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A formação de enfermeiros no Brasil na década de 70.

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Academic year: 2017

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A FORMACAo DE ENFERMEIROS NO BASIL NA DeCADA DE 70

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TH E E D U CATI O N O F N U RS I N G WORKERS I N B RAZI L I N TH E 1 970'S

LA FORMAC I O N DE E N F E R M E ROS E N B RAS I L E N LOS ANOS 70

Lygia Paii

RESUMO: Este artigo objetiva revisitar os anos 7 5-79 e com eles a hist6ria da implanta;;ao de novos cursos de gradua;;ao em E nfermagem em Universidades Federais e em Distritos Geo-educacionais que ainda nao ofertavam esse tipo de curso. Apresenta-se a trajet6ria do desenvolvimento do Projeto de Enfermagem no Grupo Setorial de Saude - SESUIDAU/ME C . Ressaltam-se determinantes pol itico­ sociais no aumento quanti-qualitativo intencional desses Cursos. Clarifica-se a proposta , processo e rea l iza;;oes envolvidas no Projeto Superior de E nfermage m , antes predominante como ensino privado (ate 1 974) , para predominantemente ensino publico ( 1 976) . Ademais, aponta implica;;oes tais como: Comissao de Especialistas do Ensino de E nfermagem (CEEEnfermagem) articulada a ABEn e a primeira proposta coletiva de Areas e Linhas de Pesquisa em Enfermagem ( C N Pq/CAPESI DAU/A B E n , bem como a i n icia;;ao de espa;;os i ntitucionalizados nesses 6rgaos de forma;;ao e atra;;ao academica.

PALAVRAS-CHAVE: h ist6ria, educa;;ao em enfermagem, ABEn

A memoria "carregada por gru pos vivos" (Nora, 1 993) , vem ressignificar as experiEmcias vividas nos anos 1 975 - 1 979, no serrado em Brasilia -OF, quando, alguns enfermeiros tornaram­ se membros i ntegrantes de um dos G ru pos Assessores que na ocasiao se comp u n h a m no entao Departa mento d e Assu ntos U niversitarios do Ministerio d a Educa;ao e C u ltura ( DAUI M E C ) . Ao buscar a ressignifica;ao dessas experiencias vividas, a rea lidade de hoje faz tudo renascer; e como se fossem momentos magicos , criando u m elo entre 0 presente e o passado , tudo t a o ton ica como uma for;a i nvis ivel a puxar o s fios da mead a , desata-Ios , de modo a s e perceber q u e ha u ma historia viva a "expor (os gestos) , o s silencios e as d eficiencias d a docu menta;ao escrita ." ( Samue, 1 990)

Esfor;o-me por deixar fl u i r esses momentos mag icos com a lucidez possive l , para desembara;ar os fios, numa interpreta;ao de quem carrega consigo a historia de muitos, guardada nas fotos a n imadas em a l b u m q u e , ao ser folheado, espalha luzes em retrovisao do tem po e lugar, u m d i a habitado profissional mente, e agora , mais q u e a ntes , d esocultando momentos expressivos de significado socia l . Sao fotos de pessoas, algu mas cartas, sao escritos pessoais, ou mesmo a l g u m objeto guardado, mu ito alem de documentos oficiais ou publica;6es, estas tao raras a epoca , mas tambem existentes , puxando, de cad a imagem, novas memorias, as quais, por certo acompanham a vida daqueles que se envolveram e presenciaram esse cap itulo da histori a , deli neada no cenario d a Educa;ao d e E nfermagem, no Brasi l dos a nos 70.

o cenario desse Brasil dos a nos 70 teve entao n u ma ( m ica decada duas margens, u m a definida pelo AI-5 de 1 968 manchando a s u a primeira metade, quando estava em plena vigencia o rigor do regime pol itico militar e , outra , demarcada pela extin;ao da formalidade do AI-5, vinda do comando presidencial, entendida como "dar u ma tregua ao excessive rigor engendrado pela d itad ura m i l itar reinante" , 0 q u e foi exposto a sociedade civil como pro posta de "abertura lenta ,

1 Atigo escrlo por soicitayao da ABEn - Re vista Brasleira de Enfermagem - na Comemorayao dos 75 anos ABEn - 200 1.

2 Po' Itular (Aposentada) da EE Ana Ned - UFRJ ProP Colaboradora da P6s-Graduayao do Depto. De Enfermagem UFSC. Po' do Curso de Graduayao em Enfermagem da UNISUL -Campus Peda Branca - Fpolis - S.

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A forma;;ao de enfermeiros .. .

gradual e segura" (Aquino, 2000).

Foi em meio a essa tregua, que 0 DAU/M EC tomou a iniciativa de fazer a composiyao de u m Gru po Setorial de Saude (GSS). Tal grupo foi considerado como assessoria, diante das q uestoes sociais de formayao em saude e suas correspondentes implicayoes. 0 prop6sito assu mido pelos integrantes desse grupo convergia em criar possibilidades democratizantes na educayao, focalizadas na ampliayao de vagas, de cursos e, em simultaneas providencias, para fomentar mais qualidade no ensino superior, nas diversas areas profissionais da Saude.

o G.S.S. foi , entao, coordenado por educador que dava visibilidade e decodificava com 0 pr6prio gru po , as q uestoes sociais implicadas, predominantemente, com uma ou com outra dessas areas profissionais, nao vistas isoladamente, mas considerando-as no conjunto das profissoes de Saude, em discussoes e encaminhamentos nascidos na d iversidade, na 6tica das diferenyas e no exercfcio do respeito a autonomia de argumentagao e decisao dos varios segmentos ali representados, 0 que revertia em aprend izagem social continuada, ate pelo exercfcio cotidiano de relacionamento saudavel, interpessoal e interprofissional.

Eram alvissareiras a s relagoes que hoje podem ser revisitadas como i mpavidas nos anos 70, no cenario da Saude, porquanto desaguavam no encontro entre saude e movimentos sociais, o que, de modo a i nda tenue, vi nha se refazendo depois dos danos pol iticos desde 1 964 , em todo 0 pafs. Refazer esse encontro depend ia , i nclusive , de que os profissionais de Saude nutrissem sua forga pol ftico-social e respondessem critica mente as situagoes que Ihes era m pertinentes no contexte ainda em reconstrugao.

No mu ndo i nteiro , 0 sofrimento h u mane causado pela crise economico-social , se fazia manchete ; as popu lagoes anseava m por safdas e os projetos nascentes no Bras i l , na decada de 70, buscavam u ma outra 16gica , tanto para a ed ucagao em sa ude como para 0 exercfcio dos profissionais desse Setor de Servigos; insinuava-se u ma 16gica , que respondesse aos desafios que se colocaram posteriores ao rompimento dos direitos humanos, em seus princfpios universais de justiya , equidade, exig indo novos olhares aos sistemas de saude e de ed ucagao, quanto a acessos, qualidade, e agoes basicas, visl u mbra ndo a promoyao da saude.

