Cad. Saúde Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
Análise do conhecimento e das concepções
s o b re saúde oral de alunos de odontologia:
avaliação por meio de mapas conceituais
Analysis o f de ntal stud e nts’ kno wle dg e
and c o nc e p ts in o ral he alth: e valuatio n
b y co nce p t maps
1 La b o ra tório d e Te c n o l o g i a s C o g n i t i va s , N ú cleo d e Tecn olo gia Ed u cacion a l p a ra a S aú d e, Ce n t ro d e Ciên cias d a Sa ú d e, Un i v ersid a d e Fe d e ral do Rio d e Ja n e i ro. Av. M a rech a l Tro m p ow s k i s / no, b l oco A, sa la 26, Cid a d e Un i ve r s i t á r i a , Ilh a d o Fu n d ã o, Rio d e Ja n e i ro, R J 2 1 9 4 9 - 9 0 0 , Bra s i l . m c h i n e r @ n u t e s . u f r j. b r r i c c i a rd i @ n u t e s . u f r j. b r 2 La b o ra tório d e Ge n é t i c a Hu m a n a , D e p a rt a m en t o de Ge n é t i c a , In st it u t o d e Bi o l o g i a , Ce n t ro d e Ci ê n c i a s d a S aú d e, U n i ve r s i d a d e Fe d e ra l d o R io d e Ja n e i ro. Av. M a rech al Tro m p ow sk i s / no, b loco A, sal a 67, 2oa n d a r, Ci d ad e Un i ve r s i t á r i a , Ilh a d o Fu n d ã o, R io d e Ja n e i ro, RJ 2 1 9 4 9 - 9 0 0 , Bra s i l . v i e i ra @ a c d . u f r j. b r M iria m St ru ch i n er 1 Al ex a n d re Re z en d e Vi e i ra 2 Regin a Ma ri a Vi e i ra Riccia rd i 1
Abst ract Th is st u d y sou gh t t o a n a lyz e sen io r d e n t a l st u d en t s’ c o g n i t i ve st ru ct u re con cern in g t h e t op i c of “e n a m e l ”, w h i ch is fu n d a m en t a lly im p ort a n t for u n d erst a n d in g ora l h ea lt h , sin ce it of f ers b a si c sci en t i f i c co n cep t s f o r cli n i ca l a n d p re ve n t i v e p ra ct i ces a n d i s t h e m a i n su bj ect of s e ve ra l cou rses d u rin g d en t ist ry t ra i n i n g . Th e st ra t e gy u sed t o a n a lyz e st u d en t s’ c o g n i t i ve st ru c-t u res w a s N o v a k ’s Con ce p c-t M a p s , ba sed o n Au s u b e l ’s M e a n i n gf u l Le a rn i n g c-t h eo ry. An a lysi s of s t u d e n t s’ m a p s a llow ed for a st u d y of st u d en t s’ c o g n i t i v e st ru ct u re a n d con cep t s con cern in g ora l h e a l t h . It a lso fost ered a d i agn osis of st u d en t s’ k n ow ledge i n seve ra l im p ort a n t a sp ect s of sci en -t i f i c a n d p ro f essi o n a l -t ra i n i n g . T h e resu l-t s h i gh li gh -t ed -t h e n eed f or re-t h i n k i n g -t h e -t ea ch i n g/ lea rn in g p rocess in den t ist ry t ra i n i n g .
Key w ords H ea lt h Ed u c a t i o n ; D en t a l Hea lt h Ed u c a t i o n ; Ed u ca t io n a l M e a s u re m e n t ; D e n t a l St u d e n t s
Resumo O objet ivo in icia l d est e t rab a lh o fo i a p reen d er a est ru t u ra cogn it iva d e alu n os do ú lt i-m o a n o (sét ii-m o p erío d o) d o cu rso de gra d u a çã o ei-m o d on t olo gia d a U FRJ ei-m rela çã o à t ei-m á t ica d o esm a lt e. Essa t em á t i ca é d e fu n d am en t a l i m p o rt â n cia p a ra a com p reen sã o d a sa ú d e o ra l , n a m ed i d a em qu e o f erece con cei t o s cien t í f ico s i m p o rt a n t es e f u n d a m en t a is p a ra o ex e rcí ci o d a p rá t ica clí n ica e p re ve n t i va , bem com o p o r ser ob jet o d e est u d o em v á ri a s d iscip lin a s a o lo n go d o cu rso d e Od o n t o l o g i a . Pa ra a a n á lise d a est ru t u ra cogn it iva , u t i l i z ou se a est ra t égi a d e m a -p as co n ceit u a is -p ro -p ost a -p or Nov a k e fu n d am en t ou -se n a t eoria d a A-p ren d iz a gem Si g n i f i c a t i va , d e Au s u b e l . A a n á lise d os m a p a s ela bo ra d o s p elos est u d a n t es p o ssi bi lit ou u m est u d o n ão só so -b re a est ru t u ra cogn i t i v a e a s con cep çõ es so -bre sa ú d e o ra l d os a lu n os, com o t a m -b ém p erm it iu u m di a gn óst ico d o con h eci m en t o em d iversos asp ect os re l e va n t es à form ação cien t ífica e p ro f i s-s i o n a l , ap on t a n d o p a ra a n eces-ss-si da de d e s-se rep en s-sa r o p ro ces-ss-so en s-sin o-a p ren d iz a gem n o s-s cu rs-sos-s d e Od o n t o l o g i a .
STRUC HINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICC IARDI, R. M. V. 5 6
Cad. Saúd e Públic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999 I n t ro d u ç ã o
A saúde oral e a formação do odont ólogo no Brasil
No Brasil, a p artir dos an os 60, a ed ucação m é-d ica au m en tou sign ificativam en te em q u an ti-d a ti-d e, com p erti-d as re l e va n tes ti-d a q u a liti-d ati-d e ti-d a f o rm açã o (Si l va, 1987). Essa exp a n são, q u e n a p rática du p licou o n ú m ero d e cu rsos de Me d i-c in a, n ão teve q ua lq ue r re p e ri-cussã o fa vo r á ve l n o aten d im en to à saú de. Mu itas escolas fora m c riadas sem dispor de recursos hum an os e m a-t e riais suficien a-tes ( Ja a-t e n e, 1987). A realidade d a ed uc ação od on tológica ap resen ta u m p ara l e l o com a edu cação m édica. Assim com o n a Me d cin a, a qu eda n a q ualidad e d o en sin o é re f l e t i-d a n a q ualii-d a i-de i-d os i-d en tistas form a i-d o s, u m a vez q u e o n ú m ero d e esc ola s d e Od o n t o l o g i a n o Brasil já ultrap assa cem !
V á rios m ovim en tos su rg i ram p a ra d isc u tir um a reform a curricular visan do ap roxim ar m a i s o d e n tista , q u e a ssiste u m a p a rt e m ín im a d a p op ulação que tem acesso ao con sultório o d o n -t o l ó g i c o, da realidade n acion al. Um desses m o-v i m e n t o s, a In t e g raç ão D o cen t e-Assisten cial ( Red e ID A), foi d efin id o com o a e st ra tégia d e associação d a s p rá tic as d e en sin o, p esq u isa e assistên cia, tra n s f o rm an do a educação dos p ro-fission ais d e saúd e em u m m eio efetivo de for-m ar p rofission ais ad eq uad os ao seu afor-m b ien te d e t ra b alh o (ABEM , 1983). Ou t r o m od elo q u e p ro c u rou d ar con ta d essa s q u estões, em n íve l c u r ri c u l a r, foi o Problem based-lea rn in g( Ap re n
d iza d o b a sead o em p rob lem as) qu e, va l e n d o se de p rob lem as relac ion ados à saú d e oral, in -c e n t i va o d esen vo l v i m e n t o, p e los a lu n o s, d e so lu ç ões (d iagn ósticos e in ter ven ções) in serid as n a re aliseridaserid e em q ue os casos são ap re s e n -t a d o s, in -tegran do fen ôm en os e ach ados de di-f e ren tes cam p os de saber (Wilson , 1996).
Os aspe ctos técn ico-cien tífico-assisten ciais d as p rofissões d e saú d e, e esp e cificam en te d a saú d e o ra l, d eve ria m ser eq u ilib rad os d e n tro d a p rát ica d o en sin o, n ã o h aven d o m ais um a p red om in ân cia ou u m a p referên cia p ela sup e-re sp e cia lizaçã o téc n ic a. O cu r rícu lo d eve ri a p ro m ove r, p ort a n t o, um a ap roxim ação en tre os con ceitos cien tíficos básicos e a p rática clín ica e esta d eve ria va l o r izar a solu ç ão d o s p ro b l e-m as d a p op u lação, d en tro d e u e-m a p ersp ectiva realista.
Ap esar de h oje o cur ríc ulo de Od o n t o l o g i a e sta r d esen h ad o p ar a favo recer essas ap r ox i-m a ç õ e s, su a ap lica ção ain d a ap re sen t a u i-m a t en d ên c ia p a ra o d ist an c ia m en to, com a p erp etuação de u m a va l o rização dos erp ro c e d i m e n -tos técn icos, d e form a totalm en te afastad a d as
n ecessid ad es e d a realid ad e d a p op u la ção, a s-sim co m o d o s co n ce it os b á sico s. Is s o, p rova-ve l m e n t e , é re f l e xo d e c om o os estu d an t es c o m p reen d em a p rofissão od on tológica d esde o in ício d o curso, reforçado p elo en foq ue d ad o p or m uitos pro f e s s o re s.
