitterzellen ( H . Fosf., X 3 6 0 ) .
N a chamada esclerose m ú l t i p l a a g u d a os f e n ô m e n o s d e s e n v o l v e m - s e
mais r a p i d a m e n t e , e os e l e m e n t o s i n f l a m a t ó r i o s p r e d o m i n a m sobre os
de-g e n e r a t i v o s ; o q u a d r o l e m b r a então o da e n c e f a l o m i e l i t e disseminada ade-guda.
Degeneração combinada subaguda ( f i g . 4 ) — Nesta doença há lesões mais ou menos simétricas de l o n g o s tractos dos c o r d õ e s dorsais e laterais
em doentes de a n e m i a p e r n i c i o s a . A s lesões são mais extensas nos
seg-mentos t o r á c i c o s , e não c o m p r o m e t e m a substância cinzenta e nem as raí-zes m e d u l a r e s . Caracterizam-se p o r p e q u e n i n o s pontos de necrose
conjun-ta das bainhas m i e l í n i c a s , c i l i n d r o s - e i x o s e g l i a , f o r m a n d o espaços
lacuna-res circunscritos p o r f i b r i l a s g l i a i s escassas, o q u e dá às áreas afetadas
um aspecto c r i b r i f o r m e t í p i c o (status s p o n g i o s u s : L ü c k e n f e l d e r ) . E m um ou outro desses espaços e e m torno dos vasos encontram-se corpúsculos
granulares c o m p o s t o s c a r r e g a d o s de l i p ó i d e s . N ã o há, praticamente, g l i o
-se r e p a r a d o r a . O s vasos p o d e m ter paredes h i a l i n i z a d a s . Os tractos
lon-gos mais a t i n g i d o s p o d e m apresentar d e g e n e r a ç ã o secundária, distalmente à sua lesão. D e r e g r a , as células nervosas não s o f r e m alterações, ou
apre-sentam c r o m a t ó l i s e conseqüente à secção de seus a x ô n i o s . S e g u n d o alguns
autores, p o d e h a v e r c o m p r o m e t i m e n t o discreto de nervos p e r i f é r i c o s na
fase inicial da doença.
F i g . 4 — D e g e n e r a ç ã o combinada s u b a g u d a (síndrome n e u r a n ê m i c a ) . Corte de medula torácica mostrando status spongiosus, com Gitterzel-len em muitas d a s cavidades e em torno do vaso ( H . E . , X 3 6 O ) .
Dismielinizações perivasculares pós-infecciosas ( f i g . 5 ) — R e f e r e m - s e às síndromes de e n c e f a l o m i e l i t e s disseminadas agudas r e l a c i o n a d a s com o
s a r a m p o , v a c i n a ç ã o , v a r í o l a e tratamento anti-rábico, e t a m b é m c o m febre t i f ó i d e , influenza, escarlatina, v a r i c e l a , p a r o t i d i t e e p i d ê m i c a , herpes, etc.
P a t o l o g i c a m e n t e , são mais típicas as que se seguem ao s a r a m p o ,
va-cinas, v a r í o l a e tratamento a n t i - r á b i c o . Caracterizam-se p o r f o c o s
des-truição dos a x ô n i o s , hyperplasia m i c r o - e a s t r o g l i a l , b e m c o m o pequena r e a ç ã o m e s e n q u i m a l na adventícia e a c ú m u l o de G i t t e r z e l l e n ; esses f o c o s são m a i s freqüentes na substância branca subcortical e s u b e p e n d i m á r i a , e na p e r i f e r i a da m e d u l a e s p i n a l . A s c é l u l a s nervosas p o d e m apresentar alterações que v a r i a m entre t u m e f a ç ã o e l i q ü e f a ç ã o , e p o d e h a v e r certa
Fig. 5 — Encefalite disseminada pós-varicela. E m A , substância branca subcortical com dismielinizações perivasculares ( W e i l , X l O O ) . E m B , hiperplasia micro- e astroglial periadventicial, com alguns
h i p e r p l a s i a g l i a l t a m b é m na substância cinzenta. Os vasos f i c a m congtos e p o d e m ter e n d o t é l i o t u m e f e i t o , ou p o d e m estar t r o m b o s a d o s . O
es-paço s u b a r a c n ó i d e o se apresenta distendido e contém e m suas malhas
dis-creto i n f i l t r a d o l i n f o m o n o c i t á r i o . Q u a d r o h i s t o l ó g i c o m u i t o semelhante a
este é o que se o b t é m c o m mais f r e q ü ê n c i a na e n c e f a l o m i e l i t e a l é r g i c a ex-p e r i m e n t a l .
