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Sentimentos e Significados do Processo de Produção e Comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: Um Estudo Etnográfico Sobre Artesãos do Alto do Moura Em Caruaru-Pe

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Academic year: 2017

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

Sammara de Lima Cordeiro

Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura

em Caruaru-PE

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Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a monografias do Mestrado de Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

- "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;

- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia.

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de Administração.

Título da dissertação:Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura em Caruaru-PE

Autora: Sammara de Lima Cordeiro

Data da aprovação: 18/06/2015

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3

Recife, 18 de Junho de 2015

Sammara de Lima Cordeiro

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Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura

em Caruaru-PE

Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA da Faculdade Boa Viagem - DeVry Brasil, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Auxiliadora Diniz de Sá.

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Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem - DeVry, Recife/PE

C794a Cordeiro, Sammara de Lima.

Sentimentos e significados do processo de produção e comercialização da arte figurativa do Mestre Vitalino: um estudo etnográfico sobre artesãos do Alto do Moura em Caruaru - PE / Sammara de Lima Cordeiro – Recife: FBV | DeVry, 2015. 147 f. : il.

Orientador(a): Maria Auxiliadora Diniz De Sá.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade Boa Viagem | Devry.

Inclui apêndice.

1.Arte figurativa. 2. Mestre Vitalino. 3. Cultura popular. I. Título.

DISS 658[15.2]

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Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

Sentimentos e Significados do Processo de Produção e Comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino: Um Estudo Etnográfico sobre Artesãos do Alto do

Moura em Caruaru-PE

Sammara de Lima Cordeiro

Dissertação submetida ao corpo docente do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA da Faculdade Boa Viagem –

DeVry Brasil e aprovada em 18 de Junho de 2015.

Banca Examinadora:

__________________________________________________________________________________ Maria Auxiliadora Diniz de Sá, Doutora, Faculdade Boa Viagem – FBV (Orientadora).

__________________________________________________________________________________ Luís Carvalheira de Mendonça, Doutor, Universidade Católica de Pernambuco (Examinador Externo).

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Aos que dominam a arte de fazer bonecos, aos artesãos do Alto do Moura que, por suas mãos, expressam a poesia, a beleza da arte, a essência da vida e sua paixão através da simplicidade do barro. Transformando sua narrativa de vida a expressão mais singela do seu povo.

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À minha orientadora, Professora Maria Auxiliadora Diniz de Sá, sensível, ética e apaixonada por sua profissão, que me ensinou e orientou com suas correções e sabedoria. Por seu direcionamento, por não tolher, em momento algum, minha liberdade de pensamento. Pessoa a quem devo todo o apoio para a conclusão desse trabalho.

À Professora Lúcia Maria Barbosa de Oliveira e ao Professor Luís Carvalheira de Mendonça por compartilharem experiências, apontando novos rumos para esta pesquisa.

Ao meu esposo Josimar Farias Cordeiro, amigo de todas as horas, obrigada pelo respeito, pela atenção e pelo amor. Obrigada por estar sempre ao meu lado, me indicando o melhor caminho e apoiando-me na busca dos meus sonhos.

Aos meus filhos, Ana Luiza Cordeiro Ramos, Sammir Farias de Lima Cordeiro e Sammia Maria Farias de Lima Cordeiro, por serem filhos maravilhosos, compartilhando comigo todas as dificuldades, as ausências e carências; obrigada, Deus, pelo presente que me deste nessa vida: meus FILHOS.

Aos meus pais, Tiago Cordeiro de Melo e Maria Eliete de Lima Cordeiro, pelos valores inseridos em minha essência, pelos ensinamentos de toda uma vida.

Aos meus irmãos Sheilla Cordeiro Mota, Allan Jorge de Lima Cordeiro e Nayara de Lima Cordeiro, que sempre estiveram ao meu lado; em especial, Sheilla, por suas orientações sobre o mundo acadêmico e sobre a vida.

À minha cunhada linda Joana Darc Costa Cordeiro, pessoa linda que amo como irmã, possuidora de valores únicos.

À minha concunhada Amanda Freitas Basílio que me recebeu em sua casa todos os finais de semana, por meses, sempre me aguardando com palavras de carinho e sincera amizade; e à Joyce, sobrinha linda que fazia um cuscuz delicioso para a tia.

Aos meus sobrinhos(as) Sofia, Katharina, Joyce, Julia, Laura, Arthur, Otávio e Guilherme, pelo carinho que sempre demonstram.

À Valdenice Maria da Silva, minha ajudante fiel, cujo trabalho competente, amor e respeito aos meus filhos me fizeram conseguir chegar à conclusão dessa trajetória.

Às amigas Kilma Galindo, Julia, Luciana e Patrícia Lapa pela diversão, pelas conversas na estrada, pelas risadas que transformavam os momentos de dificuldades em horas de lazer. Obrigada pela presença constante.

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"Era mais importante que eu aprendesse a usar as minhas mãos do que a minha cabeça. Na minha terra, as mãos produzem comida, a cabeça só produz confusão”.

(10)

O artesanato é uma prática que pode ser observada sob o ponto de vista histórico, econômico, social e cultural. Seu desenvolvimento se traduz como fonte de riqueza e renda, além do expressivo valor cultural que dele surge. O artesanato, sob o ponto de vista da Arte Figurativa do Mestre Vitalino, assume uma nova conjuntura, atrelando em seu arcabouço, valores, sentimentos e significados inerentes a esse tipo de arte. Neste sentido, este trabalho foi realizado com o objetivo de verificar quais sentimentos e significados são percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino. Adotou-se uma abordagem qualitativa, utilizando-se do método etnográfico. Para a coleta dos dados primários, foram feitas 14 entrevistas por pauta e observação direta não participante, sendo estas realizadas junto aos artesãos da família de Zé Cabloco, discípulo direto de Mestre Vitalino. A observação se deu de forma aleatória, ao passo dos acontecimentos. As informações obtidas foram tratadas por meio da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977). Os resultados obtidos demonstram que a Arte Figurativa do Alto do Moura e o Mestre Vitalino são fontes de admiração por parte desses artesãos que parecem ter sentimentos de afinco e realização pelo desenvolvimento de sua obra. Quanto ao significado dessa produção e comercialização, ele se traduz em termos de sobrevivência e reconhecimento do artista que são. Finalmente, no que se refere à oportunidade, produzir e comercializar essa arte representa, para esses artesãos, uma continuidade dessa tradição, mesmo que isto represente uma luta perante a ordem do mercado: importante se faz garantir a sua sobrevivência com o passar das gerações.

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The craft is a practice that can be seen from a historical, economic, social and cultural point of view. Its development translates as a source of wealth and income, in addition to the significant cultural value that it arises. The craft from the point of view of the Master Vitalino Figurative Art, takes on a new juncture, tying in its framework, values, feelings and meanings inherent in this type of art. Thus, this study was conducted in order to verify what feelings and meanings are perceived by artisans of the Alto do Moura, in Caruaru-PE, in the production process and marketing of Figurative Art of Mestre Vitalino. A qualitative approach was adopted, using the ethnographic method. To collect the primary data, they were made 14 interviews by staff and direct non-participant observation, which are held with the artisans of the family of Joe Cabloco, direct disciple of Master Vitalino. Observation was made randomly, while the events. The information obtained was processed through Content Analysis (Bardin, 1977). The results demonstrate that the High Figurative art Moura and the Mestre Vitalino are admiration sources by these artisans seem to have hard feelings of accomplishment and the development of his work. As for the significance of production and marketing, it translates in terms of survival and recognition of the artist they are. Finally, when it comes to opportunity, produce and market this art is for these artisans a continuation of this tradition, even if it represents a struggle before the market order: important to make ensure their survival over generations.

