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...FUNDÁÇÁO GETOLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRACÃO PtlBLICA
.
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRACÃO PtlBLICA
E
PLANEJAMENTO E INVESTIMENTOS PÚBLICOS NO
SETOR. . AGROPECUÁRIO BAIANO
C
MONOGRAFIA DE ·MESTRADO APRESENTADA
POI:
REGINALDb SOUZA SANTOS
APROVADA EM 09.09.83
PELA COMISSÃO JULGADORA
ClÁUDIO ROBERro COh'TADOR - PhD (ORI ENTADOR)
FERNANDO A. REZENDE DA SILVA - MESTRE
l~~~~
EDUARDO OLIVEIRA DAPIEVE - MESTRE
,
FUNDAÇÃO GEl'OLro VARGAS
, ESCOLA BRASn..EIRA DE ADMINISTRAÇÃO POBLICA
, CURSO DE MESTRADO EX ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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, E
PLANEJAMENTO E INVESTIMENTOS PÚBLICOS NO
SETOR AGROPECUÂRIO BAIANO
MONOGRAFIA DE MESTRADO APRESENTADA POR
REG INALDO SOUZA SANTOS
, APROVADA EM 09.09.83
, PELA COMISSÃO JULGADORA
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FERNANDO
A. REZENDE DA SILVA - MESTRE.,
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- EDUARDO OLI.VE.lRA DAPIEVE - MESTRE
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í N D I C E
APRESENTAÇÃO. . . • . . . • • • . . . • . . . • . • . . . 01
INTRODUÇAo . . . • . . . • . . . • . . . • . . . • . • . . . . 04
CAPíTULO I
O ESTADO BRASILEIRO E AS MODIFICAÇÕES RELEVANTES OCORRIDAS NO SEU
INTERIOR (AP6S 1930) . . • • . • • . . . • . • • • . • . • . • . • • . • . . • • • • . . . . • • . . . • . . 11
CAPíTULO 11
, A POLíTICA AGRíCOLA NO B R A S I L . . . 20
,
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.,
!li
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2.1. Politica Agricola "versus" Politica Industrial: As Condições
Históricas que Determinam o Novo Posicionamento do Estado ..
2.2. O Setor Agricola:as Causas que o Fizeram Funcional Dentro
do Processo de Crescimento sem o Apoio do Estado . . . .
2.3. A Emergência das Necessidades: Primeiras Medidas de Apoio
ao Setor Agropecuár io . . . • . . . • . . . • . . . • . . .
CAPíTULO 111
20
34
40
A POLíTICA AGRíCOLA NA B A H I A . . . 45
, 3.1. Algumas Considerações Sobre a Politica Agricola Regional.- A
,
,
,
,
,
,
,
Atuação do Estado Nacional . . . .
3.2. As Pré-Condições para a Intervenção do Estado Local . . . .
3.3. A Evolução Recente do Setor Público Baiano . . . .
3.4. A Política Agrícola na Bahia e suas Fazes mais Relevantes ..
CAPíTULO- IV
45
51 54
58
,
.,
OS INVESTIMENTOS ESTATAIS NO .SETOR AGROPECUÁRIO :BAIANO .. ". . . • . . . . 8 O~ 4.1. A Evolução Recente dos Investimentos dos Governo Federal e
,
,
,
"
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,
Estadual . . . • . . . • . . . • . . .
,
,
, 4.3. A Desagregação dos Investimentos Segundo os Níveis de Gover
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,
no: Estadual e Federal . . . • . . . • • . . . • . 102
ij.4. A Análise dos Investimentos Segundo Os Programas .•..•.••.•. : 113
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...
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,
..
e
ponto de partida e o caráter ideológico da c!ência, definido de maneira construtiva. A meu
ver, uma atividade tem caráter ideológico se
existem várias maneiras de realizá-la, algumas
das quais contribuem para sustentar o sistema
social vigente ou dificultam sua substituição
e outras não. Neste sentido ••. a ciência, no
mundo de hoje, é ideológica como o sao os •••
níveis ••• tecnológicos, produtivo e educacionaL
,
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..
..
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lJi
..
,
APRESENTAÇAo
são inúmeras as dificuldades enfrentadas por aqueles que se aventuram
a escrever uma tese, na tenta t i va de obter o grau de Mestre ou de Dou
toro Estas dificuldades vão desde a falta de apoio institucional, no
sentido de criar condições infraestruturais e facilitar o acesso do
pesquisador às instituições, principalmente as oficiais, em busca dos
dados requeridos, até chegar à mais díficil e dolorosa tarefa de con
ciliar o tempo de trabalho (não menos de 8 horas diárias) com o tem
po para desenvolver o trabalho de pesquisa e entregá-lo, em tempo h~
bil. Além disso, não raro é acontecer ao aluno, pelo fato de ter fe!
to o curso fora de seu Estado ou país, ter que passar angústias de o~
tra natureza, em razao de nao estar em contato mais permenente com o
seu Professor Orientador .
.. Fazemos questão de evidenciar estes problemas porque, certamente, eles
,
,
se constituem em fatores que condicionaram os resultados de uma pe~, quisa. Não obstante isso, queremos ressaltar que a responsabilidade
,
,
,
primeira dos erros e omissões contidos neste trabalho é do autor.
, Além disso, queríamos dar algumas explicações a respeito dos crité
,
,
,
li'
,
rios que foram utilizados para se definir as áreas que se constituí
ram objeto de análise. Poder-se-ia perguntar p:)];"_que o programa tran~
porte não foi incluído como área de investigação, já que se sabe de
.. antemão da sua fundamental importãncia no incentivo
à
produção agr~,
pecuária.
li'
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Sabemos que o peso relativo dos investimentos no setor é bastante si~
nificativo, mas a sua exclusão se fez necessária pelo fato de aprese~
tar sérias dificuldades de individualização, visto ser um tipo de in
vestimento que beneficia, indistintamente, vários setores a um so
tempo: por exemplo, agricultura, indústria, comércio, turismo etc. ~
extremamente difícil se saber em que proporção uma estrada que inter
liga dois centros urbanos está beneficiando a agricultura e a indús
tria, por exemplo.