Definição do pro b l e m a
Essa situ ação e ou tros asp ec tos re l e va n te s à f o rm aç ão p ro fissio n al foram con sta tad os em estu do recen te realizad o com alu n os d o cu rso d e Od on to lo gia d a Fa cu ld a d e d e Od o n t o l o g i a d a Un i ve rsid ad e Fe d e r al d o Rio d e Ja n e i r o – UFRJ. No in ício d a d iscip lin a d e Od o n t o p e d i a -t ria, foi fei-ta u m a an á lise do con h ecim en -to d e um a tu rm a de alu n os do sétim o p eríod o sob re o te m a esm a lte, c om o ob jetivo d e in tro d u z i r de for m a sistem ática u m a in ovação n o en sin o e acom p an har a su a im p lan tação.
A in ovação con sistiu em oferecer com o m a i s um recu rso de en sin o-ap ren dizagem um siste-m a h ip er siste-m íd ia co siste-m o títu lo Es m a l t e : A Po rt a de En t rad a d o De n t e( St ru c h i n e r, 1998), d es e n -vo lvid o d e fo r m a a c on trib u ir p a ra m u d an ças q u a l i t a t i vas n o en sin o d a Od on tologia. Hi p e r -m ídia é u-m siste-m a co-m p utad orizado qu e p er-m it e a c on st r u çã o e o a c e sso a in fo rer-m a ç õ e s o rgan izad as d e form a n ão lin ear. Con siste em blocos d e in form ação (n ós) sob re um d eterm in a d o d om íin io, iin terliga d os p or m eio d e p ala -v ra s - c h a -ve (h o tw o rd s) n o t ext o. Do p on to d e vista d e su a e st ru t u ra ló gica , a hip erm íd ia é um a red e sem ân tica on d e um a série de con cei-tos estão associados. O leitor/ usu ár io p od e, as-sim , p erc o r rer o con teú d o d e acordo com su as op ções e n ecessidades de relacion ar con ceitos, se lec io n an d o as p ala vra s - c h a ve c on t id a s n o texto e con str uin do sua p róp ria rede de con he-cim en tos sobre o con teúdo estudado (Jon ass e n , 1996; Kom m ers et al., 1996). O in teressan te so-b re esse tip o d e estru t u ra n ã o lin ea r e o se u p rin cip al d esafio p ara o p rocesso ed u c ativo é exa tam en te a p ossib ilid ad e d e o s alu n os p erc o r re re m d ife ren t es erc a m in h o s n a a p re n d i z a -gem , con fo rm e as relaç ões sem ân tic as e asso-ciaç õ es m en t ais p or e les co n st ru í d a s, p er m i-tin do tam bém a apren dizage m p or d escoberta.
o-Cad. Saúd e Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
logia , Ciru rgia e Rad iologia n o segun d o; De n -tíst ic a, Estom atologia e Od on t ologia Soc ia l e Pre ve n t i va n o terc e i r o e Od o n t o p e d i a t ria n o q u a rt o, a lém d e exp eriên c ia s d ur a n te t od a a p rática d a clín ica d o cu rso.
A estru t u ra h ip erm ídia e a p roblem ática do tem a esm alte n o âm b ito d o cu rrículo desp ert a-ram in ter esse p ara im p lem en ta r in ovaç ões e an a lisar su a s con trib u içõe s em d iferen t es asp e ct os e n vo lvid os n o asp r oc esso e d u ca tivo, in -c l u s i ve n o -con he-cim en to d os estu dan tes.
Dessa form a, era n ecessário q ue o con h eci-m en to do s alu n o s fosse ava liad o p re v i a eci-m e n t e à in t r od u çã o d a in ova ç ã o, n o c a so, o siste m a
Es m a l t e : A Po rt a d e En t ra d a d o De n t e, e q u e a
m etodologia de avaliação fosse com patível c o m os p ressup osto s ed u ca tivo s q u e n o rt e a ram a p rop osta e a estru t u ra d e con h ecim en to viab ilizada p ela h ip erm íd ia. Com o a h ip erm ídia en -fatiza a in terco n ectividad e en tre con ceitos e a c o n s t ru ç ão d o c on h ec im en to p elo e stu d an te, op to u -se p e la elab or açã o d e m ap as con c ei-tuais (Novak & Gowin , 1984; Novak, 1998) p ara a valiar o con hecim en to de con ceitos e su as in -t e r- re l a ç õ e s.
Esse m étod o e a an álise d os d ados ob tid os, cu jo p rocesso d escre ve rem os a segu ir, p ossibi-l i t a ram um d iagn ó stico d o co n h ecim en to d os alu n o s em d iverso s a sp ec to s re l e van te s à su a f o rm ação cien tífica e p rofission al.
M e t o d o l o g i a
A b o rdagem sobre aprendizagem e avaliação
A ab ord agem sobre ap ren dizage m q u e ap óia o p resen te estu d o e q u e orien tou a d efin iç ão do m é to d o d e a valiaç ão d o c on h ec im en to d os alu n os fu n d a m en ta-se n os p rin c íp ios b ásicos d o c on str u tivism o (Cu n n in gh a m et a l., 1993; Du ffy & Jon assen , 1993; Wilson , 1996) e, esp e-c i a l m e n t e, n a ap ren d iza gem d e e-con e-c eito s e p rin cíp ios d e Au su b el et al. (1978).
O con stru tivism o tem c om o p rem issa fu n -d a m e n tal a i-d é ia -d e q u e o in -d iví-d u o é agen t e d e seu p róp rio con h ecim en to. Isto é, ele con s-trói sign ificad os e d efin e o seu p r óp r io sen tido e re p rese n taçã o d a rea lid a d e d e a cord o com su a s exp e riê n cias e vivê n cias em d ifere n t e s c o n t e x t o s. Essas re p re s e n t a ç õ e s, n o en ta n to, estã o c on stan t em en te a b er ta s a m u d a n ç as e suas estru t u ras form am as b ases sob re as qu ais n ovos con h ecim en tos são con stru íd os (Be d n a r et al., 1992; Novak, 1998).
Esse en foqu e distan cia-se da id éia de que o con hecim en to acum ulado p ossa ser comp re e n
-d i-d o e c o m p ar tilh a -d o a través -d a m era tra n s-m issão d e in fors-m ações e d e us-m a visão lin ear e sim p lificada d os fen ôm en os en vo l v i d o s, com o se su as m an ifestações fossem im p eri o s a m e n t e as m esm as, in d ep en d en tem e n te d o co n te xto, ist o é , d as con d iç ões em q u e o co r rem . Alé m d i s s o, essas ab ordagen s tradicion ais term i n a m p o r p r ivile giar o s m od elos d e ap re n d i z a g e m p o r m em o riza ç ão em ve z d os d e a p re n d i z a -gem s i g n i f i c a t i va, ou seja, aqu ela q ue se d á p or m eio d a re o rgan ização d e con ceitos e p ro p o s i-ç ões n a estru t u ra c ogn itiva d os alu n os (Au s u-b e l et a l., 1978). Po r ou tr o lad o, a s m etod o logia s de avaliação ten d em a en corajar a ap re n -d iza gem p or m em o ri z a ç ã o, p er p et u a n -d o u m cic lo vic ioso, n o q u al o alu n o p ra t i c a m e n t e m e m o riza fatos e/ ou algo ritm os d e re s o l u ç ã o d e p ro b l e m a s, sem d ese n vo l ver a n e c essá ri a co n sc ie n tiza çã o so b re seu p róp r io c on h e ci-m e n t o, estru t u ra c on c eitua l e p rin cíp ios re l a-cion ad o s a o d om ín io estu d ad o. Ne ssa p er s-p e c t i va, e com base n a teor ia d a as-p re n d i z a g e m s i g n i f i c a t i va de Au subel, é qu e Novak & Gow i n (1984) p ro p u s e ram a estraté gia d e m ap as con -c eitu ais p ara avaliação d a estru t u ra -cogn itiva d os alu n os.
Segu n d o Au sub el et al. (1978), a ap re n d i z a-gem sign ificativa só é p ossível qu an do o alun o relacion a con scien tem en te a n ova in form a ç ã o a algu m a sp ecto re l e van te d e su a estru t u ra d e c o n h e c i m e n t o, ou seja, a ap ren dizagem é c o n s-t r u íd a com b a se n o c on h ecim en s-to p révio d o a lu n o n u m p r oc esso d e h iera r q u izaçã o (su b -sun çã o), d iferen c iaç ão p ro g re s s i va e re c o n c i-liação in tegra d o ra. Nossa estr u t u ra cogn itiva é o rga n izad a h iera rq uica m en te com os con c ei-tos e p rin cíp ios m ais esp ecíficos su bord i n a d o s a os m ais gera is (n íveis d e h iera rq u ia); os co n c e i t o s, p o r su a vez, p assa m p o r u m a d ife re n -cia ç ão p ro g re s s i va n a m ed id a e m q u e n ovo s con hecim en tos e exp eriên cias levam a u m re f in am ein to e m aior esp ecificid ad e d e su as re g u -l a ri d a d e s, p o ssib i-lit an d o n ova s -liga çõ es co m o u t ros c on ceitos (ligações válid as). Já a re c o n -cilia ção p ro g re s s i va é c ara c t e r iza d a q u an d o d ois ou m ais con ceitos são recon h ecid os com o re l a c i o n a d o s, for m a n d o n ovos p rin c íp io s o u p rop osições (con exões cru z a d a s ) .
