GLADYS DEIFAN BASTIDAS GUSTIN
APLICAÇÃO DE REDES DE PETRI INTERPRETADAS
NA MODELAGEM DE SISTEMAS DE ELEVADORES EM
EDIFÍCIOS INTELIGENTES
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia.
GLADYS DEIFAN BASTIDAS GUSTIN
APLICAÇÃO DE REDES DE PETRI INTERPRETADAS
NA MODELAGEM DE SISTEMAS DE ELEVADORES EM
EDIFÍCIOS INTELIGENTES
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia.
Área de Concentração: Engenharia Mecânica/ Mecatrônica
Orientador: Prof. Dr. Paulo Eigi Miyagi
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA ENGENHARIA MECÂNICA/NAVAL DA ESCOLA POLITÉCNICA EPMN - USP
Bastidas Gustin, Gladys Deifan
Aplicação de Redes de Petri Interpretadas na Modelagem de Sistemas de Elevadores em Edifícios Inteligentes, São Paulo, 1999.
164p.
Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Mecânica.
1. Sistemas de Elevadores 2. Edifícios Inteligentes 3. Redes de Petri 4. Metodologia PFS/MFG .
A
GRADECIMENTOS
Expresso minha gratidão que não conhece limites:
A Deus e a Nossa Senhora.
Ao meu orientador Prof. Dr. Paulo Eigi Miyagi, pelas diretrizes seguras, orientação, supervisão, confiança, paciência e oportunidade que concedeu-me para o desenvolvimento desta pesquisa e por todo o apoio prestado durante estes anos.
Ao Prof. Dr. Diolino Dos Santos Filho, pela colaboração, apoio, sugestões e discussões
levantadas ao longo do período de pesquisa as quais foram fundamentais na elaboração e consolidação do trabalho.
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico), pelo apoio
financeiro deste trabalho.
Ao pessoal do HC–FMUSP, pela colaboração para a realização desta pesquisa.
Aos meus professores, a todos os membros do grupo SED – SH e aos meus amigos da sala MC – 1 que com sua ajuda, sugestões e estímulo tornaram possível este trabalho.
A todos meus amigos e familiares, pela sua ajuda, apoio e carinho.
Agradeço em especial a Pablo, que esteve do meu lado em todos os momentos com carinho, amor, compreensão e incentivo.
S
UMÁRIO
Lista de FigurasLista de Tabelas Lista de Abreviaturas Resumo
Abstract
CAPÍTULO 1 1
INTRODUÇÃO 1
1.1. JUSTIFICATIVA E MOTIVAÇÕES 1
1.2. OBJETIVO 5
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO 5
CAPÍTULO 2 8
EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 8
2.1. EDIFÍCIOS INTELIGENTES 8
2.1.1. DEFINIÇÃO 9
2.1.2. OBJETIVOS E CARACTERÍSTICAS 11
2.1.3. INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS EM EDIFÍCIOS INTELIGENTES 13
2.2. SISTEMAS DE ELEVADORES 17
2.2.1. FUNCIONAMENTO DO SISTEMA 18
2.2.2. CONTROLE DO SISTEMA DE ELEVADORES 20
2.2.3. INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE ELEVADORES EM EDIFÍCIOS INTELIGENTES 25
2.2.4. CARATERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ELEVADORES 28
2.3. OBSERVAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 3 30
APLICAÇÃO DE REDE DE PETRI 30
3.1. REDE DE PETRI 31
3.1.1. CARACTERÍSTICAS E VANTAGENS DAS REDES DE PETRI 32
3.2. OBSERVAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 58
CAPÍTULO 4 60
METODOLOGIA DE MODELAGEM DE SISTEMAS DE ELEVADORES 60
4.1. METODOLOGIA PROPOSTA 60
4.2. OBSERVAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 68
CAPÍTULO 5 69
ESTUDO DE CASO 69
5.1. PRÉDIO DOS AMBULATÓRIOS (PAMB) 69
5.1.1. Aplicação da Metodologia Proposta ao Sistema de Elevadores do PAMB 71
5.2. OBSERVAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 132
CAPÍTULO 6 133
COMENTÁRIOS FINAIS E CONCLUSÕES 133
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 136
APÊNDICE I I. 1
L
ISTA DE
F
IGURAS
Figura 2.1 Estrutura hierárquica de integração em edifícios inteligentes. ...16
Figura 2.2 Elementos básicos envolvidos na operação do sistema de elevadores...19
Figura 2.3 Diagrama conceitual básico do sistema de controle de SED...20
Figura 2.4 Configuração do sistema de controle de grupo ...24
Figura 2.5 Configuração da integração do sistema de elevadores com o sistema de gerenciamento do edifício...26
Figura 3.1 Exemplo de um modelo em PFS com a identificação de seus elementos estruturais e a características de SEDs que é capaz de modelar ...37
Figura 3.2 a). Inicio de atividade devido à ocorrência de dois eventos ...38
b). Término de atividade devido à ocorrência de dois eventos. ...38
Figura 3.3 Interpretações típicas dos fluxos secundários...40
Figura 3.4 Alguns possíveis refinamentos de atividades ...41
Figura 3.5 Exemplo do refinamento de atividades ...42
Figura 3.6 Exemplo do refinamento de inter-ativiaddes...42
Figura 3.7 Exemplo de um modelo em MFG com a identificação...44
de seus elementos estruturais...44
Figura 3.8 Exemplo de boxes conflito. ...47
Figura 3.9 Exemplos de arbitragens de conflitos...48
Figura 3.10 Elementos que consideram o conceito do tempo em MFG ...50
Figura 3.11 Exemplo da estrutura de uma marca individual composta...52
Figura 3.12 Exemplo de uma inscrição na transição ...53
Figura 3.14 Exemplo de um box controlador alterando os atributos de uma marca...55
Figura 3.15 Nomenclatura da legenda dos filtros ...56
Figura 3.17 Modelo em MFG com arcos auto-modificáveis...58
Figura 4.1 Metodologia para a modelagem de sistemas de elevadores em EI...61
Figura 4.2Descomposição da descrição de um sistema em parte operativa e parte de controle 65 Figura 5.1 Localização do PAMB no complexo hospitalar das Clínicas...70
Figura 5.2. Planta ilustrativa do prédio dos ambulatórios (PAMB) com a disposição dos elevadores...74
Figura 5.4 Modelo conceitual em PFS do controle dos grupos. ...86
Figura 5.5 Detalhamento em MFG das atividades [ligar elevadores] e [serviço independente].86 Figura 5.6 Esquema das atividades realizadas pelo controle de grupo...87
Figura 5.7 Modelo em PFS das estratégias de controle consideradas para cada um dos grupos do PAMB ...88
Figura 5.8 Representação de uma solicitação para subir de primeira ordem (de andar) ...90
Figura 5.9 Representação de uma solicitação para subir de primeira ordem (de cabina)...90
Figura 5.10 Representação de uma solicitação para subir de segunda ordem ...91
Figura 5.11 Representação de uma solicitação para subirde terceira ordem (de andar) ...92
Figura 5.12 Representação de uma solicitação para subir de terceira ordem (de cabina). ...92
Figura 5.13 Representação de uma solicitação para subir de quarta ordem. ...93
Figura 5.14 Modelo em PFS da estratégia duplex/triplex...93
Figura 5.15 Refinamento em MFG (E-MFG) da atividades [receber chamadas de andar]. ...94
Figura 5.16 Refinamento em MFG (E-MFG) da atividade [determinar a diferença entre a posição atual dos elevadores 1, 2 e 3 e a posição da chamada (andares 2 ao 9) e designar o elevador para chamadas nestes andares]. Primeira parte. ...95
Figura 5.17 Refinamento em MFG(E-MFG, MFG auto-modificável) da atividades [determinar a diferença entre a posição atual dos elevadores 1, 2 e 3 e a posição da chamada (andares 2 ao 9) e designar o elevador para chamadas nestes andares]. Segunda parte. ...96
Figura 5.18 Modelo em MFG (E-MFG) da atividade [Determinar a diferença entre a posição atual dos elevadores 1, 2 e 3 e a posição da chamada (andares 1 ou 10) e designar o elevador para chamadas destes andares]. Primeira parte. ...98
