www.jped.com.br
ARTIGO
ORIGINAL
Translation,
cultural
adaptation,
and
validation
of
the
Celiac
disease
DUX
(CDDUX)
夽
,
夽夽
Manuela
Torres
Camara
Lins
a,b,∗,
Rafael
Miranda
Tassitano
c,
Kátia
Galeão
Brandt
d,
Margarida
Maria
de
Castro
Antunes
de
Giselia
Alves
Pontes
da
Silva
aaUniversidadeFederaldePernambuco(UFPE),Recife,PE,Brasil
bServic¸odeGastroenterologiaPediátrica,InstitutodeMedicinaIntegralProf.FernandoFigueira(IMIP),Recife,PE,Brasil
cDepartamentodeEducac¸ãoFísica,UniversidadeFederalRuraldePernambuco(UFRPE),Recife,PE,Brasil
dDepartamentoMaterno-Infantil,UniversidadeFederaldePernambuco(UFPE),Recife,PE,Brasil
Recebidoem5deagostode2014;aceitoem12denovembrode2014
KEYWORDS
Qualityoflife; Cross-cultural adaptation; Celiacdisease
Abstract
Objective: Totranslate,cross-culturally adapt,andvalidateaspecificquestionnaireforthe evaluationofceliacchildrenandadolescents,theCeliacDiseaseDUX(CDDUX).
Methods: The steps suggested by Reichenheim andMoraes (2007) were followed to obtain conceptual, item, semantic, operational, and measurement equivalences. Four pediatric gastroenterologists;aresearcherwithtoolvalidationbackground;threeEnglishteachers;and 33 celiacpatients, aged 8to 18 years,and their caregivers participated inthestudy. The scores ofceliac patients andthose obtained from their caregivers were compared. Among thepatients,thescoreswerecomparedinrelationtogenderandage.
Results: Allitemswereconsideredrelevanttotheconstructandgoodsemanticequivalence oftheversionwasacquired.Duringmeasurementequivalence,theexploratoryfactoranalysis showedappropriateweight ofall itemsandgoodinternalconsistency,withCronbach’s ␣of 0.81.Significantdifferencewasfoundamongthefinalscoresofchildrenandtheircaregivers. Therewasnodifferenceamongfinalscoresinrelationtogenderorage.
Conclusion: Thequestionnairewastranslatedandadaptedaccordingtoalltheproposedsteps, withallequivalencesadequatelymet.ItisavalidtooltoaccesstheQoLofceliacchildrenand adolescentsinthetranslatedlanguage.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.11.005
夽 Comocitaresteartigo:LinsMT,TassitanoRM,BrandtKG,AntunesMM,SilvaGA.Translation,culturaladaptation,andvalidationofthe CeliacDiseaseDUX(CDDUX).JPediatr(RioJ).2015;91:448---54.
夽夽EstudovinculadoàUniversidadeFederaldePernambuco(UFPE),Recife,PE,Brasil.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:manuela.atorres@gmail.com(M.T.C.Lins).
PALAVRAS-CHAVE
Qualidadedevida; Adaptac¸ão transcultural; Doenc¸acelíaca
Traduc¸ão,adaptac¸ãotransculturalevalidac¸ãodoCeliacDiseaseDUX(CDDUX)
Resumo
Objetivo: Traduzir, adaptar transculturalmente e validar um questionário específico para avaliac¸ãodequalidadedevida(QV)decrianc¸aseadolescentescomdoenc¸acelíaca(DC), o CeliacDiseaseDUX(CDDUX).
Método: ForamseguidasasetapasdescritasporReichenheimeMoraes(2007)paraobtenc¸ãode equivalênciasconceitual,deitens,semântica,operacionaledemensurac¸ão.Participaramdo estudoquatrogastroenterologistaspediátricos,umprofissionalcomexperiênciaemvalidac¸ão deinstrumentos,trêsprofessoresdeinglêse33pacientescelíacos,entreoitoe18anos,com seusresponsáveis.ForamcomparadososescoresdeQVobtidosdospacientescomosobtidos pormeiodosseusresponsáveis.Dentrodogrupodepacientes,compararam-seosescoresem relac¸ãoaosexoeidade.
