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Universidade, contexto ansiogênico? Avaliação de traço e estado de ansiedade em estudantes do ciclo básico.

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Academic year: 2017

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1 Grupo de Estudos: Psicologia e Saúde (GEPS), Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus

Universitário, Lagoa Nova. 59078-970 Natal RN. artemisiadesouza@ yahoo.com.br

Universidade, contexto ansiogênico? Avaliação de traço

e estado de ansiedade em estudantes do ciclo básico

Evaluation of trait and state anxiety in first year students

Resumo O presente artigo objetiva avaliar a ansi-edade-traço e a ansiedade-estado de estudantes uni-versitários do ciclo básico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, verificando diferenças en-tre três grandes áreas de conhecimento, biomédica, hum anística e tecnológica, tendo em vista que a entrada na universidade pode se configurar como uma situação ameaçadora que parece sofrer influên-cia das diferentes características de cada uma dessas áreas. Participaram do estudo 158 estudantes, sendo 71 mulheres e 87 homens, com idade média de 20,04 ± 3,37 anos, respondendo uma ficha de identifica-ção e o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDA-TE). Resultados demonstram que as médias de ansie-dade-traço e ansiedade-estado desses estudantes en-contram-se dentro do esperado para essa população, embora a área biomédica seja percebida como a mais ansiogênica, uma vez que apresenta uma densa gra-de curricular com intensas gra-demandas acadêmicas, o que parece elevar os escores dos estudantes dessa área, em especial os dos homens.

Palavras-chave traço, Ansiedade-estado, Estudantes universitários, Ciclo básico, Psicologia da saúde

Abstract The purpose of this study is to evaluate trait anxiety and state anxiety in first year students from the Federal University of Rio Grande do Norte, verifying differences between three great areas of knowledge - Biomedical, Humanistic and Techno-logical. The entrance to a University can be per-ceived as a threatening situation that seems to suffer influence from the different characteristics of each of these areas. 158 students, 71 females and 87 males

aged 20.04 ± 3,37 years, answered an Identification

Form and the State and Trait of Anxiety Inventory (STAI). The means of trait anxiety and state anxi-ety observed in these students were as expected for this population although the Biomedical area is per-ceived as the m ost anxiogenic for having a dense curriculum with intense academic demands, what seems to increase the scores of the students of this area, especially of the men.

Key words Trait anxiety, State anxiety, First year university students, Health psychology

Camomila Lira Ferreira 1

Katie Moraes de Almondes 1

Liliane Pereira Braga 1

Ádala Nayana de Sousa Mata 1

Caroline Araújo Lemos 1

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Introdução

A ansiedade é considerada um sinal de alerta, de-terminada pela presença de um conflito interno, cuja função é avisar sobre um perigo iminente para que se tome medidas para lidar com a ameaça. É certo que todas as pessoas já vivenciaram ansieda-de, seja como resposta normal e adaptativa aos estímulos, ou como uma sensação desajustadora e patológica1,2.

A ansiedade tem aumentado expressivamente na população humana no último século, sobretu-do devisobretu-do às profundas transformações ocorridas no âmbito econômico, social e cultural. Essas mu-danças acabaram por exigir que a população se adaptasse a um novo ritmo de vida, tornando o século XX conhecido como a era da ansiedade3. Desde então, esta sensação tem sido investigada e relacionada diretamente à situação vivenciada pe-los indivíduos em seu cotidiano e às exigências de-correntes dela4-6.

Tais investigações apresentam-se de extrema im-portância e relevância nos meios científicos e assis-tenciais, na medida em que a ansiedade está vincula-da a sintomas como taquicardia, tontura, dor de cabeça, dores musculares, formigamento, suor, além de insônia, tensão, irritabilidade e angústia. A pre-sença e a intensidade desses sinais podem trazer con-sequências prejudiciais para as condições de vida e de saúde da população em geral, uma vez que níveis elevados de ansiedade podem provocar percepções negativas quanto às habilidades motoras e intelectu-ais do indivíduo. Isso, por sua vez, interfere na aten-ção seletiva e na codificaaten-ção de informações na me-mória, bloqueando a compreensão e o raciocínio7.

