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Análise de alguns conceitos fundamentais da ética de Kant: subsídio para uma reflexão sobre ética e educação

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(1)

.--.., .

,,"". . v.

ANALISE

DE

ALGUNS

CONCEITOS

(2)

Q.\~

~\

J /

ANÃLISE

VE

ALGUNS

CONCEITOS

FUNVAMENTAIS VA

ETICA

VE

KANT.

SUBs1vIO

PARA UMA

REFLEXÃO

SO-BRE tTICA

E

EVUCAÇÃO.

Li~ete Montei~o

da Gama

PROFESSOR ORIENTAVOR:

Zilah

Xavie~

de Almeida

Te~e ap~e~entada ~omo ~equi~ito pa~

~ial pa~a

a obtenção do

g~au

de

Me~ t~e

em

Edu~ação.

R-i.o de

Janei~o

Fundação Getúlio

Va~ga~

In~tituto

de

E~tudo~ Avançado~

em

Edu~ação Vepa~tamento

de

Filo~o6ia

da

Edu~ação

1979

11

_ L_ _ _ _ __

(3)

SUMÃRIO

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

As exigências éticas atuais. A concepção de

uma ética do conhecimento científico.

Controvérsias sobre a doutrina kantiana. In

fluências recebidas por Kant: Racionalismo

e Pietismo. Os moralistas ingle~es. A

"de-marche" kantiana no tratamento das questões

éticas "

CAPÍTULO I - TEORIA DA BOA VONTADE

O valor absoluto conferido

ã

boa vontade. A

intenção moral. A boa vontade como

racional. O argumento teleologico.

vontade

A razão

pura como razão prática.

fato de razão.

O fato moral como

CAPÍTULO 11 - O DEVER INCONDICIONADO

A relação da lei

ã

vontade humana. O dever

como constrangimento. Dualismo kantiano: se

paração radical entre razão e sensibilidade

Dever de virtude e dever de direito. As

ações passíveis de julgamento moral. A

prá-tica do dever pelo dever.

na da felicidade. Análise

Crítica

ã

doutri-de ,alguns exem

pIos de ações morais. O rigorismo kantiano.

As proposições que explicitam o conceito de

dever. O respeito como sentimento moral.

111

1

21

(4)

CAPÍTULO 111 - A LEI MORAL

Crítica às generalizações psicológicas. A

objetividade ética. A determinação da vo~ tade pela representação da lei. A

univer-salidade da l e i . A noção de ser racional

em geral. Crítica de Schopenhauer. A abri

gação moral. O carater formal da lei

mo-ral. A impossibilidade de um conhecimento

total dos nossos móbiles morais. O

aprio-r1smo em relação

ã

lei moral.

CAPíTULO IV - OS IMPERATIVOS HIPOTfTICOS E

O IMPERATIVO CATEGÓRICO

A necessidade dos imperativos deve-se à 1m

perfeição da vontade humana. Os

imperati-vos hipotéticos. O imperativo categórico.

A possibilidade dos imperativos

hipotéti-cos, como prepOS1çoes analíticas. A

possi-bilidade do imperativo categórico como pr~ posição sintética a priori. O enunciado do

imperativo categórico. Suas três fórmulas.

A noção de natureza como tipo para a

natu-reza inteligível. A humanidade como fim em

Sl. Analise dos exemplos. Controvérsias so

bre a na;:ão de imperativo categórico.

CAPíTULO V - REINO DOS FINS

Noção de fim. A natureza racional como um

fim em si. O homem como sujeito moral. O

reino dos fins como natureza inteligível.

Os seres raC10na1S participam desse mundo.

Função dos membros e função do chefe no

reino moral. O acordo das vontades sob

leis comuns. O reino dos fins como um ideal

possível pela autonomia da vontade.

IV

40

48

(5)

CAPÍTULO

VI -

AUTONOMIA

E

HETERONOMIA DA VONTADE A autonomia como princípio supremo da mo

ralidade. A razao como legisladora

versal. A dignidade do homem, que

ve obediência

ã

sua própria lei. ra1s da heteronomia. Crítica aos

-so

As

p10S emp1r1cos em moral. O princípio

..

.

de-

mo-da

felicidade pessoal. A doutrina do

senti-mento moral. O conceito ontológico de pe~ feição. O conceito teológico de perfei

çao.

CAPlTULO VII - O "EM SI" E OS FENÔMENOS

Crítica ao empirismo e ao racionalismo. O

"em si" e os fenômenos. As coisas em S1

como causas dos fenômenos. As coisas em

si como incognoscíveis; a preocupaçao com

a objetividade. Objetividade e

subjetivi-dade: conci I iação. Noção de "nouneno", co

mo conceito problematico e

da razao.

indeterminado

83

89

CAPÍTULO VIII - AS IDÉIAS DA RAZÃO 99

A dedução transcendental. A metafísica co

mo uma necessidade natural do espírito hu

mano. A ilusão do conhecimento metafísico.

As idéias não são construções arbitrarias

da razao. A exigência do incondicionado

na ordem teórica. As ideías: as propr1as

-

.

categorias puras elevadas ao absoluto. A

exigência do incondicionado na ordem

pra-tica. Os usos leg1t1mos das idéias da ra-

...

,

.

zao. A dialética transcendental.As idéias

da razão: Existência de Deus, Liberdade e

Imortalidade.

V

(6)

CAPÍTULO IX - AS ANTINOMIAS DA RAZÃO PURA

Os conceitos cosmológicos. Sua dedução a

partir da tábua das categorias, As

anti-nomias matemáticas. As antianti-nomias dinâmi

caso Os interesses prático e

especulati-vo das teses. O interesse especulativo

das antíteses.

CAPÍTULO X - A LIBERDADE SEGUNDO A CRÍTICA

DA RAZÃO PURA

A liberdade como um problema cosmológico.

A terceira antinomia. A causalidade como

categoria do entendimento. A noção duma

causalidade incondicionada. A liberdade

transcendental. Os fenômenos não sao

coi-sas em si. O fundamento transcendental dos

fenômenos. Caráter empírico e caráter

in-teligível.Conciliação da tese e da antíte

se. A apercepçao nao empírica. A questão

da possibilidade lógica e da

possibilida-de real da liberdapossibilida-de. O conceito negativo

da liberdade estabelecido pela Dialética.

A liberdade prática fundada na idéia trans

cendental da liberdade. A relação prática

entre o caráter sensível e o caráter inte

ligível do homem. O conceito positivo de

liberdade. A liberdade prática ao nível

da Metodologia. A conexão entre a moral e

a felicidade. A questao da necessidade ln

terna das leis morais.

VI

. 129

(7)

CAPÍTULO XI - A LIBERDADE SEGUNDO OS FUNDAMEN

TOS DA METAF1SICA DOS COSTUMES

A liberdade como um conceito ~poditicamente

certo da razão pura prática.

A

vontade como

uma espécie de causalidade dos seres vivos.

Identidade entre a vontade livre e a

vonta-de submissa a leis morais.

A

idéia de liber

dade e o princípio da autonomia da vontade.

A identidade entre a liberdade e a moralida

de. O problema da má escolha. O princípio

da moralidade como proposição sintética. A

síntese da vontade e da razão, possível

me-diante a noção de mundo inteligível.

A

~m­

possibilidade duma prova teórica da liberd~

de. A liberdade como a única possibilidade

de pensar um ser como racional. O interesse

pela lei moral é puro e não patológico.

A

identidade entre o querer e o dever

duta moral. A distinção entre mundo

na

con-~

sens~

-vel e mundo inteligí-vel na ordem prática.

A li~erdade como uma idéia da razao e ~nco~

noscível.

