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Abordagem otimizada na ressuscitação cardiocerebral.

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Academic year: 2017

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Ponto de Vista

Abordagem Otimizada na Ressuscitação Cardiocerebral

Optimized Approach in Cardiocerebral Resuscitation

Karl B. Kern

1

, Sergio Timerman

2

, Maria Margarita Gonzalez

2

, José Antônio Ramires

2

University of Arizona Sarver Heart Center, University of Arizona College of Medicine, Tucson1, Arizona - United States; Instituto do Coração

(InCor) - Universidade de São Paulo2, São Paulo, SP - Brasil

Correspondência: Maria Margarita Gonzalez •

Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 - Cerqueira César - 05403-900, São Paulo, SP - Brasil

E-mail: maria.gonzalez@incor.usp.br, margarita.gonzalez@fleury.com.br Artigo recebido em 19/07/10; revisado recebido em 24/11/10; aceito em 03/12/10.

Palavras-chave

Ressuscitação, oxigenoterapia, disfibriladores/utilização, sobrevivência.

em cooperação com o corpo de bombeiros (CB), instituiu um novo programa abrangente de ressuscitação para PCFH. O CB estava disposto a instituir as alterações recomendadas, porque sua base de dados municipal havia mostrado que, a despeito de “atualizações” e alterações de acordo com as Diretrizes de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), a sobrevivência em PCFH não havia mudado de forma significativa nos últimos 10 anos. Essa nova abordagem, chamada “Ressuscitação Cardiocerebral”, modifica de forma significante a RCP padrão para fornecer perfusão mais consistente ao miocárdio e ao sistema nervoso central durante a parada cardíaca (PC).

O primeiro componente principal da RCC são as compressões torácicas contínuas (CTC)1. A RCP com

compressões torácicas contínuas (também chamadas de “RCP somente com compressões torácicas”)2 é recomendada como

parte da RCC por todos os observadores que testemunhem um colapso súbito3. O argumento para a CTC é baseado no

reconhecimento de que qualquer interrupção nas CT afeta de forma adversa o fluxo sanguíneo para o cérebro e o coração3.

Assar e colegas observaram que as pressuposições sobre quão rápido duas respirações boca-a-boca podiam ser executadas por leigos eram errôneas4. Nesse estudo de quase 500 socorristas

leigos sozinhos, o tempo médio necessário para realizar duas respirações boca-a-boca era de 16 segundos. Isto significa que durante a tentativa de ressuscitação realizada por uma pessoa leiga, nenhuma CT está sendo realizada por um tempo considerável, de até 50% do tempo de ressuscitação em alguns casos. Tais períodos sem CT resultam em comprometimento acentuado do fluxo sanguíneo para o coração e cérebro5, e

no final, resulta em uma diminuição na sobrevivência. As CT contínuas evitam essas interrupções e fornecem melhor suporte hemodinâmico, resultando em melhores desfechos.

O segundo componente da RCC é um novo algoritmo de tratamento de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS) para Serviços Médicos de Emergência (SME)2,3. Esse

algoritmo enfatiza compressões torácicas ininterruptas a despeito de outros procedimentos contínuos como parte do esforço de resgate.

À chegada, os socorristas do SME executam 200 CT antes de obter uma análise de ritmo; se fibrilação ou taquicardia ventricular (FV/TV) estiverem presentes, um choque único de desfibrilação é fornecido e imediatamente 200 CT adicionais são realizadas. Três dessas 200 CT e então a análise são completadas antes que a intubação endotraqueal (IET) seja considerada (Fig. 1).

Durante a implementação da RCC no Arizona, a IET foi atrasada até pelo menos 6 minutos. O atual algoritmo para

Resumo

A ressuscitação cardiocerebral (RCC) é uma nova abordagem à ressuscitação de pacientes com parada cardíaca fora do hospital (PCFH). O primeiro componente principal da RCC são as compressões torácicas contínuas (CTC), também chamadas de RCP com compressões torácicas isoladas ou “RCP somente com compressões torácicas” (“Hands-only” CPR), recomendadas como parte da RCC por todos os observadores que testemunhem um colapso súbito de origem presumidamente cardíaco.

O segundo componente é um novo algoritmo de tratamento de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS) para Serviços Médicos de Emergência (SME). Esse algoritmo enfatiza compressões torácicas ininterruptas a despeito de outros procedimentos contínuos como parte do esforço de resgate. Um terceiro componente foi recentemente adicionado à RCC, e é o cuidado agressivo pós-ressuscitação. A RCC tem aumentado a participação de testemunhas e tem melhorado as taxas de sobrevivência em varias comunidades. Essa é a hora para outras comunidades re-examinarem seus próprios desfechos com parada cardíaca e considerar a possibilidade de se juntar a essas cidades e comunidades que dobraram e até mesmo triplicaram as suas taxas de sobrevivência de PCFH.