Estudantes universitários são um exemplo de população em que a ansiedade vem sendo estuda-da e relacionaestuda-da à situação vivenciaestuda-da. Silver8 de-monstra que, ao ingressarem na faculdade, os es-tudantes são submetidos a uma grande carga de estresse, devido a longas horas de estudo e cobran-ças pessoais de professores e familiares. Além dis-so, as transformações maturacionais (fisiológicas, neurológicas e psicológicas), decorrentes da transi-ção entre a fase da adolescente e a fase de adulto, levam os estudantes a vivenciarem um período de crise, por exigir a adaptação a um novo papel so-cial, o de adulto jovem9,10.

Assim, percebe-se a influência de duas princi-pais circunstâncias no estado emocional dos estu-dantes: a entrada na universidade (situação consi-derada ansiogênica) e a passagem de uma fase de desenvolvimento para outra (situação considerada crise normativa). Essas circunstâncias podem ser associadas à ansiedade-estado e à ansiedade-traço.

A ansiedade-estado está ligada a um momento ou situação particular, como na entrada a universi-dade pelos estudantes, causando um estado emocio-nal transitório. Já a ansiedade-traço está relacio-nada a características individuais e disposicionais, estabelecendo diferenças entre os indivíduos quan-to à forma de encarar evenquan-tos diversos, ou seja, cada indivíduo traz consigo uma disposição maior ou menor de encarar as situações como ansiogêni-cas, estando relacionada, diretamente, à personali-dade de cada um.

Na situação de crise, pela transição de um perí-odo de desenvolvimento para outro, no momento de traçar estratégias que possibilitem a superação desse período de crise, alguns indivíduos podem experienciar mais ansiedade do que outros de acor-do com sua tendência para encarar situações como ansiogênicas2,11. Nos casos de elevação de ansieda-de a níveis patológicos, esses indivíduos poansieda-dem contar com o auxílio dos profissionais da saúde mental (psicólogos e psiquiatras) nas redes de aten-ção básica à saúde, vinculadas ao Sistema Único de Saúde, a fim de tratar tal elevação e de prevenir possíveis transtornos depressivos e outras doen-ças físicas associadas.

Alguns dados de literatura mostram análises da relação entre traço e estado de ansiedade e a situação vivenciada pelos estudantes universitários. Uma pesquisa com estudantes do curso de Medici-n a da UMedici-n iversidade Federal do Rio GraMedici-n de do Norte (UFRN), por exemplo, avaliou o estado de ansiedade e o traço de ansiedade, em dois momen-tos do curso: quando assistiam aulas e cumpriam as demandas acadêmicas, e quando, além de assis-tirem aulas, enfrentavam plantões médicos. Resul-tados mostraram que o estado de ansiedade teve aumento estatisticamente significante no decorrer dos anos. Além disso, a ansiedade aumentou tanto para quem apresentava personalidade ansiosa (tra-ço de ansiedade elevado) quanto para quem não apresentava essa característica12.

Em uma outra investigação, foi avaliada a ansie-dade-traço e a ansiedade-estado dos estudantes de Psicologia da UFRN, em três momentos do curso: o primeiro período, momento de ingresso no cur-so; o oitavo período, momento de escolha da área de atuação profissional; e o nono período, momento de realização dos estágios curriculares. Observou-se que os estudantes do primeiro ano apreObservou-senta- apresenta-ram escores acima da média esperada para estu-dantes universitários do ciclo básico, mostrando-se muito ansiosos, tanto com relação à situação momentânea, como às características disposicio-nais da população estudada13.

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gênicos podem interferir negativamente sobre al-guns aspectos cognitivos, como o processo de apren-dizagem, a redução de atenção e da concentração, diminuindo, assim, a aquisição de habilidades14.

Assim, o objetivo da presente pesquisa foi ava-liar a ansiedade-traço e ansiedade-estado dos es-tudantes do ciclo básico em vários cursos de gra-duação das três grandes áreas de conhecimento (humanística, tecnológica e biomédica) da Univer-sidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com diferentes características, avaliando se existi-am diferenças entre os escores de ansiedade dessas áreas. Isto se faz importante em virtude da vivên-cia da entrada na universidade pelos estudantes, que envolve circunstâncias geradoras de tensão, tais como: responsabilidades que serão assumidas exclusivamente por eles; demandas acadêmicas in-tensas; maiores exigências sobre seu desempenho acadêmico, proveniente não só deles, mas de seus colegas de sala, de seus professores e familiares.