CAPÍTULO XII - A LIBERDADE SEGUNDO A CRÍTICA

DA RAZÃO PRÃTICA

Resultados da Crítica da Razão Pura

impor-tantes para o estabelecimento da ordem pr~

tica. Kant retoma a idéia de liberdade

es-tabelecida nos Fundamentos. A

impossibili-dade de demonstrar a liberimpossibili-dade por via ps~

cológic~A impossibilidade de chegar

ã

ver-dadeira universalidade mediante as

genera-lizações empíricas. O uso prático da razao.

O uso imanente da razão como o único legít~

mo. A determinação objetiva do conceito de

liberdade conferido pela ordem prática. A

crítica kantiana ao emp~r~smo de Hume.

A

le gitimidade do uso prático das categorias do

VII

(8)

entendimento.

As leis

priticas.

A

crItica

ao princípio da felicidade pessoal. Os

princípios empíricos. A faculdade superior

de desejar. Distinção entre princípios f0E..

mais e princípios materiais. O primado da

lei moral. O "factum rationis". O

a1can-ce da afirmação: "Tu deves, portanto, tu

podes". A lei moral é a lei da

causalida-de pela liberdacausalida-de. Síntese da lei e da l i

herdade possível mediante a noção de auto

nomia. A lei moral como "ratio

cognoscen-di" da liberdade. A liberdade como "ratio

essendi" da lei. O mundo supra-sensível c~

mo o mundo do entendimento puro. Relação

da liberdade com o livre arbítrio e a

ne-cessidade. Crítica

à

.visa'oJ clássica de

Deus como legislador supremo.

CAPITÚLO XIII - O SOBERANO BEM E OS

POSTULA-DOS DA RAZÃO PURA PRÁTICA .

A Dialética da razão pura prática. A idéia

do Soberano Bem como objeto total da

ra-zão pura prática. Refutação da moral

clás-sica do Bem. A posição kantiana. Os

postu-lados na ordem teórica. Os postupostu-lados na

ordem prática, como condições de realiza

-ção do Soberano Bem. A realidade objetiva

conferida pela ordem prática, às idéias da

razão. O Soberano Bem como objeto da razão

prática. A sua realização corresponde a uma

necessidade da razão. A crença racional.

Os postulados da existência de Deus, da

imortalidade e da liberdade. A liberdade

postulada como tIres facti".

1:..92·

CONCLUSÃO 213

BIBLIOGRAFIA 225

(9)

RESUMO

Tendo em vista realizar um estudo reflexivo e

sistematico da proposta etica de Kant, como subsídio para

uma reflexão crítica sobre a questão etica na atualidade,

fizemos uma analise das principais obras de Kant,

perti-nentes

ã

questão. Esta analise foi apoiada por consider~

ções de autores, tidos como classicos, no estudo da

filo-sofia kantiana, visando, sobretudo, a aclarar

tos fundamentais de sua filosofia pratica.

os

concei-Tentamos seguir a evolução histórica dessa filo

sofia, detectando os conceitos em sua origem e nas cir ~ cunstâncias específicas, em que foram introduzidos no S1S

tema, o que nos esclareceu bastante a respeito de sua

na-tureza. Este metodo não foi, contudo, único, nem seguido

rigidamente, pois, uma vez que o objetivo foi esclarecer

os conceitos fundamentais da moral kantiana e suas articu

lações, para chegar, enfim, a uma visão de conjunto,

hou-ve, frequentemente, necessidade de utilizar uma obra ulte ,

r10r, para esclarecer noções anteriores. Alem disso, se o

que pretendíamos era ressaltar a unidade e coerencia do

sistema, não cabia a apreciação dos conceitos, tomados

isoladamente das diferentes obras.

Pensamos ter seguido a própria

"de.ma.Jtc.he."

do

pensamento kantiano, situando os seguintes conceitos basi

cos: a boa vontade, o dever, a lei moral, os imperativos

hipoteticos e o imperativo categórico, o reino dos fins,

a autonomia da vontade, a liberdade, o soberano bem e os

postulados da razão pratica, Alem disso, nos detivemos nas

concepçoes da Crítica da Razão Pura, que apresentavam uma

relação direta com a solução do problema etico: as antino

m1as, a distinção entre fenômenos e coisas em si

ideias da razao.

e

Seguindo esta

"de.ma.Jtc.he.",

pudemos aprender

IX

as

(10)

que julgamos o sentido essencial da proposta ética de Kant.

Ele não pretendeu fundar uma nova moral, mas buscou, para

uma questão de fato (o fato moral), um fundamento, uma JU~ tificação. Tal fundamento, Kant o encontrou na própria

ra-zão do homem. Esta é a inovação fundamental do kantismo,

no que diz respeito

ã

filosofia prática: a experiência

mo-ral é a experiência da autonomia da vontade. Momo-ral é liber

dade.

(11)

Usamos, no texto e nas referências bibliográficas,

as seguintes abreviaturas:

C R P

C R Pr

F M C

C F J

Progres Met.

D V

o

P

Critique de la Raison Pure

Critique de la Raison Pratique

,Fondemen~ de la Metaphisique des

Moeurs

Critique de la Faculte de Juger

Les progres de la Metaphysique

en Allemagne depuis Leibniz et Wolff_

Doctrine de la Vertu

Opus Postumum

(12)

CONSIVERAÇUES PRELIMINARES

Nosso interesse por esse tema foi suscitado por

uma reflexão muito ampla a respeito das exigencias eticas

atuais. Impressionada com o fato de que a etica compartilha

com o nosso tempo de uma instabilidade radical, e com as

consequencias sociais desse fenômeno, defrontamo-nos com

questoes concernentes ao relatismo e absolutismo eticos.

Pensávamos que se não houvesse um princípio objetivo como

fundamento, esvaziar-se-ia o próprio sentido da palavra

va-lor, pois o que só vale para mLm ou para alguns nao pode

ter o interesse social e humano, indispensável a qualquer

proposta etica, que pretenda satisfazer às exigências eti

-cas de uma sociedade.

Nessa ordem de preocupações, propusemonos a in

-vestigar a etica e a moral, não apenas enquanto têm sido

objeto da reflexão filosófica em todos os tempos, mas tam

bem na medida em que despertam, hoje, o interesse de cien

-tistas e epistemólogos que, apreensLvos com os rumos da

.~

.

CLenCLa, intentam recolocar a controvertida questao do huma

nismo. Por aí, pode-se depreender a complexidade da tarefa

I

que estamos nos propondo.

Em busca de um ponto de apOLO seguro para esse ti

po de reflexão, julgamos poder tomar, como referência, a

proposta etica de Kant, porque, a partir de um conhecimento

ainda precário, já nos parecia que, em Kant, a exigência

dum absoluto etico corresponde a uma rigorosa exigência de

objetividade, sem ceder a um dogmatismo comprometedor.

Pro-curamos seguLr a evolução do seu pensamento, mas detivemo

nos nas obras do chamado período crítico, em que aparece a

formulação de uma etica madura,e, segundo nos pareceu,

coe-rente com o conjunto do siitema teórico de Kant. Nosso obj~ tivo ficou, entao, face à complexidade do pensamento Kanti~

no, mais restrito. Não que desistíssemos de nos propor a

(13)

2

para 1SS0, ser1a necessário, já que optamos pelo estudo da

proposta de Kant, como ponto de referência, que

empreendês-semos uma análise cuidadosa dos conceitos fundamentais de

sua ética.