P o p u l a ç ã o
ofe-STRUC HINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICCIARDI, R. M. V. 5 8
Cad . Saúd e Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
re ce a op or tu n id a d e d e u m a visã o in te gra d a d os c on ceito s sob re esm alte. Esse gru p o d e alu n os d e grad u ação p assou p or u m d os ve s t i-b u l a res m ais d ifíceis e c on c or rid os n a re l a ç ã o c a n d i d a t o - vaga, sen d o a m a ior p a rte ori u n d a d e fam ílias de classe m édia e, p or isso, sem p re com as m elhores oportu n id ades edu cacion ais, tan to n o en sin o básico, com o n o secun dári o. É i m p o rta n te lem b r ar q u e ta is alu n os estão n o ú ltim o an o d o cur so, q ue se en cerra ap ós o oi-t a vo p eríod o, e, p o roi-t a n oi-t o, e soi-t ão p ró xim os d e in iciar su as atividad es p ro f i s s i o n a i s.
I n s t ru m e n t o s
• M apas conceit uais
O in str um en to utilizad o p ara ava liar o c on h ecim en to estru t u ral dos alun os foi o m ap a con -ceitu al, q u e é a for m a m ais tra balhad a n a lite-ra t u lite-ra p alite-ra avalia r tal con h ecim en to (Novak & Gowin , 1984; Jon assen et al., 1993a; Mo re i ra & Bu c h weitz, 1993). Cada alun o elaborou u m m a-p a sob re a tem ática d o esm alte re a-p re s e n t a n d o a estru t u ra con ceitu al e su as in ter- re l a ç õ e s.
O con ceito d e con h ecim en to estru t u ral es-tá relacion ad o às teorias de ap ren dizagem sig-n i f i c a t i va (Novak & Gowisig-n , 1984). É a form a d e con hecim en to q ue descre ve com o os con ceitos d e u m d ete rm in ad o d om ín io se in ter- re l a c i o-n am . Pod e ser tam b ém d efio-n id o com o co o-n h e-cim en t o c on c eitu al q u e e n vo l ve a in te gr a ç ã o d e u m n ovo con h ecim en to em estru t u ras m en -tais com p lexas.
A m a n eira m a is in d ica d a p a ra ap re e n d e r e ssa fo rm a d e c on h ecim en t o é p or m eio d e m ap as con ceitu ais, q ue d escre vem visualm en -te as correlações en tre as id éias de u m a p essoa a resp eito d e u m d eterm in ad o con h ecim en to, re p re s e n t a n d o, assim , su a estru t u ra cogn itiva. Um m ap a con ce it u a l é form a d o p o r d ois elem en tos b á sic os: b alões o u n ós e lin h as. Os b alões re p resen tam os con ceitos. As lin h as d e-fin em as relações (ligações) en tre con ceitos. Os m ap as con ceitu ais re p resen tam as relações s i g-n i f i c a t i vas eg-n tre cog-n ceitos g-n a for m a de pro p o-s i ç õ e o-s. Prop oo-siçõeo-s o-são d oio-s ou m aio-s con ceitoo-s associad os p or u m a p a lavra d e ligaçã o. Qu a n -d o as p rop osições in clue m con ceitos em n íve i s d i f e re n t e s, tem os as relações cru z a d a s.
Na Fi g u ra 2, p or exem p lo, os b alões ou n ós alojam tod os os con ceitos que estão n os re t â n -gu los: desm in era l i z a ç ã o, c ár i e, d en tin a, d u re-za... . As lin ha s relac ion am os co n c eit os e n tre si, com o: p roteção e s a ú de b ucal; tecido m in e-ralizado e d ureza; esm alte e p ri sm a s. As p ro p osições p od em ser visu alisada s q u an d o en con t ra m o s a s p ala vras d e ligaç ã o: p r ot eç ão ‘p e r
-m i t e’ saú d e b u c al; c á rie ‘ l e -m b ra’ açú c ar ; e sm alte ‘s o f re’ d essm in era l i z a ç ã o. A relação d en -te – d en tin a ca ra c t e r iza u m a relaç ão cru z a d a , um a vez qu e esses dois con ceitos estão d ispos-tos graficam en te em n íveis difere n t e s.
Nova k & Gowin (1984) d e sen vo l ve ra m os m a p as c on ceitu ais p or m eio d e p esq u isas so -b re ap re n d iza ge m sign ifica tiva d e co n ce it os cien tíficos u tilizan do m aterial aud iovisu al. Pa-ra cad a d om ín io ap resen tad o n o m ater ial, eles b u s c a vam d eter m in ar o q u e os a lu n os sab iam an tes e d ep o is d o seu u so e com o esse con h ecim en to m odificouse n os an os segu in tes. Te n -d o co m o e n foq u e m et o-d oló gico u m m o -d elo m od ificad o d as en trevistas clín icas d e Piaget e basead os n a teoria d a assim ilação d e Au s u b e l , eles cole tavam in form aç õe s so b re o c on h e cim e n to d o s alu n os. A p reoc u p açã o e cim d e se n vo l ver u m a fo rm a d e re p resen t aç ão d a s m u -d an ç as oc orr i-d a s n a estru t u ra co gn itiva -d os alu n os levo u - o s, após vár ios an os de estud o, ao m odelo de m apas con ceitu ais.
A p artir da con cep ção d e tais m ap as, vári a s téc n icas fo ra m d esen volvid a s p a ra a e lab o ra -ção d eles e an álise e vár ios estu d os ava l i a ra m su as d ife ren te s ap lic a çõ es. Os m ap as con cei-tu ais p od em ser in tegrad os ao p rocesso ed uca-t i vo de d iferen uca-tes form a s, com o, p or exem p lo, f e r ram en ta p ara o en sin o, ferr am en t a p ara a a valiação cu rricu lar e ferram en ta m etacogn iti-va (Mo re i ra & Bu c h weitz, 1993).
Um a d a da estru t u ra ou m ap a é p a ssível d e an álise re l a t i va q uan to ao n úm ero de con ceitos, n ú m e ro d e relações hier árq u i c a s, d istân cia se-m ân tica e coerên cia en tre con ceitos re l a t a d o s. Algu m as técn icas n or m alm en te usad as p ri o ri-zam u m a ou m a is ca rac terísticas ( Jon assen et al., 1993).
Existe u m a sér ie d e m od e los e técn ic as d e e l a b o raçã o d e m a p as c on c eitu a is rela ta d a n a l i t e ra t u ra. Ap ós a an álise desses m odelos, selecion am os aquele qu e se ap resen tou m ais com -p a t í vel com o estu do (Jon assen et al., 1993).
• E n t revista com o especialista de cont eúdo
Cad. Saúde Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
s o b re a a valiaçã o e a p on t u aç ão d o s m a p as con ceituais foram gra va d a s, tra n s c ritas e an ali-s a d a ali-s.
P rocediment os para colet a de dados
• E s t u d o - P i l o t o
Um estu d o-p iloto foi realizad o co m a p a rt i c i-p a ç ão d e alun o s, d oc en te s e fu n c io n á rio s d o L a b o ra t ó rio d e Tecn ologias Co g n i t i va s, com os segu in tes ob jetivos: 1) p ossib ilitar ao esp ecia-lista d e con teú d o/ p rofessor p raticar a estra t é-gia d e ap resen ta ção e o en sin o so b re elab ora-çã o d e m ap as con ceitu ais p reviam en te ao es-tu d o d efin it ivo e 2) d ec id ir q u al m eto d o logia p a ra a co n stru çã o d e m ap a s con ce itu a is seri a u tilizad a n o estud o, o ferecen do u m a listagem p ré via d o s c on ce itos p ara serem o rg a n i z a d o s p elos alu n os ou deixan d o qu e os alun os gera s-sem os m ap as com seus p róp rios con ceitos.
Ap ó s exp erim e n ta r a s d u as m o d alid a d es p a ra a con stru ção d os m ap as, d ecid iu -se p ela segu n d a, p ara d eixar q u e o con h ecim en to dos alun os flu ísse esp on tan eam en te n a elab ora ç ã o do m ap a con ceitu al.
• Est udo definit ivo
Na p ri m e i ra aula d o sem estre, os alun os d a d iscip lin a d e Od o n t o p e d i a t ria for am ap re s e n t a -d os p e lo p r ofe sso r a os con ceitos e ao m o-d elo d e m ap as con ceitu ais. As exp licações sob re os m ap as con staram d e con c eitu ação, p ri n c i p a i s e l e m e n t o s, p ressu p o st os ed u c at ivos associa -dos à sua criação e estratégias para con stru ç ã o, in clu in d o a elab oração p elo p ro f e s s o r, em sala de au la, de u m exem p lo d e m ap a sob re o tóp i-co Saúd e Ora l .