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Imagem 1 – Mestre Vitalino e família 41 Imagem 2 - Distância entre Alto do Moura e centro de Caruaru 42

Imagem 3 – Mestre Vitalino extraindo o barro 43

Imagem 4 – Mestre Vitalino modelando o barro 46

Imagem 5 – Ferramentas utilizadas por Mestre Vitalino 47

Imagem 6 – Os Retirantes 49

Imagem 7 – Lampião 50

Imagem 8 – Cangaceiro a cavalo 51

Imagem 9 - Cangaceiro 51

Imagem 10 – Delegacia de polícia 51

Imagem 11 - Cangaceiros 51

Imagem 12 – Emboscada 51

Imagem 13 - Retirantes 51

Imagem 14 – Enterro na roça 52

Imagem 15 – Noivos a cavalo 52

Imagem 16 - Dentista 52

Imagem 17 – Médicos e paciente 52

Imagem 18 – Agricultor trabaiando na roça 52

Imagem 19 – Vitalino e seus filhos fazendo bonecos 53

Imagem 20 - Engraxate 53

Imagem 21 – Boi 53

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Imagem 25 – Ceia 54

Imagem 26 – Cambiteiro 54

Imagem 27 - Tropeiro 54

Imagem 28 – Homem tirando leite 55

Imagem 29 – Carro de boi 55

Imagem 30 – Violeiros 55

Imagem 31 – Entrada do alto do Moura 66

Imagem 32 - Primeiros passos com o barro – Filho de Mestre Vitalino 89

Imagem 33 - Parque de diversões do Alto do Moura - I 100

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Foto 1 - Ambiente comercial da artesã - Maria do Socorro Rodrigues da Silva 75 Foto 2 e 3 - Ambiente de produção do artesão - José Fábio Nogueira da Silva 76 Foto 4 - Momento da produção, artesã - Carmélia Rodrigues da Silva 77

Foto 5 - Reprodução de peças do Mestre Vitalino 92

Foto 6 - Antônio Rodrigues da Silva- artesão 102

Foto 7 - Maria do Socorro Rodrigues da Silva - artesã 102

Foto 8 - Marliete Rodrigues da Silva– artesã 103

Foto 9 - Horácio Rodrigues da Silva – artesão 107

Foto 10 - Helena Rodrigues da Silva – artesã 108

Foto 11 - Marliete Rodrigues da Silva – artesã 108

Foto 12 - Paulo Rodrigues da Silva – artesão 109

Foto 13 - Emerson Nogueira da Silva – artesão 110

Foto 14 - Maria do Socorro Rodrigues da Silva – artesã 114

Foto 15 - Horácio Rodrigues da Silva – artesão 115

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Figura 1 - Resumo das características da pesquisa 62

Figura 2 - Desenho das etapas da pesquisa 64

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IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional FENEART Feira Nacional de Negócios do Artesanato

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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Quadro 1 - Decomposição de signos em seu significante e significado 57 Quadro 2 - Representativo das categorias e subcategorias 80

Quadro 3 - Classificação por artesão pesquisado 81

(18)

Gráfico 1 - Resultado geral por categorias 84

Gráfico 2 - Resultado da categoria - Admiração 86

Gráfico 3 - Resultado da categoria - Sentimentos 98

Gráfico 4 - Resultado da categoria - Significados 106

(19)

Apêndice A - Ficha de observação não participativa 132

Apêndice B – Roteiro básico de entrevista por pauta 133

Apêndice C - Categorização e subcategorização 134

Apêndice D - Percentual das unidades de significados 145

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RESUMO ABSTRACT

LISTA DE IMAGENS LISTA DE FOTOS LISTA DE FIGURAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE QUADROS E TABELAS LISTA DE GRÁFICOS

I - INTRODUÇÃO --- 20

1.1 Contextualização do problema --- 20

1.2 Objetivos da pesquisa --- 24

1.2.1 Objetivo geral --- 24

1.2.2 Objetivos específicos --- 25

1.3 Justificativas da pesquisa --- 25

1.3.1 Justificativa teórica --- 25

1.3.2 Justificativa prática --- 26

II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA --- 28

2.1 Um olhar através da cultura --- 28

2.1.1 Cultura popular e artesanato --- 33

2.2 Vitalino Pereira dos Santos e a Arte Figurativa --- 37

2.2.1 Arte Figurativa do Mestre Vitalino --- 46

2.2.2 Mestre Vitalino e sua obra --- 48

2.3 Sentimentos e significados de artesãos --- 54

III - METODOLOGIA DA PESQUISA --- 60

3.1 Características da pesquisa --- 60

3.2 Desenho da pesquisa --- 62

3.3 Lócus da pesquisa --- 64

3.4 Sujeitos da pesquisa --- 67

3.5 Técnicas de coleta dos dados --- 73

3.6 Processo de coleta dos dados --- 74

3.7 Limites e limitações da pesquisa --- 78

3.7.1 Limites da pesquisa --- 78

3.7.2 Limitação da pesquisa --- 79

(21)

4.1.1 Subcategorias: origem, exemplo e aprendizagem --- 83

4.1.1.1 Subcategoria: aprendizagem --- 84

4.1.1.2 Subcategoria: exemplo --- 89

4.1.1.3 Subcategoria: origem --- 94

4.2 Categoria – Sentimentos --- 96

4.2.1 Subcategorias: afinco e realização --- 96

4.2.1.1 Subcategorias: afinco--- 97

4.2.1.2 Subcategoria: realização--- 100

4.3 Categoria – Significados --- 104

4.3.1 Subcategorias: sobrevivência e reconhecimento --- 104

4.3.1.1 Subcategoria: sobrevivência--- 105

4.3.1.2 Subcategoria: reconhecimento --- 110

4.4 Categoria – oportunidade --- 111

4.4.1 Subcategorias: continuidade positiva e negativa --- 112

4.4.2 Subcategorias: valorização e inovação --- 117

V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES --- 119

5.1 Recomendações --- 123

5.1.1 Recomendações de novos estudos --- 123

5.1.2 Recomendações de melhoria para o processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino 124 5.2 Melhorias estruturais --- 124

5.2.1 Quanto à aprendizagem --- 124

5.2.2 Quanto à valorização do artesão--- 125

REFERÊNCIAS --- 126

APÊNDICES --- 131

Apêndice A: Ficha de observação não participativa 132

Apêndice B: Roteiro básico de entrevista por pauta 133

Apêndice C: Categorização e subcategorização 134

Apêndice D: Valores das unidades de significados 145

(22)

I ___________________________________________________________________________

INTRODUÇÃO

Este capítulo traz, inicialmente, uma contextualização sobre os aspectos que possam inferir no desenvolvimento da Arte Figurativa junto aos artesãos do Alto do Moura em Caruaru – PE. Após o delineamento do presente estudo, apresenta-se o problema de pesquisa e, em sequência, os objetivos e as justificativas deste trabalho.

1.1 Contextualização do problema

A cidade de Caruaru localiza-se na mesorregião Agreste Pernambucano, microrregião Vale do Ipojuca e é tradicionalmente reconhecida como referência da cultura popular, pela existência da Feira de Caruaru, lugar de encontros culturais significativos, sendo estes a expressão viva da cultura local. Também é conhecida como o centro de convergência entre cordelistas, tocadores de pífanos, artesãos do barro, da madeira, das ferragens, entre outros, tornando esse um espaço ideal para venderem seus produtos e mostrarem sua arte (BAPTISTA, 2006). O mesmo autor afirma que a feira projeta o artista, levando seu trabalho para o Brasil e para o mundo. Esse ambiente, “[...] tornou-se, pouco a pouco, um grande cenário aonde os criadores populares vieram mostrar sua criatividade artística e seus produtos, divulgá-los, vendê-los e, da Feira, se irradiaram para o Brasil e para o Exterior” (BAPTISTA, 2006, p. 67). Diante deste cenário, a Feira de Caruaru ocupa um espaço bastante significativo para o desenvolvimento dessa Cidade. A Feira de Caruaru fica localizada no Parque 18 de Maio, considerada pelo IPHAN1 - como um Bem Cultural, na categoria lugares, como sendo um ambiente de memória, de continuidade de saberes, de produtos e expressões artísticas tradicionais.