Selecionamos, tentando seguir a pr~pria

"demanehe"

do pensamento Kantiano, alguns conceitos básicos: a boa

vontade, o dever, a lei moral, os imperativos, o reino dos

fins, a autonomia da vontade, a liberdade, o soberano bem

e os postulados. Detivemo-nos também, ainda que

sumariamen-te, no estudo das antinomias, da distinção entre fenômenos

e coisas e si e das idéias da razao, que podem ser

conside-rados pressupostos para a solução do problema ético.

Buscamos segu1r a evolução hist~rica da filosofia prática de Kant, detectando os conceitos nas circunstâncias

específicas de sua emergência no sistema. No entanto, nao

segu1mos este metodo rigidamente. Face ao nosso prop~sito

de esclarecer os conceitos fundamentais da moral Kantiana ,

e suas articulações, como tentativa de chegar a uma V1sao

de conjunto, fez-se necessário, frequentemente, um estudo

mais abrangente das diferentes obras, que tratam, direta ou

indiretamente, da questão ética.

Nosso objetivo resume-se numa tentativa de estudo

literal da filosofia prática de Kant. Não vamos utilizar n~ nhum método de inserção hist~rica, ainda que reconheçamos a importância de um estudo desse tipo. Os aspecto hist~rico e objeto apenas de algumas considerações, a título

introdut~-rio.

Não nos colocamos, também, do ponto de vista de

certos pensadores, de diferentes épocas e escolas de

pensa-mento, que retomaram a doutrina Kantiana, seja para reconh~

cer· seu mérito, seja para refutá-la. Poderíamos citar

al-guns desses pensadores, que fizeram um estudo mais interpr~

tativo dessa doutrina: Fichte, Heidegger, Schopenhauer,

Herman Cohen, Hegel, Bergson, Husserl, Scheler, para nao ci

(14)

3

Sabemos que um estudo na perspectiva desses pens~

dores revestese da maior importância, quando se quer ava

-liar a influência do pensamento de Kant. No entanto, um tal

estudo extrapolaria os limites do nosso trabalho, com o

qual pretendemos apenas nos iniciar no estudo da

prática de Kant.

filosofia

Para isso, dada

ã

extrema complexidade do seu

pensamento, procuramos nos valer, nesse primeiro momento 2

do nosso estudo, das análises de alguns autores, que

apre-sentam a doutrina de Kant, visando, fundamentalmente, a

análise conceitual e

ã

coerência interna de suas obras. A

esse respeito, consideramos oportuno transcrever a

observa-ç~o de Rousset:

"O

hi~~o~iado~

da

6ilo~o6ia

que

p~e~enda

ap~e~en~a~

uma imagem 6iel

e

expli~a~iva

da

dou~~ina Kan~ia

na,

~ubme~e-~e

a

dua~ ob~igaçõe~:

duma

pa~~e, e~que~e~, ~an ~o quan~o po~~Ivel, a~ ~~an~6o~maçõe~ pó~-Kan~iana~ da~ de~ ~obe~~a~ ~~I~i~a~, a~ que~~õe~, a~ objeçõe~,

e,

~ob~e~udo

,

a~ evidên~ia~,

que

a~

6azem

apa~e~e~ ~omo in~u6i~ien~e~

ou

in~oe~en~e~;

de

ou~~a pa~~e, ~o~~e~

o

~i~~o

da banalidade,

na medida

em que

~ po~~Ivel

que

Kan~,

ao

p~eço

duma

longa

pe~qui~a

e duma

e~~olha ~evolu~ionã~ia, ~enha ~omen~e pen~a

do

~om

e~6o~ço

o que

no~

en~inou

a

pen~a~

6a~ilmen~e"3.

Afi

nal, foram muitas as inovações da crítica Kantiana que se

tornaram aquisições importantes no trabalho de cientistas e

epistemologos. Basta citar, a título de exemplo, o fato de

concebermos o conhecimento como uma construç~o devida

iniciativa do sujeito, a ideia de que o mundo conceptual

-,

a

-

e relativamente independente da realidade empírica, e, por ou

tro lado, o realce dado

ã

operaç~o sintetica da inteligên

-C1a, que permite estabelecer correlações entre o sujeito e

o dado empírico. As vulgarizações do Kantismo, na opiniao

- - 4

de Rousset, nem sempre ajudam a sua compreensao.

Em face de tais considerações, propomonos a co

-nhecer, no limite, evidentemente, do nosso estudo, o que e

Kantiano em Kant. N~o desejamos, ao menos nesse trabalho de

(15)

4

um aprofundamento que so nos será possível mediante a conti

-nuação do estudo da doutrina Kantiana, à luz de outros auto

res e de outro enfoque metodológico.

Algumas considerações gerais, referentes ao modo

como vemos a situação da ética em nossos dias, podem indi

-car o contexto no qual, inicialmente, nos situamos.

Modernamente, a concepção de uma ética subsidiária

do progresso científico e tecnológico, ao lado da generali

zada idéia de que os malefícios do progresso são o preço

inevitável dos seus benefícios, têm levantado, crescentemen

te, a questão de uma ética para o nosso tempo, que restaur

7

em toda amplitude, as interrogações básicas relativas aos

fins desse mesmo progresso, que, hipostasiado, parece ser,

cada vez mais, um fim em si mesmo. Há, inegavelmente, uma

inquietação crescente face à situação do homem no mundo

atual, subjacente ao sentimento de que deve haver uma saíd&

Tal saída é vislumbrada, sob muitos aspectos, como

reativa-çao da dimensão ética da vida humana, cuja acentuada

fragi-lidade está a exigir a busca de uma base mais sólida e

compatível com os problemas que ora Vlvemos. A preocupação.

com esta questao parece estar presente em um numero crescen

te de filósofos, cientistas e educadores.

Por outro lado, observa-se uma desconsideração da

qtiestao ética na prática científica, política e educacional

de nossos dias, que seria o indício de que nos comportamos

como se esta questao já estivesse resolvida. No entanto, o

cara ter macroscópico dos problemas que o progresso científi

co e tecnologico assume no mundo atual e, por outro lado, a

expectativa criada em torno da ciência, como capaz de res

-ponder às indagações do homem moderno, levantam a questao

da dimensão etica da ciência, como absolutamente

(16)

5

Reconhecemos, contudo, que esta é uma questao

ex-tremamente complexa. Alias, a abordagem ao problema ético

tem sido, talvez, a mais controvertida do pensamento human~

ainda que pareça haver um consenso quanto

ã

magnitude do

problema.

Ja no berço da filosofia ocidental, este é um

problema fundamental e controvertido. As grandes formulaçõ~

do pensamento grego, devidas a Platão e Aristóteles, reve

Iam ja duas possíveis abordagens, opostas em suas grandes

linhas, conquanto um estudo mais profundo pudesse detectar

certas convergências. Em Platão, a ética fundamenta-se no

conceito de Bem, como realidade última, transcendente e

paradigmatica. Em Aristóteles, o Bem ja não é transcenden

-te, mas imanente

ã

própria essência racional do homem: não

é nmime~i~n, mas plenitude de realização da essência humana. Buscando ambos a verdadeira felicidade, Platão a concebe c~ mo contemplação, enquanto Aristóteles integra contemplação

e açao, realizando a síntese dos três generos possíveis de

vida: nbio~ po.e.Ltik.o~n, nbio~ .teoJte.tik.o~n e nbio~ apo.e.au~

-.tik.o~

n .

Desde entao, a filosofia empenha-se na busca de

explicação para a realidade total, levantando o problema

dos fundamentos últimos de todas as coisas. As sínteses que

propoe não visam apenas a um fim teórico, especulativo, mas

envolvem também uma exigência pratica, servindo para a vida

na medida em que toda concepção de valores se apoia numa

visão do mundo.

