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O agente de serviço social na fusão da Eletronuclear: discurso e ação

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Academic year: 2017

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CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

o

AGENTE DE SERViÇO SOCIAL NA FUSÃO

DA ELETRONUCLEAR : DISCURSO E AÇÃO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

(2)

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

E

o

AGENTE DE SERVIÇO SOCIAL NA FUSÃO DA

ELETRONUCLEAR: DISCURSO E AÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR SISSILIANA BETHANIA DEL ROCHIO VILCHEZ DE RABANAL

APROVADAEM Z'iS'IJ.2.I~

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

(3)

pela sua compreensão e

apoio incalculável

11

(4)

Quero expressar meus agradecimentos as seguintes instituições e pessoas que contribuíram para realização desta disseltação:

Ao Todo-poderoso, pela força, coragem e persistência para continuar estudando e cuidando da minha família no dia-a-dia.

- À Coordenação do Curso de Mestrado em Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, por ter me concedido a oportunidade de realizar meu segundo mestrado como aluna estrangeira.

- A todos meus professores do Curso de Mestrado pelos seus ensinamentos durante as aulas. Merecendo menção à parte, o Prof. Paulo Emílio Matos Martins pelo aprendizado e incentivo transmitidos.

À minha orientadora Prof. Deborall Moares Zouain e à Prof. Valderez Ferreira Fraga, pelas suas contribuições na elaboração deste estudo.

- De maneira especial à Prof. Ilda Lopes Rodrigues da Silva, do Opto. de Serviço Social da PUC/Rio, pelo apoio e amizade incondicional.

- A todos meus colegas e funcionários da EBAP/FGV, que de uma ou outra forma contribuíram na constmção deste estudo.

- Ao pessoal da ELETRONUCLEAR, pelo total apoio e participação nesta pesquisa.

De maneira especial, à ex-Gerente da Area de Assistência e Benefícios da Eletronuclear, assistente social Joanna Elsenbusch.

- Ao CNPQ pelo financiamento e concessão de bolsa de estudo.

(5)

Este estudo desvelou, através da abordagem hennenêutica fenomenológica, a

polissemia do fenômeno da fusão da empresa pública Eletronuclear.

Destaca-se o sentido técnico e hmnano do processo de fusão da área nuclear de Fumas

e Nuclen. Descreve-se o vivido pelas pessoas, durante os momentos da fusão: antecipação,

anúncio, transição e fonnação da nova Empresa.

A compreensão da singularidade do caso enfocado, dependeu do discurso da ação do

agente de Serviço Social da Eletronuclear.

O presente trabalho contem as ações significativas do profissional de Serviço Social

em um momento de fusão, ações inseridas no projeto global da empresa favorecendo a

negociação, entre os originados das empresas Fumas e Nuclen.

Apresentam-se as sugestões, tanto das pessoas da empresa, engajadas na pesquisa,

quanto da autora em uma perspectiva fenomenológica.

ABSTRACT:

This study watched, through the method henneneutic phenomenological, the multiples

senses ofthe phenomenon the merger ofthe public company Eletronuclear.

Highlight of the technical and human sense in this process of merger the nuclear area of

Fumas and Nuclen company. lt is described lived him for the people, during the merger

moments: anticipation, announcement, transition and fonnation ofthe new Company.

The understanding ofthe singularity ofthe focused case depended on the speech ofthe

action agent's of Social Service of Eletronuclear.

The present work teUs the professional's of Social Service significant actions in a

moment of merger, actions inserted in the global project of the company favoring the

negotiation, among them originated of the companies Fumas and Nuclen.

They come the suggestions, so much of the people of the company, engaged in the

research, as the author in a phenomenoJogicaJ perspective.

(6)

1.- INTRODUÇ,-\O ...

01

1.1 Motivação ... O 1 1.2 i\.lcance ... 04

1.3 Objetivos: geral e específicos ... 05

1.4 Estruturação da dissertação ... 06

2.- REFERENCIAL TEÓRICO-FILOSÓFICO ...

08

2.1 A HERMENÊUTICA FENOMENOLÓGICA COMO ABORDAGEM DE PESQUISA NA ADMINISTRAÇÃO.. ... . ... 08

2.1.1 A necessidade de uma abordagem filosófica na pesquisa em Adluinistração ... 08

2.1.1.1 Uma perspectiva filosófica na concepção e desenvolvimento da pesquisa ... 08

2.1.1.2 As posições filosóficas da pesquisa em Administração ... 12

2.1.2 A hermenêutica fenomenológica de Paul Ricoeur como abordagem filosófica da pesquisa em Administração ... 15

~

2.1.2.1 A dialética da complementariedade entre o saber científico e o saber fenomenológico ... 18

2.1.2.2 O método hermenêutico fenomenológico ... 24

2.2 GLOBALIZAÇÃO E NOVAS FORMAS DE ESTRUTURAÇÃO DE EMPRESAS ... . . ... 34

2.2.1 Caracterização da civilização universal mundial.. ... 35

2.2.2 O sentido de Humanidade e Civilização em um contexto de tecnologia avançada ... 39

2.2.3 O sentido ontológico do poder e a racionalidade política ... .40

2.2.3.1 A dialética do Bem e do Mal na política ... .4l 2.2.3.2 O sentido ontológico do poder e a racionalidade política: o Ser do Estado ... 44

(7)

2.2.4 Globalização: caráter polissêmico ... 52

2.2.5 Novas fonnas organizacionais e de estruturação de empresas ... 57

2.2.5.1 Alusão como nova fonna de estruturação de empresas ... 64

2.3 O SERVIÇO SOCIAL DE EMPRESA. ... . ... 74

2.3.1 A empresa como requisitante institucional ... 77

2.3.2 Além de uma filosofia assistencialista ... 79

2.4 AÇÃO, AGENTE E DISCURSO DA AÇÃO NA PERSPECTIVA RICOEURIANA 2.4.1 Uma abordagem filosófica à Ação Administrativa ... 82

2.4.1.1 A ação ... 82

2.4.1.2 O i\gente ... 86

2.4.2 O Discurso da Ação ... 88

3.- A SINGULARIDADE DO CASO ELETRONUCLEAR ...

91

3.1 A FUSÃO DA EMPRESA PÚBLICA ELETRONUCLEAR : IMPLICAÇÕES TÉCNICO-ESTRÁ TEGICAS. ... .. . ... ... . ... 94

3.1.1 Definindo o sentido técnico e singular da fusão ... 96

3.1.2 As ações do Agente administrati vo na antecipação da fusão ... 104

3.1.3 As ações do Agente administrativo na transição e fonnação da nova Empresa ... J 10 3.1.4 Resultados da fusão da Eletronuclear ... 118

3.2 A FUSÃO DA EMPRESA PÚBLICA ELETRONUCLEAR : IMPLICAÇÕES HUMANAS ... 123

3.2.1 Definindo o sentido humano e singular da fusão ... 123

3.2.2 Vivências nos momentos da fusão da Eletronuclear ... 124

3.2.2.1 Momento da antecipação da fusão: rejeição ... 125

3.2.2.2 Momento do anúncio da fusão: Nuclen --- incertezas ... 126

3.2.2.3 Momento da transição: choque cultural ... 127

3.2.2.4 Momento da fonnação da nova Empresa: Eletronuclear --integração ... 136

(8)

"novo espírito" empresarial ... 140

3.2.4 Conseqüências humanas da fusão da Eletronuclear.. ... 147

3.2.5 O Significado de ser Profissional de Serviço Social de Empresa ... 150

4.- REFLEXÕES FINAIS ...

156

5.-

SUGESTÕES ...

171

5.1 DAS PESSOAS ENGAJADAS NA PESQUISA ... 171

5.2 DA AUTORA • UMA POSTURA DE INSERÇAo NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA.. .. . ... 175

BIBLIOGRAFIA ...