Resultados: Todosos itens foramconsiderados pertinentes ao construto e foi atingida boa equivalênciasemântica daversão. Aanálise fatorialexploratóriademonstrou cargafatorial adequadadetodosositenseboaconsistênciainterna,com␣deCronbachde0,81.Foi eviden-ciadadiferenc¸asignificativaentreoescorefinaldoCDDUXdecrianc¸aseseuspais.Nãohouve diferenc¸adoescorefinaldoquestionárioemrelac¸ãoaosexoouàidade.
Conclusão: Atraduc¸ãoeadaptac¸ãoseguiramadequadamenteasetapaspropostas,coma equi-valência sendoatingida demaneira satisfatória.Oinstrumentotraduzido mostrou-seválido paraavaliac¸ãodaQVdecrianc¸aseadolescentescomDC.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
Adoenc¸acelíaca(DC)éumaenteropatiaautoimune, desen-cadeada pelo glúten, que apresenta grande variedade de manifestac¸ões clínicas e ocorre em indivíduos genetica-mentesuscetíveis.Seutratamentoconsistenaretiradado glútendadietaportodaavida.1Adietaisentadeglútené rigorosae,poressarazão,difícildeseraceitaeseguida,pois levaamodificac¸ãodohábitoalimentaredoestilodevida,o querepercutenaqualidadedevida(QV)dopaciente.2Uma vezinstituídotratamento,oscelíacosficamassintomáticos, não apresentam sinal externoque indiquea presenc¸a de umadoenc¸a.Porém,anecessidadedeumadietaespecial dávisibilidade àdoenc¸a,colocaospacientes em risco de depreciac¸ão e estigmatizac¸ãodentro docontexto sociale temimpactonegativonaQVdessespacientes.3
A avaliac¸ão operacional daQV é comumente feita por meiodequestionários,quepodemsergenéricoseenglobar váriasdimensõesevariadosproblemasdesaúdeou especí-ficose avaliarquestõesinerentesa determinadogrupode pessoasoudoenc¸a.4
Naúltimadécada,váriosestudosdeavaliac¸ãodeQVem crianc¸ase adolescentescomDCforampublicados,5-13 com a validac¸ão de dois questionários específicos. O primeiro deles,oCeliacDiseaseDUX(CDDUX),7foidesenvolvidopor umgrupoholandêspioneironosestudosdeQVemcelíacos; depois,em2013,Jordanetal.13validaramumquestionário paracrianc¸aseadolescentesamericanos.
Odesenvolvimentodeuminstrumentodemandatempo etemcustoelevado, daíserumaboaopc¸ão atraduc¸ãoe adaptac¸ãodeumquestionáriojáexistente,deacordocom recomendac¸ões metodológicas específicas, o que permite seuusoemdiferentescontextosculturais.14-16
Ainexistênciadeuminstrumentodeavaliac¸ãodeQVem crianc¸aseadolescentescelíacos,validadoparausoemnosso país,motivou a elaborac¸ão deste estudo, que teve como objetivo traduzir, adaptar e validar o Celiac Disease DUX (CDDUX),7umquestionáriodoenc¸a-específicoparaavaliac¸ão deQVrelacionadaàsaúdeparacrianc¸ascomDC.
Métodos
Trata-se de um estudo metodológico de traduc¸ão, adaptac¸ãotransculturalevalidac¸ãodeumquestionáriopara avaliac¸ãodequalidadedevidadecrianc¸aseadolescentes celíacos.Oprocessodeadaptac¸ãotranscultural, desenvol-vidodemarc¸ode2012anovembrode2013,seguiuasetapas de equivalência propostas por Reichenheim e Moraes,15 sendo elas: (a) conceitual; (b) de itens; (c) semântica; (d)operacionale(e)demensurac¸ão.
Asduasprimeirasetapasforamcumpridasporumcomitê formado por quatro gastroenterologistas pediátricos que verificaramconceitualmentearelevânciadoinstrumentoe dositensqueocompõem.
Naavaliac¸ãosemântica,foiverificadoosignificado denota-tivoeconotativodaspalavras,poisacorrespondêncialiteral deumtermo nãoimplicaque a mesmareac¸ãoemocional sejaevocadaemdiferentescontextosculturais.
A versão pré-final foi testada com um grupo de cinco pacientes e pais/responsáveis com o objetivo de avaliar a compreensão do instrumento. Eles foram perguntados quantoàexistênciadealgumapalavraoupergunta incom-preensível.Essescincocompuseramogrupofinal,composto por33celíacos,entreoitoe18anos,e33pais/responsáveis queparticiparamdasetapasfinaisdoprocessodeadaptac¸ão transculturaldoinstrumento.Entreospacientescelíacos,a maioriatinhaentreoitoe11anos(66,7%),eradosexo femi-nino(72,7%),liacomfacilidade(81,8%)erelatavaseguira dietaisentadeglúten(91,9%).Entreospais/responsáveis,a maiorpartedosparticipanteserademães(84,8%),liacom facilidade(81,8%)etinharendafamiliarper capitamenor doque½saláriomínimodaépoca(69,7%).