1 IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional\ REG. N.01450.002945\2006-24\ Data do

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A Feira de Caruaru agrega diversas outras feiras em suas proximidades: Feira de Artesanato - referência comercial para se escoar a produção dos artesãos do Alto do Moura e das regiões circunvizinhas; da Sulanca – representativa em termos de comercialização; livre; de importados; de frutas e verduras, dentre outras.

O Alto do Moura, local igualmente importante para a cultura dessa cidade, localiza-se a 7 km do seu centro comercial; seu nome reporta-se ao antigo proprietário português, chamado Moura “[...] dono das terras circundantes, que mostram algumas elevações geográficas. Assim, as pessoas se referem ao lugar como o Alto do Moura” (BAPTISTA 2006, p. 20).

O ambiente trata-se de um espaço representativo de manifestações da cultura popular, desde longas datas; a sua expressão tem origem na cerâmica figurativa e na sua arte. Inicialmente, a produção do barro acontecia em pequenas olarias de propriedade familiar, que produziam, basicamente, louças de uso doméstico. Era uma atividade peculiar à figura feminina, cabendo aos homens a função de colocar as peças no forno e, depois, no lombo do cavalo para conduzi-las à feira (2010).

Segundo esse mesmo autor, ao longo do tempo, a relação próxima entre mães e filhos favoreceu-lhes o aprendizado do manuseio do barro; assim, as crianças modelavam bichinhos e brinquedos que eram vendidos juntamente com a produção dos pais.

Nesse contexto, surgiu Vitalino Pereira dos Santos, nascido em 1909, em Ribeira dos Campos, distrito do Município de Caruaru - PE. Desde cedo demonstrou habilidade ao manusear o barro e aos seis anos de idade já aproveitava as sobras de argila2 deixadas por sua mãe, para criar figuras de pequenos animais. Sua produção também era vendida na feira de Caruaru juntamente com os itens produzidos por sua mãe (COIMBRA, 2010).

Em 1946, Vitalino estava casado e já tinha seis filhos, quando saiu de Ribeira dos Campos para morar no Alto do Moura, integrando-se, assim, ao cotidiano dos artesãos desse local. Sua inserção nessa comunidade foi relevante, pois logo chamou a atenção pela maneira como manuseava o barro. Sua característica principal era os bonecos isolados ou em pequenos

2 Argila – “As argilas são rochas de origem sedimentar, resultantes da alteração e decomposição de rochas

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agrupamentos. Essa nova dimensão na produção do artesanato, naquele momento, causou uma transformação na forma de produzir da comunidade artesã, onde antes a elaboração de peças estava direcionada à produção de utensílios domésticos, passa então a admirar a arte que reproduzia cenas singelas do cotidiano, surgindo com isso a Arte Figurativa no Alto do Moura (COIMBRA, 2010).

O dom, aliado à sua simplicidade e vocação para ensinar a todos que se interessassem pela sua arte, fez com a que a permanência de Vitalino produzisse uma verdadeira revolução naquele meio, levando-o, inclusive, a criar uma escola, que mais tarde teria vários seguidores (MARTINS, 2012).

Esse mesmo autor afirma que foram esses seguidores ou discípulos do Mestre Vitalino que, reproduzindo a Arte Figurativa por meio do barro, deram continuidade ao legado deixado por ele. Atualmente, eles são identificados como artesãos de primeira, segunda e terceira geração, caracterizados em função de sua origem. Aqueles da primeira geração aprenderam pelas mãos de seu idealizador, já aqueles da segunda e terceira geração aprenderam a arte com os artesãos da primeira geração.

Na construção desse universo, o estimulo, a solidariedade e a colaboração entre os artesãos também foram deixados como ensinamentos pelo Mestre Vitalino; também o sentimento de troca de experiências, de reprodução de uma tradição que estimula novas invenções e oportunidades (MARTINS, 2012).

Nesse contexto, pode-se observar a importância do estudo da cultura para o desenvolvimento do artesanato no Alto do Moura. Barreto (2003, p.43) descreve que ela “constitui elemento vital não apenas para alicerçar alternativas econômicas e sociais, mas especialmente, para a manutenção da memória de um povo”.

(25)

Quando se trata de cultura popular, entende-se ser todo processo de democratização entre todos os homens, independentemente da raça, credo, cor, classe, profissão e origem; assim, fazer cultura popular é, antes de tudo, um ato de amor (MACIEL, 1978, p.143).

No cerne dessa questão, a democratização da cultura é vivenciada por seus artesãos, no Alto do Moura. Atualmente, nessa comunidade, percebem-se duas correntes: a primeira, denominada tradicional, que resistindo às imposições estabelecidas pelo mercado, permanece em constante processo de inovação, garantindo, assim, o desenvolvimento de novas peças e agregando valor à sua imagem. Tem-se projetado no mercado e ganho prêmios em feiras de representação social, como é o caso da FENEARTE3.

Já a segunda corrente absorve a influência da demanda do mercado, produz em quantidade e guarda sempre as mesmas características em cada peça artesanal, não contribuindo, assim, para o desenvolvimento e a continuidade da Arte Figurativa do Alto do Moura. Essa geração produz as chamadas “dondocas” ou “africanas”, que são bonecas feitas de barro com características regionais, que segundo Martins (2012), estão concentradas nas mãos da reconhecida terceira geração, embora não exclusivamente.

Essa demanda de mercado é fonte de preocupação entre os artesãos da primeira geração, sobretudo por ser considerada uma ameaça à continuidade da arte tradicional do local, que desde sempre vinha sendo responsável pelo fluxo comercial no Alto do Moura; também pelo fato de que essa produção pode ser considerada em série, ou seja , não passando pelo processo de criação, fato este que, segundo os tradicionais, não se caracteriza como arte.

Esse duelo entre os artesãos não somente tem dividido a comunidade em duas esferas: os tradicionais e os artesãos de terceira geração (MARTINS, 2012), mas também se secciona em termos de sentimento e significados do trabalho: identificar a interação do artesão com o barro e depois com a arte a que produz, faz parte de uma realidade cultural da qual o primeiro grupo pertence.

3

FENEARTE – Feira Nacional de Negócios do Artesanato, em 2012 chegou a sua 13ª edição, como sendo a maior da América Latina. Estima-se um público de 312 mil pessoas, ocupando uma área de 29.000 m², com 800 estandes e mais de 5.000 expositores vindo dos 26 estados brasileiros e de 40 países. A feira é muito importante para os artesãos, pois é durante evento que eles têm a oportunidade de mostrar seu trabalho e de movimentar financeiramente sua arte. http://www.artesanatodepernambuco.pe.gov.br/. Acesso em: 27 de março de 2015.

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Sabe-se que o trabalho normalmente deve gerar nos indivíduos sentimentos e significados únicos, por ser ele capaz de favorecer uma relação de transformação (TOLFO e PICCININI 2007). Neste sentido e de maneira específica, aos que produzem arte, certamente devem-se atribuir características distintas quanto ao seu produto, às suas técnicas, à sua forma de comercialização e, até mesmo, aos seus sentimentos e significados sobre cada peça construída.

Assim, sendo o Alto do Moura um espaço de contemplação da cultura popular, onde a criação, produção e comercialização da arte figurativa acontecem, pode-se imaginar, em termos de sentimentos e significados, como se comportam os artesãos de primeira linha, exatamente aqueles que produzem arte por tradição e referência cultural. Neste sentido, surge a seguinte questão para esta pesquisa: quais sentimentos e significados são percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE, no processo de produção e comercialização da

Arte Figurativa do Mestre Vitalino?

Para responder a essa questão, na seção seguinte estão estabelecidos os objetivos gerais e específicos desta pesquisa.

1.2 Objetivos da pesquisa

Depois de delineado o problema do presente estudo, apresentam-se os objetivos geral e específicos, na intenção de chegar às respostas aos questionamentos propostos.

1.2.1 Objetivo geral

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1.2.2 Objetivos específicos

I. Analisar a importância da Arte Figurativa do Mestre Vitalino, para os artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE.

II. Identificar sentimentos percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

III. Levantar significados percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

IV. Investigar oportunidades de crescimento profissional percebidas por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru – PE, no processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino.