179

(9)

1.1. MOTIVAÇAo

A civilização está vivenciando o maior fenômeno de Globalização de sua história

justificada pela política neoliberal e sua racionalidade técnico-científica, além dos avanços

indescritíveis da microeletrônica. Este fenômeno tem tido repercussões em todos os âmbitos

da sociedade, gerando cenários de mudanças como a reestnJturação de empresas públicas e

privadas conseqüente de fusões, incorporações, aquisições e cisões.

No mundo das organizações públicas observou-se que os governos nacionais da

América Latina seguindo a política do "Estado Mínimo" tomaram algmllas decisões

estratégicas, viabilizando privatizações, fusões, incorporações e cisões de suas empresas.

O governo brasileiro, por exemplo, optou pela estratégia de jusão de algumas áreas de

produção ou serviços públicos, com a realização do PROER, Programa de Estímulo à

Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, criado pela r-..'1edida

Provisória n°. 1.179, de 03/11/95, e complementado por outras disposições normativas.

(Bulgarelli, 1998)

Uma jitsão acontece quando duas empresas, públicas ou privadas, passam a fomlar

uma única organização o que pode ocorrer das mais diversas maneiras, desde acordos por

interesses e necessidades mútuas até decisões governamentais visando a implementação de

suas políticas e estratégias.

Nesse contexto, o Setor de Energia Elétrica Nacional está vivenciando mll período de

profundas transformações. Dentre elas, observou-se o desmembranlento da Diretoria Nuclear

de FURNAS Centrais Elétricas S.A e a sua incorporação à NUCLEN Engenharia e Serviços

S.A., constituindo um nova empresa que passou a chamar-se Eletrobrás Termonuclear S.

(10)

o

estudo permitirá uma melhor compreensão do fenômeno da fusão de empresas

públicas no Brasil, na era da Globalização, pois o propósito deste trabalho é mostrar o sentido

técnico mas também dar relevância ao sentido humano nesse contexto.

Considera-se importante este estudo porque possibilitou realizar uma descrição do

fenômeno da fusão de empresas públicas com as pessoas-em-situação-de:fúsão.

Além disso, porque pennitiu perceber as transformações institucionais ocorridas no

cotidiano da organização na busca de uma nova identificação cultural, e ainda um "novo

espírito" empresarial. Sendo assim, este trabalho contribui para o processo de futuras fusões

de empresas públicas no país, no seu sentido técnico e humano, registrando para isto, os

critérios vindos dos próprios sujeitos engajados na pesquisa.

E, é relevante porque se tentou desvelar a compreensão do ser profissional de Serviço

Social de Empresa que muitas vezes é confimdido pelos empregados como mero

assistencialismo, perdendo seu sentido fimdante de um "fazer humano", de um

"ser-com-os-outros", de uma práxis pensada como uma "historicidade responsável", segundo Anna

Augusta de Almeida (1989).

Este estudo poderá contribuir metodologicamente para o mundo da

administraçâo, porque está apoiado em uma abordagem filosófica ainda não

tradicional no meio acadêmico.

A dissertação é o fruto de uma pesquisa qualitativa hermenêutica /álOmenológica,

baseada nos fundamentos do filósofo francês Paul Ricoeur (1913 -), cujo pensamento que

exercita uma postura ética e um sentido filosófico na concepção teórica, nos métodos e

técnicas, no modo de tratar as pessoas engajadas na pesquisa e no discurso apreendido.

Um modo de pesquisa que busca a constmção do conhecimento "em comum", pela

lógica da explicação e pela lógica da implicação. A abordagem qualitativa, segundo Fraga

(11)

para o estabelecimento de futuras fusões no setor público considerando a ação do profissional

de Serviço Social fimdamental neste processo.

E, colocando também, como relevante o exercício de wna postura de inserção, na

perspectiva hermenêutica fenomenológica, com a intenção de compreender a ética no sentido

da responsabilidade da ação do agente administrativo no "mundo da vida".

1.2. ALCANCE

Este estudo delimitou-se a uma empresa pública que está vivenciando o fenômeno da

fusão no Estado do Rio de Janeiro: a ELETRONUCLEAR. Dando-se relevância

especificamente à Gerência de Assistência e Benefícios, espaço do profissional de Serviço

Social com as implicações inerentes à sua singularidade.

A ELETRONUCLEAR é subsidiária da ELETROBRÁS e foi formada pela fusão da

área nuclear de FURNAS Centrais Elétricas S.A e NUCLEN Engenharia e Serviços S. A.

passando a denominar-se Eletrobrás Termonuclear S. A. - ELETRONUCLEAR. Esta nova

empresa tem como fimção o projeto, a construção e a operação de usinas termonucleares,

otimizando os recursos humanos e materiais na operação de Angra I e de Angra 2, com

possibilidades do projeto Angra 3 se desenvolver.

O espaço do Serviço Social está configurado pela Gerência de Assistência e

Benefícios, situada na sede da Empresa, na cidade do Rio de Janeiro na rua da Candelária e

na central nuclear localizada na Praia de Itaoma, Município de Angra dos Reis, Estado do

Rio de Janeiro.

Dentro do corpo da nova Empresa encontramos a Superintendência de Administração,

subordinada à Diretoria Administrativa e Financeira e, que está constituída por 4 Gerências, a

saber: a Gerência de Recursos Humanos (GRH.A), a Gerência de Suprimentos (GSU.A), a

(12)

precisamente na Gerência de Assistência e Beneficios que se encontra o espaço do Serviço

Social na Empresa.

Quanto à dimensão temporal deste projeto, a apreensão do fenômeno da fusão cobrirá

movimentos a partir de 1997, ano em que se estabeleceu legalmente, até o atual período

(2000) destacando a transcendência desse fenômeno na ação administrativa (sentido técnico e

humano) do profissional de Serviço Social e as ações face à formação do "novo espírito"

organizacional.

1.3. OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS

,.. Reflexão hennenêutica fenomenológica do fenômeno da fttsão da empresa pública

ELETRONUCLEAR e suas implicações na ação administrativa do profissional de

Serviço Social na busca de um "novo espírito" organizacional.

1.3.1. Objetivos Específicos

? Descrever a polissemia do fenômeno da fusão de duas empresas públicas do Setor

Nuclear brasileiro.

, DesClição hermenêutica fenomenológica da polissemia do fenômeno da fusão e sua

transcendência na dimensão técnica e humana.

" Mostrar as implicações do fenômeno na ação do profissional de Serviço Social na

busca de um "novo espírito" visando a concretização da fusão organizacional.

,. Desvelar o "ser" profissional de Serviço Social de empresa pública que está

(13)

1.4. ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Para atingir os objetivos propostos neste trabalho se estmturaram os temas em forma

de capítulos, da seguinte maneira:

No primeiro momento tem-se a introdução onde se apresenta a motivação, o alcance

ou delimitação do âmbito da pesquisa, assim como, os objetivos e a estmturação dos capítulos

da dissertação.

No segundo capítulo desenvolve-se o referencial teórico-filosófico começando por

apresentar a hermenêutica fenomenológica como uma abordagem filosófica de pesquisa na

administração, sendo sua colocação necessária porque se trata de lllna pesquisa qualitativa

tratada com uma postura filosófica e uma dialética explicativo-compreensiva.

Visando a compreensão da fusão no contexto atual explicita-se o sentido ontológico do

poder e a racionalidade política do Ser do Estado, o caráter polissêmico da Globalização, as

novas formas de estmturação e organização de empresas, dando relevância ao sentido de

Humanidade e de Civilização em mn contexto de tecnologia avançada, na perspectiva

ricoeuriana. Objetivando compreender o Serviço Social de Empresa explicita-se a empresa

como a requisitante institucional e a filosofia assistencialista permeando no agir do Serviço

Social. E, finalmente colocam-se as categorias eixos da pesquisa agente, discurso e ação

segundo a perspectiva ricoeuriana.

