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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADEMINCA E DE PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O VELHO-NOVO CIRCO:
UM ESTUDO DE SOBREVIVÊNCIA ORGANIZACIONAL PELA PRESERVAÇÃO DE VALORES INSTITUCIONAIS
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À
ESCOLA BRASILEIRA DE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
MARTHA MARIA FREITAS DA COSTA
CENTRO DE FORMAÇÃO ACADEMINCA E DE PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O VELHO-NOVO CIRCO:
UM ESTUDO DE SOBREVIVÊNCIA ORGANIZACIONAL PELA PRESERVAÇÃO DE VALORES INSTITUCIONAIS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR MARTHA MARIA FREITAS DA COSTA
E
APROVADA EM
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PELA COMISSÃO EXAMINADORAProfe;;s"of Doutor Sérglo Proença Leitão
Professor outor Paulo mílio Matos Martins
o
CiRCO
(Sydney Mil/er)
Vai, vai, vai
começar a brincadeira
tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem
ver o circo de verdade
Tem, tem, tem
picadeiro e qualidade ( ... )
garantindo a sobrevivência de sua arte e honrando o nome de sua dinastia
Em memória do artista e professor Abelardo Pinto que por quatro
anos conversou comigo dia após dia sobre circo, sobre sua família e que
foi meu grande mestre na difícil tarefa de coordenar a Escola Nacional de
Circo e que saiu de cena, brilhando, como sempre viveu.
Ao Renato, meu filho/irmão, um artista e um anjo.
A Pedro, Isabel e Beatriz, alegria e razão da minha vida, para que
tudo isso um dia faça sentido.
No espetáculo circense há uma figura indispensável à perfeita realização de um número: o cuidador. Os cuidadores são pessoas que embora artistas e
muitas vezes estrelas de alguns números, entram em cena durante a apresentação
de um companheiro apenas para cuidar. São pessoas capazes de tudo para garantir
a integridade física do artista que se arrisca em cena. Evitam os acidentes,
amparam, dão garantia na hora de um salto arriscado. E o artista sabe que sua
ação, quando necessária é incondicional.
Durante o tempo em que escrevi esta dissertação várias vezes me ví
diante de situações das quais jamais sairia sozinha. E como no circo tive o privilégio
de estar cercada por muitos cuidadores, da maior qualidade. A eles, sobretudo, devo
o fato de ter estado de pé, em equilíbrio, até o final.
À Professora Ora. Sylvia Constant Vergara, minha orientadora, devo todos os cuidados. Por sua causa nunca desisti. Sua segurança, seu entusiasmo e sua
competência foram alicerces fundamentais para que eu pudesse superar todas as
etapas, algumas muito difíceis deste trabalho.
Inês, Carlos e Vera meus irmãos; Valéria e Martinelli, os outros dois
mosqueteiros; Luiz Paulo e Maria Lúcia, meus tios, Mauro, cúmplice: a eles devo a
mais absoluta solidariedade e ajuda em momentos cruciais. Roberto e Basu, meus
pais; exemplares, presentes, me ajudaram sempre e me ensinaram
responsabilidade, compromisso, amor ao trabalho, dignidade, seriedade. Me deram
afeto e segurança.
Agradeço a todos aqueles que entrevistei ou que tive oportunidade de
conversar durante a pesquisa, pessoas que me contaram suas vidas, voltaram no
tempo, sofreram, riram e lembraram. Em especial, a Luis Olimecha, artista,
sindicalista, produtor, diretor de circo, além de fundador e primeiro diretor da Escola
Nacional de Circo, a Roger Avanzi, palhaço Picolino e a Edna Ozon que me
contaram algumas das mais emocionantes histórias de vida que ouvi, arquivos
brilharam. Agradeço, também, a Humberto Braga, Diretor do Departamento de Artes
Cênicas da FUNARTE e a Alice Viveiros de Castro, pela disponibilidade em
conceder-me longas entrevistas.
Agradeço a todos os professores da Escola Nacional de Circo com quem
vivi as mais preciosas experiências de aprendizagem de todo esse processo. Em
especial a Robby Rethy Jr, malabarista "ítalo/húngaro/hispano/brasileiro" que com
seu inconfundível sotaque de legítimo circense me ensinou os segredos da arte de
apresentar um espetáculo e a Maria Delizier Rethy, artista perfeita, mãezona
dedicada a seus filhos artistas e seus artistas filhos.