, Também gostaríamos de esclarecer que, apesar de termos utilizado- a
,
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111,
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expressão "investimento" para definirmos os gastos estatais no se
tor agropecuário, ela não encontra correspondência na Formação Bruta
de Capital Fixo em razão de incluirmos as atividades de planejamento
dentro do conceito de tecnologia e pelo fato de compreendermos esta,
não somente no âmbito da tecnologia física, mas que extrapola até aos
limites do social. Nesse caso, a tecnologia seria entendida-como sen
do um instrumento ou método para atingir certos objetivos concretos
de produção, mas produção em seu sentido mais amplo, que inclui, não
so os bens (mercadorias), como também os serviços.
Ao finalizar esta apresentação, gostaríamos de agradecer ao profe~
sor Cláudio Roberto Contador pelo seu trabalho de orientação a esta
monosrafia, ainda que os erros e omissões sejam de inteira respons~
bilidade do autor. Também desejamos agradecer ao professor Geraldo
Dias de Brito, Chefe da Assessoria Econômica da Secretaria da Fazen
da do Estado da Bahia, por ter-me concedido não so apoio infraestru
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tural, corno também por ter-me liberado durante as duas últimas sema
nas que antecederam ao prazo limite para apresentação deste traba
lho. De igual modo, ficamos gratos ao apoio dado pela CPE - Comissão
de Planejamento e Estudos (antes de sua incorporação à CEPLAB - Cen
tro de Planejamento da Bahia), inclusive nos apresentando aos órgãos
envolvidos na pesquisa, facilitando, assim, o acesso aos dados. porúl
timo, queremos expressar nossa gratidão a Elizabeth M~tos Ribeiro,
Secretária daquela Assessoria, pelo paciente trabalho de datilografia
dos originais desta rnono0rafia.
Reginaldo Souza Santos
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111,
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INTRODUÇÃO
A velocidade que se verifica nas mudanças dos padrões produtivos do
Estado é um fato de significativa importância na atual fase do desen
volvimento capitalista. Até durante as três primeiras décadas deste
século, as funções econõmicas desenvolvidas pelo Estado nâo estavam
além daquelas que criavam as "condições externas" ao processo acumu
lativo; isto significa dizer que a produção de bens e serviços ou as
despesas governamentais estavam mais vinculadas à esfera da circula
çao. Desse modo, todo o sistema de política econõmica do governo es
tava centrado nas políticas fiscias, de transferência de riqueza, adua
neira, cambial, crediticia,de subvenções e compras públicas. A partir
de 1930 e, particularmente, no pos-guerra, esta situação se modifica
inteiramente. Apesar de, na fase atual do desenvolvimento cap!
talista, os mecanismos e instrumentos de apoio à circulação estarem
muito mais ampliados e sofisticados, é fora de dúvida que o Estado
se caracteriza mais corno produtor de mercadorias, porque é desse la
do onde se concentra a parte mais significativa das despesas realiza
das pelo subsetor empresarial estatal. Seja por força de ter que as
sumir urna posição de "vanguarda" ou "substitutiva" ao capital priv~
do - decorrente de crises profundas no conjunto ou em setores locali
zados da economia -, o fato e que, nos dias de hoje, em grande num e
ro de países o Estado tem o efetivo controle nos setores de minera
• çao, energético, petrolífero, siderúrgico, químicajpetrCX"juImico
,:-e
dea!
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,
,
guns ramos do setor eletrõnico, entre outros. Isto sem levar em con
,
,
,
,
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,
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,
,
.5
dinárias.
A mudança ocorrida nos padrões produtivos fez aumentar significativ~
mente os níveis das despesas estatais com impactos profundos sobre
toda a economia. Por esse fato, é que hoje a definição dos níveis de
investimentos estatais já indica "ex-ante" qual será a dinãmica da
, economia no futuro.
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Pelo seu significado, o aprofundamento das relações do Estado com a
economia passou a despertar o interesse de estudiosos para o fenõme
no. No Brasil, este fato passou a ocorrer de forma mais significat!
va a partir dos anos 60. É certo que, àquela época, o debate e a pr~
dução estavam desvinculados de um comprometimento mais científico no
tratamento dado à questão, pois se situavam mais no ãrnbito ideológ~
co, no sentido de se avaliar as conveniências ou não da intervenção.
Posteriormente, através dos economistas principalmente, passou-se
a dar um certo rigor científico às abordagens a cerca do entendimen
to das relações do Estado capitalista com a economia. No entanto, em
, razão da própria situação política que vivia o país, os estudos nao
,
,
,
,
~
só mostravam fortes marcas do ideologismo, corno também estavam muito
presos ao aspecto político-institucional.
, Mais recentemente, porem, já começa a se verificar urna certa tendên
cia no sentido de se procurar entender o Estado capitalista pela óti
,
ca da política de investimentos. É certo que estes estudos ainda sao, poucos, mas o fato de estarem surgindo já evidencia urna situação de
,
,
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,
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,
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,
... 6
significado particular. Vemos dessa forma, porque ;a.creditamos só se
po-der entenpo-der os verdadeiros propósitos e a lógica orientadora da poli
tica a partir da análise "ex-post" do processo de alocação de recur
sos por parte do Estado capitalista.
É dentro dessa última linha de raciocínio que se insere a idéia cen
, traI da presente monografia.