1.3 Justificativa da pesquisa

1.3.1 Justificativas teóricas

Verifica-se que o estudo sobre cultura e cultura popular, na comunidade do Alto do Moura, em Caruaru – PE, converteu-se em um tema de estudo, na medida em que serão publicados resultados desta pesquisa, referentes, em primeiro lugar, aos valores, sentimentos e significados de artesãos, até então desconhecidos pela sociedade local e nacional; em segundo, ao processo de produção e comercialização da Arte Figurativa do Mestre Vitalino, atualmente também conhecido internacionalmente, desde que algumas de suas peças foram expostas no Museu do Louvre, em Paris, na França.

(28)

concernentes à dança, às artes, à literatura, ao cinema, ao teatro, à televisão, dentre outros. Sendo assim, este trabalho vem ressaltar um dos acervos culturais deste país.

Finalmente, ressalta-se, ainda, que este trabalho pode contribuir também para a divulgação de elementos culturais nordestinos, em tempo de globalização, quando se sabe que uma das características do povo brasileiro é valorizar aspectos materiais e imateriais provenientes de outros povos, fenômeno esse conhecido por ‘estrangeirismo’.

Sendo assim, Reis (2007) reforça o desenvolvimento de estudos desta natureza, ao afirmar que a cultura local torna-se importante por sustentar valores que não podem ser esquecidos; do contrário, poderá existir o empobrecimento da cultura popular.

Lamentavelmente, percebe-se a falta de interesse em investir, preservar e divulgar a cultura popular, não somente por parte de instituições governamentais, mas também de particulares, diferentemente do que normalmente acontece em países desenvolvidos (SODRÉ, 1976). Nesse caso, trabalhos científicos, como este, podem alertar a sociedade contra o culto ao estrangeirismo.

Outra análise que justifica esse estudo refere-se à produção de conhecimentos sobre sentimentos e significados do trabalho, por tratar-se de um tema pouco pesquisado, segundo o levantamento de referências aqui efetuado; mais ainda: por tratar da arte e das relações comerciais dessa comunidade estudada, avaliando em termos de perspectivas de futuro ou continuidade, em uma perspectiva de projeção profissional para gerações atuais e futuras.

Da mesma forma, pode-se confirmar que, em se tratando dos temas: cultura e Arte Figurativa do Mestre Vitalino, sentimentos e significados da produção e comercialização, não se encontrou qualquer referência científica; sendo assim, este trabalho vem colaborar com a academia, no sentido de gerar conhecimentos dessa ordem.

1.3.2 Justificativa prática

(29)

das práticas artesanais da comunidade em estudo, além disso, contribuir para a perpetuação da arte figurativa especificamente.

Historicamente, o processo de aprendizagem é repassado através das gerações, esse processo pode sofrer consequentes desgastes pela falta de incentivos socioculturais. Sabendo-se que a cultura está inteiramente ligada ao grupo na qual está inSabendo-serida, o estudo sobre estes aspectos possui relevância social, podendo conduzir a apontamentos ou indicadores que impulsionam a proteção ao patrimônio cultural, além de gerar emprego e renda à comunidade na qual está inserida.

Por fim, justifica-se o presente trabalho, pelo fato de buscar investigar sentimentos e significados percebidos por artesãos do Alto do Moura, em Caruaru-PE. Consequentemente, o estudo da cultura dessa comunidade pode contribuir para o desenvolvimento social e econômico dessa comunidade, no sentido de entender os valores e sentimentos como elementos adjacentes à produção e valorização econômica e produtiva, que são aspectos associados à perpetuação dessas práticas artesanais do ponto de vista da manutenção econômica das famílias que ali atuam.

A abordagem prática se faz pela oportunidade de colaborar com a comunidade estudada, fazendo com que a mesma tome conhecimento sobre os aspectos relevantes do processo de produção e comercialização das peças artesanais, no que tange a continuidade do trabalho, ficando propício o estabelecimento de estratégias ou ações, para o desenvolvimento de oportunidades ao setor.

Como diagnóstico se verifica a cultura do artesanato local, integrando alguns setores produtivos, tais como: o comércio e o turismo. Sendo este um fator que favorece a comunidade local pelo fluxo de turistas que existe, incentivando o consumo dos produtos regionais locais.

(30)

II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta as temáticas que irão dar sustentação teórica ao presente estudo. Em sua primeira seção, estão reunidos conceitos que tratam sobre cultura e a cultura popular. Na segunda seção, serão abordados aspectos fundamentais para a pesquisa, sendo estes o Mestre Vitalino e a Arte Figurativa. Já na terceira seção, serão trazidos aspectos inerentes aos sentimentos e significados de artesãos.

2.1 Um olhar através da Cultura

Ao se discutir o tema desta abordagem que versa sobre um olhar através da cultura, busca-se analisar os contextos que dizem respeito ao âmbito desta dissertação. Com isso, coloca-se que não se pretende encerrar a discussão sobre cultura, e sim alinhar o entendimento sobre a questão, buscando enriquecer as referências que fornecem a base desta pesquisa. Também se constitui como foco deste capítulo a variação temática que trata sobre cultura popular do ponto de vista de sua representatividade, enquanto expressão artística, objeto relativo ao estudo desta dissertação.

A palavra cultura possui a origem etimológica que remonta ao verbo latino colere que, na Roma antiga, está diretamente ligado ao trabalho agrícola e ao cultivo da terra. O termo evoluiu ainda na própria Roma, passando à ideia de cultivo da natureza humana (SANTOS, 1983).

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termo Kultur ao referir-se aos aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que a palavra francesa civilisation referia-se às realizações materiais de um povo (LARAIA, 2009).

O conceito de cultura que mais apresenta destaque no final do século XVIII e princípio do século XIX foi desenvolvido principalmente por filósofos alemães e pode ser visto como concepção clássica do termo. Segundo Thompson (1995, p. 170), “Cultura é o processo de desenvolvimento e enobrecimento das faculdades humanas, um processo facilitado pela assimilação de trabalhos acadêmicos e artísticos ligados ao caráter progressista da era moderna”.

Edward Tylor sintetiza o conceito na palavra em inglês culture, a qual corresponde a aspectos sociais da espécie humana, alterando seu foco para as crenças, costumes, artes, leis, moral, capacidade e hábito. Essa dimensão fornecida por Tylor marca o caráter de aprendizagem, surgindo, assim, o conceito formal ou científico de cultura. Edward Tylor (1917, apud LARAIA, 2007) é o primeiro a conceituar o termo cultura no sentido antropológico, isto é, “a reconstituição da história de povos ou regiões particulares e a comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis” (LARAIA, 2007, p. 35).

De acordo com Thompson (1995, p. 173), a concepção descritiva de cultura pode ser definida como: “O conjunto de crenças, costumes, ideias e valores, bem como os artefatos, objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de um grupo ou sociedade”.

O conceito de cultura possui muitas definições que variam conforme seus autores e seus contextos. Contudo, é importante colocar que alguns aspectos que a caracterizam definem a relação existente entre o indivíduo e sua linguagem, representando a capacidade que o homem possui de aprender e relacionar as coisas de seu cotidiano ou de sua historicidade.Assim, cita Schein (2009, p. 8), ao dizer que “Nesse sentido a cultura está para o grupo como a personalidade ou caráter está para o indivíduo”.

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Esse pensamento foi contemplado por Schein (op. cit., p. 7):

A cultura como conceito tem uma história longa e diversificada. Ela tem sido usada pelos advogados como uma palavra para indicar sofisticação, como quando dizemos que alguém é muito “culto”. Tem sido usado pelos antropólogos para referir-se aos costumes que as sociedades desenvolvem no curso de sua história. Nas últimas décadas, tem sido usada por alguns pesquisadores organizacionais e gerentes, para se referir ao clima e às práticas que as organizações desenvolvem ao lidar com as pessoas, ou aos valores expostos e ao credo de uma organização.