À Ermínia Silva, historiadora pós-circense, que além de sua dissertação que foi lida, relida, usada e citada mil vezes, foi uma interlocutora excepcional.
Agradeço, ainda, de modo muito especial a Márcia Cláudia, do centro de
Documentação e Pesquisa da FUNARTE que me ajudou e facilitou de todas as
formas o acesso às preciosidades do aceNO que ali se encontra e a Arien, Denise,
Liginha o trio maravilhoso da Biblioteca da Fundação Getulio Vargas, incansáveis,
capazes de encontrar o "inincontrável" para nos ajudar.
À Professora Dra. Deborah Moraes Zouain que nunca me deixou esquecer dos compromissos, facilitando em tudo meu trabalho e ao Professor Dr. Fernando
Guilherme Tenório, por seu apoio e por todas as oportunidades que criou e que
pode ver de perto, na Escola Nacional de Circo, tudo o que eu vivia contando.
Ao Joarez de Oliveira, que da secretaria do mestrado distribui carinho,
incentivo e atenção a todos os alunos e que sem dúvida é o chefe da nossa torcida
organizada.
Agradeço finalmente aos componentes da banca examinadora desta
dissertação, que ao final desse processo ainda me fizeram acreditar que posso
continuar o caminho: Professor Dr. Sérgio Proença Leitão, por seu interesse atenção
e delicadeza e Professor Dr. Paulo Emílio Mattos Martins que tantas vezes partilhou
comigo interesse por temas nada usuais como o que escolhi.
APRESENTAÇÃO
A proximidade da virada do século e do milênio tem sido motivadora de
uma série de pesquisas e de conjecturas sobre as tendências para as organizações
do futuro. As organizações construídas de acordo com o modelo industrial dos
séculos XVIII e XIX atingiram apogeu e decadência no século
xx.
A própria idéia de trabalho e emprego provenientes desse modelo já não se adequam mais àrealidade. Sabemos que o século XXI, marcado por uma cultura pós industrial
delineia uma nova relação com o tempo útil e abre espaço à novos modelos de organizações dedicadas ao lazer e ao entretenimento. Estas serão grandes
empregadoras e geradoras de renda, além de certamente, trazer em sí
peculiaridades em suas estruturas e em seu gerenciamento.
O circo, instituição voltada para o entretenimento, sobrevivente à séculos quase inalterada, surpreende o observador, ao perceber que as empresas circenses,
grandes ou pequenas, mais se aproximam de um modelo que hoje apenas supomos
coerentes com as tendências organizacionais para o próximo século, que daquelas
que até hoje vem servindo como modelo e padrão.
Uma das possibilidades de se tentar compreender organizações como
essa, é a de olhar para outros modelos organizacionais que como o circo, não são
oriundos do modelo industrial e que são donos de uma estrutura leve e flexível, em
que as relações de trabalho não parecem uma dolorosa imposição, mas produto do
conhecimento posto em prática, da criatividade, da participação comprometida de
seus membros.
O objetivo deste estudo, é, portanto, conhecer a instituição circense, suas
dimensões mais relevantes e verificar de que forma essas dimensões chegam as
organizações, configurando-as e definindo suas peculiaridades.
vii
de organizações que longe das imposições do modelo industrialista, conseguiram
manter sua identidade e integridade e que ainda podem vir a tornar-se parâmetro
para o delineamento daquelas organizações com as quais no futuro iremos conviver.
O estudo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro apresenta a
situação-problema, explicita seus objetivos, sua relevância, seus limites e a
metodologia. O segundo, resume a história do circo, suas origens e características
dando especial ênfase à história do circo no Brasil, especialmente aos mecanismos
de adaptação às diferentes situações aí enfrentadas, buscando ressaltar os
elementos caracterizem os contornos que o definem como um circo brasileiro. O
terceiro e o quarto capítulos são dedicados à análise organizacional. O terceiro,
analisa os aspectos institucionais e o quarto os aspectos organizacionais. No quinto
capítulo consolidam-se as conclusões e algumas sugestões de pesquisa delas
decorrentes.
