• Nenhum resultado encontrado

Paralisia facial periférica em Petrópolis.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Paralisia facial periférica em Petrópolis."

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA EM PETRÓPOLIS

MARCO AURÉLIO MARZULLO DE ALMEIDA *

RESUMO — O autor apresenta 83 casos de paralisia facial periférica «a frigore» ocorridos em Petrópolis, cidade montanhosa de clima tropical, sem estação seca, com m é d i a de temperatura 10 «C a 23 «C. F a z relação delas com viroses que ocorrem durante o ano. Cinquenta e s e i s pacientes são de s u a clínica e têm «follow up», enquanto 25 outros são pacientes de outra clínica, para os quais s ã o relatados apenas o início de instalação d a paralisia, o s e x o , o lado e a idade. Mostra que a m a i o r incidência ocorreu nos m e s e s de maio, agosto, setembro e outubro. F a z também considerações sobre a etiologia, incidência, prevalência, conduta, tera-pêutica e resultados na paralisia facial periférica,

P A L A V R A S C H A V E : Nervo facial, paralisia idiopática «a frigore», paralisia de Bell.

Peripheral facial p a l s y in t h e

city

of Petrópolis.

SUMMARY — T h e author presents 83 cases of «a frigore» peripheral facial palsy, occurred in the mountain c i t y of P e t r ó p o l i s 'which has characteristics such a s a tropical climate w i t h o u t any traces of ia dry season and an average temperature of 5&> F t o 73.5« F . T h e author relates them with virus infections w h i c h appear w i t h i n a y e a r period. F i f t y s i x patients b e l o n g to his clinic and have a follow up, w h i l e other 25 patients proceed from another clinics and from them he o n l y has reports on sex, age, s i d e of palsy and the beginning of illness. H e shows that t h e largest number of c a s e s occurred a l o n g t h e m o n t h h s of May, August, September and October. S e a s o n distribution for southern hemisphere i s analysed. H e also considers etiology, incidence, prevalence, treatment and results on patients studied.

K E Y WORI>S: Facial nerve, idiopathic «a frigore» palsy, B e l l ' s palsy.

A paralisia facial periférica que se instala abruptamente ou em horas, sem causa infecciosa, traumática ou tumoral, recebe múltiplas designações como paralisia facial periférica idiopática ( P F P I ) , «a frigore», reumática, isquémica, virótica ou paralisia de Bell, entre outras. Corresponde a 75% das causas de paralisia facial periférica e é afecção com que se deparam otorrinolaringologistas e neurologistas, havendo entre ambos divergencias quanto ao tratamento. Capildeo catalogou em três grupos as teorias da origem da paralisia facial periférica «a frigore»: teoria vásculo-isquêmica, teoria viral e teoria auto-imune io. Yanai e U n n o1^ observaram, em 137 pacientes

com PFPI, maior incidência nos climas em que houve ampla variação brusca de temperatura, em dias nublados e de pouco sol, não levando em conta a temperatura, a umidade e a pressão atmosférica. Tovi e c o l .1 4 apresentaram 427 casos de PFPI

ocorridos em 5 anos no sul de Israel; demonstraram média anual de 336 por 100000 habitantes. É média alta para local de clima quente e árido, que aumenta com a idade. Bademosi e col.3 registraram taxa de 2,67 por 10000 habitantes na Nigéria. Nos Estados Unidos, a taxa é de 18 pacientes por 100000 habitantes 2. Sabe-se^ que 43 pacientes com PFPI foram examinados no sul da Suécia para avaliar a incidência de «tick Borrelia spirochete» e 14% dos pacientes tinham a i n f e c ç ã o4.

N o Brasil, país de clima tropical, algumas viroses ocorrem durante o ano todo. Entretanto, outras ocorrem dependendo da estação do ano, em surtos anuais 15. Como

Departamento de N e u r o l o g i a e Neurocirurgia do Hospital Santa Teresa e Beneficência Portuguesa de P e t r ó p o l i s : * Neurocirurgião, Membro Titular da Sociedade Brasileira de N e u -rocirurgia, Membro Titular da Academia Brasileira de Neurocirurgia.

(2)

uma das etiologias da PFPI possivelmente seja virótica, tentamos analisar neste estudo

sua incidência na cidade de Petrópolis, onde observamos maior número de casos no

final do inverno e início da primavera (48,19%).