Todos os pacientes eram acompanhados no Ambulató-riodeGastroenterologiaPediátricadoInstitutodeMedicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), em Recife, que atendeexclusivamentepacientesdoSistemaÚnicodeSaúde (SUS),tiveramodiagnósticofirmadoporum gastroenterolo-gistapediátricoeforamorientadosaseguirumadietaisenta deglúten.
A avaliac¸ão do formato do questionário, a ordem de aparecimento das questões, o modo e local de aplicac¸ão compuserama equivalênciaoperacional, estabelecida por doisgastroenterologistaspediátricos,umdelescom experi-ênciaempesquisascomessegrupodepacientes.
A verificac¸ão das propriedades psicométricas do ques-tionáriocorrespondeuàequivalênciademensurac¸ão,com enfoquenaavaliac¸ãodevalidadedimensional, adequac¸ão deitenspordomínioeconsistênciainternadoinstrumento. OCDDUX éconstituído por12 itens quecompõem três domínios: dieta (seis), comunicac¸ão (três) e ter doenc¸a celíaca (três). Para as respostas, é usada uma escala de Likert de cinco pontos, com apoio de um diagrama de imagens com faces que expressam diferentes estados emocionaisparaasrespostas. Existeaindaumaversão do questionário para ser respondida por pais/responsáveis, sobre as crianc¸as, com as mesmas questões e opc¸ões de resposta.7
Osescoresporitemcorrespondentesàsfiguras-respostas variamde1a5e osautoresoriginaisusaramumfatorde correc¸ãoemcadaquestãoparaobterumescoremédiofinal comvariac¸ãode1a100:1-20QVmuitoruim,21-40ruim, 41-60neutra,61-80boae81-100muitoboa.7
OsdadosforamtabuladosnoEpidata,versão3.1(Epidata Assoc.,Odense,Dinamarca), e todasasanálises feitas no
softwareSPSS17.0(SPSSInc.,Chicago,EUA).
Foi avaliada a adequac¸ão da amostra pelo índice de Kaiser-Meyer-Olkin(KMO). Encontrou-seo valor de0,64 e foram considerados como aceitáveis os valores acima de 0,50.17FoiusadootestedeesfericidadedeBartlett,como objetivodeverificarseamatrizdecorrelac¸ãoéumamatriz identidade.
Alémdisso,procurou-seidentificaraexistênciade mul-ticolinearidade (correlac¸ão alta, r>0,80) e singularidade (correlac¸ão perfeita,r=1) entreasquestões pormeio do coeficiente de correlac¸ão de Spearman. A correlac¸ão foi feitaparaatendera doisobjetivos:checar seasvariáveis
apresentam uma relac¸ão com as demais que compõem adimensão,massemterumr>0,80,poisissoimplicariaa supressão de um dos itens, e identificar em qual dimen-sãocadaitemdevepermanecer.Ositenscommaior corre-lac¸ão(p<0,05)permaneceramnarespectivadimensão.
Fez-se a análise fatorial exploratória com o emprego darotac¸ãopromax paraverificara cargafatorialde cada item daescala. Foramaceitos autovalores (eingenvalues)
≥ 1, além dos itens com carga fatorial>0,4, para definir os fatores obtidos na análise. A consistência interna foi determinadapelocoeficientealfadeCronbacheforam con-sideradossatisfatóriosvaloresdealfa≥0,7.
Usou-se oteste tdeStudentpara compararasmédias dapontuac¸ãodosquestionáriosdascrianc¸ascomosdeseus responsáveis.Paraverificaravariânciadasmédiasdos paci-entesemrelac¸ãoaosexoeàidade,foiusadooAnova.Para tal, ospacientes foramcategorizados em relac¸ão à idade emdoisgrupos:entreoitoe11anoseentre12e18anos.