RESUMO
o
objetivo deste estudo foi o de identificar que dimensões institucionaisdo circo preservadas nas organizações, podem ter sido responsáveis por sua.
sobrevivência e capacidade de adaptação diante das inúmeras dificuldades e
adversidades enfrentadas ao longo de sua existência secular.
Dedicada ao entretenimento e à diversão, esta instituição de origem pré-industrial, resguarda características corporativas e familiares. No entanto, sua
estrutura organizacional e suas praticas administrativas aproximam-se das
características hoje consideradas tendências das organizações do próximo século.
Os resultados do estudo mostram que as organizações circenses
guardam características pré e pós industriais. Soube preservar valores e
identidade enquanto utilizou-se de todos os beneficios da contemporaneidade.
Dessa forma, chega ao século XXI, sobrevivente, como uma organização sui
generis e um dos mais bem sucedidos empreendimentos em sua categoria.
Mostra também que num século onde a ocupação do tempo livre com atividades
culturais, de lazer e entretenimento será objetivo de muitas organizações, o circo
pode vir a fornecer bom material de análise.
The aim of this study was to identifie wich factors help to preserve the
circus as an institution. Wich factors may have been important and
responsible for its preservation and survival against ali adversities .
The circus is an institution responsible over the years for entertainment
and has its origins preindustrial era and has both family and coorporation
caractheristics. The organization and practices of the circus today are
considered of the next century.
The results of this study showed that the circus preserve characteristics
pre and pos industriais. The circus was able to preseve values and identity and
also use ali the beneficies of the modern world. It will arrive to the century 21
as a strong and sui generis organization and very sucessfull. The tendency of
ocupy the time with cultural activities place the circus as an excelent material of
analysis.
1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA
1.1 Formulação da situação-problema
1. 3 O Circo como objeto de interesse da administração
1.4 Delimitação do estudo
1.5 Que caminhos teóricos percorrer?
1.6 A metodologia
2 UMA BREVE HISTÓRIA DO CIRCO
2.1 A origem oriental
2.2 A origem ocidental
2.3 O circo moderno
2.4 O circo americano
1 1. 4
8
16
24
29
29
33
36
39
2.5 O circo no Brasil ou O "jeitinho" circense de ser brasileiro 46
3 DIMENSÕES INSTITUCIONAIS ou O CIRCO POR TRÁS DO PANO 67
3.1 A Identidade 67
3.2 Os valores
3. 2.1 A Tradição
3.2.2 A Família
3.2.3 O Conhecimento
3.2.4 A Maestria
3.2.5 A itinerância
72
72
4.1 A rede de comunicações e seus elos: o compromisso. a confiança
e a solidariedade 110
4.2 A estrutura da organização 123
4.3 A Decisão nas relações de poder 139
4.4 Os processos 146
4.5 O produto 158
5 CONCLUSÕES 173
6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES 182
As dificuldades não são superadas com silêncio sobre elas. A prática exige que um passo deve seguir o outro; a teoria deve abraçar toda a seqüência deles. Os novos assuntos constituem o primeiro estágio; a seqüência entretanto, vai mais adiante. A dificuldade consiste em trabalhar no primeiro estágio (novos assuntos) quando já se está pensando no segundo (as novas relações entre os homens).
Bertold Brecht 1
o
presente capítulo apresenta a situação-problema, a relevância, adelimitação do estudo e a metodologia utilizada nesta pesquisa. Reserva uma
sessão especial para a apresentação da idéia de tratar o circo como objeto de
interesse da administração
1.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA
A organização circense, objeto da presente investigação. traz em si
diversos aspectos relevantes e atraentes ao olhar crítico, como qualquer outra.
No entanto, as peculiaridades que fizeram desta organização uma secular
sobrevivente aos imperativos dos diferentes modelos organizacionais que se
sucederam desde que em plena era da Revolução Industrial caracterizava-se o
circo moderno, tal como hoje o conhecemos, instigam certamente a curiosidade
científica.
