• Nenhum resultado encontrado

O pragmatismo impossível: a política externa do segundo governo Vargas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "O pragmatismo impossível: a política externa do segundo governo Vargas"

Copied!
66
0
0

Texto

(1)

:327

CPOOC·

o PRAGMATISMO IMPOssíVEL

A po1itica externa do Segundo Governo Vargas (1951 - 1954)

Mônica llirst

FUIDação GETULIO VaRGaS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇAO DE

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

(2)

FUNOf..1

,ÃO

GETULIO VARGAS

I

INCIPO I CPUOC

ggj .{)g3.�

I: 9

c P D o C

o PRAGMATISMO IMPOssíVEL

A politica externa do Segundo Governo Vargas (1951 - 1954)

. Mônic.a Hirst

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA

CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

RIO DE JANEIRO

(3)

Ceerdenaçãe ed i te r i a l : C r i s t ina Mary Paes da Cunha

Rev i sãe de t exte : E l i sabeth Xav i e r d e Ara�je

Da t i legra fia: Márcia de Azevede'Redr igu e s

Neta :

E s t e texte fei e s c r i te em 1986 quande a pe squi sadera fa­ z ia parte da l inha de pesqu i sa de R e l aç õ e s Internacienai s de CPDOC.

HIRST , Mônica

o pragcat i sce icpe s síve l: a_pelít ica ex terna de s e­ gunde geverne Varga s (1951-54) / Môn i ca H irst . - R ie de J a n e i re: Cen t re d e Pe squisa e Decucentaçãe d e H i s tória Centecperânea de B r as i l , 19 90 .

62 f.

B ib liegraf ia : f . 60

1 . B ra s i l - H i stória - 19 5 1 - 1 9 5 4 . ç õ e s ext e r ie r e s - / 1 9 51-1954 .

2 . B r a s i l - Re

la-I. Centre de Pesqu i s a e Decucentaçãe de Hi stória Cente� perânea de B ra s i l. 11. T í tu le .

CDU 9 8 1 . 0 8 3 . 2 : 3 27 CDW 981 . OEi3 2

(4)

.�_.

-�

"-Fund::lção

G",tC, ..

---' . ._ ...

-jJ3J��Jt�.

01

/o� /

d991

(5)

SUMÁRIO

Intreduçãe I 1

1 . Os cendic ienamentes externes I 2

2 . O d iá loge de surdes cec es Estades Un ides I 6

3. Os percalçes de uma pelítica de d iv ers if icaçãe I 2 0 4 . O Pacte ABC I 25

5 . A questãe p etrel ífera I 42

6. Parâmetres de debate int erne: ator es , discurses e epiniãe pública I 48

(6)

Introdução

A n t e s d e t r a t a r d i r e t ament e d a pol í t ica e x t e r n a do S e ­

gundo G o v e r n o Varg a s , s e r á i mp o r t an t e men c i on a r de mane i r a b r e v e o

con t e x to i n t e r n a c i on a l em q u e e s t a pol í t i ca s e i n s e r i a no i n í c i o

dos anos 5 0 . N ã o cabe d ú v i d a q u e a r i g i d e z po l í t i co - i de o l óg i ca que

orientava a práxis pol í t i c a d a pot ê n c i a h eg emôn i c a nort e-ame r i c a na,

rest r i n g i a por s i a marg em de a ut on o m i a d a a t u a ç ã o e x t er n a e d e

d e f e s a d o s i n t e r e s s e s pr óprios d e p a í s e s como o Bra s i l .

As con d i ções de n e g o c i a ç ão t ã o max i m i z ad a s d a s q u a i s V a r ­

g a s pôde s e b e n ef i c iar n o s a n o s 40 , h a v i a m d e s apare c i d o p o r

com-p l et o . Ao c o n t r á r i o d o per í odo d a S e g u n d a G u e r r a , quando a

Amé-r i c a Lat i n a c omo um todo - e O B r as i l em p ar t i c u l a r h a v i a o c u

-pado u m l u g a r p r i or i t á r i o n a agenda i n t e r n a c i on a l nort e - ame r i c a n a ,

p r e v a l e c i a um t o t a l d e s i n t e r e s s e q u a n t o à reg i ão l a t i no- amer i c a n a .

E s t a marg i n a l i d a d e e c o n ôm i c a e m i l i tar c o n s t i t u i r i a um f o r t e im­

ped i m e n t o para q u e V a r g a s apl i c asse s u a a n t i g a e s t r a t ég i a de n e g o ­

c i a r prove i t os am e n t e O a l i n h a m e n t o bras i l e i r o à pol í t i c a e x t e r n a

(7)

0 2

1. Os comdic ionamemt os extermos

O princ í pio da p o l í ti c a e x t e r n a dos Estados U nidos p a r a a

Amé ri c a L a tina d e s d e o pós - g u e r r a foi o d e priori z a r a promo ç a o

do liv re f l u x o d o s s e u s i n t e r es s e s privados . As r e l ações e c o n o

-mic a s int erameri c a n a s s e g uiam o p a d r ã o c l á s sico d e t ro c a s e n t r e a

perif e ria primário - e x port adora e o. c e n t ro i ndust ria l i za d o, r e v e lan

do uma �e l ação de dependincia solidamen t e estrut urada .

T a n t o a admini s t r a ç ã o Truman q u a n t o a Eis e n h ow e r d e s e n v o l

v e r a m u m a pol í ti c a q u e d a v a con tin uid a d e a essa dependincia e

mesmo a aprofu n d a v a . T r a t av a - s e apenas de ir a t u a l i z a n do e s t e p a ­

drão d e r e l acionament o, a t r av é s d a e x pansão d e investimentos e d a

g a r a n ti a d o fornecimen t o d e m a t é ri as-p rimas vit ais p a r a a

moder-niz a ç ã o t e c n o l ógica do p a rq u e indust rial n o r t e - ameri c a n o . A c a

-r a c t e -ri z a ç ã o d a Amé-rica L a tina como u m t e -r -ri t ó -rio ide a l para o

investim e n t o privado, tinha s u a s r a í z e s n a própria est rutura g l o­

bal do sist ema c apit a l is t a i n t e r n a cional e r e o r d e nado a partir d o

pós-g u e r r a . O q u e existia aqui e r a uma n í tida dif e r e n ci a ç ã o e n t r e

o s mod e l o s e c o n ômicos proje t ados p a r a a s div e r s a s p a r t e s d o mundo

capit a li s t a . No c a s o d a E u r opa Ocid e n t a l , h a via um i n t e r e s s e d e

r e c u p e r a r a s e c o n omia s d e s t r o ç a d a s pel a g u e r r a, vis ando à s u a p l e

-n a r eativação . E r a import a n t e para os E s t ad o s Unidos c o n t a r com

os p a í s e s e u r opeus n a q u.alid ade d e p a r c eiros p a r a o pr óprio f o r­

t a l e cimento d o sis t ema c a pi t a li s t a em t ermos e c o n ômic o s, milit a r e s

e pol í t i c os . O mesmo, no e n t a n t o, n ã o e r a v e rdade p a r a a Améri c a

Latina, para a q u a l o p r o j e t o e c o n ômic o ori e n t a v a - s e n o s e n tido d e

for t a l e c e r a s e s t r u t u r a s primário e x p o r t a d o r as e g a r a n ti r , a l o n

-g o p r a z o, a m a n u t e n ç ã o d e u m c ampo f é r ti l p a r a

privados .

(8)

0 3

A e s s a r e a l i d a d e s e sobrepunha o enquadramento pol í t i c

o-i d e o l ó g o-i c o po s t u l ad o pe l o s o-i s t ema b o-i p o l a r . T r a t a v a - s e d e uma " c

am i s a defor ç a" q u e a t u a v a h oamog e n e i z ando r e a l i d ades e s s e n c i a l ame n

-t e a n -t a g ô n i c a s , a -t r a v é s de u m a s i s -t em á -t i c a ma n i pu l a ç ã o i d e o l óg i

-c a que i n t e rp r e t a v a d e forma s i mpl i s t a e , m u i t a s v e z e s , deforma d a , o s i g n if i cado d a s demandas l a t i no-am e r i c a n a s .

Foi nesse c o n t e x t o que se d e s e n v o l v e u o p e n s ame n t o e a

a ç a o n a c i on a l i stas n a Amé r i c a L a t i n a , q u e , em f u n ç ã o d a s prem i s

-s a -s i d e o l ó g i c a -s d o c o nf l i t o L e -s t e-Oe-st e , e r am t r a t ado-s como um

s i n t oma d e pene t r a ç ã o comu n i s t a . A i d e n t i f i c a ç ã o do n a cion a l i smo

com o comu n i s mo t o r n a r a - s e a m e l h o r forma de d e s ar t i c u l a r q u a l q u e r

forma de mobi l i z a ç ã o reg i o n a l . Po l i t i c a me n t e , o cont i n e n t e v i v i a

uma s é r i e d e novas exper i ê n c i a s que s e r e l a c i o n a vam com a s pro­

pr i as t r a n sforma ç õ e s s ó c i o - e c o n ôm i c a s o c o r r i d a s d u r a n t e a d é c ad a

d e 4 0 , favo r e c i d a s pe l a conjunt u r a d a g u e r r a . D e l i n eava - s e , n o s

r e -p a í s e s m a i s a va n ç ad o s d a r eg i ão , u m novo -perf i l soc i a l q u e

percut i a d i r e t am e n t e sobre s u a s d i n â m i c a s pol í t i ca s i n t e r n a s . Sur.­

g i am como fenômenos pol í t i c o s ma i s e x pr e s s i vo s o popu l i smo e o

n a c i o n al i smo , q u e se c o n s t i t u í am em duas v e r t e n t e s compleme n t a r e s ,

a r t i c u l a ndo a d i mensão i n t e r n a e e x t e r na d e s t a r e a l id ade .

