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O velho-novo circo: um estudo de sobrevivência organizacional pela preservação de valores institucionais

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(1)

~

",'

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADEMINCA E DE PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O VELHO-NOVO CIRCO:

UM ESTUDO DE SOBREVIVÊNCIA ORGANIZACIONAL PELA PRESERVAÇÃO DE VALORES INSTITUCIONAIS

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À

ESCOLA BRASILEIRA DE

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA

OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

MARTHA MARIA FREITAS DA COSTA

(2)

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADEMINCA E DE PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O VELHO-NOVO CIRCO:

UM ESTUDO DE SOBREVIVÊNCIA ORGANIZACIONAL PELA PRESERVAÇÃO DE VALORES INSTITUCIONAIS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR MARTHA MARIA FREITAS DA COSTA

E

APROVADA EM

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,'j'3

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

Profe;;s"of Doutor Sérglo Proença Leitão

Professor outor Paulo mílio Matos Martins

(3)

o

CiRCO

(Sydney Mil/er)

Vai, vai, vai

começar a brincadeira

tem charanga tocando a noite inteira

Vem, vem, vem

ver o circo de verdade

Tem, tem, tem

picadeiro e qualidade ( ... )

(4)

garantindo a sobrevivência de sua arte e honrando o nome de sua dinastia

Em memória do artista e professor Abelardo Pinto que por quatro

anos conversou comigo dia após dia sobre circo, sobre sua família e que

foi meu grande mestre na difícil tarefa de coordenar a Escola Nacional de

Circo e que saiu de cena, brilhando, como sempre viveu.

Ao Renato, meu filho/irmão, um artista e um anjo.

A Pedro, Isabel e Beatriz, alegria e razão da minha vida, para que

tudo isso um dia faça sentido.

(5)

No espetáculo circense há uma figura indispensável à perfeita realização de um número: o cuidador. Os cuidadores são pessoas que embora artistas e

muitas vezes estrelas de alguns números, entram em cena durante a apresentação

de um companheiro apenas para cuidar. São pessoas capazes de tudo para garantir

a integridade física do artista que se arrisca em cena. Evitam os acidentes,

amparam, dão garantia na hora de um salto arriscado. E o artista sabe que sua

ação, quando necessária é incondicional.

Durante o tempo em que escrevi esta dissertação várias vezes me ví

diante de situações das quais jamais sairia sozinha. E como no circo tive o privilégio

de estar cercada por muitos cuidadores, da maior qualidade. A eles, sobretudo, devo

o fato de ter estado de pé, em equilíbrio, até o final.

À Professora Ora. Sylvia Constant Vergara, minha orientadora, devo todos os cuidados. Por sua causa nunca desisti. Sua segurança, seu entusiasmo e sua

competência foram alicerces fundamentais para que eu pudesse superar todas as

etapas, algumas muito difíceis deste trabalho.

Inês, Carlos e Vera meus irmãos; Valéria e Martinelli, os outros dois

mosqueteiros; Luiz Paulo e Maria Lúcia, meus tios, Mauro, cúmplice: a eles devo a

mais absoluta solidariedade e ajuda em momentos cruciais. Roberto e Basu, meus

pais; exemplares, presentes, me ajudaram sempre e me ensinaram

responsabilidade, compromisso, amor ao trabalho, dignidade, seriedade. Me deram

afeto e segurança.

Agradeço a todos aqueles que entrevistei ou que tive oportunidade de

conversar durante a pesquisa, pessoas que me contaram suas vidas, voltaram no

tempo, sofreram, riram e lembraram. Em especial, a Luis Olimecha, artista,

sindicalista, produtor, diretor de circo, além de fundador e primeiro diretor da Escola

Nacional de Circo, a Roger Avanzi, palhaço Picolino e a Edna Ozon que me

contaram algumas das mais emocionantes histórias de vida que ouvi, arquivos

(6)

brilharam. Agradeço, também, a Humberto Braga, Diretor do Departamento de Artes

Cênicas da FUNARTE e a Alice Viveiros de Castro, pela disponibilidade em

conceder-me longas entrevistas.

Agradeço a todos os professores da Escola Nacional de Circo com quem

vivi as mais preciosas experiências de aprendizagem de todo esse processo. Em

especial a Robby Rethy Jr, malabarista "ítalo/húngaro/hispano/brasileiro" que com

seu inconfundível sotaque de legítimo circense me ensinou os segredos da arte de

apresentar um espetáculo e a Maria Delizier Rethy, artista perfeita, mãezona

dedicada a seus filhos artistas e seus artistas filhos.

À Ermínia Silva, historiadora pós-circense, que além de sua dissertação que foi lida, relida, usada e citada mil vezes, foi uma interlocutora excepcional.

Agradeço, ainda, de modo muito especial a Márcia Cláudia, do centro de

Documentação e Pesquisa da FUNARTE que me ajudou e facilitou de todas as

formas o acesso às preciosidades do aceNO que ali se encontra e a Arien, Denise,

Liginha o trio maravilhoso da Biblioteca da Fundação Getulio Vargas, incansáveis,

capazes de encontrar o "inincontrável" para nos ajudar.

À Professora Dra. Deborah Moraes Zouain que nunca me deixou esquecer dos compromissos, facilitando em tudo meu trabalho e ao Professor Dr. Fernando

Guilherme Tenório, por seu apoio e por todas as oportunidades que criou e que

pode ver de perto, na Escola Nacional de Circo, tudo o que eu vivia contando.

Ao Joarez de Oliveira, que da secretaria do mestrado distribui carinho,

incentivo e atenção a todos os alunos e que sem dúvida é o chefe da nossa torcida

organizada.

Agradeço finalmente aos componentes da banca examinadora desta

dissertação, que ao final desse processo ainda me fizeram acreditar que posso

continuar o caminho: Professor Dr. Sérgio Proença Leitão, por seu interesse atenção

e delicadeza e Professor Dr. Paulo Emílio Mattos Martins que tantas vezes partilhou

comigo interesse por temas nada usuais como o que escolhi.

(7)

APRESENTAÇÃO

A proximidade da virada do século e do milênio tem sido motivadora de

uma série de pesquisas e de conjecturas sobre as tendências para as organizações

do futuro. As organizações construídas de acordo com o modelo industrial dos

séculos XVIII e XIX atingiram apogeu e decadência no século

xx.

A própria idéia de trabalho e emprego provenientes desse modelo já não se adequam mais à

realidade. Sabemos que o século XXI, marcado por uma cultura pós industrial

delineia uma nova relação com o tempo útil e abre espaço à novos modelos de organizações dedicadas ao lazer e ao entretenimento. Estas serão grandes

empregadoras e geradoras de renda, além de certamente, trazer em sí

peculiaridades em suas estruturas e em seu gerenciamento.

O circo, instituição voltada para o entretenimento, sobrevivente à séculos quase inalterada, surpreende o observador, ao perceber que as empresas circenses,

grandes ou pequenas, mais se aproximam de um modelo que hoje apenas supomos

coerentes com as tendências organizacionais para o próximo século, que daquelas

que até hoje vem servindo como modelo e padrão.