Sua capacidade de enfrentar as mudanças paradigmáticas que
interferiram nos destinos de organização e mesmo de sociedades, foi sendo
desenvolvida ao longo do tempo com base em determinados parâmetros que,
identificados, poderão apontar caminhos para a análise e conclusões
interessantes aos estudiosos da administração. Aquilo que de mais contundente
salta aos olhos quando se observa a organização ciréense é sua aparente
imutabilidade estrutural durante quase dois séculos. Mesmo as inovações mais
radicais, jamais alteraram os alicerces sobre os quais se ergue a instituição
circense. Há diferenças e especificidades em relação a cada organização
circense, mas elas repousam sobre esses mesmos alicerces. São eles que lhes
garantem integridade e identidade.
Embora haja um expressivo número de circos em precária situação
financeira no Brasil, as grandes empresas circenses estão presentes e atuantes.
Em quase todo o mundo o circo continua sendo um dos mais bem sucedidos
negócios na área de entretenimento. Este aspecto merece atenção especial, um
vez que no final de século XX, as exigências do mercado de espetáculos de
diversão são grandes e mudam rapidamente em função das possibilidades
tecnológicas disponíveis para o embelezamento e a magia dos grandes shows.
Além disso, num mundo onde a circulação da informação em tempo real,
acessível a milhares de pessoas leva a diversão para dentro de casa, os
espetáculos ao vivo deverão ocupar, junto com muito poucas outras opções de
entretenimento, um lugar privilegiado para quem busca alternativas de diversão.
Entretanto, as exigências do público consumidor serão, certamente, muito distintas
daquelas que até hoje conhecemos. Os padrões de gosto e qualidade incorporam
desde já, elementos oriundos da evolução tecnológica e dos efeitos especiais.
Entretanto, não haverá substituto possível para a emoção, a presença do
desafio, do risco, do inusitado, que sempre atraíram platéias. O circo tem tudo isto.
A despeito das previsões mais pessimistas que nos últimos 50 anos
deste século anunciam a morte do circo em todo o mundo ocidental, esse fato não
se concretizou. Sofrendo pressões geradas por inúmeros fatores, o circo vem
sobrevivendo a todas as crises por que passa. Hoje ele está tão vivo quanto
cinqüenta ou cem anos atrás. E porque deveria ser? Que tipo de espetáculo
permaneceu igual por tanto tempo?
Entretanto, o circo que sobrevive, diferente daquele de há cem anos, é
circo de fato e é reconhecido por todos como tal. É, essencialmente, o mesmo que
sempre mobilizou platéias emocionadas, deslumbradas com a maestria e 2 perícia de seus artistas, engasgada de suspense e delirante com o sucesso de cada
número. Este mesmo circo articulado com a realidade que o cerca descobre
sempre formas de superar as crises que se abatem sobre ele. Não sem perdas,
naturais em tempos difíceis, mas com a dignidade herdada das dinastias que lhe
serviram de sustentáculo, ricas de valores e tradições e de séculos de experiência
em enfrentar as diversidades e as adversidades de um mundo que conquistou em
suas longas jornadas.
Hoje, quando o mercado de entretenimento está em plena expansão em
todo o mundo, acirrando a competição entre as diferentes opções de diversão,
percebo que as organizações, as empresas circenses de grande e médio porte
encontram um novo lugar. Se as inúmeras transformações por que passaram não
atingiram a essência de sua identidade, a tornaram capazes de permanecer em
dia com o seu tempo.
Como o circo foi capaz de enfrentar tantas situações adversas e crises
constantes? Que dimensões institucionais teriam sido preservadas pelas
organizações circenses, contribuindo para a sua sobrevivência e permanente
renovação? Responder a essas perguntas é o objetivo dessa dissertação.
De que forma poderei então reconhecer este caráter, esta identidade?
Para responder, escolho o caminho ainda pouco explorado das teorias da
administração, embora reconhecendo que vivendo à margem dos processos formais e reconhecidos de produção, o circo não se encaixa em nenhum modelo
1. 3 O CIRCO COMO OBJETO DE INTERESSE DA ADMINISTRAÇÃO
O circo sempre exerceu fascínio sobre jornalistas, cronistas,
memorialistas, romancistas, dramaturgos, músicos e cineastas. Mais
recentemente, tem estado presente como tema em teses e dissertações em
antropologia, história e artes cênicas. Embora no Brasil a produção literária,
dramatúrgica, cinematográfica e acadêmica sobre o assunto seja ainda inferior
à
européia e à americana, a produção nacional fornece importantes dados ao
pesquisador e com isso a produção acadêmica, por exemplo, vem sendo pouco a
pouco ampliada.