Havia acenos de que ate para eliminar a d u ra verticalidade vivida, 0 caminho seria 0 do empenho na horizontalizayao das relagoes, seja entre profissionais e , entre estes e os usuarios do sistema de saude, como tam bem no ambito academico, sobretudo fazendo resistencia a exclusao, a desigualdade social. Ao mesmo tempo convivfamos confrontados com 0 aviltamento da medical izagao e da desmed ida i mportagao e uso de eq u i pamentos tecnol6gicos para 0 atendi mento a saude, a vez das m u ltinacionais em l ucros desmed idos.

Foi nesta 2" metade dos a nos 7 0 que ta mbem circu lava m os textos de estudo, interpretagao e movimentos em torno da Declaragao de Alma Ata e a composiyao do ideario de Saude para Todos. Por sua vez, ja eram visibilisadas as bases e, em particular, a igreja cat61ica liderava a retomada pol ftico-social a partir das q uestoes de sa ude.

Em 1 97 5 com a promulgagao d a Lei do S istema N acional de Saude ( Lei 6229) e criado o Conselho de Desenvolvimento Socia l que coordenava as agoes e situava-se alem dos Ministerios . Com a V Conferencia N acional de Saude foi definida a Pol itica Nacional de Saude e o PlASS passou a ser desenvolvido em alguns m u nicfpios. E m seguida, 0 tema que ocuparia centra l idade vinha derivado de Alma Ata e concentrava-se em Servigos Basicos de Saude, desembocando no Prev-Saude, 0 Programa Nacional de Servigos Basicos de Saude, e a grande mobilizagao proveniente da Medicina Preventiva e Social vem fortemente fazer emergir u m movimento de reconceitualizayao da saude-doenga e dos estudos, de outros determina ntes sociais, hist6ricos, economicos e pol iticos, ao adoecer, antes, unicamente, situado nos aspectos biol6gicos .

N esse mesmo ano, 1 979, estava m se formando as primeiras tu rmas de enfermeiros procedentes dos cursos de enfermagem, criados nas U niversidades Federais, onde tais cursos ainda nao existiam, nos anos 1 975 e 1 976. No fi m dessa decada de 70 tambem surgiram, com

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PAI M , L.

visibilidade, as primeiras pesquisas de enfermagem orientadas nessa dimensao do conhecimento de ciencias socia is e nos a nos 80 , no C N Pq - ha a partici payao de maior n u mero de projetos , apos u m E ncontro entre representantes deste 6rgao de Pesq u isa , 0 DAU/MEC/CAPES e a Comunidade Cientifica de Enfermagem, a quem foi apresentado 0 PBDCT - I I I Plano Basico de Desenvolvimento Cientifico e Tecnologico; esse Encontro foi realizado e m articu layao com a ABEn que sed iou 0 evento e apoiou as d i n amicas, atraves do CEPEn . Pela primeira vez, no Brasil, a Enfermagem, organizou coletivamente u m Docu mento U n ificado sobre suas Linhas e Areas de Pesquisa (CNPq , 1 982) .

Cena rio monta d o , s i ntese d e acontec i m e ntos , s eg u nd a meta d e d e 7 0 , S a u d e , enfermagem , todos .. . seg u ia mos , como a poesia "Sugestao" de Clarice Lispector " . . . ig u a l a

pedra detida/sustentando 0 seu demorado destino .. . ", ate que reacendesse 0 encorajamento e nao tardasse a hora e 0 rumo que norteava a l iberdade q u e estava dentro de cada u m , dos grupos, do pais.

Cabe agora deter 0 olhar no percurso e nele trazer a cena 0 andamento do processo de incremento ao ensino su perior de Enfermagem nesse Brasil-70. Por certo , i ntencionalmente, precisa ser buscada a historia deste capitulo da educayao de enfermagem , e m versoes e i nterpretayoes que vao alem dos espayos d a estrita oficialidade. Valera referir os sinais que esboyara m ameayadores limiares vividos . Por vezes , apresentaram-se como resistencia de frentes pol iticas conservadoras, endogenas, ensimesmadas da propria enfermage m ; outras vezes , limiares vivid os prazerosamente, como momentos de refrigerio, ao ver insinuadas vanguardas, inquiridoras, criticas, partici pativas , centrad as na construyao do conhecimento socia l de saude trabalhando e aprendendo em bases solidarias, desejosa de articulayao mais justa e ritmica na organizayao de vida associativa , gente que esboyava a possibilidade de uma luta com esperanya, gente que entendia a composiyao de uma Enfermagem com 0 reerguimento de nova historia , rompendo com 0 menos amargo, compartilhando, dialogando e convivendo, de modo espraiado, com outros profissionais.

o itinerario no roteiro da implantayao dos "novos cursos-70", u m ponto de partida. Esse espayo , aq u i , chamado ponto de partid a , tem como lugar 0 DAU/M EC, B S B , e a l i , a chegada de tres consu ltoras de enfermagem, "Tres Marias". Eram tres enfermeiras, docentes vindas de tres escolas de enfermagem escolhidas d entre as mais antigas i nstitu iyoes de Ensino da Comunidade de enfermagem ( u ma da U F Pe; outra da U S P ; e a i nda outra da U F RJ ) ; todas de regioes mu ito popu losas e com lidera nya no ensino de enfermagem; alem d isso , 0 convite do DAU/M EC se fez a tres profissionais que a epoca ja ti nham obtido suas respectivas titulayoes pos-graduadas (senti do estrito), no exterior e, as escolas, no Bras i l , das quais faziam parte , oferecia m cursos de pos-graduayao em enfermage m . Ademais, cada uma das "Tres Marias", carregava a historia de partici payoes em d iversas oportu nidades de lideranya e de exercer cargos da E nfermagem ( D i retorias de Escolas, Vida associativa , Projetos Especiais em E nfermagem , Publicayoes , Pioneirismo em criayao de Cursos , etc). Entao, era um convite do DAU/M EC, nao sem atentar para 0 perfil de expressao i ntelectual das profissionais convidadas a presta r consu ltori a .

o M EC i r i a constituir 0 G ru po Setorial de S a u d e e solicitou das U n iversidades , u m a representante enfermeira-docente , envolvida c o m a educayao su perior d e enfermagem, e de resto , com as q u estoes sociais i mbricadas no Setor Saude. E m bora , cad a area d esse Grupo Setorial de Saude (GSS) tivesse u m d iagnostico do ensino superior q u e Ihe correspond i a , naq uela consultoria prestada p e l a s "Tres Marias" a pauta de E nfermagem teve i n icio com a noticia i nsol ita de q u e as estatisticas do M EC registravam a Enfermagem como a area do Ensino Su perior que menos havia crescido nos u ltimos 20 anos ( 1 953- 1 973 ) .