Introdução

Ressuscitação cardiocerebral (RCC) é uma abordagem relativamente nova para a ressuscitação de pacientes com parada cardíaca fora do hospital (PCFH). Em 2003, a experiência clínica local no Arizona claramente indicava que interrupções das compressões torácicas (CT) tinham um impacto negativo na sobrevivência. Consequentemente, em 2003, o grupo de pesquisa em ressuscitação do Sarver Heart Center Ressuscitation Research da Universidade do Arizona,

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Ponto de Vista

Kern e cols. Ressuscitação cardiocerebral

Arq Bras Cardiol 2011;96(4):e77-e80

RCC recomenda administração passiva de oxigênio como o manejo inicial da via aérea. Essa alternativa à IET foi iniciada em Wisconsin em 20046. Uma abordagem híbrida foi utilizada

em cidades do Arizona em 2005 e em 46 vítimas atendidas pelo CB no Arizona em 2006-2007. Esse algoritmo também atrasava a IET, mas permitia uso de ventilação com dispositivo de bolsa-valva-máscara ou administração passiva de oxigênio. Na RCC, a administração passiva é agora preferida, com um estudo recente mostrando melhora na sobrevivência quando a administração passiva de oxigênio é utilizada6.

Um terceiro componente foi adicionado à RCC, e é o cuidado agressivo pós-ressuscitação. Este inclui o uso de hipotermia terapêutica e cateterização cardíaca, com intervenção coronária percutânea (ICP) para vítimas ressuscitadas de PCFH.

Estudos randomizados tem demonstrado o valor da hipotermia na melhora do desfecho pós-ressuscitação7. Dados

recentes tem mostrado que a ICP precoce também melhora o desfecho em pacientes ressuscitados de PCFH8. A análise

de quase 1.000 pacientes assim tratados pós-ressuscitação sugere que uma taxa de sobrevivência de 65% pode ser alcançada, com 80% desses sobreviventes permanecendo neurologicamente intactos8.

A ressuscitação cardiocerebral melhora a

sobrevivência

Dr. Kellum e colegas instituíram a RCC em Wisconsin em 2004. Seu controle histórico dos três anos anteriores, quando as Diretrizes 2000 estavam em operação, mostraram uma taxa de sobrevivência neurologicamente intacta na alta hospitalar de 15%. Durante os três primeiros anos, a taxa de sobrevivência neurologicamente intacta foi de 40% (incluindo um paciente que recebeu hipotermia)6.

As diretrizes nacionais e internacionais para RCP foram atualizadas em 2005 e 2010 e incluíram algumas das abordagens recomendadas pela RCC. A AHA emitiu uma diretriz em 2008, recomendando o uso da compressões torácicas isoladas ou “RCP somente com compressões torácicas” (“Hands-only” CPR) para espectadores em casos de PC em adultos4.

Ressuscitação cardiocerebral aumenta a

realização de RCP por agentes oficiais do

governo espectadores

A ressuscitação cardiocerebral recomenda CTC para todos os espectadores. Antecipou-se que essa recomendação aumentaria

Fig. 1 -Algoritmo da Ressuscitação Cardiocerebral. Inicia-se com 200 CTC. O segundo socorrista aplica as pás do desfibrilador e faz a insuflação de oxigênio, aplicando

uma máscara na via aérea faringeal/oral e então uma máscara do non-rebreather com alto fluxo de oxigênio (10-15 l/min). Após 200 CTC, uma análise do ritmo é realizada. Ritmos chocáveis são tratados com choque único, então imediatamente mais 200 CT são administradas. Durante o primeiro ou o segundo ciclo de 200 compressões, um acesso IV ou IO pode ser estabelecido pelo 2º ou 3º socorrista e 1mg de epinefrina deve ser administrada. Após o término do segundo ciclo de 200 CT, uma análise de ritmo adicional é realizada. Se um ritmo chocável for detectado, aplicar novamente choque único de desfibrilação e então mais 200 CTC. Se o paciente permanecer em ressuscitação, considerar intubação endotraqueal (IET).

Quando essas tarefas forem realizadas, substituir o primeiro socorrista e realizar

compressões torácicas.

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Ponto de Vista

Referências

1. Kern KB. Limiting interruptions of chest compressions during cardiopulmonary resuscitation. Resuscitation. 2003;58(3):273-4.

2. Sayre MR, Berg RA, Cave DM, Page RL, Potts J, White RD. Hands-only (compression-only) cardiopulmonary resuscitation: a call to action for

bystander response to adults who experience out-of-hospital sudden cardiac arrest: a science advisory statement for the public from the American Heart Association Emergency Cardiovascular Care Committee. Circulation. 2008;117(16):2162-7.

a incidência de RCP por espectadores leigos. Dr. Kellum observou em Wisconsin, que após a introdução de CTC, a incidência de RCP realizada por agentes oficiais do governo espectadores aumentou. Sabendo que eles não teriam de aplicar ventilação boca-a-boca, agentes do governo pareciam mais inclinados a iniciar a RCP em pacientes com PC presenciada.