Os alu n os re c e b e ram o m ater ial p ara a ela-b o ra ção d o m a p a co n c eit u al: p ap el, láp is e b o r rach a. Fo ram , en tão, solic ita d os a faze r os m a p a s, b a sean d o-se n os seu s con h ec im en tos relacion ados ao con ceito d e esm alte den tári o.
Análise e re s u l t a d o s Análise quant it at iva
Os m a p as c on ceitu ais d e cad a alu n o fora m p o n tu a d o s p elo esp ec ialist a d e co n teú d o, se-gu in d o as esp ec ific aç õe s d e Nova k & Gow i n (1984). O e score d e u m m a p a co n ce it u al foi calcu lad o p or m eio d os segu in tes in d ica do re s e c ri t é r ios: p rop osiç õe s/ ligaçõe s válid as (p l): um p on to cad a p rop osição; relações h ierárq u i-cas com n íveis válid os (rh ): cin co p on tos cad a
n í vel; con exões c ru zad a s vá lid as e sign ifica ti-vas (cs): d e z p o n to s c a d a co n exã o; exem p los válid o s (ev): u m p on to ca d a. O som a tório d o s p on tos ob tidos p elo alu n o corresp on d e a o es-c o re n o m apa es-con es-ceitual.
Os p on tos obtid os p elos alu n os n os m a p as c o n c e i t u a i s, u tilizan do os cri t é rios d e p on tu a-ção d e Novak, estão su m arizad os n a Tabela 1.
Os resultados q uan titativos ap on taram p a-ra u m a estr u t u a-ra d e c on h e cim en to elab o a-ra d a com p ou cas ligações en tre con ceitos n a form a d e p rop osições ou p rin cíp ios bá sicos, ou seja , n a exp licação e sín tese das h iera rquias apon ta-d a s. De u m a m an eira geral, o gru p o, com o p o-d e m o s ve rifica r n a Ta b ela 1, foi ca p a z o-d e h ie-ra rq uizar valid am en te os con ceitos, va rian d o a o rga n iza çã o d e seu s m ap as d e u m a n ove n í-ve i s, sen d o a m éd ia de 20,5 e m edian a d e q u a-t ro n íveis ou 20 p on a-tos. Os m ap as con ceia-tu ais f o ram d iversificad os em relação ao n ú m ero d e ligações válid as/ p ro p osiçõ es en tre c on ceito s, va rian do d e um a a 29 p rop osições corretas c o m m éd ia d e 9,9 e m ed ia n a 9. O gru p o d e m o n s-t rou b aixíssim o con h ecim en s-to d as in s-terc o n e-xõ es en tre c on ce itos, n ível m ais ela b orad o d e c on h ec im en t o so b re u m d o m ín io ; 36 d os 38 alun os n ão re p re s e n t a ram q ualqu er in terc o n e-xão e d ois re p re s e n t a ram um a ú n ic a in terliga-ç ão (p o r m a p a ) e n tre d ois ou m ais con c eito s e m n íveis dife ren ciad os n a hiera rq uia, form a n -d o n ovas p ro p o s i ç õ e s.
A in terp retação d o m ap a con ceitual e desse p rocesso d e p on tu açã o é de re l a t i va d ificu ld a-d e e ca rrega um c er to n ível a-d e ar b it ra ri e a-d a a-d e (com o ou tros m étod os de avaliação) e, com o é colocado p elo p róp rio Novak (Novak & Gow i n , 1984), su a fu n ção é satisfazer às n ecessid ad es d e n osso sistem a escolar, m u ito m ais b asead o e m n úm eros e o u t ra s fo rm a s d e e sc ore s p ar a a valiar a a p ren d izagem . Mesm o d efen d e n d o q u e a p rop osta d e p on tu ação d os m ap as co n -ceitu ais é válida e está an corad a n as teorias d e
Tab e la 1
Sínte se d o s p o nto s o btid o s no s map as co nce ituais e lab o rad o s pe lo s aluno s p o r fato r, d e ac o rdo c o m a c lassific aç ão d e No vak (N = 38).
F a t o r M é d i a D . P. M í n i m o M á x i m o
STRUC HINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICCIARDI, R. M. V. 6 0
Cad . Saúd e Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
a p rend izagem sign ificativa, o au tor destaca q u e a cara cterística fu n d am en tal d o m ap a con ceitu al n ão é atrib u ir n otas ou con ceitos aos a lu -n o s, m a s avaliar sua estru t u r a co g-n itiva e a s m u dan ças qu alitativas ocor ridas em decor rên -cia d o p rocesso de in stru ç ã o, isto é, a evo l u ç ã o d o con h ecim en to d os alu n os.
Um a sp ec to q u e p o d e t er in flu e n ciad o o s b a i xos esco res d os alu n o s n os d iferen tes fato-res d a teor ia d a ap ren d izagem sign ificativa d e Au su b el é a falta de exper iên cia n a elab ora ç ã o d e m ap as con c eitu ais, o qu e reforçou a n ec es-sid ade de exp an d ir as an álises p ara u m a ab or-d agem q ualitativa e m ais herm en êu tica or-das es-t ru es-t u ras d e co n hec im en es-t o re g i s es-t rad as p elo s a lu n o s d e Od o n t o p e d i a t ria, n o segu n d o e n -c o n t ro do sem estre.
Análise qualit at iva
Pa ra realizar a an álise qu alitativa, o esp ecialis-ta d escre veu e an alisou o s m a p a s con ceit u ais d e cada alu n o, n a p resen ça d e três m em b ros d a e q u ip e d e p esq u isa . Os d ep o im en to s fora m g ra va d o s, tra n s c ritos e p osteri o rm en te an alisa-d o s. Além alisa-d a a va liação alisa-d o s m ap a s, o esp ecia-l i s t a / p ro fesso r re sp on d eu p e rgu n t as sob re a e x p e riên cia de trab alh ar com essa estratégia de a valiaçã o e so b re a rece p tivid a d e d os a lu n o s em relação ao m ap a.
Na avaliaçã o in d ivid u al d os alun os, o p ro-fessor an alisou cada m ap a, apon tan do suas ca-r a c t e ca-r í s t i c a s. A a n á lise q u alita tiva segu iu , in i-c i a l m e n t e, os m esm os i-con i-ceitos d a m etodolo-gia p r op o sta p or Novak & Gowin (1984), q u e an alisa os ele m en tos con stitu in tes da teoria d a a p ren d iza gem sign ifica tiva d e Au sub el, re p re-sen tados n a estru t u ra de um m ap a con ceitual. Sã o eles: h iera rq u i a s, p rop osições e co n exõ es c ruzad as en tre con ceitos e, tam bém , exem p los d e co n ce ito s, c o m o já foi d esc rit o a n t eri o r -m e n t e. No en t an t o, o p ro f e s s o r / e s p e c i a l i s t a n ão se p ren deu ún ica e exc l u s i vam en te a estes, n a m edida em q ue a an álise qu an titativa já ha-via p ossib ilitad o u m q u ad ro ger al d o s alun o s em relação a esses fatore s.
Ao an alisar os m ap as, o esp ecia lista ap o n tou d iver sos asp ectos ap resen tad os p elos alu -n o s, re l a t i vos à form a d e orga-n ização e d e ex-p ressão d e c on ce itos r elac ion ad os à te m átic a e s m a l t e. Tais ob ser vaçõe s foram , en tã o, ca teg o rizad as e an alisada s q u an to à su a p ert i n ê n -c ia p ara a -co m p ree n sã o so b re a e st ru t u ra d o c on h ecim en t o d o s a lu n o s d e sétim o p e r íod o d o curso de grad uação de Od on tologia n a Un i-versidade Fe d e ral d o Rio de Ja n e i ro.
In ic ialm en te foram ger ad as c in co ca tego-rias b á sica s, q u e for am e n t ão d efin id a s e re
a-valiadas com o esp ecialista a p ar tir de u m a n o-va leitu ra d os m ap as. Quan do tod as as cate go-rias ficaram d efin idas, as d iferen tes cara c t e r í s-tic as a ela s atr ib u íd as foram id en t ificad as d e a c o rdo com as ocorrên cia s n os m ap as con cei-tu ais dos alu n os.
As categorias d efin idas e os resu ltados ob ti-dos estão d escritos a seguir.
1 ) Dificuldades na const rução do mapa
Por re l a c i o n a r-se a p roblem as que dificultara m a avaliaçã o d os m ap as c on ceitua is p e lo esp e -cialista, segu n do o qu al essa situ ação se deve à d ific u ld ad e d o s alu n os p ara con stru í rem seu s m a p a s, esta cat ego ria se t or n o u im p o rt a n t e p o rq u e , em a lgu n s ca sos, levou à n ecessid ad e de in terp retação d as in ten ções d os alu n os (ou se ja, d o rac ioc ín io q u e e m b a sava a estru t u ra re p rese n tada). Mu ito m ais do qu e um a fu n ção c l a s s i f i c a t ó ria / c on ceitu al d o co n h e cim en to dos alun os, teve o p ap el d e m on itoram en to ou ch ecagem das con clu sões d uran te a an álise, is-to é , q u alq u er ou tra c lassificação era re a va l i a-d a in icia lm en te con sia-d eran a-d o-se esta c atego-ria an tes de b uscar su as características fu n d a-m e n t a i s.