Apesar dos r í g i dos esquemas d a g u e r r a f r i a q u e domi n a v a m

o c e n á r i o i nt e r n a c i o n a l , o n a c i on a l i smo l a t i no-amer i c a n o buscou

apo i a r - s e em o u t r a s e xp�. i ê n c i a s de reg i õ e s subde senvo l v i da s . O

processo de d e sc o l o n i z a ç ã o r e c e n t e n a  s i a e n a Âf r i c a , o s i n t e n­

t o s n a c i o n a l i s t a s no O r i e n t e Méd i o e o s p r i m e i ros ensa i os de u •. movimen t o de p a í s es n ã o- a l i n h a d o s repr e s e n t a m i nf l u ê n c i as i mpor­

t a n t e s n e s t e cont e x t o . N o e n t a nt o , t od o t i po de mov i m e n t o soc i a l

(9)

pe-l a admi n i s t r a ção n o r t e - a me r i c a n a como um e x emppe-lo

sov i é t i c a .

Apesar d e s t a percepçao o n a c i on a l i smo

n ao pare c i a const i t u i r uma ameaça r e a l ao poder

04

de p e n e t r a ç ã o

l a t i no-ame r i c a n o

hegemôn i c o d o s

Est ados U n i d os , p a r a o q u a l o a l i nhamento l a t i.no-ame r i c a n o quase

sempre era um dado s e g u r o . De f a t o , o co n f l i t o n a c i o na l i smo x

imper i a l i smo n o c o n t e x t o i n t e rame r i c a n o , j ama i s e x t rapo l a v a o

am-b i t o r e g i o n a l em que s e ma n i f e s t a v a . F r e n t e a o s i s t ema g l oba l ,

onde predom i n av a o con f l i t o L e s t e-Oe s t e , a a t u a ç ã o l a t i n o-amer i ­

c an a , com r a r í s s i m a s e x c e ções , e s t a v a t o t alme n t e enquadrada c omo

b l o c o d e

te 11 •

apo i o a d e f e s a d o s i n t e r e s s e s do "0c i d e n

-U m a d a s i r e a s d e r e l a c i o n ament o i n t erame r i c a n o q u e me­

l hor e x pressou e s t e a l i n hamen t o , f o i a dos e n t e n d i m e n t o s m i l i t a

-re s . Com a r e s t r i ç ã o d e vendas d e armame n t o s p a r a a Amé r i c a L a

-t i n a , que se man-t e r i a mesmo após a i n c l u s ã o d o s p a í s e s s i g n a -t i ­

r i o s do T r a t ado do R i o d e J a n e i r o n o Acordo d e D e f e s a M ú t u a d e

1949, a s r e l a ç õ e s m i l i t a r e s i n t e r amer i c an a s s e d e s e n v o l v i am pr i n­

c i pa l m e n t e a t r a v é s d o e n v i o d e m i s s õ e s para t r e i n amen t o e a s s e s ­

so r i a . E s t a s r e l ações s o f r e r am u m p r i m e i r o sopro de r e v i t a l i z a ­

ç ã o a p a r t i r de 1951, q u a n d o os E s t ad o s U n i dos perceberam a nece�

s i d ade d e uti l i z a r a Amé r i c a Lat i n a como i n s t rume n t o d e l eg i t i ma ­

ç ã' o, e m n í v e l domé s t i c o _e i n t e r n a c i on a l , d e s u a p a r t i c i pa ç ã o n a

G u e r r a d a C o ré i a . O e v e n t o ma i s impor t a n t e p a r a a conc r e t i z aç ã o

d e s t a pol í t i c a f o i a I V C o n f e r ê n c i a d e Cons u l t a

abr i l d e 1951 em Wash i ng t on .

r ea l i z ad a em

Ji no a n o s eg u i n t e , e r am f o rma l i zados s e t e a c ordos m i l i

(10)

05

e l e s : B r a si l , C hi l e , U r u g u ai , Equado r , Peru , C o l ômbia e Cuba . E s

-t es a c o rdos -tinham como c o n -t eúdo básico : a ) o c ompromisso n o r t e

-ameri c a n o d e f o r n e c e r a ssis t ê n ci a milit a r ( equipame n t o s e s e

rvi-ços ) ; b ) o compromisso l a ti n o - am e ri c a n o d e a s s e g u rar o f l u x o d e

mat eriais e s t rat égic o s , d e r e s t ringir a s r e l ações come rciais com

o bloco s ovié tico , e d e s e c o l o c a r dispon í v e l para a d e f e s a do

chamado 1'mundo livre " . ( Chil d , 1 9 7 8 : 3 23 ) D e s t a c a vam-se n e s t e

c o n t e x t o , como g ov ernos " re b e l d e s·; a Argentin a , o México e a G u a

t e m a l a. Por motivos po l í ticos i n t ernos , s u rgiu n e s t e s p a í s e s u m a

fort e r e a ç ã o a o e s t abel e cime n t o d e c ompromissos que implic a s s e m a

subordi n a ç ã o milit a r e s t r a t égica a Washing t on . A t é o fin a l d a d é c a d a d e 50 , e s t es a c ordos s e est e n d eram a o s demais pa í s e s d o

contin e n t e , permanecendo e x c l u í dos ao Prog rama de Assis t ê n cia

Mi-lit a r apenas a Arg entina e o México .

A l é m d e r e f o r ç a r os c a n ais bi l at e rais d e r e l a cion amento

milit ar , o Programa d e Assis t ê n cia Mil i t a r i n t rod u z i u u m novo

conceito d e seg u r a n ç a n o âmbi t o i n t e rameri c a n o , ao substituir a

noção d e recipro cid ade p e l a de c o l e tividad e . E s t a muda n ç a tinha

um s e ntido t e ó rico e prático , apro f u ndando ain d a mais o a li n h a

-m e n t o d o s pa í s es l a tino-a-meri c a n o s a o s i n t e r e s s e s -mili t a res e st ra

t égicos dos E s t ados U nidos . A n o ç ã o de c o l e tivid ade bus c a v a

imprimir um s e n tido " comum" aos prob l emas de s eg ur a n ç a no contin e n

-t e , repassando u m a responsa bilidade a -t od o s o s p a í s e s membros d o ./

sist e@a i n t e rameri c a n o.

N e s t e cont e x t o a comunid ade l a tino- americana aparecia

a i nda mais ' c omprometida à pol í ti c a n o r t e -ameri c a n a de c o n t e n ç ã o

ao c omunismo . A Améri c a L a tin a , d e s e u l ado , amarg urada pelas d� •

(11)

po-06

dia, aos Estados Unidos uma açao ma�s positiva em favor de seu

de-senvolvimento econ6mico. A total negligência norte-americana

ter-minava esvaziando estas reivindicações, sem que isto, contudo, af�

tasse o compromisso de alinhamento político-militar da região.

2 . O diálogo de surdos com os Estados Unidos

A vitória de Vargas em 1950 implicou, desde o seu prime

i

ro momento, a busca de um novo padrão de relacionamento do Brasil

com os Estados Unidos. Este esforço já havia se tornado bastante

previsível durante o período da campanha presidencial, em função

da própria plataforma presente nos discursos varguistas.

Anuncia-vam-se, então, duas ênfases da política externa a serem

implementa-das: seu caráter nacionalista e a expectativa de obter uma maior

cooperação econômica do governo norte-americano. A opção por um

novo encaminhamento nas relações entre os dois países, visava mod

!

ficar o tratamento de baixa prioridade que o Brasil vinha

receben-do por parte receben-do governo Truman. Procurava-se fundamentalmente

ga-rantir ao governo brasileiro - como Vargas já o fizera na década

anterior - um ma�or poder de barganha junto aos Estados Unidos.

De fato se acreditava que o Brasil tinha plenos direitos

a receber um tratamento especial, em função dos compromissos

pas-sados e presentes que o país sempre terminava assumindo em nome

da sua solidariedade aos Estados unidos.1 A partir desta

per-cepção, buscou-se o fortalecimento imediato dos canais

bilate-1. Carta de João Neves da Fontoura ao Ministério das Relações Exteriores - MRE -, em 06.04.51.

51.03.16/1, Cpdoc/FGV.

(12)

0 7

r a is c o m os Estados U n i dos , d e s d e l og o u m a d as p r i o r i d ades d o pr�

j eto da po l ít i c a ext e r n a do Seg u ndo Gove r n o V a rg a s . A ut i l

iza-çao de i ns t r ume ntos m u lt i l at e ra is s u rg i a , ao mesmo t empo , como

uma ti t i c a apropriada em fu nçio d a pr6pr i a cOl1 j u nt u r a i n t e r amer i

-c a n a . o f a t o de que a posse de Getú l i o se d ar i a d e z d i as a ntes

dos t raba l hos d a I V Reun i ão d e C o nsu l t a em Wash i ng t on , c r i a va COl1

d ições ex cepc i o n a is n este s e nt i d o .