Encefalomielité alérgica experimental ( f i g s . 6 e 7 ) — Demonstra-se
p e l a reação de f i x a ç ã o do c o m p l e m e n t o e teste de p r e c i p i t i n a que a
subs-tância e n c e f á l i c a , e m injeções parenterais, p r o v o c a a f o r m a ç ã o de anticor-pos altamente e s p e c í f i c o s para o e n c é f a l o , n ã o só de a n i m a i s da mesma
espécie, c o m o t a m b é m de espécies d i f e r e n t e s ; aliás, essa e s p e c i f i c i d a d e
pa-ra o ó r g ã o só é s o b r e p u j a d a p e l a que se r e l a c i o n a c o m o c r i s t a l i n o . N o
tecido n e r v o s o , a substância branca ( c o m o t a m b é m os n e r v o s p e r i f é r i c o s ) tem p r o p r i e d a d e antigênica seis vezes mais potente d o que a cinzenta, e
é mais ou menos essa t a m b é m a p r e d o m i n â n c i a de m i e l i n a na substância
b r a n c a .
F a z e n d o injeções intramusculares ou p e r i t o n i a i s de emulsão c e r e b r a l ,
c o m ou sem " a d j u v a n t e s " , têm os e x p e r i m e n t a d o r e s c o n s e g u i d o a p r o d u ç ã o
F i g s . 6 e 7 — Encefalomielite alérgica experimental ( F e r r a r o , 1944). M é t . Nissl. E m 6, tipos de reação perivascular ( A , Gitterzellen; B , linfócitos; C , mistura de a m b o s ) . E m 7, fases inicial ( A ) e a v a n
de e n c e f a l o m i e l i t e caracterizada p o r uma reação i n f l a m a t ó r i a difusa,
man-chas de d i s m i e l i n i z a ç ã o e, às vezes, a l g u m a g l i o s e r e a t i v a . F e r r a r o e
co-l a b o r a d o r e s , entre outros, têm c o n s e g u i d o q u a d r o s h i s t o co-l ó g i c o s m u i t o
pró-x i m o s daqueles que se o b s e r v a m nas doenças dismielinizantes humanas, q u a d r o s esses que, em um m e s m o a n i m a l , p o d e m ser diferentes,
lembran-do a e n c e f a l o m i e l i t e disseminada a g u d a e m um c a m p o , e e m outros, a
mie-l i n o c mie-l a s e da escmie-lerose difusa ou a da escmie-lerose m ú mie-l t i p mie-l a .
A q u e l e s i n v e s t i g a d o r e s f o r a m a l é m , p r o c u r a n d o p r o t e g e r os animais
de e x p e r i m e n t a ç ã o contra a e n c e f a l o m i e l i t e a l é r g i c a . Seus d a d o s i n d i c a m certa i m u n i z a ç ã o das c o b a i a s submetidas a injeções r e p e t i d a s de emulsão
de e n c é f a l o n o r m a l antes de r e c e b e r e m o a n t í g e n o e s p e c í f i c o que
desenca-deia a e n c e f a l o m i e l i t e a l é r g i c a , isto é, a emulsão de e n c é f a l o c o m
adju-vante ( à m a n e i r a de F r e u n d ) .