Uma das possibilidades de se tentar compreender organizações como

essa, é a de olhar para outros modelos organizacionais que como o circo, não são

oriundos do modelo industrial e que são donos de uma estrutura leve e flexível, em

que as relações de trabalho não parecem uma dolorosa imposição, mas produto do

conhecimento posto em prática, da criatividade, da participação comprometida de

seus membros.

O objetivo deste estudo, é, portanto, conhecer a instituição circense, suas

dimensões mais relevantes e verificar de que forma essas dimensões chegam as

organizações, configurando-as e definindo suas peculiaridades.

vii

(8)

de organizações que longe das imposições do modelo industrialista, conseguiram

manter sua identidade e integridade e que ainda podem vir a tornar-se parâmetro

para o delineamento daquelas organizações com as quais no futuro iremos conviver.

O estudo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro apresenta a

situação-problema, explicita seus objetivos, sua relevância, seus limites e a

metodologia. O segundo, resume a história do circo, suas origens e características

dando especial ênfase à história do circo no Brasil, especialmente aos mecanismos

de adaptação às diferentes situações aí enfrentadas, buscando ressaltar os

elementos caracterizem os contornos que o definem como um circo brasileiro. O

terceiro e o quarto capítulos são dedicados à análise organizacional. O terceiro,

analisa os aspectos institucionais e o quarto os aspectos organizacionais. No quinto

capítulo consolidam-se as conclusões e algumas sugestões de pesquisa delas

decorrentes.

(9)

RESUMO

o

objetivo deste estudo foi o de identificar que dimensões institucionais

do circo preservadas nas organizações, podem ter sido responsáveis por sua.

sobrevivência e capacidade de adaptação diante das inúmeras dificuldades e

adversidades enfrentadas ao longo de sua existência secular.

Dedicada ao entretenimento e à diversão, esta instituição de origem pré-industrial, resguarda características corporativas e familiares. No entanto, sua

estrutura organizacional e suas praticas administrativas aproximam-se das

características hoje consideradas tendências das organizações do próximo século.

Os resultados do estudo mostram que as organizações circenses

guardam características pré e pós industriais. Soube preservar valores e

identidade enquanto utilizou-se de todos os beneficios da contemporaneidade.

Dessa forma, chega ao século XXI, sobrevivente, como uma organização sui

generis e um dos mais bem sucedidos empreendimentos em sua categoria.

Mostra também que num século onde a ocupação do tempo livre com atividades

culturais, de lazer e entretenimento será objetivo de muitas organizações, o circo

pode vir a fornecer bom material de análise.

(10)

The aim of this study was to identifie wich factors help to preserve the

circus as an institution. Wich factors may have been important and

responsible for its preservation and survival against ali adversities .

The circus is an institution responsible over the years for entertainment

and has its origins preindustrial era and has both family and coorporation

caractheristics. The organization and practices of the circus today are

considered of the next century.

The results of this study showed that the circus preserve characteristics

pre and pos industriais. The circus was able to preseve values and identity and

also use ali the beneficies of the modern world. It will arrive to the century 21

as a strong and sui generis organization and very sucessfull. The tendency of

ocupy the time with cultural activities place the circus as an excelent material of

analysis.

(11)

1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA

1.1 Formulação da situação-problema

1. 3 O Circo como objeto de interesse da administração

1.4 Delimitação do estudo

1.5 Que caminhos teóricos percorrer?

1.6 A metodologia

2 UMA BREVE HISTÓRIA DO CIRCO

2.1 A origem oriental

2.2 A origem ocidental

2.3 O circo moderno

2.4 O circo americano

1 1. 4

8

16

24

29

29

33

36

39

2.5 O circo no Brasil ou O "jeitinho" circense de ser brasileiro 46

3 DIMENSÕES INSTITUCIONAIS ou O CIRCO POR TRÁS DO PANO 67

3.1 A Identidade 67

3.2 Os valores

3. 2.1 A Tradição

3.2.2 A Família

3.2.3 O Conhecimento

3.2.4 A Maestria

3.2.5 A itinerância

72

72

(12)

4.1 A rede de comunicações e seus elos: o compromisso. a confiança

e a solidariedade 110

4.2 A estrutura da organização 123

4.3 A Decisão nas relações de poder 139

4.4 Os processos 146

4.5 O produto 158

5 CONCLUSÕES 173

6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES 182

(13)

As dificuldades não são superadas com silêncio sobre elas. A prática exige que um passo deve seguir o outro; a teoria deve abraçar toda a seqüência deles. Os novos assuntos constituem o primeiro estágio; a seqüência entretanto, vai mais adiante. A dificuldade consiste em trabalhar no primeiro estágio (novos assuntos) quando já se está pensando no segundo (as novas relações entre os homens).

Bertold Brecht 1

o

presente capítulo apresenta a situação-problema, a relevância, a

delimitação do estudo e a metodologia utilizada nesta pesquisa. Reserva uma

sessão especial para a apresentação da idéia de tratar o circo como objeto de

interesse da administração

1.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

A organização circense, objeto da presente investigação. traz em si

diversos aspectos relevantes e atraentes ao olhar crítico, como qualquer outra.

No entanto, as peculiaridades que fizeram desta organização uma secular

sobrevivente aos imperativos dos diferentes modelos organizacionais que se

sucederam desde que em plena era da Revolução Industrial caracterizava-se o

circo moderno, tal como hoje o conhecemos, instigam certamente a curiosidade

científica.

Sua capacidade de enfrentar as mudanças paradigmáticas que

interferiram nos destinos de organização e mesmo de sociedades, foi sendo

desenvolvida ao longo do tempo com base em determinados parâmetros que,

identificados, poderão apontar caminhos para a análise e conclusões

interessantes aos estudiosos da administração. Aquilo que de mais contundente

(14)

salta aos olhos quando se observa a organização ciréense é sua aparente

imutabilidade estrutural durante quase dois séculos. Mesmo as inovações mais

radicais, jamais alteraram os alicerces sobre os quais se ergue a instituição

circense. Há diferenças e especificidades em relação a cada organização

circense, mas elas repousam sobre esses mesmos alicerces. São eles que lhes

garantem integridade e identidade.

Embora haja um expressivo número de circos em precária situação

financeira no Brasil, as grandes empresas circenses estão presentes e atuantes.

Em quase todo o mundo o circo continua sendo um dos mais bem sucedidos

negócios na área de entretenimento. Este aspecto merece atenção especial, um

vez que no final de século XX, as exigências do mercado de espetáculos de

diversão são grandes e mudam rapidamente em função das possibilidades

tecnológicas disponíveis para o embelezamento e a magia dos grandes shows.

Além disso, num mundo onde a circulação da informação em tempo real,

acessível a milhares de pessoas leva a diversão para dentro de casa, os

espetáculos ao vivo deverão ocupar, junto com muito poucas outras opções de

entretenimento, um lugar privilegiado para quem busca alternativas de diversão.

Entretanto, as exigências do público consumidor serão, certamente, muito distintas

daquelas que até hoje conhecemos. Os padrões de gosto e qualidade incorporam

desde já, elementos oriundos da evolução tecnológica e dos efeitos especiais.

Entretanto, não haverá substituto possível para a emoção, a presença do

desafio, do risco, do inusitado, que sempre atraíram platéias. O circo tem tudo isto.