,
,
,
,
,
,
Advirta-se, por outro lado, que, dado ao fato de que estamos aborda~
do o processo de formulação do planejamento, programas e a definição
das prioridades de investimentos governamentias, este estudo poderia
., parecer, "a priori", que estaria dentro do mesmo contexto de outros,
,
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-,
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•
que procuram avaliar os projetos de investimentos governamentais a
luz da lucratividade "social" dos empreendimentos; nesse caso, os pr~
gramas de investimentos governamentais seriam justificados e execut~
dos com base na sua exequibilidade financeira, isto é, de acordo com
sua rentabilidade privada. Antes disso, a nossa preocupação fundame~
tal localiza-se em tentar identificar a lógica orientadora da polít~
ca de investimentos do Estado Capitalista - notadamente um Estado ca
pi talista federado como é o caso da Bahia, ponto de referência de nos
sa abordagem.
A opçao em se delimitar o espaço da análise decorreu de dois fatores
básicos. Em primeiro lugar, em razão de que o fenômeno que estamos
querendo identificar já é relativamente conhecido, quando tomada a
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,
.7
semos afirmado acima que os estudos dentro dessa linha ainda sao po~
cos, é certo que a grande maioria dos estudos realizados no Brasil
tem sempre uma abrangência nacional, inclusive as próprias disserta
ções de mestrado e doutorado. Por esse fato, as indicações bibliogr~
ficas, mesmo que ainda estejam longe de nos oferecer uma melhor qua~
tificação do quadro de inversões do Estado nacional brasileiro, con
têr:l indIcios significativas para que se possa, pelo menos, ter uma idéia
aproximada de como o fenõmeno vem ocorrendo em ãmbito nacional.
Em segundo lugar, decorreu:::lo fato de que-algLIDS estudos de natureza re gional, produzidos mais recentemente no Brasil e que tomavam como p~
no de fundo as relações intergovernamentais, pareciam identificar na
tureza ou características distintas entre o Estado nacional e o Esta
,
, do local. Esta hipótese, partia do fato de que sendo o Estado local
,
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,.
subordinado ao Estado nacional, então as mudanças ocorridas nos p~
drões produtivos - passagem de um Estado de "bem-estar" para um Esta
do produtor de mercadorias - eram decorrentes do atrelamento da vin
culação dos programas estaduais aos programas do governo federal.
Ora, partindo do suposto de que, em ambos os casos, prevalece o mesmo
modo de produção (o capitalista) e, mais, que a mudança nos padrões
produtivos não se constitui numa singularidade brasileira e que o e~
tágio mais ou menos avançado deste processo depende fundamentalmen
te do estágio de desenvolvimento das forças produtivas no interior da
formação social capitalista, logo, a lógica que orientasse a polít~
,
,
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.. 8
verificada noutro. Na tentativa de comprovaçao ou nao dessa nossa hi
pótese, tornou-se, corno base, a política de investimentos dos governos
federal e da Bahia, no setor agropecuário da economia local, em pr~
gramas selecionados.
Corno o estudo torna também corno referência o Estado nacional brasilei
ro e este foi quem primeiro introduziu mudanças no seu interior no
sentido de reformular as concepções que tinha sobre o processo de de
, senvólvimento da economia brasileira, a nossa preocupaçao no Capít~
,
lo I foi basicamente tentar compreender as mudanças ocorridas no in,
,
terior do Estado brasileiro, a partir de 1930; as causas determinan, tes principais, as novas características que passavam a assumir e em
,
,
qual direção os seus instrumentos de apoio às atividades produtivas, apontavam.
,
,
, O Capítulo 11 do trabalho contém urna análise do processo histórico de
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..
..
implementação da política agrícola no Brasil. Já tendo sido explic~
tado que a política econômica do governo tinha comometabásicaapoiar
decisivamente o desenvolvimento das forças produtivas, nesta parte
do estudo nossa tentativa é no sentido de entender porque esse apoio
se dava de forma desequilibrada, isto é, que fatores estaríam a expl!
car o Estado brasileiro ter, até os primeiros anos da década dos 60,
urna atitude passiva em relação ao setor agrícola "vis-à-vis" o setor i~
dustrial sem que isto colocasse obstáculos de monta no ritmo do desen
volvimento econômico.
,
•
,
.9
plementação da política agrícola na Bahia, tomando-se como base a in
, serçao mais consequente do Estado local no processo produtivo. Este
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"
processo e subdividido em três fases distintas. A primeira refere-se
ao período em que o Estado local define-se por um envolvimento maior
nas relações econômicas e, ao contrário do Estado nacional, tenta uma
recuperação do setor agropecuário através da tentativa de moderniza
çao com a introdução das relações capitalistas de produção. A segu~
da, ao período em que o Estado, vendo fracassada sua tentativa de
recuperação do setor agrícola, passa a instrumentalizar os seus meca
nismos, no sentido de promover o crescimento econõmico centrado numa
base industrial. A terceira se caracteriza pelo fato de o Estado re
tomar sua política de modernização do campo motivado por diretrizes
definidas no âmbito do governo federal.
No Capítulo IV, e último, parte-se para verificar a lógica orientad~
ra dos investimentos estatais no setor agropecuário baiano, a partir
da análise dos investimentos segundo as regiões da aplicação e os pr~
gramas. Ademais, dentro dessa mesma conceituação, procura-se, por o~
tro lado, discutir se o fato de o Estado local ter um comportamento
idêntico ao da União e decorrente de seu caráter capitalista ou de
seu caráter subordinado às esquematizações formuladas pelo governo
federal.