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Nosso m a t e r i a l c o n s t a d e 83 pacientes com P F P I . Não foram considerados n a casuística as paralisias d e o u t r a s etiologias. C i n q u e n t a e oito pacientes são d a clínica privada do autor e de seu movimento a m b u l a t o r i a l hospitalar, n u m período de 8 a n o s ; os outros 25 pacientes pertencem ao a m b u l a t ó r i o do H o s p i t a l S a n t a T e r e s a de P e t r ó p o l i s , não tendo portanto «follow up», sendo citados, a p e n a s como referência, o m ê s d e instalação d a paralisia, o lado, o sexo e a idade do paciente.

Todos os pacientes foram s u b m e t i d o s a exames complementares de r o t i n a : clínico, laboratorial e r a i o X de crânio. Alguns pacientes foram submetidos a tomografia computado-r i z a d a de ccomputado-rânio (TC), eletcomputado-romiogcomputado-rafia e exame otocomputado-rcomputado-rinolacomputado-ringológico, q u a n d o havia suspeita de o u t r a etiologia ou d e m o r a na' recuperação.

R E S U L T A D O S

A i d a d e dos pacientes oscilou de 8 a 78 anos, com m é d i a de 35,51 anos. Quanto ao sexo, 42 e r a m do sexo feminino e 41, do masculino. Eim relação ião lado acometido, 40 eram do lado direito e 43, n o esquerdo. N a relação do a u t o r , d e 58 casos, em 24 casos a P F P I e r a a c o m p a n h a d a d e outros sintomas, tais como: dor n a m a n d í b u l a , d o r ma face, inespecífica, e alterações g u s t a t i v a s . Os r e s t a n t e s não t i n h a m s i n t o m a s associados. Quanto a recuperação, 50 pacientes tiveram recuperação total, 6 tiveram recuperação r e g u l a r a p r e s e n t a n d o pequenas contrações n a região orbicular d a boca ou dos olhos e 1 paciente a p r e s e n t o u m a u resultado, ficando com a s í n d r o m e d a l á g r i m a do crocodilo e resíduos de paralisia. Recidiva ocorreu em um caso. Quatro de nossos pacientes pertencem a u m a m e s m a família, t e n d o a P F P I se instalado em épocas diferentes.

E x a m e s de r o t i n a (clínico, laboratorial e raio X de crânio) foram realizados em todos os pacientes e encontravam-se d e n t r o dos p a d r õ e s de n o r m a l i d a d e . Treze pacientes foram s u b m e t i d o s a exame otorrinolaringológico, que foi n o r m a l . Seis pacientes s u b m e t e r a m - s e a eletromiografia, s e n d o encontrados sinais de fibrilação em dois. Quatro pacientes fizeram TC, q u e se apresentavam normais.

Observamos em nosso estudo q u e : 14,4% das P F P I ocorreram no v e r ã o ; 24,09% no c u t o n o ; 31,3% no inverno; e 30,12% n a primavera. Os picos maiores ocorreram nos meses de maio (outono), com 14 casos, e n o mês d e o u t u b r o (início d a p r i m a v e r a ) , com 17 casos

(Fig. 1). Notamos que os meses de agosto, s e t e m b r o e outubro, coincidentes ao fintai do inverno e início d a primavera, a p r e s e n t a r a m j u n t o s 48,19% do total de nossos casos de P F P I (Fig. 2).

Nossos pacientes foram t r a t a d o s com corticóides ( d e x a m e t a s o n a ) , papaverina e, em a l g u n s casos, gangliosídeos (glicolipídeos que contêm esfingosina, ácidos g r a x o s , N-acetil neuramínico e N-acetil g l i c o s a n i m a ) ; os t r a t a d o s com glangliosídeos a p r e s e n t a r a m recuperação mais rápida. Realizaram t a m b é m fisioterapia, 10 ou 12 dias após a instalação d a p a r a l i s i a ; a fisioterapia foi feita pelo próprio paciente. A maioria (85%) a p r e s e n t o u recuperação total em torno de 45 dias.