E ra m varias consid erayoes desde as q u a ntitativas d e n u mero de enfermeiros e necessidades da populayao, evocada a epoca , a vigencia do Plano Decenal de Saude para as Americas, com suas propostas preditivas de proporyoes estimadas entre numero de enfermeiros

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A forma9ao de enfermeiros . . .

e habitantes. Essas discussoes esbarravam n o quadro ca6tico d e enfermeiros face a o pulu lante aumento de habitantes no Brasil. 0 referido plano estimava 4,5 enfermeiros por 1 0 mil habitantes. o Brasi l tinha como popula�ao estimada para 1 980 (5 a nos depois da d iscussao), 1 25 m i lhoes. As "Tres Marias" tiveram acesso a u m docu mento q u e u m G ru po de Trabalho, constitu ido de enfermeiras, em 1 964, apresentara ao entao Ministro da Educa�ao e Cultura . Nesse documento, estava escrito que " . . . a continuar 0 ritmo de cresci mento de formados em curso su perior de enfermagem , em 1 980, 0 tota l d e enfermeiros seria 1 7.650, 0 que significava u m "deficit" de 38 .600 enfermeiros, ou seja, dobrando 0 n u mero de enfermeiros, estimado para 1 980, a i nda assim , no Brasil nao se alcan�aria a rela�ao enfermeiro : habitante, proposta no Plano Decenal de Saude para as Americas.

Dois outros argu mentos e m favor de empregar recursos para i ntensificar 0 crescimento quantitativo e qualitativo dos Cursos Superiores de Enfermagem se concentravam, primeiramente, na inexistencia desses cu rsos de enfermagem em d iversos d istritos geo-ed ucacionais, sobremodo aqueles mapeados nos extremos do pais, como por exemplo no Acre, outro exemplo em Rio Grande (RS), ou ai nda na reg iao centra l , como Goias, Mato Grosso e, mesmo em Bras ilia (onde nos anos 70 era i ncipiente a ideia de cria�ao do C u rso na U n B ) .

Depois , na d istribu i�ao d o s cursos ja existentes , que era extrema mente concentrada e, o Sudeste , tinha 0 maior n u mero deles. N o entanto , 0 que mais chamou a aten�ao do GSS foi a menor participa�ao federal na area de enfermagem (apenas 30% dos Cursos de Enfermagem existentes, estavam subord inados a administra�ao federa l ) . Isto eq u ivale a d izer que 0 ensino Su perior de Enfermagem estava predominantemente situ ado em subord ina�ao administrativa da area privada, (39%, dos 36 Cursos existentes em 1 975). Essas institu i�6es que manti nham os Cursos de Enfermagem vincu lados ao carater particu lar, q uase todas, eram de propriedade de gru pos religiosos ( M ECIDAU , 1 978).

Diante d isso, restava saber a quem teria interessado manter 0 privado, 0 particular, como a marca hist6rica dos Cursos S u periores de Enfermage m , desde os anos 50 ate os a nos 70? Estaria a i mais uma das implica�6es do que estava sendo chamado de menor crescimento dos Cursos Su periores de Enfermagem?

Nessa mesma Consu ltoria sobre 0 Ensino S u perior de Enfermage m , as consultoras "Tres Marias" d iscutiram no GSS, a q uestao de estrutura fisica ( insta la�oes e eq u ipamentos) em sua maioria , estes era m recursos escassos e u ltrapassados, carecendo de renova�ao , substitui�ao, atualiza�ao. A centralidade do debate estava n o investimento maci�o para aumentar nu mero de vagas nas escolas em U niversidades Federais e que tivessem potencial e demanda, e, muito principal mente, investir na cria�ao de cursos de enfermagem nas U niversidades Federais que nao contavam com esse tipo de curso , ou se fosse 0 caso, absor�ao, pela U niversidade Federa l , de curso ja existente na regiao. A cobertura do Ensino Su perior de Enfermagem pel a rede federal precisava se dar, e ass i m i nverter 0 q uadro do Ensino S u perior de Enfermagem , passando de predominantemente privado a predominantemente pu blico, portanto , gratu ito .

o seg u ndo grande t6pico, de d iscussao das "Tres Marias" com 0 GSS, foi a ado�ao de uma pol itica de q u al idade voltada para a capacita�ao do pessoal envolvido no ensino su perior de enfermagem, 0 que significava investir em cursos de P6s-Gradua�ao ( Mestrados e Doutorados) em U niversidades Federais, alem de manter especializa�oes (p6s-gradua�ao sentido amplo) , como ofertas regula res de Cursos para enfermeiros e enfermeiros-docentes.

Reconhecendo q u e as ideias d ecorrentes dessa Consu ltoria , constitu idas agora em Docu mento intitu lado "Situa�ao de E nfermagem -1 975" dava l ugar a u m plano de trabalho do DAU/M EC, local izado no seu GSS.

Atraves de solicita�6es do M EC/DAU a U FRJ , duas enfermeiras-docentes do ensino S uperior da Escola de Enfermagem, foram colocadas a disposi�ao do MEC, a fim de que elas i ntegrassem 0 GSS. Para isto , os Avisos M i nisteriais foram os docu mentos oficiais q u e formal izaram 0 desloca mento dessas d uas enfermeiras, que passara m a resid ir em B ras

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PAlM, L.

DF, em 1 976 .

A questao do GSS no que diz respeito a E nfermagem , passava a ser, como implementar as a:oes dema ndadas do referido docu mento afetiva e respeitosamente si ntetizado na fam i liaridade adq u i rida no trabalho, como 0 Docu mento das "Tres Marias", lembrando uma constela:ao , pois na proposta feita pel as suas a utoras, estava no sub-texto , rascunhada a confian:a no crescimento de uma outra constela:ao de novos enfermeiros .

Quanto a especificidade de corrigir 0 quadro de nao crescimento do ensino su perior d a enfermagem brasileira desde 1 953, esta q uando i nterpretada , se mostra paradoxal , ja que em sua trajetoria historica desde 0 nascedouro , a enfermagem seguiu quase sempre em silenciosa e obed iente fidelidade as prescri:oes de oficialidade governamental. Contudo, nao ha registro de l utas coletivas, para obter os recursos a preven:ao desse deci inio, estatisticamente demonstrado, numa acu mula:ao historica de, no minimo, 20 a nos sem crescimento .