Alguns fatores justificam o grande interesse pelo tema. Em primeiro
lugar, o desejo de deixar registradas memórias de vidas repletas de aventuras
sucessos e desventuras, vidas difíceis mas ricas e merecedoras de um tipo de
registro - o literário - incomum ao universo circense, de tradição oral. Estes são os
argumentos presentes em todas as apresentações dos livros de memória que tive
a oportunidade de conhece~.
Outro fator que destaco é a tão afamada magia do universo circense. A
magia contida no riso triste de um palhaço, no encantamento das crianças diante
dos animais, a respiração presa nos momentos quase trágicos de um acidente
evitado. Magia presente na paixão de uma jovem da cidade por um belíssimo
trapezista. homem pássaro. conquistador de corações, ou na aventura de um
palhaço "ladrão de mulher" . Este fator gerou romances, filmes, documentários,
peças teatrais e crônicas jornalísticas.
As relações entre o universo circense, " os de dentro" e o mundo
exterior "os de fora" , seja do ponto de vista da inserção do circo na cultura
popular, da apropriação que faz dos sistemas simbólicos, da contribuição que deu
2 Os memorialistas a que me refiro são o palhaço Arrelia, Dirce Militelio, Antolin Garcia, Piolin e
à arte e à cultura, ou de elementos formadores de sua própria história tem sido objeto de estudos de sociólogos, antropólogos e historiadores.
O que pude perceber, no entanto, examinando grande parte deste
material e convivendo de forma muito próxima ao mundo do circo, foi que ainda
havia um aspecto muito pouco explorado: o aspecto organizacional. Embora a
organização estivesse sempre presente naqueles estudos e relatos não constituía
o objeto central destas obras.
Magia, história, expressões simbólicas, são pedras de um
quebra-cabeça maior que para completar-se exige que olhemos o circo de novos ângulos
ainda pouco explorados. Nenhum destes fatores explica por si só a grande
capacidade desenvolvida pelo circo de sobreviver a todas as adversidades
encontradas ao longo de sua existência.
Assim, penso que ao tentar compreender as razões da sobrevivência
bem sucedida do circo, necessito explorar os aspectos preservados desta
instituição que, concretizados nas organizações (empresas) circenses foram
responsáveis por sua preservação.
Sem desconsiderar as contribuições de qualquer uma daquelas
abordagens, creio que olhar o circo sob uma ótica organizacional permitirá que
se esboce um caminho que percorrido poderá não apenas responder à pergunta
que leva a esta investigação, mas a identificar alguns fatores que nos proporcione
uma visão mais ampla sobre a vida das organizações contemporâneas e que
diante do conturbado mundo em que vivemos, devem estar preparadas para um
constante processo de mudança.
Procurando olhar o circo por sua própria ótica, por meio das biografias,
depoimentos, ou memórias, por exemplo, é comum encontrarmos referências
esparsas porém bem detalhadas sobre o dia a dia das organizações a que
empresa, aos processos de gestão e de exeéução das tarefas inerentes às
atividades que desenvolve bem comO'ãs dificuldades que enfrentam para
mantê-la. No entanto, a essência desses relatos reside nas memórias afetivas dos
momentos de glória ou sofrimento vividos pelo grupo familiar e sua itinerância pelo
mundo.
o
que de mais interessante pude perceber nestes relatos, é que todos sedesenrolam sobre um mesmo pano de fundo: um grupo de pessoas, unidas por
um forte ideal e um grande amor ao seu trabalho, ligadas fundamentalmente por
laços de família e pelo trabalho, lutando dia após dia para manter o seu negócio,
sustentar com ele sua família e preservar sua arte.
