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A tentação do bem: o caminho mais curto para o pior....

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Academic year: 2017

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RESUMO: Este trabalho pretende discutir os recentes acontecim tos políticos que abalaram o m undo e pensar a questão fundam en-talista e o retorno ao religioso com o sendo um a regressão que se m anifesta quando os cidadãos se deparam com a falha do discurso da m odern idade.

Palavras - c have: Fundam entalism o, m odernidade, discurso da

ciên-cia, religião.

ABSTRACT: The tem ptation of good: the shortest way to evil. This paper aim s to discu ss th e recen t political even ts th at sh ook th e w orld and think the problem of integrism and the return to reli-giosity as a regression that takes place w hen the citizens face the failure of the discourse of m odernity.

Ke y w o rds: Integrism , m odernity, discourse of science, religion.

O

século XX term inou, com o m uitos notaram , exatam ente

com o com eçou: com um a guerra nos Bálcãs. Os regi-m es totalitários do sécu lo XX, qu e se caracterizararegi-m pela tentação do bem , representaram um acontecim ento m aior, coletivo e individual, posterior à m etapsicologia freudiana de Psicologia das Massas: o colapso da civilização ocidental em sua função de proteção contra o reino da m orte. Tal co-lapso, com o bem lem bra Zaltzam n ( 1999) passou a fazer parte da herança da realidade hum ana, herança de um a épo-ca em que o hom em deixou de ser hom em para si m esm o e para o outro. Não por acaso, com suas duas guerras m un -diais e seus dois totalitarism os, o século XX foi considerado por m uitos com o o m ais trágico da história, aquele em que,

com o bem lem bra Freud em um de seus prefácios a M oisés e

o m onoteísm o ( 1939) , “ o progresso concluiu um pacto com a

b arb árie” .

Doutora em Sociologia pela Universidade de Paris I ( Iedes) ; doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP; professora da graduação e pós-graduação da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.

A TENTAÇÃO DO BEM: O CAMINHO

MAIS CURTO PARA O PIOR. . .

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Parece qu e dos con flitos qu e m arcaram esse sécu lo h erdam os u m ódio ir redu tível e in solú vel qu e n ão cessa de se repetir, tan to qu e estam os com e-çan d o o n o vo sécu lo co m u m a n o va gu erra em n o m e d e reivin d icaçõ es iden titárias de u m a extrem a violên cia, e qu e, com o lem bra Ben slam a ( 1 9 9 8 ) , tem em com u m com a experiên cia dos cam pos de con cen tração o fato de qu e o ódio dirigido ao ou tro preten de ir além da m orte e qu er abolir a própr ia n oção de h u m an o, fazen do do h u m an o “ ou tra coisa” . Segu n do este au tor, o qu e caracter iza todos os m itos iden titár ios m odern os a partir de Au sch w itz é q u e a fo rm a d e d esregu lam en to d a id en tid ad e h u m an a ( o u alteridade) qu e o Holocau sto in au gu rou passou a dizer respeito a todos os povos do plan eta.

O que faz alguém se transform ar num a bom ba hum ana e por quê? Na tentativa de elaborar o m edo e o horror que tal fato suscita, voltem os aos textos freudianos para, quem sabe, encontrar algum a resposta. Freud dedicou, com 18 anos de intervalo, dois textos à questão da guerra, vejam os pois o que ele nos diz.

O prim eiro, “Considerações atuais sobre a guerra e sobre a m orte”( 1915) ,

foi escrito seis m eses após o início da Prim eira Guerra Mundial, enquanto seus dois filhos estavam na frente de batalha. Nele, Freud se pergunta se a hum anida-de constituída no crim e e pelo crim e não estaria se dirigindo inevitavelm ente para a destruição.