Figura 5.19 Modelo em MFG (E-MFG, MFG auto-modificável) da atividade [Determinar a diferença entre a posição atual dos elevadores 1, 2 e 3 e a posição da chamada (andares 1 ou 10) e designar o elevador para chamadas destes andares] Segunda parte...99
Figura 5.20 Modelo conceitual em PFS da estratégia para tráfego de pico de subida...100
Figura 5.21 Modelo MFG (E-MFG) da atividade [receber chamadas de andar]...101
Figura 5.22 Modelo em MFG (E-MFG) da atividade [designar elevador 1 para atender chamadas de decida] ...102
Figura 5.23 Modelo em MFG (E-MFG) da atividade [designar elevador 2 e 3 para atender chamadas de subida no andar 5]...102
Figura 5.25 Modelo em PFS da estratégia para tráfego de pico de descida....104
Figura 5.26 Modelo em MFG (E-MFG) da atividade [Gerar e receber chamadas de andar] ...105
Figura 5.27 Modelo em PFS da estratégia em caso de incêndio fase-1 para o grupo B...106
Figura 5.28 Modelo em PFS da estratégia em caso de incêndio fase - 2 para o grupo B...106
Figura 5.29 Modelo em PFS da estratégia em caso de falta de energia para o grupo B...107
Figura 5.30 Modelo em PFS da estratégia de manutenção para o grupo B ...107
Figura 5.31 Modelo em PFS da estratégia em caso de falha de elevador no grupo B...108
Figura 5.32 Detalhamento em MFG (E-MFG) da atividade [Cancelar as solicitações do gerenciador de chamadas de cada elevador do grupo]...108
Figura 5.33 Detalhamento em MFG (E-MFG) da atividade [enviar um elevador a serviço independente] ...109
Figura 5.34 Modelo em MFG (E-MFG) da operação colocar elevador em serviço em grupo.110 Figura 5.35 Modelo em MFG (E-MFG) da operação ligar elevadores ...111
Figura 5.36 Modelo MFG (E-MFG) da operação parar os elevadores do grupo no andar mais próximo. ...112
Figura 5.37 Modelo em MFG (E-MFG) da operação movimentar elevadores do grupo sucessivamente até o térreo...113
Figura 5.38 Modelo em MFG (E-MFG) da operação desabilitar botões de cabina de cada elevador do grupo ativada pelas estratégias de incêndio fase - 1 e falta de energia...114
Figura 5.39Modelo em MFG (E-MFG) da operação desabilitar botões de cabina de elevador ... ...115
Figura 5.40 Modelo em PFS da operação colocar elevador em serviço independente ativada por interruptor de andar...116
Figura 5.41 Modelo em PFS da operação colocar elevador em serviço independente ativada por interruptor de cabina ...117
Figura 5.42 Modelo em PFS da operação colocar elevador em serviço independente ativada por uma estratégia ou pelo sistema de gerenciamento do edifício ...117
Figura 5.43 Detalhamento em MFG (E-MFG) da atividade [Retirar elevador do serviço em grupo] ...117
Figura 5.44 modelo em MFG (E-MFG) da atividade [escolher o elevador mais perto do andar solicitado]...118
Figura 5.46 Modelo em MFG (E-MFG) da operação retirar elevador do serviço em grupo....119
Figura 5.47 Exemplo em MFG (E-MFG) da conexão entre estratégia e operação ...120
Figura 5.48 Modelo do controle de cabina identificando seus módulos e interações...121
Figura 5.49 Modelo em MFG (E-MFG) do módulo de gerenciamento de chamadas ...122
Figura 5.50 Modelo em MFG (E-MFG) do módulo de inversão do sentido de movimento ....123
Figura 5.51 Modelo em MFG (E-MFG, MFG auto-modificável) do módulo de permissão....124
Figura 5.52 Modelos em MFG do módulo dos estados de operação...125
Figura 5.53 Modelo em MFG (E-MFG) do controle de andar ...126
Figura 5.54 Modelo em PFS do objeto de controle ( cabina 1 e dispositivo de atuação) ...128
Figura 5.55 Detalhamento em PFS da atividade [subir] ...129
Figura 5.56 Detalhamento em PFS da atividade [subir do andar 1] ...129
Figura 5.57 Detalhamento em PFS da inter-atividade parada no andar...130
Figura 5.58 Modelo em MFG do objeto de controle ...131
Figura I.1 Exemplo da trajetória de um SED ... .I. 2
Figura I.2 Exemplo de trajetória de um SVC ... I. 3
Figura II.1 a) Arcos múltiplos.b) Representação compacta………II. 2
Figura II.2 a) Transição habilitada. b) Marcação após o disparo………II. 3
Figura II.3 Modelo simples de um sistema computacional……….II. 6
Figura II.4 Exemplo de rede de Petri e seu respetivo árvore de alcançabilidades………….II. 14
L
ISTA DE
T
ABELAS
Tabela 2.1 Classificação das funções do edifício inteligente………12
Tabela 2.2 Dispositivos usados no controle de sistemas de elevadores……….20
Tabela 3.1 Macro elementos do MFG……….50
Tabela 3.2 Portas dos macro elementos do MFG……….51
Tabela 5.1 Algumas informações do sistema de elevadores do PAMB………....73
Tabela 5.2 Número de grupos de elevadores no PAMB………..74
Tabela 5.3 Andares servidos e paradas dos elevadores do PAMB………...75
Tabela I.1 Classificação dos modelos de SEDs……….I. 5
L
ISTA DE
A
BREVIATURAS OU
S
IGLAS
BISDN EI E-MFG
F-MFG HVAC
ISDN MFG PFS
RP SED
SGE
Broadbands Integrated Services Digital Network Edifício Inteligente
Extended Mark Flow Graph
Functional Mark Flow Graph
Heating, Ventilating and Air Conditioning
Integrated Services Digital Network Mark Flow Graph
Production Flow Schema
Rede de Petri
Sistemas a Eventos Discretos
R
ESUMO
O sistema de elevadores como equipamento para o transporte vertical de pessoas e bens é um componente fundamental no projeto de edifícios e, neste âmbito, a disponibilidade e eficiência do seu serviço deve ser objeto de cuidadosa análise em função de sua influência no desempenho e produtividade das atividades dos usuários do prédio. Neste contexto e considerando especificamente os edifícios inteligentes cuja finalidade é a otimização a nível estrutural e funcional do edifício como um todo, e onde a integração entre seus sistemas cumpre um papel fundamental para atingir estes objetivos, o presente trabalho propõe uma metodologia para a modelagem de sistemas de elevadores nestes prédios, que considera a sua integração com outros sistemas prediais.
A abordagem empregada no desenvolvimento deste trabalho baseia-se na caracterização dos sistemas de elevadores como sistemas a eventos discretos (SED), pois sua dinâmica é definida através da ocorrência de eventos e a manutenção de estados discretos. Assim, na metodologia utiliza-se técnicas derivadas das redes de Petri (redes de Petri interpretadas), de comprovada eficiência para a modelagem, análise e controle de SEDs. Estas ferramentas são usadas através de uma abordagem estrutural, onde o sistema é modelado em diferentes níveis de abstração: um modelo conceitual obtido pelo uso da técnica PFS (Production Flow Schema) em um primeiro nível, e o refinamento deste para modelos funcionais através do uso do MFG (Mark Flow Graph) e suas extensões, onde são preservadas as estruturas das atividades do nível superior e são descritos os detalhes em um nível funcional.
A metodologia proposta confirmou ser útil e eficiente para a modelagem do sistema de elevadores em edifícios inteligentes, ao permitir a especificação do modelo funcional de todo o sistema (objeto de controle e sistema de controle) e das estratégias que facilitam a sua integração com outros sistemas prediais.