No terceiro capítulo mostra-se a singularidade do caso Eletronuclear, descrevendo

em primeiro lugar, a fusão da empresa pública ELETRONUCLEAR e suas implicações

técnico-estrátegicas onde se faz a definição técnica da fusão e se revelam as ações do Agente

administrativo, de Serviço Social e outros, nos momentos da filsão, logo após, coloca-se

alguns resultados, no sentido técnico, da fusão da Eletronuclear. E, em segundo lugar,

descreve-se as implicações humanas onde se coloca a definição hmnana e singular da fusão

(14)

fonnação da nova Empresa, assim como, se revelam as

ações

do Agente de Serviço Social na

fonnação do "novo espírito" empresarial, colocam-se também as conseqüências da fusão da

Eletronuclear, no seu sentido humano e fmalmente o significado do ser Profissional de

Serviço Social de Empresa no contexto atual.

No quarto capítulo chega-se às reflexões finais, espaço último, aparentemente

concludente, existencialmente singular, que não considera o sentido de acabar ou fechar

alguma coisa, mas o sentido de abertura e provocação da "retomada" com o intuito de dar

relevància ao Humano em fenômenos gerados por decisões técnicas.

E, no quinto capitulo colocam-se algumas sugestões como caminhos possíveis para o

momento de fusão e para o profissional de Serviço Social de Empresa. Sugestões colocadas

(15)

2.

REFERENCIAL TEÓRICO-FILOSÓFICO

2.1 A HERMENÊUTICA FENOMENOLÓGICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE

ABORDAGEM FILOSÓFICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

2.1.1 A necessidade de uma abordagem filosófica na pesquisa em Administração

Este primeiro item tem a intencionalidade de mostrar o porque a necessidade de uma

abordagem filosófica à administração, especificamente, no que diz respeito, à concepção e

desenvolvimento da pesquisa. E, como diz Donzelli (1992), significa ir à busca de uma

postura e de uma prática de pesquisa que não satisfaçam apenas ao critério de justificação,

mas que compreendam a legitimação da ação no "mundo da vida".

Além disso, tem como intencionalidade apresentar os fimdamentos da

complementariedade da abordagem científica e filosófica, especificamente

hennenêutico-fenomenológica como uma possibilidade ou opção de pesquisa qualitativa aplicada na

administração e ainda levando em consideração que foram exercitados tais fimdamentos na

presente pesquisa.

2.1.1.1 Uma perspectiva filosófica na concepção e desenvolvimento da pesquisa

Na última década do século vinte a civilização está vivendo um período marcado por

grandes transformações, nos níveis econômico, social, político, militar e tecnológico,

conseqüente da universalidade da racionalidade técnico-científica e o poder instrumental que

transcende todas as áreas do saber. Saber que implica avanços tecnológicos indescritíveis e

transformações no cotidiano das pessoas. Como diz larmi :

(16)

se foi transfonnando em razão instnunental, em razão cínica. A racionalidade substantiva foi

dominada pela racionalidade fonnal, a racionalização do ocidente se condensou na

racionalização capitalista que se pretende legitimar como sendo razão tmiversal.

O que virou um paradoxo,que por um lado, oferece avanços tecnológicos

indescritíveis e por outro, traz sérias conseqüências na qualidade de vida das pessoas vendo-se

nas nações a fome, miséria, violência, desemprego, crescimento urbano incontrolável,

degradação do meio ambiente natural, incerteza e anf,,'1Ístia existencial.

Motivos que comprometem nossa civilização e nossa Humanidade e provocam nossa

reflexão, nos fazendo pronunciar, também como profissionais das ciências sociais neste

período dificil.

Mas, como el1frentar esse desqfjo? Começar por reencontrar o saber autêntico, que dê

Relevância ao Ser do Humano e que pennita Legitimar as ações no "mundo da vida". Aceitar

a crise dos paradigmas e abrir-se ao conhecimento crítico de outros saberes, não se fechar no

conservadorismo tradicional. Optar por um saber filosófico, ético-democrático que respeite o

Outro, que reivindique os valores humanos, que busca conhecer e compreender o Ser da

"coisas em si mesmas" (Husserl), que oriente o modo de ser e agir face ao mundo "aí" e

finalmente ajude a dissipar e desmistificar as ilusões que configuram a consciência.

É necessário que o profissional, principalmente da administração opte por uma

perspectiva filosófica, porque lhe proporcionaria uma visão global da civilização, colocaria os

critérios fundantes para poder compreender as organizações e o Ser do Humano em um

contexto de tecnologia avançada. O saber filosófico abrange um conjunto de conhecimentos

como a lógica, a estética, a ética, a ciência, entre outros. É o embasamento de todo conhecimento humano, que ajuda a apreender, a desvelar ou mostrar o que está escondido no

(17)

Por conseguinte, se damos um sentido filosófico ao ato de pesquisar no mundo da

administração estariamos caminhando no horizonte da valorização da dimensão humana, o

qual é de fundamental relevância já que a pessoa-administrador em situação-de-pesquisador

aceitará sua postura de engajado e não de interventor.

Além disso, a "escolha" dos métodos e técnicas de pesquisa e a futura construção da

dissertação, que na verdade é "em comum", precisa estar sustentada em uma perspectiva

filosófica, porque o pesquisador deve optar por um "estilo de pesquisa", que diz respeito a ele

como pessoa, mesmo trabalhando em equipe e preserve a sua singularidade.

A pesquisa antes era vista como uma espécie de codificação, acumulação de dados não

compreendidos pela pessoa-pesquisador, predominando assim, no mundo das organizações a

pesquisa quantitativa. Quer dizer, o ser humano era retirado do contexto do conhecimento e o

Ser das coisas ou a lógica dos fenômenos eram deixadas de lado.

Por isso, os profissionais da administração devemos ter como tarefa buscar a

conciliação, a complementariedade e a recolocação do humano na construção do

conhecimento, assim como "restabelecer em parte o equilíbrio, dando maior ênfase ao uso de

métodos qualitativos, sem abandonar totalmente a concepção e aplicação de métodos

quantitativos" (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe, 1991:2). Sendo que a hermenêutica

fenomenologia, busca a compreensão do ato humano fundante de ambos os métodos de

pesquisa.

Mas, é costumeiro, ocultar ou não mostrar e ainda não buscar a compreensão dos

fundamentos filosóficos que os métodos ou abordagens de pesquisa possuem. Lida-se mal

com os fatores políticos e exercita-se uma ética que vela e oculta o sentido ontológico dos

valores. Por isso, é importante o estudo rigoroso destas questões porque nos ajudam a

libertarmos das improvisações e as ilusões que travam nossa criatividade.

(18)

As teorias de Taylor e Fayol orientaram por muito tempo o mundo da pesquisa na

administração.

Além disso, a pesquisa gerencial na atualidade "apresenta alguns problemas incomuns;

portanto, as abordagens gerais precisam ser repensadas. Existem três fatores principais que

tomam a gerência distintiva como foco para pesquisas". (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe,

1991 :5), o acrescento fenomenológico às idéias destes autores é feito pela pesquisadora deste

estudo.

I". Sua prática é eclética. Hoje se precisa trabalhar além das fronteiras técnicas, culturais e

funcionais e aproveitar conhecimentos de outras disciplinas e ainda precisa-se adotar uma

abordagem transdisciplinar.

2 c'. Os administradores de empresa como gerentes são pessoas poderosas e ocupadas. Daí o

pouco acesso a pesquisas na suas organizações. A pessoa-pesquisador terá que optar por

encontros dialógicos curtos.