Com eça falando da desilusão trazida pela guerra, um a vez que era de se

esperar que os povos desenvolvidos pudessem resolver suas disputas e conflitos por outras form as que não a guerra e que tivessem “...consciência suficiente da com unidade que form avam e tolerância em relação às divergências, para que o estrangeiro e o hostil não se confundissem m ais com o na Antiguidade” ( p. 11) . No capítulo seguinte, ao tratar de nossa relação com a m orte, retom a o com portam ento do hom em pré-histórico perante ela e cham a a atenção para sua am bivalência. O hom em prim itivo, diz Freud, era um ser apaixonado, pior e m ais cruel que os anim ais, nada o im pedia de m atar e devorar seres de sua espécie, tanto que a história prim itiva da hum anidade é cheia de assassinatos e o que as crianças aprendem na escola sob o nom e de “história m undial” não passa de um a sucessão deles, afirm a.

O hom em civilizado, assim com o o das origens, é inacessível à representa-ção da própria m orte, razão pela qual ao m esm o tem po que honram os os m or-tos de nossa com unidade tratam os com rara ferocidade um inim igo vencido. A este negam os qualquer dignidade, tratando-o com o se fôssem os os únicos a m erecer inscrição na linhagem de um a filiação respeitável.

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para ele — a idéia segundo a qual com a ajuda da cultura a coisa estrangeira pode vir a se tornar fam iliar, ou quase. O outro precisa ser desqualificado, tachado de bárbaro para que sua elim inação possa ser justificada.

A Prim eira Guerra Mundial term inou com oito m ilhões e m eio de m ortos na frente de batalha, cerca de dez m ilhões de m ortos civis e m ais de seis m i-lhões de inválidos.

Quanto a Freud, foi a partir dela e de seus efeitos que acabou elaborando esse m onstro lógico que é o conceito de pulsão de m orte e seu novo dualism o pulsional. A partir daí, o conflito entre Eros e Tânatos atravessará tanto o proces-so civilizatório quanto o desenvolvim ento individual.

O segundo texto de Freud, “Por que a guerra?” ( 1933) ,é fruto de sua

cor-respondência com Einstein a pedido do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, criado em 1931 pelo Com itê Perm anente das Letras e das Artes da Sociedade das Nações. A correspondência entre eles com eça com Einstein per-guntando a Freud o que se poderia fazer para proteger a hum anidade da m aldi-ção da guerra e se há algum a possibilidade de dirigir o desenvolvim ento psí-quico do hom em de m odo a torná-lo m ais preparado contra a psicose do ódio e da destruição.

A resposta de Freud é m uito interessante. O que diz ele? Que num prim eiro m om ento o tem a o pegou desprevenido, m as logo se deu conta de que não estavam lhe pedindo soluções práticas para o problem a, e sim que o abordasse a partir da psicanálise. A diferença aqui é fundam ental: enquanto analista, Freud sabe que não tem soluções práticas a oferecer a quem quer que seja, nem ao seu paciente e nem àqueles que o solicitam para que ajude a resolver os problem as do m undo. Ele sabe que não há rem édio para os m ales do m undo e que não dá para curar a hum anidade do conflito pulsional, razão suficiente para que o analista se recuse a ser o arauto do Bem .

Freud afirm a que o que tem a dizer pode ser resum ido num a constatação básica, a de que, conform e as descobertas da psicanálise:

“as pulsões hum anas são de apenas dois tipos: as que tendem a preservar e as que tendem a destruir ( ...) Nenhum a dessas duas pulsões é m enos essencial do que a

outra: os fenôm enos da vida surgem da ação confluente ou m utuam ente contrária de am bas ( ...) A dificuldade de isolar as duas espécies de pulsões em suas m anifes-tações reais é, na verdade, o que até agora nos im pedia de reconhecê-las.” ( FREUD, 1933, p. 209-210)

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Todo o esforço de Freud reside em m ostrar a Einstein que a civilização consiste em um a série de transform ações sucessivas da violência e que esta não pára de em ergir e retornar, razão pela qual toda com unidade, seja ela qual for, exerce violência perm anente para constituir-se, m anter-se e transform ar-se.

Isso posto, eu não diria que seu texto term ina de m odo sinistro e sim com um a forte afirm ação de oposição à guerra, na m edida em que seu autor, no final, pergunta a Einstein por que será que am bos se revoltam tanto contra ela e, assim com o tantos outros, não conseguem aceitá-la com o m ais um a das difi-culdades da vida. Assim , após ter provado que a guerra faz parte da cultura, que é m esm o um a de suas vertentes, continua m ilitando pela outra vertente, aquela na qual as forças que trabalham pelo desenvolvim ento da civilização o fazem ao m esm o tem po contra a guerra.