Para finalizar estas notas introdutórias, gostaríarros de dizer que ~ste trabalho,
como tantos outros, pode refletir um pecado em razão de sua apare~
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.10
gentes e por isso nao conseguem um nível maior de aprofundização do
terna em questão. Este fato é atribuído, principalmente, à poucaoun~
nhuma vivência dos mestrandos ou doutorandos em atividades de pesqu!
sa - geralmente a tese é a primeira experiência. Apesar desses arg~
mentos encerrar verdades, nao devemos esquecer, porém, que a apare~
te amplitude do estudo nem sempre está relacionada com o novici
ado do pesquisador mas sim ao método de investigação utilizado. Qua~
to à superficialidade, devemos estar conscientes de que os estudos
que partem para a interpretação de nossa realidade social são, antes
de tudo, parciais e as conclusões sempre provisórias. É com estas res
,
,
,
,
CAPíTULO I
,
,
, O ESTADO BRASILEIR0 E AS MODIFICACOES RELEVANTES OCORRIDAS NO SEU IN
,
,
,
TERIOR
, O caráter planejador do Estado nem sempre se configura pela elabor~
,
,
,
,
,
,
ção de planos em seu sentido estrito. Logicamente que determinadas
açoes, mesmo parciais ou intermitentes, podem ser consideradas .como
1
tal . Note-se que os estudos de cunho histórico-interpretativo da
ação planejada do Estado começam a compreender esse processo exata
, mente a partir da identificação de algumas incursões do Estado, ainda
,
,
que desconectadas e sem urna articulação mais consistentes entre as, atividades de um mesmo setor ou da economia corno um todo.
,
•
,
No caso específico do Brasil o caráter parcial da açao do Estado na
,
, política econômica, até 1930, parece estar diretamente vinculado ao
,
,
,
estágio de desenvolvimento e a forma de estruturação da formação bra
sileira. Primeiramente, porque até então as forças produtivas. eram
, pouco desenvolvidas (isto é, havia pouca acumulação de capital, o de
,
,
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,
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,
,
,
senvolvimento científico-tecnológico era quase zero, em alguns casos
simplesmente inexistente2, baixo nível de especialização da força de
trabalho e, por consequência, a divisão social do trabalho era ainda
fracamente desenvolvida em relação aos padrões verificados noutros
(1) A partir de concepções variadas que se tem sobre planejamento do governo, tor
na-se quase impossivel fixar-se a sua origem. Talvez por isso é que não há
"um
consenso entre os autores, pois é comum cada um apresentar sua concepção indi
vidualizada a respeito da questão.
(2) VanyaSant'Ana, em sua obra Ciência e Sociedade no Brasil ed. Simbolo, são
Kaulo, 1978, diz que no per{odo agro-exportador 'pode a ciência brasileira
âesenvolver-se nas áreas biomédicas pelas ações governamentais dirigidas con
,
;
,
,
,
palses). Em segundo lugar, a produção social estava totalmente volta,
,
da para o mercado externo e centrada em produtos primários (café, açú, car, algodão, cacau e borracha). Em terceiro lugar, a abundância rela
,
,
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,
tiva de fatores de produção (terra e mão-de-obra) fortalecia ainda
mais a permanência dessa estrutura produtiva. Acrescente-se a isso as
concepções ideológicas do liberalismo para essa inaptidão intervencio
nista do Estado, verificada então.
Desse modo, salvo algumas intervenções localizadas, como por exemplo,
a implantaçao de uma infra-estrutura de transporte ferroviário, na
economia cafeeira, e a estruturação de um setor financeiro - que come
ça com o Banco do Brasil e as Caixas Econômicas Federal e Estadual
até 1930 a açao do Estado é bem mais administrativa que produtiva, e
consistia basicamente no estabelecimento de políticas de sustentaçao
, do preço do cafe, na criação de favorabilidades para a importaçao de
,
mão-de-obra estrangeira, na "manipulaçao" da taxa de câmbi.o, e na fix~, ção de uma política de crédito de controle de preços de alguns prod~
, 3
tos .
,
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,
,
No entanto, como a conveniência de intervenção estatal mais vigorosa
surge dos impulsos da situação objetiva, da estrutura social e econo
endemias~ epidemias e doenças vegetais~ o Brasil atingiu~,nos primeiros anos do
seculo atual~ a'maioridade cientifica naquelas áreas ... Entretanto~ os outros
setores cientificos permeneceram durante o per iodo agro-exportador inexistente
ou em fase muito incipiente~ como
é
o caso da Fisica e da Q;uimica~ que temapli-cação~ mediata ou mesmo imediata~ no setor secund.á:1'io' da economia".
(3) Já
é
bastante significativo o número de trabalhos que procuram identificar asfunções econômicas exercidas pelo Estado brasileiro antes de 1930-principalmen
te os textos de SKIDMORE~ Thomas E. Brasil de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro-;
Paz e Terra~ , l~76 e IANNI~ Octavio - Estado e Planejamento Econômico do Brasil
1930-l970J. Rio de Janeiro; Civilizaçao Brasileira~ 1979.
.·13
, mica específica da cada país e do estágio de desenvolvimento de suas
,
,
,
,
,
forças de produção, no caso particular do Brasil essa si tuação obj~
tiva começa a se esboçar já no período da primeira guerra (1914-1918)
e culmina com a crise econômica do período 1929-1933. Essas crises,
que têm sua origem no seio dos paísessubord.i.nantes, forçam, por um l~
, do, uma ruptura rela t i va entre as formaçôes ~subo:!:"dinada3 e os países
que compõem o centro do sistema e, por outro, abrem espaços para uma
, açao produtiva interna mais consequente, tendo no Estado o elemento
,
,
,
,
,
mais importante desse process04
Por outro lado, parece óbvio que qualquer tipo de mudanças no compoE
tamento do Estado brasileiro seria incompatível com a estrutura de
poder vigente no período da República Velha. Com a Revoluão de 30,
houve o rompimento no seio da classe dominante, com a derrota, ainda
que parcial, da oligarquia agrária. Com isso, pôde-se criar as condi
ções para o desenvolvimento do Estado "burguês", como um sistema que
engloba instituições políticas e econômicas, bem como padrões e valo
res sociais e culturais de tipo propriamente "burguês"S
A partir daí, o Estado motivado tanto pelo estrangulamento das estr~
turas produtivas, em razao das crises, quanto pela complexidade cre~
cente dosistema~financeirodopaís adota uma política agressiva de
(4) Na verdade esse foi o comportamen to de todos os Es tados latino americanos, . ,no
tadamente Brasil, México, Argentina, Venezuela, Chile e Peru. O mais interes
sante, porém, a ser observado é que com o inicio em 1929 da crise mais aguda
do capitalismo no presente século abriu-se espaços para que paisesEuropeus (In
glaterra, França e Itália), em estagios de desenvolvimento mais avançado, tam
bém aprofundassem suas relações (produtivas) com a economia como forma não so de superação da crise bem como de garantir a acumulação de capital.