EsteestudofoiaprovadopeloComitêdeÉticaePesquisa do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (processon◦3420-13).Todasascrianc¸asparticipantes
assi-naram o termo de assentimento e seus pais/responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido antes do início do estudo. A adaptac¸ão transcultural foi autorizadapelo pesquisadorresponsável peloquestionário original.7
Resultados
Ocomitêdegastroenterologistasavalioutodosositenscomo pertinentes aosdomínioseao construto (QV)nocontexto cultural da populac¸ão-alvo e optou por manter todas as questõesparaasetapasseguintes.
As etapas da equivalência semântica foram cumpridas de maneira satisfatória. As traduc¸ões mostraram equi-valência entre si, com consenso entre os tradutores no desenvolvimento da traduc¸ão final. A tabela 1 mostra o questionáriooriginaleaversãofinaltraduzidaeadaptada. Aretrotraduc¸ãomostrouboasemelhanc¸acomo questioná-riooriginal,compoucostermosmodificados.Otermofind, queapareceemváriasquestões,foitraduzidoparaachar, e posteriormenteoptou-se pelasubstituic¸ão parao termo
sentir. Nas instruc¸ões, existiu dificuldade na traduc¸ão do termofacesporambostradutores.Apósconsenso,optaram portraduzircomocarinhas.Aindanasinstruc¸ões,optou-se porretirarafrasetherearenowronganswers,inicialmente traduzida como não existem respostas erradas, para não remeteraumsentidodeavaliac¸ão,dequeopacienteestava sendotestado.Noenunciadodasquestões,otermoexpress
foitraduzidopeloT1comoexpressarepeloT2como mos-trar.Optou-se pelouso dotermo mostrarparafacilitar o entendimento.
Tabela1 QuestionáriooriginaleversãofinaltraduzidaeadaptadadoCDDUX
Original Versãofinaltraduzida
Wewouldliketoknowhowyoufeelthesedays. Nósgostaríamosdesabercomovocêtemsesentidoestesdias. Therefore,couldyoupleaseindicatehowyoufeelin
differentsituations?
Vocêpoderiaindicarcomosesenteemdiferentessituac¸ões?
Youcandothatbycirclingineachquestiononeofthe facesthatfitsyoubest.Therearenowronganswers; it’saboutwhatyoufeel.
Vocêpodefazerissocirculandoemcadaperguntaacarinhaque mostrecomovocêsesente.Nãohárespostascertasouerradas; trata-sedesabercomosesente.
Pleaseexpresshowyou’vebeenfeelinglately. Porfavor,circuleacarinhaquemostracomovocêtemsesentido ultimamente.
1.WhenIthinkoffoodcontaininggluten,Ifeel... 1.Quandovocêpensaemcomidacomglúten,vocêsesente...
2.WhenatschoolIamgivenfoodcontaininggluten,I findit...
2.Quandonaescolalhedãocomidacomglúten,vocêsesente...
3.Talkingaboutmycoeliacdiseasewithothersmyage, Ifind...
3.Quandoprecisafalarparaoutrosdasuaidadesobresuadoenc¸a celíaca,vocêsesente...
4.Notbeingabletoeatjusteverything,Ifind... 4.Nãopodercomertudofazvocêsesentir...
5.WhensomeoneoffersmefoodthatIcan’thave, Ifeel...
5.Quandoalguémlheoferececomidaquevocênãopodecomer, vocêsesente...
6.WhenIhavetoexplaintootherswhatcoeliacdisease is,Ifeel...
6.Quandovocêtemdeexplicaraosoutrosoqueédoenc¸a celíaca,vocêsesente...
7.TalkingaboutcoeliacdiseaseIfind... 7.Quandosefalasobredoenc¸acelíaca,vocêsesente...
8.Havingtofollowalifelongdiet,Ifind... 8.Terdeseguirumadietaportodaavidafazvocêsesentir...
9.HavingtopayattentiontowhatIeat,Ifind... 9.Terdeprestaratenc¸ãoaoquevocêcomefazvocêsesentir...
10.Havingcoeliacdiseaseis... 10.Terdoenc¸acelíacaé...
11.NotbeingabletoeatanythingIwantlikeother people,Ifind...
11.Nãopodercomertudoquevocêquer,comoasoutraspessoas, fazvocêsesentir...
12.Followingadietformycoeliacdiseaseis... 12.Terdeseguirumadietaporcausadasuadoenc¸acelíacaé...
sãoacompanhados,porserambientecomoqualopaciente jáestavafamiliarizado.