A
BSTRACT
The elevator system as mean for the vertical transport of people and goods is a fundamental component in the design of buildings. The availability and efficiency of this service must be object of careful analysis due to its influence on the performance and productivity of the building users’ activities. In intelligent buildings, the purpose is the optimization of its structural and functional levels and where also the integration between all building systems accomplishes a fundamental role to reach these objectives. In this context, this work proposes a methodology for the modeling of elevator systems in these buildings, which consider your integration with others buildings systems.
The approach developed in this work is based on the characterization of elevator systems as Discrete Event Systems (DES), since the dynamic behavior is defined through the discrete events and discrete states. The proposed methodology uses techniques, that are derived of interpreted Petri nets, which has been proven as an efficient tool for modeling, analysis and control of DES. In this context, systems are modeled in different levels of abstraction: a conceptual model which is obtained by using the PFS (Production Flow Schema) technique level, and a functional model by using MFG (Mark Flow Graph) and its extensions. The MFG abstraction level describes details in a functional form, where are preserved the description activities of previous levels.
The methodology proposal confirmed to be useful and efficient to elevator systems modeling, when allowing the functional specification of the whole system (object of control and control system), and strategies that facilitate its integration with others building systems.
S
UMÁRIO
A
PÊNDICES
APÊNDICE I I. 1 SISTEMAS A EVENTOS DISCRETOS – SED I. 1
I.1 MODELOS DE SED I. 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS I. 6
APÊNDICE II II. 1 REDES DE PETRI II. 1
II.1 ESTRUTURA DE UMA REDE DE PETRI II. 2
II.2 MARCAÇÃO DE UMA REDE DE PETRI II. 2
II. 3 PROPRIEDADES DAS REDES DE PETRI II. 4
II. 4 MÉTODO DE VERIFICAÇÃO DE UMA REDE DE PETRI II. 5
II. 5 CLASSES DE REDES DE PETRI II. 9
II.5.1 REDES DE PETRI ORDINÁRIAS II. 9
II.5.3 EXTENSÕES DE REDES DE PETRI II. 11
II.5.4 REDES DE PETRI INTERPRETADAS II. 11
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
Este capítulo, apresenta a justificativa, as motivações e o objetivo para o desenvolvimento deste trabalho, bem como a organização do texto.
1.1.
J
USTIFICATIVA E
M
OTIVAÇÕES
As demandas do mundo atual fazem da eficiência, a produtividade e a segurança os principais aspectos que devem ser levados em conta ao projetar ou modificar um
sistema. Para conseguir estes objetivos tem-se que, necessariamente, considerar novos conceitos e diferentes técnicas e abordagens que possam ser aplicadas, tanto para a
modelagem do sistema como para sua avaliação, além, evidentemente, do aproveitamento eficiente e efetivo dos recursos de alta tecnologia atualmente disponíveis.
Considerando estes fatores para a situação em que o objetivo é o projeto de edifícios
inteligentes, observa-se que novas metodologias estão sendo desenvolvidas no sentido de considerar peculiaridades relacionadas à funcionalidade que se deseja associar ao
sistema do edifício. De acordo com estas abordagens, o comportamento e interação dos usuários que utilizam um determinado edifício devem ser considerados e devidamente estudados para incrementar a produtividade destes indivíduos neste ambiente, uma vez
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 2
Neste contexto, a diversificação e evolução dos serviços oferecidos e disponibilizados
num edifício, a difusão e popularização das tecnologias mecatrônicas (incluindo tele-operação e monitoração remota) e da informação e, a necessidade de maior flexibilidade e versatilidade dos recursos, envolvem um novo paradigma para a concepção de
edifícios, passando a incorporar até mesmo fatores comportamentais que promovem a produtividade nas tarefas que se realizam em seu interior [Finley et al., 1991]. Estes
edifícios devem assim, ser projetados (sua concepção deve considerar novas técnicas de planejamento, construção, manutenção, gestão e atualização) de forma que possam absorver novas tecnologias para incrementar sua competitividade e adaptar-se aos
requerimentos que a futura sociedade exigirá, procurando se manter produtivos ao longo de todo seu ciclo de vida, evitando a obsolescência prematura.
De acordo com as considerações anteriores, um edifício inteligente para alcançar suas
metas deve incorporar sistemas mecatrônicos e de informação, que o capacitem para a prestação de serviços avançados com elevado grau de autonomia, permitindo além do
controle automatizado, a monitoração, gestão e manutenção dos diferentes sistemas de serviços do edifício, considerando critérios de otimização e integração, com operação local e/ou remota, e com flexibilidade para possibilitar de maneira simples e econômica
a incorporação de novos sistemas [Roth, 88].
Dentro desta perspectiva e, considerando que os elevadores como equipamento para o transporte vertical de pessoas e bens, são um dos sistemas fundamentais de suporte às
atividades de locomoção dos usuários, deve-se estudar meios para implementar a sua integração [Clark G. et al., 1995] com outros sistemas prediais (como o sistema de prevenção de incêndios, o sistema de controle e gestão de energia, etc.). Esta integração
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 3
(Building Management System - BMS) [Arkin & Paciuk, 1995], que inexiste nos
edifícios tradicionais.
Além disso, deve-se ter em conta que o transporte vertical é um componente fundamental no projeto de edifícios e, representa uma porção substancial dos custos de
construção e manutenção de um edifício [Strakosch, 1983]. Neste sentido, a disponibilidade e eficiência do seu serviço, deve ser objeto de cuidadosa análise em função de sua influência no desempenho e produtividade das atividades dos usuários do
edifício, o que evidencia a importância do planejamento adequado quando se refere a seus requerimentos quantitativos e qualitativos.
Considerando ainda a importância que têm os sistemas de elevadores nos edifícios em
geral e, em especial no âmbito dos edifícios inteligentes ao contribuir para alcançar seus objetivos, é evidente que seu projeto e operação necessitem de técnicas de modelagem e análise, que visem selecionar alternativas ótimas de projeto e políticas de operação de
forma a reduzir tempos e custos.
Desta maneira e dada a complexidade dos sistemas de elevadores, torna-se muito importante uma modelagem adequada que permita verificar a dinâmica do sistema e,
sua integração com outros sistemas prediais além de facilitar uma posterior análise deste. Isto justifica o estudo de metodologias para auxiliar e direcionar o
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 4
Assim, a realização deste trabalho deriva da necessidade existente de uma metodologia
que permita modelar sistemas de elevadores, considerando sua interação com outros sistemas prediais em um edifício inteligente.
Baseado nos aspectos acima citados e, considerando que a maior parte dos sistemas de
edifícios, em particular os sistemas de elevadores, têm como característica um comportamento dinâmico definido através das mudanças (evolução) de estados como conseqüência da ocorrência de eventos discretos (sistemas denominados como Sistemas
a Eventos Discretos–SED [ Ramadge & Wonham 1989; Miyagi, 1996], vide apêndice I), o presente trabalho estuda a aplicação da teoria de redes de Petri (como técnica para
a modelagem, análise, controle e projeto de SEDs) neste sistema, por ser esta uma técnica de comprovada eficiência para sistemas desta natureza [Gomes, 1997] e adequada em função das características dos modelos derivados dela, como são[Ho,
1991]:
• Facilidade na descrição da dinâmica do sistema tanto no sentido de desenvolvimento
do modelo quanto no de interpretação deste.
• Consideração das características quantitativas e qualitativas, possibilitando a análise
destas informações.
As redes de Petri e técnicas derivadas, como é o caso do MFG (Mark Flow Graph), tem sido introduzidas com sucesso como ferramentas eficientes para aplicações em sistemas
de manufatura, sistemas de informação, etc.[Miyagi,1988; Arakaki, 1993; Santos, 1993; Liu, 1993; Kagohara, 1998]. Entretanto, dependendo da complexidade dos sistemas a
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 5
hierarquizado construído em PFS (Production Flow Schema) [Miyagi, 1988]. Tendo em
conta estes aspectos e, sendo esta metodologia um meio disciplinador para a construção dos modelos em diferentes níveis, considera-se conveniente a sua utilização no caso de sistemas de elevadores em edifícios inteligentes.