modernizaçao de suas estruturas administrativas para poder desemf€nhar
o papel que lhe é reservado no processo de acumulação de capital den
tro do setor privado. Ou seja, seria a implantação de uma nova estru
tura administrativa (principalmente através da expansão das empresas
, públicas, incorporando o princi::;üo da eficiência na medida em que de
,
,
"
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,
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,
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vem representar um instrumento eficaz e racional da política de plan~
ficação) que se contraporia ã velha imagem da decadência da estrutura
anterior. Em resumo: seria a maneira de o Estado promover o desenvol
vimento acelerado da economia e "corrigir" os desequilíbrios
regio-nais inevitáveis, induzidos pelo mercado.
Esse processo de modernização e seus objetivos são assim resumidos fOr
.6 I.annl .
Nos anos de 1930-45 o governo federal criou comissões, con
selhos, departamentos, institutos, companhias, fundações e
promulgou planos. Além disso, promulgou leis e decretos. E
incentivou a realizaçao de debates ... sobre os problemas
econômicos, financeiros, administrativos, educacionais, tec
nológicos e outros ... Tratava-se de estudar, coordenar,
projetar, disciplinar, reorientar e incentivar as ativida
des produtivas em geral . . . Pretendia-se, tambéI!l estabele
cer novos padrões e valores especificos das relações e ins
tituições de tipo capitalista. Note-se que a cultura dos
valores e padrões surgidos na sociedade escravocatra ... que
então eram predominantes os estilos de mando, liderança,
or-ganização e mentalidade de tipo oligarquico*.
(6) Ver IANNI~ pp. 22/23.
(*) Nesse perioao os principais órgãos e institutos criados foram: Ministério do
trabalho~ Indústria e Comércio (l93l); Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA)
(l933); Conselho Federal do Comércio Exterior~ Código de Minas e Água (l934);
Conselho Técnico de Economia e Finanças (l937); Conselho Nacional de Petróleo
(CNP) ~ Departamento de Administração do Serviço PÚb lico (DASP) e Instituto Br!!;.
sileiro de Geogriafia e Estatistica (IBGE) (7.-938); Comissão de Defesa da Eco
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vê-se, então, que ao lado do processo de modernizaçao e ampliação das
estruturas administrativas, inclusive capacitando-se a fazer análises
, retrospectivas e prospectivas da realidade econômico-social do pais,
,
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através da criação de órgãos específicos, tais como o Conselho Técnico
de Economia ~ Finanças ~ IBGE, o Estado passou a desempenhar um outro
papel, que até então estava fora de sua esfera de atuação: o produt~
vo, através das empresas públicas, cujo alvo yrincipal era impulsionar
o processo de acumulação do ca?ital social.
, Não obstante isso, urna análise mais cuidadosa do processo de moderni
-zaçao e ampliaçao dos aparelhos de Estado revela claramente que as p~
liticas adotadas eram resultado muito mais de situaç~es
circunstan-cias, e portanto de caráter parci.al, do que fruto de urna ação integr~
dora e globalizante7.
A partir dessa compreensão, é que o Estado tenta dar um salto qualit~
tivo, pois abandona as aç6es de caráter parcial e passa a adotar pol~
ticas de planificação mais ampla e prospectiva, com o fito de desemp~
, nhar sua tarefa supletivo-integrativa, e até mesmo substitutiva, no
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processo de acumulação. E o ponto de partida dessa nova estraté
nomia Nacional e Fãbrica Nacional de Motores (l940); Companhia Siderúrgica Na
cional (CSN) (l94lJ; Missão Cooke e Serviço Nacional da IndÚstria (SENAI) (l942); .
Coordenadoria de MobilizaçãO Econômica~ Companhia Nacional de Alcalis~ Consoli
dação das Leis do Trabalho (CLT) e Serv'iço Nacional do Comércio (SENAC) (l943i7
Conselho Nacional de politica Industrial e Comercial (l944); e Superintendência da Moeda e do crédito (SUMO C) (l945); Para uma relação mais completa dos órgãos
criados no periodo aludido ver FILHO~ Alberto V. ~ Intervençao qo Estado no
Do-minio Econõmico. Rio de Janeiro~ Fundação Getúlio Vargas~ l-968 e O. Ianni~ op. cito
pp. 23/24.