A despeito das previsões mais pessimistas que nos últimos 50 anos

deste século anunciam a morte do circo em todo o mundo ocidental, esse fato não

se concretizou. Sofrendo pressões geradas por inúmeros fatores, o circo vem

sobrevivendo a todas as crises por que passa. Hoje ele está tão vivo quanto

(15)

cinqüenta ou cem anos atrás. E porque deveria ser? Que tipo de espetáculo

permaneceu igual por tanto tempo?

Entretanto, o circo que sobrevive, diferente daquele de há cem anos, é

circo de fato e é reconhecido por todos como tal. É, essencialmente, o mesmo que

sempre mobilizou platéias emocionadas, deslumbradas com a maestria e 2 perícia de seus artistas, engasgada de suspense e delirante com o sucesso de cada

número. Este mesmo circo articulado com a realidade que o cerca descobre

sempre formas de superar as crises que se abatem sobre ele. Não sem perdas,

naturais em tempos difíceis, mas com a dignidade herdada das dinastias que lhe

serviram de sustentáculo, ricas de valores e tradições e de séculos de experiência

em enfrentar as diversidades e as adversidades de um mundo que conquistou em

suas longas jornadas.

Hoje, quando o mercado de entretenimento está em plena expansão em

todo o mundo, acirrando a competição entre as diferentes opções de diversão,

percebo que as organizações, as empresas circenses de grande e médio porte

encontram um novo lugar. Se as inúmeras transformações por que passaram não

atingiram a essência de sua identidade, a tornaram capazes de permanecer em

dia com o seu tempo.

Como o circo foi capaz de enfrentar tantas situações adversas e crises

constantes? Que dimensões institucionais teriam sido preservadas pelas

organizações circenses, contribuindo para a sua sobrevivência e permanente

renovação? Responder a essas perguntas é o objetivo dessa dissertação.

De que forma poderei então reconhecer este caráter, esta identidade?

Para responder, escolho o caminho ainda pouco explorado das teorias da

administração, embora reconhecendo que vivendo à margem dos processos formais e reconhecidos de produção, o circo não se encaixa em nenhum modelo

(16)

1. 3 O CIRCO COMO OBJETO DE INTERESSE DA ADMINISTRAÇÃO

O circo sempre exerceu fascínio sobre jornalistas, cronistas,

memorialistas, romancistas, dramaturgos, músicos e cineastas. Mais

recentemente, tem estado presente como tema em teses e dissertações em

antropologia, história e artes cênicas. Embora no Brasil a produção literária,

dramatúrgica, cinematográfica e acadêmica sobre o assunto seja ainda inferior

à

européia e à americana, a produção nacional fornece importantes dados ao

pesquisador e com isso a produção acadêmica, por exemplo, vem sendo pouco a

pouco ampliada.

Alguns fatores justificam o grande interesse pelo tema. Em primeiro

lugar, o desejo de deixar registradas memórias de vidas repletas de aventuras

sucessos e desventuras, vidas difíceis mas ricas e merecedoras de um tipo de

registro - o literário - incomum ao universo circense, de tradição oral. Estes são os

argumentos presentes em todas as apresentações dos livros de memória que tive

a oportunidade de conhece~.

Outro fator que destaco é a tão afamada magia do universo circense. A

magia contida no riso triste de um palhaço, no encantamento das crianças diante

dos animais, a respiração presa nos momentos quase trágicos de um acidente

evitado. Magia presente na paixão de uma jovem da cidade por um belíssimo

trapezista. homem pássaro. conquistador de corações, ou na aventura de um

palhaço "ladrão de mulher" . Este fator gerou romances, filmes, documentários,

peças teatrais e crônicas jornalísticas.

As relações entre o universo circense, " os de dentro" e o mundo

exterior "os de fora" , seja do ponto de vista da inserção do circo na cultura

popular, da apropriação que faz dos sistemas simbólicos, da contribuição que deu

2 Os memorialistas a que me refiro são o palhaço Arrelia, Dirce Militelio, Antolin Garcia, Piolin e

(17)

à arte e à cultura, ou de elementos formadores de sua própria história tem sido objeto de estudos de sociólogos, antropólogos e historiadores.

O que pude perceber, no entanto, examinando grande parte deste

material e convivendo de forma muito próxima ao mundo do circo, foi que ainda

havia um aspecto muito pouco explorado: o aspecto organizacional. Embora a

organização estivesse sempre presente naqueles estudos e relatos não constituía

o objeto central destas obras.

Magia, história, expressões simbólicas, são pedras de um

quebra-cabeça maior que para completar-se exige que olhemos o circo de novos ângulos

ainda pouco explorados. Nenhum destes fatores explica por si só a grande

capacidade desenvolvida pelo circo de sobreviver a todas as adversidades

encontradas ao longo de sua existência.

Assim, penso que ao tentar compreender as razões da sobrevivência

bem sucedida do circo, necessito explorar os aspectos preservados desta

instituição que, concretizados nas organizações (empresas) circenses foram

responsáveis por sua preservação.

Sem desconsiderar as contribuições de qualquer uma daquelas

abordagens, creio que olhar o circo sob uma ótica organizacional permitirá que

se esboce um caminho que percorrido poderá não apenas responder à pergunta

que leva a esta investigação, mas a identificar alguns fatores que nos proporcione

uma visão mais ampla sobre a vida das organizações contemporâneas e que

diante do conturbado mundo em que vivemos, devem estar preparadas para um

constante processo de mudança.

Procurando olhar o circo por sua própria ótica, por meio das biografias,

depoimentos, ou memórias, por exemplo, é comum encontrarmos referências

esparsas porém bem detalhadas sobre o dia a dia das organizações a que

(18)

empresa, aos processos de gestão e de exeéução das tarefas inerentes às

atividades que desenvolve bem comO'ãs dificuldades que enfrentam para

mantê-la. No entanto, a essência desses relatos reside nas memórias afetivas dos

momentos de glória ou sofrimento vividos pelo grupo familiar e sua itinerância pelo

mundo.

o

que de mais interessante pude perceber nestes relatos, é que todos se

desenrolam sobre um mesmo pano de fundo: um grupo de pessoas, unidas por

um forte ideal e um grande amor ao seu trabalho, ligadas fundamentalmente por

laços de família e pelo trabalho, lutando dia após dia para manter o seu negócio,

sustentar com ele sua família e preservar sua arte.

Apesar das inúmeras derrotas sofridas, das famílias que se dispersam,

das empresas que se acabam e da grande quantidade de circos muito pequenos

que sobrevivem em grande dificuldade nas periferias das grandes cidades, o circo

vem sendo muito bem sucedido em sua luta pela sobrevivência. Pude constatar

isto pela quantidade de grandes empresas circenses que fazem sucesso no

mundo hoje; pelo prestígio que a mídia confere a essas empresas; pelo

investimento em publicidade e propaganda feito por um grande circo quando

chega a uma cidade, mesmo no Brasil; pela afluência de público constatada por

pesquisas nacionais e estrangeiras; pelos relatos de artistas que lutam para

conseguir um espaço nas grandes companhias e escolas do mundo e

principalmente pela quantidade e qualidade web-pages mantidas na Internet

pelas escolas e pelos circos grandes e médios que crescem a cada dia.3

Há de tudo na Internet: escolas de circo, festivais, museus

especializados, centros de estudo e, sobretudo, circos de todo o mundo. Visitando

(19)

estas páginas pode-se aprender muito sobre a história do circo, seus maiores

nomes, visitar museus virtuais, ler críticas, mas, pode-se também conhecer o .

roteiro completo de uma fournée para o ano em curso e até mesmo comprar

ingressos, escolhendo o local que deseja ocupar na platéia. E o mais interessante:

pode-se até encontrar trabalho em alguns dos melhores circos do mundo.