As nego c i ações b i l at e r a i s i n i c i am-se d u r a nt e a pr6pr i a

preparaçio d a C o n f e r ê n c i a n os a c e rtos quanto à atuaçio d a d e l eg a

-çio b r as i l e i ra. o g o v e r n o nort e - ame r i c a n o e x p r esso u , d e s d e os

p r i me i r os mom e n t os , suas e x pe c t a t i v as quanto à c ooperaç ão do B r a

-s i l d u r a n t e a r e u n i ã o . o n o v o g o v e r n o b r a s ile i r o , d e sua parte ,

expl i c i t a va os termos a s e r em n e g o c i ados por est a coop e ração atr�

v és de dema n d as b a st a n t e e s pe c í f i c as . Esp e r a v a -s e o ate n d im e n t o

d e a l g uns ped i dos como : a l i be r ação d o c r édi t o p e d i d o a o

Exim-bank e ao Banco I nt e r n a c i o n a l p a r a a impl ant açio d e indústri as

bás i c as e obras púb l i c as ; um espe c i a l i n c e n t i v o d o g o v e rno T r u

-man a o i n v est i m e n t o p r i vado nort e - ame r i c a n o no Bras i l; e a sus-pensa0 das rest r ições n o rt e - a me r i c a n a s a o preco do c af é . Tar.1b ém

se re i v i nd i c a v a a i n a u g u ração i m ed i a t a d e uma Com i ssão rHs t a

Bras i l - Estados U n i dos p a r a que o g o v e r n o norte- ame r i c a n o se com­

prome t esse , o mais b r e v e poss í v e l , com uJna p o l í t i c a d e c ooperaçao

econôm i c a que a po i asse a i n d ustr i a l i z ação b r as i l e i r a . ./'

Em t e rmos pol í t i c os h a v i a a e xpect a t i v a d e que e st e n o v o round d e negoc i ações c o m os Estados U n i d os t i v esse me l ho r es

resultados do que os Acordos d e Ilas h i ngton d e 1942. O c h a n c e l e r

(13)

0 8

j un t o a o g o v e r n o n o r t e ame r i c a n o d o q u e s e u c o l ega O s v a l d o A r a

-n h a -n o s a -n o s 40, po i s d e a c o r d o c o m s u a p e r c e pçao e s t e s e n t e nd i

mentos hav iam s i do condu z i dos d e f o r ma d e s fa v o r á v e l para o B r a

-s i l , -s u b e-s t i mando- -s e , e n t ão , o r e a l poder d e barga n ha d o paí s .

Os a c e r t o s b i la t e r a i s em abr i l de 1 9 5 1 d u ran t e a I V R e u

-n i ão d e Co-n s u l t a -na á r ea e c o -nô m i ca e m i l i tar , c o n t emplaram uma

amp l a agenda de n e g o c i aç õe s . O B ras i l o f e r e c i a a e x portação d e

m a t e r i a i s e s t r a t ég i c o s p r i n c i pa l m e n t e man g a n ê s e a r e ias mona z í

-t i ca s - , ped i nd o e m -t r o c a f i n an c i am e n -t o para a i nd u s t r i a l i za ç ã o

d e s t e s p r o d u t o s e para os programas d e d e s e n v o l v i ment o a s e r em d e

f i n i dos p e l a Com i s s ã o M i s t a , como , também , a g a r a n t i a d e n o v o s

s u�r i m e n t o s b é l i c o s . Com r e lação a e s t e ú l t i m o i t e m , p r o c u ra v a

se chamar a a t e n ç ã o d a a dm i n i s t ração n o r t e am e r ica n a pa ra o m e r e

c i me n t o p o r pa r t e d o B ra s i l de u m t ratamen t o p r e f e r en c i a l n o c o n

-t e x -t o l a -t i n o-ame r i cano .

Ao f i n a l da Con f e r ê n c i a , o g o v e r n o bras i l e i ro par e c i a

e s tar bas t a n t e s e g u r o q u a n t o à o b t e n ç ã o d e i mpor t a n t e s c o n c e s

-s õ e -s n o r t e -ame r i ca na-s no campo da coope r a ç ã o e c onômica . T e n d o

g a ran t i do um c r éd i t o d e t r e z e n t os m i l h õ e s de d ó l a r es para o c o n

-j u n t o d e p r o -j e t o s a s e r e m e n c aminhados p e l a Com i ssão M i s t a, o g

o-v e r no Vargas mos t r a o-va-se ot i m i s ta qua n t o às n o o-v a s perspec t i vas

das r e l a ç õ e s Br a s i l - E s t a d o s U n i dos . A a r t i c u lação e n t r e a

coope-raçao pO l í t i co m i l i t a r e e c o n ôm i c a e ra p e r c e b i da como o c a m i n h o

/

a s e r e x p l orado . A a v a l iação pos i t i v a do s u c e s s o d e s s a s n e g

ociaçoe s , l e v a va a que tal mom e n t o f os s e v i s t o como uma p r i m e i ra e t a

-pa d e u m processo q u e pod e r ia s e r a i n d a ma i s prov e i t o s o par a o

B r a s i l . N e s t e quadro a e s t ra t é g i a d e f e n d i d a por João N e ves e r a

(14)

09

t e r r e n o pol í t i c o-m i l i t a r .

!

n e s t e c o n t e x t o q u e s e soma r am a o s

e n t e n d i m e n t o s d e v e n d a d e ma t e r i a i s e s t r a t é9 i cos as c o n v e r s a ç o e s

para o e n v i o d e t ropas b r a s i l e i r a s à C o r é i a .

M a i s uma v e z o trunfe do B r a s i l r e l a c i on a v a s e aos i n

-t e r e s s e s pol í -t i co-mi l i -t a r e s d o s E s -t ados U n i dos . Em 1 94 2 e s t e s i n

t e r e s s e s d e f i n i am-se pe l a ut i l i z a ç ã o d a s b a s e s no N o r d e s t e b r a s i ­

l e i r o , p e l o supr imen t o d e m a t e r i a i s e s t r a t é g i c o s e p e l o própr i o

rompimen t o d o B r a s i l com O E i x o . Quase d e z anos depo i s a b a rg a

-n h a s e d a v a e m t o r -n o d o supr i m e -n t o d e ma t e r i a i s e s t r a t é g i c os, d a

pa r t i c i pa ç ã o d e t ropas b r as i l e i r a s n a Coré i a e d o a l i nhame n t o i n ­

cond i c i o n a l à pol í t i c a d e g u e r r a f r i a n or t e - a me r i c a n a .

Os E s t ados U n i dos , de s e u l ado , a l é m d e buscarem g a r a n ­

t i r o supr i m e n t o de ma t e r i a i s e s t r a t é g i co s , pe r c e b i am o e n v o l v i ­

mento d o B r a s i l n a G u e r r a d a C o r é i a c omo uma m a n e i r a d e comprome­

t e r o u t r o s p a í s e s l a t i no-ame r i c a nos com a c o n t e n ç ã o do comuni smo

n a Ás i a . P a r a as aut or i d a d e s mi 1 i t a r e s nort e - am e r i c an a s , a

par-t i c ipação do B r a s i l s e r i a impo r par-t a n par-t e n a m e d i d a que " a . . . p a r par-t i c i ­

pação de o u t r a s nações t e r i a u m e f e i t o p s i c o l óg i c o pos i t i v o, p e r ­

m i t i n d o t ambém um s i s t ema d e r od í z i o que reper c u t i r i a f a v o r a v e l ­

me n t e sobre a o p i n i ão pGbl i c a ame r i c a n a� 2

P a r a o B r a s i l , e n t r et a n t o , abr ia-se uma a r e a e x t r

emamen-te sens í v e l de n e g o c i a ç õ e s, em f u n ç ã o d a r e s s o n â n c i a i n t e r na do

a l i nh ame n t o a Was h i n g t onj V a r g a s p a s s a v a a t e r d i a n t e de si uma

d i f í c i l equ a ç ã o d e p r e s s õ e s a ser adm i n i s t r a d a , n a qual s e f a z i am

present e s : o g o v e r n o n o r t e - ame r i c a n o , os m i l i t a r e s bras i l e i r o s ,

2 . F o r e ign re l a t i on s of t h e U n i t ed S t a t e s ( FRUS ) , 1950 Dept . o f S t at e , Wash i n g t o n D . C . 680 . 1 9 7 6 . p . 1 2 1 4 .

(15)

1 0

a op i n i ã o pGbl i c a n o Bras i l e o s a t o r e s e ag ê n c ias que i n t egr avam

o E s tado b ras i l e i r o .