A cultura proposta possui um sentido diversificado, sendo absorvido pelos indivíduos de acordo com o aprendizado o qual os indivíduos se propõem conhecer. Dessa forma, a cultura apresenta-se em constante evolução, criando novos grupos que criam novas culturas (SCHEIN, 2009). Assim, a cultura pode ser considerada algo inovador pela sua capacidade de evoluir e conquistar novos grupos. De acordo com Schein (2009, p. 8), “[...] cultura como conceito é uma abstração, mas suas consequências comportamentais e atitudinais são, de fato, muito concretas”.

Santos (1996) afirma que a produção cultural, independente de seu meio de expressão, ocorre através da ação humana sobre as coisas ou obras, de modo individual ou coletivo, em um determinado espaço de tempo. Contudo, pode-se afirmar que a produção cultural, seja ela geral ou específica, caracteriza a realidade social por meio de manifestações populares e/ou eruditas. A cultura popular se reporta aos valores provenientes do povo, sendo os traços assimilados por meio do convívio social, ou seja, os costumes, hábitos, comportamentos e saberes que se transmitem de geração para geração; enquanto a cultura erudita aparece intimamente ligada à arte, sugerindo um aspecto nobre no conceito de cultura. O mesmo autor chama atenção quando afirma que:

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Sendo assim, torna-se possível entender cultura como uma derivação de um conjunto comum de preocupações que pode ser localizada em duas concepções básicas coerentes com a visão do autor supracitado: sua primeira remete a todos os aspectos de uma realidade social, e a segunda se refere especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo, portanto, toda produção cultural se dá através da ação humana sobre coisas ou obras realizadas pelo homem, individualmente ou em grupo, em um determinado espaço-tempo. Desse modo, podemos entender, em um sentido mais amplo, que a produção cultural, de forma global ou regional, caracteriza a realidade social.

Em ciências sociais, a Cultura também é definida como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais aprendidos de geração em geração, através da vida em sociedade e podendo ser considerada como uma variante da herança social da humanidade (BRANDÃO, 2009). Quanto à herança social da humanidade, cita Brandão, quando descreve a cultura quanto a seus costumes.

Culturas são panelas de barro ou de alumínio, mas também receitas de culinária e sistemas sociais indicando como as pessoas de um grupo devem proceder quando comem. São vestimentas de palha ou de pano acompanhadas de preceitos e princípios sobre modos de se vestir em diferentes situações sociais e rituais. São mapas simbólicos que guiam participantes de um mundo social entre seus espaços e momentos. Nossos corpos, atos e gestos são visíveis como expressões de nossos comportamentos. Mas o sentido do que fazemos ao agir em interações com os outros somente é compreensível mediante as culturas de que fazemos parte (BRANDÃO, 2009, p. 719).

De acordo com Sampaio (2003), a percepção sobre cultura que vigora na atualidade é aquilo que os homens criam, dá sentidos, atribuem uma identidade, compreendem e transformam de acordo com a sua realidade. Enquanto na opinião de Sasaki (2006), a cultura possui intensidade e está diretamente ligada ao mote social, sendo assim, só há cultura porque existe sociedade e vice-versa.

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O mecanismo adaptativo pode ser considerado pelas ciências sociais a principal característica da cultura. Esta característica explicaria o fato de que os indivíduos têm que responder ao meio de acordo com a sua mudança de hábitos. A perspectiva sobre cultura desenvolvida por Levy Strauss aponta que cultura é:

Um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais (LEVY STRAUSS, 1976 apud LARAIA, 1986, p. 62).

Considerando a abordagem do autor supracitado, no que tange à cultura como um sistema simbólico, observa-se a afirmativa de Spinola (2006) que corrobora com ideia de cultura como algo “multissignificado”. O termo possui relação com o conceito sobre cultura apresentado pelo campo antropológico, quando a cultura se concebe de forma mais ampla, interagindo com toda e qualquer criação humana, real ou simbólica e que também expressa o modo de vida em meio às expressões artísticas e midiáticas.

Nesse contexto, considera a cultura também como um mecanismo cumulativo pela qual as modificações são trazidas por uma geração e passam à geração seguinte, construindo um processo, transformando, perdendo e incorporando outros aspetos com o objetivo de melhorar a convivência entre as gerações. Pode-se dizer que, à medida que as referências de um passado afloram, fazem surgir conceitos que conduzem à ideia de resistência e inovação, nesse sentido, surgem as tradições e os costumes. Segundo Hobsbawm (1984, p. 10):

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A esfera da cultura é um domínio dos símbolos, estes, por sua vez, têm a capacidade de apreender e relacionar as coisas. Neste sentido, o homem é um animal simbólico e a linguagem uma das ferramentas imprescindíveis que define sua humanidade. Não existe, portanto, sociedade sem cultura, da mesma maneira que linguagem e sociedade são interdependentes. Os universos simbólicos “nomeiam” as coisas, relacionam as pessoas, constituem-se em visões de mundo (ORTIZ, 2007).

Com base nos conceitos sobre cultura e sua relação com a sociedade, apresenta-se a seguir o tema adjacente a este, que é a cultura popular e o artesanato como manifestações da expressão participativa e ativa do povo.

2.1.1 Cultura popular e o artesanato

Ao analisar aspectos que circundam a cultura popular e sua inserção nas comunidades, não se pode deixar de preconizar a distinção que é feita entre cultura erudita e cultura popular. Essa dicotomia foi bastante analisada em outros tempos, quando a cultura erudita com sua homogeneidade era apresentada como sendo uma cultura letrada, cultura acadêmica ou cultura dominante; ao passo que a cultura popular com sua heterogeneidade recebeu em outras épocas e ainda recebe nomes como: antiguidade, tradições, folclore, cultura primitiva, cultura iletrada, cultura subalterna, entre outras denominações. Ao se reconhecer essa distinção, entende-se que o fato se dá pelo reconhecimento dos desníveis sociais (BRANDÃO, 2009).

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ao homem e sua submissão são questões muito presentes nas obras produzidas. Dessa forma, Mestre Vitalino contribuiu para o desenvolvimento da cultura local, colaborando também com o desenvolvimento da cultura popular, sendo esta expressa através do artesanato.

Quando se pensa em cultura popular, pode-se falar em identidade e na relação do indivíduo consigo mesmo, com os outros e no contexto no qual está inserido. Essa relação dinâmica diferencia o indivíduo e sua cultura em detrimento das demais culturas, tal como observado por Santos (2004, p. 237) quando afirma:

A cultura popular tem raízes na terra em que se vive, simboliza o homem e seu entorno, encarna a vontade de enfrentar o futuro sem romper com o lugar, e de ali obter a continuidade, através da mudança. Seu quadro e seu limite são as relações profundas que se estabelecem entre o homem e o seu meio, mas seu alcance é o mundo.

Nesse contexto, entende-se que o indivíduo inserido em sua comunidade não rompe com o grupo, mas sim enfrenta o futuro em conjunto. A cultura popular aí inserida pode ser analisada assumindo uma postura política, e é com base nessa reflexão que se podem observar aspectos relevantes ao estudo do tema, tais como: tradição e transformação. Temas aparentemente opostos, mas que dentro do contexto se completam. Para corroborar com o assunto, cita-se Canclini quando afirma:

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Dessa forma, a cultura popular é todo processo de democratização da cultura visando neutralizar a distância e o desnível entre as duas culturas por meio dos homens, independentemente de raças, credo, cor, classe, profissão, origem, entre outros (MACIEL, 1978).

Assim, a cultura popular surgiu como um conjunto de ideias e práticas inovadoras que integram os homens e suas interações pessoais. Das várias culturas que emergem no contexto social, a cultura popular vem ganhando força e respaldo, conseguindo se sobrepor até à cultura de massas, sendo isto decorrente da globalização, baseada no território, no trabalho e no cotidiano. Suas formas típicas se dão devido aos baixos níveis de técnica, de capital e de organização (SANTOS, 2001). De acordo com o mesmo autor, a cultura de massa não tem, ao contrário da cultura popular, força para fixar-se.

Neste contexto de cultura popular em destaque, inclui-se o artesanato como uma das formas de manifestação popular. O artesanato possui uma grande força na construção da identidade local, fazendo os grupos parte dessa identidade, definindo-os ou situando-os no conjunto social (CUCHE, 1999).