Métodos

Sujeitos

Participaram do estudo 158 estudantes, com idade média de 20,04 ± 3,37 – o que os classifica como adultos jovens – cursando o primeiro perío-do de dezessete cursos das três áreas de conheci-mento da UFRN: humanística, biomédica e tecno-lógica. Destes estudantes, 53 eram da área huma-nística (35 mulheres e 18 homens), com média de idade de 19,72 ± 1,73 anos, e pertencentes aos se-guintes cursos: Administração, Ciências Econômi-cas, Turismo, Direito, Pedagogia e de Serviço Soci-al. Dos alunos de biomédica, houve a participação de 47 sujeitos (25 mulheres e 22 homens), com média de idade de 21,04 ± 5,18 anos. Estes estu-dantes pertenciam aos seguintes cursos: Ciências Biológicas, Enfermagem e Obstetrícia, Farmácia, Medicina e Odontologia. Na área tecnológica, fo-ram 58 estudantes (11 mulheres e 47 homens), com média de idade de 19,38 ± 1,68 anos, cursando En-genharia Civil, EnEn-genharia Elétrica, EnEn-genharia Química, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Mecânica ou Engenharia da Computação. Todos os estudantes foram voluntários.

Ao separar a amostra por sexo, as mulheres da área humanística apresentaram média de idade de 20,6 ± 3,32 anos e os homens desta área apresenta-ram média de idade de 21,89 ± 7,68 anos. Na área biomédica, as mulheres apresentaram média de idade de 19,84 ± 1,82 e os homens apresentaram média de idade de 19,59 ± 65. Por fim, as mulheres

da área tecnológica apresentaram média de idade de 19,55 ± 1,44 e os homens dessa área apresenta-ram média de idade de 19,34 ± 1,75 anos.

Protocolos

Utilizou-se um termo de consentimento livre e esclarecido, contendo algumas informações a res-peito do estudo realizado, tais como seu objetivo, sua natureza, benefícios, riscos e desconforto de-sencadeados pela participação nas atividades pro-postas, o grau de envolvimento dos participantes na investigação e seu caráter de confidencialidade. Para conseguir dados sobre os estudantes, fez-se uso de uma ficha de identificação, a ser preenchida por eles, que continha questionamentos sobre da-dos pessoais, seus horários de aula e horários das atividades extracurriculares. O Inventário de Ansi-edade Traço-Estado (IDATE) também foi aplica-do e consiste em um questionário de auto-avalia-ção que objetiva medir o estado de ansiedade (ní-veis reais de intensidade de ansiedade) e traço de ansiedade (tendência a reagir à pressão psicológica com diferentes graus de intensidade). Esse inven-tário possui quarenta afirmações, sendo vinte para a escala de estado de ansiedade e vinte para a de traço de ansiedade.

Procedimentos

Coleta de dados

Após aprovação da pesquisa pelo comitê de éti-ca em pesquisas da UFRN, estabeleceu-se um con-tato prévio com a coordenação de cada curso, a fim de explicar sobre a natureza da pesquisa e solicitar a autorização para realizar a aplicação dos instru-mentos nas salas de aula. Em cada um dos cursos, foi solicitada a participação voluntária de dez alu-nos. A estes alunos foram entregues os protocolos da investigação acima citados, havendo a leitura inicial do termo de consentimento livre e esclareci-do, seguida pelo preenchimento da ficha de identi-ficação e, por último, foi respondido o IDATE.

Análise de dados

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(3 ou 4) indique uma alta ansiedade; e os pesos são invertidos (4,3,2,1) nos itens em que uma alta ava-liação indique uma baixa ansiedade. Caso o indiví-duo tivesse omitido um ou dois itens na escala de ansiedade-traço ou na de ansiedade-estado, sua avaliação proporcional era obtida com a determi-nação do valor m édio dos itens respondidos, a multiplicação desse valor por vinte e, em seguida, seu arredondamento para o número mais alto se-guinte. A amplitude de escores possíveis para cada uma das subescalas varia de um mínimo de vinte a um máximo de oitenta.