Em j u n h o d e 1 9 5 1 , com a s d i f i c uldades dos Estados Un i

-dos em darem um r á p i d o f i m à Gue r ra da Cor é ia , aumen ta ram a s

p r e s s õ e s sobre o g o v e r n o b ras ile i r o , levando-o a e xam i nar, mais

det i dame n t e , a opo r t u n i dade d e algum t i po d e e n v olv i m e n t o no c o n

-f l i t o . N e s t a o cas i ã o também se negociava u m acordo m il i tar e n t r e

o s d o i s pa í s e s, est abele cendo-se uma es t r e i ta associação e n t r e o

env i o d e t ropas à C o r é ia e os t e r mos do a c o rdo . A polêm i ca i n

-t e r n a sobre a par -t i c i pação bras ile i ra na g ue r ra reperc u -t i u de i me

d i a t o sobre o poder d e neg o c i a ç ã o d o B r as i l , porem d e f orma i n

-v e r sa

a

q u e i mag i nava J o ã o Nev e s . Na med i da q u e e s ta par t i

cipa-ção começou a se mos t r a r problemátic a , d i f i cultava-se a obt e n ç ã o de c o n c e ssões da adm i n i s t r a ç ã o Truman , f os s e na 6rbi ta d a

assis-t ê n c i a m i l i assis-t a r o u da coopera ç ã o e c o n ôm i ca . E s t e j o g o t o r n o u -se

cada vez ma i s claro d u rante o ano de 1 9 51 , man i f e stando-se

aber-tamen t e n a s negoc iações b i la t e r a i s B ras il-E stados U n i dos .

o pac t o m i l i tar propos t o pelos E s tados U n i dos seg uia as

mesmas p r e m i s s a s do Aco rdo d e 1 9 4 2 , des t a cando-se . ent e n d i m e n t o s

para a d e f esa do cont i ne n t e e a prepara ç ã o d e forças à d i spos i­

ção da ONU para seu e n v i o a Coré ia , ou qua l q u e r outro lugar que

s e mos t rasse n e c e s s á r i o . Torn a va- s e , n o e n t an t o , cada v e z ma i s

d i f í c i l n o B r a s i l a l can ç,r u m consenso i n t e rno que apoiasse a pa� t ic ipação m i l i tar bras ile i r a na Co r é ia . E s t a d i f i c u l dade , por

s ua v e z, e n f raqu ec ia , d e n t r o da adm i n i s t ra ç ã o Truman , as a rg um e n ­

tações favor á v e i s a uma ma i o r cooperaçã o m i litar e e c o n ôm i ca com

(16)

11

Ao f i nal d e ag o s t o de 1 951 . as a u t o r i dades m i l i tares n o r

te -amer i canas propuseram a a s s i nat ura d e um acordo s e c r e t o n os

mesmos moldes do que hav ia s i do ass i nado em 1 94 2 . Esta s o l u çio

r e p r e s e n tava uma d e r r ota para o B ras i l . j á que o s Estados Un idos

c o n s e g u iam i s olar os e n t e n d i m e n t o s mi l i tares das d emandas bras i

-l e i ras d e cooperaçio e c o n ôm i ca . Os compro m i ssos assumidos p e l o

g o v e r n o Vargas nio i mp l i cavam f o r ma l m e n t e e m qua l q u e r t i po d e c o�

t rapar t ida e conôm i ca por par t e da �dm i n i s t raçio nort e -amer i cana .

D i a n t e dos obs t á c u los d e car á t e r domis t i c o. para a ob­

t en çio do apo i o pol í t i co n e c e s s á r i o ao d e s l o came n t o de t ropas bra

s i l e i ras . Vargas proc u rou ganhar t empo jun t o ao g o v e r n o Truman .

at ravés da c o n c e ssio d e mat er i a i s es tratig i cos . Em f i n s d e 1 9 51.

por ocas i ã o da v i s i ta do pres i de n t e da Com i s sio de E n e r g i a A t ô ­

m i ca d a O N U a o Bras i l. f o i r e n ovado o A c o r d o A t ô m i c o B r a s i l

-Esta-dos U n i d o s . De acordo com s e u s t e rmos. o g o v e r no bras i l e i r o se

compr omet ia a v e nd e r aos n o r t e-amer i canos 1 5 m i l t o n e l adas de mo­

na z i t a . sa i s de cir i o e t e r ra s - raras n o pe r í odo d e t r ês ano s . Es­

te A c o rd o . na r ea l i dad e . s e lava a i n t e r ferên c ia dos E s tados U n i

-dos sobre o processo d e c i s ó r i o da po l í t i ca ,nuclear bras i l e i ra . Do pon t o d e v i sta i nt e r n o . a d i s c u s si o em t orno do e n v i o

de t r opas bras i l e i ras para a C o r i i a e da ass i nat u ra d e um acordo

m i l i tar com o s Estados U n i do s . t e rm i n o u m i nando a a l iança entee

Vargas e os s e t o r e s m i l i�ares naci onal i stas . Esta represe n tado uma base d e s u s t e n t açio f u n d amental

a l iança ha via

nos p r i m e i r o s

momentos do n o v o g o v e rno . e x p re s sa con c r etame n t e na p r e s e n ça d o

g e n e ra l Est i l lac L e a l no M i n i s ti r i o d a G u e r ra . Sua desart i c u

la-çio r e p r e s e n t o u um rearra n j o nos c í r c u l os i n t e r nos do poder . q u e

- c omo s e v e r á - ab r i u o f lanco de vu lnerabilidade n o g o v e r n o Va r­

(17)

12

Tanto o A co rdo A t ô m i co q u a n to o Acordo M i l i tar s e con

-v e r t e r am par a V a r g a s n um a f o n t e d e pre s sõe s , que , a r t i c u lada a

out ros fator e s , l evaram a um pro c e sso de c r e s c e n t e i n s t ab i l i d ade

po l í t i c a . Como con s eq ü ê n c ia i med i a t a da a s s i na t u ra do Acordo em

março d e 1 9 5 2 , E s t i l lac Leal d em i t i u - s e do c a rgo d e m i n i s t ro da

Guer r a , i n i c i ando- s e , po r cons e g u i n t e , uma perda prog r e s s i v a de

pod e r por par t e dos s etores m i l i t a r e s n a c ion a l i st as . o a f a s

ta-mento do g r upo n a c iona l i sta não se prod u z i u , e n t r e t a n to, num

pro-tag o n i smo m a i s d e s t a cado de o r i e n t a ç ão pró-ame r i c a n a . De f a to o gove r no Var g a s e n t rava n u m proc e s so po l í t ico , onde a pe rda d e

determi nadas bases n ão r e s u l t a va , n e c e s s a r iame n t e , no g an ho d e

out ras - ao e s t i lo soma zero . A e s cala d a d e uma mob i l i zação

opos ic i o n i s t a , j i no i n í c io de 52, c r i a v a u ma d i nâm i c a na q u a l

todas a s a l t erações i m po s t a s is compo s i ções pol í t i c a s do governo

V a r g a s , conv e r t i am-se e m perdas l í q u i d a s d e pod e r para o s e u

man-dat i r i o .

A notí c i a sobre a a s s i n a t ura d e u m acordo m i l i tar com os

E s t ados U n i dos , t e ve r e s son â n c i a i me d i a t a no Cong r e s so bras i l e i

-ro . A ar t i c u lação no me i o par l a m e n t a r d e �ma f r e n t e opos i c io n i s

-t a i pol í -t i ca e x -t e r na d e V a r g a s , s u s c i -t a v a novos obs -t i c u los q u e

obs t r u í a m o própr io pro c e sso d e c i só r io do E s tado e m suas d e f i n i

-çõe s quanto aos t e r mos das r e l a -ções Br a s i l - E s t ados U n i dos . D ian t e

d e s t e quadro , João N e v e s procurou a c e l e r a r a aprovação no Con g r e� /

so da ass i na t u r a do Acordo , t emendo i n c l u s i ve nov a s d i f i c u l d a d e s

e x t e r n a s em f u nç ão d o c a l e nd i r io e l e i t o ral nor t e- ame r i cano .

Pro-c u rando apr e s sar a t ramitação do pro j e to, o Pro-cha n Pro-c e l e r i n fo rmav a ao

(18)

1 3

3

pa�a C apan ema , n o s e n tido d e o b t e r ap�ovaçao pura e s i mp l e s d o

A c ordo M i l i ta� com o s E s tados Un i d o s d a Ami� i c a . C o n s i de�o , dada

a e l e ição de E i s e n howe� , e s s a ap�ovação i mportant í s s i ma

b - d f <I ' d 'I 4

o t e nçao os u t u�os aUX1 10S e q u e ca�ece o B�a S 1 . "

pa�a a

A mo�osa t�am i t ação , a o l o n g o de nove meses, d o A co�do IH l i tar B�as i l - E s t ados U n i d o s no C o n g r e s s o exac e�bou e polar i z o u o

deba t e p o l í t i co d e n t ro e f o ra do e spaço par lamen ta� . Pe la p� i me

l

ra vez o antagon"ismo nac i o na l i smo ve� s u s al i n hame n t o

transfomBra-s e em t ema d e d e b a t e n a c i o n a l , o c a transfomBra-s i o n a n d o uma a� ticu] ação de i n

t eresses e op i n iões que env o lv i am os s e t o r e s ma is exp�e ss ivos d a

sociedade b�a s i l e i ra . M i l i t a r e s , par l arnent a�e s , bu�oc� a t a s ,

ern-presá� i o s , c amadas popula�es e i nte l ect uais pa�t i c ipavam do

deba-t e ap�ove i deba-t a n d o , deba-t arnbém , pa�a e xp l ic i deba-ta�em s e u s pos i c i o n a m e n t o s

ma i s ge�a i s de apo i o ou �epú d i o ao g ove�no Va�gas . I n i c i av a - s e

uma mob i l i zação q u e s e i r ia ap� o f u n d a� a i nda mai s c o m a d i s c u s são

em t o�no da q u e s t ão petrol í f e�a , pe� f i l a n d o - s e o p� i m e i ro a t o d e

pola� i z ação e debat e em t o r n o da pol ítica e x t e�na do S e g u n d o G o

-ve�no Va�gas .