3°. Administrar em um sentido de pensamento e ação. Quer dizer, considerar as conseqüências

práticas das pesquisas. Fenomenologicamente significa exercitar mna postura ética face ao

processo de pesquisa, seus resultados e suas conseqüências no "mundo da vida". Daí que os

autores destacam a importância dos "métodos de pesquisa", pois, eles (os métodos)

incorporam um "potencial para a tomada de providências". (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe,

1991 :6).

Diversos fatores sejam políticos, econômicos ou ideológicos influenciam na escolha

do tipo de pesquisa. Mas o tipo de pesquisa também deve coincidir com o "estilo" do

pesquisador e seus métodos devem ser estratégicos para conciliar as rigorosidades acadêmicas

e o próprio sentido filosófico e humano.

(19)

como, no discurso escrito, o qual é orientado para o Outro (leitor), deve ser ético, isto é, com

responsabilidade em primeira pessoa pelo "dito".

2.1.1.2 As posições filosóficas da pesquisa em Administração

Como parte das ciências sociais a Administração no mundo atual também se

desenvolveu entre duas tradições filosóficas principais: o positivismo e a fenomenologia.

"Existe nas ciências sociais um antigo debate a respeito da posiçã()filos~fica

mais apropriada, (..). No canto vermelho está a fenomenologia e no canto azul o positivismo. Cada uma dessas posições tem sido elevada, até certo ponto, à condição de estereótipo, com freqüência pelo lado oposto. Embora atualmente se possa preparar listas abrangentes de hipóteses e implicações metodológicas associadas a cada posição, não é possível identificar um.filósofo que se refira a todos os aspectos de um só lado. Na verdade, ocasionalmente um autor de um lado produz idéias que se encaixam melhor com aquelas do outro lado ".

(Easterby-Smith, Thorpe e Lowe, 1991 :22).

o

positivismo, fundamenta que "o mlmdo social existe externamente e que suas

propriedades devem ser medidas por melO de métodos objetivos e não serem inferidos

subjetivamente por meio de sensações, da reflexão ou da intuição". (Easterby-Smith, Thorpe e

Lowe, 1991 :22). E, que "o conhecimento somente tem significado se for baseado em

observações dessa realidade externa". (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe, 1991 :22), os mesmos

autores fazem um resumo do positivismo do seguinte modo:

- Proponente: Auguste Comte (1853)

- Critérios: o mundo é externo e objetivo. O observador é independente. A ciência é isenta de

valores.

- O pesquisador deve: focalizar os fatos. Buscar causalidade e leis fundamentais. Reduzir os

fenômenos aos elementos mais simples. Formular hipóteses e testa-las a seguir.

- Os métodos incluem: operacionalização de conceitos para que eles possam ser medidos.

Tomar grandes amostras. (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe, 1991 :27).

Temos muitos exemplos de pesquisa na administração com a abordagem positivista, às

(20)

focalizar dados factuais e não opiniões, a regularidade nos dados obtidos e produzindo

proposições que possam generalizar a partir do exemplo específico até a população mais

ampla das organizações.

A fenomenologia, como uma corrente de reação ao positivismo aplicado às ciências

sociais, tem como ponto de partida "a idéia de que a realidade é sociabnente construída e não

detenninada objetivamente. Assim sendo, a tarefa do cientista social não deveria ser coletar

fatos e medir freqüência de detenninados padrões, mas sim compreender as diferentes

construções e significados que as pessoas colocam sobre sua experiência" (Easterby-Smith,

Thorpe e Lowe, 1991 :24).

Por conseguinte, deve-se compreender o "por que as pessoas têm experiências

diferentes ao invés de buscar causas externas e leis fundamentais para explicar o

comportamento delas. A ação humana provém da interpretação que cada pessoa faz de

diferentes situações e não é uma resposta direta a estímulos externos". (Easterby-Smith,

Thorpe e Lowe, 1991: 24)

A partir daí muitas correntes diferentes são associadas, com maIOr ou menor

proximidade, à fenomenologia. Segundo Easterby-Smith, Thorpe e Lowe (1991) elas são a

sociologia interpretativa (Habennas, 1970), a indagação naturalista (Lincoln e Guba, 1986), o

construcionismo social (Berger e Luckman, 1966), a metodologia qualitativa (Taylor e

Bogdan, 1984) e a indagação do "novo paradigma" (Reason e Rowan, 1981). Mas cada uma

delas assume uma postura ligeiramente diferente da fenomenologia e opta por um maior

distanciamento do positivismo.

- Proponente: Edmund HusserI (1946)

- Critérios: O mundo é construído social e subjetivamente (no sentido de intersubjetividade).

(21)

- O pesquisador deve: Focalizar vividos, sentidos e significados. Procurar compreender o que

está acontecendo. Olhar para a singularidade de cada situação. Considerar dados, mas no

intuito de auxiliar a compreensão do que está sendo vivenciado.

- Os métodos incluem: Aplicação de métodos ou abordagem vindos da própria fenomenologia

ou métodos múltiplos que possam desvelar os sentidos diversos dos fenômenos. Pequenas

amostras que manifestem a singularidade do caso em profimdidade ou investigação de um

fenômeno ao longo do tempo.

Do lado da fenomenologia temos, por exemplo, o trabalho de pesquisa no mundo

gerencial de Melville Dalton (1959), considerado um estudo pioneiro. Em um texto posterior

(1964) ele descreveu as idéias e filosofias que guiaram seu trabalho, além de alguns dos

dilemas éticos que foram enfrentados. Para começar, ele rejeitou o 'método científico'clássico

(isto é, a seqüência de hipótese, observação, teste e confirmação ou não da hipótese) e o tinha

como inadequado para seu trabalho ... Ele se opõe à tendência para se quantificar e reduzir as

variáveis aos seus menores componentes, alegando que, com isso, se perde a maior parte do

significado real da situação. Dalton estudou o comportamento de gerentes enquanto ele

mesmo trabalhava numa organização como tal (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe (1991 :29).

Cada vez mais pesquisadores que trabalham em organizações e com gerentes afinnam

que se deve procurar misturar métodos, porque isso proporciona mais perspectivas sobre os

fenômenos que estão sendo investigados.

A resposta a este desafio, talvez seja, não adotar uma ou outra filosofia como dois

pólos opostos, mas optar pela sua complementariedade, como propõe Ricoeur, pois é complicado lidar com a credibilidade das pessoas responsáveis pela política na organização,

que preferem dados, resultados e ainda mais dificil o querer desafiar a rigorosidade e as regras

da academia científica, por isso, uma opção é a busca do complemento.

Dando continuidade o Quadro N°. 01 destaca as características da pesquisa ao optar-se

(22)

- O pesquisador deve: Focalizar vividos, sentidos e significados. Procurar compreender o que

está acontecendo. Olhar para a singularidade de cada situação. Considerar dados, mas no

intuito de auxiliar a compreensão do que está sendo vivenciado.

- Os métodos incluem: Aplicação de métodos ou abordagem vindos da própria fenomenologia

ou métodos múltiplos que possam desvelar os sentidos diversos dos fenômenos. Pequenas

amostras que manifestem a singularidade do caso em profimdidade ou investigação de um

fenômeno ao longo do tempo.

Do lado da fenomenologia temos, por exemplo, o trabalho de pesquisa no lmmdo

gerencial de Melville Dalton (1959), considerado um estudo pioneiro. Em um texto posterior

(1964) ele descreveu as idéias e filosofias que guiaram seu trabalho, além de alguns dos

dilemas éticos que foram enfrentados. Para começar, ele rejeitou o 'método científico'clássico

(isto é, a seqüência de hipótese, observação, teste e confirmação ou não da hipótese) e o tinha

como inadequado para seu trabalho ... Ele se opõe à tendência para se quantificar e reduzir as

variáveis aos seus menores componentes, alegando que, com isso, se perde a maior parte do

significado real da situação. Dalton estudou o comportamento de gerentes enquanto ele

mesmo trabalhava numa organização como tal (Easterby-Smith, Thorpe e Lowe (1991 :29).