Dos 38 alun os qu e p art i c i p a ram d a ativid a-d e a-d e ela b ora çã o a-d os m ap a s co n ce it u a is, 11 (29%) o fize ra m sem d eixar d ú vid a s q u an t o à c o m p re en são d e su a s técn icas d e elab o ra ç ã o. Os a lu n os resta n tes re p re s e n t a ra m tip os e n íveis de d istan c iam en to d iferen ciad os do s m a -p as: d ois alu n os (5%) n ão c on stru í ram m a-p as, do p on to d e vista gráfico, e ap re s e n t a ram sen -ten ças; oit o (21%) ap re s e n t a ram lo n gas list as d e co n ceito s en c ad e ad os se q ü en c ialm en te, se n d o seis em fo rm a to h ori zon tal e d o is em ve rtical; sete (19%), ap esar d e terem elabora d o d i a g ra m as d e árvo re, n ã o d eixaram , n em p elo esq uem a, n em p elo texto, p istas sob re a in ter-relaç ão p reten d id a en tre os con ceitos e, fin al-m e n t e, d e z (26%) a lu n o s c oal-m b in ar aal-m se u s m ap as or a e xp lic ita n d o p ro p o s i ç õ e s, o ra n ão, p orém d eixan d o m argen s p ara a d evid a in ter -p retação (Fi g u ra 1).
Cad. Saúde Púb lic a, Rio de Janeiro , 15(Sup . 2):55- 68, 1999 2 ) O rganização do pensament o
Esta categoria id en tifica a s diversas org a n i z a-ç õ e s / e s t ru t u ras de p en sam en to sob re a tem á-tica d o esm alte re p resen tadas p elos alun os. Na ve rd a d e, ela b ase ia- se n o fu n d am en to p ri n c i-p al d a te or ia d e Au su b e l: q u an d o há c on h eci-m en to sign ificativo, os con ceitos são org a n i z a-d os em estru t u ras h ier ár q u i c a s, isto é, a-d e form a sub ord in ada a ou tros form ais gera i s. Pa ra Au -sub el et al. (1978), a ap ren d izagem sign ificativa se d á p ela diferen ciação p ro g re s s i va en tre con ceitos m ais esp ecíficos e con ceitos m ais abra n -ge n tes já exist en te s, for m a n d o p ro p o s i ç õ e s q u e n a d a m ais sã o q u e a e xp licit a çã o d a n a -t u reza d a relaçã o en -tr e e sses c on c ei-tos (p o r e x e m p l o, o e sm alt e é c o m p osto p o r m a té ri a i n o rgân ica con stitu ída de cristais e p or m atéri a o rgân ica); p osteri o rm e n t e, vários con ceitos es-p e cíficos es-p od em ten d er a se re o rgan izar e a se i n t e r l i g a r, form an d o n ovos con ceitos e p ro p o-s i ç õ e o-s, torn an d o a eo-stru t u ra d o d om ín io cad a vez m a is refin a d a. A estru t u r a co n ce itu al d e um con h eced or ou de um p rofission al q ue p as-sou p or diversos estágios de ap ren dizagem so-b re a te m ática d o esm alte em d iferen tes d isci-p lin a s d e seu cu rso d e form a ç ã o, e qu e n eces-sita d esses co n h e cim e n to s, d e ve r ia , a p r i n c í-p i o, re í-p resen tar essa estru t u ra h ierárqu ica, co-m o estabelecid a p ela teor ia.
Ap en as dez alun os (26%) ap re s e n t a ram u m a o rgan izaçã o q u e segu iu u m a estru t u ra h ierár-q u ica d o c on h ecim en to, se guin d o a lógica d o g e ral p ara o esp ecífico, segun do a teoria (Fi g ura 2). Em ger al, p red om in ou a rela çã o c on trá
-r ia, q u e vai d o esp ecífic o p a-ra o ge-ra l, ou seja , d os objetos e dos fatos con cretos aos con ceitos m ais gera i s, o corren d o em 17 (45%) d os casos ( Fi g u ra 3). Um gru po d e oito alun os (21%) a p re-sen tou u m a estru t u ra m ista e tr ês alu n os (8%) n ã o p u d eram ser c lassificad os, p or ca u sa d a d e s o rgan ização e d o p equ en o n ú m ero d e con -ceitos ap re s e n t a d o s.
Mu ito em b ora esses re su ltad os p ossam in -d ic ar ta m b ém -d ificu l-d a-d e s n a ela b ora ção -d o m ap a, a ten d ên cia a esse estilo de org a n i z a ç ã o p ode ser re ve l a d o ra do m odelo de con hecim e n to m ais co m u m en tre os estud a n te s d e Od o n -t ologia. Segun d o Pozo (1998), Au su b el e-t a l. (1978) co n sid era m qu e n ã o ap en a s a a p re n d i-zagem de con c eitos se dá d o geral p ara o m ais e s p e c í f i c o, “s eg u i n d o u m a v ia d escen d en t e se-m elh a n t e à d efi n id a p or Vigo t sk y ese-m rela çã o à a p ren d iz a gem d e con ceit os cien t íf icos” (Pozo,
1998:219), m as tam bém q u e, em b ora com p or-t an d o o s m esm o s con ce ior-to s, essa s e sor-tru or-t u ra s são in teir am en te d ifere n t e s. Pa ra Pozo, é exa-t am e n exa-t e e ssa c ara cexa-t er ísexa-tic a q u e d iferen c ia a a p ren d izagem con d u tivista / a ssoc ia c ion ista , q ue con sidera q ue o con h ecim en to se con soli-d a com o som atór io soli-d e u m a série soli-d e con ceitos i n f e ri o re s, d a ap ren d izagem con str utivista ou p or re e s t ru t u ra ç ã o, qu e p ressup õe u m a lógic a p r ó p ria qu e vai p ossib ilitan do, com seu re f i n a-m e n t o, a lcan çar cad a vez a-m ais estru t u ras coa-m as características fu n d am en tais e os elem en tos essen ciais de u m d eterm in ado d om ín io.
As idéias d e Vigotsky (1996) sob re a form açã o d e co n ce it os cien tífico s e d e p seu d ocon -ce ito s p a rec em fu n d am e n tais p ar a u m a m e-Fig ura 1
STRUCHINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICC IARDI, R. M. V. 6 2
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 15(Sup . 2):55-68, 1999
Fig ura 2
O rg anizaç ão do p e nsamento : d o g e ral p ara o e sp e c ífic o . O rg anizaç ão hierárq uica sig nific ativa d o s co nc e ito s mais ab rang e nte s para o s mais e spe c ífico s (Aluno no3 0 ) .
Fig ura 3
Cad. Saúde Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
lh o r c om p reen são d as e stru t u ra s c on c eit u a is a p resen tad as p elos alu n os. Pa r a Vigot sky (Pozo, 1998), os con ceitos ve rd a d e i ros são os cien -t í f i c o s, ad q u irid os p or m eio d e p rocessos in s-t r u cio n a is; o d e se n vo lvim e n s-t o d e c on ceis-t os espon tân eos ou p seudocon ceitos se d á de for-m a a s c e n d e n t e, do con creto p ara o abstra t o, ao p asso q u e os co n ceit os c ien tífico s d e se n vo l-vem -se d e form a descen d en te, n u m a p irâm id e de con ceitos, ou seja, p or cam in h os diam etra l-m en te op ostos.
“Ass i m , os con ceit os esp on tâ n eos sã o ad qu i-ridos e d efin id os a p a rtir do s objet os, p or su a re-f e r ê n c i a , en qu a n t o o s con cei t os cien t íre-f ico s sã o a dqu iridos sem p re p or rela çã o h ierárqu ica com o u t ros co n cei t o s, p or seu sen t i do. Ist o f a z com qu e n os con ceit os cien tíficos ch egu e a cap tar- s e a ‘e s s ê n c i a’ d o con cei t o, p o s s í v e l m ed ia n t e a a n á lise con scien t e d e su a s rela çõ es com ou t ro s c o n c e i t o s” (Pozo, 1998:203).
Os resu lt ad os ve r ific ad os n os m a p as con -ceitu ais d os alun os p od em ser d ecorren tes d e u m p roc esso ed u c at ivo qu e n ão estim u la e m u ito m en os co b ra a t om ad a d e c on sciên c ia d os fu n d am e n tos d a m atéria estu d ad a e, p or-t a n or-t o, d e su a b ase cien or-tífica. Isso p ode esor-tar re-lacion ado tan to à cultura e re p resen tação feita s o b re o p a p e l e fu n çã o so cial d esse p ro f i s s i o-n a l, com o às estratégias d e eo-n sio-n o-ap re o-n d i z a-ge m u tilizad a s n o p roc esso ed u c ac ion a l em Od o n t o l o g i a .