Por outr� lado, seria possivel entender esse quadro do ensino de enfermagem se outros cursos do ensino su perior, apresentassem situ a:ao semelhante. N este caso, ha q u e se rememorar 0 desprezo as pol iticas sociais, em particular, as de Educa:ao e de Saude, justa mente as que estao d i reta mente envolvidas na Area de E nfermagem. Quem sabe , esse alheiamento ao ensino e a assistencia a saud e , por si so, pudesse expl icar os 20 a nos de retra:ao do crescimento da forma:ao de enfermeiros.

Por m uitas vezes, no entanto, em 1 976, neste Projeto , foi possivel perceber, com estranheza , 0 receio das enfermeiras q u a ndo se aventava a h ipotese de a u mentar vagas ou aumentar numero de cursos de enfermagem no ensino superior. Por vezes, retra iam-se e outras vezes argumentavam , com certa irritabilidade, que 0 risco dessa expansao, era a desorganiza:ao, a d ificuldade de controle, a fuga do padrao ( referindo-se ao sistema d isci pl inar), entre outros temores.

De outr� angulo, as U niversidades Federais q u e a i nda nao contavam com a oferta d e C u rsos S u periores de E nfermagem , mostrava m-se a n imadoras, cheias de expectativa , apalavra ndo , desde os primeiros contatos , q u e fariam todo 0 esfor:o e empregariam toda a concentra:ao de recursos , para desenhar 0 projeto dessa oferta de cursos . Para essas U niversidades Federais, 0 DAU/M EC, reservava 0 maximo de aten:ao e criava facil idades para que 0 assessoramento tecnico nao faltasse dura nte todo 0 processo de implanta:ao dos Cursos e, as exigencias de qualidade fossem todas cu mpridas em tempo habil, ate chegar a obten:ao da autoriza:ao e reconhecimento desses Cursos, a epoca , fun:ao privativa do Conselho Federal de Educa:ao-CF E atualmente, denominado Conselho N acional de Educa:ao-CN E .

Portanto , a enfermagem dentro do G S S n o DAU/M EC, teria q u e a partir d o Documento "Situa:ao de Enfermagem- 1 975", ela borado pelas Consu ltoras "Tres Marias" tomado como Docu mento Basico de Enfermagem , fazer os d esdobramentos eticos , pol iticos, tecnicos e sociais, bem como definir 0 plano de a:ao, j a q u e os Cursos a serem implantados , estariam cobrindo todas as regioes do territorio nacional e adicionando 16 unidades a mais de Cursos de Gradua:ao em Enfermagem nas U niversidades Federais, cuja justificativa era de:

- alterar 0 q uadro que revelava a situa:ao de Ensino Superior de Enfermagem, no que d iz respeito a dominancia do ensino particu lar, e a i ntencionalidade de conseguir a dominancia do ensino publico, portanto, gratuito, ja que havia U niversidades Federais que ainda nao ofertavam Cursos de Grad ua:ao em Enfermagem .

- investir recursos para apoiar 0 aumento d o numero d e oferta d e vagas no ensino Superior de Enfermagem , e, tao somente , em U n iversid ades Federais com Cursos de Enfermagem ja existentes alem de, determinar u m n u mero maximo de vagas iniciais, nos Cursos Novos e m U niversidades Federais que iriam implanta-Ios.

- desestimular iniciativas de i nstitui:oes que nao fossem de subordina:ao ad ministrativa publica - estimu lando as federai s , estad uais e m u n icipais; guardados os criterios de qual idade previstos.

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A forma:ao de enfermeiros .. .

- atentar para a s impl ica;oes qual itativas q u e i nfl uenciavam a s estatisticas de nao crescimento da Enfermagem no Ensino Su perior.

- fam i l ia rizar 0 C F E com essa in iciativa do Grupo Setorial de Saude no DAU/M EC, enca m i n hando relatorios de acompanha mento de process os de cria;ao desses C u rsos em U niversidades Federa is - bem como, documentos prod uzidos sobre req uisitos ou exigencias previas , ou ainda, criterios de qualidade para implanta;ao de Cursos de Enfermagem. Com isto, refor;ava-se 0 apoio e incentivo as U n iversidades Publicas e, de alg u m modo, 0 controle de qualidade estaria disponivel como um limitante a abertura desordenada de outros novos cursos

simu lta neamente, e fora do proposito do Projeto , no MEC. '

Tais in iciativas, fora m defin itorias de u m processo que se queri a , i ntemerato. No DAUI MEC, 0 Grupo Setorial de Saude, conseg u i u manter esse propos ito e comprometeu-se com 1 6 Cursos Novos, em U niversidades Federais, alguns deles, iniciados com extremas d ificu ldades , para consegu i r fixar u m Corpo Docente dentro das qualifica;oes previstas no DAU/M EC, mas final mente, foi possivel compor os Grupos Docentes, util izando diligencias tanto d a propria U n iversidade como de parte de muitas consu ltoras que estimu lavam alunos de pos-gradua;ao a enfrentarem os desafios de participar da Docencia nesses Cursos , em distancia mento de grandes centr�s, como era , por exemplo, a situa;ao do Acre- Fu nda;ao U niversidade Federal do Acre.

o GSS conseg u i u influenciar 0 MEC que veio a tomar u ma posi;ao com a q u a l 0 C F E tornou-se d e acordo e enta o , foi colocado u m l i m ite i m porta nte , no d esconserto q u e , incipientemente , se i nsta lava , p o r pressoes esperadas em processos desse t i p o , sujeitos a interpreta;oes de conveniencia a possibilidade de lucros economicos .

Apos algumas defi ni;oes , 0 processo em si, req ueria decisivas a rticula;oes e estas fora m , intrepidamente , buscadas pelo GSS e tiveram que ser, 0 mais exaustivamente possivel, argumentadas, porem resultaram em significativos caminhos para reverter 0 quadro de crescimento do Ensino Su perior de E nfermagem, diag nosticado quantitativa mente, passando a vislu mbrar um outro q uadro, q u e se i niciava com preceitos vigentes apropriados a um crescimento qualificativo, indo alem da proposta de quantifica;ao e melhor distribui;ao dos cursos superiores de enfermagem , no pais.

Tendo em conta que ate 1 975, 0 Corpo Docente do conjunto de todos os Cursos Superiores de E nfermagem contava com , apenas , 9 , 5% de titulados , sendo Mestres (5,5%) e Doutores (4%), embora houvesse 3% com 0 titulo de Livre-Docente, num total de 1 2,5%, estes percentuais, do ponto de vista da qualifica;ao por pos-gradua;ao estrito senso, Mestrado e Doutorado, eram minimos e , por certo, i nfl uenciaram as estatisticas relativas ao cresci mento , no d iagnostico dos Cursos S u periores de Enfermagem , a que se refere este texto.