Cada vez mais pesquisadores que trabalham em organizações e com gerentes afinnam

que se deve procurar misturar métodos, porque isso proporciona mais perspectivas sobre os

fenômenos que estão sendo investigados.

A resposta a este desafio, talvez seja, não adotar lUna ou outra filosofia como dois

pólos opostos, mas optar pela sua complementariedade, como propõe Ricoeur, pois é

complicado lidar com a credibilidade das pessoas responsáveis pela política na organização,

que preferem dados, resultados e ainda mais difícil o querer desafiar a rigorosidade e as regras

da academia científica, por isso, uma opção é a busca do complemento.

Dando continuidade o Quadro N°. O I destaca as características da pesquisa ao optar-se

(23)

QUADRO N°OI

CARACTERÍSTICAS DE PESQUISA: POSITIVISMO E FENOMENOLOGIA

I

~()PQSITIV1SMO

--_.- -

.---.l._

NA~OMENº!OGIA_

.

---~

!

I

O pesquisador é independente. Exercita-se O pesquisador está Eng~iado

1 - -

-i a neutralidade e o distanciamento do

i sujeito (pesquisador) e do Objeto

(pesquisado)

- Trabalha com numeros pequenos.

I -- Trabalha com grandes amostras Investiga casos na sua singularidade

I

I

1-

Busca testar teorias - Gera teorias pela descrição do vivido e a

compreensão da lógica do fenômeno.

I

Base em concepção experimental - Base em abordagens próprias ou mistas ou

i-outras para o trabalho de campo

Bu,ca a verificação.

- Busca compreender o "ser das coisas", o

velado ou oculto

I

i I

Trabalha com a lógica da explicação Trabalha com a lógica da implicação.

1-

-Fonte: Easterby-Smith, Thorpe e Lowe (1991) com algumas idéias acrescentadas pela autora.

Em relação à questão do que vem primeiro a teoria ou os dados, deve-se procurar que

a teoria seja o suficientemente analítica para possibilitar a ocorrência de algumas

generalizações e, ao mesmo tempo, deve ser possível, para as pessoas, relacionar a teoria às

suas próprias experiências, sensibilizando, assim suas percepções. Por conseguinte, a dialética

que teria que ser exercitada é a da complementariedade.

2.1.2 A hermenêutica fenomenológica de Paul Ricoeur como abordagem filosófica

da pesquisa em Administração

Em primeiro lugar, se definirá o que é a fenomenologia e logo a

hennenêutica-fenomenológica como uma filosofia com método próprio, destacando apenas os critérios

(24)

A Fenomenologia constitui-se como wn saber, uma postura filosófica que dá

relevância ao Ser do hwnano, um movimento de idéias, com uma atitude metódica própria,

que busca, por exemplo, na "redução eidética" o possível no real ou na "hermenêutica" o

mostrado-escondido e sua verdade polissêmica. Uma abordagem (como diria Heidegger para

não designá-la como método) que teria que ser vista a partir de seu fundador Edmund Husserl

(1859-1938).

Sebrundo Donzelli (2000), a fenomenologia proposta por Husserl é um saber. O saber

fenomenológico ou compreensivo é um saber do "fenômeno" no sentido grego da palavra

phainomenon que significa o que se mostra em pessoa (Husserl) ou o que se mostra em si

mesmo (Heidegger) e não através de posições. Exercitar a fenomenologia significa

compreender a lógica dofenômeno, o seu "modo de ser em si mesmo".

Conhecer não é compreender: conhecer é estabelecer "causas" e buscar "resultados",

compreender é captar "razões", "sentidos", "direções", "estilos". Portanto, concluiu Donzelli

(2000) compreender não é simples virtude, é wn saber que garante o exercício de wna postura

ética.

O saber científico ou conhecimento, segundo Donzelli (2000), é um saber dos "fatos"

do "acontecido" (factum) ou seja, o que é operado (processo de objetivação) ou "construído

(processo de teorização) à luz de posições, teorias, hipóteses e conceitos".

Etimologicamente,fenomenologia, deriva da palavra grega phainestai que "no sentido

primário significa brilhar (da mesma raiz que luz) e, depois tem o significado de mostrar-se

ou aparecer" (Fragata,1959:78). E, seu particípio phainomenon é por conseguinte, tudo o que

se mostra a quem orientou seu olhar com intencionalidade.

Na filosofia, a palavra começou a adquirir um sentido subjetivo, por que é tudo o que

aparece na consciência. Mas, a Fenomenologia, segundo Fragata, (1959) implica uma reflexão

racional pretendendo descrever fielmente e em wna atitude penetrante, os "fenômenos" e as

(25)

"A Fenomenologia tem a preocupação em mostrar, e não demonstrar, em explicitar as estruturas em que a experiência se verifica, em deixar transparecer na descrição da experiência as suas estruturas universais. O

projeto de Husserl não consiste em erguer uma ciência exata da fenomenologia. As ciências exatas têm os seus exemplos na matemática que é uma ciência eidética dedutiva. (. . .) ciência rigorosa, mas não exata, uma ciência eidética que procede por descrição e não por dedução. Ela se ocupa de fenômenos, mas com uma atitude diferente das ciências exatas e empíricas. Os seus fenômenos são os vividos da consciência, os atos e os correlatos dessa consciência" (Capalbo, 1974: 14)

É com Husserl que a fenomenologia procura mostrar que nenhuma verdade é um fato, isto é, algo de detenninado no tempo. Embora todo conhecimento parta da experiência

observa Husserl, isto não significa que derive da experiência. O resultado da experiência pode

ser insuficiente para justificar a ação, é fundamental a extensão da experiência para além do

resultado, o qual Fraga (1994:403) destaca claramente, acreditando na diferença de partir da

ciência sem derivar dela, desenvolvendo um movimento no sentido inverso ao das ciências

exatas, dirigindo-se ao originário. A objetividade que caracteriza a verdade não significa a

concordância de um emmciado com mll estado de coisas dado ou com um vivido temporal. Mas a consciência, enquanto expressão, é animada por mll sentido que não procede da presença pura e simples do objeto ou da situação designada, mas que procede de um ato

mediador, a "intenção de significação". É a célebre noção husserliana de intencionalidade. Husserl, dessa maneira, postula uma concepção de subjetividade que transcende o

conteúdo psíquico real. Propõe uma análise do fenômeno vivido como tal, excluindo qualquer

pressuposto relativo a uma natureza psíquica. O objeto de Husserl é a consciência viva enquanto se exprime e dá sentido à experiência.

Um discurso fenomenológico existe, quando as estmturas significativas que explicitam

o sentido do fenômeno, enquanto realizações de uma intenção, se fazem visíveis. Não é, conseqüentemente, causal, não questiona a causa do fenômeno, aquilo que o condiciona, mas

(26)

Fenomenologia, propõe um método como um modo de perceber-se enquanto inseridos no

estudo do fenômeno.

Do estudo da Fenomenologia resultaram várias correntes, embora inspiradas no

pensamento de seu fundador Edmund Husserl (1859-1938), elas contém outras idéias que as

caracterizam diferentemente.

Assim temos: a Fenomenologia Transcendental de Edmund Husserl, a

Fenomenologia Existencial de Martin Heidegger, Karl Jaspers, Jean Lacroix, Paul Ludwig

Landsberg, Emanuel Lévinas, Jean Paul Sartre; a Sociologia Fenomenológica de Gurvitch

Georges, Alfred Schutz e Edith Stern, a Fenomenologia da Percepção de Maurice

Merleau-Ponty, Psicologia Fenomenológica de Amadeo Giorgi, a Hermenêutica Fenomenológica de

Paul Ricoeur. Foi aplicado também no campo da estética por Moritz Geiger, Roman Ingarden

e Mikel Dufrelme, no campo da ética por Max Scheler, no campo da história da ciência por

A . Koyré. Além disso, mantém diálogo com a visão Personalista de Gabriel Marcel e

Emmanuel MOlU1ier entre outros.