Na tentativa de conceituar o artesanato, existe a pesquisa da educadora Maria Sônia Madureira de Pinho, que identificou em seu artigo “Produtos artesanais e mercados turísticos” (2002, p. 171-172), três tipologias de artesanato contemporâneas, que são: o “artesanato popular genuíno”, que se pode falar em qualidade, identidade e mercado consumidor; os “trabalhos manuais”, cuja mão de obra se apresenta menos qualificada, visando apenas a uma fonte de renda e, por fim, o “industrianato”, em que o produto artesanal é alvo do processo de massificação e “souvenirização”. Os três segmentos artesanais apresentados pela autora são operacionalizados em seu trabalho de consultoria junto a diversos grupos de artesãos no Brasil. De acordo com Lima, o processo de produção do artesanato é construído da seguinte forma:

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processo produtivo e o modo como o artesão se posiciona na rede de relações sociais que se estabelece no interior da sociedade em que vive irão determinar diferentes artesanatos (LIMA, 2005, p. 1-2).

Dessa forma, pode-se considerar que a diferença entre um produto artesanal e outro industrial está em termos de método e foco. O artesanato nasce de um conjunto de conhecimentos construídos por diferentes povos ao longo de muitas gerações. As gerações, quando orientadas para sucessão da arte, geram manutenção da identidade local e carregam consigo uma expressão cultural única inerente à sua comunidade. Dessa forma, pode-se dizer que o povo constrói sua própria cultura, ele preserva suas criações traduzidas de vivências do cotidiano, representando simbolicamente em suas criações. Essa cultura projeta-se através da cultura popular. Diante do apresentado, cita-se Estevam (1978, p. 41):

A cultura popular somente é totalidade quando se transforma em um processo que permita a livre expansão desta complexa rede em que se articulam, em interseções ricas e variadas, motivos subjetivos e possibilidades objetivas, propósitos de grupos e paixões individuais, meios disponíveis e finalidades ambicionadas. [...] Em uma palavra, a cultura popular deve ser a expressão cultural da luta política das massas, entendendo-se por essa luta algo que é feito por homens concretos, ao longo de suas vidas concretas.

Outro aspecto a ser chamada a atenção seria a atuante presença dos jovens contemporâneos, que utilizam a música como manifestação de sua cultura, a exemplo de grupos de hip-hop, que expressam através de suas músicas diversos problemas sociais vivenciados pelas comunidades nas quais estão inseridos. Para corroborar com essa linha de pensamento, cita-se Honneth (2003, apud, ALVES, 2009, p. 47):

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culturais vão apresentar. Isso traduz o sentido da expressão muito repetida por jovens participantes do hip-hop: “periferia é periferia em qualquer lugar”. Estas expressões / representações culturais não estão presentes apenas nas formas discursivas, mas também nos estilos próprios destes jovens, destacando-se a forma de vestir a musicalidade e atitudes que vão de encontro aos modelos convencionais de sua época.

Assim como a luta pode ser expressa através da música, ela também pode surgir através da Arte Figurativa. Representações de conflitos presentes na vida do sertão nordestino, suas lutas e conflitos são sentidas e reproduzidas. Estas expressões e sentimentos transformam-se em arte.

Segundo relato de Horácio Rodrigues da Silva, artesão do Alto do Moura, conforme citado por Martins (2012, p. 129), quando diz que “Através do nosso trabalho, podemos expressar nossos sentimentos, o sentir da nossa realidade, da nossa cultura nordestina”. Quando práticas são constantemente vivenciadas por um grupo, estas podem refletir de maneira singular na cultura local. Desta forma, estando o homem inserido nesse contexto, poderá sofrer a influência dessa cultura que passa a ser determinante. Trabalhando esta abordagem dentro do contexto da Arte Figurativa, todos esses aspectos de expressão da realidade seguem contextualizadas nas obras dos diversos representantes desta arte, realidade esta que define os movimentos sociais como determinante para se analisar a cultura do Alto do Moura sob a ótica da cultura popular.

Na sessão seguinte, serão apresentados os principais elementos que compõem a Arte do Mestre Vitalino, pautada pela literatura. Ele é considerado o representante da arte figurativa e precursor de sua escola onde, em sua essência, expressa a vida do sertanejo através da arte. Também serão apresentados conceitos sobre a Arte Figurativa.

2.2 Vitalino Pereira dos Santos e a Arte Figurativa

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principal para o sustento de sua família. Sua mãe, Josefa Maria dos Santos, artesã, produzia louças de barro ou cerâmica utilitária; essas peças destinavam-se à utilização para fins domésticos e sua produção era comercializada em feiras locais.

A produção das louças era feita a partir do barro extraído da zona ribeirinha do Rio Ipojuca, essa extração era de responsabilidade das mulheres bem como a produção das louças para fins domésticos. Essa atividade comumente desenvolvida pelas mulheres tornava-se prática constante nas famílias locais, onde os homens dedicavam-se à produção agrícola e as mulheres trabalhavam na produção artesanal das louças. Nesse contexto, insere-se Vitalino Pereira dos Santos que, ainda criança, fazia uso do barro para produzir seus próprios brinquedos. Vitalino não extraia o barro, ele utilizava as sobras deixadas por sua mãe. Seu primeiro contato com a cultura material elaborada foi aos seis anos de idade, quando produziu sua primeira obra “Um Caçador de Gato Maracajá” (RIBEIRO, 1972).

Quando criança, Vitalino Pereira dos Santos não conheceu a educação formal, pois, devido às dificuldades do trajeto, crianças de sua época não chegavam a frequentar a escola, tornando a educação algo indiferente para a comunidade local. Por isso, os filhos permaneciam ligados às suas mães que, devido a sua posição social, tinham como principal função os afazeres domésticos, a manutenção familiar e, por conseguinte, conviviam diretamente com seus filhos. Foi nesse contexto que Vitalino Pereira dos Santos conheceu o barro como matéria-prima para explorar sua criatividade, que, por sua qualidade e expressão, começava a atrair a atenção dos primeiros admiradores de sua arte.

Aos seis anos de idade, acompanhava sua mãe na comercialização das louças na feira de Caruaru. Esta feira tornava-se um ambiente mais atrativo à visitação pela diversidade de produtos comercializados; e o pequeno menino, ainda chamado de Vitalino, consegue vender sua primeira peça a um turista de Recife, que admirado com a singeleza da peça, faz encomenda para a semana seguinte. Vitalino então inicia sua produção tendo em vista a comercialização. Nesse período, suas principais peças giravam em torno da confecção de bichinhos ou animais que faziam parte de seu cotidiano. Sua produção chamou a atenção de seu pai e família, que viu nas peças uma oportunidade de torná-la uma atividade produtiva e remunerada.

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lutas e a superação do povo nordestino. Porém, apenas a partir de seus vinte e um anos de idade é que Vitalino inicia a produção utilizando-se de figuras humanas e suas expressões mais singelas (RIBEIRO, 1972). Mestre Vitalino, em um de seus relatos, descreve:

Tinha muito soldado aqui em Caruaru e eu achei bonito aquela revolta da Paraíba [...] Eu nunca tinha visto aquele exercito e achei bonito. Bati a mão no barro e fiz os grupo de soldado e trouxe pra feira [...] (RIBEIRO, 1972, p. 09).

Conforme trazido anteriormente, a produção da louça ficava sob a responsabilidade das mulheres; aos homens era conferida a função do trabalho na agricultura. Vitalino sentia-se obrigado, por sua posição enquanto homem, a inserir-se no universo exclusivamente masculino, atendendo, então, às imposições paternais.

Vitalino casa-se aos 22 anos com Joana Maria da Conceição, tendo 16 filhos, destes, apenas seis sobreviveram às doenças que afetavam as crianças dessa época (RIBEIRO,1972).