Apesar das inúmeras derrotas sofridas, das famílias que se dispersam,
das empresas que se acabam e da grande quantidade de circos muito pequenos
que sobrevivem em grande dificuldade nas periferias das grandes cidades, o circo
vem sendo muito bem sucedido em sua luta pela sobrevivência. Pude constatar
isto pela quantidade de grandes empresas circenses que fazem sucesso no
mundo hoje; pelo prestígio que a mídia confere a essas empresas; pelo
investimento em publicidade e propaganda feito por um grande circo quando
chega a uma cidade, mesmo no Brasil; pela afluência de público constatada por
pesquisas nacionais e estrangeiras; pelos relatos de artistas que lutam para
conseguir um espaço nas grandes companhias e escolas do mundo e
principalmente pela quantidade e qualidade web-pages mantidas na Internet
pelas escolas e pelos circos grandes e médios que crescem a cada dia.3
Há de tudo na Internet: escolas de circo, festivais, museus
especializados, centros de estudo e, sobretudo, circos de todo o mundo. Visitando
estas páginas pode-se aprender muito sobre a história do circo, seus maiores
nomes, visitar museus virtuais, ler críticas, mas, pode-se também conhecer o .
roteiro completo de uma fournée para o ano em curso e até mesmo comprar
ingressos, escolhendo o local que deseja ocupar na platéia. E o mais interessante:
pode-se até encontrar trabalho em alguns dos melhores circos do mundo.
A sofisticação de um circo de grande e médio porte é impressionante. No
Brasil, menos que nos Estados Unidos, na Europa ou no Canadá. Mas,
indubitavelmente, as empresas circenses mobilizam muita gente dentro e fora de
sua estrutura, como corpo funcional, como platéia, fornecedores e prestadores de
serviço. Em conseqüência disso, mobilizam pesados recursos financeiros. Todos
os esforços são feitos em função de um bom espetáculo, repleto de emoções,
surpresas e qualidade para agradar ao público. O público é o seu principal foco,
seu cliente. O circo vive do público e para o público.
O circo está vivo. Vivo e totalmente inserido no mundo contemporâneo,
chegando ao seu público por todos os caminhos possíveis, reproduzindo na
navegação virtual sua permanente itinerância em busca da platéia que o mantém.
Parece-me portanto, que apes"ar de fortemente vinculado às suas origens, o circo
está inserido nas organizações modernas, do século XXI, onde o tempo livre
passa a ser foco de um mercado em expansão: o de entretenimento e diversões,
mercado de prestação de serviços, onde as exigências do público são
determinadas, no mínimo, pelo padrão que a tecnologia da TV e da informática
oferecem.
As organizações que prestam e virão a prestar estes serviços são
muitas. Algumas já fortemente estruturadas como os parques temáticos por
exemplo, outras começando a aparecer. Na área especifica dos espetáculos, o
circo tem certamente grande experiência e muito a ensinar, justamente porque
fórmulas de adaptação imbatíveis. São estes aspectos que pretendo desvelar no
circo. Não há justificativa hoje, para que se continue a ver o circo apenas como
um conjunto de pessoas vítimas da sociedade, que buscam seu ganha pão numa
pobre e esfarrapada tenda de pano oU em coloridas lonas, com espetáculos de
gosto chamado duvidoso, como a elite crítica se acostumou a rotular. O circo é
hoje um empreendimento capaz de ser lucrativo, bem sucedido, e de passar por
tantas metamorfoses quantas foram necessárias para sobreviver. Mas jamais
abriu mão de sua identidade.
Dos chamados espetáculos ao vivo, o circo é o que reúne maior público
de forma constante e sistemática. Nenhum outro atinge tantas pessoas em contato
direto. Dois mil lugares é a lotação de um circo médio, com dois mastros. Os
pequenos têm duzentos lugares, para um mastro central. Com quatro mastros o
circo chega a quatro, cinco mil lugares. Meia casa, significa duas mil pessoas. Isto
é raro numa temporada de circo grande que só para em boas praças. Que
espetáculo hoje pode dar oito sessões semanais com esta média de público, e
atuar o ano todo praticamente sem interrupção?
A principal contribuição que pretendo prestar com este trabalho
à
pesquisa organizacional é a de inserir o circo na discussão que hoje se faz sobre
os rumos da organização e do trabalho para o próximo século e fazer ver aos que
se dedicam ao estudos das organizações que o circo pode ser uma das lentes
pelas quais se poderá olhar para estas questões.
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
São inúmeros os trabalhos publicados nas últimas décadas, na área da
teoria das organizações, que buscam encontrar elementos que contribuam para
que se possa compreender os rumos que deverão tomar as organizações que
neste conturbado período de transição política, econômica e social por que passa
todo o mundo num acelerado e complexo movimento de globalização, a tentativa
de identificação daqueles elementos em organizações de diversas naturezas,
exatamente por causa das peculiaridades de cada uma delas.