Assim, o IDATE estabelece como média de an-siedade-traço para alunos do ciclo básico o valor de 40,16 ± 9,70, e como média de ansiedade-estado o valor de 40,04 ± 10,13. O IDATE também fornece o valor médio de traço e de ansiedade-estado separados por sexo. Para estudantes do ci-clo básico do sexo feminino, a média de ansieda-de-traço equivale a 41,67 ± 10,14 e para o sexo masculino essa média corresponde a 38,64 ± 9,25. Quanto à ansiedade-estado, o valor médio estabe-lecido para estudantes do ciclo básico do sexo fe-minino é de 41,09 ± 10,81 e para o sexo masculino é de 38,99 ± 9,45.

Em seguida, os escores de ansiedade de cada área foram submetidos a uma análise estatística através do teste t de Student para amostras inde-pendentes, que permite verificar se existem dife-renças estatisticamente significantes entre os esco-res médios gerais de traço e estado de ansiedade das três áreas de conhecimento da UFRN, e entre os escores médios separados por sexo de cada área. As correlações que foram consideradas estatistica-mente significantes possuíam um p<0,05.

Resultados

Os resultados encontrados referem-se aos escores médios de ansiedade-traço e ansiedade-estado dos estudantes do ciclo básico das áreas humanística, biomédica e tecnológica da UFRN.

Ao avaliar os resultados do IDATE dos 53 su-jeitos da área humanística, observou-se que estes alunos obtiveram um escore médio de traço de ansiedade de 41,06 ± 13,43, que se encontra dentro da média de ansiedade-traço referente a estudan-tes do ciclo básico, a qual é 40,16 ± 9,70. Quanto aos escores médios de ansiedade-estado, essa amos-tra obteve a média de 39,98 ± 13,94, dado este que está dentro da média esperada para estudantes do ciclo básico, a qual é 40,04 ± 10,13 (Figura 1).

Ao analisar por sexo os dados obtidos, depa-ra-se com escores médios de traço e estado de

an-siedade para as estudantes do sexo feminino de 43,77 ± 12,90 e 42,86 ± 14,15 respectivamente, e para os estudantes do sexo masculino a média de ansiedade-traço foi de 35,78 ± 13,20 e de ansieda-de-estado foi 34,39 ± 12,01 (Figura 2). Esses resul-tados demonstram que tanto as mulheres quanto os homens da área humanística possuem escores médios de traço e estado de ansiedade equivalentes aos escores esperados no ciclo básico universitário para as mulheres (ansiedade-traço, 41,67 ± 10,14 e ansiedade-estado, 41,09 ± 10,81) e para os homens (ansiedade-traço, 38,64 ± 9,25 e ansiedade-estado, 38,99 ± 9,45).

Na área biomédica, observou-se que os 47 alu-nos obtiveram um escore médio de traço de ansie-dade de 42,49 ± 14,95, que se enquadra na média de traço de ansiedade referente a estudantes do ciclo básico (40,16 ± 9,70). Quanto aos escores de ansiedade-estado, a am ostra obteve a m édia de 43,32 ± 12,52, dado este que também se encontra dentro do esperado para os estudantes do ciclo básico (40,04 ± 10,13) (Figura 1).

Separados por sexo, tem-se escores médios de 42,08 ± 15,82 para traço de ansiedade e 42,48 ± 11,70 para estado de ansiedade nas estudantes da área biomédica. Para os estudantes do sexo mas-culino dessa área, as médias de traço e estado de ansiedade foram 42,95 ± 14,25 e 44,27 ± 13,61 res-pectivamente (Figura 2). Diante disso, percebe-se que os escores encontrados estão dentro da média esperada, tanto para mulheres quanto para ho-mens do ciclo básico universitário.

Ao analisar os dados de ansiedade na área tec-nológica, observou-se que os 58 alunos dessa área obtiveram um escore médio de traço de ansiedade de 36,50 ± 11,47, que está dentro da média de traço de ansiedade referente a estudantes do ciclo básico universitário. Quanto aos escores de ansiedade-estado, a amostra obteve a média de 39,40 ± 13,49, dado este que também se encontra dentro da mé-dia esperada para estudantes do ciclo básico (Fi-gura 1).