Os demais docentes, com outras qualifica;oes alem da Gradua;ao, portavam certificados de Cursos denomi nados " Iato-sensu"; a ma ioria restrito a carga horaria minima de 360 horas , seja como Aperfei;oamento , ou Especial iza:ao; estes, categorizados como pos-gradua:ao sem tese, compunham 3 1 , 5 % .

Desse modo, vale ressaltar que 5 6 % dos docentes envolvidos c o m 0 ensino su perior d e enfermagem , segu ndo 0 levantamento em 1 974- 1 975, eram apenas grad uados , embora entre os docentes-enfermeiros mesmo assim, mais de 30% eram classificados na carreira de magisterio como titulares ( 1 8%), adju ntos ( 1 3,4%), e assistentes (23,4% ) ; assi m , mais da metade, 54 ,8% tinham acesso a carreira , mesmo sem a qualifica;ao pos-graduada no sentido estrito. 0 acesso se dava por tempo de Servi:o e ta mbem isto poderia estar influenciando 0 nao cresci mento qualitativo desses cursos de enfermagem.

Para obter essas informa;oes 0 GSS - DAU/M EC, ja foi sendo ampliado, com a presen;a de mais uma enfermeira com Mestrado em Medicina Preventiva cursado no exterior, foi entao dado i n icio a um projeto de pesq u isa e publicado em "Levanta mento da S itua;ao do Ensino Su perior de E nfermagem no B rasil, 1 975- 1 976"; este levanta mento tambem contou com a

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PAI M , L

participayao d e outras consu ltoras de enfermagem, a lem daquelas autoras do Docu mento­ Base, houve apoio de mais representantes de outras U niversidades Federais ( U FRGS, COPPEI U F RJ , U F Pe), a USP, e acrescidas da presenya da entao Presidente do COFEn e da Presidente da ABE n .

A preocu payao com as q uestoes q u a l itativas relativas ao diag n6stico d e " menor crescimento do ensino de enfermagem" foi centra l para que desde 0 in icio da execuyao do plano, a Enfermage m , no GSS, abrisse frentes de trabalho.

N esse sentido, as i nterfaces mais marca ntes neste processo, fora m :

- a busca d e ampliar a participayao d a Comu n idade de Enfermagem n o Projeto, 0 q u e se fez com consu ltorias e assessorias de mais profissionais envolvidos com a ed ucayao de enfermagem, 0 que nao se restringiu as representantes docentes de universidades, mas tambem e , impresci ndivelmente, se fez com representantes de entidades organ izativas pertinentes a categoria de enfermeiros , no caso, a participayao d a ABEn e do COF E n .

Para tanto, foi sendo ampliado u m cadastro a berto a consu ltores de enfermagem cujo perfil ia alem do envolvi mento com a ed ucayao e a assistencia , visto q u e i ntegrava m esse cadastro tambem como representa ntes de suas respectivas i nstitu iyoes e exerciam lidera nya nos cargos q u e ocu pavam na categoria de enfermeiros . De modo gera l , todas as consu ltoras ti nham titu layao e q u a l ificayao correspondentes , m i n i mamente , ao gra u de Mestras, obtidos em C u rsos de P6s-Grad uayao, no Pais e/ou no exterior.

As atividades q u e rea l izava m na Consu ltori a , i a m desde verificayoes " i nloco" -U n ivers i d a d es Federais d istri b u id a s e m todo 0 p a i s , o n d e assessorava m os projetos individualizaqos dos Cursos, tendo como referencia de pauta , os requisitos minimos de qualidade de Cursos, a ntes estudados e predefin idos como cond iyao a a bertura de q ualquer um dos cursos e m processo no GSS-DAU/M EC, naquela ocasiao do Projeto de Enfermage m . M u itas vezes , se encarregavam de analise de dados do "Levanta mento" que estava em andamento , outras , de participar na elaborayao de estudos e documentos . 0 prestimoso e competente serviyo prestado atraves de consu ltorias e assessorias, foi u ma forya coletiva , da maior i mportancia, em solidariedade, para 0 acompanhamento durante 0 anda mento deste projeto de implantayao dos novos cursos de enfermagem em U n iversidades Federais - na d ecada d e 70 .

E m meio a esse trabalho de consu ltorias fomos descobrindo q u e a despeito de ser recente 0 curricu lo vigente para 0 Ensino de Enfermagem, seria i mportante um novo estudo de pro posta curricular de graduayao em Enfermagem. 0 Par. 1 63/72 incl u ia habilitayoes especfficas e na pratica , muitas ambigiidades, provenientes da retirada da S. Publica , do corpo de d isciplinas obrigat6rias, alem de outras d ificuldades, que ja vinham sendo sentidas pelas Escolas, sobremodo as i m p licayoes para os cu rrfcu los desses novos cursos .

Foram convidadas as enfermeiras das mais experie ntes e peritas em Especializayoes , para opinar d iscutindo essa tematica . Desta feita , foram as enfermeiras da U FBa as convidadas

para esse trabalho. 0 ponto de vista era de que a ESPEC IALlZA;AO na modalidade de

RES I DENCIA DE E N F ERMAG E M , na experiencia das consultoras, definia uma p6s-grad uayao no "sentido amplo", aquela epoca , oportu na, principal mente , para os recem-graduados em

E nfermagem . Esta posi:ao era d iferente da habilita:ao especifica como complementar a

graduayao.

U ma discussao dessa envergadura , ratificava a necessidade de rever 0 Curricu lo relativo ao Parecer 1 63/7 2 , principalmente em suas h a b i l itayoes espec ificas , entendidas como diversificayoes da formayao, e outras implicayoes trazidas para as praticas.

Estas considerayoes impulsionavam caminhada para criar mais uma i mportante interface das discussoes internalizadas do Projeto Cursos Novos no GSS-DAU/M EC com a Comunidade de E nfermagem, pri ncipalmente os debates i ntelectu ais da categoria profission a l , como esse das teorizayoes cu rricu lares , em suas varias articulayoes tematicas. Mais que gru po de teorizayoes , essa interface com os encaminha mentos decis6rios do Projeto de Enfermagem,

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A forma�ao de enfermeiros . . .

poderia estar pol itica mente mais revigorado, ta nto dentro d o M E C , com representayoes ampliadas, como diante da Comunidade de Enfermage m ; foi entao encaminhada a solicitayao da Enfermagem ao GSS e do seu Coordenador ao Diretor do DAU/M EC, sobre a composiyao de uma Comissao de Especial istas do Ensino de E nfermagem (CEEEnfermagem) em 1 978 e, esta sol icitayao, foi defendida j unto ao M i nistro que a tornou efetiva mente composta . Ta l CEEEnfermagem compunha-se de representantes de U niversidades Federais e da USP, buscando a diversidade de regioes do pais e, a representayao daABEn. Embora as pesquisas documentais feitas a fim de elaborar 0 Aviso M i n isterial que anu nciava esta C E E E nfermagem, fizessem saber que em 1 964 , um Grupo de Trabalho vindo ao MEC para prestar consu ltoria chegasse a i n iciar calculos de "deficits" de recursos h u manos de Enfermagem i nterrompeu seus trabalhos, m a s , ta m b e m fo i cate g o r i z a d o c o m o C E E E nfe r m a g e m . L o g o , essa re-c r i a y a o d a C E E E nfermagem, nos anos 7 0 com representantes da Enfermagem ( U FRGS, U F Ba , U F RJ , U S P e d a ABEn) passou a elabora r seu d iferenciado projeto d e atividades e foi prestig iado e prestigiou os estudos de educayao da enfermagem , no DAU/M E C , e com a articulayao da ABEn.