Sem dúv i d a , a q u e s t ã o ma i s e xp r e ssiva p a ra um mapeame n t o

no Cong�es s o das pos ições pa�t i d á� ias s ob�e a s �elações com o s

E s t ados U n i do s , f o i a d o A c or d o M i l i t a� . Du� a n t e s e u debat e na

câma�a dos Deputados , f o i l ev a n tada , d i�e t a e i nd i�e tame n t e , uma

s i r i e de e n f oq u e s e pos isões que d e ma�c avam as c l ivag e n s i n t�a e

i n te�p a r t i d á� ias qua n t o ao r e l a c i onam e n t o do B�asil com o g ove� n o

3 . G u s t avo Capanema n e s t a ipoca e�a deputado fed e r a l p e l o " P SD e l í de r da ma i o� i a n a Câma r a dos Depu t a d o s .

(19)

1 4

n o r t e-americano . Ao mesmo t empo , a dis c u s s ã o sobre o Acordo

abriu espaço para out ras c o n t ro v é r sias , tais como a da C o n f e r ê n

-cia d e Was hi ng t on e o e n vio d e t ropas para a Coréia , que , p o r si

so , n ã o haviam sid o capa z e s d e s u s citar u m amp l o deba t e par lam e n

-tar .

Analisando a s posições pa rtidárias c o nstata-se em a l g u n s

casos u m l eq u e bastant e div e r sificado d e posiçõe s . O caso mais i n

-t e r e s san-t e se deu com a UDN, em função da própria posição " e squizo f r ê n�

cal' em q u e s e e n c o n t rava . His t o ricam e n t e e s t e par tido rep r e s e n t�

va o s e t o r da e l i t e brasil eira mais identi ficado aos i n t e r e s s e s

nort e -americanos; e n t r e tan t o , s e u pap e l opo sicionista l h e

obriga-va a d e f e sa de band eiras anti-Vargas . A p r i n c ípio, nao coube a UDN out r a al t e r nativa senão c o nd enar o pa c t o militar com os E s

ta-dos Unita-dos , argume n tando t ratar - s e de uma iniciativa do Exe c u tivo

q u e at r op e l a va as p r e r r og a tivas d o Legislativ o . Esta posiç ão , no

entanto, n ã o f oi un ânime no partid o , e p r o g r e s sivamen t e a UDN se t ra n s f o r mou numa f o r ça po l í t i ca d ecisiva para a aprovação do A c o r

d o n o C o ng resso . Uma cartada ftlndamental para esta v i rada f oi a

negociação d o par tido, j u n t o ao g o v e r n o, da indicação d e u m d e s

-tacado c o r r e ligi o n á rio, o brigadeiro Eduardo Gomes, para o car g o

d e p r e sid e n t e d a Comissão Mis t a Mi litar Brasi l - Estados Unidos ,

p r e vis t a p e l o Aco rdo .

No campo e c o n ôm

j

co o primeiro pass o c o n c r e t o visando a

forma li zação d e uma r e la ç ã o d e c oope ração ent r e os dois pa í s e s ,

s e deu d u ra n t e o primeiro semes t r e d e 1 9 5 1 , 5 . , .

com o 1 n 1C10 dos

t raba l h o s da C omissão Mis t a . O f u n cioname n t o da Comissão c umpria

(20)

1 5

ob j e t i vo s d i f e r e n t e s para ambos os g o v e r no s: do lado n o r t e -ame r i

cano , t ratava-se p r i n c i pa1m e n t e d e u m i n s t r u m e n t o pol í t i c o; pa

-ra o g o v e r n o vargas , s ua con s t i t u i ção v i sava ampl iar os i n s t r u

-mentos d i spon í v e i s para promover o d e s e n v o l v i m e n t o e c o nôm i c o d o

pa í s . Um dos r e spo n s á v e i s pela Com i ssão d e n t r o da adm i n i s t ração

Tr uman , d e i xou bas ta n t e c lara e s t a d i f e r e n ça ao a f i rmar: liA

ope-ração comp l e ta , n o que d i z ia r e s pe i t o aos Estados U n i dos , e ra

ba-s i cament e pol í t i ca e não e c onôm i ca: Nós c o n c o rdamos com e l a por

razões pol í t i cas e não econôm i cas . Nós quer íamos r e c up e rar

nos-sas r e lações e n f raquec i das com o Bras i l." 6

Após t e r t raba l hado , d e j u l ho d e 1 9 5 1 a j u l h o de 1 9 5 3 ,

na e laboração d e pro j e t os q u e e n v o l v iam os prog ramas p r i o r i t á r i os

para o d es e n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o d e l ongo prazo do Bras i l , a

Com i ssão coComeçou a s e d e parar coCom uComa s é r i e d e d i f i c u l d ades . A pas

-sag em d a t e o r i a à pr át i ca mos t rou-se e x t r emame n t e morosa , e m

função da bai xa d i spo n i b i l idade de r e c u r s o s f i na n c e i ros dos organ i s

-mos n o r t e -ame r i canos . E n t r e as razões que obstacula r i zavam e s t e

encami n hame n t o s e destacavam as d i v e r g ê n c ias i n t rabur o c rát i cas da

adm i n i s t ração Truman . o Departam e n t o de Estado o e f endia a par t i

-c i pação d o -cap i tal n o r t e-ame r i -cano e m proje t o s d e d e s e n vo l v i me n t o

e c o n ôm i c o na Amé r i ca L at i na , desde q u e e s t e t i v e s s e u m papel

com-pl ementar e nao s ubst i t u t i vo ao i n v e s t i m e n t o p r i vado , e que pude�

se s e r f i nanc iado at rav é s d e mecan i smos não- i n f la c i on á r i os . E s t a

.,pos i ç ã o , e n t retan t o , n ã o c o i n c i d ia com aquela d e fe n d ida p e l o s b u

-r o c -ratas de o-rgan i smos f i na n c e i -r o s - p -r e s e n t e s , f u ndamentalmen t e ,

no B I RD e no Ex i mbank - , c o n t r ár ia a qua l q u e r t i po d e compromet

i-6 . Fore ign Re lat i o n s of t h e Uni t e d Sta t e s ( FRUS ) , 1 9 5 1 v . 11

(21)

1 6

ment o d o g o v e r n o n o r t e -ame r i c an o com pro j etos d e d e s e n v o l v i me n t o

_ . • . . 7

econom1CO na Ame r 1 c a L a t 1 na .

A e x pe r i ê n c ia da C o m i s s ã o M i sta reprod u z ia , d e c e r ta

mn e i ra , uma c o mn t rad i ç ão j á v i v e mn c iada d u ramn t e os amnos 40 mnas r e I

a-ções Bras i l - E s t ados U ni d o s . De forma seme l h a n t e a M i ssão Cooke

de 1 9 4 2 , a Com i s são M is ta d i spunha de um progrnma que , em sua e s

sênc i a , s e most rav a i n compat í ve l c o m os r ea i s i n t e re s s e s dos E s

-t a d o s U n i dos na �eg i ã o la-t i n o-ame r i cana . Em 1 9 4 2 e s t es i n t e re s

-s e -s d e f i n i am - -se p o r a-s-s e gurar q u e o c on t i ne n t e cumpr i -s -s e a f u n ç ã o

d e f i e l s u pr i do r d e mat e r ia i s e s t rat é g i cos . ( H i r s t , 1 9 8 2 :8 1 - 9 0 ) .

Quase d e z anos depo i s , a q u e s t ã o era a i n da garant i r e s t e s u pr i -me n t o e as s e g u r a r um campo f é r t i l para o s i n v e s t i -me n t o s p r i vados

nort e-am e r i canos . N o s d o i s casos , o pro j e t o de um d e s e n vo l v i

mento e conôm i c o em bas e s mai s s ó l i das t o r nava s e abs o l u t a m e n t e s e

-c u n d á r i o e , às v e zes , a t é problemá t i -c o . E m t e rmos c omparat i vos ,

é i n t e r e ssan t e ressaltar que ambas a s e x pe r i ê n c ias s e d e r a m com

Vargas na p r e s i d ê n c i a , como um e s f o r ç o d e n e g o c iação das r e lações

d e d epe ndência econôm i c a d o Bras i l aos E s t ados U n i dos .