Este texto de Freud é de 1933. A Segunda Guerra Mundial será desencadeada em 1939 e term inará em 1945, deixando um balanço de m ais de 35 m ilhões de m ortos só na Europa. Causou o exterm ínio dos judeus, ciganos e doentes m en-tais: m ais de seis m ilhões de vítim as.

No cam po da psicanálise, será Lacan que tratará de todas as conseqüências desta guerra, inclusive daquilo que Freud desconhecia: os cam pos e o holocausto. Em vários textos, entre eles o Sem inário da Ética ( LACAN, 1986) , cham ou nossa atenção para a possibilidade de um novo conflito, alertando-nos para não ficar-m os surdos diante de tal perigo. A guerra, nos leficar-m bra ele, é uficar-m a das saídas do hom em desejante, tem a ver com a dem anda e o hom em não sabe o que põe em m ovim ento com ela.

Lacan estava coberto de razão. Desde a Segunda Guerra Mundial o m undo conheceu inúm eras guerras: guerras entre nações, entre com unidades de um m esm o país, entre etnias, raças e religiões, e agora parece que estam os de-sem bocando num a nova form a de conflito — a guerra terrorista, na qual a civilização parece, m ais do que nunca, confrontada com os princípios de sua destr u ição.

Não há dúvida de que o crim e, a barbárie e o genocídio fazem parte da hum anidade e são próprios do hom em , e que a fam osa besta im unda de Brecht nada tem a ver com a anim alidade e sim com o próprio hom em habitado pela pulsão de m orte, o que não im pede tentar entender as form as que essa pulsão de m orte vem tom ando e se perguntar o que querem os fanáticos fundam enta-listas. Por que se transform am em bom bas hum anas e o que pode estar em jogo nesta guerra?

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lem brar que foram os fundam entalistas israelenses, aqueles que querem recriar pelas arm as o Grande Israel Bíblico, que assassinaram o ex-prim eiro m inistro Rabin, e que é entre os fundam entalistas cristãos, obcecados pelos bons costu-m es e pela tele-evangelização, que encontracostu-m os aqueles que invadecostu-m as clíni-cas de aborto, assassinam os m édicos que nela trabalham e engrossam as m ilí-cias nas quais o governo federal norte-am ericano representa a própria encarna-ção do Anticristo.

O que esses m ovim entos parecem ter em com um é a recusa da m odernida-de, entendendo-se por m odernidade o m ovim ento que sustentou a idéia de que as sociedades recebem suas leis dos hom ens e não de Deus ou das tradições, e que im plica na existência da ciência, saber conquistado pela razão hum ana e não transm itido m ecanicam ente de geração em geração. O desenvolvim ento da ciência m oderna desalojou a autoridade religiosa e produziu um novo laço social em que a razão passou a ser priorizada em detrim ento da fé.

Minha prim eira hipótese é a de que o fanático ignora as form as clássicas de contestação política, religiosa e cultural e tem por único objetivo reatar o laço entre religião e política. O ato terrorista, em sua form a obscura e assassina, pode ser entendido com o um a contestação global da m odernidade, na m edida em que esta se tornou com plexa dem ais e difícil de ser assum ida.

Lacan, ao levar em consideração a subversão introduzida pelos cam pos de exterm ínio, cham ou a atenção para o fato de que o discurso da ciência reforça necessariam ente a segregação e de que o desenvolvim ento tecnológico só pode-ria se dar em detrim ento do sujeito. Essa percepção fez com que pudesse prever o agravam ento dos processos de segregação, ao afirm ar que o nazism o, longe de ser um acidente m onstruoso, deveria ser visto com o o precursor de um processo desencadeado pelo rem anejam ento dos grupos pela ciência que faria com que: “nosso futuro de m ercados com uns encontrasse seu equilíbrio na ex-tensão cada vez m ais dura dos processos de segregação” ( LACAN, 1968, p. 29) .