A noção de valor, que assum~u grande importância

na filosofia moderna, sempre foi usada pelos filósofos,

re-cebendo diferentes nomes, como Bem, Soberano Bem,

Felicida-de, Perfeição. Para muitos, o valioso era o Racional, para

outros, relacionavase ao sentimento. Podese também afir

-mar que sempre coexistiram varios tipos de valorações, como

as valor ações éticas, estéticas e religiosas. O conceito de

valor parece bastante generico para englobar os ma~s dife

(17)

6

"ao

ab~i~

um

liv~o ~ob~e

o

valo~, n~o ~e ~abe ~e ~e~a:

1)

um

t~atado

de

teologia

ILo~~iKy);

2)

um

t~atado

de

p~ieolo­

gia

~ob~e a~ tendêneia~

e

inte~e~~e~

IR.

B.

Pe~~y);

3)

um

t~atado

de

~oeiologia

IBugle);

4)

um

t~atado

de

eeonomia

p~

lItiea

IF~. Pe~~oux);

5)

um

t~atado

de

lõgiea ILalande); 6)

um

t~atado

de

mo~al ISehele~);

7)

um

t~atado

de

6ilo~o6ia

ge~al

IR.

Polin) ou 8) um

t~atado

de

6I~iea

ge~al

IKBhle~)~5

Se alguns desses tipos de valor ações já possuem

uma delimitação precisa, tal não e o caso da etica, cujo

objeto e natureza não são ainda estabelecidos de forma segu

ra e definitiva. Atualmente, tematizam-se, nao apenas

-

as

questões de conceito, objeto e delimitação da etica, mas

ate mesmo de sua possibilidade. Nesta última hipótese,

ins-crever-se-ia, a nosso ver, a proposta de Jacques Monod, de

uma etica baseada no conhecimento científico, que

represen-taria uma proposta de supressão da valoração etica, uma

vez que o "deve~ ~e~" se prefiguraria objetivamente no domí n10 do que e, podendo, como tal, ser explicado cientifica

-mente. Diz Monod: " . . .

uma etiea do eonheeimento, que

eolo-que o eonheeimento,

em

pa~tieula~,

o da

6i~iologia

e

da

p~~

eologia

em

p~imei~o

plano,

e

ee~tamente mai~

eapaz

que

qualque~ out~a

de

6o~mula~,

não

um

g~ande ~i~tema

etieo

~ob~e

o qual

a~ ~oeiedade~ po~~am 6unda~, po~

exemplo,

um

~i~tema

polltieo,

ma~

tambem eapaz

de

6o~mula~

uma

mo~al

pe~~oal,

in6initamente

mai~

viável,

que aquela que ainda

no~

e

p~opo~ta"6.

Ora, parece haver um certo acordo, entre

os que tratam da questão axiológica, de que as ações pura

mente instintivas, ou guiadas exclusivamente pelas tendin

-cias subjetivas, sóse tornam realmente eticas, na medida

em que se ordenam segundo um conjunto de normas derivadas

de alguma instância superior. No caso de ser esta instância

o próprio conhecimento científico do homem, a questao das

normas do agir humano deixaria de pertencer ao campo da

valoração etica, para 1nscrever-se no campo da validação

(18)

I

I

1

I

,

f

I

I

I

7

Nessa linha de investigação, alguns defendem a

tese de que e possível justificar cientificamente os j u i

-zos morais, mediante a utilização da lógica e dos conheci

mentos científicos7• A questão, contudo, não e simples, e

não se pode, pois, dar uma resposta simples. Uma etica que

empregasse os conhecimentos científicos do homem e da SOC1e

dade, nem por 1SS0, teria garantido o seu estatuto de C1en-

.

-cia, haja visto todo o questionamento epistemológico de

. . - . 8

que sao alvo, hOJe, as C1enC1as humanas.

Espera-se, tambem, modernamente, que um ma10r

r1-gor nos estudos eticos advira com a conversão da etica num

estudo analítico dos conceitos morais. Na opinião de Bunge,

a analise linguística, procedendo a toda a investigação

científica, evita que

"no.ó e..xtJtavie..mo.ó

e..m

p.óe..udo-pJtob.te..ma.ó'~

Caberia

ã

etica analítica aclarar, definindo em função de

termos mais fundamentais, os predicados

"ambZguo.ó"

e "ob.óc.~

Jto.ó", que figurariam no discurso moral, tais como

"be..m" ,

"va.tio.óo", "pJte..fie..JtZve...t"

e

"de..ve..".

Teria ainda a função de

investigar em que medida

"a.ó e..xpJte...ó.óoe...ó va.toJtativa.ó

e.. infio~

mativa.ó .óão tJtaduzZve..i.ó, .óe..m pe..Jtda de.. .óignifiic.ado

e..

de..

e..fie..ito

pJt~tic.o,

e..m oJtaçõe...ó

e..nunc.iativa.ó"lO.

Tal

conversibi-lidade teria, segundo Bunge, de transformar os preceitos em

proposições verificáveis, permitindo a elaboração de uma

moral sem dogmas. Por outro lado, este procedimento levaria

ao questionamento da dicotomia entre o fato e o valor, afi~

mada por quase todos os

axi~logosll.

Diz Bunge:

"A

difie..Jte..n-ça

e..ntJte.. 'não

fiaJt~.ó x' e.. '.óe.. fiaze...ó x,

te..

Oc.oJtJte..Jt~

y'

e.. , pJt~

- - - . ,,12

moJtdia.tme..nte.., .togic.a, nao

pJtagmat~c.a

Os estudos meta-eticos estão apenas começando,

mas, segundo seus adeptos, ja estariam suscitando questoes,

que convertem em problematicos os sistemas eticos anterio

-res. Acentua-se a idéia de que é preciso fundar uma ética

-ma1S adequada ao nosso tempo, uma vez que as concepçoes do

passado são criticadas como ilógicas, dogmaticas ou senti

(19)

8

Em nossa epoca, crescem em popularidade os

estu-dos sociológicos, etnológicos e antropológicos.

Alimenta-mos a esperança de que tais estudos possam nos indicar uma

saída para a atual situaçao de crise dos valores. No entan

to, essas ciências, como ciências dos fatos, partem de

da-dos empíricos, e, embora envolvam todo um trabalho de

reconstrução conceptual, de formulação teórica, sempre vol

-tam aos fatos, como fonte última de confirmação de

hipóteses. Em seu caminho metodológico, o máximo que

suas

tais

ciências, como qualquer ciência fática, podem alcançar

sao informações fidedignas a respeito dos fatos, ou hipót~

ses explicativas fecundas para o trabalho atual dos

técni-cos ou para o trabalho ulterior da ciência. Nenhuma respo~ ta final, nenhuma indicação segura, que possa nos levar,

do fato, ao valor.

1

Nesta ordem de considerações, podemos dizer que

se existe um conhecimento ético, este não poderia ser do

mesmo genero das ciências fáticas. Seria, então, toda

teo-ria ética de ordem metafísica? Ora, sabemos a que ficou r~

duzida a metafísica depois da crítica Kantiana. Seria ne

-cessário renunciarmos

à

pretensão

à

ética, como conhecimen to? Neste caso, o que colocaríamos em seu lugar? A fé nas

religiões reveladas? Ou o fundamento racional proposto por

Kant? Preferimos esta última hipótese. Por isso,

pretende-mos empenhar-nos no estudo da ética Kantiana, para tentar

saber em que medida responde a algumas dificuldades que

encontra toda aquele que se propoe a pensar, com real inte

resse e coerencia, o problema ético.