NO i n í c i o dos anos 50, o pr o j e t o d e d e s e n v o l v iment o e c o

-nôm i c o em ma rcha n o B ra s i l buscava a art i c u lação de três variáveis:

a i n t e r i o r i zação das r e l a ç õ e s de depend ê n c ia a t ravés da c

ooperação i n t e r na c i on a l ; a ext e n s ã o d a a u t onomia do E x ec u t i vo com r e

lação a o C o n g r e s s o n o qu, tan g e à q u es t ã o do d e s e n vo l v i m e n t o e c o

nômi c o ; e o apa r e c i m e n t o de novos i n t e r e s s e s e n o vas a l iança s e n

-t r e -t é c n i c o s e empres á r i o s . ( M a r t i n s , 1 9 7 6 : 3 67 ) A i n t eração

d e stas t r ês var i á v e i s t i n ha como u ma d e s ua s conseqüênc ias a i n s

(22)

1 7

t i t u c i onaljzação da cooperação i n t e r n a c i o n a l , v i s ando , e m ú l t i m a

i n s t ân c i a , a c r i ação de m e c a n i smos que f a c i l i t as sem a e n t rada d e

capi t a l pr i vado n o r t e-am e r i c a n o n o pa í s . o B r as i l , n e s s e p e r í o do , apa r e c i a como u m pa í s no q u a l a f i xação d e s t e capi t a l e r a r e

-l a t i vamen t e ba i x a , apesar d e u m mo v i m e n t o s i g n i f i c a t i v o d e i n

ves-t i me n ves-t os . o i n t e r es s e pol í t i co d o g o v e r n o b r a s i l e i r o n e s t e c o n

-t e x -t o e r a o d e a s s eg u r a r a e x -t e n s ão d o s be n e f í c i o s do Pon -t o I V

( q ue h a v i am s i do. m u i t o l ir.l i t ad o s par a a Amé r i c a Lat i n a ) , para um

proj e t o·global d e d e s e n v o l v i me n t o e c o n ôm i c o do pa í s . A ope r a c i o

-n a l i zação d e s t e pr o j e t o i mp l i c a v a a c r i ação d e uma e s t r u t u r a

ad-m i n i st r a t i v a que g e r e n c i as s e e c a n a l i zasse o s r e c ursos obt i d o s .

Para t an t o s e dev e r i a mo n t a r um b a n c o d e d e s e n v o l v i m e n t o que coo�

d e n a s s e a apl i c ação de r e c u rsos e x t e r n o s e i n t e r nos , COr.l o o b j e ti

v o d e implem e n t a r os pro j et os aprovados p e l a Com i s são Mis t a .

E m f e v e r e i r o d e 1 9 5 2 , V a rg a s subme t e u a o Congresso a apr�

vaçao do pro j e t o de c r i aç ã o do B a n c o N a c i o n a l de Desenvol viment o

Econôm i c o ( BNDE ) . A l é m d a capt ação d e r e c u r s o s e x t e r nos , pre v i a

-s e a c ap t ação i n t e r n a , d e t e r m i n a nd o - -s e a t r a n -s f e r ê n c i a d e uma pe�

c e n t ag em das r e c e i t a s d o s depós i t o s das c a i x a s econôm i c as , do s i s

tema d e prev i d ê n c i a s o c i a l e das r e s e r v a s t é c n i c a s das compa n h i a s

d e s eg u ros . A t r a v é s d e s t a med i d a amp l i a v a - s e a açao ec onôm i cê

e s t a t a l , e se criava uma i n s t â n c i a medi adora " . . . e n t r e o E s t ad o , o

s e t o r p r i vado n a c i o n a l e as e n t i dades i n t e r n a c i ona i s d e f i nanc i a -/

men t o . " ( M a r t i n s , 1 9 7 6 : 39 1 )

E n t r e as d i f i c u l d ades e n c o n t r adas p e l a s a u t o r i dades b r a

-s i l e i r a-s para v e r em a t e nd i d a -s -s u a -s re i v i nd i c açõe-s e c o n ôm i c a -s j u n .

t o aos E s t a d o s U n i dos , e s t ava a própr i a c o n j u n t ura pol í t i ca i n

(23)

1 8

c i a i s , a c o n c r e t i z a ç ã o dos pro j e t os e l aborados p e l a C om i s são , t o�

n ava-se b a s t a n t e i n c e r t a . De f a t o , com a i n a ug u r a ç ã o d a

administra-ção E i s e n hower, a a t i t u d e d o g ov e r n o n o r t e - a me r i c a n o com r e l a ç ã o

a e s s e s � r o j e t o s f o i a d e n e g a r q u a l qu e r comprom i sso quanto ao seu

f i n a n c i ame n t o . E s t e p o n t o f o i e s c l a r e c i d o pessoa l m e n t e a A l z i r a

V a r g a s d u r a n t e s u a permanên c i a e m Wash i ng t on , e r ea f i rmado poste­

r i orme n t e por M i l t o n E i s e n hower em s u a v i s i t a a o B r a s i l . 8 ( E i s e n

-howe r , 1 9 6 3 1 52 ) Coso r e s u l t ado; f o r a m d e s a t ivados os t r aba l ho s

da Comíssão e m meados d e 53 , havendo p o r pa r t e do g o v e r n o n o r t e

-amer i c a n o urna pos t u r a e x t r emame n t e e v a s i v a q u a n t o à e x e c u ç ã o d o s

pro j e t o s aprovados . P a r a o g ov e r n o b r a s i l e i r o , o e n c er ram e n t o d a

Com i ssão a o f i n a l f o i c o nven i e n t e , por ev i t a r u m desg a s t e a i nda

m a i o r de suas s o l i c i t ações junto ao BIRD e ao E x i mbank .

i n e g á v e l que a a s c e n s ã o dos republ icanos nos E s t ados

Un i do s s i g n i f i c ou um r e t r o c e s s o n a pol í t i c a de c oope r a ç ã o e c o n ô

-m i c a c o -m o Br a s i l . A pr i n c i p a l preoc upação das a u t o r idades f i nan

c e i ras n o r t e ame r i c a nas passou a s e r , desde l og o , que o p a í s d e s

-se pr i o r i dade à l i qu i d a ç ã o de s e u s a t r as ados comerc i a i s , em VEZ

de promover n ovos i nve s t i me n t os a t r av é s da apl i c a ção dos f i n a n c i a

mentos s o l i c i t ados . E s t a s u g e s t ã o f o i aberta me n t e me n c i on a d a na

D e c l a r ação d o Fundo Mon e t á r i o I n t e r n a c i onal e m de zembro d e 1 9 5 2 . 9

No B r as i l a r e f o rma m i n i s t e r i a l d e j un h o d e 1 9 5 3 t ra n s f�

r i u a p a s t a da F a z e n d a p a r a Osv a l d o A r a n h a , que procurou f o r t a l e ­

/

c er a pos i çRo bra s i l e i r a n a s n e g o c i a ções e c o n ôm i c a s j u n t o a o s E s

-8 . C a r t a d e A l z i r a V a rg a s a Ge t G l i o V a r g a s e m 2 7 .04 . 5 3 . �rqu i vo

Ge t G l i o V a r g a s , GV 0 2.0 2 / 1 . Cpdo c / FGV .

(24)

1 9

tados U n i dos . A l a r g a e x p e r i ê n c i a d e A r a n h a n o r e l a c i on amento c o m

o g o v e r n o norte-amer i c a n o t o r n a v a - se, nesta c o n j untu r a , u m capital

prec i o s o para e v itar um d e s g a ste a i nda m a i or d o pa í s . Por o utro

l ado , a entrada d e O s v a l d o coi n c i d i a com a s a í d a d e João Neves do

M i n i sté r i o das Re l a ç õ e s Exter i o r e s . Esta mudanç a t i n h a i mpl i c a

-ções d i retas sobre a d i n â m i c a d a s r e l a çõ e s B r a s il- Estados U n i dos ,

uma v e z que fortal e c i a a pauta e c o n ô m i c a e enfraquec i a a pO l ít i

-c a . E sta e st raté g i a, entret anto , não c umpr i u seus o b j et i v os, j á

q u e a agenda e c o n ôm i c a entre os do i s p a í s e s passou a s e r est r i n

-g i r a d i s c u s s ã o quanto a o preço teto d o c a f é e a o pa-game nto dos

atras a d os comer c i a i s .

No pla n o pol í t i c o - i d e o l óg i c o a s d i f e r e n ç a s entre o g o v eE

no V a r g a s e a adm i n i st r a ç ã o E i s e n h o\"er, também pa rec i am s e

apro-f u ndar .

À

i d é i a f i x a d e a uto r i d a d e s n o rt e - am e r i c a n as q u a n t o a p r�

s e n ç a d e comu n i stas n o m e i o g o v e r n amental bras i l e i r o , somav a - s e a

r etra ç ã o do espaço d e entendi mento e coope r a ç ã o entre ambos os

p a í s e s .

Ao mesmo tempo , o g o v e r n o n o rteame r i c a n o t o r n a v a s e c a

d a v e z menos s i mpát i c o às med i d a s econôm i ca s d e c u n h o n a c i on a l i s

-tas que v i n ha m s e n d o adotadas por V a r g a s, d e stacando- se , então, a

regul amentação d a r e m e s s a d e l u c ro s dos i nv e st i mentos e str ang e i

-ros e a c r i a ç ã o d e uma emp r e s a com part i c i pa ç ã o m a j or i t á r i a do

_ _ , 1 0

Estado p a r a a e x p l o r a ç a o e re f i n a ç a o d o petr o l e o . ./

Os desdobramentos c o n c retos dos entend i me ntos e c o n ô m i

-c o s B r as i l - Estados U n i dos a part i r d e 1 9 5 3, reve l a r am O ap r o f und�

mento d e uma r e l a ç ã o a s s i métr i c a, onde o espaço d e n e g o c i ação s e

mo str a v a c a d a vez m a i s l i m itado p a r a o Estado b r a s i l e iro . A

(25)

20

conversa0 do f i n an c i amento d o Ex i mb a n k num c réd ito para o pag ame�

to d e atrasados comerc i a i s , a d i f i cu l d a d e d e obtenção d e qua i s

-quer outros f i n a n c i amentos e a i n f l e x i b i l i d a d e d o g o v e r n o n o

rteame r i ca n o em a lt e r a r suas normas p a r a a f i x a ç ã o de preços d o c a

-fé , c o n f i r m a v am e sta tendê n c i a .