A ressuscitação cardiocerebral recomenda desfibrilação imediata ou atrasada, com base no modelo temporal das três fases da FV9. A desfibrilação imediata é recomendada

durante a fase elétrica3. Entretanto, agentes do SME na maioria

das cidades chegam na fase circulatória da parada por FV1.

Durante a fase circulatória da FV, o miocárdio fibrilante já utilizou muito de sua energia armazenada e CT que realizam perfusão do coração são recomendadas não apenas antes de, mas também imediatamente após o choque único desfibrilador. A RCC recomenda 200 CT (100 por minuto) sem ventilação assistida antes do choque desfibrilador1,4.

Igualmente importante no protocolo da RCC é o fornecimento de 200 CT iniciados imediatamente após o choque único, sem análise de ritmo ou verificação de pulso1,4.

Considerando que o grupo de Arizona e outros observaram que durante a fase circulatória da parada por FV qualquer interrupção ou atraso nas CT tinham efeitos deletérios, a IET (que sempre interrompe as CT, de alguma forma) é inicialmente

proibida pela RCC1,4,5. A fim de evitar o erro comum de agentes

do SME ao fornecer hiperventilação na PC, a abordagem atual da RCC referente à ventilação é a administração passiva de oxigênio. Essa consiste em inserir primeiramente uma cânula orofaríngea, e então colocar uma máscara com válvula unidirecional (non-rebreather) com alto fluxo (10-15 litros por min) de oxigênio4. A

intubação é indicada após três ciclos de CT (Fig. 1).

O recentemente adicionado terceiro componente da RCC, ou seja, o cuidado agressivo pós-ressuscitação, que inclui hipotermia terapêutica e ICP precoce melhorou a alta hospitalar com desfecho neurológico favorável de 26% para 56% (p < 0,001)8. O Departamento de Serviços Médicos de

Emergência e Traumatismo do Arizona estabeleceu hospitais que são “Centros de Parada Cardíaca”, muito similares àqueles designados como “Centros de Trauma”. Esses hospitais devem ser capazes de estarem dispostos a fornecer hipotermia terapêutica e ICP de urgência à vítimas ressuscitadas de PCFH.

Papel da ressuscitação cardiocerebral

na parada cardíaca não-testemunhada,

prolongada, ou na assistolia

Tem havido preocupações sobre se a RCC afetaria de modo adverso pacientes com FV não-testemunhada ou

especialmente, ritmos de PC não-FV, tais como assistolia ou AESP. Os dados de sobrevivência até a alta hospitalar da área metropolitana da cidade de Phoenix mostra um aumento na sobrevivência até a alta hospitalar de 1,8% (4/218) antes da RCC para 5,4% (36/668) após a instituição da RCC [OR de 3,0; 1,1-8,6]. Uma análise adicional dessa população de vítimas não-selecionadas de PCFH mostrou que 2 dos 4 sobreviventes (50%) no pré-período tiveram FV não-testemunhada ou ritmos diferentes da FV, enquanto 13 dos 36 sobreviventes (36,1%) tiveram ritmos similares do período de estudo pós-RCC. Isso demonstra uma taxa de sobrevivência para FV não-testemunhada ou ritmos diferentes da FV de 2/218 (0,9%) pré-RCC e 13/668 (1,9%) pós-RCC. Os cálculos do Qui-quadrado são de 1,045, indicando um valor de p insignificante de 0,3. Assim, nenhuma diferença foi encontrada em termos de desfecho, embora a sobrevivência na alta tenha duplicado (e não diminuído) na era pós-RCC6 (quando comparada ao

controle histórico de sobrevivência de PCFH). Esses dados sugerem que a RCC não é prejudicial em pacientes cuja parada cardíaca não é do tipo FV testemunhada.

Conclusões

A ressuscitação cardiocerebral tem melhorado a participação de testemunhas de uma PC na realização das manobras de ressuscitação, fornece maior fluxo sanguíneo ao coração e ao cérebro durante os primeiros minutos cruciais da PC e tem melhorado a sobrevivência de longo prazo em varias comunidades. Essa é a hora para outras comunidades re-examinarem seus próprios desfechos com parada cardíaca e considerar a possibilidade de se juntar a essas cidades e comunidades que dobraram e até mesmo triplicaram as suas taxas de sobrevivência de PCFH10.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Kern e cols.

Ressuscitação cardiocerebral

Arq Bras Cardiol 2011;96(4):e77-e80

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Ponto de Vista

Kern e cols. Ressuscitação cardiocerebral

Arq Bras Cardiol 2011;96(4):e77-e80 3. Ewy GA, Kern KB, Sanders AB, Newburn D, Valenzuela TD, Clark L, et al.

Cardiocerebral resuscitation for cardiac arrest. Am J Med. 2006;119(1):6-9.

4. Assar D, Chamberlain D, Colquhoun M, Donnelly P, Handley AJ, Leaves S, et al. Randomized controlled trials of staged teaching for basic life support: 1. Skill acquisition at bronze stage. Resuscitation. 2000;45(1):7-15.

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