A sofisticação de um circo de grande e médio porte é impressionante. No

Brasil, menos que nos Estados Unidos, na Europa ou no Canadá. Mas,

indubitavelmente, as empresas circenses mobilizam muita gente dentro e fora de

sua estrutura, como corpo funcional, como platéia, fornecedores e prestadores de

serviço. Em conseqüência disso, mobilizam pesados recursos financeiros. Todos

os esforços são feitos em função de um bom espetáculo, repleto de emoções,

surpresas e qualidade para agradar ao público. O público é o seu principal foco,

seu cliente. O circo vive do público e para o público.

O circo está vivo. Vivo e totalmente inserido no mundo contemporâneo,

chegando ao seu público por todos os caminhos possíveis, reproduzindo na

navegação virtual sua permanente itinerância em busca da platéia que o mantém.

Parece-me portanto, que apes"ar de fortemente vinculado às suas origens, o circo

está inserido nas organizações modernas, do século XXI, onde o tempo livre

passa a ser foco de um mercado em expansão: o de entretenimento e diversões,

mercado de prestação de serviços, onde as exigências do público são

determinadas, no mínimo, pelo padrão que a tecnologia da TV e da informática

oferecem.

As organizações que prestam e virão a prestar estes serviços são

muitas. Algumas já fortemente estruturadas como os parques temáticos por

exemplo, outras começando a aparecer. Na área especifica dos espetáculos, o

circo tem certamente grande experiência e muito a ensinar, justamente porque

(20)

fórmulas de adaptação imbatíveis. São estes aspectos que pretendo desvelar no

circo. Não há justificativa hoje, para que se continue a ver o circo apenas como

um conjunto de pessoas vítimas da sociedade, que buscam seu ganha pão numa

pobre e esfarrapada tenda de pano oU em coloridas lonas, com espetáculos de

gosto chamado duvidoso, como a elite crítica se acostumou a rotular. O circo é

hoje um empreendimento capaz de ser lucrativo, bem sucedido, e de passar por

tantas metamorfoses quantas foram necessárias para sobreviver. Mas jamais

abriu mão de sua identidade.

Dos chamados espetáculos ao vivo, o circo é o que reúne maior público

de forma constante e sistemática. Nenhum outro atinge tantas pessoas em contato

direto. Dois mil lugares é a lotação de um circo médio, com dois mastros. Os

pequenos têm duzentos lugares, para um mastro central. Com quatro mastros o

circo chega a quatro, cinco mil lugares. Meia casa, significa duas mil pessoas. Isto

é raro numa temporada de circo grande que só para em boas praças. Que

espetáculo hoje pode dar oito sessões semanais com esta média de público, e

atuar o ano todo praticamente sem interrupção?

A principal contribuição que pretendo prestar com este trabalho

à

pesquisa organizacional é a de inserir o circo na discussão que hoje se faz sobre

os rumos da organização e do trabalho para o próximo século e fazer ver aos que

se dedicam ao estudos das organizações que o circo pode ser uma das lentes

pelas quais se poderá olhar para estas questões.

1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

São inúmeros os trabalhos publicados nas últimas décadas, na área da

teoria das organizações, que buscam encontrar elementos que contribuam para

que se possa compreender os rumos que deverão tomar as organizações que

(21)

neste conturbado período de transição política, econômica e social por que passa

todo o mundo num acelerado e complexo movimento de globalização, a tentativa

de identificação daqueles elementos em organizações de diversas naturezas,

exatamente por causa das peculiaridades de cada uma delas.

É importante considerar que a busca por um modelo ideal, não é a tônica

destes trabalhos. Até porque, as peculiaridades de cada organização constituem o

centro das atenções desses estudiosos, principalmente aquelas que

tradicionalmente foram descartadas da observação mais atenta por estarem

distantes dos padrões convencionais, oriundos do modelo gerado pelos

pressupostos de uma sociedade de base industrial.

Notáveis contribuições à análise organizacional têm sido resultado

destes novos olhares. Talvez as tendências que mais se adeqüem às observações

que faço do circo, sejam as que partem da constatação de que alguns modelos

embora datados, sobrevivem ainda no interior de determinadas estruturas e não

tendem a desaparecer por completo. Em muitos casos convivem numa mesma

estrutura e não necessariamente se anulam. A noção de sistema, implícita nesta

abordagem e que no século XX foi tão importante para as ciências sociais, penetra

o estudo das organizações e nos fazem a nós, observadores menos radicais

quanto às mudanças paradigmáticas.

O que é fato e que se pode constatar neste fim de século, é que modelos

organizacionais rígidos e complexos demais, com muitos estratos hierárquicos,

oriundos diretamente do modelo proposto pela cultura industrial, dificilmente serão

capazes de enfrentar as grandes e constantes mudanças pelas quais passa o

mundo em tempos de globalização. Um mundo caracterizado pelas tentativas de

se abolir fronteiras, que trabalha com a informação em tempo real, que robotiza

seus processos de produção industrial, acaba por exigir leveza de estrutura em

(22)

mudanças e competências gerenciais capazes de operar com seu contingente

humano e com a tecnologia, sem abrir mão de sua identidade e produtividade. Um

mundo que exige das organizações a adaptação constante como um permanente

estado de mudança.

É dentro desta perspectiva que vejo o circo como objeto de pesquisa no

campo da administração: uma instituição capaz de sobreviver por séculos, sem

grandes alterações em sua estrutura, certamente adaptando-se às mudanças

constantes, sejam elas espaciais, culturais ou temporais, com habilidade baseada

em estratégias que pouco conhecemos.

O circo é o exemplo típico de uma organização que concilia em seu

interior elementos organizacionais pré-fordistas, herdados das corporações de

ofício, das troupes de saltimbancos do início da Era Moderna, dos tempos

anteriores à Revolução Industrial, com toda a tecnologia necessária hoje aos

grandes espetáculos de entretenimento. Concilia os dois paradigmas - pré e pós

fordista - sem desmerecer sua matéria prima de maior valor: o ser humano,

detentor do conhecimento, aprendiz permanente de sua arte e mestre dos que o

sucederão.

Hoje, sobrevivente e plenamente inserido no mercado de prestação de

serviços em entretenimento, é uma instituição sui generis, da qual se originam

organizações lucrativas e, que certamente tem muito a ensinar sobre si mesma,

sobre sua grande caminhada para a imortalidade.