1.2.
O
BJETIVO
O objetivo do trabalho é o desenvolvimento de uma metodologia* para a modelagem de sistemas de elevadores que auxilie no projeto destes em edifícios inteligentes.
A abordagem considerada para este propósito baseia-se na teoria dos sistemas a eventos
discretos e na aplicação de técnicas derivadas das Redes de Petri, mediante a qual são desenvolvidos modelos tanto do objeto de controle, quanto do controle do sistema de
elevadores onde é considerada a integração com outros sistemas prediais
1.3.
O
RGANIZAÇÃO DO
T
EXTO
A seguir, apresenta-se uma descrição do conteúdo dos capítulos seguintes que compõem
o trabalho:
Capítulo 2: Edifícios Inteligentes e Sistemas de Elevadores
Este capítulo apresenta algumas das definições propostas para o conceito de edifício inteligente, assim como os seus objetivos, funções e características, ressaltando o papel da integração entre seus diversos sistemas.
Em seguida são apresentados os conceitos relevantes dentro do sistema de elevadores
que compreendem seu funcionamento e controle.
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 6
Realiza-se também, uma descrição do papel do sistemas de elevadores no contexto dos
edifícios inteligentes, abordando-se sua integração com outros sistemas prediais.
Capítulo 3: Aplicação de Rede de Petri
Neste capítulo é realizada uma breve recapitulação das redes de Petri, considerando suas vantagens e características. Prossegue-se apresentando a metodologia PFS/MFG
baseada nesta teoria e na qual este trabalho é desenvolvido.
Capítulo 4: Metodologia para a Modelagem e Análise de Sistemas de
Elevadores.
Neste capítulo é apresentada a metodologia para a modelagem de sistemas de elevadores no contexto dos edifícios inteligentes, através do uso da abordagem
hierárquica e estruturada da metodologia PFS/MFG.
Capítulo 5: Estudo de Caso.
Neste capítulo apresenta-se o estudo de caso: um prédio hospitalar (prédio dos Ambulatórios - PAMB) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), no qual é aplicada a metodologia desenvolvida, considerando sua interação com diferentes sistemas prediais.
Capítulo 6: Comentários Finais e Conclusões
Neste capítulo são apresentadas as conclusões do trabalho, e as sugestões de novos tópicos a serem pesquisados em futuros trabalhos.
Neste trabalho, estão incluídos os seguintes apêndices, onde são apresentados alguns
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 7
1. Sistemas a Eventos Discretos (SEDs) e Sistemas de Variáveis Continuas
(SVC)
Capítulo 2
EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE
ELEVADORES
Este capítulo trata dos conceitos básicos envolvidos no presente trabalho. Aqui são
apresentadas algumas das definições de edifício inteligente, suas características e objetivos. Em seguida, é abordado o tópico dos sistemas de elevadores, suas
características, funcionamento e integração com outros sistemas prediais.
2.1.
E
DIFÍCIOS
I
NTELIGENTES
Cada vez mais, novas tecnologias são disponibilizadas e desenvolvidas para os locais de
trabalho, lazer e residência. Assim, mudanças conceituais na arquitetura, projeto das instalações e na própria utilização das edificações estão transformando estes ambientes, constituindo-se em um tema de estudo amplo e multi-disciplinar que está relacionado
com o conceito de “edifício inteligente”.
O interesse por este tipo de edifícios é justificado, quando se considera o custo inicial das edificações, projetadas em média para durar pelo menos 50 anos, e os custos de
operação (5 a 10% em consumo de energia) e manutenção que constituem cerca de 65 a 80% dos custos totais [Han, 1997]; em poucos anos é possível justificar uma despesa em automação predial (automação dos diversos serviços) que poderia chegar em média
até 3% do total do empreendimento [Pertusier, 1993]. Estudos indicam também que a produtividade dos profissionais alocados em edifícios com maiores graus de automação
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 9
Os edifícios inteligentes representam um produto que é o resultado da fusão de vários
campos envolvidos no projeto e construção de edifícios, alguns dos quais haviam sido considerados no passado como essencialmente distintos e sem interseção como são a arquitetura interior e exterior, as tecnologias da computação e as telecomunicações, a
ergonomia, os fatores humanos, os processos construtivos e as tecnologias de suporte e operação de edifícios em geral: aquecimento, ventilação e ar condicionado (HVAC),
segurança predial, transporte e todas as tecnologias (construção civil, mecânica, elétrica e mecatrônica) envolvidas [Finley et al., 1991].
2.1.1.
DEFINIÇÃO
Atualmente não existe uma definição precisa do que pode-se denominar como “Edifício
Inteligente”(EI). Este termofoi inicialmente usado nos anos 70 por motivos meramente comerciais, anunciando alta qualidade e rápido retorno do investimento. Neste sentido, a definição dos serviços que estes deveriam prestar e o significado da chamada
“inteligência do edifício” tem sido imprecisa e, sujeita ao critério pessoal de proprietários e usuários [Arkin & Paciuk, 1995].
A “inteligência do edifício” tem sido objeto de diferentes interpretações a nível
mundial, isto é: nos Estados Unidos a mais importante característica dos edifícios inteligentes foi a inter-conexão dos sistemas de serviços para o beneficio dos ocupantes. Na Europa um edifício inteligente deve tratar com a interação entre os sistemas e os
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 10
Posteriormente, foram desenvolvidas, várias abordagens procurando obter uma
definição para este conceito, as quais acabam sempre limitadas ao campo de atuação de quem as define, ou ainda do interesse específico de algum caso prático.
Entre as várias definições que têm sido apresentadas cita-se:
Nos Estados Unidos, a definição aceitada pelo IBI (Intelligent Building Institute) é: “Um edifício inteligente é aquele que permite a criação de ambientes produtivos e com custos efetivos, através da otimização de seus quatro elementos básicos: (1) estrutura,
(2) sistemas, (3) serviços e (4) gerenciamento, assim como o inter-relacionamento entre eles” [Maeda, 1993].
A ABCI (Associação Brasileira da Construção Industrializada) define os edifícios com
alta tecnologia como uma extensão à definição anterior incrementando: “aqueles que possuem um bom e atualizado projeto e uma construção racional e econômica; ou aqueles que são bem projetados e construídos, levando-se em conta as exigências de uso
e evolução tecnológica”.
Na Europa, o EIBG (European Intelligent Building Group) define um edifício inteligente como sendo aquele que “cria um ambiente que permite às organizações
atingir os seus objetivos e maximiza a eficiência dos seus ocupantes enquanto, ao mesmo tempo, permite uma gestão eficiente dos recursos com um mínimo de custos em
termos de ocupação humana” [Becker, 1995].
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 11
e (c) boa segurança contra incêndio, patrimonial e individual e operação altamente
econômica [Maeda, 1993].
As definições apresentadas têm como objetivo comum a criação de um ambiente eficiente e produtivo, através de custos mínimos.
Assim, os edifícios inteligentes, têm evoluído como resposta às demandas do mundo
atual (eficiência, produtividade e segurança), à globalização, à diversificação e evolução dos serviços oferecidos e disponibilizados num edifício, à difusão e popularização das tecnologias mecatrônicas e da informação e a necessidade de maior flexibilidade e
versatilidade dos recursos. Convertendo-se assim em um novo paradigma para a concepção e o projeto de edifícios [Abramsom, 1995; Fujie & Mikami, 1991].
2.1.2.
OBJETIVOS E CARACTERÍSTICAS
[Fujie & Mikami, 1991] afirmam que os edifícios inteligentes têm quatro objetivos
principais:
• Assegurar a satisfação das pessoas que trabalham dentro dele (segurança,
eficácia e conforto);
• Racionalizar a administração (controle de energia, controle dos serviços de
manutenção, etc.);
• Responder rapidamente, de modo flexível e econômico às diversas alterações
que ocorrem em seu interior (adaptabilidade às funções requeridas);
• Racionalizar a recepção e transmissão de informação, atuando como um
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 12
Estes objetivos tentam ser alcançados nos edifícios de hoje através da introdução de
vários níveis de automação em áreas distintas e com equipamentos diversos [Kroner, 1997].