COMENTÁRIOS

«iÉ necessário saber esperar» — Rimbaud, pois em sua maioria as PFPI se

curam espontaneamente. Entretanto, o uso de medicação vasodilatadora,

anti-infla-matória e fisioterapia moderada e racional abreviam o tempo de cura. Vários

auto-res 6, bem como nós, registram recuperação total; em nossas casuística ocorreu em

85% dos pacientes. Exceção é feita aos casos de Costa e col.6, que tiveram apenas

60% de cura completa em paralisias periféricas de várias etiologias, sem especificar

a idiopática. Algumas sequelas são inevitáveis e entre elas, podemos citar: sincinesias,

hemiespasmo ou contraturas, síndrome da lágrima de crocodilo, síndrome

aurículo-temporal e hipertonia da face, entre outras.

Stahl e F e r i t

1 2

acreditam que 7% dos casos apresentam recidiva do mesmo

lado e, contralateral em 0,3 a 2%. Azevedo e col.

2

(3)

recidivantes e alternantes em 24 anos. Acreditam ser devida a transtorno

imuno--alérgico.

Kemonta dos anos 40 o tratamento com salicilato de sódio, aspirina e

vita-mina

B

lf

pois pensava-se ter a PFPI fundo reumático. Também estricnina,

eletro-terapia, corrente farádica e corrente galvânica eram preconizadas, sendo suspensas ao

primeiro sinal de contratura muscular. Costa e col.6 estudaram dois grupos de

paci-entes, um com tratamento e outro sem tratamento, obtendo melhora nos pacientes

tratados, com o que concordamos, já que nossos pacientes, em torno de 45 dias

apresentaram melhora. A maioria dos demais autores também registra resultados

semelhantes. Adour relaciona o efeito favorável dos corticóides na PFPI à sua

atuação no edema e na inflamação, agindo também como imunossupressor

1 0

(4)

de mielina, provocando reinervação em locais indesejáveis, levando a sincifiesias e

espasmos; o repouso o fará retornar às suas funções fisiológicas. Tang e Fang 13

mostram a eficiência da acupuntura, com bons efeitos terapêuticos e sem nenhuma

agravação.

Alguns autores 8 aceitam que o frio é causa predisponente — que pode faltar

algumas vezes — e que a causa real é um vírus neurotrópico, que se acha

acan-tonado no nervo facial. Várias infecções virais têm sido descritas associadamente à

PFPI, como herpes simples, sarampo, parotidite e mononucleose, embora somente

para o vírus do herpes zoster e para o vírus da poliomielite tenha havido comprovação

experimental como causa de paralisia faciais. Azevedo e col.2 acreditam que 60%

dos pacientes com paralisia de Bell possuem algum sinal ou sintoma que permite

localizar um processo virótico nas vias superiores, como obstrução nasal, odinofagia,

rinorréia, náuseas, vômitos e febre, entre outros. Um ou mais desses sintomas podem

estar presentes de 7 a 21 dias antecedendo à instalação da paralisia facial.

Os autores que defendem a teoria vásculo-isquêmica acham que haveria

hiper-sensibilidade vascular aos impulsos do sistema nervoso autônomo, o que determinaria

vasoconstrição com consequente isquemia e edema epineural retrógrado devido a

espasmo vascular provocado pelo frio 6.10. Tovi e col.i* relatam que em adultos não

há período anual preferencial para a instalação, porém em jovens abaixo de 30 anos,

as PFPI ocorrem em maior número no inverno. Em nossa casuística não observamos

qualquer relação entre idade e mês de instalação.

(5)

A incidência maior ocorreu na terceira década, não tendo sido observada predisposição

em relação a sexo, cor ou lado, com poucas recidivas. Para Bademosi e col.3 houve

também maior incidência na terceira década.

A PFPI «a frigore» é patologia de caráter benigno, com que se deparam,

fre-quentemente, neurologistas, neurocirurgiões e otorrinolaringologistas. O tratamento

clínico, a nosso ver, é o mais indicado, embora respeitemos os otocirurgiões que, como

Salaverry n e Azevedo 2, após tratamento clínico por 30 dias, submetem o paciente

a vários testes e indicam a cirurgia, caso haja alteração nesses exames.

R E F E R Ê N C I A S

1. Abbo ST. Prognóstico en parálisis facial periférica idiopática o parálisis d e Bell. Boi Rehabil Med 1988, 7:21-28.

2. Azevedo J P M , Salaverry MA. K ó s AO, P o r t i n h o F . P a e s VMC, Mendes M, F o n s e c a MA, P r e u s s E, Procópio ES, Damasceno D, Macieira J Netto, Tognon N, Rioja F R R . P a r a l i s i a facial infratemporal: avaliação e prognóstico. An Hosp Sider Nac (Volta Redonda) 1984, 8:29-35.