(7) Comumente os estudiosos do planejamento incorre em erro de interpretação teóri
ca quar>.ao passam a defender para uma economia de tipo misto~ tal como a n08sa.)um
a
espécie de planejamento global da economia. Em sociedade com essas éaracteristi
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gia de ação, através da especialização dos mecanismos de intervenção,
isto é, alargando o aparelho de Estado, é exatamente as missões mistas
Brasil - Estados Unidos: Missão Cooke, em 1942, e a Missão Abbinik, em
1948. Depois disso, seguem-se-lhes os planos propriamente . ditos, a c~
~ meçar pelo plano SALTE (que se ci.rcunscrevia aos setores de saude, al~
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mentaçao, transporte e energia), o de METAS (que privilegiava, sobre
tudo, a indGstria de capital e a de consumo dur&veD:. o plano Trienal
(que tinha como filosofia básica promover reformas de base), o PAEG
(que se caracterizava como um plano de emergência e de estabilização
econ6mica, ap6s o periodo conflituoso anterior a 1964) e, finalmente,
na década de 70, entramos na era dos PNDs, que nasciam sob a auréola
• ideo16gica de Brasil-potência8
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Uma das maneiras do Estado justificar sua intervenção produtiva no ~
texto econõmico consiste na formação e na difusão de uma ideologia
que reflita e legitime esta presença. Logicamente que os conteúdos ide
016gicos desta ideologia variam historicamente. Porém, pelo menos dois
componentes da mesma são relativamente generalizáveis: um comportamen
to "assistencial-social" e um outro "tecnocrático-eficientista ". Enqu~
, to a primeira é voltada para a legitimação na base de supostas
fina-,
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lidades sociais; a segunda, ao contrário, propaga uma imagem de
utiUzarido.como instrumento a matriz de insumo-produto (o que é wn privilégio das
sociedades onde o Estado é detentor dos meios de produção~ em razão de alguns se
tores estarem totalmente fora de influência do Estado (exceto no que diz respeT
to a politicas fiscais e crediticia) e nao se poder estimar" por consequinte" as
ofertas e demandas intra e inter-setoriaZmente.
(8) Além desses" da segunda metade da década de 40 até 1970" tivemos aindaosseguin
tes planos: Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico (l95l-l964)" Plano Dece
nal de Desenvolvimento Econômico Social (l967-l976) e o Plano Estratégico de De
senvolvimento Cl968-l970). Para uma compreensão melhor do conteúdo desses pla=
nos ver os estudos de O. Ianni" op. cit; MELLO e SOUZA" Nelson - O Planejamento
Econômico no Brasil: Considerações criticas. Revista de Administraçao Publica"
Rio de Janeiro" 2(4)" 1968; e MONTEIRO" J. V. & CUNRA;-L.R,A. -Alguns Aspectos
da Evoluçao do Planejamento no Brasil (l934-l963). Rio de Janeiro" 1974.
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tipo modernizador9. É com base nessa ideologia que o Estado justif!
ca sua ação planejada como forma de atenuar os desequílibrios regi~
nais fatalmente inevitáveis, caso o econômico fique sujeito ao livre
jogo das leis de mercado.
, Desse modo, ao lado das políticas de planificação mais gerais, o Es
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tado viu-se na contingência de tomar algumas medidas de caráter regi~
nal no sentido de estreitar o "gap" inter-regional, que estava se for
mando, em razao da política econômica privilegiar sensivelmente a acum~
lação de capital. Daí, passaram a criar orgaos estritamente voltados
para o planejamento regional: a CVSF (comissão do Vale do são Francis
co) , hoje Comf),:L>1hia :!e D2s2l1volv.iJ'1:cnto de vale do são Francisco - CODEVASF i
a SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazô
nia), hoje Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia; SUDENE
-Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste; além de insti tuciona
lizar um setor financeiro que fosse capaz de financiar os projetos
produtivos implantados na região, como por exemplo, o Banco do Norde~
, te do Brasil - BNB. Note-se que a justificativa da intervenção esta
va tão eivada de um conteúdo puramente ideológico que as medidastom~
das pelo Estado brasileiro sequer foram capazes de manter o mesmo dis
tanciamento entre uma região e outra; ao contrário disso, ela se ala~
,
gou malS aln a . . d 10 I V1S . t o que as po 1 1 ~t' lcas lmp an a as no sen . 1 t d t ' d 1 o de, concentrar especialmente a produção industrial foram muitomaisefica
,
,
zes do que aquelas que procuravam atenuar os desequílibrios. Ocontrá,
(9) MlJJIJ'TI, 4ntónio e SEGATTI, Paolo. A BUY'(171?Sia de Estado; Estrutura e Funções
da Empre sa Púb liça ; Rio de J ane iro ~ Zahar ~ 1979. _
, (lO) Dados divulgados pelo BNB mostram que nos últimos vinte anos a partiçipaçao do , Nordeste na renda interna do pais caiu de 14,4%, em 1959, para 10,4%, em 1978.
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li
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rio desse comportamento seria totalmente ilógico para uma economiade
corte capitalista e que procurava de todos os meios acelerar o ritmo
da acumulação.
Porém, o interessante a ser observado na politica de planificação eco
nõmica do governo brasileiro, e que constitui objeto de
estudo do presente trabalho, é que ela privilegiou nitidamente o se
. d . 1 1 d d 1 - . 11
tor ln ustrla , re egan o a segun o p ano o setor agropecuarlo As
• medidas tomadas com relação a este setor visavam sempre alguns prod~
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. tos especificos, porque sem os protegê-los seria quase impraticável, levar-se adiante o modelo de desenvolvimento sustentado basicamente
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na substituição de importações e que exigia, na fase inicial, grande
volume de recursos para importações de bens de capital. Deste modo,
, compreende-se porque quando se implantava alguma poli tica de apoio ao
setor agricola ela visava sempre os produtos de exportação: café, com
a criação, em 1930, do Conselho Nacional do Café, posteriormente o
IBCi o cacau, criando o Instituto de Cacau da Bahia - ICB e, poster~
, ormente, a Comissão Executiva do Plano de Recuperação da Lavoura Ca
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caueira - CEPLACi a cana-de-açúcar, através da implantação do Insti
tuto do Açúcar e do Álcool - IAA; etc.
o
governo só adota uma politica de modernização do setor agricola,visando o aumento da produção e da produtividade, a partir dos meados
dos anos 60. O que explicaria, ou melhor, que fatores foram respons~
veis por essa suposta inação do governo, durante muito tempo, quando
(11) Isto, de cer~a forma, ~ o .que defin~ o caráter parcial da ~t~çqo oco~ridano
sistema economico bras~le~ro a part~r do processo de subst~tu~çao de ~mport~
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se sabe que foi este setor que praticamente sustentou o arrojado pr~
grama de desenvolvimento econômico do Brasil? A tentativa de
respos-ta a este questão será o ponto central da discussão do próximo capi
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CAPÍTULO II
~ POLÍTICA AGRíCOLA NO BRASIL
2.1. Politica Agricola "versus" politica Indfistrial: As Condições Ris
tóricas que Determinaram o Novo Posicionamento do Estado .