Consideramos que o estudo do sistema ético de

Kant pode se converter num poderoso instrumento de

avalia-çao da questão ética na atualidade, na medida em que a

sua proposta ética implicaria, precisamente, a condenação

do dogmatismo, do misticismo e de seu invariável

(20)

9

No presente estudo, vamos nos deter na análise

dos conceitos éticos que aparecem nas obras posteriores a

1871, que evidenciariam as conquistas propriamente críti

-cas, sem nos reportarmos às obras consideradas pré-críti

caso

Para a realização desse estudo, nao podemos

dei-xar de considerar as influências que se exerceram sobre o

pensamento de Kant, como também não podemos negligenciar a

propria personalidade do filósofo, pois, nele, parece ter

existido um acordo profundo entre o homem e o filósofo. É

comum estabelecer-se uma estreita conexão entre as

concep-ç~es teoricas e as disposiç~es pessoais do filosofo. Qual teria sido o traço dominante de sua personalidade?

"PaJl.e.c.e.,

cUz Bou-tJl.oUX, que. 60-i.. uma d-i...6po.6-i..ç.ã.o a.6e. daJl. a .6ua

pJl.O-pJz.-i..a le.-i.. e. a

c.on.6~de.Jl.aJl.

uma -tal le.-i.. -i..nv-i..oláve.l e. .6agJl.ada.

lnde.pe.ndên~a, ind~v~duai-i...6mo,

i-i..óe.Jl.dade. in-te.Jl.ioJl., e.,

ao

me..6mo -te.mpo, Jl.e..6pe.-i..-to, ne.c.e..6.6idade., c.ul-to

ã

le.-i..; o

un-i..ve.Jl.-.6al no -i..nd-i..v-i..dual: e..6-te. c.aJl.á-te.Jl. .6e. e.nc.on-tJl.a. e.m -todM

M

man~

6e..6 -taç. õe..6 da

a-t~v-i..

dade. de.

K

an-t. N M

9

Jl.an de..6, c.o mo

nM

pe.que.na.6 c.o-i...6a.6, al-i..a a Jl.e.gJl.a

ã

i-i..be.Jl.dade., a. d-i...6c.-i..pi-i..na

ã

. - " 14

e.manc..<.pa.ç.ao •

Kant rompeu com o dogmatismo teologico e

metafí-sico, mas so o fez

ã

custa dum grande esforço de reflexão, do qual resulta uma nova versao do conhecimento. Às conclu

s~es céticas de Hume, contrapõe .uma nova teoria do conheci mento, que permitirá a legitimação da ciência. Às ilusões

da metafísica tradicional, contrapõe a única via possível

para a solução dos problemas metafísicos: a via prática.

Com efeito, a ambição de Kant teria sido a de legitimar a

metafísica, fundando-a em novas bases. Ao empreender tal

projeto, ele recusa o método tradicional da metafísica, r~ jeita a metafísica dogmática. Mostrando que o conhecimento

não pode ultrapassar os limitis duma experiência possível,

Kant nega a possibilidade da metafísica como conhecimento.

No entanto, defende a idéia de que, se não é possível co

(21)

I

I

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1

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I

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J

I

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!

j

I

10

mediante as próprias conclusões da Crítica da Razão Pura,

tornou-se viável o projeto de fundar a metafísica na razão

prática. É mediante essa via prática, e não pelas luzes da

razão especulativa, que o homem pode afirmar a existência

de Deus, a liberdade e a imortalidade da alma.

Nessa busca de solução para os problemas éticos,

Kant mostrou-se receptivo às idéias do seu tempo, não para

adotá-las passivamente, mas para avaliá-las em

profundida-de.

"Ele. plLome.t-ta., d-tz BlLun.6ehtüeg, .6e.1L O Sha.6te..6buILY

a.le.-- H • ,,15

ma.o,

O

ume. plLu.6.6-<..a.no

.

Durante um certo tempo, ele rece

beu, de fato, a influência da doutrina do

".6e.nttme.nto mo

-1La.-t"

d a e s c o 1 a in g I e s a. P o de - se, a q u ~, a p r e e n d e r, t am b é m ,

a i n f 1 u ê n c i a d e c i s i va das i d é i as d e R o u s s e a u: "

Eu e.1La.,

d-t

z

Kant, eulL-to.6O

e.

áv-tdo de.

e-têne-ta.;

eoloea.va. ne.la. a honlLa. do

home.m,

e.

de..6plLe.za.va a. ple.be. -tgnolLa.nte.. Rou.6.6e.a.u eha.mou-

me.

ã

olLde.m: En.6-tnou-me. a. ne.gl-tge.ne-ta.1L uma. va.nta.ge.m va.

e.

a.

eo-loea.1L na. bonda.de. mOILa.1 a. ve.lLdade.-tILa. d-tgn-tda.de. do home.m.

RoU.6.6e.a.u 60-t, de. a.lguma. 601Lma., o Ne.wton da. olLde.m mOILa.I;

de..6eoblL-tu, no e.le.me.nto mOlLal, o que. 6a.z a. un-tda.de. da.

na.tu-ILe.Za. humana; da me..6ma. 601Lma. que. Ne.wton e.neontlLou o

plL-tne[-p-to que. un-t6-tea. e.ntlLe.

.6-t

toda..6

a..6

le.-t.6

da na.tulLe.za

6[.6-tea.

Além d-t.6.6o te.ve. a.

-tdé-ta.

de. que.

a..6

vonta.de..6 pode.m

e.

de.ve.m

a.g-t1L uma..6 .6oblLe. a..6 outlLa..6, que. 0.6 home.n.6 de.ve.m tlLa.ba.lha.1L

pa.lLa .6ua. e.duea.ção mútua.

A

v-tlLtude., de..6de. e.ntão, não

e.

mU.6 eoloeada. na. pe.1L6e.-tção -tnd-tv-tdua.l, ma..6 na..6 jU.6ta..6 1Le.1a.

çoe..6

e.ntlLe. 0.6 home.n.6,,16.

Kant situou, aqui, os pontos

pr~~

cipais da influência que recebeu de Rousseau. Vivamente im

pressionado com a Profissão de Fé do Vigário Saboiano, ad~

ta a doutrina do sentimento moral. Mas foi por pouco tempo.

Ao refletir sobre os problemas da especulação e da práti

-ca, segundo as inspiraçoes rousseaunianas e empiristas, le

vadas ao extremo por Hume, era inevitável, como observa

(22)

11

com a segurança do dogmatismo, mas no quadro mesmo de uma

teoria cética do conhecimento. Rousseau referese ã cons

-ciincia como a um instinto divino, colocando-se

"na linha

da

mZ~tlca c~l~tã,

em

que a

con~clêncla e~tã

acima

da

lel"19.

Ora, segundo Kant,

"o

p~lmado

da

con~clêncla,

abo-lindo a lei, acaba

po~

de~

t~ul~

a

p~õp~d.

mo~al

"20 •

r:

preciso que a sinceridade da consci~ncia seja confirmada '

pela pritica efetiva das aç~es morais. Em Rousseau,

"a

con~clêncla,

gula ln6alZvel do lndlv[duo, a autonomia,

p~lncZplo

adequado do

e~tado, apa~ecem

completamente

exte-~o~e~

uma

ã

out~a, ~enão lncompatZvel~.

Kant

a~

6unda,

uma e

out~a,

na

lnte~loMdade

da

pe~~oa

mo~al

...

"21. Recon duz a vontade individual ã vontade geral, mediante a obe

-diincia'a mesma lei da razão.

r:

enquanto individual que a

vontade se submete ã lei. f enquanto universal que é 1egi~

1adora.