O discurso da ciência, entendido aqui com o o laço social por ela instaurado, pretende que o outro seja igual e quer o bem do outro a qualquer custo, ainda que este nada queira saber desse bem e se recuse a ser igual. Quanto m ais se exige a igualdade, m ais o outro insiste em se m anifestar com o nada igual, totalm ente diferente do que se esperava. Quanto m ais o discurso científico se exercita no sentido da uniform ização, tanto m ais o disform e tende a se m ani-festar e esta deform idade, estritam ente particular, é o gozo, aquilo que faz do outro um outro que só m e resta odiar, já que põe em xeque a m aneira de gozar que tanto idealizo.

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Concordo com Kurtz ( 2001) que, em seu artigo no Caderno Mais, de 30 de setem bro, cham a nossa atenção para a dialética do esclarecim ento e nos lem bra que a sociedade globalizada só após 500 anos de sangrenta história colonial e im perialista, após um século de industrialização estatal-burocrática fracassada e m odernização descom passada, 50 anos de integração destrutiva do m ercado m undial e sua ideologia do totalitarism o econôm ico ocidental preparou o ter-reno para a resposta.

Tudo isso é verdade e é im portante lem brar. Acredito, no entanto, que a resposta que veio, ainda que segundo alguns seja m ais do que m erecida, é um retrocesso. É difícil não pensar o retorno ao religioso, a um estado anterior em que religião e sociedade form avam um a única estrutura, com o um retrocesso. Reintroduzir a religião na vida cotidiana, subm eter o m undo à Lei divina é, a m eu ver, um m odo de recusar a am bigüidade, a diferença e toda e qualquer heterogeneidade.

Freud já havia cham ado nossa atenção para o conflito entre religião ( capaz de engendrar sentido perante todas as questões angustiantes induzidas pelo progresso científico) e a psicanálise, que não tem com o preencher os vazios faltantes e trazer um a solução — m édica ou religiosa — ao m al estar. Lacan dará um passo a m ais ao dizer que o em bate entre religião e psicanálise, tal qual visto por Freud, estava superado e que a partir da experiência dos cam pos de concentração era preciso reavaliar o discurso da ciência e nos darm os conta de que o conflito deixou de ser apenas entre psicanálise e religião e passou a ser entre psicanálise, religião e ciência. Se a religião viesse a triunfar, afirm ou ele em 1974, a psicanálise desapareceria. Caso viesse a triunfar num a aliança com a ciência, não haveria com o evitar o pior.

Com o lem bra Otávio de Souza ( 1994) ao retom ar o texto de Lacan, o verda-deiro inim igo que nos am eaça não é nem a ciência, nem a religião em si, m as a aliança do real da ciência com o sentido do religioso. O perigo não reside no religioso e sim nessa aliança que produz o fanatism o.

Será que não é a isso que estam os assistindo?

Parece-m e que sim . Alain Finkelkraut, num a entrevista dada após a Guerra do Golfo, cham ava a atenção para o curioso casam ento, totalm ente contrário ao que se acreditava no século XIX, entre o integrism o religioso e a tecnociência, e previa que os principais protagonistas do terrorism o viriam em geral da técnica e das ciências aplicadas sendo, em sua m aioria, engenheiros, inform á-ticos, etc.

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não passa de um m ito identitário m oderno, no qual a religiosidade é um dos com ponentes ao lado do nacionalism o e do cientism o. E quanto ao cientism o sabem os que apesar do nom e nada tem de científico, já que exige um ato de fé e, ao postular a transparência integral do real, m ais pertence ao cam po das religiões do que ao da ciência.

Seus m ilitantes, m ovidos por um a ideologia totalitária fundada no sagrado, encaram a razão com o pecado e o progresso com o decadência, o que não os im pede de se servirem de seus produtos: satélites, vídeos e internet.

Fazer do sagrado novam ente o fundam ento da organização social e política não é coisa sim ples. O sujeito só recorre a essa posição extrem a quando se depara com a falha do discurso da m odernidade. Esta é a razão pela qual a luta fundam entalista parece assum ir m últiplas form as e conhecer distintos graus de virulência, sem pre em nom e de Deus e de um Absoluto, num total desprezo da própria vida e da dos dem ais. O desejo de conquistar o paraíso, desejo im possível, tudo parece justificar. Tornarse m estre da m orte, anjo exterm inador, im -plica num gozo de destruição para além da própria m orte.