Do ponto de vista da classificação das funções de um edifício inteligente, várias
propostas têm sido apresentadas. [Arkin & Paciuk, 1995] propõem uma divisão em: • Sistemas;
• Serviços;
• Gestão.
E cujas descrições estão apresentadas na tabela 2.1.
Tabela 2.1 Classificação das funções do edifício inteligente.
Funções Descrição
Sistemas Elevadores, HVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado), iluminação, energia elétrica,
drenagem e abastecimento de água, controle de acesso, segurança (fogo e vida), intrusão,
telecomunicações e processamento de dados.
Serviços Voz/ vídeo/ dados, automação de escritório, serviços (compartilhados) a locatários, gestão de
segurança, operações fora de hora, etc.
Gestão Incluindo limpeza, manutenção, treinamento, propriedade, arrendamento, etc.
De acordo com [Flax, 1991] um IBS (Intelligent Building System) é a integração de
uma grande quantidade e variedade de sistemas dos quais os mais relevantes são a seguir listados:
• Sistemas de Gerenciamento de Energia (EMS – Energy Management Control
System);
• Sistema de Automação do Edifício (BAS – Building Automation System);
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 13
• Sistema de ar condicionado e ventilação;
• Sistema de iluminação;
• Sistemas de segurança;
• Sistema de controle de acesso;
• Sistemas de detecção e combate a incêndio;
• Sistema de Gerenciamento das Comunicações (CMS – Communication
Management System);
• Sistema de Automação de Escritórios (OA – Office Automation System);
• Sistemas para gerenciamento de informações;
• Sistemas de manutenção.
No projeto de edifícios inteligentes, aspectos como acabamento, revestimentos, distribuição de energia, iluminação, sistema de elevadores, condicionamento ambiental
entre outros, tornam-se elementos definidores da eficiência destes edifícios. É assim fundamental que o projeto especifique uma construção funcional, principalmente quanto à flexibilidade, segurança, economia de energia e integração dos diversos recursos.
2.1.3.
INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS EM EDIFÍCIOS
INTELIGENTES
Embora um edifício possa ser projetado ergonomicamente e com a incorporação de sistemas de telecomunicações e computadores, este ainda não é realmente um edifício
inteligente, a menos, que o mesmo sistema ofereça a integração das facilidades e serviços necessária para atingir as suas metas [Finley et al., 1991].
A integração dos sistemas é uma característica indispensável de um edifício inteligente
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 14
ocupantes, confiabilidade dos sistemas, robustez do controle dos sistemas e a
diminuição dos custos de operações [Clark G. et al, 1995]. Esta integração permite que todos os sistemas atuem cooperativamente e como um único sistema.
A integração de sistemas em um edifício inteligente requer uma administração de
complexidades que envolve a necessidade de conhecimento adequado de cada processo e da influência da automação no desempenho global, assim como a melhor escolha entre as inúmeras técnicas digitais de controle e otimização disponíveis.
Segundo [Azegami & Fujiyoshi, 1993], a melhor integração entre os vários sistemas de
um edifício inteligente é realizada através da convergência do processamento da informação e, as tecnologias mecatrônicas e de telecomunicações.
Em [Han, 1997], destaca-se que a meta atual de um edifício inteligente é integrar toda a
informação necessária para gerenciar os sistemas eficientemente e disponibilizar recursos efetivos aos usuários.
A implantação de sistemas que visam a integração segue um caminho no qual possa-se
atender as necessidades atuais e futuras dos usuários, sem obsolescência antes de se obter o retorno do investimento [Finley, et al., 1991]. O grupo de serviços de valor agregado adicional requerem estudos cuidadosos de análise e implementação. O sistema
e seu núcleo devem ser flexíveis em suas instalações e devem prever sua expansão quando as necessidades dos usuários aumentam ou se alteram.
Segundo [Marte, 1994], a automação em um edifício inteligente deve prever o
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 15
maior do que a soma das possibilidades de controle isolado dos componentes da
edificação.
Em geral, as instalações e os projetos arquitetônicos e estruturais devem procurar alcançar um melhor grau de integração entre os sistemas, pois quanto mais efetivo o
planejamento e o projeto da integração (considerando-se aspectos de inter-operabilidade, engenharia dos sistemas e infra-estrutura “inteligente”), mais tangíveis serão os benefícios obtidos com a automação nas edificações. Considera-se assim que a
chave da operação efetiva em um edifício inteligente é a integração entre os serviços, os sistemas e a estrutura [Arkin & Paciuk, 1995].
Existem várias propostas para integrar os diversos sistemas prediais em um edifício
inteligente. Inicialmente, o projeto de integração nestes edifícios consistia em coletar os dados de controladores locais dedicados à proteção contra incêndios, segurança, ar condicionado e ao gerenciamento de energia em uma central de monitoração destes
serviços. No caso dos dados apresentaram desvios dos valores de referência, era prevista a intervenção de um operador humano [Mehta, et al., 1995].
Uma outra proposta para a integração é a que considera a adaptação dos sistemas para
tratar situações de emergência em contraposição a situações de operação normal. Tipicamente são considerados nesta integração: o sistema de detecção de incêndios com
o sistema de elevadores e o sistema de ar condicionado. Sistemas mais avançados incluem a integração do sistema de controle de acesso e detecção de presença com o sistema de incêndio e o gerenciamento de evacuação. Com relação ao sistema de
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 16
influência entre sistemas como o de iluminação e ar condicionado para conseguir
gerenciar políticas globais mais econômicas.
Abordagens mais recentes usam inteligência distribuída, onde são usados microprocessadores nos controladores locais conectados em rede, permitindo que mais
entradas possam serem monitoradas e mais funções possam ser realizadas a menor custo. Assim, os diferentes sistemas são conectados a um computador central e este a um sistema central chamado Sistema de Gerenciamento do Edifício - SGE (BMS –
Building Management System). Esta arquitetura permite que o SGE implemente funções de monitoração e controle avançadas [Mehta, et al., 1995].
Algumas outras abordagens consideram uma estrutura hierárquica para o sistema, um
deles é aquele que contempla dois níveis na estrutura: um nível superior no qual se encontra o sistema de gerenciamento do edifício e outro nível subordinado a este onde estão cada um dos controles de cada sistema predial [Thumm, 1995; Peters, 1996] (vide
figura 2.1).
Figura 2.1 Estrutura hierárquica de integração em edifícios inteligentes.
De acordo à estrutura apresentada (figura 2.1), o mais alto nível na hierarquia, é o Sistema de Gerenciamento do Edifício (SGE), cuja função é o compartilhamento de
informações em tempo real, visando o gerenciamento do edifício como um todo, para a
Sistema de Gerenciamento do Edifício SGE
Sistema de Gerenciamento de Energia
Sistema de
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 17
otimização de todos os controles enquanto trata os requerimentos de conforto, eficiência
energética e funcionamento do edifício. No segundo nível hierárquico, encontram-se os diversos sistemas que integram o edifício e que inter-atuam através do SGE.
Para implementar a integração, existe atualmente o problema da comunicação entre os
diferentes sistemas. Alguns esforços no sentido da integração, são as redes digitais de serviços integrados (Integrated Services Digital Network -- ISDN) e o conceito de sistemas distribuídos para redes digitais de serviços integrados (Broadbands Integrated
Services Digital Network–BISDN) combinando funções de telecomunicações e tele-computação em um sistema único que manipula sinais de voz, dados e imagens na
forma digital [Finley et al., 1991].
Em geral, o nível de integração nos edifícios vária de acordo, principalmente, com a tecnologia disponível e o grau de prioridade outorgado para cada sistema.