Para penetrar neste universo, como aquele em que o circo está

circunscrito recorro aos teóricos que buscam leituras alternativas às análises mais

usuais. Procuro, sobretudo, proceder a uma análise institucional que me leve a

identificar os fatores relevantes aos quais possa atribuir responsabilidade pela

(23)

liA distinção entre instituição

e

organização, é -quase sempre muito difícil de ser feita, basicamente porque do ponto de vista administrativo chegam

a

ser

consideradas inseparáveis" (Zajdsznajder,1986). Entretanto, a análise

organizacional recorre aos dois focos de análise. Selznick alerta para o fato de

que os grupos dificilmente se identificam como instituição ou organização. Estarão

sempre apresentando uma mistura de características de uma e de outra (Selznick,

apud Netto,1987:612)4. Instituição e organização são situações extremas. As

empresas podem aproximar-se de um ou de outro lado, "dependendo de como

responde no dia-a-dia aos desafios, pressões e demandas do ambiente" (Netto,

1987: 612)5. Foi justamente seu interesse pela dinâmica das organizações que

motivou Selznick a tratar do conceito de instituição.

Netto, (1987: 612)6 no Dicionário de Ciências Sociais editado pela

Fundação Getulio Vargas utiliza a definição de Selznick que entende que o

conceito de instituição deve ser aplicado aos grupos que por razões próprias a sua

dinâmica adquirem um "significado especial para os seus membros e para a

comunidade que constitui

o

seu ambiente. Passam

a

ser valorizados por eles

mesmos

e

não apenas por sua funcionalidade como instrumento para

a

realização". Observando o circo da perspectiva institucional, estarei voltada para

as dimensões valorativas que compõem sua identidade, ou seja, a imagem que

veicula, "sua forma de agir e reagir, o valor fundamental que afirma e a qualidade

que expressa" (Zajdsznajder , 1985: 39)

"Os valores são ideais coletivos que definem, numa dada sociedade os

critérios do desejável. (. . .) Eles formam

o

que se chama "sistemas de valores",

4 Antonio Garcia de Oliveira Netto é autor do verbete Instituição do Dicionário de Ciências Sociais editado pela Fundação Getulio Vargas, sob a coordenação geral de Benedicto Silva.

(24)

12

organizando-se para formar uma certa visão do mundo" .(Étienne,

J.

et allL,

1997:310). As organizações tem seus próprios sistemas de valores,' que como os

de qualquer sociedade são básicos para sua identificação. As alterações que se

processam nesses sistemas são lentas e implicam em mudanças radicais

naquelas estruturas. O mesmo acontece nas instituições e é nas organizações

que estes valores vão se externalizar.

Conhecendo os valores de uma organização podemos conhecê-Ia

melhor. Uma organização moderna, preocupada com sua preservação e com sua

inserção no mercado procura manter coesos e consistentes seus valores. Acredito

que o circo fez o mesmo ao longo de sua existência. Certamente, ao identificar os

valores, poderei dispor de melhores elementos para caracterizar a instituição.

Revelar, portanto, a identidade da instituição circense, levará a conhecer

os valores que a fundamentam e contribuem para que se estabeleçam padrões

de liderança e poder que acabam por se manifestar nas estruturas, nos processos,

na cultura, no produto e nas estratégias de sobrevivência das organizações.

Tradição será o primeiro valor a ser examinado pois seu significado

remete-se às mais remotas origens do circo que estão na família, na transmissão

e no uso do conhecimento. Tradição é um valor que permeia e interage com

todos os outros e em nenhum momento pressupõe o imobilismo ou a cristalização

das estruturas ou das práticas. É um valor referenciado para autodefinir um

circense quando quer explicitar duas coisas: sua origem herdada de muitas

gerações nascidas e vividas em circo e, ter aprendido seu ofício e desenvolvido

seus conhecimentos no seio da família a que pertence.

Ser tradicional significa pertencer a uma forma particular de fazer circo, significa

ter passado pelo ritual de aprendizagem total do circo, não apenas de seu

número, mas de todos os aspectos que envolvem sua manutenção. Ser

tradicional é, portanto, ter nascido e ter transmitido, através das gerações, os

valores conhecimentos e práticas, resgatando o saber circense de seus

(25)

sociais e de trabalho, sendo a família o mastro central que sustenta toda esta

estrutura. (Silva, 1996: 56)

o

segundo valor, diretamente ligado ao primeiro pode ser bem

identificado no texto de Silva (1996: 47)

é

a família, presente desde sua mais

remota origem:

A forma de organização familiar e de aprendizagem constituem um suporte,

garantindo que cada circense tivesse noção da totalidade de seu universo,

e

da

sua individualidade como parte de um todo. O núcleo familiar circense,

ao

mesmo tempo que tem sua constituição idêntica aos outros grupos familiares, incorpora uma outra familiaridade - o conjunto das outras famílias que

compartilham do mesmo saber secular e iniciático.

Toffler em seu livro: Les nouveaux pouvoirs (1991) no capítulo sobre A

firma flexível, remete-se às empresas familiares do futuro, discutindo a

organização de base familiar e a forma familiar, como proposta para uma estrutura

simples e flexível. Embora o conceito de família no circo seja talvez mais amplo

que aquele considerado por Toffler, é nas relações que reproduzem uma estrutura familiar que reside o núcleo essencial da empresa circense.

O conhecimento, ou o saber é o maior valor no circo. Seu peculiar processo de transmissão permanente, envolve e compromete a todos. Objeto do

interesse dos estudiosos das organizações contemporâneas, o conhecimento é

hoje considerado um valor fundamental para as organizações que deverão estar

preparadas pra enfrentar as permanentes mudanças que caracterizam o mundo

contemporâneo. O instigante reside na seguinte questão: o conhecimento é o valor máximo no velho e no novo circo.

Diretamente vinculada à tradição e ao conhecimento está a maestria.

Saber fazer, fazer de forma única e inimitável é peculiaridade do circo. Domínio e desenvoltura na execução de um número são pressupostos básicos para que um

(26)

pai, o que forma, o que deixa sua marca. O artista é o que ele consegue ir para

além do que lhe foi ensinado.

Senge (1995, p 182) caracteriza maestria como uma disciplina a ser

desenvolvida nas chamadas organizações de aprendizagem e diz: "Maestria como

usamos a palavra hoje, reflete ma Ttre. Significa a capacidade não apenas de

produzir resultados, mas também de dominar os princípios que subjazem o modo

de produzir resultados".

Esta é a ótica pela qual devo examinar esta dimensão, buscando os

princípios subjacentes e as suas manifestações que acabam por ser o meio pelo

qual o circo vende sua imagem.

A itinerância é outro valor que devo considerar nesta análise.

Diferentemente dos tradicionais enfoques dados a esta especificidade do mundo

circense não usarei o conceito de nomadismo? Considero que nômades são

grupos que por essência se organizam de forma tribal, seguem um líder e têm

como referência o movimento contínuo

e

permanente. Embora organizados

internamente, vivem em função do que poderão vir a encontrar e que lhes venha a

ser favorável à sobrevivência.

o

circo, é geralmente considerado nômade por não se atentar para estas

peculiaridades. O circense não vive de forma tribal, mas familiar, em função do

ofício. É dono de uma liberdade que se manifesta de forma individual e nuclear.

Circula entre grupos mais do que com seu próprio grupo, como os nômades. Sua

fidelidade é ao circo, entidade, instituição, identidade. Não é à organização à qual esteja eventualmente vinculado. Traça seus trajetos em função dos pontos onde

pretende aportar. Não tem o movimento como um pressuposto; tem o destino. E é

? Um notável estudo sobre nomadismo pode ser encontrado no número especial entitulado:

(27)

por isto que pode trabalhar nos mais diversos tipos de espaço, fixos ou móveis.