P a r a d o x a lmente , n o entanto , a s s i st i a-se a um d i nami smo

da pO l ít i c a e c o n ôm i c a b r a s i l e i ra que não se l i mitava aos r e

sulta-dos - bem ou malsucedisulta-dos - de suas n e g o c i a çõ e s com os Estasulta-dos

U n i dos . Este d i n am i smo , c om b a s e n a e xp a n s ã o d a a ç ã o do Estado

e no f o r n e c i me nto d a i n i c i at i v a privada naciona l , e videnciava uma v it a l i d a d e dos própr i o s f ato r e s econômicos i nternos . M e d i d a s

como a c r i a ç ão d o BNDE e d a Petrobrás r e p r e s e ntavam i n i c i at i v a s

que f av o r e c i am a amp l i a ç ã o d a s c o n d i ções b á s i c a s p a r a a monta g e m

de u m a estrutur a i n dustr i a l que , n aque l e momento c r í t i co , tanto

pod e r i a m a r c h a r em d i r e ç ão a um mode l o asso c i a d o , quanto p a r a um

pr o j eto d e i n s c r i ç ã o i nt e r n a c i on a l d e c a r át e r autonôm i c o .

3. Os p e r c alço s d e uma polít i c a d e dive r s i f i c ação

Ape s a r de s eu a l i n h amento aos Estados U n i dos , o B r as i l

procurou , a part i r d e s s a époc a , p r o j et a r s e e m espaços alte r nat i

-vos do c e n á r i o i nte r n a c i o n a l com m a i o r auto n o m i a . Este e s f o r ç o

/

s e d eu pr i n c i pa l mente através de uma prime i r a aprox i mação com o

mundo subde s e n v o l v i d o : com o ob j et i v o de e stabe l e c e r uma i d e nt i d�

d e comum baseada n o i nt e r e s s e em temas que n ã o est i v e s s e m d i

retmente r e l a c i onados à pol í t i c a m i l it a r est r até g i c a n o rte- amer i c

a-n a . A apr o x i mação a o mundo subd e s e n vo l v ido a l i av a - s e ao i ntento

(26)

2 1

Um exemplo n e ste s e nt i do s e deu e m 1 9 5 2 , dur a nte o s

de-bates nas N a ç õe' Un i d a s sobre a i n dependê n c i a d a Tun í s i a , c o n subs

tan c i ados n a v otação no C o n s e l h o de Segu r a n ç a d a s N a ç õ e s U n i

-d a s , -d o qua l o B ra s i l f a z i a parte como membro n a o permanente

p e l a i n c lusão na a g e n d a de um item sobre a i ndependên c i a d aque l e

• 1 1

pal s . Apesar das g e stõ e s d o g o v e r n o f r a n c ê s j unto a d e l e g a

-ç ã o b ra s i l e i r a c o nt r a esta i n c lusão , o B ra s i l manteve uma pos i -ç ão

s o l i d á r i a a o s pa í se s á r a be s .

Surg e m , n esta 'po c a . o s pr i m e i r o s s i n a i s d e uma a rt i

cu-l a ç ã o p o cu-l í t i c a entre o s p a í s e s subde s e n v o cu-l v i dos . o mov i mento d e

apro x i ma ç ã o d o s p a í s e s á r a b e s e a s i át i c o s à comun idade l at i n o - ame

r i c a n a t i n h a como o b j et i v o c o n s o l i dar s eus d i r e itos d e autodeter

m i n aç ã o . i nd ependentemente da d i mensão i de o l ó g i c a que s e i mpun h a

atr a v é s d o s e squemas i n f l e x í v e i s d a gue r r a f r i a .

A pos i ç ão d o B r a s i l s e o r i entava n o s entido d e a d otar

uma p o l í t i c a espe c í f i c a f rente à que stão do c o l o n i a l i smo . A l ém

de tentar s e aprox i m a r d a comu n i d a d e d e n o v a s e v e l h a s n a ç õ e s

do mun d o subd e s e n v o l v i d o . o B r a s i l persegu i a a abertur a de n o v os

hor i z ontes e c o n ôm i cos . A i ndepend ê n c i a d e n aç õ e s a s i át i ca s , á r a

b e s e da Á f ric a n e g r a pode r i a impl i c a r a l gumas v antage n s e c o n ôm i

-c a s r e l a -c i onadas a o -com'r -c i o i nt e r na -c i on a l . A d e s c o l o n i zação d e

reg i õe s produtoras d e m até r i a s - pr i ma s . que c o n c o r r i am c o m

produ-tos b r a s i l e i ros . pod e r i�propi c i ar oportu n i dades para a d i v e rs i f i c a ç ã o d a p auta d e e x portaç õ e s do B r as i l .

A bus c a d e uma proj e ç ã o i nt e r n a c i o n a l por m e i o d e uma

po l ít i c a m a i s at i v a junto a o mundo subde s e n vo l v i d o , impl i c a v a

(27)

2 2

t ambim a v a l o ri z a ç ã o d o e spaço m u l t i l at e r a l . A ONU t o r n o u - s e

a q u i o espaço p o r e x c e l ê n c i a d e s t a pol í t i c a . A e f e t i v ação d e s t a

propos t a , e n t r e t an t o , e s b a r r a v a q u a s e sempre n o s f o r t e s c o nd i c i o

-namentos i mpos t o s p e l a g ue r r a f r i a .

A lim d e c o n s t i t u i r um obs t á c u l o para o a p r o f u n dame n t o

das r e l ações d o B r as i l com a Ami r i c a Lat i n a , e com o mundo

subde-s e n v o l v i do , a presubde-sença n o r t e-ame r i c an a n o subde-s i subde-s t ema i n t e r n a c i o n a l

t ambim i n i b i a o � c e s s o i s dema i s n a ções c ap i t a l i st as av ançadas .

Es t a l e v i t ação e r a r e f or ç a d a p e l o própr i o proc esso de r e e s t r u t u r a

ç ã o por q u a l v i n ham passando a s e c o n o m i a s europi i a s . T a n t o em

t e rmos polít i co s q u a n t o e c o n ôm i c o s , a Eu ropa O c i d e n t a l b u s c a v a ,

em p r i m e i r o l ug a r , f o r t a l e c e r s uas re l ações d e n t r o do próp r i o

mundo c a p i t a l i s t a; e m s e g u n d o , e n c o n t r a r c o n d i ções

c on v i v ê n c i a com o mundo s o c i a l i s t a; e , f i n a lme n t e ,

, , m1nl.ma S

r e de f i n i r d e

o

r e l a c i onamen t o com s u a s e x - c o l ôn i a s . N e s t e c o n t e x t o , a Ami r i c a

Lat i n a ocupava um l ug a r i n e x pr e s s i vo n a l i s t a d e p r i o ridades d a

g r a n d e m a i o r i a dos p a í s e s e u rope u s , q u e , por s u a v e z , c onceb i am o

con t i n e nte ame r i c a n o c omo uma " � r e a d e i n f l u ê n c i a" d i r e t a dos

E s t a dos Un idos . P a r a paí s e s como o Bras i l , e s t a c o n s t e l a ç ã o d e

f a t o r e s represe n t a va u m obst á c u l o a mais n o s s e u s tím i dos e s f o r

-ços d e a t u a ç ã o menos cond i c i o n a d a a polít i c a e x t e r n a n o r t e - ame r i

c a n a .

N o âmb i t o l a t i np-ame r i c a n o , o quadro d e i n s t ab i l i dade

,po l í t i c a e a f o r t e p r e s e n ç a d o s E s t ados U n i dos n o c o n t i n e n t e

fo-ram f a t o r e s q u e , d i r e t a ou i n d i r et ame n t e , c o n d i c i onafo-ram as reI

a-çõe s d o B r a s i l c om seus v i z i nh o s . A e s t r atig i a n o r t e-ame r i c a n a

d e pr i v i l e g i a r r e l açõe s b i l at e r a i s , t i n h a u m d u p l o e f e i t o: r e d u

(28)

2 3

apr o x i ma ç ã o e n t r e o s p a í s e s d a reg i ão . A opçao d o g o v e r n o V a r ­

g a s d e m a n t e r uma pol í t i c a a l i nh a d a a Wash i n g t on , t r a n s f ormou­

s e , por t a n t o , na p r i n c i p a l v a r i áv e l a dema r c a r os l i mi t es e f r o n ­

t e i r a s d a p a r c a e f r a g me n t ad a pol í t i ca e x t e r n a bras i l e i r a p a r a a

Amé r i c a L at i n a .