U ma de suas primeiras atividades (correlatas as demais Comissoes de Especialistas no GSS/DAU/M EC), convergiu para 0 estudo de uma nova pro posta curricular, e entao, esta atividade tornou-se prioritaria na CEEEnfermage m , a qual foi presidida pela entao Presidente da AB En, ind icada a assumir a presidEmcia por seus pares , nesta Comissao de Especialistas.

Os estudos curriculares da CEEEnfermagem tinham base em varias informayoes coletadas de outras Comissoes de Currlcu lo, existentes nas organizayoes internas das varias Escolas de Enfermagem, cujas Universidades estavam ali representadas, bem como por algumas indicay6es da Comissao de Educayao da ABEn e mais, pelos avanyados resu ltados do Projeto Novas Metodologias que se desenvolvia no Currlcu lo de E nfermagem da Escola Ana N eri - U F RJ , u nico desenvolvido n o entao chamado Cicio Profissional, dentre a s demais U niversidades que integravam esse Projeto Curricular coordenado pelo DAU/MEC, do ponto de vista administrativo­ financeiro.

Va le lembrar 0 estusiasmo e a abnegayao dessa C E E E nfermage m , bem como a efervescencia de seus debates, 0 compromisso com a democratizayao, qualificayao, e adequayao curricu lar, ao lado da prod uyao cientffica q u e com esse estudo, estava sendo constru lda . A diversidade de contribuiyoes intelectuais a nova composiyao curricu lar redundou numa pro posta defi n ida pela transversa lidade da educayao. Ass i m , em q ualquer das terminalidades parciais por semestre, 0 aluno se percebia e era percebido como u m educador de saude, com centralidade em alguma, das variayoes especfficas do conjunto de d isciplinas atributivas do domlnio do seu saber-fazer, com criticidade e pertinencia as possibilidades qualitativas de transformayao, pela democratizayao, em saude.

Para exemplificar, um dos semestres cu rricu lares era , predominantemente, marcado pela experiencia de aprender pesquisa . Ass i m , 0 aluno teria d isponi b i l izado esse instru mento para a constru�ao do conhecimento e talvez, essa inovayao significasse, a epoca , um dos grandes saltos qualitativos dessa nova pro posta curricu lar apresentada.

M a rcamos , fi n a l mente , um S e m i n ario, ocasiao e m que 0 M E C/DAU atraves da C E E E nfermagem, apresentaria e abriria discussao do alud ido estudo de pro posta curricu lar, passo i mportante antes de envia-Ia ao C F E . Ali , u m grupo de docentes enfermeiros ofereceu uma resistencia radical a esse estudo de muda nya curricular, inclusive sa indo em defesa do Par. 1 63/72, como um currlculo ainda novo (em vigor ha apenas 5 anos) e outras alegayoes ta is como a de que a proposta era fora da real idade pois as docentes enfermeiras nao estava m preparadas para ensinar pesq uisa. Este foi u m recuo necessario do GSS e mesmo da C E E Enfermagem para dar lugar aos avanyos que nao tardaram a chegar, nos anos 80.

Na verdade, a ela borayao curricu lar previa que, a cad a semestre, 0 estudante de E nfermagem adq u i risse u ma determinada competencia crltico-criativa e qualificada ; ora em

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PAlM, L.

assistencia d i reta a clientes, outras vezes em assistencia a pessoas saudaveis, outra em pesq uisa de enfermagem , outra em orienta:ao e consu ltoria a gru pos , etc. Respeitando esse momenta de nao compreensao do q u e se apresentava e certos de que, mais tarde, a crftica ao Par. 1 63/72 haveria de chegar ganhando legitima:ao, restou a retirada do Projeto Curricular, em respeito a manifesta:ao da propria E nfermage m .

o Grupo Setorial de Saude, prossegu i u com aq u i lo q u e foi m a i s marcante no trabalho de E nfermagem ou seja, a cria:ao de novos cursos . As q u ase quarenta Escolas j u ntas , no Bras i l , formavam 6 0 0 enfermeiros p o r ano, uma turma de 1 5 enfermeiros p o r Escola , em media. Esse numero de enfermeiros por ano, poderia ser, m i n imamente, dobrado.

A partir do momenta em q u e fora m constituidas as primeiras cel u las de receptividade das Universidades Federais a organiza:ao desses Cursos, a presen:a de enfermeiras constituia­ se 0 req u isito fu nda mental ao prossegu imento das negocia:6es . N e m sempre , se dispunha desse tipo de profissional e esse foi u m dos maiores desafios. As U niversidades Federais receptivas ao novo curso, buscavam localizar enfermeiras a serem contratadas em tempo integral. E m bora a maioria das Escolas e Cursos de Grad ua:ao em E nfermagem ja existentes , tivesse o seu Corpo Docente constitu ido de enfermeiras, tao somente graduadas 0 minima de qualidade para a pro posta desses novos cursos era a exigencia de uma Especial iza:ao e a cond i:ao de q u e os nomes dessas enfermeiras especialistas , como novos docentes , fossem inclu idos no Plano I nstitucional de Capacita:ao Docente, visando sua forma:ao em Mestras e mais futuramente , em Doutoras. Nada se fez com facil idade, pois as ofertas de cu rsos de pos­ gradua:ao em Enfermagem eram escassas e nao era comu m que cursos de outras areas pos­ graduadas, aceitassem como alunas, as enfermeiras. Entretanto, a implanta:ao de novos cursos nao pod ia abrir mao deste req uisito de q u a l idade docente . Como nao havia nem docentes dispon iveis nem mesmo ta nta facilidade de encontrar enfermeiras com a pos-gradua:ao , 0 assu nto merecia u ma d iscussao a partir de q u estionamento q u e fosse alem de resolu:ao exclusiva daquele momenta e situa:ao. N a pauta dos i nteresses da E nfermagem , no ambito do Grupo Setorial de Saude, ficou decidido, apos debates sobre a questao, que havia necessidade de abertura do espa:o de Pos-Gradua:ao de Enfermagem na CAPES, nao so nesse episod io, diante dos novos Cursos nas U niversidades Federais, mas u m espa:o consolidado e , nao somente de consu ltorias eventuais, mas u m espa:o de planejamento de pos-gradua:ao. Especia l iza:6es , M estrados e Doutorados - a m p l i a ndo assim a oportu nidade de maior capacita:ao e titu la:ao aos Corpos Docentes de Cursos de E nfermagem nas I nstitu i:6es de Ensino Su perior - alem de oportu n izar enfermeiros assistenciais a esse tipo de prepara:ao.