No âmbito do presente trabalho, considerada-se como arquitetura de integração a
estrutura apresentada na figura 2.1, que integra diretamente cada um dos sistema prediais ao sistema de gerenciamento do edifício.
2.2.
S
ISTEMAS DE
E
LEVADORES
Os sistemas de elevadores são instalados nos edifícios para satisfazer as necessidades de
transporte vertical de seus usuários e são necessários não apenas para a conveniência e o conforto humano mas para assegurar condições de trabalho, comerciais, etc.
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 18
modelagem e análise que permitam selecionar alternativas ótimas de projeto e operação
de forma a reduzir tempos e custos envolvidos.
O desenvolvimento destes sistemas tem sido afetado pelas exigências de produtividade (que é considerada maior quanto menor o tempo de locomoção, tempo de espera, etc.)
do mundo atual. Muitos avanços têm sido alcançados neste campo com a introdução de melhores sistemas de controle (monitoração e acionamento), no entanto, não existem muitos relatos e publicações quanto aos métodos de modelagem e análise de sistemas de
elevadores integrados a outros sistemas prediais.
Para a implementação de um sistema de elevadores, os projetistas devem desenvolver estudos baseados em especificações e simulações de modelos que permitam o exame e
análise das várias configurações possíveis e o detalhamento das propostas mais promissoras.
O funcionamento especificado destes sistemas é geralmente determinado pela natureza
da demanda de transporte do edifício, a qual pode ser atendida utilizando diferentes métodos visando a otimização do desempenho do sistema tanto quantitativamente como qualitativamente.
2.2.1.
FUNCIONAMENTO DO SISTEMA
A operação de um sistema de elevadores (pode envolver um único elevador ou um
grupo com vários elevadores) pode ser explicada ao considerar como um passageiro é transportado do andar A ao andar B:
No andar A o passageiro registra uma chamada de andar ao pressionar um botão na
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 19
chamada sinalizando isso ao usuário através de um sinal luminoso e seleciona um
elevador para serví-lo. O passageiro pode observar a posição e direção de movimento do elevador no edifício através de sinalizadores nos andares e um sinalizador de direção cujo estado é atualizado quando o elevador se movimenta. A sinalização no andar é
desligada quando a cabina do elevador selecionado alcança o andar da solicitação e as portas são abertas. O passageiro entra e registra através de botões (de comando) dentro
da cabina seu destino, isto é o andar B, o qual é devidamente sinalizado para indicar o registro feito pelo “controlador de cabina”. As portas se fecham e o elevador se move até o andar B. Ao chegar próximo ao andar B o elevador reduz a marcha, pára e abre as
portas para que o passageiro desembarque. A figura 2.2 apresenta os elementos envolvidos na operação deste sistema.
Figura 2.2 Elementos básicos envolvidos na operação do sistema de elevadores
Controlador de grupo
Controlador
de cabina 1 Controladorde cabina i
...
Botoeira de cabina e sinalizadores
Andar j Andar j+1 Botoeira de andar
e sinalizadores
Andar j+1
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 20
2.2.2.
CONTROLE DO SISTEMA DE ELEVADORES
Considerado como um sistema a eventos discretos, o sistema de elevadores pode ser descomposto para seu estudo conforme com o esquema apresentado na figura 2.3
[Miyagi, 1996].
Figura 2.3 Diagrama conceitual básico do sistema de controle de SED
Segundo este esquema, os principais dispositivos utilizados no controle de sistemas de elevadores podem classificar-se da seguinte forma (tabela 2.2):
Tabela 2.2 Dispositivos usados no controle de sistemas de elevadores
CLASSIFICAÇÃO DISPOSITIVOS
Dispositivo de Comando
Dispositivo de Atuação
Dispositivo de Detecção
Dispositivo de Realização
Dispositivo de Monitoração
Botoeiras (na cabina e andar)
Motores das cabinas, atuadores das portas
Fotocélulas, detetores do peso nas cabinas, detetores de posição
Controlador programável, computador
Sinalizadores de direção e de posição, sinalizadores de registro de
comando (de cabina e andar), alarmes sonoros Operador/
Usuário
Dispositivo de Realização
do Controle Dispositivo
de Comando
Dispositivo de Atuação
Dispositivo de Monitoração
Dispositivo de Detecção
Objeto de Controle
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 21
Os objetivos do controle de sistemas de elevadores se baseiam nos requerimentos gerais
para estes sistemas [Thumm, 1995]: • Alta disponibilidade;
• Baixo consumo de energia;
• Menor espaço requerido dentro do edifício;
• Menores tempos de espera;
• Baixos custos de aquisição, instalação e manutenção
• Maior conforto
Segundo estes requerimentos alguns dos objetivos do sistema de controle são [Sasaki et al., 1996]:
• Maximizar a capacidade de trabalho para diferentes tipos de tráfego.
• Minimizar o tempo de espera médio para todos os passageiros.
• Reduzir o consumo de energia pela redução nos tempos de viagem e do número de
partidas dos atuadores (motores elétricos por exemplo).
• Minimizar o tempo médio de serviço para todos os passageiros, isto é, o tempo total
gasto pelos passageiros esperando por uma cabina e viajando até seu andar de destino.
Alguns destes objetivos são contraditórios entre si. Assim, é impossível satisfazer todos
os critérios simultaneamente e se procura então, para um controle eficiente do sistema, satisfazer cada critério em algum sentido ou atender um objetivo específico.
Assim, considera-se genericamente que a finalidade do controle envolve também o
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 22
painéis de comando que controlam a partida, a parada, o sentido de movimento do
carro, e a seleção das chamadas e outras funções correlatas [Villares, 1994]. Os controles mais usuais são:
A. C
ONTROLE DE UM ÚNICOE
LEVADORA forma mais simples de controle automático de elevadores é o controle automático de chamadas. Apresenta-se a seguir os casos mais comumente encontrados:
CONTROLE AUTOMÁTICO COLETIVO
É o controle automático caracterizado por existirem botões de comando de destino (um
para cada andar) instalados na cabina, e um único botão de chamada instalado em cada andar, todos ligados ao controlador, de tal maneira que todas as chamadas fiquem nele registradas. O elevador efetua as paradas em ordem seqüencial ao seu movimento,
independentemente da ordem em que as chamadas tenham sido registradas, e prossegue neste sentido atendendo a todas as chamadas realizadas.
CONTROLE AUTOMÁTICO SELETIVO NA DESCIDA
É o controle automático coletivo no qual as chamadas registradas de andar somente são atendidas quando o elevador se movimenta em sentido descendente, a partir da chamada
no andar mais elevado.
Aplica-se a edifícios em que o movimento principal é constituído pelo tráfego entre o térreo e os demais andares e vice-versa, sem que haja tráfego apreciável entre os
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 23
CONTROLE AUTOMÁTICO COLETIVO SELETIVO NA SUBIDA E NA DESCIDA
É o controle automático coletivo no qual existem nos andares intermediários dois botões, um de subida e um de descida, e apenas um botão nos andares extremos. Neste
sistema de controle as chamadas de andar para subir são selecionadas separadamente das chamadas de andar para descer, sendo atendidas primeiramente todas as chamadas
registradas em um dos sentidos para depois serem atendidas as de sentido oposto.
Aplica-se a edifícios onde o fluxo predominante seja entre os andares, tais como escritórios em geral ou de uma única entidade, como repartições públicas, etc.
B. C
ONTROLE DEG
RUPOÉ o controle automático para grupo de dois ou mais elevadores que operam em conjunto
e que tenham o mesmo número de paradas, entradas no mesmo hall, somente um andar principal de acesso e a mesma destinação de uso, como por exemplo todos os
elevadores de passageiros ou todos de serviço, não incluindo os elevadores isolados.
O controle, além de efetuar a seleção de chamadas de subida e/ou descida, seleciona através do uso de estratégias de controle qual é o elevador que de maneira eficiente e de acordo com um padrão de tráfego especifico, deve atender a determinadas chamadas de
andar.