3. Bademosi O, Ogunlesi TO, Osuntokun BO. Clinical s t u d y of u n i l a t e r a l peripheral facial nerve paralysis in N i g e r i a n s . Afr J Med Sci 1987, 16:197-201.

4. Bjerkhoel A, Carlsson M, Ohlsson J . P e r i p h e r a l facial palsy caused b y t h e Borrelia spirochete. Acta Otolaryngol (Stockholm) 1989, 108:424-430.

5. Casula R, Galvan Beramendi P , P o t e s Sanchez E. P a r á l i s i s facial periférica recidivante y a l t e r n a n t e : aportación d e u n caso con cinco episodios. Arq N e u r o - P s i q u i a t (São Paulo) 1982, 40:382-384.

6. Costa ACT, Garcia JMM, F r e i t a s MRG. P a r a l i s i a facial periférica. Arq B r a s Med 1986, 60:405-408.

7 Kukimoto N. I k e d a M, Y a m a d a K, T a n a k a M, T s u r u m a c h i M, Tomita H . Viral infections in acute p e r i p h e r a l facial p a r a l y s i s . Acta Otolaryngol (Stockholm) 1988, 446:17-22.

8. Leiter M, W e x s e l b l a t t M. T r a t a d o de Neurologia. R i o : G u a n a b a r a 1946, p 1213-1225. 9. Mattos J P , Sepulveda FC, Villaça L F . E m p r e g o dos gangliosídeos do córtex cerebral n a s

neuropatías periféricas. Seara Méd Neurocir 1981, 10:207-217.

10. Melaragno R Filho, N a s p i t z CK. Neuroimunologia. São P a u l o : Savier, 1982, p 155-163. 11. Salaverry M. C i r u r g i a otoneurológica do nervo facial. T e s e de Doutoramento. F a c u l d a d e

de Medicina, Universidade F e d e r a l do Rio de J a n e i r o . Rio de J a n e i r o , 1974.

12. Stahl N, F e r i t T. R e c u r r e n t bilateral peripheral facial palsy. J Jjaryngol Otol 1989, 103:117-119.

13. T a n g XL, F a n g QP. E l e c t r o a c u p u n t u r e t r e a t m e n t of acute stage peripheral facial p a r á -lisis. J T r a d i t Chin Med 1989, 9:1-2.

14. Tovi F , H a d a r T, Sidi J , Sarov I, Sarov B. Epidemiological aspects of idiopathic peri-pheral facial palsy. E u r J Epidemiol 1986, 2:228-232.

15. Veronese R. Doenças Infecciosas e P a r a s i t á r i a s . E d 7. Rio d e J a n e i r o : G u a n a b a r a Koogan, 1982, p 1-208.

Referências

Documentos relacionados

preenchimento do Pedido de Acreditação. Se não estiverem completos os requisitos acima, o CNAQ comunica a IES para suprir urgentemente a falta identificada. Nesta etapa,

Saídas de sinalização não podem ser utilizadas em circuitos elétricos de segurança... 7.2 Exemplos de aplicação monitorização de paragem segura Comando de dois canais

Dois termos têm sido utilizados para descrever a vegetação arbórea de áreas urbanas, arborização urbana e florestas urbanas, o primeiro, segundo MILANO (1992), é o

Não podemos deixar de dizer que o sujeito pode não se importar com a distância do estabelecimento, dependendo do motivo pelo qual ingressa na academia, como

Na posição de pesquisadores e professores, não de filósofos, fizemos um deslocamento, utilizando o conceito de ritornelo, explorado pelos autores supramencionados, para

Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo geral investigar as influências da utilização do dashboard na discussão dos negócios em empresas do agronegócio listadas

A criação de objectos está sujeita aos valores éticos estéticos de cada época, por isso o revivalismo mexe com a nossa herança cultural, o que uma cor ou forma pode representar

Por fim, na terceira parte, o artigo se propõe a apresentar uma perspectiva para o ensino de agroecologia, com aporte no marco teórico e epistemológico da abordagem