3 ) E rros de conceit uação
Os con ceitos esp on tân eos ou p seud ocon ceitos sã o n o rm alm en t e d ifere n tes d os con c eit os cien tíficos p or n atu reza e p re s s u p o s t o s, com o já foi observado an teri o rm e n t e. Por estarem li-gad os m ais ao s elem en tos con cre t o s, ou seja, às características dos objetos e m en os ao sen ti-do de suas re l a ç õ e s, as con cepções espon tân eas n ão in corp oram a con sciên cia reflexiva em rela-ção à organ izarela-ção h ierárqu ica dos con ceitos, o qu e im ped e um a re c o n s t ru ção con tín ua d o co-n h ecim eco-n to b asead o co-n a c om p reeco-n são d e seus fu n d am en to s essen cia is. Isso p o d e fa zer com que as con cep ções esp on tân eas m an ifestem -se e torn em se re l a t i vam en te estáveis com o con -cep ç ões err ôn eas, n este c aso p r óp r ias d e p es-soas leigas, cuja vivên cia n o cam p o d a Od o n t o-logia diferen cia-se d a vivê n cia do esp ecialista.
Nos m ap as con ceituais dos alun os de Od o n -tologia foram en con trados q u atro c asos (11%) em q u e o s a lu n o s c on c eitu a ram cár ie co m o um a lesão qu e acom ete o d en te, em vez de u m a d oen ça q u e cau sa lesões n os den tes (a exp re s-sã o “e st e su j eit o t em m u it a s cáries” é err ôn ea, já q ue cárie re f e re-se à d oen ça e n ão às lesões
ca u sad a s p o r ela ). Um gr u p o d e sete a lu n o s (18%) a tr ib u iu co r b ra n ca ao esm a lte (a id é ia d e den tes bran cos é m uito veicu lada n a m íd ia), qu an d o este é tra n s p a ren te (Fi g u ra 4).
Mu ito em bora n ão ten h am sid o re p re s e n t a-t i vas d a a-tu rm a, as con cep ções err ôn eas d eve m ser tra b alh ad a s n o gru p o, n a m ed id a em q u e e las p od em in t erf e r ir n a s d e cisõ es clín ic as e n as p rát ic as d o s fu tu r os p ro f i s s i o n a i s. Alé m d i s s o, essa qu estão é m ais gra ve ain d a q uan d o l e vam os em con ta qu e os con ceitos cen trais de u m a p esso a em u m d eter m in ad o d om ín io são o s veíc u los p or m e io d o s q u a is u m a ga m a d e fen ôm en os são com p re e n d i d o s.
4 ) Abrangência da t emát ica
Esta cate goria tem rela çã o co m o n íve l d e d e-s e n volvim en to e elab oração doe-s m ap ae-s con cei-tuais sobre a tem ática do esm alte. Ten do com o o b j e t i vo a con stru ção de u m a rede de con heci-m en to s b asead os n o con c eit o d e esheci-m alte, es-p e ra va- se qu e o alu n o com u m a visão cien tífi-ca sólida fosse tífi-cap az de relacion ar aspectos es-p ecífic os e aes-p rofu n d ar esta tem á tic a d e form a a b ra n g e n t e.
Dos 38 alun os qu e p art i c i p a ram d a ativida-d e, 21 (55%) ativida-d esen vo l ve ram seus m ap as extra-p olan do o foco d a tem ática d o esm alte, sen do, p o rt a n t o, m ais sup er ficiais e p ou co ab ra n g e n tes n o tem a p ro p r iam en te d ito; 16 (42%) con
-Fig ura 4
STRUCHINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICCIARDI, R. M. V. 6 4
Cad . Saúde Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
c e n t ra ram -se em con ceitos relacion ad os ao es-m alte e u es-m alun o (3%) fu giu totales-m en te ao te-m a. É in t ere ssan t e n otar q u e h á u te-m a re l a ç ã o e n t re a categoria organ ização d o con hecim en -to e a ab ran gên cia d a tem átic a: d os 21 a lu n os q u e se d esvia ram d a tem á tica d o esm alt e, 19 (90%) coin cid en t em en te n ão d esen vo l ve ra m o s m ap a s co n ce itu a is se gu in d o o m o d elo d e s u b o rdin ação de con ceitos (Fi g u ra 5).
Na co n ce p ç ão d e Au su b el et a l. (1978), o s con ceitos d e hiera rq uia e con exão cruzad a são elem en tos d in âm icos, e um d eter m in ado con -ceito ab ran gen te p ode ser esp ecífico em ou tro c o n t e x t o, e assim suc essiva m e n t e. Por isso, ao p r op or a c on stru ção d e u m m a p a c on c eitu al s o b re esm alte, esp era vase u m m aior ap ro f u n -d am en to em su as c a ra c t e r í s t i c a s, ele m e n tos, e s t ru t u ra, fisiolo gia e in t erc on e xõe s c om o u -t ros asp ec-tos d a com p osição do d en -te e de seu estad o físico.
Os resu ltad o s o b tid os n esta c ategor ia co r-ro b o ram a teoria de Vigotsky (Pozo, 1998), u m a vez qu e re velam qu e aqu eles qu e n ão foram ca-p a zes d e t rab alh a r c om o tem a esm alte c om o c a t e g o ria sup ra - o rd i n á ria p rova velm en te n ã o estão fam iliarizado s com os p rin cíp ios fu n d a-m en ta is d esse fen ô a-m en o e, p o rt a n t o, n ã o d têm con hecim en to cien tífico ap rofun dad o ( e l e-m en tos essen ciais do doe-m ín io) sobre o assun to.
5 ) R e p resentações sobre a prát ica p rofissional e influência do curr í c u l o
A n atu reza d esta ú ltim a categoria está m ais re-lacion ada a asp ectos sócio-cu ltu rais e a va l o re s d ados a d eterm in ad os asp ectos d a p rática p ro-fission al, q u e ter m in am p or in fluen ciar o cu rrículo e o con hecim en to dos alun os. Por exem -p l o, q u an d o u m co n ceito é tra b a l h a d o, ge ra l-m en te é co lo cad o el-m co n texto s con sid era d o s m ais re l e van tes p elos alu n os. Esses va l o res es-tão associados às re p resen tações que os alun os f a zem de suas atividades pro f i s s i o n a i s, as qu ais p rova velm en te m otiva ram - n os a b u scar a car-re i ra em q u estão, a os con c eito s e m od elos so-b re a p rática do den tista qu e p erm eiam a gra d e c u r r icu lar e ao m od elo p recon iza d o p elo s do -c e n t e s.
Segu n d o a a n álise d o p ro fessor esp ecialista, ap are c e ram algum as ten d ên cias m ais re l a -cion ad as à tem ática, e a va l o rização do con h e-cim e n to t éc n ico- cu ra t i vo fo i id en tifica d a em 19 alu n os (50%), qu e ten deram a relacion ar esm alte coesm técn icas re p a ra d o ras de le sões e ou -t ros aco m e-t im en -t os d en -tá rios (p r ó-t ese), seja n o sen tido de aliviar a dor d os p acien tes (an es-tesia , d o rm ê n cia, d o r ), seja , p ri n c i p a l m e n t e, n o sen tid o estético: so rri s o, b eleza, satisfa ção p essoal etc. (Fi g u ra 6). Note-se qu e, em algu n s
Fig ura 5
Cad . Saúd e Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
c a s o s, o s alu n os m en cio n ara m n ão ap en as os p rocedim en tos e técn icas, m as tam bém os in s-t rum en s-tos e m as-teriais d isp on íveis p ara a in s- ter-ven ção re p a ra d o ra (con su ltóri o, in stru m e n t a l , m etal, broca, resin a etc).
Nove alu n os (24%) en fatizaram os con heci-m en tos heci-m ais b ásicos, ou seja, h istológicos, eheci-m se us m a p as (e st ru t u ra, ca rac teríst icas e ele-m e n to s), in d ic an d o u ele-m a ele-m aior p re o c u p a ç ã o com con ceitos fu n d am en tais sob re o esm alte. Estes alu n os ten d eram a n ão relacion ar aspec-tos das ciên cias básicas, n em com a clín ica o p e-ra t ó r ia, n em c om a p re ve n ç ã o. Algu n s a lu n os (n = 5, 13%) re l a c i o n a ram con he cim en tos técn ic os c om asp ectos p re ve técn t i vo s, d em otécn stra técn -d o a ap lic aç ã o -d e co n c eit os à p rá tica -d a p re-ven ç ão d e d o en ça s e p r om oç ã o d a sa ú d e (Fi-g u ra 7). Trê s (8%) se(Fi-gu ira m u m a ló (Fi-gic a d e es-t ru es-t u ração qu e, p ares-tin do do con ceies-tos b ásicos, d i recion ou-se para a visão técn ica. Qu an to aos d ois alu n os re s t a n t e s, u m en fatizou apen as asp ecto s re l a t i vos à asp re ve n ç ão e o utr o fu giu to -ta lm en te à tem á tic a , n ão t en d o sid o p ossíve l a n a l i s á - l o.