Na etapa de equivalência de mensurac¸ão, o teste de adequac¸ãodaamostra(KMO)mostrouvalor0,64.As análi-sesdesingularidadeemulticolinearidadeindicaramvalores decorrelac¸ãoadequadosconformedemonstradonatabela2 eforammantidostodosositensparaaanálisefatorial explo-ratória.
Naanálisedoscomponentesprincipais,osdomínios expli-caram70,7%davariânciadaescala,comboaconsistência interna,conformeevidenciadonatabela3,eaexclusãode apenasumdositensdeterminariaumdiscretoaumentodo valordoalfadeCronbach,nãosignificativo.
Observou-se diferenc¸a significativa entre a média do escore final do questionário respondido pelas crianc¸as e o dos seus pais/responsáveis. Quando avaliados os domí-niosseparadamente,apenasodomínio ter doenc¸acelíaca
nãoapresentoudiferenc¸asignificativaentreosdoisgrupos, conformeapresentadonatabela4.
Nãohouvediferenc¸aentreasmédiasdogrupode celía-cosentreoitoe11anos(59,4±11,2)eentre12e18anos (54±14,3),comp=0,24;eentreasmédiasdospacientesdo sexofeminino(56,8±13,1)emasculino(59,9±10,3),com p=0,53.
Discussão
Baseado na proposta de Reichenheim e Moraes,15 foram feitas a traduc¸ão e a adaptac¸ão transcultural do CDDUX, o único questionáriopara avaliac¸ão deQV em crianc¸as e
adolescentesdisponívelquandoiniciamosoestudo.Ésabido que umaboa traduc¸ão linguística podenão ser suficiente paramanter umbom nível conceitualentreas diferentes culturasemuitasvezessãonecessáriasadaptac¸ões.14,15,18
Embuscaderesponderaquestõesespecíficasdecrianc¸as eadolescentescelíacos,vanDoornetal.7desenvolveram oCDDUX,instrumentodoenc¸a-específico,divididoem três domínios:terdoenc¸acelíaca,comunicac¸ãoedieta.
Davis et al.,19 em revisão sistemática da base concei-tual de instrumentos de avaliac¸ão de QV em crianc¸as, sugerem que, diante da grande diversidade existente na conceitualizac¸ãousadaedopequenonúmerodeteoriasde QVidentificadas,alémdotemponecessárioparao desen-volvimentodenovasteorias,deve-seinvestirnaadequada escolhadedomínioseitens.
Anosso ver,os domíniosdoCDDUXabrangem aspectos importantesnaavaliac¸ãodaQVdepacientescomDCetodos ositens foramavaliadoscomopertinentespelo comitêde gastroenterologistas. Entretanto,outros aspectos nãosão abordados,como adificuldade deacesso aalimentossem glúten,demodoespecialemmomentosdeinterac¸ãosocial. Tal fato é destacado por Jordan et al.,13 que, ao desen-volverumquestionárioparacrianc¸as celíacasamericanas, destacaramoutrasquestõesrelevantesnocontextocultural original,comooconsumo regulardealimentosproduzidos foradecasaeadificuldadeparasealimentaremmomentos delazer,comoviagens.
Tabela2 Coeficientedecorrelac¸ãodeSpearmanentreositensdaversãotraduzidadoCDDUXesuasdimensões
Item Comunicac¸ão TerDC Dieta
Q3.Quandoprecisafalarparaoutrosdasuaidadesobresuadoenc¸acelíaca,vocêsesente... 0,76
a −0,14 0,54a
Q6.Quandovocêtemdeexplicaraosoutrosoqueédoenc¸acelíaca,vocêsesente... 0,81
a 0,02 0,56a
Q7.Quandosefalasobredoenc¸acelíaca,vocêsesente... 0,81
a 0,06 0,41b
Q1.Quandovocêpensaemcomidacomglúten,vocêsesente... −0,12 0,70
a 0,20
Q2.Quandonaescolalhedãocomidacomglúten,vocêsesente... −0,15 0,79
a 0,26
Q5.Quandoalguémlheoferececomidaquevocênãopodecomer,vocêsesente... 0,27 0,66
a 0,36b
Q4.Nãopodercomertudofazvocêsesentir... 0,29 0,28 0,77
a
Q8.Terdeseguirumadietaportodaavidafazvocêsesentir... 0,51
a 0,19 0,73a
Q9.Terdeprestaratenc¸ãoaoquevocêcomefazvocêsesentir... 0,47
a −0,01 0,47a
Q10.Terdoenc¸acelíacaé... 0,43
b 0,36b 0,75a
Q11.Nãopodercomertudoquevocêquer,comoasoutraspessoas,fazvocêsesentir... 0,24 0,39
b 0,79a
Q12.Terdeseguirumadietaporcausadasuadoenc¸acelíacaé... 0,45
a −0,01 0,47a
ap<0,01.
b p<0,05.