Circula em função deles e do espetáculo que- possuem e são capazes de

apresentar, independente das condições que encontrem. Para apresentar seu

produto, criam as condições; não dependem delas.

Esta condição de itinerantes está tão profundamente arraigada à idéia de

circo que acabou por ser tratada como nomadismo, devido aos pontos de

convergência entre os dois conceitos. No entanto, se considerar nômade o circo,

devo considerar também características que não o identificam. Talvez o que de

mais relevante apareça nesta distinção seja a questão da liberdade. O artista

circense é dono de si mesmo. Trabalha onde quiser e puder. Há sempre soluções

individuais ou grupais possíveis. Portanto, mantenho a distinção que faço, para

considerar esta itinerância como um valor sobre o qual se alicerça a instituição.

No artigo: O que se pode aprender com o circo, Vergara (1994) propõe:

o

que se pode aprender com o circo? Tudo, mas sobretudo, como construir

uma organização em que todos raciocinem, pensem, ajam; em que descobertas grupais e solução conjunta de problemas complexos sejam a ênfase; em que se perceba a complexidade das interações; em que o raciocínio dominante seja o sistêmico; em que a tensão existente seja a criativa; e na qual haja compartilhamento de valores e objetivos, ao qual se chega por engajamento, energia, paixão, empolgação, fé. Elementos desagrega dores sempre existirão,

mas eles fazem o contraponto que mantém viva a organização.

Estas considerações remetem a um novo conceito de organização no

qual posso identificar paralelos com o que demonstram os teóricos

contemporâneos que buscam imagens e referenciais teóricos que expliquem os

rumos das organizações no limiar do século XXI.

Quanto ao aspecto organizacional, os estudos sobre as novas

tendências concentram-se sobre alguns conceitos básicos: a circulação rápida e

ampla da informação; as estruturas mais simples, mais ágeis e competentes; a

profunda coerência da organização com o seu tempo e a mais profunda relação

(28)

questões como a evolução da informática, da integraçãó em redes mundiais de

comunicação, de capacitação de pessoal, da interrelação entre as pessoas e as

organizações; em constantes discussões sobre generalistas e especialistas e seus

papéis na organização, sobre o conceito de flexibilidade e sobre as inevitáveis

reavaliações das concepções clássicas de organização. Procuram, também,

estabelecer paralelos e encontrar imagens que expliquem as novas tendências

organizacionais.

Observar o circo sob o aspecto organizacional deve portanto abarcar

todos esses fatores. Assim a dimensão organizacional será examinada a partir da

estrutura, dos processos e do produto circense, procurando compreender como

esses fatores se manifestam nas organizações circenses.

Desta forma, será possível perceber em que medida os valores

institucionais chegam às organizações e como interferem em seu formato atual.

1.5 QUE CAMINHOS TEÓRICOS PERCORRER?

Minha observação sobre o circo, me faz perceber que organizações

oriundas de uma instituição assim conformada não serão explicadas por um único

modelo de análise, mas por vários. Assim, procuro encontrar recursos analíticos

em diferentes fontes.

Estudando modelos e teorias de mudança organizacional, Paulo Roberto

Motta, alerta para o fato de que mesmo os mais sólidos modelos apresentam-se

imperfeitos nesses casos, devido a própria "fragilidade de suas bases conceituais".

Estudar a mudança não é só procurar unidade e coerência entre modelos, mas

enriquecer-se no conhecimento de suas variedades, superposições e

complementações. Todos os modelos são parciais mesmo quando se

apresentam como genericamente válidos; todos são necessários mesmo

(29)

o

circo sobrevivente, mutante e permanente, produzindo arte e

entretenimento fora dos padrões de empresa da era industrial passa por essa

dificuldade ao ser analisado. Sua inserção no mundo produtivo não se dá por

padrões uniformes e sim particulares e isso exige certo cuidado ao observá-lo

mesmo que se considere que como qualquer empresa capitalista, vise

lucratividade e necessite do mercado para viver.

Quando Guerreiro Ramos propôs uma abordagem substantiva das

organizações (Ramos, 1989), procurava uma reformulação da teoria organizacional

baseado na premissa de que a unidimensionalização da análise organizacional

fundamentada na dimensão mercadológica não permitia que se vislumbrasse

qualquer outra forma de inserção simbólica da organização com a realidade. Ao

contrário, demonstra ao propor seu modelo multidimensional, (Ramos, 1989) que

o mercado é apenas um dos aspectos sob os quais se pode olhar um sistema

social. Afirma que a sociedade é constituída de diversos enclaves e que o

mercado é apenas um deles. Portanto, podemos perceber que utilizar o mercado

como categoria básica para se proceder à análise organizacional é unidimensionalizar a análise e, conseqüentemente, incorrer em dois graves erros:

deixar de fora uma série de organizações que não têm a mesma relação com o

mercado, ou procurar sempre encontrar uma explicação mercadológica para todos

os fenômenos organizacionais.

Sem desvalorizar a inserção do circo no mercado, uma vez que estarei

tratando de organizações que precisam sobreviver dessa relação, procuro manter

nesta análise uma amplitude maior de possibilidades. A visão unidimensional

impregna a visão de muitos autores e pode ter inibido a produção intelectual sobre

o assunto. Talvez por isso os trabalhos teóricos brasileiros, raramente abordam o

circo como tema central, preferindo utilizá-lo como intermediador de análises.

(30)

utilizado para identificar uma forma de lazer barato do trabalhador ou um

espetáculo de periferia próprio de grupos de baixo poder aquisitivo. Isto parece

explicar porque só os pequenos circos foram objeto destas análises e os grandes,

desprezados. Em sua maioria o circo aparece como objeto central quando tema

dos memorialistas, dos críticos de espetáculo ou de sua estética. Ademais só em

teses de mestrado e doutorado bem recentes no campo da história encontrei

novos 0lhares.8

Determinadas organizações, como o circo por exemplo, foram

desprezadas, como se não existissem ou como se não chegassem a contar, a ter

peso para o mercado. Seguindo estes princípios, Serva em seu artigo: O

fenômeno das organizações substantivas (1993) empreende justamente a busca

de um novo referencial e encontra no paradigma da complexidade bases para

tentar este reconhecimento. Encontro neste tipo de organização muitas

identificações com a organização circense como: a extrema ligação de seus

membros com seus ideais, a flexibilidade hierárquica, o reconhecimento da

individualidade de seus membros, a espontaneidade na assunção de

compromissos e a capacidade de autocontrole.

Ao definir as organizações substantivas, alvo de sua pesquisa, Serva

(1993) trata de organizações específicas que parecem se formar quase que

espontaneamente nos mais diversos lugares, à partir de indivíduos que se reúnem em torno de ideais e princípios. Estes elementos determinam a ação conjunta

muito mais comprometida com políticas sócio-organizacionais que com o

"estatuto sistêmico da sociedade burocratizada."