Foi elaborado um documento e enviado a CAPES expondo a situa:ao d iagnosticada e 0

Projeto do DAU/M EC quanto aos Cursos de Enfermagem em U n iversidades Federais . A partir da defesa da sol icita:ao contida nesse docu mento , foi possivel encami nhar 3 (tres) med idas , apoiadas pelo DAU/MEC - CAPES. A primeira, emergencial , liberava recursos para planejamento e execu:ao de Curso de Especial iza:ao em M etodologias do Ensino e da Pesq u isa na Assistencia de Enfermagem. Tal curso, foi desenvolvido em carater emergenci a l , teve como a l u nas, as enfermeiras que estava m entrando para compor os Corpos Docentes dos Cursos

Novos . Esses cursos, d esenvolvera m-se por tres vezes , em acord o com a U F RJ e a CAP E S ,

exclusiva mente c o m essa finalidade, e dele participaram enfermeiras que seriam as novas docentes , em cursos novos d istribu idos em todo 0 pais. Ass i m , realizou-se esse C u rso, com 0

apoio e na Sede da ABEn - no Distrito Federal . 0 Corpo Docente , constitu ido de Doutores foi o mesmo Corpo Docente do Mestrado de E nfermagem d a U FRJ ; porta nto , professores ja credenciados, pela CAPES, para 0 ensino pos-graduado. A abordagem esteve centrada e m Metodolog ia da Pesq u isa , Metodologia do E n s i n o e M etodologia Assistencial .

A seg u nda med ida conju nta DAU/MEC-CAPE S , abria 0 espa:o de participa:ao d a Enfermagem, constituindo representante de area , no ambito das Comiss6es d e Consu ltoria d a CAPES, 0 q u e foi mais u m contexto apropriado de d iscussao de pos-grad ua:ao, de bolsas d e

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A forma�ao de enfermeiros . .

pesq uisa, de bolsas de estudos n o Pais e n o Exterior, alem de participag6es em ava l iag6es , relatorios, planejamentos da pos-graduagao, acompanhamentos de crescimento, apoio a eventos, e tudo mais q u e fosse pertinente a i mpri mir maior q u a l idade em ava ngos pos-graduados de Enfermagem. I sto implicava em atengao e acompanhamento dos P I CDs que se propunham a incluir as novas docentes dos quadros desses novos Cursos, em U niversidades Federais. L�J das ocupag6es primeiras das pioneiras como representantes da area de Enfermagem da CAPES, foi fazer publicagao sobre Pos-Grad uagao em Enfermagem , d ivulgada em 1 978 .

A terceira medida foi tomada com a decisao da categoria , (apos mu itos debates , receios de algu mas liderangas profissionais e resistencias internas) a de ampliar a oferta de Cursos de Mestrados e Doutorados, a epoca , mu ito restrita , concentrada ta mbem na regiao Sudeste , e , u m outr� Curso, organizando-se em consorcio entre U niversidades na regiao S u i , entre 1 974 e 1 975 ( Scardue/iet al , 1 997).

Embora a CAPES fosse u m orgao vincu lado ao DAU/M EC, a enfermagem antes desses anos 70, a i nda nao tinha feito um acesso d i reto a esse orgao, ao lade de seus pares. A med ida em que a CAPES tinha algo especifico a tratar sobre a Enfermagem, u m convite ou uma consulta esporM ica era feita , nao caracterizando u ma consu ltoria continuada e mais d istante ainda, u ma representagao como membro da Comissao de Consu ltores em Saude.

Essas considerag6es ressa lta m uma parte da intencionalidade de, aliar a propostas de criagao de Cursos a busca de expressiva q u a l idade, nao se atendo, de modo circu nscrito, aos Cursos Novos , e s i m , a u ma nova fisionomia da profissao, no que d iz respeito a sua forma:ao academica , d ia nte de um q u adro cumu lativo real e desva ntajoso , do ensino de graduagao em enfermagem em todo 0 Pais, d ivulgado nas estatisticas oficiais.

o itinerario mostra q u e esta luta nao foi a l uta de poucos e mu ito menos, u ma l uta sol itaria, daqueles que se incorporam ao trabalho cotidiano no DAU/M EC, mas um cap itulo da historia q u e se inspirou nas ideias das Consu ltoras "Tres Marias", para fazer surgir u ma nova constelagao de enfermeiras. Se assim foi , nao se fez no atropelo, mas n u m trabalho em que a presenga da ABEn deu sign ificado e houve 0 envolvimento de mais d e 300 educadoras de enfermagem de todo 0 Pais, forta lecendo 0 andamento das ag6es. E justo referir tam bem que o animo movido neste Projeto de Cursos Novos , trazia consigo a revital izagao da esperanga de que haveria um tempo depois dele, em que a participagao da enfermagem ja nao seria a mesma , cresceria e conti nuaria respeitada em suas novas colocag6es , com autonomia em suas manifestag6es pol iticas e suas explicitag6es enquanto pratica social . Esse a n i mo nao foi em vao. Nao se tratava somente de uma mudanga isolada da formagao academica nesta profissao, mas de uma resposta que se situava no cenario dos anseios de participagao que toda a populagao brasi leira estava decid idamente buscando retomar, apos longos period os de amordagamento da l i berdade de todos os segmentos socia is. Com 0 maior nu mero de enfermeiros recem graduados desses novos cu rsos mu itos dos seus docentes fil iaram-se como socios da ABEn, a partir do final dos anos 7 0 , justamente q uando estavam sendo plantadas "as mudas" , q u e seriam o s ca nteiros moventes d e uma Participagao como nova expressao pol itica tambem na AB E n . Em 1 979, 0 ensaio geral da ABEn se fez, no Congresso Brasileiro de Enfermagem em Forta leza - Ceara . Orq uestrava-se em tenue batuta , 0 ritmo a i nda esponta neo , mas cad ente , daquilo que viria a ser 0 Movimento Participagao, numa ABEn que reunida nas areias do Ceara ja entoava as cang6es dos cam i nhos d a li bertagao. Por certo , a ABEn passou a contar com aproximadamente, mais 500 enfermeiros por ano, formados pelos "Cursos Novos", e, com certeza, instalou-se uma nova constela:ao de enfermeiros , derramados na extensao do Pais, do Acre ao Rio Grande do S u i , exprimindo-se profissionalmente tambem, no Centro, representado pelos Estados de Mato Grosso e Goias, sem fa ltar com a cobertura da interiorizagao, onde q uer que houvesse u ma Universidade Federal, sede desses Cursos Novos .