Tabela3 AnálisefatorialdaversãotraduzidadoCDDUX
Questão Cargafatorial Valorde␣casofosseexcluída ␣Cronbach
Comunicac¸ão TerDC Dieta
Q3 0,84 0,79
Q6 0,68 0,79
Q7 0,68 0,80
Q1 0,73 0,82
Q2 0,75 0,81
Q5 0,62 0,80 0,81
Q4 0,83 0,78
Q8 0,62 0,79
Q9 0,57 0,80
Q10 0,62 0,78
Q11 0,83 0,78
Q12 0,72 0,81
osentimentodopacienteemrelac¸ãoàquestãoabordada. Nas instruc¸ões, optou-se por carinhas em substituic¸ão ao termofaces,poisousododiminutivotrazmaissuavidadeà explicac¸ão.
Dopontodevistaoperacional,oformatodoCDDUX,com respostaspormeiodediagramadefaces,facilitaaaplicac¸ão eevitaproblemascompalavrasqueexijamummaiornível cultural,comoenfrentadoporoutrosautores.20 Diferente-mente doquestionário original, que foi autopreenchido e enviado por correio, optamos pela entrevista. É possível que a entrevista pelo próprio médico acompanhante, no
ambientedeconsulta,tenhainterferidonoescorefinaldo questionário.A opc¸ão pelo usoda terceirapessoa do sin-gular nãoevidencioumudanc¸as profundasna estruturado questionárioerevelouentendimentobastanteadequado.
Naequivalênciademensurac¸ão,osresultadosobservados indicamboacorrelac¸ãoentreositensesuasdimensõesesua consistênciainterna.Todosositensevidenciaramcorrelac¸ão significativa(p<0,01)com osdomíniosoriginalmente pro-postos. Em alguns, como a questão 3, pode-se perceber correlac¸ãotambémsignificativaeparaoutrodomínio,pois de certaforma eles estão inter-relacionados, porém essa
Tabela4 MédiadoescorefinalepordomíniosdaversãotraduzidadoCDDUXaplicadaacrianc¸aseadolescentescelíacose
seusresponsáveis
Domínio Crianc¸aseadolescentes Responsável p
Média DP Média DP
Média 57,6 12,3 45,4 10,4 <0,01
Terdoenc¸acelíaca 44,0 13,8 45,4 14,3 0,68
Comunicac¸ão 71,3 18,1 38,4 10,7 <,01
correlac¸ão mostrou-se sempreigual oumenor ao domínio ao qualoitem éatribuído.Nota-se tambémque,embora váriositensnãoatribuídosaumdomíniocorrelacionem-se comele,amaioriadositens quecompõemodomíniotem valoresmaiselevados.
Foi observada boa consistênciainterna do instrumento (␣=0,81),emboracomvalormenoraodaavaliac¸ãodo ins-trumentooriginal(␣=0,85).Emrelac¸ãoàanálisefatorial, apenasaquestão 9,‘‘Terdeprestar atenc¸ãoaoque você comefazvocêsesentir...’’,pertencenteaodomíniodieta,
apresentouvalor deitemabaixo de0,6.Comoa exclusão dessaquestãodeterminariadiminuic¸ãodoalfae seuvalor encontrava-se acimado recomendado (0,4),optou-se por mantê-la.