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Figura 1. Escores médios de traço e estado de ansiedade em estudantes do ciclo básico da UFRN.

Fonte: Dados de pesquisa realizada em outubro de 2004, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.

41,06 39,98 42,49 43,32

36,5 39,4 Tr aço

Estado

H um an ística Biom édica Tecn ológica

Figura 2. Escores médios de traço e estado de

ansiedade separados por área de conhecimento e por sexo.

Fonte: Dados de pesquisa realizada em outubro de 2004, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.

43,77 42,86

H um an ística 35,78

34,39

42,08 42,4842,95 44,27

39,91 39,91

35,7 39,3 Tr aço Estado

Biom édica Tecn ológica

Fem Mas Fem Mas Fem Mas

Ao analisar a ficha de identificação, observou-se que as áreas humanística e tecnológica apreobservou-sen- apresen-tam carga-horária reduzida, pois assistem aulas em apenas um turno durante o dia. Nessas áreas, também se encontrou uma significativa quantida-de quantida-de alunos que trabalham ou quantida-desempenham

al-gum outro tipo de atividade diária, como cursos de idiom as ou até m esm o aulas em um a outra faculdade.

Os estudantes da área biomédica apresentaram as demandas acadêmicas mais intensas, provenien-tes das aulas diárias que os alunos assistem em dois turnos, das monitorias e das aulas extras oferecidas nos finais de semana. Também se encontrou na área biomédica o dado de que aproximadamente meta-de da amostra realiza algum tipo meta-de atividameta-de fora da universidade, como cursos de idiomas, que se somam às suas demandas acadêmicas.

Ao observar os altos desvios-padrão encon-trados nos resultados, percebe-se que, apesar dos escores médios de ansiedade-traço e ansiedade-es-tado dos estudantes das áreas biomédica, huma-nística e tecnológica terem se enquadrado na mé-dia de ansiedade esperada para o perfil da amostra (adultos jovens e estudantes do ciclo básico), há alguns estudantes, dentro desses grupos, que apre-sentaram escores tanto de traço quanto de estado de ansiedade acima da média (Tabela 1). Além de observar as médias individuais por área, perce-beu-se que os escores médios de ansiedade separa-dos por sexo também apresentaram altos desvi-os-padrão, levando à observação da quantidade de homens e mulheres de cada área que possuíam escores individuais abaixo, dentro e acima da mé-dia esperada para estudantes do sexo masculino e do sexo feminino do ciclo básico (Tabela 2).

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Discussão e conclusão

O objetivo da presente pesquisa foi avaliar a ansi-edade-traço e ansiedade-estado dos estudantes do ciclo básico em vários cursos das áreas humanísti-ca, tecnológica e biomédica da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Norte (UFRN), avaliando se existiam diferenças entre os escores de ansiedade dessas áreas e entre os escores de ansiedade sepa-rados por sexo.

Os resultados m ostraram que os estudantes universitários do ciclo básico das três áreas de co-nhecimento da UFRN apresentaram médias de tra-ço de ansiedade (biomédica, 42,49 ± 14,95; huma-nística, 41,06 ± 13,43; e tecnológica, 36,50 ± 11,47) dentro da média esperada para estudantes do ciclo básico. Isso sugere que esses estudantes parecem não interpretar a situação do ciclo básico como ansiogênica, não apresentando uma característica de personalidade ansiogênica.

Fonte: Dados de pesquisa realizada em outubro de 2004, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.

Tabela 1. Distribuição das médias individuais de traço e estado de ansiedade por área.

Acima da média Dentro da média Abaixo da média

Traço 34% 31,3% 44,7% Estado 36,2% 19,1% 44,7% Humanística Traço 30,2% 28,3% 41,5% Estado 30,2% 30,2% 39,6% Biomédica Traço 15,5% 39,7% 44,8% Estado 29,3% 29,3% 41,4% Tecnológica

Tabela 3. Comparação entre médias de traço e estado de ansiedade por área e sexo (Test t; p<0,05).