8 Sobre o primeiro aspecto, estou fazendo referência aos textos de Magnani (1984); Montes (1983)

(31)

Sua preocupação com a busca de novos referenciais fica claro quando

afirma que tentar aprofundar as análises organizacionais baseadas nos

instrumentos oferecidos pelas teorias organizacionais não responderia às

necessidades que hoje se delineiam quando se tenta compreender as

organizações substantivas. Um estudo sobre o circo passa pela mesma

dificuldade.

Assim, acredito que no paradigma da complexidade, desenvolvido por

Morin (1996) encontro um referencial bastante adequado a essa análise. Além de

permitir boas condições de análise das organizações substantivas adequa-se às

inferências sobre a própria "ambiência global pós- moderna" (Serva, 1993) O

paradigma da complexidade pode ser uma ótica possível para a análise da

organização circense, justamente porque concilia características até certo ponto

desconsideradas.

Morin (1996:138) demonstra que o pensamento complexo, foge da

simplificação dos modelos unidimensionais, pois são simplistas e mutiladores. A

complexidade não implica em ser completo, mas implica em não ser mutilador,

parcial. Assim, se nos consideramos que para a compreensão do ser humano

precisamos nos considerar como seres "simultaneamente físicos, biológicos

sociais, culturais, psíquicos e espirituais", percebemos que a complexidade

consiste em proceder a "articulação, a identidade e a diferença entre todos esses

aspectos, enquanto o pensamento simplificador ou separa estes diferentes

aspectos ou os unifica através de uma redução mutiladora".

Portanto, neste sentido é evidente que a ambição da complexidade é relatar as

articulações que são destruídas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias

cognitivas e entre vários tipos de conhecimento. De fato, a aspiração à

complexidade tende para o conhecimento multidimensional. Não se trata de dar

todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas de respeitar as suas

diversas dimensões ( .. .) Dito isto, o pensamento complexo, não deixando de

aspirar à multidimensionalidade, comporta no seu cerne um princípio de

(32)

Fundamentado no pensamento sistêmico o olhar complexo sobre a

realidade pressupõe a. interligação e a interdependência entre diferentes fatores,

resguardadas as peculiaridades do objeto. Longe de uma receita, ou um "modelo"

no sentido clássico do termo, como uma camisa de força, ao qual deve

enquadrar-se o objeto estudado, o pensamento complexo permite que enquadrar-se recorra a todas as

interfaces do objeto e se valorize suas particularidades.

o

paradigma da complexidade não produz nem determina

a

in teligibilida de.

Pode somente incitar

a

estratégia-inteligência do sujeito investigador

a

considerar

a

complexidade do problema estudado. Incita

a

distinguir

e

fazer

comunicar em vez de isolar e de disjuntar, a reconhecer traços singulares, originais, históricos do fenômeno em vez de ligá-los pura e simplesmente a

determinações ou leis gerais, a conceber a unidade - multiplicidade de toda a

entidade em vez de a heterogeneizar em categorias separadas ou de

homogeneizar numa totalidade indistinta. Incita a dar conta dos caracteres

multidimensionais de toda a realidade estudada. (Morin, 1996:256)

Considerando que uma das mais relevantes particularidades do circo é o fato de ter uma enorme capacidade de adaptação que provavelmente o levou a

sobrevivência e convivência com diferentes modelos organizacionais ao longo de

séculos, creio que nenhum modelo se adeqüe a sua compreensão. No paradigma

da complexidade encontro a possibilidade de interrelacionar diferentes dimensões

do objeto e de recorrer a diferentes olhares para compreender essas

inter-relações.

Assim é possível fugir de determinantes mutiladoras como a que tão habilmente revela Guerreiro Ramos quando trata o mercado como um enclave da

sociedade, permitindo que se observe as organizações para além das amarras

determinantes da relação organização e mercado. Vale ressaltar a impressionante

atualidade dessa afirmação, sobretudo quando se trata de questões relativas às

organizações de cunho artístico e cultural como é o caso do circo.

Para Drucker (1989), estamos vivendo hoje o devenir da organização

(33)

auto-organizada e onde a livre circulação da informação promove a realimentação

necessária. Antecipa uma radical diminuição de níveis administrativos em

qualquer grande organização. Estabelece relações entre esta organização que

assim se estrutura e modelos de organização como a orquestra sinfônica, o

hospital e a universidade.

Aí se pode estar incluído o circo. Drucker (1989) define a estrutura de

uma organização fundamentada na informação como detentora de uma estrutura

mais plana e, portanto, bem diversa das que hoje compõem os órgãos públicos ou

as grandes empresas. Compara estas estruturas altamente hierarquizadas onde o

conhecimento se encontra na cúpula que tudo decide, com as OFI onde o

conhecimento é um bem de cada especialista, que assim pode dirigir-se a si

próprio envolvendo-se em diferentes tarefas. Chega a afirmar que estas

organizações estão mais próximas daquelas anteriores ao grande processo de

industrialização do século XX , que das atuais.

Da mesma forma que Drucker procura nas organizações de cento e

cinqüenta anos, isto é aquelas que ainda guardam as características anteriores

aos modelos impostos pela Révolução Industrial, paralelos com a organização do

futuro, posso pensar o circo como uma legítima herdeira das corporações de

ofícioQ

sobrevivente por séculos, que mantém resguardadas características

chaves de uma organização baseada no conhecimento e na informação. Uma das

questões que mais apontam para isto é o fato das corporações serem núcleos de produção e aprendizagem baseadas na herança familiar e na transmissão direta

Q Refiro-me às corporações de Ofício que foram grupamentos de trabalhadores urbanos, (artesãos

(34)

do conhecimento. Observando estas corporações com olhos voltados para as

bases de sua tão longa sobrevivência, poderia talvez ampliar conceitos e resgatar

elos perdidos para um mais amplo entendimento da organização contemporânea.

Wood Jr, (1992) procurando entender as questões ligadas à mudança

organizacional, aponta como Maurício Serva (1993), para a mesma questão: a

maior dificuldade reside em encontrar um corpo teórico que se adeque às

situações de mudança tão rápidas e complexas como as que vemos hoje nas

organizações. Mostra ainda como Peter Orucker e Gareth Morgan apontam para

novos referenciais quando buscam a compreensão do processo de mudança.

Considerando os autores que o paradigma de base newtoniana

-cartesiana tornou-se limitado para a compreensão do fenômeno organizacional no

mundo hoje, caracterizado pela velocidade das mudanças. Consideram, também,

que de outras áreas do conhecimento humano surgem perspectivas que apontam

para uma nova visão de mundo. Assim, propõem mais uma via de observação: o

paradigma holístico. A presença do todo em cada parte, a interrelação e

interdependência entre elas como base do entendimento do que seja olhar de

forma holística a questão, levam-me a ver com clareza que podemos contar com

este olhar para compreender a organização circense.

Gareth Morgan em seu livro Imagens da organização (1996) utiliza

diferentes metáforas para compreender as organizações. Entre as metáforas que

utiliza, compara determinadas organizações com o cérebro humano para afirmar

que o cérebro, assim como as organizações, pode ser compreendido como um

sistema de processamento de dados ou como um holograma. Desta forma, as

informações se articulam e se auto-organizam, mantendo o funcionamento das

partes conectadas com o funcionamento do todo numa interrelação complexa.