D i s c u s s ã o
Com b a se n a an álise d a exp eriê n c ia e d o s d e-p oim en tos d o ese-p ecialista/ e-professor n o qu e se re f e re a esse m étod o de avaliaçã o d o con h eci-m en to dos alun os, p ode-se con clu ir q ue se tta d e u m m o d elo m u ito m ais c o m p lexo e t ra-b alh oso q ue os m étod os tra d i c i o n a i s, p orém é b em m ais efica z p ara a an á lise ap ro f u n d a d a s o b re o con h ecim en to re velad o p elo alu n o, in -c l u s i ve p ar a um d ia gn ó sti-c o d a s -con -cep ç ões er rôn ea s (m i sc o n c e p t i o n s) e d e seu s d et er m
i-n ai-n tes d o p oi-n to de vista da coi-n form ação d a e s-t ru s-t u ra c ogn is-tiva. Co n f o rm e co n ss-tas-to u o p ro-f e s s o r, tais m étod os n ã o são com p atíveis com m od elos de en sin o corren tes e n em com a cu l-t u ra p ed agógica da un ive r s i d a d e, com parl-t i l h a-da p elos p róp rios alun os, que p riorizam a t ra n s-m issã o e s-m e s-m o r izaç ão d e in fo rs-m açõ es es-m suas atividades.
O p rofessor ap on tou q ue os alun os tive ra m d ificu ld a d es em execu tar o m a p a con ceitu al, m u it o e m b o ra tivessem sid o re c e p t i vo s p a ra p a rt icip ar d e su a e lab o raç ão e tivessem , d e u m a m an e ira ger al, evid en c iad o u m a com -p reen são geral de seu s elem en tos e -p ri n c í -p i o s. Ser u m a p ri m e i ra exp eriên cia d os alu n os com o u so de m ap as con ceitu ais e estar distan ciado das práticas ‘o f i c i a i s’ de avaliação p od em con stit uir algu m a s d as c au sas a ssociad a s aos p ro b lem as en con tr ados e d as caracter ística s con ceitu ais ap resen tad as p elos alun os. No en tan
-t o, a form a con sis-ten -te com qu e esses p ro b l e-m as ocorre rae-m n os p ossib ilita tecer con siderações sob re a estru t u ra d e co n h ec im en to re ve -lada pelos alun os sob re a tem ática do esm alte e as categorias con struídas ten d o com o b ase su a a n á l i s e, b em c om o refletir sobre su as im p lica-ções p ara o p rocesso de form ação do d en tista. Pozo (1996) an alisou três ab ord agen s re l a-cion adas à tradição con strutivista d a edu cação c ie n tífic a : a teo r ia p ia get ia n a d as op era ç õ e s f o rm a i s, o en foq u e dos con hecim en tos p révios ou c on c ep çõ es alt ern a t i va s e o en foq u e d as t e o rias im p lícitas. O en foq ue d os con h ecim en -tos p révios ou con cep ções altern a t i vas n a for-m aç ão d e con ceitos cien tíficos oferece ufor-m re-f e re n c ia l im p o rt a n t e p a ra c o m p re e n d e rm o s o s resu ltad os ob tid os n o p resen te estu d o. Se-g u n d o Pozo, esse en foq u e é ca ra c t e rizad o p or “c o n st r u ções p esso ais, re l a t i v am en t e in coere n -t e s , resis-ten -tes à m u d an ça, d e cará-t er im p líci-t o, c o m p a rt ilh ad as em cu lt u ras e con t ex t o s. . .”
(Pozo, 1996:119). O a u tor cara c t e riza essas c on -cep ções em três tip os, levem en te d ifere n c i a d o s d e acordo com su a ori g e m :
As con cep ç ões esp on tâ n eas são d e ori g e m s e n s o rial, n asce n d o d a rela çã o d o in d ivíd u o com seu m u n d o n a tu ral; são teoria s con stru í-d as p elo in í-d ivíí-d u o n o in terior í-d e su as ativií-d a-d es cotia-dian as.
Fig ura 6
STRUCHINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICC IARDI, R. M. V. 6 6
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 15(Sup . 2):55-68, 1999
As con cep ções sociais são d e origem cu ltu -ral, ou seja, n ascem do estu dan te e d e seu m eio soc ia l e c on stit u e m va l o re s, c ren ças e re p re-sen taç õe s q u e in flu en cia m su a c om p re e n s ã o d o m u n do, su a ap ren d izagem e seus in tere s s e s.
As c on c ep ções escolares sã o aq u ela s q u e n ascem das in ter relações e m ediações n o âm -b ito d o esp aço e sc olar, p or m eio d e re l a ç õ e s e n t r e m em b r os d est e sistem a e d os m a teri a i s d e en sin o, ou am p lificad ores cu ltu rais (Mo rt i-m er &ai-mp; Ca rva l h o, 1996), coi-m o livro s, ap ostilas, v í d e o s, s o f tw are se d u c a t i vos etc.
Do p on to d e vista d e su a estru t u ra co n cei-tual, a categoria Organ ização d o Pen sam en to é c a ra c t e rizad a p or u m gru p o sign ifica tivo d e a lu n os q u e re p re sen t ou se u m a p a c on c eitu al colocan do o esm alte com o categoria esp ecífica e d esen vo l ven d o o con teú do do m ap a do n íve l esp ecífico p ara o m ais geral, ou seja, en fatizan -d o m uito m ais os elem en tos e objetos -d o qu e a i n t e r- relação en tre eles. Da m esm a form a, a ct e g o r ia Ab ran gên c ia d a Tem á ctic a, in ct ri n s e c a-m en te rela cion a d a à p ri a-m e i ra, a p o n to u p a r a u m con h ecim en to re s t r ito sob re esm a lte, q u e l e vou os alun os, de u m m odo geral, a serem su-p e rfic ia is n o d e sen vo lvim e n to c on c eit ua l so-b re esm alte e a extra p o l a rem o tem a. Estas ca-racterísticas in d icam um a form ação debilitad a d os co n c eitos cien tíficos d os alu n os, segu n d o as teorias d e Ausu bel et al. (1978) e de Vi g o t s k y (1996).
Qu an to aos Er ros d e Co n c e i t u a ç ã o, ap esar de terem ocorrid o em p oucos casos, d evem ser l e vad os em con sid e ra ç ã o, n a m ed id a em q u e in d icam qu e m u itas das teorias im p lícitas (Po-zo, 1996) d os alu n os n ão fora m ca p azes d e so-f re r t ra n s so-f o rm a ções a p ar tir d as exp eri ê n c i a s d e en sin o viven ciad as e estas, m u ito p rova ve l-m e n t e, n ão leval-m el-m con ta os con h ecil-m en tos p révios d o s a lu n o s, n em co n trib u em p ara a f o rm ação d e con ceitos cien tíficos.
A o ut ra cat ego ria , Re p resen taçõ es sob re a Prática Pr ofission al e In flu ên cia d o Cu r r í c u l o, est á rela cio n a d a c o m va l o res e p rin cíp io s em relação à p rática p rofission al, orien tan d o a for-m ação de atitud es e for-m odelos de p ostu ra s, b efor-m com o o foco das atividades acad êm icas n o que diz resp eito à abo rd agem cu rricu lar e às ativi-dades d e en sin o-ap ren d izagem . É m u ito d ifícil defin ir a origem d esse s va l o res e é prov á vel q ue g ran d e p a r te se ja co n st r uíd a p ela so cied ad e, p or m eio d e suas in terações sócio-econ ôm icas e culturais em geral, e esp ecificam en te p ela com un id ad e cien tífica n o âcom b ito d a u n ive r s i d a d e. Prova ve l m e n t e, o s estu d an t es q u e esco -lh em exe rc er a p rofissã o d e d en tista têm su as p r ó p rias con cep ções sob re a p rática odon toló-gica, as q uais n ascem d e su as experiên cias p essoais (p o r exem p lo, co m o p ac ie n t e) e d a p ró -p ria cu ltu ra so c ial. Essas c on c e-p çõ es d eve m , i n c l u s i ve, in flu en ciar a p róp ria p referên cia p ro-f i s s i o n a l .
Fig ura 7
Cad. Saúde Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
De q u a lq u er fo r m a , o im p orta n te é con si-d e rar q u e tosi-d a s as c ate gor ias si-d e ri vasi-d as si-d est e estu do estão in tr in secam en te re l a c i o n a d a s, in -flu en cian d o-se m u tu am en te, e qu e a com un i-dad e acadêm ica n ecessita rep en sar o p ro c e s s o d e for m a ção e a in ser ção d o p ro fissio n a l n o am b ien te d e trabalh o n a área d a saú d e, p ossi-bilitan do a in ter n alização e a ap ren dizagem d e c on c eit os d e for m a in tegr ad a . Assim , co n tri-b u irá p ara a tra n s f o rm aç ão d e su as p ráticas e, p o rt a n t o, p ara u m m elhor aten d im en to d a p op ulação n a área de saú de oral. Pa ra isso, é fu n d am en tal n ão ap en as con h ecer essa s c on cep -ções pro f u n d a m e n t e, m as levar em con ta os re-su ltados aq u i d isc u tid os n o p lan ejam en to d as ativid ad es cur ri c u l a re s.
