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11/03/2016 05:00
No Twitter, menções igualam maior protesto
Por Cristian Klein
A movimentação nas redes sociais em torno dos protestos contra o governo, no domingo, tem sido similar, nos últimos dias, à que ocorreu na semana anterior à manifestação de 15 de março do ano passado, e que reuniu número recorde de pessoas.
De acordo com levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas
(Dapp/FGV), houve, nessa quartafeira, pelo Twitter, 97.998 menções aos protestos de domingo. Na quartafeira anterior à manifestação de 15 de março do ano passado, o Monitor de Temas, uma ferramenta de pesquisa das redes sociais desenvolvida pela Dapp, registrava 113.857 menções.
Na terçafeira, 8, o número de usuários do Twitter que citaram o protesto deste fim de semana seja para se expressar contra ou a favor do governo foi até maior (81.587) que na terça anterior (74.004) ao ato recordista em número de manifestantes em 2015.
O Monitor de Temas faz uma análise quantitativa e qualitativa, a partir de palavraschaves, como "protesto", "impeachment", "Vem Pra Rua" (um dos movimentos que lideram as manifestações) além das hashtags que expressam apoio ou crítica ao governo.
A agitação pelo Twitter nesta semana, em todos os dias, é superior à verificada nos protestos de abril e de agosto. A quarta manifestação antiDilma, em dezembro, ficou fora da análise por coincidir com a aceitação do pedido de impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Com o fato político, a mensuração isolada das
menções específicas àquele protesto ficaria prejudicada.
Para o diretor da Dapp, Marco Aurélio Ruediger, os números similares de menções "indicam uma tendência de que veremos protestos de grande magnitude no domingo". "Embora não se possa afirmar isso com 100% de certeza, eu diria que é bem provável que tenha uma dimensão parecida", afirma.
A pedido do Valor, a Daap também produziu um gráfico, em formato de um globo, que mostra o grau de
polarização da sociedade. Na parte de cima, em vermelho, está a mancha que representa as interações de perfis do Twitter que são favoráveis ao governo, como o do Blog da Dilma. Na parte inferior, outra mancha maior, em azul, representa as interações de perfis contra o governo e o petismo, como o Antagonista. No meio, uma mancha amarela, mais rarefeita, indica os perfis "moderadores" em geral de veículos noticiosos.
Uma das evidências de que o dissenso extrapola o duelo governo oposição seria o fato de que o apoio à Dilma na rede social supera sua popularidade medida pelos institutos de opinião. "Não reflete os 10% que a presidente tem nas pesquisas", afirma o pesquisador da Dapp Amaro Grassi. As proporções relativas à imagem da busca específica a partir da categoria "protestos" são de 43% (azul), 28% (vermelho) e 11% (amarelo). Os demais 18% não chegam a integrar os
agrupamentos ('clusters') principais e orbitam em grupos menores, fragmentados.
Os números, porém, não refletem o "debate inteiro", ressalta o pesquisador. Os dois campos opostos tendem a aparecer, com variações de percentuais, em outras pautas da agenda pública, como a redução da maioridade penal e a reforma da Previdência.
Para Ruediger, as redes refletem o clima de radicalização política "que estamos vendo crescer perigosamente inclusive na contramão da tradição política brasileira de consensos mínimos e de conciliação de interesses". "E os custos desse processo devem ser imputados a todos os atores envolvidos, e não a apenas uma das partes",