Em t ermos mu l t i l a t e ra i s , a s r e l aç õ e s com a Amé r i c a L a t i ­

n a c o n c e n t r a v am- s e e m d o i s e spaços : Orga n i z a ç ão dos E s t ados Ame r i

canos ( OEA ) e a Comissão Econômica para a América Latina ( CEPAL ) . Na OEA

s e e n t r ecruzavam o s e n t e n d i me n t os dos E s t ados U n i do s com as d e

-ma i s r e l a ç õ e s d o B r as i l n o c o n t i ne n t e . A CEPAL c o n s t i t u í a o c a

-n a l r e s p i radouro , a t r a v é s d o q u a l e -n s a i avam-se a l g u-ns e s f o r ç o s d e

uma pol í t i c a coordenada e m d e f es a d e u m d e s e n v o l v imento

m i co a u t ônomo na Amé r i c a L a t i n a .

econo-O B r a s i l d e s empe n h o u um papel b a s t a n t e impo r t a n t e n a

c o n s t i t u i ç ã o e l e g i t imação d a CEPAL , f r e n t e à s pressões dos E s

-t ados U n idos p a r a s u a d i s s o l u ç ão . Após a s up e r a ç ã o d e s t e

emba-t e , e s emba-t e o rg a n i smo se emba-t o r n o u o p r i n c i p a l foro mu l emba-t i l a emba-t e r a l para o

debate d e um pro j e t o c o o r d e n a d o d e qes e n v o l v i m e n t o e c o n ôm i c o l a

-t i no- amer i c a n o . V a l e s u b l i n h a r , e n t r e t a n t o , q u e a CEPAL

repre-sentou mais um l abora t ó r i o d e i d é i as dO q u e um foro d e d e c i s ã o

d e pol í t i c a s , t e n d o s u a pr i n c i pp l c o n t r i bu i ção s e dado a t r a v é s

da i n f l uê n c i a que e x e r c e u s ob r e o p e n s a m e n t o e co n ô m i c o b r as i l e i ro

n e s s e per í od o . ( Ro d r i g u ep ' 1 9 80 ) P a s s a r a m p e l a " es c o l a d a C E PA L "

. uma g e r a ç ã o d e j ov e n s e c o n om i s t a s c omo C e l so F u r t ad o , q u e , n u m

mome n t o s eg u i nt e , i r i a m e s t a r p r e s e n t e s n a fo rmu l a ção d e p r o j e t o s

de d e s e n v o l v i m e n t o n a c i o n a l . ( Fu r t ado , 1 98 5 )

Com r e l a ç ã o à OEA , a pa r t i c i pa ç ã o d o

papel impor t a n t e p a r a a l eg i t i ma ç ã o do s i s t ema

B r as i l c umpr i a um

(29)

24

t endo em v i s t a qu e , p a r a o s E s t ados U n i d o s , a a l i a n ç a com o

Bra-s i l e r a um f a t o r quaBra-se i mpr e Bra-s c i n d í v e l n a buBra-sca de um apo i o m a i s

amp l o n o cont i ne n t e . P o r o u t r a par t e , a m a i o r i a d o s p a í s e s l a

-t i no-am e r i c a n o s v i a a p r e s e n ç a d o Br a s i l como uma poss i b i l i da d e

d e ma i o r r e s s on â n c i a à s demandas d a r e g i ã o .

Os anos d e 1 9 5 1 - 5 4 n a Amé r i c a L a t i na t i v e ram como f a t o s

pol í t i co s d e m a i o r r e l e v â n c i a , a r e v o l u ç ã o b o l i v i an a d e 1 9 5 2 e õ

i n t e r v e n ç ão bra�ca n o r t e-ame r i c ana n a G U õt ema l a em 1 9 5 4 . E m am­

bos o s e p i s ó d i o s o g o v e r n o b r a s i l e i r o se a l i n h o u com os E s t ados

U n i dos , d em o n s t r a n d o ser t o t a l m e n t e i n c a p a z d e d e s e nv o l v e r pos i ­

c i onamentos próprios q u e t ec e s s e m u m c a m i n h o i ndependente d e r e

-l a c i on am e n t o c o m a r e g i ã o . O B r as i l m a n i f e s t a v a , a s s i m , uma d i

-f e r e n ç a s i g n i -f i c at i v a e n t r e s e u s pos i c i on amentos n o c ampo

econô-m i c o e n o pol í t i c o : a o mesmo t e mpo q u e a t u a v a com energ i a , d e

n u n c i ando o c a r i t e r a s s i mé t r i c o d a s r e l a ç 5 e s e conômicas d o s E s t a

-d o s Un i-dos c o m a Amé r i c a L a t i n a , s u s t e n t a v a , com

t emas p o l í t i co s , uma p o s i ç ã o d e i nq u e s t i o n i v e l

r e spe i t o

a l i n h a m e n t o

a o s

a o

g ov e r n o nort e - a me r i c a n o . E s t a p o s t u r a s e d e u t a n t o n o c a s o d a

r e v o l u ç ã o bol i v i an a q u a n t o n a d er rubada dO , g o v e r n o Arbenz n a G u a ­

t e m a l a .

E n t remen t e s , n o p l a n o i n t er n o , predom i n a v a um t o t a l d e ­

s i n t e re s s e p e l a Amér i c a L a t i n a . O d es p r e z o d a c l as s e pol í t i c a

bras i l e i r a por s e u s v i z iphos e v i d e n c i a v a u m q u ad r o d e i s o l ament o ,

e mesmo i n c o n s c i ê n c i a , q u a n t o à i d en t i dade l a t i no-ame r i c a n a d a s

e l i t es do p a í s . A l ém d e s e r uma preocupação a u s en t e , a r e a l i d a d e

l a t i no-ame r i c a n a p a re c i a s e r u m a c a u s a i d e o l o g i c a m e n t e

comprome-t i d a . N a r e a l i dade i n c o r p o r a v a - s e a v i s ão d o própr i o g o v e r n o

(30)

2 5

como uma ameaça à e s t a b i l i d ad e d o s i s t e m a i n t e r am e r i c a no . De a c o r

do c o m e s t a percepção , h a v i a u m a e s t r e i t a a s s o c i ação e n t r e o r e

g i o n a l i smo , o n a c i o na l i s mo , e a t é mesmo o comu n i s mo , que c o l o c a

-v a e m r i s c o a -v o c a ç ã o o c i de n t a l d a " g r a n d e f am i l i a ame r i c a n a " . A s

e l i t es br a s i l e i r a s I p o r s u a v e z , e xp r e s s a v a m u m a c l ara p r e f e r ê n

-c i a p o r e s t r e i t a r s e u s l a ços -c o m o m u n d o o -c i d e n t a l d e s e n v o l v i do ,

o q u e impl i c � v a , n a t u r a l m e n t e , um t o t a l r e c h a ç o a q u a l q u e r t i po

de a p r o x i m a ç ã o c o m a r eg i ão l a t i n o - ame r i c a n a .

4 . O P a c t o A B C

A a s s u n ç ã o d e p e r ó n à p r e s i d ê n c i a n a Arg e n t i n a em j u n h o

de 1 9 4 6 , c o i n c i d i u c om o mom e n t o e m q u e V a rg a s e a fa s t ado do

po-d e r no B r a s i l . A d e po s i ç ão d e G e t ú l i o , e m out ubro do mesmo a n o ,

s e d e u e m c o n d i ç õ e s b a s t a n t e e x c e pc i o n a i s , por e s t e t e r s e m an t i

-d o a t é o f i n a l a r t i c u l a-do à s s u a s b a s e s -d e apo i o s oc i a i s . O s me-ses q u e t r a n s c o r r e r a m de a g o s t o a o u t u bro d e 1 94 5 e v i d e n c i a ram um

i n eg á v e l a p o i o popu l a r a e s s e g o v e r n an t e , m a n i f e s t ado a b e r t a me n t e

a t r a v é s d o mov i m e n t o gu e r em i s t a . Apesar d e "não con seg u i r r e v e r

-t e r o c a l e nd á r i o e l e i -t o r a l , q u e prev i a p a r a n ovembro a e s c o l h a

por s u f r á g i o d e u m n ovo p r e s i d e n t e , o d i t ador e m r e t i r ad a c o n s e

-g u i u , a o menos , q u e f o s s e t emporá r i a s u a d es p e d i d a do poder .

./

Ao mesmo t e mpo q u e i n a u 9 u r a v a m uma n o v a f orma de l i d e

r a n ç a pol i t i c a n o c o n t i n e n t e , t a n t o V a r g a s q u a n t o p er ó n e r am p e r

-c e b i dos -como u m a amea ç a a o s i n t er e s s e s n o r t e -ameri -c a n os na

Amé-r i c a L a t i n a . C u r i osame n t e a i n f l uê n c i a e x e r c i da p e l o s E s t ad o s

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho é uma reflexão sobre a descrição bibliográfica, mais especificamente sobre os registros de autoridade. Para tanto foi executado um estudo descritivo,

Assim considerando, pressupõe que um maior conhecimento sobre a DRC, as necessidades de bem-estar e o tratamento para esse agravo possibilite ao cliente, entendimento e

Em virtude do contexto apresentado, o objetivo do presente artigo é identificar, caracterizar e analisar as causas de problemas em uma indústria do setor naval e, em

(2013), em estudo realizado em cadelas submetidas à mastectomia com ou sem ovariohisterectomia, semelhante ao observado no presente estudo, citam que o tramadol,

O intervalo para a limpeza da lâmpada ou do Crista de Quartzo pode variar dependendo do sistema de pré-filtragem utilizado, ou seja, se não existir nenhum tipo de filtro

OBJETIVOS: Avaliar a eficácia da escleroterapia com espuma guiada por ultrassom (EGUS) no tratamento de pacientes portadores de insuficiência venosa crônica grave

Exemplos: ensinar aos alunos as contribuições dos diferentes grupos culturais na construção da identidade nacional; - mudar o currículo e a instrução básica, refletindo as

Terceira Idade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de atenção (educação, saúde, assistência social, etc), de emancipação e inclusão;