É importante considerar que a busca por um modelo ideal, não é a tônica
destes trabalhos. Até porque, as peculiaridades de cada organização constituem o
centro das atenções desses estudiosos, principalmente aquelas que
tradicionalmente foram descartadas da observação mais atenta por estarem
distantes dos padrões convencionais, oriundos do modelo gerado pelos
pressupostos de uma sociedade de base industrial.
Notáveis contribuições à análise organizacional têm sido resultado
destes novos olhares. Talvez as tendências que mais se adeqüem às observações
que faço do circo, sejam as que partem da constatação de que alguns modelos
embora datados, sobrevivem ainda no interior de determinadas estruturas e não
tendem a desaparecer por completo. Em muitos casos convivem numa mesma
estrutura e não necessariamente se anulam. A noção de sistema, implícita nesta
abordagem e que no século XX foi tão importante para as ciências sociais, penetra
o estudo das organizações e nos fazem a nós, observadores menos radicais
quanto às mudanças paradigmáticas.
O que é fato e que se pode constatar neste fim de século, é que modelos
organizacionais rígidos e complexos demais, com muitos estratos hierárquicos,
oriundos diretamente do modelo proposto pela cultura industrial, dificilmente serão
capazes de enfrentar as grandes e constantes mudanças pelas quais passa o
mundo em tempos de globalização. Um mundo caracterizado pelas tentativas de
se abolir fronteiras, que trabalha com a informação em tempo real, que robotiza
seus processos de produção industrial, acaba por exigir leveza de estrutura em
mudanças e competências gerenciais capazes de operar com seu contingente
humano e com a tecnologia, sem abrir mão de sua identidade e produtividade. Um
mundo que exige das organizações a adaptação constante como um permanente
estado de mudança.
É dentro desta perspectiva que vejo o circo como objeto de pesquisa no
campo da administração: uma instituição capaz de sobreviver por séculos, sem
grandes alterações em sua estrutura, certamente adaptando-se às mudanças
constantes, sejam elas espaciais, culturais ou temporais, com habilidade baseada
em estratégias que pouco conhecemos.
O circo é o exemplo típico de uma organização que concilia em seu
interior elementos organizacionais pré-fordistas, herdados das corporações de
ofício, das troupes de saltimbancos do início da Era Moderna, dos tempos
anteriores à Revolução Industrial, com toda a tecnologia necessária hoje aos
grandes espetáculos de entretenimento. Concilia os dois paradigmas - pré e pós
fordista - sem desmerecer sua matéria prima de maior valor: o ser humano,
detentor do conhecimento, aprendiz permanente de sua arte e mestre dos que o
sucederão.
Hoje, sobrevivente e plenamente inserido no mercado de prestação de
serviços em entretenimento, é uma instituição sui generis, da qual se originam
organizações lucrativas e, que certamente tem muito a ensinar sobre si mesma,
sobre sua grande caminhada para a imortalidade.
Para penetrar neste universo, como aquele em que o circo está
circunscrito recorro aos teóricos que buscam leituras alternativas às análises mais
usuais. Procuro, sobretudo, proceder a uma análise institucional que me leve a
identificar os fatores relevantes aos quais possa atribuir responsabilidade pela
liA distinção entre instituição
e
organização, é -quase sempre muito difícil de ser feita, basicamente porque do ponto de vista administrativo chegama
serconsideradas inseparáveis" (Zajdsznajder,1986). Entretanto, a análise
organizacional recorre aos dois focos de análise. Selznick alerta para o fato de
que os grupos dificilmente se identificam como instituição ou organização. Estarão
sempre apresentando uma mistura de características de uma e de outra (Selznick,
apud Netto,1987:612)4. Instituição e organização são situações extremas. As
empresas podem aproximar-se de um ou de outro lado, "dependendo de como
responde no dia-a-dia aos desafios, pressões e demandas do ambiente" (Netto,
1987: 612)5. Foi justamente seu interesse pela dinâmica das organizações que
motivou Selznick a tratar do conceito de instituição.