As politicas adotadas pelo governo com relação ao setor agricola es
r tavam longe, tanto pelo aspecto quantitativo, quanto pelo qualitat!
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vo, de ter o mesmo significado daquelas tomadas em relação ao setor
industrial. "Nos periodos de guerra e pós-guerra, em que a politica
de substituição de importações dominou o cenário econõmico nacional
e os esforços do pais se concentraram no sentido de alcançar uma in
dustrialização rápida a qualquer preço, poder-se-ia dizer que os pr~
blemas do setor agricola foram legados a um plano secundário, ou mes
mo esquecidos inteiramente"12.
, O que levou, então, o Estado brasileiro a ter uma atitude passiva em
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relação ao setor agricola 'lvis-à-vis" o setor industrial, principalmeE.
te quando se sabe que aquele foi quem basicamente financiou o proce~
so de industrialização acelerada da economia brasileira? Este atraso
relativo do desenvolvimento das forças produtivas no interior do se
tor agricola brasileiro seria explicado a partir da forma corno esta
va organizada a divisão internacional do trabalho ou condições histó
ricas especificas da formação brasileira estariam a condicioná-Ia13?
(]2) PAIVA .. Ruy .'.1iUer etali.i, Setor Agrícola do Brasil - Comportamento Econômico, Pr.oblemas e Possibilidades, Rio de Janeiro .. Forense.. 19?6.
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Ruy Miller et alii parecem reconhecer que esse desequilibrio ~ fruto
de uma politica econômica racional, que procurou a?roveitar as condi
ções históricas de favorabilidades do desenvolvimento industrial bra
, sileiro e que poderiam n~o se re?etir adiante nas mesmas condiç~es.
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l1li
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Reconhece-se alguma racionali dade des se tratamento desigual.
As oportunidades surgidas durante a segunda Guerra Mundial
foram muito favoráveis para o Brasil intensificar e ampliar
o seu então incipiente parque industrial. A escassez gener~
lizada de produtos no mercado internacional e as dificulda
des de transporte maritimo impediram o surgimento normal de
bens de consumo no mercado brasileiro, permitindo que indú~
trias nacionais am?liassem suas produções ou iniciassem a
produção de novos produtos, livres da pressão dos concorre~
e livres para exigirem preços que lhes garantissem alta ma~
tive analisar as relações entre agricultura e o desenvolvimento econômico bra
sileiro~ o entendimento do porquê o Estado (enquanto elemento potencializador
da acumulação geral de capital no conjunto da economia) passa a encontrar um
esforço para o deserrvolvimento da indústria em "detrimento" da agricultura tan
gencie~ necessariamente~ a ~úestão das relações da agricultura com o desenvol
vimento econômico. Por outro lado~ acreditamos que o descompasso entre as po
liticas para o desenvolvimento da indústria e aquelas em favor da agricultura
pode ser perfeitamente entendido a partir de algumas premissas básicas que de
modo geral são perfeitamente aceitáveis pelos autores. O nosso suposto é de
que se o objetivo fundamental era o&senvolvimento capitalista Cisto ê~ a acu
mulação de capital no seio do setor privado) e isto foi alcançado sem que a acumulação de capital se fizesse no mesmo ritmo na agricultura através ou não
das politicas do Estado (infra-estrutura~ crédito)~ logicamente que as condi
ções históricas (do lado dos fatores) durante a fase inicial de desenvolvimen to da indústria no Brasil foram bastantes favoráveis a ponto de não ser neces sário o acionamento do Estado para desenvolver mecanismos capazes de modificar as relações de produção no campo. Esse ponto de vista é também compartilhado
por TAVARES~ Maria da Conceição em seu ensaio Da Substituição de Importações
ao Capitalismo Financeiro. Rio de Janeiro~ Zahar~ 1977.quando afirma~ numa ge
neralizaçao a respeito do novo modelo de desenvolvimento econômico da América
Latina~ a partir do processo de substituição de importações~ que "as transfor
mações da estrutura produtiva circunscreveram-se~ praticamente~ no setorindus
trial e atividades conexas sem modificar de modo sensivel a condição do
setor-primário~ inclusive as atividades de exportação ... Desse caráter parcial da
mutação ocorrida no sistema econômico - acrescenta - resultam duas circunstân cias ... uma delas é a preservação de uma base exportadora precária e em dina
mismo ... uma das causas do estrangulamento externo ... A outra é o caráter par
cial da mutação ocorrida no sistema econômico e o consequente surgimento de
um
noVo tipo de economia dual".
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gem de lucro. Esta situnção de escassez tornava-se ainda
mais favorável para as indústrias, por ter-se elevado nes
sa ocasiao o valor das exportaç6es (ain~a que diminuída a
quantidade exportada), o que resultou em aumento da deman
d a e etiva no merca o lnterno f d · 14 .
Apesar disso ser verdadeiro, acredita-se ser por demais simplificad~
, ra da realidade a tentativa de pretender-se explicar o tratamento de
,
sigual C1arjo ~lo EstarlO à aqricu}_ turc., "vis-à-vis" o dispensado à indú~
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tria, a partir exclusivamente de uma componente apenas, no caso as ba~, reiras de ordem física - em virtude da II :r;rande Guerra -, que dificul
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tavam as relaç6es comerciais do Brasil com o resto do mundo.