Quando Kant contrapõe,ã doutrina de Rousseau, a

afirmação da supremacia da lei, confere

ã

moral um

conteú-do de racionalidade. Mostra-se, assim, fiel ao espírito conteú-do

seu tempo: ã razão caberia a síntese final de todo o s a

-ber.

Kant presencia a luta empreendida, em sua época,

pelo racionalismo e pelo pietismo co~tra a ortodoxia do ensino reinante. Ambos combatiam, por motivos diferentes,

o tipo de ensino reinante, dogmático e estreito, a

esteri-lidade das discussões teo16gicas, a corrupção nas idéias e

nos costumes. Segundo De1bos,

"o

~aclonall~mo

que havia to

mado

ã

6llo~061a

e

ã

ciência

mode~na~ ~ua~ ln~pl~aç~e~

e

~ua~ tendêncla~ ge~al~,

tinha, 61nalmente,

encont~ado,

na

dout~lna

de

Lelbnlz,tal como 601

~l~tematlzada po~

Wol66

um 6undo

de

ve~dade~ ~egu~a~; manl6e~tava

a

p~eten~ão

de

~ub~tltul~

ã

e~colã.~:t.lcaJalnda

em

hon~a na~ UnlveMldade~,

um conjunto

~go~o~o

de

conceltob

cla~o~, do~ qual~ ~o

a

~azao ~e~a

o juiz, e que, metodicamente

o~denado~,

expll-ca~a todo~ o~ objeto~

da

cu~lo~ldade

humana,

a~~lm

como

(23)

~

i

I

;

I

i

I

J

,

i

I

j

1

i

J f J

!

I

j

I

~

,

!

I

1

1

J

,

j

f

I

12

o pietismo, no esforço para renovar o protestantismo

luterano, procura despertar a fe, mediante a prática da reli

-giao, como experiência subjetiva, vivida em profundidade

e nao ma~s traduzida em atos duma religiosidade apenas ex-terior. Ambos, pietismo e racionalismo, pretendiam, pois

combater o tipo de ensino vigente, mas, nem por isso, est~ vam imbuídos dos mesmos propositos. O pietismo, buscando o

revigoramento da fé cristã, tornava-se, por vezes, até hos

'1 d d I ' · ~. 23 . .

t~ aos pro utos a cu tura c~ent~f~ca • O rac~onal~smo

ao contrário, exaltando a ciência, desconfiava da invoca

-ção religiosa e das exigências duma vida voltada para o so

brenatural. Kant viveu, desde o in!cio, o antagonismo e~ -tre o ideal racionalista contido nos ensinamentos de LeibÚz

e Wo 1 ff ,e .0 i d e a 1 r e 1 i g i o s o d o p i e tis mo. E s s a s i tua ç ã o de controversia e antagonismo imprime su.as marcas na evolução

do seu pensamento.

Devido à peculiaridade da sua concepçao de razao,

Kant, mesmo convencido de que so o racionalismo pode fun

-dar a certeza, reconhece a insuficiência do seu método. Ma

nifestando a tendência cr!tica do seu pensamento, opos- se

às demonstraç~es 40gmáticas da escola wolffiana:

ã

sua pretensão racionalista de um saber inteiramente independen

te da"experiência, contrapoe a concepção de que, sem a

experiência, nao há conhecimento. A busca do fundamento da

ciência, como da moral, deve partir dos fatos, ainda que

tais fatos tériham de ser esclarecidos

ã

luz da razao.

r,

pois, a partir do fato da ciência. do fato moral

'

..

que

Kant empreende a sua obra cr!tica.

No que diz respeito

ã

questao moral, ele parte

dos julgamentos morais que os homens emitem n. vida comum,

para buscar, a seguir, os seus princ!pios. Esclarece,

con-tudo~ que nao se trata, aí, dum fato empírico, mas do fato

único da razão. Não é como os homens agem moralmente, mas

como julgam moralmente. Esses julgamentos morais repousam

em noçoes a priori, que Kant pôde deduzir dos elementos es

(24)

13

moral, há certos resultados da Crítica da Razão Pura que e

preciso levar em consideração. Um deles é a restrição do

nosso conhecimento ao limite duma experiência possível. Ne

gando a possibilidade do conhecimento dos objetos

supra-sensíveis, Kant denuncia o caráter ilusório da metafísica

clássica, que pretendia, justamente, conhecer estes obje

-tos. Mostra também que a ordem da natureza é regida pela

lei da causalidade mecânica. Exclui, portanto, da série

dos acontecimentos naturais, qualquer possibilidade dum

ato livre, único que poderia ser qualificado moralmente.

" E.6

t

e..6 ne..6

u.tt a do.6,

d.i

z

B

o

utn

o

ux,

.6

ã.o mui t

o

9 na

-ve..6 pana a mona.t, ponque. a.6

noçõe..6

mona-l.6 Qomun.6

pane.Qe.m

ne.que.ne.n pne.Qi.6ame.nte. e..6te..6 obje.to.6 .6upna-.6e.n.6Ive.i.6,

Qujo

Qonhe.ume.nto no.6

é.

ne.QU.6 ado; admitindo-.6

e.

Ve.u.6

>

a

.tibe.nda-de.

e.

a imonta-fidade., dã-.6e. Qonta da obnigaçã.oJda .6ançao

mo

na.t, do aQondo da vintude.

e.

da óe..tiQidade.. Ma.6

.6e.

e..6te..6 ob

je.tO.6 .6ã.o inQogno.6Qlve.i.6,

o

óundame.nto da mona.t

n~o

pode.

-nia

.6e.n

.6e.nã.o

o

.6e.ntime.nto,

e.

nã.o um Qonhe.Qime.nto,

e.

a

mo-na.t .6enia,

ent~o,

e.6.6e.nQia.tmente. mI.6tiQa

e.m

.6e.u

pninQlp~o

1 + ,,24 b . .

e.

.6ua

uon-1..e.

.

Ora~ sa emos o quanto Kant reJe1tava o

misticismo e a iluminação, que não cessou de denunciar nos

h . . - . S h d b 25 I ·

son os do V1S10nar10 c we en org . Por outro ado, a1nda

segundo o resultado da Crítica da Razão Pura, não se

pode-r1a fundar a moral na natureza, porque esta só poderia

le-var a uma moral do êxito, da felicidade pessoal, da

utilidade, não do dever e da obrigação que supõe um agente li

-vre.

A saída desse 1mpasse, que permitiria fundar a

moral na razao e nao no sentimento, ou na natureza, evitan

do, também, o erro da metafísica dogmática, ser1a a concek

çao duma razao pura prática, que nao estaria,como a razao

técnica, limitada a raciocinar sobre objetos dados, mas

que seria, pelas representações, causa dos seus objetos. A

moral seria, pois, o produto da razão pura. Daí, o

proble-ma prático colocado por Kant e ao qual julga ter dado uma

resposta positiva: a razão pura pode, por si mesma, ser

(25)

14

Em busca da solução deste problema, Kant adota

certos procedimentos metodo15gicds. ~artindo do fato moral, não segue o metodo psicol5gico, uma vez que nao está

inte-ressado em explicar como os fatos morais se produzem na

consciência. Ora, o metodo psicol5gico não levaria a nada

alem disso, uma vez que se detém na investigação dos pro

-cessos psíquicos reais, ou seja, da gênese psicologica de

certas noções. Kant, ao contrário, quer analisar o

conteú-do objetivo das noções morais até encontrar um fundamento,

um princípio explicativo. Ao lado deste procedimento,

bus-ca, sinteticamente, deduzir, destas noções gerais e de

seus princípios, noçoes menos gerais, que se refiram

dire-tamente ao fato dado, ou seja, ao fato moral. Segundo

Boutroux, nos Fundamentos da Metafísica dos Costumes, Kant

adota ainda um outro procedimento, que se poderia chamar

dedução hipotetica: esta consistiria em se propor,

hipote-ticamente, u,m! princípio, deduzir dele as consequências, e,

em seguida, confrontá-las com a realidade dada26. Kant

te-ria proposto, dessa forma, o conceito de boa vontade, como

condição necessária e suficiente do valor moral. Deste con

ceito, deduziu a idéia de dever, ao definir a boa vontade

como a von tade de agl. r por de ve r.