Ansiedade-estado/Geral Ansiedade-traço/Geral Ansiedade-estado/Feminino Ansiedade-estado/Masculino Ansiedade-traço/ Feminino Ansiedade-traço/Masculino t 0,623 -0,505 0,109 -2, 407 0, 455 -1, 637 p N S N S N S 0,05 N S N S Humanística*Biomédica t 0,224 1,927 0,602 -1,346 0,899 0,023 p N S N S N S N S N S N S Humanística*Tecnológica t 0,465 2,322 0,569 1,430 -0,414 -2,246 p N S 0,05 N S N S N S 0,05 Biomédica*Tecnológica

Fonte: Dados de pesquisa realizada em outubro de 2004, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.

Fonte: Dados de pesquisa realizada em outubro de 2004, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.

Tabela 2. Distribuição das médias individuais de traço e estado de ansiedade por sexo em cada área.

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Quanto às médias de estado de ansiedade en-contradas (biomédica, 43,32 ± 12,52; humanística, 39,98 ± 13,94; e tecnológica, 39,40 ± 13,49), obser-va-se que estas também estão dentro da média es-perada para estudantes do ciclo básico. Isso indica que os estudantes do primeiro ano da UFRN pa-recem não estar encarando a situação de entrada na universidade como ansiogênica.

Apesar desses escores de ansiedade-estado e an-siedade-traço estarem dentro da média, observan-do os escores das três áreas, percebe-se que a área biomédica é a área que está e é ansiosa (ansiedade-estado e ansiedade-traço). A fim de se verificar se existiam diferenças estatisticamente significantes entre as três áreas, utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes. Os resultados mos-traram que a área biomédica é mais ansiogênica (traço) quando comparada com a tecnológica.

A área biomédica, em comparação com as ou-tras áreas, é a área em que os estudantes apresenta-ram demandas acadêmicas mais intensas, proveni-entes das aulas diárias que os alunos assistem em dois turnos, das monitorias e das aulas extras ofe-recidas nos finais de semana. Também se encon-trou que aproxim adam ente m etade da am ostra realiza algum tipo de atividade fora da universida-de, como cursos de idiomas que se somam às suas demandas acadêmicas. Tal situação exaustiva, com demandas externas (atividades e horários) e inter-nas (desempenho acadêmico) traz consigo um con-flito e a exigência de um esforço de ajustamento e adaptação maior, surgindo, então, a necessidade de traçar estratégias que possibilitem a superação des-sa situação9. Neste esforço de adaptação, o indiví-duo com personalidade ansiosa poderá interpretar essa situação como ameaçadora, aumentando seu nível de ansiedade, por exceder seus recursos de enfrentamento. É importante frisar que a ansieda-de-traço ou disposicional é influenciada pelas situ-ações, mas os dados estatísticos não encontraram evidências para ansiedade-estado.

Ao dividir a amostra de cada área de conheci-mento por sexo, percebe-se que as médias de ansi-edade-traço, tanto dos estudantes do sexo femini-no (biomédica, 42,08 ± 15,82; humanística, 43,77 ± 12,90; e tecnológica, 39,91 ± 10,67) quanto do masculino (biomédica, 42,95 ± 14,25; humanísti-ca, 35,78 ± 13,20; e tecnológihumanísti-ca, 35,70 ± 11,61), con-tinuam dentro da média esperada para mulheres e homens estudantes do ciclo básico universitário.

O mesmo ocorre entre os escores médios de ansiedade-estado entre as mulheres (biomédica, 42,48 ± 11,70; humanística, 42,86 ± 14,15; e tecno-lógica, 39,91 ± 14,19) e entre os homens (biomédi-ca, 44,27 ± 13,61; humanísti(biomédi-ca, 34,39 ± 12,01; e

tec-nológica, 39,28 ± 13,48), que também se encon-tram dentro da média de estado de ansiedade es-perada para mulheres e homens do ciclo básico.