2.1.2.1 A dialética da complementariedade entre o saber cientifico e o saber

fenomenológico

Por tratar-se de uma pesqUlsa de abordagem filosófica se começará refletindo a

seguinte questão: há alguma diferença entre filosofia e ciência, logo entre o saber científico e

o saber fenomenológico? Isto com a intenção de estabelecer a dialética da

complementariedade.

A resposta é SIm, a filosofia se diferencia da ciência por seu fundamento

compreensivo, por seu objetivo de dar significação à totalidade do mundo e por pretender

postulados universais onicompreensivos. A ciência pelo contrário não se pretende

(27)

dar uma explicação. A ciência é seletiva e se apóia no dado empírico observado sistematicamente. Busca a fonnulação de teorias e leis sobre conjuntos de fenômenos da

mesma natureza via procedimentos hipotético-dedutivos factíveis de verificação empírica.

Segtmdo Donzelli (2000), o "saber científico e o saber fenomenológico são dois

saberes complementares, embora paralelos ".

Dando visibilidade ao apresentado organizamos o quadro N°. 02 destacando as

diferenças dos saberes cientifico e fenomenológico nos eixos de possibilidade de

complementariedade.

QUADRO N°. 02

DOIS SABERES COMPLEMENTARES NA PERSPECTIVA RICOEURIANA

I

i !

SABER CIENTÍFICO SABER FENOMENOLÓGICO

I t

- E um saber conhecimento. E um saber dos - E um saber compreensivo. E um saber do

"fatos", do "acontecido". "fenômeno", do "sentido"

I

i- Refere-se ao que as coisas são pelo uso de - Refere-se à pessoa, situação ou coisa que

conceitos. É o que se demonstra a luz de se mostra "em si mesma" . O modo de

"posições", teorias, hipóteses e conceitos. "estar no mundo". O Ser das coisas. Busca

a lógica do fenômeno.

i

- A forma lógica do método científico é a - A forma lógica do método fenomenológico

Explicação. Ordem dos modelos. é a Implicação. Ordem do vivido.

- O uso do método configura uma - O uso do método configura uma

"pesquisa". A pesqUIsa verifica a "investigação ". Que se faz necessana

"ausência de conhecimento". quando se verifica "obscuridade" no

conhecimento que se tem.

- Apóia-se na instância da ciência. - Apóia-se na instância da existência.

-~

[- Descrição do fato segundo uma - Descrição do fenômeno no tempo e espaço

perspecti va espaço-temporal objetivo, intersubjetivo, espaço como amplitude da

geométrico e cronológico. vivência e tempo como engajamento e

consciência de si .

. . .

Fonte: Thelma Donzelli, aulas FGV-RIO (Mato do 2000)

A hermenêutica fenomenológica de Ricoeur se apresenta hoje como uma conciliação

entre esses dois saberes entre a abordagem filosófica e a abordagem científica; como

(28)

pensamento alternativo e original apoiado na racionalidade simbólica, mediatizada pela

linguagem e interpretando a cultura pelos seus signos polissêmicos; baseada na dialética da

complementariedade ou de movimento de complementariedade do saber científico e do saber

filosófico especificamente o fenomenológico.

A proposta de Ricoeur é urna dialética, assim apresentada por Newton Aquiles Von

Zuben que nos fornece wna importante citação de Aubenque acerca de dialética: "A dialética

não é nem ciência nem intuição; os homens não dialogam senão na medida que não vêem o

ser do qual eles falam e não se resignam, por isso, a reduzi-lo à experiência unilateral que têm

dele" (Zuben, 1989: 164).

A filosofia de Ricoeur é dialética, sendo que sua dialética é a atividade questionadora

daquilo que se presume dado. Seu discurso dialético equivale ao discurso filosófico, e sua

razão de ser é justamente interrogar-se acerca dos limites que a ciência pretende impor ao

cognoscível. É, como dialética que a filosofia não é ciência, não tem assim wn âmbito

próprio de conhecimento. Isto é, nem ciência nem intuição e não é susceptível de

reducionismos nem verificações. Mas urna dialética da complementariedade do saber

científico e do saber fenomenológico.

Busca a reconciliação do homem inteiro com seu mundo, tentando superar o estágio

no qual a unidade tem sido rompida: matéria-espírito, objeto-sujeito, homem-natureza.

Sua filosofia é capaz de romper com o idealismo e o positivismo, mergulhando na

concretude da existência humana, elucidando seu sentido expresso na simbólica, por meio de

sua heImenêutica compreensivo-explicativa.

Não nega sua relação com o vivido mas busca a clarificação mediante conceitos

explicados da existência humana compreendendo seu sentido por meio do discurso da ação. É aqui a dialética de complementariedade de alguns critérios científicos, fenomenológicos e

lingüísticos. Para Ricoeur todo pensamento moderno tomou-se interpretação, assim a questão

IIISLiW - ..., ':,~;~; 'U:: SIMONSEI

(29)

que deve revelar-se essencial não é tanto a do erro ou da mentira, mas da "ilusão

desmistificada" .

Todo seu pensamento se baseia em três níveis: nível da vida cotidiana ou o vivido

(pessoa ou situação em si mesmo- Fenomenologia), nível da vida científica (dados, posições,

teorias, conceitos- Ciência) e nível propriamente reflexivo (o dizer do jázer a luz de uma

ética das ações- Filosofia da Linguagem).

É por esses motivos que seu pensamento é original pois não nega o "mundo da vida", busca a verdade polissêmica do fenômeno nos próprios níveis onde o compreender se

desenrola.

É lUna filosofia com método ou abordagem própria: a hermenêutica fenomenológica Através do diálogo entre as ciências naturais e as ciências do espírito busca a

recolocação do sujeito humano no contexto do conhecimento. Pois se olhamos para a velha

questão aristotélica "o que é o ser", ou à formulação de Leibniz "por que há algo (o ser) e não

antes o nada ?", segundo Ricoeur é esse tipo de questão que nos leva a penetrar na ordem da razão, porque depois do Cogito cartesiano, essa questão se dividiu em duas: a questão do ser,

da natureza e de Deus e do outro lado, a questão do homem. Daí o duplo sentido da filosofia

posterior, sempre oscilando entre esses dois pólos. Portanto, há duas possibilidades de existir,

de viver, de o homem compreender a si mesmo e de explicar as coisas: reagmpar tudo em

tomo do único centro que é o homem, ou fazer com que tudo se volte para um pólo mais forte

e que seria o fundamento da sua vida. Frente a este problema de polarização e ruptura do ser,

a filosofia precisa assumir uma nova tarefa: deve clarificar todas as implicações dessa

altemativa, não só para a questão da vida pessoal, mas para o diálogo com as ciências.

Daí que Ricoeur propõe sua hermenêutica fenomenológica como um pensamento

orif,tÍnal com método próprio o compreensivo-hermenêutico pelo qual nos convida a elucidar

por noções a própria existência humana decifrando o comportamento simbólico do homem

(30)

poder resolver a questão do dualismo entre explicação e compreensão, considerando as duas

ordens de discurso: o científico e o fenomenológico.

Paul Ricoeur, busca a possibilidade de conciliação do postulado de objetividade do

discurso científico com o discurso fenomenológico mas com ênfase na subjetividade da

reflexão.