Morgan caracteriza as organizações como sistemas de processamento

(35)

refletir os princípios holográficos. Funcionando desta forma, as organizações são

capazes de se auto organizarem e criar sistemas de realimentação constantes,

capazes de corrigir rumos e estarem sempre prontas a enfrentarem as novas

situações, atuando sempre na medida das necessidades que se apresentam.

Esta metáfora se adequa

à

compreensão da organização circense em

qualquer momento de sua existência. Identifica e aponta as mais relevantes

competências desenvolvidas pelo circo: sua grande capacidade de adaptação, a

constante alternância de papéis dentro da organização, as diferentes instâncias de

decisão, e sua permanente reestruturação.

Organizações que tem a capacidade de se adaptar e se reestruturar

diante das exigências da realidade são organizações em permanente processo de

aprendizagem. Senge (1998) estuda as disciplinas do aprendizado organizacional

que permitem o enfrentamento das constantes situações de mudança. Esse

processo de aprendizagem organizacional de baseia na idéia de que o maior

patrimonio de uma organização contemporânea reside nas pessoas, no

conhecimento que elas posuem, na capacidade de se manterem atualizadas e

criativas.

No circo, o conhecimento e as habilidades são o real patrimônio das

organizações e dos indivíduos. Esse patrimônio intangível (Sveiby, 1998)

constituiu para o circo uma sólida base sobre a qual as organizações apoiaram-se

para sobreviver e resistir as dificuldades que enfrentaram. Independente do

tempo, das tendências e dos modismos, o conhecimento nunca se perdeu ou foi

substituído por outro valor maior.

Sobre essa capacidade de se manter vivo e bem sucedido por um longo

tempo, Collins e Porras (1998) em sua pesquisa sobre as empresas visionárias,

ou seja, aquelas "feitas para durar", percebem que a sobrevivência e o sucesso

(36)

da vida da empresa. Mostra que mais importante que um ou outro produto de

. sucesso, a instituição é o que de mais relevante foi construído. Poderia inferir que

estes autores estão falando do circo.

Partindo dessa idéia, pude pressupor que as dimensões institucionais

relevantes que identifico na organização circense estariam presentes nas

organizações e que representariam fator importante para sua sobrevivência.

Perceber isso foi o que busquei.

Pela ótica da complexidade, procuro caminhos que podem ser os

daqueles que buscam novos referenciais para entender novas organizações,

assim como as organizações que se renovam e se mantém com sucesso.

Em duzentos anos vimos valores cristalizarem-se como se nunca mais

pudessem ser abalados e caírem por terra como um castelo de cartas. Muitas

organizações desapareceram por não suportar as mudanças. Outras resistiram e

têm muito a ensinar. Entretanto, algumas sobreviveram a tudo isso, sem ter

entrado no redemoinho de construção e desconstrução do paradigma industrial. O

circo é uma delas. Procuro saber porque. Encontraria nesta sobrevivência boas

indicações dos caminhos a seguir no futuro?

1.6 A METODOLOGIA

Para a realização da pesquisa contei com diferentes fontes e com

agradáveis surpresas. Inicialmente pensei que faria uma pesquisa exploratória,

uma vez que a literatura disponível não tratava diretamente das questões que

pretendia abordar. No entanto, acabei por me deparar com um enorme quantidade

de informações esparsas nos textos e nos depoimentos a que tive acesso.

Assim pude ter acesso a oito longos depoimentos gravados em 1989 e

em 1990 com professores da Escola Nacional de Circo, para o acervo de História

(37)

memórias, teses e análises, artigos e entrevistas de jornais e revistas, além de

alguns acervos pessoais. Realizei, também, entrevistas com os circenses: Luis

Olimecha, empresário e gerente do circo Thiany; com Robby Rethy Jr,

malabarista, empresário e diretor artístico da Escola Nacional de Circo; Edna

Ozon, artista aposentada; Humberto Braga, diretor do departamento de Artes

Cênicas da FUNARTE; Alice Viveiros de Castro, atriz, sindicalista,

ex-representante da área de circo no Conselho Deliberativo da Fundação Nacional de

Artes Cênicas e, atualmente dirigente do Instituto Acrobático do Brasil. Estas

entrevistas vieram complementar e esclarecer as questões tratadas nos textos.

Além das entrevistas e da pesquisa documental, contei com minhas

observações pessoais oriundas de uma experiência de seis anos como

Coordenadora da Escola Nacional de Circo, quando pude conviver de perto com o

universo circense. Durante esse tempo tive contato pessoal com inúmeros

circenses do Brasil e do exterior que renderam horas de conversas e

ensinamentos. Tive, nesse período a oportunidade de acompanhar de perto

várias temporadas de circo na Praça Onze. A temporada carioca do Circo Mágico

Thiany, em 1988 foi sobretudo valiosa, pois aconteceu no momento em que já

afastada da Escola de Circo, concluía a primeira versão desta dissertação.

O processo de observação que empreendí, foi bastante diferente do

olhar de um etnógrarafo, mas de alguém não circense, porém, envolvida neste

universo por muitos anos. Todos estas vias de acesso, permitiram uma grande

aproximação com o tema e foram igualmente úteis, embora muitas vezes pela

crítica que me permitiram fazer.

Assim, esta é uma investigação explicativa onde procuro "esclarecer

quais fatores contribuíram, de alguma forma, para

a

ocorrência de determinado

fenômeno" (Vergara, 1997: 45). Neste caso, a proposta é a de reconhecer nas

(38)

razões da sobrevivência do circo. As organizações ( as empresas ) circenses

e"mboradiferenciadas entre si em aspectos como: tamanho, capacidade de

investimento, inserção no mercado, quantidade de pessoas que emprega, público

que atinge, forma de ser administrada, são reconhecidas sempre como circo e

seus participantes sentem-se integrados a um mesmo universo, como se fossem

todos, maiores e menores, ricos e pobres pertencentes a uma mesma família,

onde são mantidas vivas a identidade e a cultura circense.

Estes elementos constantes foram observados a partir da ótica da

análise organizacional, e do pressuposto de que embora muito intrincados os

conceitos de instituição e organização precisariam ser metodologicamente

distintos para que utilizando os instrumentos que cada uma das óticas me fornecia

pudesse fazer uma observação mais ampla possível. Para tanto a referência

básica foi o texto de Luciano Zajdsznajder, Um roteiro para a pesquisa

organizacional (Zajdsznajder, 1984 ), que propõe que a pesquisa organizacional

deve ser feita em dois níveis: o organizacional e o institucional, alertando para o

fato de que embora seja concebível, e às vezes necessário, que se trate cada

nível de forma autônoma e separada, são eles de fato inseparáveis, o que jamais

deve ser ignorado. (Zajdsznajder, 1984)

Utilizei muitos dos conteúdos por ele apontados embora não todos.

Arbitrei escolher apenas aqueles que julguei relevantes para o tema que propus.

Procurei meios de proceder uma análise em profundidade sem muita amplitude e

abrangência. Deixo de lado, portanto, algumas possíveis análises que optei por

não fazer, uma vez que a irregularidade nas informações e a ausência total de

determinados dados levariam a pesquisa para outro rumo que preferi não seguir.

A título de exemplo, não tive acesso a borderôs, para ter noção de quais eram as

reais despesas e receitas de uma temporada. Não me adiantaria nada

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