Kant an ali s a, a se gui r, a ideia de deve r, e

mos-concei to implica

-.

de ob ri gação moral,

tra como es te a noçao

ou seja, da obediência a uma lei que cons i de ramos ab s o lu ta,

mas

ã

qual, entretanto, não obedecemos necessariamente. A identidade entre a vontade e a lei seria privilégio apenas

de seres puramente racionais, não se podendo, neste caso,

qualificar a necessidade do ato moral como um dever. Nos

seres humanos, nos qual.S

ã

racionalidade se associa a sensibilidade, a obediência

ã

lei da razão é um constrangi mento, uma obrigação. Mas não se trata, aqul., duma

obriga-ç

ã

o imposta p e I o t e m o r , mas ditada pelo respeito. A p r e s e n ça da lei no ser humano engendra, pois, o respeito.

Kant estabelece, assim, que a vontade obedece a

(26)

15

ou por interesse. É prec1so que, interiormente, a vontade

esteja de acordo com a lei, que seja, p01S, uma boa

vonta-de . Como nos seres raC10na1S finitos, a vontade nao

.

.

é

boa necessariamente, a lei moral torna-se, neste caso, um imp~

rativo.

Kant rejeita as mora1S da heteronomia, porque,

nestas, o acordo das vontades só pode se dar mediante a

busca do prazer ou da felicidade ou mesmo do bem como obj~ to de intuição. Com efeito, os gregos concebiam a moral,

de certa forma, como uma arte, destinada a completar, pela

ação, a obra da natureza. O homem virtuoso seria sábio o

bastante para nao se contrapor

ã

ordem natural. A sabedo-r1a era, entao, o caminho da virtude, e a virtude, o me10

de alcançar a felicidade. Em Kant, ao contrário, há uma

separação entre a ordem natural e a ordem moral, entre o

conhecimento, limitado

ã

espera fenomênica, e a moral, que

penetra a região dos "noumeno~". O princrpio da moral Kan-t i an a c on Kan-t r a r i a, Kan-t a mb

é

m , a m o r a I c r i s t

ã,

cu j o mo d e I o

é

a perfeição divina: "~ede pefT..6ei:to~

c.omo

vo~~o

Pai

c.ele~:te

e

pefT..6ei:to".

"E

c.omo o homem, ab andonado

a~ ~

UM

pfT..ÔpJz.iM

6ofT..ç~,

é

impo:ten:te pafT..a fT..ealizafT..

e~~a

:tafT..e6a, a

fT..eligião

lhe pfT..ome:te o

~Oc.OfT..fT..O

da gfT..aça.

O

6undamen:to da monal

c.ni~

:tã

é,

pon:tan:to,

Veu~,

c.omo 6im e c.omo meio.

Em

Kan:t,

ao

c.on:tnãnio,

Veu~,

o

inc.ogno~c.Zvel,

não pode

~efT..

o

6undamen-:to da monalidade.

O

pon:to de pan:tida da mOfT..al não pode

~e

enc.on:tnafT..

~enão

na pfT..ôpJz.ia fT..azão. MOfT..al

é,

nec.e~~aJz.iamen

-:te,. au:tonomia".

27

Contrapondo-se a todos os sistemas anteriores de

moral, Kant chega, aSS1m, ao princípio supremo da moralida

de, o princípio da autonomia da vontade. Culmina, aqu1, o

seu esforço de análise, que o levou a definir os conceitos

básicos de seu sistema prático: o dever, a lei moral, o 1m

perativo categórico, a liberdade, a autonomia.

No entanto, a questão crucial não parece ter

S1-do ainda resolvida: a questão da própria possibilidade do

(27)

proble-16

mãtica crítica da justificação dos juizos sintéticos a

pr10r1. Com efeito, os princípios da moralidade são

sinté-ticos a priori. são a pr10r1, porque universais e

necessã-r10S. são sintéticos, porque pretendem unir "noç~e~ hete~o

gênea~,

eomo a da vontade

e da lei, do

~nd~v~dual

e

do

un~ve~~al

( ...

J

o que não

~e

eoneebe

~enão med~ante

uma

ope~açao

~i.ntê.üea

da

intel~9ne~a"28.

Kant não poderia, seguindo como até aqui, o método analítico, chegar

ã

solu-ção desse problema. Recorre, então, ao método sintético.

Afirma como real o que, antes~ era tido como problemático, ou seja, a realidade da liberdade:

"Todo

~e~,

que não pode

a9~~ ~enão ~ob

a

~dê.~a

de

l~be~dade,

ê.,

po~ ~~~o me~mo,

do

ponto

de

v~~ta

p~ã.t~eo,

~ealmente,

l~v~e

"29;"

a

l~be~­

dade

ê.

~eal, po~que e~ta i.dê.~a man~6e~ta-~e

pela lei. mo

~al"30.

O conceito de

1iberdade~

que permanecia ao nível da Crí ti ca da Razão Pu ra, como inde te r.min ado e p rob 1 emá

ti-co, uma simples idéia reguladora da razão, adquire, graças

ã

lei moral, uma realidade objetiva. A lei moral é a ratio

cognoscendi da liberdade, e esta é a ratio essendi daquela.

Essa passagem do método analítico ao método

S1n-tético teria sido legítima? Ou Kant não chegou jamais a

resolver a questão da possibilidade do imperativo categóri

co, e, pois, da moralidade, entendida como um sistema de

juizos a priori? Teriá tido mais sucesso se tivesse recor-31

rido ao método histórico, como pretendem ?lguns? Ou

se-ria mais exato tentarmos compreender o problema tal como

Kant o colocou? Se o problema histórico é, com efeito, o

problema colocado por alguns moralistas a1emãB~ como

Hartmann, Paulsen, não é certamente, o de Kant. Ele nao

quer saber como e porque os fatos são produzidos; chega

mesmo a dizer '~u~, ainda que um ~nico ato moral não tives-se jamais tives-se efetuado, a questão moral continuaria sendo

legítima. O problema que Kant coloca é o da busc~ do funda mento dos julgamentos morais. Este não e um problema histó

r1CO. Como não é psicológico, nem metafísico no sentido

(28)

17

c.oe/tênc.ia

e

a unidade do.6 no.6.6 0.6 julgamento.6".

Após analisar, em toda sua pureza, as idéias

mo-rais, Kant estabelece as suas condições de realizaçao: os

postulados da razao prática. Mediante estes postulados,

pretende reafirmar os objetos da metafísica tradicional: a

existência de Deus, a imortalidade da alma e a liberdade.

No entanto, nenhum dogmatismo da antiga metafísica

subsis-te. Fiel aos 'res~ltados da Crítica da Razao Pura, Kant es-tabelece que, no domínio prático, o saber deve dar lugar

ã

crença, a uma crença fundada numa necessidade da própria razao. Se a ~xistência de Deus, a imortalidade e a liberda de nao podem ser conhecidas, podem, no entanto, ser

pensa-das: sao Idéias da razao.

Os postulados sao as condições de realizaçao do

Soberano Bem; proposto como termo da vida moral.