E o que restou deste Projeto? Qual a teced ura vis ivel nesta trajetoria?

A partir deste Projeto d e Enfermagem j u nto ao GSSIDAU/M EC, a area d e forma:ao de

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PAl M , L .

enfermeiros pode ser entendida em duas eta pas, ANTES E DEPOIS DE 1 975 - "Marco Tres Marias" .

- Seg u ramente , a presenga dos Cursos N ovos , povoados hoje por Mestras e Doutoras ; na F U FAC , U FC , U F P a , U F E S , U FSCar, U F Pe l , F U RG , U F S M , U n B , U F MT, U FGo, U F Pr, Escola de Alfenas; e mais outras que fora m assessoradas pelo Gru po Setorial de Saude, como U F P i , e, ate mesmo a U F RJ , esta e m trocas de experiencia e ava liagao com 0 Projeto N ovas Metodologias nas d isciplinas Profissionais do Curriculo de Enfermagem.

- A contin uidade de presenga da C E E E nfermage m , renovados os seus membros com a articu lagao da A B E n .

- A in iciagao do espago da a rea de Enfermagem na CAPES (docu mento sobre Pos­ Grad uagao na Area de Enfermagem - publicagao de 1 977).

- Documento sobre criterios M i n i mos de Qualidade para a utorizagao, fu ncionamento e reconhecimento de cursos de gradu agao na area de E nfermagem (elaborado a partir de u m encontro d e Coordenadores d e Cursos d e Enfermagem, 1 976). .

- A in iciagao de 1 20 docentes - enfermeiros em pos-grad uagao ( Especial izagao e m Metodologia do Ensino, e da Pesq u isa na Assistencia de Enfermage m ) .

- A majoritaria partici pagao do e n s i n o publico na Area de formagao de enfermeiros (crescendo de 1 2 para 25 Cursos de Graduagao em instituigoes de subordinagao administrativa­ financeira federal .

- A participagao de enfermeiras entre o s demais profissionais pesq u isadores e tecnicos de analise de projetos no C N P q .

- A in iciagao d e discussao coletiva sobre Linhas e Areas de Pesq u isa em E nfermagem . Doc. Avaliagao e Perspectiva-1 982 - CN Pq/CAPES/ABEn ( DAU/CAPES).

A evocagao da memori a , habitada por tantos gru pos vivos e que constituem hoje, outras memorias, vem percorrer novos cena rios , desenham seus itinerarios, entretecer a trama d e suas historias, hoje em 200 1 , passados ja u m quarto de secu lo. E m mu ltiplos pontos desses grupos vivos foram sendo constru idos sujeitos do conhecimento (todos que, de algum modo, se envolvera m no Projeto) e agora , nos resta a mais humana das alegrias ao testemunhar a vida pululante dos in iciais cursos de grad u agao de enfermeiros, hoje ampl iados em mu itas pos­ graduagoes , muitas i nterfaces com a vida associativa , mu ita participagao em meio aos desafios que se apresentam na presente cond igao pol ftica e econ6m ica.

Refaz-nos pensar no que foi escrito por Foucault " . . . as condigoes pol fticas e econ6micas nao sao um veu ou um obstaculo para 0 sujeito do conhecimento e sim, aq u i lo atraves do q u a l se formam sujeitos d e conhecimento e em conseq iencia, as relagoes de verdade." ( Foucault,

1 983)

Finalmente, convido a todos a comparti lhar uma verdade que resta irremovivel , e q u e permeou todo 0 an imo do trabalho ora reg istrado . Q u a l seja a constitu igao deste espago de formagao de enfermeiros, nos a nos 70, tem bases tao concretas quanto emblematicas; e o mesmo que desocu ltar.

" DAS TRES MARIAS NASC E U U MA N OVA CONSTE LA;Ao D E E N F E RM E I ROS"

As "Tres Marias" refere-se as consu ltoras de Enfermagem, Professoras Maria Rosa d e Souza Pinheiro ( U S P ) , Maria Dolores Lins de Andrade ( U F RJ ) e Maria N ilda de Andrade ( U FPE).

ABSTRACT : T h e objective o f t h i s study is t o revisit t h e period o f time between 1 975 and 1 979, a n d , withi n i t , t h e h istory o f t h e implantation o f n u rsing graduation cou rses i n federal u niversities and i n geo-educational districts. It presents t h e development o f a project called Projeto de Enfermagem n o

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A forma�ao de enfermeiros . . .

G ru po Setoria l d e Saude - ( N u rsing Project i n Health) S E S U/DAU/M E C ( m i n i stry of culture and education), and pOints out the social and political determinants of the, so planned, qualitative and quantitative development of the courses mentioned before . The research clarifies the proposal , process and accomplishments of the Superior N u rsing Project of Education , which was predominantly private u ntil 1 974 and became predominantly public from 1 976 on. F u rthermore , it also indicates implications such as: the Commission of N u rsing Education Specialists (CEEEnfermagem), which was linked to ABEn and was the first col lective proposal of Areas and Lines of Research in N u rsing ( C N Pq/CAPESI DAU/ABEn); as well as the introduction of institutionalized study fields in the academic i nstitutions.

KEWORDS: history, n u rsing education , graduation

RESU M E N : EI a rticulo tiene como objetivo revisitar los aios 75-79 y con ellos la h i storia de la implantacion de nuevos cursos de formacion en Enfermeria en las U niversidades Federales y en Distritos Geo-educacionales que aun no ofrecfan ese tipo de Curso. Se presenta la trayetoria del desarrollo del Proyecto de Enfermeria en el Grupo Sectorial de la Salud (SESU-DAU/M EC). Se ponen de relieve las determinantes polftico-sociales para el aumento cantitativo y calitativo intencional de esos C u rsos. Se aclara n la propuesta , el proceso y las realizaciones i m p licadas en el Proyecto Superior de E nfermerfa , que antes predominaba como enseianza privada (hasta 1 974) Y paso a enseianza publica ( 1 976) . Ademas, apunta implicaciones tales como la Comision de Especialistas de la Enseianza de E nfermeria (CEEEnfermeria) aticulada a la ABEn y la primera propuesta colectiva de Areas y L fneas de I nvestigacion en Enfermeria (CN Pq/CAPES/DAU/ABEn), asi como la creacion de espacios institucionalizados en esos organismos de formacio n .

PALABRAS CLAVE: historia, enseianza de enfermeria, graduacion

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Referências

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