Em verdade, o fenômeno da Segunda Guerra apenas se constitui nUIT
fa
-tor a mais que veio justificar e, por que nao dizer, acelerar o ritmo
do processo de substituição de importaç6es e, consequentemente, daacu
mulação de capital no setor urbano-industrial. Isto significa :::izer
que os antecedentes ou as causas reais (lesse processo se cristalizaran,
, para não retrocedermos muito, dez anos antes do início da guerra. Ne~
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"
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se caso, se o quadro beligerante é insu-Ficiente como variável de expl;!;.
cação do processo de substituição de importaç6es e ao seu desdobrame~
to na aceleração da acumulação de capital, no setor industrial, muito
menos suficiente ainda (para não dizer errôneo) seria tomá-lo como re
ferencial para explicar por si mesmo o tratamento desigual, dado a
agricultura, verificado nas políticas governamentais.
t necessário notar aue a crise prolongada (los anos trinta, que teve
(l4) PAIVA~ Ruy Miller et alii; op. cito p. 2l
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seu início mais precisamente em 1929, e a Revolução de 1930 marcaram
o fim de um cíclo e início de outro e ensejaram, também, mudanças e~
truturais significativas na sociedade brasileira: quer sejam no pl~
no econômico, quer ao nível político-ideológico.
Antes da eclosão da crise de 1929, tinha-se urna economia marcadamen
, te agrário-exportadora, na qual as exportaçôes se caracterizavam co
,
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mo uma variável exógena, que era responsável por uma parcela signif~, cativamente importante de Renda Nacional e como fonte importantíss~
ma de geração de divisas garantidoras do suprimento interno de bens
,
, e serviços demandados, invariavelmente, pelas elites autóctones. É l-ª.
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gico que se tratava de um caso típico de uma economia que tinha seu
crescimento dirigido "para fora" e que estava subordinada ã dinâmica
, de acumulação mundial, cujo cerne principal dessa problemática esta
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va evidentemente vinculado ao quadro da divisão internacional do tr~
balho imposto pelo próprio processo de desenvolvimento das economias
líderes e do qual decorria urna divisão interna do trabalho social to
talmente distinta da do centro15 .
Masoquismos à parte, mas a verdade é que, quando a crise se cristali
zano conjunto das economiasdinâinicas.,ela tende a produzir efeitos
(]5) TAVARlIS .. Maria da ConçeiçãoYxp. cit., di?- quer ':no caso dos paise.s desenvolvi-.
dos,nao havia, como naoha, uma separaçaon1-t1-da entre a capac1-dade produt1-va destinada a atender aos mercados interno e externo. Não é possivel disti; guir um setor propriamente exportador: as manufaturas produzidas são tanto ex portadas quando consumidas em grandes proporções dentro do pais e a especia lização com vistas ao mercado externo se faz antes por diferenciação de prodU
tos do que por setores produtivos distintos. Ao contrário, para a maioria dos
paises da América Lotina, há uma divisãonitida do trabalho social, entre os setores externo e interno da economia. O setor exportador era (e continua sen do) um setor bem definido da economia, especializado em um ou poucos produtos
dos quais apenas uma parcela reduzida é consumida internamente. Já.o setor in
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positivos sobre o conjunto das economias subordinadas, tendo em vis
ta provocar rupturas nas relações centro-perifer~a1G . O aspecto p~
.24
, sitivo está em que as economias subdesenvolvidas impossibilitadas de
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importar, em razao da queda acentuada nas suas receitas cambiais, pa~
sam então a por em marcha um processo de desenvolvimento "para den
tro" através da instalação de unidades produtivas substituidoras de
bens anteriormente importadas, o que faz reduzir o grau de dependê~
. 17 Cla
No entanto, a depressão mundial dos anos trinta é um elemento que se
antepõe e inviabiliza a sobrevivência do modelo agrário-~rtadorbr~
, sileiro e redefine as novas condições em que se baseiam o processo
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de acumulação de capital, que passa a depender substancialmente de,
, u m a realização parcial interna crescente.
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terno, de baixa produtividade, era basicamente de subsistência, e somente sa
tisfazia parte das necessidades de alimentação, vestuário e habitação da pa~
cela da população monetariamente incorporada aos mercados consumidores".
(]6) E verdade Que e.~se suposto teórico, que está em alto n{vel de abstração, não
pode ser generalizado a todas as economias consideradas subordinadas e menos em qualquer momento histórico. Percebe-se que as economias que foram relativa
mente beneficiadas com a grande depressão mundial dos anos trinta -
e
que instalaram um parque industrial interno que veio atender toda a demanda de consu mo corrente e parte significativa do setor de bens de capital - já não podem ter as mesmas vantagens, por exemplo, na atual crise do capitalismo. Isto por
que, se nos anos trinta estas economias eram dependentes do mercado externo
na exportação de primárias e importação de bens necessários ao atendimento de parte apreciável da demanda interna, hoje essa dependência (que assume uma na tureza qualitativamente nova) está em que elas passam a depender do mercado es
terno na tentativa de realizar o "excedente" da produção de manufaturas agora
produzida internamente, visando assegurar o ritmo de acumulação endógeno.
(1?) A redução relativa ou absoluta da importação de manufaturas, em razão desse grau de dependência, é apenas aparente, pois no bojo dessa redução estão sen
do criadaB novas formas de dependência, de natureza qualitativamente nova. Is
to acontece, principalmente, no campo da ciência e tecnologia. Veja-se que o
processo de substituição de importação se realizou através dos capitais multi
nacional e nacional. Aquele, embora viesse trazendo uma tecnologia superada
no pais de origem, significava um avanço extraordinário em relação à base aqui