Pretendemos seguir Kant nesta "dema/tc.he" que va1 da análise da boa vontade até

ã

doutrina do Soberano Bem e dos postulados, que restabelecem, mediante a própria críti

(29)

I

i

I

J

I

I

I

i

I

I

18

REFERENCIAS BIBLIOGRÃFICAS E NOTAS

1 - Evidentemente, não pretendemos dar conta deste projeto

de estudo duma só vez. ~ um trabaiho a ser feito em muitas etapas. O tema desta dissertaçao é apenas uma

de las.

2 - Entre eles, podemos citar Delbos, Emile Boutroux, Rous

set, Ferdinand Alquié, Giles Deleuze, Philonenko, em

cujas análises apoiamos mais diretamente o presente es

tudo.

3 - Rousset, Bernard. La Doctrine Kantienne de l'objectivi

té. Paris, J. Vrin, 1967, p. 11.

4 - Ib i d. p. 11.

5 - Ruyer, Raymond. La filosofia deI valor. México, Fondo

de Cultura, 1969, p. 8.

6 - Monod, J~cques. A ciincia, valor supremo do homem. Pa-ris, Raison Prisent, nov./dec., 1967 . .

7 - Cf. Bunge, Mario. Etica y Ciencia. Buenos Aires, Siglo

Veinte, 3 ed, 1976, p. 13.

8 - Cf. Foucault, Michel. As palavras e as coisas. Lisboa,

Portugalia, 1966, cap. 10.

9 - Bunge, ep, cit, p. 18.

10 - Ibid, p. 18.

11 - Cf. Macintyre, A1asdair. Historia de la Etica. Buenos

(30)

19

12 - Bunge, op, cit, p. 18.

13 - Ib i d, p. 12.

14 - Boutroux, ~mi1e. La phi1osophie de Kant. Paris, J.

Vrin 1965, p. 273.

15 - Brunschwicg. L'idée critique et 1e systeme Kantien,

in Revue de Métaphysique et de Mora1e. Paris,

Armand Co11in, 1924, p. 166.

16 - Kant. Observations sur 1e sentiment du beau e du

su-blime. Paris, J. Vtin 1970.

17 - Brunsc w1Cg. op. cito p. 167. h J.

18 - Ibid. p. 167.

19 - Ib i d. p. 168.

20 - Ibid. p. 168.

21 - Ibid. p. 169.

22 - De1bos, Victor, in Fondements de la métaphysique des

moeurs. Introduction. Paris, De1agrave, 1969, p. 3 e

4.

23 - Cf. Ibid. p. 4.

24 - Boutroux, op. cito p. 291 e 292.

25 - Kant. Reves d'un Visionnaire. Paris, J. Win, 1967

26 - Cf. Boutroux. op. cito p. 298.

(31)

20

28 - Boutroux, op. cito p. 303.

29 - Fondements. op. cito p. 183.

30 - Kant. Critique de la Raison Pratique. Presses, 1971,

p. 2.

31 - Cf. M. Ruyssen. Revue de Metaphysique et de Mora

1e. Paris, Co1in, 1898.

(32)

21

CAPTTULO

I

TEORIA VA BOA VONTAVE

A doutrina da boa vontade

é

exposta no início do texto da primeira seçao dos Fundamentos da Metafísica dos

Costumes. Kant a considera uma verdade fundamental, que

estaria inteiramente contida na consciência comum. A boa

vontade, diz ele,

é

a ~nica coisa boa sem restriçio, neces sária para tornar bons todos os dons, tanto materiais,

quanto espirituais. Todo homem, segundo Kant, julga

moral-mente, e o objeto deste julgamento é a boa vontade, cUJa

idéia estaria presente no julgamento comum dos homens.Kant

-nao estabelece, pois, teoricamente, este conceito, mas ap~ nas evoca a pureza de intençio, que constitui a própria e~ sência da boa vontade, que a consciência comum segue como

regra, para julgar moralmente, tanto os talentos do espíri

to, quanto os dons da fortuna, e, até mesmo, as qualidades

da alma. l Hã, assim, um valor incondicionado na boa

vontade, que se define pela bondade de nossa disposiçio inter

-na, independente da consideração de qualquer fim que o

homem se proponha.

'!O que 6az com que a boa vontade

~eja

tal não

~ão ~ua~ ob~~

ou

~eu~ êxito~,

não

é

~ua

aptidão

pa~a atingi~ e~te

ou aquele

6im

p~opo~to;

é

~omente

o

que-~e~,

ou

~eja;

é,

em

~i

me~ma,

que

ela

é

"boa".2

Nio

é

abso-lutamente pela utilidade ou inutilidade das ações que se

pode julgá-la. Mesmo se a boa vontade fracassa, permanece

inteiramente boa, pois, em se tratando da boa vontade, tr~

ta-se, ao mesmo tempo, do emprego de todos os meios

dispo-níveis para o seu êxito, e, neste caso, o seu possível fra

casso decorreria independente da vontade do sujeito. A

intenção permanece, pois, o elemento característico da

mo-ralidade. Mas esta tem de ser uma firme intenção, que

su-põe sempre o esforço dirigido

ã

realização do ato que a traduz. É evidente que Kant não pretendeu isolar a inten

- ~ 3

(33)

22

uma pura intenção é essencial

ã

vontade, para que esta

se-ja considerada boa sem restrição, não basta, contudo, para

defini-la.

"(O) valon

ab~olu~o

da boa

von~ade,

como

não

no~ ~n~noduz

numa monal

de

~~mple~ vele~dade

ou

monal

de

nac~l~dade. E~ta ~upo~~~ão

dum

nnaca~~o

da

~al,

numa

boa

von~ade,

de

v~do

a

c~ncun~ ~â.nua~ ex~en~one~,

nã.o

é

~

enao

um

mé~odo

de

'anáU~e, de~tinado

a

no~ mo~~nan

que o valon

. - " 4

-monal

ne~~de, un~camen~e,

na

~n~en~ao. A boa vontade nao

se confunde com o simples desejo, mas exige o emprego de

todos os meios que estiverem em nosso poder; se, apesar

disso, a boa vontade fracassa, é evidente que o valor mo

ral do ato não se altera, pois

a pureza de intenção.

o que decide deste valor é

Segundo Alquié, há um aspecto obscuro na teoria

Kantiana da boa vontade, na medida em que Kant não teria

esclarecido se a reflexão sobre os meios que levariam a

escolha do mais adequado

ã

sua realização, estaria também

/ - 5

-inclu~da na açao moral. No entanto, o proprio Alquie, que aponta a dificuldade, a esclarece: "ne~~e ca~o,

não

neca~­

nZamo~

numa monal

u~~U~á~a, ~n~elec~ual,

do cálculo, que

e,

ev~den~emen~e,

o que

Kan~

quen

ev~~an?"6

Kant não exclui da moralidade o estudo e a escolha dos meios, mas não a

reduz

ã

maior ou menor sagacidade nesta escolha. A

morali-dade não pode ser referida a alguma coisa que lhe seja

ex-terior. Kant rejeita, não apenas ,uma moral subordinada

ã

inteligência e aos conhecimentos, mas ainda a idéia de que

a virtude possa estar relacionada a uma ordem de perfeição

intuitivamente apreendida pela razão. Rejeita também a

idéia de uma moral utilitária, que relaciona a vontade aos

fins. A vontade não pode se relacionar, moralmente, senao

sua disposição interna, dependendo apenas do puro querer.

Para esta idéia do valor absoluto da boa vontade,

afirmada a partir da consciência comum, Kant busca uma pr~

va e um fundamento. A prova é dada mediante o argumento t~

leológico. A natureza delegou

ã

razão o governo de nossa

7

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