C o m o se v ê , p a r e c e assistir r a z ã o aos pesquisadores que v ê m defen-dendo a unidade p a t o g ê n i c a desse g r u p o de doenças dismielinizantes
pri-márias d o S . N . C . D e f a t o , muitos são os e l o s que a p r o x i m a m essas
vá-rias f o r m a s m ó r b i d a s , se bem não d e v a m o s esquecer a tendência do tecido
n e r v o s o para r e a g i r de m o d o s muito semelhantes a agentes e t i o l ó g i c o s os mais diferentes. 0 tema é brilhantemente discutido, e a b i b l i o g r a f i a é
exaustivamente revista nos t r a b a l h o s de F e r r a r o , F e r r a r o e C a z z u l l o . K o b b
e P o r t a .
S U M M A R Y
Primary Demyelinations in the Central Nervous System.
D i f f u s e sclerosis, n e u r o m y e l i t i s o p t i c a , m u l t i p l e sclerosis, subacute
com-b i n e d d e g e n e r a t i o n and acute disseminated e n c e p h a l o m y e l i t i s are com-b r i e f l y
described f r o m the a n a t o m i c a l p o i n t o f v i e w , e s p e c i a l l y w i t h r e f e r e n c e to their v a r i a t i o n s and to those o f their i n t e r l o c k i n g aspects that p o i n t to a
unitary concept o f their p a t h o g e n y . T h e i r features o f s i m i l a r i t y are
comp a r e d to the changes described in cases o f e x comp e r i m e n t a l a l l e r g i c e n c e comp h a l o
-m y e l i t i s ( F e r r a r o ) p r o d u c e d in l a b o r a t o r y a n i -m a l s .
Illustrations stress some o f the features that are c o m m o n to those
diseases, either in their " t y p i c a l " or " a t y p i c a l " f o r m s .
B I B L I O G R A F I A
1. A l v o r d , E . C . e S t e v e n s o n , L . D . — E x p e r i m e n t a l p r o d u c t i o n o f e n c e p h a l o -m y e l i t i s in g u i n e a p i g s . K e s . P u b l . A s s . N e r v . a. M e n t . D i s . , 28:99-112, 1950. 2 . F e r r a r o , A . — a) P r i m a r y d e m y e l i n a t i n g p r o c e s s e s o f t h e c e n t r a l n e r v o u s
3 . F e r r a r o , A . e C a z z u l l o , C . L . — E n c e f a l o m i e l i t e a l l e r g i c a s p e r i n i e n t a l e e t e n ¬ t a f i v i d i p r e v e n z i o n e d e l l a stessa. Sist. N e r v . , 2 ( 6 ) : 4 1 3 - 4 1 9 , 1950.
4 . F i n l e y , K . H . — T h e p a t h o l o g y a n d p a t h o g e n e s i s o f e n c e p h a l o m y e l i t i s a s -s o c i a t e d w i t h v a c c i n a t i o n and t h e e x a n t h e m a -s . R e -s . P u b l . A -s -s o c . N e r v . a. M e n t . D i s . , 28:341-356, 1950.
5 . K a b a t , E . A . , W o l f , A . e B e z e r , A . E . — E x p e r i m e n t a l s t u d i e s on a c u t e d i s s e m i n a t e d e n c e p h a l o m y e l i t i s in rh.ez.us m o n k e y . R e s . P u b l . A s s o c . N e r v . a. M e n t . D i s . , 28:113-132, 1950.
6. K o l b , L . C . -— T h e r e l a t i o n s h i p o f t h e d e m y e l i n a t i n g diseases t o a l l e r g i c e n c e p h a l o m y e l i t i s . M e d i c i n e , 2 9 ( 2 ) : 9 9 - 1 2 1 , 1950.
7 . P o r t a , V . — M a l a t t i e d e m i e l i n i z z a n t i d e l s i s t e m a n e r v o s o . Sist. N e r v . , 1 ( 3 ) : 53-67. 1949.