Se há uma crítica da fenomenologia à ciência é porque na ciência há um esquecimento

do sujeito, um desinteresse pelo Ser do Humano, há uma tendência ao objetivismo, ao

naturalismo, ao esquematismo. A fenomenologia defende a irredutibilidade do sujeito à

objetividade naturalista; porém, uma indagação se põe sobre se o postulado de o~ietividade

que caracteriza o saber científico é um erro a ser combatido ou superado ?

Em suma, deve-se rever as relações entre os dois discursos, no sentido de se

apreenderam possí veis "ressonâncias ou intercâmbios fecundantes em favor do conhecimento

da realidade humana" (Ricoeur, 1989), encarada na dinâmica de seu agir histórico na trama

concreta das relações que se estabelecem entre os sujeitos concretos.

Paul Ricoeur enfrenta esta problemática da ordem do discurso - o científico e o

fenomenológico - fazendo-nos compreender que o método fenomenológico não se reduz ao

trabalho de Husser! senão também ao de outros autores, porém entendido diferentemente.

Uma problemática surge quando se tenta prolongar a eidética husserliana da consciência e

descrever a experiência integral do cogito, vale dizer, quando se busca integrar na

consciência reflexiva o âmbito ofuscado da existência corporal. O método descritivo

fenomenológico encontra aqui uma dificuldade, uma vez que o corpo e o inconsciente

parecem refratários ou inacessíveis à descrição eidética ou à análise feita a partir do ponto de

vista da consciência. Portanto, a única via de acesso parece ser fornecida pela ciência

objetiva.

Perguntemo-nos agora: devemos admitir esses dois discursos sem colocar em risco a

(31)

reconhecendo um sujeito pessoal, consciente e livre; de outro lado, a ciência objetivando e

reconhecendo o homem como um objeto natural como outros, submetido aos detenninismos

da natureza. Será que se trata do mesmo homem que se fala nesses dois discursos? Parece

que sim, talvez se trate de um corpo que figura duas vezes, a primeira como sl~jeito. a

segunda como objeto ou quer dizer, "uma primeira vez como corpo de um sujeito e uma

segunda como objeto empírico anônimo" (Ricoeur). É inútil continuar indagando o dualismo

continua, porém, é ilusório acreditar numa coexistência pacífica entre dois discursos opostos,

ambos são conflitantes, pois não há um discurso neutro em relação à objetividade e à

subjetividade, não existe uma linguagem comum que unifique de modo eqüitativo o discurso

científico e o discurso filosófico, por isso, Ricoeur sugere que se os dialetize.

O discurso objetivo é necessário à análise reflexiva na medida que nos pennita a

apresentação de certos aspectos da existência dos quais não temos experiência direta; para ele

a relação entre as duas ordens de discurso não pode ser de mera justaposição ou adição. Do

ponto de vista do cogito, pode-se compreender a necessidade como a condição mesma da

liberdade, enquanto que, do ponto de vista do discurso objetivista, não haveria sentido de

falar do cogito ou da liberdade. Nesse sentido, a linguagem do cogito seria total, e a do

discurso objetivo seria parcial, mas Ricoeur faz uma concessão, ao admitir a possibilidade de

um único discurso que seria o discurso sobre a "subjetividade do cogito integral", quer dizer,

ele rejeita as pretensões totalitárias do discurso objetivista mas lhe concede uma validade

restrita. Ele o faz considerando-o como parte dialética do discurso mais abrangente onde o

que está em questão é a compreensão de si. Quer dizer, que o conhecimento dos fenômenos

subordina-se a uma compreensão de seu sentido. Ele acredita que uma outra unidade pode

existir entre a subjetividade do querer e do vivido e a objetividade do conhecimento natural;

uma "unidade de criação" pode ser surpreendida por uma outra dimensão da consciência do

cogito e da natureza. Tal "unidade de criação" não é senão aquela que se realiza pela

(32)

Ricoeur defende diferentemente o ponto de vista do sujeito. Ele não elimina o ponto

de vista objetivo e não o reduz ao ponto de vista da reflexão, ao contrário tenta dialetizá-Ios.

Nesse processo de dialetização, chega a definir os níveis onde os discursos operam e a

reconhecer seus limites e valores, por esse motivo ele nos conduz à hermenêutica

fenomenológica como instância onde o sujeito se transcende sem perder-se como sujeito.

O projeto de Ricoeur é racional porque pretende elaborar uma filosofia da linguagem

capaz de elucidar as múltiplas funções do significar humano. Assim "se o símbolo nos leva a

pensar, devemos pensar" (Ricoeur, 1983:3). Sua filosofia é muito mais que elaborar uma

filosofia de consciência é lUn trabalho de tomada de consciência que pretende desmistificar as

ilusões da consciência. Porque para descobrir a verdade, deve-se dissipar a ilusão, já que a

atual crise da linguagem sintetiza-se na oscilação entre desmistificação e restauração do

sentido.

2.1.2.2 O método hermenêutico fenomeno)ógic~ ~

A palavra hermenêutica deriva do termo grego HERMES que significa "habitar a casa

de" (Donzelli, 2000).

Significa originariamente "expressão (de lUn pensamento); daí explicação e,

sobretudo, interpretação do mesmo. Para Platão a palavra hennenêutica significa 'a razão' (do

dito) a explicação da diferença". (Ferrater Moura, 1982: 1493).

Existem diversos trabalhos sobre a origem e desenvolvimento da hermenêutica.

Para Ricoeur, no plano do conhecer, a primeira característica do objeto é aparecer. O

homem não cria o real, ele o recebe como uma presença. Sua percepção se abre ao mundo

sendo uma "percepção finita". Toda visào de mundo é lUn ponto de vista apreendida pelo

sujeito. O mundo é o horizonte de todo objeto, que só é percebido em parte havendo

(33)

no entanto, podemos dizê-los pela linguagem, através da qual falamos das fisionomias

ocultas e não percebidas das coisas. Falamos delas ainda em sua ausência. Nesse sentido, a

palavra transcende todos os pontos de vista. Portanto, a realidade não se reduz ao que pode

ser visto senão também ao que pode ser "dito". Há tUna síntese do visto e do dito em uma

interpretação do discurso, mas que só se aplica à ordem das coisas; este é um dos eixos do

fimdamento de Ricoeur para seu método hennenêutico fenomenológico.

o

método hermenêutico de Paul Ricoeur é um ato racional e subjetivo de realização

do sujeito e no qual o sujeito se compreende em contato com o sentido abstraído dos sinais

polissêmicos que ele não criou. É a teoria da interpretação baseada na dialética da explicação

e da cornpreensão. Teoria que visa a decifração dos comportamentos simbólicos do homem;

trabalho de pensamento que consiste em decifrar o sentido oculto no sentido aparente. É mn trabalho de tomada de consciência que pretende a desmistificação das ilusões da consciência.

Segundo Ricoeur:

lia compreensão tem lugar pela mediação de uma interpretação : a

hermenêutica fenomenológica que substitui o mundo natural do corpo e da coisa pelo mundo cultural do símbolo e do sujeito; por um mundo da linguagem ... o mundo da linguagem é o mundo da vida cultural. . .[daí que] é possível desenvolver uma 'hermenêutica crítica' que é uma reflexão

hermenêutica sobre a crítica e sobre as condiç(}es destas, incluindo a 'auto-reflexão'. Sendo capaz sua hermenêutica de pôr em questão a dicotomia entre compreensão e explicação chegando a dialetizá-lo" (Ferrater Moura,

] 989: 1496).

Ricoeur diz que "explicamos albwna coisa a alguém para que ele possa compreender e

o que ele compreendeu pode, por sua vez, explicá-lo a um terceiro. Assim a compreensão e a

explicação tendem a sobrepor-se e a transitar mna para a outra" (Ricoeur,1976: 84).