C o n c l u s ã o
O ob jetivo in icia l d este traba lh o foi ap re e n d e r a estr u t u ra de con h ecim en to d e alun os d e gra-duação em Odon tologia sob re a tem ática do es-m a l t e. Esta tees-m ática é d e fun d aes-m en tal ies-m p or-tân cia p ara a com p reen são da saúde oral, n a m e-dida em q ue oferece conceitos cien tíficos im p or-tantes e fun dam en tais para o exercício da p ráti-ca clín iráti-ca e p re ve n t i va dos futuros p ro f i s s i o n a i s. Bo t e r o (1990) a p o n to u t rês asp ec t os q u e c a ra c t e rizam a for m a çã o d o p ro fission a l d e
Od on tologia: a) n ão existe um eq uilíbr io en tre a s ab ord a g e n s, p re d o m in an d o as d iscip lin as t é c n i c o - re s t a u ra d o ras sobre as d em ais; b ) e x i s-t e m u is-t o p o u ca c o rre laç ão en s-tre as c iên c ias b á sic a s e as c lín ic a s e c ) n ã o d e sp e r ta n o es-tu d an te o in teresse p elas d iscip lin as hu m an i-t á r i a s. A an álise q u alii-ta i-t iva re velou va l o res e co n c ep ç ões d o s est u d an te s so b re o con ce it o d a p rática odon tológica, in flu en ciados p or as-p ectos sociais e as-p elas características cu rri c u l ares: o p ap el d o d en tista é visto c om o em in en -te m en -te cu ra t i vo e cor re t i vo (in -ter ve n c i o n i s-t a) d e p ro b lem as q u e a fligem o p a c ie n s-te, co-m o d o r d e d en t e e asp e cto s est ét ico s (p ró t e-se ). Em p o u co s c asos o s alu n o s d em o n str a-ram p o st u ra s e d u cat ivas e/ o u p re ve n t i vas o u a co m p re en sã o am p la d o s fe n ô m e n o s d et erm in an tes d a for erm a ç ão e d o s p r ob leerm as d en -t á ri o s.
Isso é u m fo r te in d icativo d e q u e a form a-çã o d o p rofission a l em Od on to lo gia d e ve ser rep en sad a. Em outras p alavra s, d eve afastar- s e d o m o d elo d e p ro fissio n al q u e en ten d e o se u p acien te com o u m a u n idad e d en tária, p assan d o a com p reen d êlo com o u m ser h u m an o in -t e g r al. Pa ra isso, é n ec essár io rep en sar o p r o-cesso en sin o -ap ren d iza ge m valen d o -se d a s con cep ções d os alun os, p ara q ue estes p ossam f a zer as n e cessár ias relações e in tern a l i z á - l a s, c o n s t ruin do n ovos con ce itos.
A g r a d e c i m e n t o s
Ao De p a rt am e n t o d e Od o n t o p e d i a t ria e Or t o d o n t i a d a Faculd ad e d e Od o nt olo gia d a Un i versid ad e Fe d era l d o Rio d e Ja n e i ro, p or p er m itir qu e essa exp eri ê n -cia fosse re aliza d a com o s alu n o s d a d iscip lin a d e Od o n t o p e d i a t ria I. Ao CNPq (Con se lh o Nacio n al d e De s e n volvim en to Científico e Tecn ológico) e à FAPE R J ( Fun d açã o d e Am p aro à Pesquisa do Estad o do Rio d e Ja n e i ro), p elo ap oio à execu ção do pro j e t o.
R e f e r ê n c i a s
ABEM (Associa ção Bra s i l e i ra d e Ed u ca çã o Mé d ica ), 1983. In t e g ração d o ce n te- assisten cial.Série Do-c u m e n t o s, 6:88.
AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D. & HANESIAN, H., 1 9 7 8 .
Ed u ca tion a l Ps y c h o l o gy : A Cogn i ti v e Vi ew.Ne w
Yo rk: Holt, Rineha rt, & Wi n s t o n .
BEDNAR, A. K.; CU NNINGHAM, D.; DUFFY, T. M. & PE R RY, J. D. , 1992. T h e o ry in to p r act ice: How d o we lin k? In :Con stru ctivi sm an d th e Te c h n o l o gy of In s t r u c t i o n : A Con ve r s a t i o n( T. M. Du ffy & D. H .
Jon a sse n , e d s.), p p. 17-34, Hillsd ale : Lawre n c e Er l b a u m .
B OT E RO, A. A., 1990. La En señ an z a de la Od o n t o l o g í a.
Med ellín : Ed i t o rial Un i versida d d e An tioqu ia. CUNNINGH AM, D. J.; DU FFY, T. M. & KNUTH, R. A . ,
1993. Th e textb ook o f th e fu t ure. In :Hy p e rt ex t : A Psycologica l Pe r s p e c t i v e (C. McKnight, A. Dillon &
STRUC HINER, M.; VIEIRA, A. R. & RICC IARDI, R. M. V. 6 8
Cad. Saúde Pública, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):55-68, 1999
D U F F Y, T. M. & JO NASSEN, D. H ., 1993. Co n s t ru ctivism : Ne w im p licat io n s fo r in st ru ctio n al t e ch -n o l o g y. I-n : Con stru ct iv ism a n d th e Te c h n o l o gy of In s t r u c t i o n : A Con ve r s a t i o n( T. M. Du ffy & D. H . Jon assen , e d s.), p p. 116, Hillsd ale : Lawren ce Er -b a u m .
J ATENE, A. D., 1987. Com a p a lavra o Sr. Mi n i s t ro. Bo-letim d a Associação Bra s i l e i ra d e Edu cação Méd i-c a ,1 9 : 4 .
JONASSEN, D. H., 1996. Com p u t ers in th e Classro o m : Min d tools for Critical Th in k in g.En glewood Cliffs: Pre n t i c e - Hall In c.
JONASSEN, D. H.; BEISSNER, K. & YACCI, M., 1 9 9 3 a .
St r u c t u ral Kn ow l e d g e : Tech n i qu es for Re p re s e n t -i n g ,C o n ve y -i n g , an d Acq u -ir-in g St r u c t u ra l Kn ow l-e d g l-e. Hillsd ale: Lawre nce Er l b a u m .
JONASSEN, D. H . & GRABOW S K Y, B. I., 1 9 9 3 b. Ha n d book of In d ivi d u al Di f f e re n c e s , Lea rn i n g an d In -s t r u c t i o n .Hillsd ale: Lawren ce Er l b a u m .
KOMMERS, P. A. M.; GRABINGER, S. & DUNLA P, J. C., 1996. Hyp erm ed ia Learn in g En v i ro n m e n t s : In -st ru ct ion al Design an d In t e g ra t i o n . Ma w a h : L a w ren ce Er l b a u m .
MOREIRA, M. M. & BUCH WEITZ, B. , 1 9 9 3. Nov as es-t ra es-tégia s d e en sin o e ap re n d i z a g e m. Lisb oa : Pl á -tan o Ed ições T é c n i c a s.
M O RTIMER, E. F. & CARVA L H O, A. M. P. , 1996. Re f ere n cia is teór icos p ara an á lise d o p r oce sso d e en -sin o d e Ciê ncias. Ca dern os d e Pe s q u i s a ,9 6 : 5 - 1 4 . N OVAK, J. D. & GOWIN, D., 1984. Lea rn in g How to
L e a r n. Ca m b rid ge: Ca m b rid ge Un i ver sity Pre s s. N OVAK, J. D. , 1998. L e a r n i n g , C re a t i n g , an d Us i n g
Kn ow l e d g e. Mawa h : Lawrence Er lb aum . S T RU CH INER, M. & VIEIRA, A. R., 1998. Es m a l t e : A
Po rta d e En t rad a d o De n t e. So f t w a re e d u cat ivo. Rio d e Ja n e i ro: Labora t ó rio d e Tecn ologias Co g n i-t i va s, Nú cleo d e Tecn olo gia Ed u cacio n al p ara a Sa ú d e, Un i versid a de Fe d e ral d o Rio d e Ja n e i ro. P O ZO, J. I., 1996. La p sicolo gía co gn itiva y la ed u
-ca c ió n c ien t ífi-ca . In v e st iga çõe s e m En sin o d e Ci ê n c i a s, 1:110-131.
P O ZO, J. I., 1998. Teorias Cogn itivas d a Ap re n d i z a g e m. Po rto Alegre: Artes Méd icas.
S I LVA, G. R., 1987. Um a re t ro s p e c t i va d a e d u ca çã o m éd ica n o Brasil. Rev ista Bra s i l e i ra d e Ed u c a ç ã o M é d i c a, 11:73-140.
V I G OTS K Y, L. S., 1996. Form ação Social d a M e n t e .S ã o Pau lo: Ma rtin s Fo n t e s.
WILSON, B. G., 1996. Wh a t is co n st ru ct ivist lea rn i n g e n v i ro n m en t? In : Con st ru ctiv i st Lea rn in g En v i -ro n m e n t s : Ca se Stu d i es in In stru ct ion a l De s i g n .