É ainda Benslam a que nos adverte para o fato de que, segundo os relatos dos m assacres de populações civis na Argélia, Ruanda, Bósnia, Cam bodja, o que cham a a atenção são os suplícios aos quais a população é subm etida, revelando um gozo da destruição que ultrapassa o m ero assassinato.

O fanático fundam entalista, independentem ente do seu credo ( e aqui é inte-ressante lem brar a cena bem difundida em que católicos irlandeses apedreja-vam criancinhas protestantes a cam inho da escola) é m ovido pela paixão e pelo ódio. Pelo fato de a vida ser com plexa e desconcertante, o fanático escolhe “a verdade” contra a realidade, nem que seja ao preço da própria vida. O fanático que se suicida faz de sua m orte a verdade absoluta em ato; o que o fascina é antes de tudo o triunfo da causa.

No discurso fundam entalista, a palavra se torna sinônim o de Deus e é evi-dente que este só pode querer o nosso bem , é, pois, preciso im pô-lo pela força

e azar daqueles que nada querem saber desse bem . Guerra Santa ou Jihad, pouco

im porta, o apelo à palavra divina funciona sem pre com o m otor de m assacres e guerras religiosas e é preciso de m uito pouco para que o m ais fiel dos devotos se transform e num “crim inoso sem rem orso”. Este não precisa de análise, já que o objeto de seu desejo já está inscrito no lugar do sagrado e por isso m esm o inacessível à linguagem . E é justam ente na linguagem que está nossa única saída: A palavra ou a m orte, afirm a Safouan ( 1993) .

A escolha é sem pre entre a palavra ou a m orte, visto ser im possível perm a-necer sujeito falante e m atar aquele que supostam ente está à escuta da

pala-vra. A palavra ou a m orte rem ete à idéia de que quando o sujeito passa ao ato,

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m ortífero em ciúm e sim patizante é preciso passar pela palavra. Nesse senti-do, a análise cessa onde e quando com eça a violência.

A psicanálise não é nem um a religião, nem um a filosofia e m uito m enos um a ideologia ou visão de m undo e sim , com o afirm a Houbballah ( 1996) : “um a lenta ruptura, sem pre renovada, com tudo aquilo que em barca, se aloja no discurso universal na form a de ideais, valores, slogans, falação sobre o dever e o direito”.

A psicanálise nasceu na Viena fim de século, num a Europa à qual, com o lem bra Benslam a, coube o terrível privilégio de ter contraído, na m odernidade, a doença da identidade, que exportou depois para o m undo inteiro, e é com isso que estam os tendo que nos haver. Com ele parece concordar Castoriadis ( 1987) que no final de seu artigo sobre o racism o lem bra que o m undo assim ilou m ais ou m enos certos instrum entos da cultura ocidental,

“um a parte do que decorre da conjuntista-identitária criada por ela, m as de form a algum a as significações im aginárias de liberdade, da igualdade, da lei, da

interroga-ção indefinida. A vitória planetária do Ocidente é a vitória das m etralhadoras, dos

jipes e da televisão — não a do habeas- corpus, da soberania popular, da

responsabi-lidade do cidadão”. ( p. 40)

Concluindo, diria que a atual vitória dos integrism os responde aos fracassos patentes de nossa civilização, na qual o hum ano se transform ou em m era m er-cadoria. Se a Prim eira Guerra perm itiu a Freud elaborar a pulsão de m orte, a Segunda, com seus cam pos, perm itiu a Lacan elaborar o discurso da ciência e prever um a segregação sem pre crescente, qual será o trabalho que nos espera, enquanto analistas, hoje em dia?

Ainda e sem pre o trabalho que espera os analistas é o de m ilitar pelas forças que trabalham em prol da civilização e isso passa pela defesa da dem ocracia e do reconhecim ento dos valores universais sobre os quais repousa a civilização, condição necessária para o reconhecim ento da alteridade.

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BIBLIOGRAFIA

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Caterina Koltai

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