Estes sistemas são indicados para qualquer tipo de edifício, sempre visando o melhor rendimento para o fluxo de usuários. Aplica-se nos casos em que por exemplo, não há
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 24
Nos sistemas mais complexos, além das seleções já referidas, o controle determina, nas
horas de “rush”, quais são as chamadas prioritárias (chamadas de andar principal, chamadas de descida, chamadas de subida, etc.). Além disso, estes controles têm flexibilidade para adaptar-se às mais variadas situações de tráfego. São indicados para
edifícios com grande fluxo de usuários.
Nos casos de controle de grupo, não é necessária a instalação de botoeira nos andares
para cada um dos elevadores, bastando uma para todo o grupo. A figura 2.4 apresenta a configuração típica do sistema de controle de um grupo de elevadores.
Figura 2.4 Configuração do sistema de controle de grupo
Como indicado na figura o sistema de controle para um grupo de elevadores, consiste de um “controle de grupo” e unidades de controle individuais para cada elevador (cabina).
A função do controle de grupo é supervisar simultaneamente diversos elevadores e assegurar que estes operem de maneira eficiente, com a finalidade de oferecer e realizar
Controle de Grupo
Unidade de Controle Operacional
Unidade de comando de velocidade
Unidade de controle de velocidade
Driver do motor
Motor Elev. no 1 contrapeso Detetor de posição
Unidade de Controle Operacional
Unidade de comando de velocidade
Unidade de control e de velocidade
Driver do motor
Motor Elev. no i contrapeso Detetor de posição Chamada de pavimento
Sinal de posição
Estado do el evador Estado do elevador Comando do
control e de grupo
Comando do controle de grupo
Detetor de velocidade Detetor de velocidade Vel. Vel. Botões de pavimento
Sinal de posição
Controle da porta Controle da porta Cham. cab. Cham. cab.
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 25
o melhor nível de serviço possível. Este controle, deve designar entre os vários
elevadores do grupo, qual deles realizará o atendimento de uma solicitação que um passageiro realize a partir de um determinado andar. O “controle de grupo” coordena as respostas às chamadas de andar, segundo os sinais dos detetores de posição e direção de
movimento de cada cabina. Quando um comando do “controle de grupo” é recebido pelo controle de cabina ou unidade de controle individual, a respectiva unidade de
controle operacional, contida dentro deste, envia o comando para acionar o “driver do motor”. Este comando está baseado na relação entre o andar onde o elevador deve parar e sua posição atualizada pelo detetor de posição. A unidade de controle operacional,
controla também as portas e o freio para travamento do movimento da cabina.
A unidade de comando de velocidade, envia um comando para regular a velocidade, de acordo com a distância entre a posição atual da cabina e a posição de parada desejada.
No contexto deste trabalho, considera-se basicamente os sistemas de elevadores que
possuem controle de grupo (controladores programáveis), pois esta é a classe de sistemas empregada no âmbito dos edifícios inteligentes, pela sua eficiência,
flexibilidade e facilidade de atender as especificações de integração com outros sistemas prediais.
2.2.3.
INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE ELEVADORES EM
EDIFÍCIOS INTELIGENTES
Como foi mencionado, a integração dos diversos sistemas de um edifício inteligente visa a otimização do desempenho do edifício como um todo. Neste contexto a
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 26
identificação de eventos e situações previstas por estes que possam ter alguma
influência no primeiro.
Ao abordar esta integração, e tendo em conta as propostas apresentadas para a arquitetura de sistemas em edifícios inteligentes, considerou-se conveniente uma
abordagem hierárquica e a introdução de um novo nível de controle: o “controle dos grupos”, que serve como interface de comunicação entre os grupos de elevadores e o SGE, facilitando assim o recebimento da informação proveniente de outros sistema
prediais e portanto a integração do sistema de elevadores com estes. Na figura 2.5 é apresentada a configuração do sistema.
Figura 2.5 Configuração da integração do sistema de elevadores com o sistema de gerenciamento do edifício
Este nível, é o encarregado de enviar as informações pertinentes a cada um dos grupos que compõem o sistema, recebidas de sua interface com o usuário ou do SGE como por
Controlador de grupo
Controlador de cabina 1
Controlador de cabina i
...
Controlador de grupo
...
Controle dos grupos Sistema de
Gerenciamento do Edifício (SGE)
...
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 27
exemplo: ligar ou desligar elevadores, ordenar a execução de uma determinada
estratégia ou ainda o serviço independente de algum elevador em um grupo. É assim, o gerador de comandos e informações para cada um dos controles de grupo do sistema.
Apresenta-se a seguir alguns exemplos dos sistemas prediais com os quais o sistema de
elevadores pode inter-atuar:
• Interação com o sistema de detecção e combate a incêndio: permitindo a operação
em modo emergência onde a primeira fase compreende o traslado dos elevadores até o térreo e seu desligamento. A segunda fase corresponde à utilização de elevadores por parte dos bombeiros.
• Interação com o sistema de manutenção e detecção de falhas: ao viabilizar a
monitoração e avaliação dos equipamentos e a efetivação da manutenção preventiva.
• Interação com o sistema de controle e gerenciamento de energia: mediante a
eliminação de partidas simultâneas dos atuadores, redução dos tempos de viagem, redução do número de paradas desnecessárias, desligamento de luzes e do ventilador
quando depois de um determinado tempo não se registram chamadas. Desativação de alguns elevadores em caso de se ter um tráfego baixo. No caso de falta de
energia, o sistema deve acionar os geradores e entrar em modo de operação de emergência, trasladando todos os elevadores até o andar térreo.
• Interação com o sistema de comunicações do edifício: viabilizando a monitoração e
o comando remoto para modificar o funcionamento dos elevadores.
• Interação com o sistema de controle de acesso: de forma a permitir o controle de
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 28
aos elevadores pode requerer uma identificação que especifica quais pisos podem
ser acessados pelo interessado).
2.2.4.
CARATERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ELEVADORES
Considerando a complexidade do sistema de elevadores, é necessário utilizar técnicas que sejam capazes de modelar as características básicas encontradas nestes. Assim o
sistema de elevadores pode ser caracterizado como um Sistema a Eventos Discretos (SED), por possuir uma dinâmica dirigida pela ocorrência de eventos discretos a
intervalos em geral irregulares e desconhecidos, que determinam a evolução de seus estados, o que incorpora a esse tipo de sistema um caráter não determinístico. Observa-se que, além disso, tais sistemas possuem certas características como sincronismo,
conflito, paralelismo e concorrência de atividades, presentes nos SEDs e que inviabilizam o uso de algumas técnicas tradicionais de descrição de sistemas contínuos
[Hasegawa, 1987].
Assim, a caracterização do sistema de elevadores como um SED, permite realizar a modelagem deste sistema através da identificação de suas características e sua dinâmica
baseada na evolução de seus estados discretos dirigida por eventos, através do uso de uma ferramenta adequada.
Neste contexto, a ferramenta de modelagem para estes sistemas deve, então, considerar os seguintes aspectos:
•Possibilitar a identificação de características de paralelismo e concorrência de
Capítulo 2 – EDIFÍCIOS INTELIGENTES E SISTEMAS DE ELEVADORES 29
•Ser capaz de descrever o comportamento dinâmico do sistema através da
evolução de seus estados.
•Representar o sistema através de uma abordagem hierárquica e de refinamentos
sucessivos, para que seu desenvolvimento possa ser feito em diversos níveis de abstração.
•Possuir ou permitir o desenvolvimento de técnicas de análise por simulação.
•Facilitar sua compreensão.
2.3.
O
BSERVAÇÕES
F
INAIS DO
C
APÍTULO
No capítulo apresentou-se algumas das definições de edifício inteligente, e foram consideradas suas características e objetivos. Neste âmbito ressaltou-se a importância da integração entre os sistemas que o compõem, como um meio para atingir suas metas de
produtividade, segurança e baixo custo.