Imagem 1: Mestre Vitalino e sua família, Caruaru- PE

Fotografia: Pierre Verger, 1947 4·

4 Disponível em: <http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger>. Acesso em: 04

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Só então quando casado, assume sua vocação como artesão, buscando no barro a subsistência de sua família (RIBEIRO, 1972). Vitalino, agora pai e provedor do sustento de sua família, inicia sua produção dos “bonecos de barro”, comercializando-os na feira de Caruaru, local de encontros dos produtores locais. De acordo com Martins (2012, p. 106):

Caruaru, a segunda mais desenvolvida cidade do estado, é conhecida pelas intensas atividades da indústria – principalmente a de confecção -, de comércio e, principalmente, da arte popular figurativa do Brasil, de que é o berço. No inicio da década de 1940, a feira da cidade, sempre as quartas e aos sábados, foi um grande polo de atração, que exercia não apenas uma função econômica, mas também social e cultural.

A feira torna-se um ambiente de visitação turística por sua diversidade, assumindo já em 1945 a posição de maior feira do estado de Pernambuco. Barbalho (1974, p. 194) descreve a feira de Caruaru de forma caricaturada da seguinte maneira:

Nela existe fartura quase em excesso – de frutas, verduras, carnes (...) de farinhas, de feijões os mais variados, de matutos caricaturais , de cachaceiros divertidos, de doidos mansos, de mulheres boazudas, de bolos-de-goma (...) de ervas medicinais, de passarinhos engaiolados, do diabo a quatro, pois não (...) E tem tudo mesmo que a gente quer, inclusive arame esticado, reproduzindo som de violino, coisa tão estrambótica que, um dia, deixou um turista made in USA entre maravilhado e de queixo caído a mirar e remirar a geringonça, sem entender patavinas.

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A imagem 2 (dois), faz referência à distância percorrida entre o Alto do Moura e o centro comercial de Caruaru, sendo o Alto do Moura um bairro localizado a cerca de 5,3 km do centro da cidade. O trajeto entre o bairro onde se concentram os artesãos e o centro comercial é de 1h5min, este é o curso sempre refeito pelos artesãos no intuito da comercialização de suas peças.

Imagem 2: Distância entre o Alto do Moura e o centro de Caruaru - PE

Fonte: Google Maps5

O município de Caruaru, por sua vez, um dos mais importantes municípios do Vale do Ipojuca, se localiza a aproximadamente 123 km de Recife e possui cerc4 habitantes, destes, 278.098 na zona urbana e 36.856 na zona rural (IBGE, 2010)6. O Alto do Moura abriga atualmente um dos núcleos artesanais mais importantes do país.

É preciso ressaltar a importância da proximidade da comunidade artesã com a bacia do Rio Ipojuca, de onde é extraída a matéria-prima para produção das peças.

A imagem 3 (três) evidencia a forma como era extraído o barro (argila) para produção das peças artesanais.

5 Disponível em: <https://www.google.com.br/maps>. Acesso em: 10 Mar. 2015.

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Imagem 3: Mestre Vitalino extraindo barro, Caruaru - PE

Foto: Pierre Verger, 1947.

Fotografia: Pierre Verger, 19477

Chegando ao Alto do Moura, Vitalino, com sua experiência na modelagem dos bonecos de barro, provocou uma verdadeira revolução no local, fazendo de sua arte algo a ser seguido, criando assim uma escola com diversos seguidores, tais como: Zé Cabloco, Manuel Eudócio, Zé Rodrigues, Luiz Antônio, Manoel Antonio, reproduzindo, através do barro, acontecimentos do cotidiano, cenas folclóricas, a vida e os fatos da região (MARTINS, 2012). Vitalino figura até então sem grande projeção artística, comercializando sua arte ainda na feira de Caruaru, ambiente que atraía não só turistas em busca de regalias comercias, mas também intelectuais e artistas ávidos por novas descobertas. Nesse ambiente, Vitalino conhece Augusto Rodrigues, um recifense residente no Rio de Janeiro, desenhista de grande talento artístico; ilustrador e caricaturista dos principais jornais do país de 1934 até 1960 (RIBEIRO, 1972).

Augusto Rodrigues passa a conhecer as obras de Vitalino e, dessa amizade, Vitalino Pereira dos Santos, agora conhecido como Mestre Vitalino, começa a se projetar como talentoso Artista Popular. Essa projetação inicia-se com sua participação em uma Exposição de Cerâmica Popular Pernambucana, em 1947, organizada por Augusto Rodrigues e Joaquim Cardoso, no Rio de Janeiro; rompendo, assim, as fronteiras que limitavam Mestre Vitalino

7Disponível em: <http://www.obrasilcoms.com.br/2014/07/mestre-vitalino-por-pierre-verger/>. Acesso em: 04

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como Artesão local, passando a ser considerado grande ceramista da Arte Figurativa e alcançando projeção a nível mundial (MARTINS, 2012). Sobre essa projeção, cita-se Lima (2001, p. 67), quando relata:

Dessa forma, atraídos pelo trabalho do artista, começavam a chegar até Vitalino, em Caruaru, os colecionadores, os turistas e os intermediários interessados em adquirir suas peças, aumentando assim, sobremaneira, as possibilidades de comercialização da sua arte.

No contexto das Artes e da Cultura Popular Brasileira, a cerâmica produzida através de barro ganha relevante destaque, pois envolvia uma técnica própria, representada de múltiplas formas, que em sua essência traduzia a realidade das mais diversas regiões do país. Falar de arte significa vivenciar tradições e acompanhar o desenvolvimento social e econômico de uma comunidade, pois a arte se transforma a partir das expressões da comunidade em que ela está inserida, surgindo o anseio de criar que, segundo Almeida (1980, p. 54), “a necessidade de criar é inerente ao homem. Ela acontece naturalmente e não pode ser detida”.

Assim, surgem as relações do sujeito com o mundo através da arte, passando por gerações, agregando valores e costumes a um grupo. Nesse contexto, surgem os artesãos que expressam a arte através das suas próprias mãos. Para descrever a relação do homem com a arte, cita-se (op. cit, p. 55):

[...] a sua relação é visceral com o mundo que o rodeia torna-o parte viva do seu ambiente. Sem frequentar academias, ele mesmo forma seu gosto e sensibilidade pelo labor das mãos. E tudo isso é um saber proveniente da necessidade, e é deste saber que os ceramistas urbanos tiram seu oficio.

Essa relação foi percebida e reproduzidapor Vitalino, artista popular do cenário local, que se destacou na história da cerâmica figurativa de Caruaru por criar uma nova forma de pensar a cerâmica figurativa, dando formas, contornos e vida aos bonecos de barro.

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com a feira de Caruaru, local este de comercialização e divulgação da arte. Coimbra (2010, p. 60) chama atenção quando relata, “Na feira de Caruaru, a “banca” de Vitalino funcionava não só como local de exposição e venda de seus bonecos, mas também como ponto de encontro dos compadres e admiradores da novidade de seu trabalho”.

Vitalino começa a ser admirado por seu trabalho e, principalmente, por sua maneira de interpretar o cotidiano do povo nordestino através da arte, adquirindo admiração e colaboração de muitos, em especial de sua vizinhança que já manuseava a cerâmica figurativa.

Vi Vitalino trabalhando, ai eu fui chegando ia pra casa dele, ele morava ali onde é o museu hoje... a casinha dele (...) ai comecei a olha, olhando eles trabaia, trabaiando ele e os filhos, tudo sentado no chão (...) Ai pegava um bolinho de barro, levava de casa, chegava Ia começava olhando eles fazerem aqueles bonequinho, eu olhando pra vê se fazia do mesmo jeito, pra vê se aprendia a faze do mesmo jeito (JOSÉ apud LIMA, 2001, p. 81).

Mestre Vitalino morre em 1962, deixando seu legado através de suas obras e de seus discípulos, definindo, assim, o núcleo de artistas populares de Caruaru, ficando estes, responsáveis pela produção e comercialização da Arte Figurativa do barro produzida na Região. Os hoje denominados Artesãos tradicionais divulgam a obra do Mestre através de suas peças; alguns reproduzindo o legado deixado pelo Mestre Vitalino, outros reinventando as peças já produzidas e, o mais importante, produzindo algo inédito dentro da temática figurativa.