Na explicação explicamos ou desdobramos o âmbito das proposições e significados,

ao passo que na compreensão compreendemos ou apreendemos como um todo a cadeia dos

(34)

A explicação ongma-se, diz Ricoeur "do campo paradigmático de aplicação das

ciências naturais onde há íàtos extemos a observar, hipóteses a submeter a verificação

empírica; leis gerais para cobrir tais fatos, teorias para conter as leis num todo sistêmico, e a

subordinação de generalizações empíricas a procedimentos hipotético-dedutivos, então

dizemos que explicamos." (Ricoeur,1976:84).

A compreensão origina-se do campo de aplicação das ciências humanas; "onde a

ciência tem a ver com a experiência de outros sujeitos ou de outras mentes semelhantes ás

nossas. Ftmda-se no caráter significativo de fonnas de expressão como signos fisionômicos,

gestuais vocais, ou escritos, e em documentos e monumentos que partilham com a escrita o

caráter geral e inscrição". (Ricoeur,1976: 84).

Paul Ricoeur concebe sua filosofia como uma tarefa, como uma atividade ao mesmo

tempo concreta, temporal e pessoal, muito embora com pretensões à tmiversalidade, daí que

se fala que ele está posicionado nas fronteiras do saber. Em sua obra "História e Verdade" ele

reconhece:

"Tenho algo a descobrir de próprio, algo que ninguém possui a tarefà de descobrir em meu lugar . .','e minha existência tem um sentido, se ela não é vã, tenho uma posição no ser que é um convite a colocar uma questão que ninguém pode colocar em meu lugar. A estreiteza de minha condição, de minha i/?formação, de meus encontros e de minha vocação de verdade. No entanto, por outro lado, procurar a verdade, quer dizer que aspiro a dizer uma palavra válida para todos que se destaca sobre o fimdo de minha situação como um universal. Não quero inventar, dizer o que me agrada, mas aquilo que é" (Ricoeur, 1983:05).

Procurar a verdade, com vocação de verdade, procurar a palavra válida, sem inventar,

dizendo só o que é, ainda considerando minhas limitações e eu mesma como sujeito é algo

muito dificil, por isso que a hennenêutica fenomenológica é uma tarefa que tem como tarefa

refletir aceITa de sua própria problemática em relação às operações racionais da

(35)

Segundo Creusa Capalbo (1983) Ricoeur toma como ponto de partida uma reflexão

baseada na própria concretude da vida; por isso, ele busca a maneira de estabelecer wn nexo

entre a "força e o sentido", a "vida" (que tem diversas significações) e o "espírito"; nexo

capaz de ligar as significações numa "seqüência coerente". Esse nexo é a fenomenologia e

não a lógica formal dos conceitos, pela ciência do mundo que constitui a base a qual é

possível localizar o problema hermenêutico. Sua henllenêutica-fenomenológica, então, pode

ser vista como uma "epistemologia da interpretação" que se OIigina da reflexão sobre a

exegese, sobre os métodos históricos, sobre os métodos lingüísticos, sobre a psicanálise e

sobre a religião em confronto com uma ontologia da compreensão.

As tarefas da hermenêutica-fenomenológica serão mencionadas através dos

momentos da interpretação compreensiva apresentados no texto de Creusa Capalbo, cabe

salientar, que no texto figuram como etapas, mas a pesquisadora os considera como

momentos do proceder hermenêutico-fenomenológico.

1°. Momento da Interpretação Semântica Simbólica

A Interpretação é "o trabalho de um pensamento que consiste em decifrar o sentido

oculto no sentido aparente, em desenvolver os níveis de significação implicados no sentido

literal" (Capalbo,1983: 33).

Partiremos da idéia de que qualquer compreensão ôntica se exprime sempre pela

linguagem.

No encontro dialógico a abordagem hermenêutico-fenomenológica busca a

apreensão do real através de singularidades e especificidades que se manifestam nas

linguagens (oral, escrita, sonho, mito, simbólica) das pessoas engajadas na pesquisa.

Buber como Ricoeur consideram o diálogo como uma comunicação existencial entre

o EU e o TU, um encontro com o outro; Wl1 engajamento vivo de pessoas com pessoas que

(36)

OCOITe a relação-eu-tu" (In Mora: 1971, 227).

O "encontro dialógico autêntico" implicará comunicação e estabelecerá uma relação viva entre pessoas como pessoas.

Linguagem, que tem na palavra a possibilidade da retomada reflexiva de temas

geradores de uma civilização em marcha, palavra que pode transfonnar o coração núcleo de

onde brotam nossas mais íntimas decisões. Respeito disso Ricoeur diz: "A palavra é meu

reino e disso não me envergonho; ou melhor, envergonho-me na medida em que minha

palavra participa da culpabilidade de uma sociedade injusta, que explora o trabalho; não me

envergonho originariamente e, sim, tendo em vista o seu destino." (Ricoeur, 1968:9)

Linguagem que contém em si símbolos, sinais e/ou códigos lingüísticos polissêmicos,

que podem ser orais e/ou fixados pela escrita. Para Ricoeur o problema hennenêutico é mais

complexo quando analisa a linguagem como discurso escrito onde a análise da textualidade

se concretiza na relação dialética e ontológica do compreender o "mundo da obra" com o

leitor e pelo exercício do distanciamento produtivo e a dialética da compreensão e da

explicação.

Em razão disso, Ricoeur, segundo Capalbo (1983: 15), "parte das fonnas deduzidas

(símbolos, linguagem) da compreensão, a fim de descobrir nelas indícios de sua origem

ontológica, isto é, buscar ou iniciar o trabalho interpretativo no próprio teITeno onde o

compreender se desenrola, ou seja, no domínio da linguagem".

Devemos ter em consideração primeiro a "localidade da interpretação" : a linguagem

.Pois, temos a característica de que nossas palavras tenham mais de uma significação :

polissemia, impOltando-nos em identificar os contornos ou contextos, porque ela possui uma

relação privilegiada com as questões da linguagem, basta pensar nas línguas naturais que

(37)

recorre, em contrapartida, ao papel seletivo dos contextos veiculado por um locutor preciso a

um ouvinte que se encontra em uma situação particular" (Ricoeur, 1983).

Mas esses contextos por sua vez, põem em jogo uma atividade de discernimento que

se exerce numa troca concreta de mensagens entre os interlocutores : a questão e a resposta.

"Esta atividade de discernimento é propriamente a interpretação : consiste em reconhecer

qual a mensagem relativamente lmívoca que o locutor construiu apoiado na base polissêmica

do léxico comum" (Ricoeur,l983). É reconhecer a linguagem como discurso com palavras polissêmicas, conseguindo identificar a intenção de univocidade na recepção de mensagens

pois "o mundo da linguagem é o mundo da vida cultural" .

Em razão disso, o que interessa é que o homem não se contente com a linguagem

primária e espontânea para exprimir toda a sua experiência. O homem então precisa "chegar a

uma interpretação criadora de sentido, chegar à atitude filosófica do compreender"

expressado em uma linguagem filosófica que é capaz de revelar uma experiência ontológica

que é relação do homem com aquilo que o constitui homem, quer dizer, foco de sentido.

No caso deste estudo, o sentido e significado do fenômeno serão apreendidos através

dos "encontros dialógicos" com o Agente de Serviço Social e o discurso de sua açào.

O momento da interpretação semântica-simbólica é caracterizado por ser uma certa

"arquitetura de sentido", ou "sentido múltiplo", cuja tarefa consiste em mostrar o sentido

oculto no sentido aparente, isto é, mostrar as significações escondidas pela simbólica da

linguagem.

Então, é no sentido do dito, no "mostrado-escondido", ou na semântica -arte da

significação, estudo da relação de significados nos signos e da representação do sentido dos

enunciados (Fulgêncio, 1979: 1565) - das expressões polissêmicas que se deve analisar a

linguagem que servirá para a compreensão desse sentido.

Trabalho racional que procura decifrar o "sentido oculto" das expressões, que

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