O capítulo tratou também sobre os sistemas de elevadores, abordando o importante papel destes nos edifícios. Além disso foram apresentados seu funcionamento e os tipos
de controle para estes sistemas. Considerou-se também a integração destes sistemas com outros sistemas prediais como um meio de prover maior segurança e conforto aos
Capítulo 3
APLICAÇÃO DE REDE DE PETRI
Este capítulo trata os conceitos principais de rede de Petri necessários para a modelagem de sistema de elevadores. É apresentada a metodologia PFS/MFG
(Production Flow Schema/Mark Flow Graph) que é uma interpretação de redes de Petri efetiva para a modelagem, análise e especificação de sistemas a eventos discretos.
Nos projetos mais recentes de construção de edifícios nota-se a instalação de sistemas
automatizados, cuja função é a realização autônoma das diversas funções e serviços existentes nos ambientes destes edifícios. A maior parte destes sistemas possuem como
característica um comportamento dinâmico definido através das mudanças de estados devido à ocorrência de eventos discretos. Por exemplo, entre os eventos considerados estão: abertura e fechamento de portas, acionamento e desligamento de lâmpadas,
chamada de elevadores, etc. A classe de sistemas definida por esse comportamento é denominada Sistemas a Eventos Discretos – SED [Ramadge & Wonham, 1989; Miyagi,
1996] (mais informações sobre este tema são apresentadas no apêndice I) e para a qual têm sido desenvolvidas várias técnicas para sua modelagem, análise, controle e projeto. Por exemplo: Redes de Petri, Cadeias de Markov, Teoria de filas, Álgebra mini-max,
Máquinas de estados, etc. foram desenvolvidas com base em propriedades como: reinicialização, sincronização, concorrência, etc. que os SED apresentam. Entre estas
Capítulo 3 – APLICAÇÃO DE REDE DE PETRI 31
Assim, no contexto dos sistema prediais em edifícios inteligentes e considerando
particularmente o sistema de elevadores caraterizado como um SED, cuja concepção e operação requerem técnicas efetivas para modelagem, simulação e análise e tendo em conta a eficácia que as redes de Petri têm apresentado para a abordagem de diversos
sistemas e sua efetividade como uma técnica uniforme para modelagem, o presente trabalho procura explorar o potencial desta abordagem nestes sistemas.
3.1.
R
EDE DE
P
ETRI
(RP)
O conceito de Redes de Petri foi introduzido por Carl Adam Petri em sua tese de doutorado (1962), como ferramenta para descrever relações entre condições e eventos
no estudo de protocolos de comunicação entre componentes assíncronos. Embora ocorresse uma ampla divulgação academica ao longo de três décadas, o seu potencial só foi reconhecido na metade da década de oitenta, onde esta teoria foi usada para
implementações práticas nas área de informática e manufatura devido à disponibilidade de novos recursos de “hardware”e “software”.
A rede de Petri é uma ferramenta matemática e gráfica que oferece um ambiente
uniforme para modelagem, análise e projeto de sistemas a eventos discretos [Zurawki & Zhou, 1994]. Sua aplicação tem se estendido a uma grande quantidade e variedade de sistemas. Os principais sistemas onde é aplicada esta técnica são: sistemas de
comunicações, sistemas de software, sistemas de processamento de informação, além das aplicações em modelagem, simulação e seqüenciação de sistemas flexíveis de
Capítulo 3 – APLICAÇÃO DE REDE DE PETRI 32
Alguns trabalhos sobre modelagem de sistemas prediais através do uso de RP já foram
realizados. Nestas pesquisas, têm sido proposta a aplicação de RP coloridas para modelagem de sistemas em tempo real, como no caso de sistemas de elevadores [Etessami & Hura, 1991]. No entanto, estes modelos consideram um único elevador
sem considerar a necessidade de coordenação com outros elevadores, imprescindível em um sistema de controle de grupo. Além disso, aspectos de integração do sistema de
elevadores com outros sistemas do edifício têm sido pouco explorados.
3.1.1.
CARACTERÍSTICAS E VANTAGENS DAS REDES DE PETRI
Em [Hasegawa, 1996] destacam-se as seguintes características e vantagens desta técnica:
• Representa a dinâmica e a estrutura do sistema segundo o nível de
detalhamento desejado.
• Identifica estados e ações de modo claro e explícito, facilitando com isto a
monitoração do sistema em tempo real.
• Tem a capacidade para representar de forma natural as características dos SED
(sincronização, assincronismo, concorrência, causalidade, conflito,
compartilhamento de recursos, etc.).
• Associa elementos de diferentes significados numa mesma representação, ou
segundo o propósito do modelo (avaliação de desempenho, implementação do controle, etc).
• Oferece um formalismo gráfico que permite a documentação e monitoração do
sistema, facilitando assim o diálogo entre o projetista e as pessoas que
Capítulo 3 – APLICAÇÃO DE REDE DE PETRI 33
• Se constitui como uma teoria muito bem fundamentada para a verificação de
propriedades qualitativas.
• Possui uma semântica formal e precisa que permite que o mesmo modelo
possa ser utilizado tanto para a análise de propriedades comportamentais (análise quantitativa e/ou qualitativa) e avaliação do desempenho, assim como
para a construção de simuladores a eventos discretos e controladores (para implementar ou gerar códigos para controle de sistemas). Além de servir para
verificar comportamentos indesejáveis como bloqueio, limitação, etc.
• Incorpora conceitos de modelagem do tipo refinamento (“top down”) e do tipo
composição modular (“bottom up”) através de técnicas como: modularização, reutilização, refinamento, etc.
Como uma ferramenta matemática, um modelo em rede de Petri pode ser descrito por
um sistema de equações lineares, ou outros modelos matemáticos que refletem o comportamento do sistema [Zurawski & Zhou, 1994], o qual possibilita a análise formal do mesmo. Esta característica permite realizar a verificação formal das propriedades
comportamentais do sistema.
As abordagens relacionadas com redes de Petri encontradas na literatura podem ser organizadas em três classes fundamentais:
• Redes de Petri básicas ou ordinárias: se constitui em um modelo elementar
adequado para visualizar comportamentos que envolvem paralelismo, sincronização e compartilhamento de recursos. Este é o modelo básico de rede que permite
Capítulo 3 – APLICAÇÃO DE REDE DE PETRI 34
• Reduções de redes de Petri ordinárias: são descrições simplificadas que procuram
sintetizar a apresentação gráfica dos modelos, mas que ainda podem ser representadas adequadamente por redes de Petri ordinárias. Entre estas estão: redes
de Petri generalizadas, redes de Petri de capacidade finita, redes de Petri coloridas. • Extensões das redes de Petri ordinárias: correspondem a modelos em que se incorporam
regras adicionais de funcionalidade para enriquecer o poder de modelagem. São consideradas três subclasses [David & Alla, 1994]: modelos equivalentes a máquinas de
Touring, modelos para sistemas contínuos e híbridos, modelos de sistemas que evoluem em função da ocorrência de eventos externos ou do tempo.
Uma outra forma de classificar as redes de Petri é em função de sua aplicação prática. Assim
tem-se as redes de Petri interpretadas. Neste tipo de redes são associadas variáveis com significado pratico às transições, representando condições e ações existentes no sistema. Tais variáveis podem indicar o estado de atuadores, sensores, etc., permitindo assim, modelar a
interação com o ambiente externo [Cardoso & Valette, 1997].
No apêndice II apresenta-se os fundamentos básicos de rede de Petri, que permitem uma maior compreensão desta técnica e suas extensões.
Assim, a rede de Petri se constitui como uma poderosa ferramenta para o modelagem e
análise de SEDs. Entretanto, na modelagem de sistemas complexos e com diferentes níveis de abstração se evidencia um ponto fraco em uma de suas principais
características: sua visualização gráfica. Desta maneira, verifica-se que é adequado que a modelagem inicial seja realizada utilizando interpretações não formais e a partir deste modelo seja conduzido um detalhamento gradativo e com interpretações formais. E, é