Nessas peças inéditas, eles recriam cenas do cotidiano atual, trazendo para o figurativo do regional, elementos urbanos ou fatos e acontecimentos novos, nacionais e internacionais. Conservando características específicas dos bonecos chamados de profissionais, sendo estes médicos, dentistas, advogados, professores que foram iniciados pelo Mestre Vitalino; a esse elenco se juntam novos profissionais: o funcionário da companhia de eletricidade, o soldado namorando a moça de minissaia, conjunto de jogadores de futebol. Mesmo com essa nova forma de recriar o cotidiano, é marcante a presença temática deixada por Vitalino (COIMBRA, 2010).

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Na sequência (imagem 5), são demonstrados os instrumentos utilizados na produção das peças artesanais.

Imagem 4: Mestre Vitalino modelando o barro, Caruaru - PE

Fotografia: Pierre Verger, 19478

Imagem 05: Ferramentas utilizadas por Mestre Vitalino, Caruaru - PE

Fotografia: Pierre Verger, 19479

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Mestre Vitalino marcou a vida e o cotidiano dos moradores do Alto do Moura e deixou um legado que vem agregando gerações, todos encontram-se inseridos no contexto da Arte Figurativa.

Sou filho de mestre Vitalino e comecei a trabalhar em 1957. Ele foi o criador da arte figurativa do Brasil. Eu me dediquei à mesma profissão e estou hoje aqui trabalhando. Sou pai de treze filhos e 25 netos. Toda família continua trabalhando, mostrando o que o mestre Vitalino representou para o nosso Brasil (MARTINS 2012, p. 109).

Mestre Vitalino deixou um legado de grande importância para os moradores do Alto do Moura, em Caruaru - PE. A criação, produção e comercialização da Arte Figurativa no Alto do Moura recebe até hoje a influência do nome Mestre Vitalino. Diversas famílias produzem arte no Alto do Moura, algumas dessas famílias estão ligadas diretamente ao Mestre Vitalino, por terem sido discípulos diretos do Mestre, garantindo, assim, a continuidade de sua Arte.

Para colaborar com esse pensamento, Coimbra (2010, p. 62) chama atenção em sua observação: “Se, por um lado, se torna praticamente impossível identificar o trabalho de cada artista sem o seu carimbo na peça, por outro, seus bonecos inconfundíveis, representam, em qualquer lugar, a cerâmica de Caruaru”. Essa forma única de recriar a arte fica bem definida pelos artesãos que, apesar de possuírem características próprias de acordo com suas aptidões, demonstram dentro dessa singularidade as características de uma arte própria da comunidade.

2.2.1 Arte Figurativa do Mestre Vitalino

Os ceramistas populares confeccionam suas obras a partir do simples barro, retratando situações de um contexto social em que estão inseridos. A arte figurativa associa-se a essa prática quando, em sua essência, pode ser definida como algo que representa, de qualquer

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forma, alterada ou distorcida, coisas perceptíveis no mundo visível. Essa forma de perceber o mundo pode ser contemplada no estereótipo cultural, quando conduz ao imaginário reflexivo e é colocada em prática na elaboração das peças, possuindo grande representatividade, e tornando-se, registros preciosos sobre o cotidiano de um povo, de quem são e como vivem. Um dos temas explorados por Mestre Vitalino é a imagem dos retirantes. Betiol (2007, p. 28) chama a atenção para o seguinte aspecto:

[...] Mestre Vitalino, a qual retrata de forma peculiar os que têm sede no sertão e buscam outros lugares para a sobrevivência, discutindo, assim, numa forma simples de narrativa complexa, a política, a sociedade, as formas culturais, a economia, a geografia física, entre tantos outros elementos apresentados no mesmo tema.

“Os Retirantes” é uma das peças mais consagradas de sua obra por representar a família do sertão que foge da seca. A Arte Figurativa de Mestre Vitalino possui características próprias tanto em relação à forma, quanto à técnica. Sua observação ou visão de mundo contextualiza-se em suas obras.

Imagem 6: Os “Retirantes” de Mestre

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos10

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Segundo a visão de Betiol (apud AGUILAR, 2000, p. 32), “a linguagem em cerâmica de Mestre Vitalino adquire o ângulo de inflexão máxima em seu mundo próprio, uma vez que seus primeiros clientes habitam o agreste e o sertão”. Ainda de acordo com Betiol (2007, p. 32):

A linguagem simples que aparece nas peças de barro da cerâmica popular figurativa brasileira adquire um sentido complexo quando se utilizam referências do contexto em que estes indivíduos estão inseridos para a realização dessa produção. Desconexos, não podem ser traduzidos e menos ainda compreendidos em sua plenitude. O que poderá trazer referências para um entendimento do tema elaborado na cerâmica é o conjunto de elementos significativos que pertence ao produtor e ao local em que estão inseridos. É necessária a pesquisa, que contextualiza sujeito e obra no seu universo “local”, permeados de significados, para que a cerâmica popular figurativa possa ser compreendida também como uma produção de representação histórica, [...].

2.2.2 Mestre Vitalino e sua obra

A criatividade, simplicidade e expressão cultural reverenciada nas obras do Mestre Vitalino o tornava único em sua época. A simplicidade de suas peças, atraía intelectuais ávidos por interpretar as mensagens de suas peças, o que o levou a alcançar reconhecimento dentro e fora do país. De acordo Severino Vitalino, filho de Mestre Vitalino, o artista deixou um legado de 108 obras (cf. MARTINS, 2012).

De acordo com o mesmo autor, grande parte dos trabalhos do Mestre Vitalino, refere-se a ritos de passagem: o nascimento, o casamento, a morte. Fazem parte também de refere-seu repertório imagens que remetem ao lendário do povo nordestino; a ordem e o crime no sertão brasileiro também estão presentes. Aspectos sociais são de grande destaque em sua obra. Também são retratadas as profissões, sendo notória a distinção entre atividade masculina e feminina.

(51)

Queimando a Loiça e Vitalino e Manuel Carregando a Loiça, entre outras. Observam-se as ilustrações a seguir:

11 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo Museu de

História e Arte do Estado do Rio de Janeiro/RJ. Acesso em: 24 Mar. 2015.

12 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo do Museu do

Barro - Espaço Zé Caboclo, Caruaru - PE. Acesso em: 24 Mar. 2015.

13 Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/>Reprodução fotográfica: sem autoria. Acervo do Museu do

Barro - Espaço Zé Caboclo, Caruaru - PE. Acesso em: 24 Mar. 2015.

14

Disponível em:<http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo: Casa

do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Obra Nome da obra Fonte

Imagem7: Lampião11

Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 8: Cangaceiro a

cavalo12 Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 9: Cangaceiro13 Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 10: Delegacia de

(52)

15

Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo:

Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015.

16Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br> Reprodução fotográfica: Soraia /Evandro Carneiro.

Acervo: Arte popular do Brasil. Acesso em: 23 Mar. 2015.

17 Disponível em: <http://www.museucasadopontal.com.br/> Reprodução Fotográfica: Sem autoria. Acervo:

Casa do Pontal. Acesso em: 23 Mar. 2015.

18

Disponível em: <http://artepopularbrasil.blogspot. com.br > Reprodução fotográfica: Soraia /Evandro Carneiro. Acervo: Arte popular do Brasil. Acesso em: 23 Mar. 2015.

Imagem 11: Cangaceiros15 Fonte: Página Museu Casa do Pontal

Imagem 12: Emboscada16 Fonte: Página Arte Popular do Brasil

Imagem 13: Retirantes Fonte: Página do Templo Cultural Delfos

Imagem 14: Enterro na roça17 Fonte: Página do Museu Casa do Pontal

Imagem

Figura 1: Resumo das características da pesquisa.
Figura 2: Desenho das etapas da pesquisa
Figura 3: Representação gráfica da família pesquisada
Foto 1: Ambiente comercial da artesã - Maria do Socorro Rodrigues da Silva –  Ateliê Dona Celestina
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Referências

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