Esses dados dem onstram que tanto as estu-dantes do sexo feminino quanto os estuestu-dantes do sexo masculino parecem não apresentar a ansie-dade disposicional, que transcende a barreiras de lugar e tempo, nem a ansiedade situacional no pe-ríodo estudado. Mas, observando os escores, os resultados sugerem que as estudantes de biomédi-ca e humanístibiomédi-ca, e os estudantes de biomédibiomédi-ca são e estão ansiosos. Esses dados, em conjunto com os dados encontrados estatisticamente de ansiedade-traço para a amostra geral (biomédica sendo mais ansiosa), corroborariam a idéia de que o aumento de ansiedade disposicional (traço) seria determi-nado em parte pela elevação da ansiedade situacio-nal (estado), pois os escores de ansiedade-traço e ansiedade-estado dos estudantes de ambos os se-xos de biomédica e das estudantes de humanística estão elevados. Essa idéia também é confirmada pelos dados de ansiedade-traço dos estudantes do sexo masculino de humanística que não estavam elevados e nem os de ansiedade-estado.

Com o intuito de verificar estatisticamente os dados acima comentados, utilizou-se o teste t de Student. Foram encontradas diferenças estatisti-camente significantes entre os escores de ansieda-de-estado para os estudantes do sexo masculino das áreas de biomédica e humanística (t=-2,407; p<0,05), e entre os escores de traço de ansiedade para os homens de biomédica e tecnológica (t=-2,246; p<0,05), sugerindo que os homens de bio-médica estão e são mais ansiosos que as outras duas áreas.

Apesar de existirem vários estudos que de-monstrem a prevalência de sintomas e/ou de trans-tornos de ansiedade entre as mulheres por exerce-rem mais funções que os homens2,6,11, existem es-tudos que não observaram diferenças significati-vas entre a presença de distúrbios emocionais en-tre homens e mulheres15-17.

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homens que estão iniciando a faculdade (contexto novo) e estão lidando com situações que para eles são diferentes daquelas que eles estão acostumados a lidar, exigindo mecanismos diferentes.

Analisando os dados da amostra geral, perce-be-se que os estudantes da área biomédica e hu-manística estão acima da média, e que, em especi-al, os estudantes de biomédica estão mais ansiosos (estado de ansiedade elevado). Esse dado corro-bora mais uma vez a idéia de que a situação que os estudantes de biomédica estão vivenciando parece aumentar sua ansiedade disposicional.

Procedendo-se à análise por sexo destes gru-pos em relação aos desvios-padrão, a fim de com-preender as diferenças estatísticas encontradas para os homens, observou-se que, na área humanísti-ca, 16,7% dos homens da amostra apresentaram escores de ansiedade-estado acima da média, e, na área tecnológica, 21,3% dos estudantes do sexo masculino apresentaram escores de ansiedade-tra-ço acima da média. Voltando-se à área biomédica, percebe-se que 54,5% dos homens apresentaram escores de ansiedade-estado acima da média e que 45,4% desses hom ens apresentaram escores de ansiedade-traço acima da média esperada para essa população. Esses percentuais parecem propiciar as

diferenças estatisticamente significantes encontra-das para os homens, além de que a quantidade de homens com traço de ansiedade acima da média pode explicar a elevação dos escores de ansiedade-estado dos mesmos.

Isso acaba por confirmar a idéia exposta em vários estudos6,11,18,19, na qual a elevação da ansie-dade-estado pode ser ocasionada pelas estruturas de personalidade, que influenciam a maneira como o indivíduo percebe uma situação ou evento es-tressor e como reagirá a ele. Dentre estas estrutu-ras, estão os escores de ansiedade-traço que po-dem ser excelentes preditores dessa reação.

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Colaboradores

CL Ferreira auxiliou na elaboração e na execução do estudo e contribuiu para a redação e revisão final do artigo; KM Almondes contribuiu com a elaboração do estudo, a análise e revisão crítica do artigo; ANS Mata, CA Lemos e LP Braga participa-ram igualmente da execução do estudo e concepção teórica do artigo; e EMC Maia auxiliou no delinea-mento do estudo e na redação final do artigo.

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Artigo apresentado em 29/05/2006 Aprovado em 27/02/2007

Versão final apresentada em 30/04/2007 1.

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Figura 2.  Escores médios de traço e estado de
Tabela 2.  Distribuição das médias individuais de traço e estado de ansiedade por sexo em cada área.

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