Areprodutibilidade nãopodeseravaliada pelonúmero pequenodepacientes que atenderamao reteste, embora todostenham sidoconvocados. O retornopara feitura do retesteparecesermaisfacilmenteconseguidoemcondic¸ões clínicasmaissintomáticas.20
Tradicionalmente, em estudosdeQV, ospaise respon-sáveisrespondemporsuascrianc¸as,poressasseremvistas comorespondedoresnãoconfiáveis,nosquaisfaltam capa-cidades linguísticas e cognitivas.21 No entanto,na análise daQV,percebe-seanecessidadedaavaliac¸ãosubjetivado indivíduoemquestão.Poressarazão,aconcordânciaentre respostasobtidasporcrianc¸aseseuspais/responsáveispor meiodeinstrumentosdemedidatemsidoinvestigada por alguns autores.21,22 A baixa concordânciaentreas respos-tas, que alguns pesquisadores consideram ser devido à inadequac¸ãodoinstrumento,poderefletirumadiscordância natural entre pais e filhos em vários aspectos. A capaci-dade dos pais de avaliara QV dos filhos depende deque domíniosdaQVestãosendoavaliados,comdificuldadena avaliac¸ão dequestõesinternalizadaspelas crianc¸as,como tristezaeansiedade.22
Embora responsáveis e pacientescom DCtenham clas-sificadoaQVna faixaneutra(40a60),o escorefinaldos responsáveisfoisignificativamentemaisbaixo,em concor-dânciacomodescritoporUpton21 emrevisãosistemática. Issoevidencia queospaisde crianc¸ascom doenc¸as crôni-castendemasubestimaraQVdosseusfilhos.Naaplicac¸ão originaldoinstrumento,oescorefinaltambémfoi significa-tivamente maisbaixo na avaliac¸ãodos pais,atéemoutra faixadeclassificac¸ão.7
No entanto, destacou-se a diferenc¸a encontrada nos escores de pais e filhos no domínio comunicac¸ão. Falar sobre a doenc¸a, lhe dando visibilidade, pode ter um impactonegativonavidasocialdessascrianc¸aspelapossível estigmatizac¸ão.Porém,oconhecimentosobreadoenc¸a con-seguetornaroconvívioeaalimentac¸ãoemambientesfora dodomicíliomaisfácil,poisocelíaconãoprecisaficar jus-tificandoofatodecomerdiferentemente.3Nessesentido, explicarefalarsobreaDCpodesetraduzirparaacrianc¸ae adolescentenumbenefício,diferentementedoprevistopor seuspais. Tal fato nãofoi observado no estudo original,7 possivelmente pelo nível de conhecimento sobre a DC empaíseseuropeussermaior.
Como descrito na literatura, não foram observadas diferenc¸asdoescorefinaldaversãotraduzidadoCDDUXem relac¸ão ao sexo e à idade dos pacientes.10,11 No entanto, équestionávelo usodeummesmoinstrumentocom paci-entes com grande variac¸ão de idade, uma vez que eles
enfrentamdiferentessituac¸õesedesempenham diferentes papéissociais.13 Nodesenvolvimentodoquestionário origi-nalpormeiodegruposfocais,apenasquatroadolescentes participaramdoestudoefoidestacadaessalimitac¸ãopelos pesquisadores.7
Alguns aspectos devem ser considerados para o uso dessa versão traduzida e adaptada do CDDUX. Nosso estudo entrevistou pacientes celíacos acompanhadosnum servic¸o especializado, com baixo nível socioeconômico e compoucosadolescentes.Ocontextonoqualocorreo pro-cessodeadaptac¸ãointerferenoresultadofinaldaversãoe talfatodeveseranalisadoantesdesuaaplicac¸ão.14,23
A avaliac¸ão da QV durante a consulta, mesmo dentro de uma relac¸ão médico-paciente bem estabelecida, mui-tasvezesédifícil,principalmente naquelespacientesque tendemafornecerrespostassocialmentecorretas.Um ins-trumentodeavaliac¸ãodeQVpodefacilitaressaabordagem eéumrecursoparainiciarumacomunicac¸ãosobreotema.7 Nãodeve,noentanto,substituí-la.24
A versão final do CDDUX em português foi elaborada em acordo com os passos sugeridos na literatura,15 com propriedades psicométricas adequadas, e mostrou-se um instrumentoválidoparaavaliac¸ãodaQVdecrianc¸ase ado-lescentescomDC.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.FasanoA,CatassiC.Currentapproachestodiagnosisand treat-mentofceliacdisease:anevolvingspectrum.Gastroenterology. 2001;120(3):636---51.
2.SverkerA,HensingG,HallertC.Controlledbyfood-lived expe-riencesofcoeliacdisease.JHumNutrDiet.2005;18:171---80.
3.OlssonC,LyonP,HörnellA,IvarssonA,SydnerYM.Foodthat makesyoudifferent: thestigma experiencedbyadolescents withceliacdisease.QualHealthRes.2009;19:976---84.
4.DuarteP,CiconelliR.Instrumentosparaaavaliac¸ãoda quali-dadedevida:genéricoseespecíficos.In:SchorN,editor.Guia deQualidadedeVida.SãoPaulo:Manole;2006.p.11---8.
5.KolsterenMM,KoopmanHM,SchalekampG,MearinML. Health--relatedqualityoflifeinchildrenwithceliacdisease.JPediatr. 2001;138:593---5.
6.Rodrigues L. Avaliac¸ão da Qualidade de Vida de Crianc¸as CelíacasemUsodeDietaIsentadeGlúten:umEstudode caso--controle[Dissertac¸ão].PortoAlegre,RS:UniversidadeFederal doRioGrandedoSul;2007.
7.Van Doorn RK, Winkler LM, Zwinderman KH, Mearin ML, KoopmanHM.CDDUX:adisease-specifichealth-related quality--of-lifequestionnaireforchildrenwithceliacdisease.JPediatr GastroenterolNutr.2008;47:147---52.
8.Wagner G,Berger G,Sinnreich U,GrylliV,Schober E,Huber WD,etal.Qualityoflifeinadolescentswithtreatedcoeliac disease:influenceofcomplianceandageatdiagnosis.JPediatr GastroenterolNutr.2008;47:555---61.
9.RosénA,IvarssonA,NordykeK,KarlssonE,CarlssonA, Dani-elssonL,etal.Balancinghealthbenefitsandsocialsacrifices: a qualitativestudyofhowscreening-detectedceliacdisease impactsadolescents’qualityoflife.BMCPediatr.2011;11:32.
disease:fromtheperspectivesofchildrenandparents. Gastro-enterolResPract.2012[Epubaheadofprint].
11.deLorenzoCM,XikotaJC,WayhsMC,NassarSM,deSouzaPires MM. Evaluation ofthequality oflife ofchildren withceliac diseaseandtheirparents:acase-controlstudy.QualLifeRes. 2012;21:77---85.
12.Nordyke K, Norström F, Lindholm L, Stenlund H, Rosén A, IvarssonA. Health-relatedqualityoflifein adolescentswith screening-detectedceliacdisease,before andoneyear after diagnosisandinitiationofgluten-freediet,aprospectivenested case-referentstudy.BMCPublicHealth.2013;13:142.
13.JordanNE,LiY,MagriniD,SimpsonS,ReillyNR,DefeliceAR, etal.Developmentandvalidationofaceliacdiseasequalityof lifeinstrumentforNorthAmericanchildren.JPediatr Gastro-enterolNutr.2013;57:477---86.
14.Guillemin F, Bombardier C, Beaton D. Cross-cultural adap-tation of health-related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol. 1993;46: 1417---32.
15.Reichenheim M, Moraes C. Operacionalizac¸ão de adaptac¸ão transculturaldeinstrumentosdeaferic¸ãousadosem epidemio-logia.RevSaudePublica.2007;41:665---73.
16.Herdman M, Fox-Hushby J, Badia X. Equivalence and the translationandadaptationofhealth-relatedqualityoflife ques-tionnaires.QualLifeRes.1997;6:237---47.
17.PereiraA. SPSS---Guia práticode utilizac¸ão: análisede dados para as ciências sociais epsicologia. 7. Ed. Lisboa: Edic¸ões Silabo;2008.
18.BeatonDE,BombardierC,GuilleminF,FerrazMB.Guidelines fortheprocessofcross-culturaladaptationofself-report mea-sures.Spine.2000;25:3186---91.
19.Davis E, Water E, Mckinnon A, Reddihough D, Graham HK, Mehmet-RadjiO,etal.Paediatricqualityoflifeinstruments:a reviewoftheimpactoftheconceptualframeworkonoutcomes. DevMedChildNeurol.2006;48:311---8.
20.La Scala CS, Naspitz CK, Solé D. Adaptac¸ão e validac¸ão do PediatricAsthma QualityofLifeQuestionnaire (PAQLQ-A)em crianc¸aseadolescentesbrasileiroscomasma.JPediatr(RioJ). 2005;81:54---60.
21.UptonP,LawfordJ,EiserC.Parent-childagreementacrosschild health-relatedqualityoflifeinstruments:areviewofthe lite-rature.QualLifeRes.2008;17:895---913.
22.EiserC,MorseR.Canparentsratetheirchild’shealth-related qualityoflife?Resultsfromasystematicreview.QualLifeRes. 2001;10:347---57.
23.SilvaFG,SilvaCR, BragaLB, Neto AS.PortugueseChildren’s SleepHabitsQuestionnaire---Validationandcross-cultural com-parison.JPediatr(RioJ).2014;90:78---84.