Netto, (1987: 612)6 no Dicionário de Ciências Sociais editado pela
Fundação Getulio Vargas utiliza a definição de Selznick que entende que o
conceito de instituição deve ser aplicado aos grupos que por razões próprias a sua
dinâmica adquirem um "significado especial para os seus membros e para a
comunidade que constitui
o
seu ambiente. Passama
ser valorizados por elesmesmos
e
não apenas por sua funcionalidade como instrumento paraa
realização". Observando o circo da perspectiva institucional, estarei voltada para
as dimensões valorativas que compõem sua identidade, ou seja, a imagem que
veicula, "sua forma de agir e reagir, o valor fundamental que afirma e a qualidade
que expressa" (Zajdsznajder , 1985: 39)
"Os valores são ideais coletivos que definem, numa dada sociedade os
critérios do desejável. (. . .) Eles formam
o
que se chama "sistemas de valores",4 Antonio Garcia de Oliveira Netto é autor do verbete Instituição do Dicionário de Ciências Sociais editado pela Fundação Getulio Vargas, sob a coordenação geral de Benedicto Silva.
12
organizando-se para formar uma certa visão do mundo" .(Étienne,
J.
et allL,1997:310). As organizações tem seus próprios sistemas de valores,' que como os
de qualquer sociedade são básicos para sua identificação. As alterações que se
processam nesses sistemas são lentas e implicam em mudanças radicais
naquelas estruturas. O mesmo acontece nas instituições e é nas organizações
que estes valores vão se externalizar.
Conhecendo os valores de uma organização podemos conhecê-Ia
melhor. Uma organização moderna, preocupada com sua preservação e com sua
inserção no mercado procura manter coesos e consistentes seus valores. Acredito
que o circo fez o mesmo ao longo de sua existência. Certamente, ao identificar os
valores, poderei dispor de melhores elementos para caracterizar a instituição.
Revelar, portanto, a identidade da instituição circense, levará a conhecer
os valores que a fundamentam e contribuem para que se estabeleçam padrões
de liderança e poder que acabam por se manifestar nas estruturas, nos processos,
na cultura, no produto e nas estratégias de sobrevivência das organizações.
Tradição será o primeiro valor a ser examinado pois seu significado
remete-se às mais remotas origens do circo que estão na família, na transmissão
e no uso do conhecimento. Tradição é um valor que permeia e interage com
todos os outros e em nenhum momento pressupõe o imobilismo ou a cristalização
das estruturas ou das práticas. É um valor referenciado para autodefinir um
circense quando quer explicitar duas coisas: sua origem herdada de muitas
gerações nascidas e vividas em circo e, ter aprendido seu ofício e desenvolvido
seus conhecimentos no seio da família a que pertence.
Ser tradicional significa pertencer a uma forma particular de fazer circo, significa
ter passado pelo ritual de aprendizagem total do circo, não apenas de seu
número, mas de todos os aspectos que envolvem sua manutenção. Ser
tradicional é, portanto, ter nascido e ter transmitido, através das gerações, os
valores conhecimentos e práticas, resgatando o saber circense de seus
sociais e de trabalho, sendo a família o mastro central que sustenta toda esta
estrutura. (Silva, 1996: 56)
o
segundo valor, diretamente ligado ao primeiro pode ser bemidentificado no texto de Silva (1996: 47)
é
a família, presente desde sua maisremota origem:
A forma de organização familiar e de aprendizagem constituem um suporte,
garantindo que cada circense tivesse noção da totalidade de seu universo,
e
dasua individualidade como parte de um todo. O núcleo familiar circense,
ao
mesmo tempo que tem sua constituição idêntica aos outros grupos familiares, incorpora uma outra familiaridade - o conjunto das outras famílias que
compartilham do mesmo saber secular e iniciático.
Toffler em seu livro: Les nouveaux pouvoirs (1991) no capítulo sobre A
firma flexível, remete-se às empresas familiares do futuro, discutindo a
organização de base familiar e a forma familiar, como proposta para uma estrutura
simples e flexível. Embora o conceito de família no circo seja talvez mais amplo
que aquele considerado por Toffler, é nas relações que reproduzem uma estrutura familiar que reside o núcleo essencial da empresa circense.
O conhecimento, ou o saber é o maior valor no circo. Seu peculiar processo de transmissão permanente, envolve e compromete a todos. Objeto do
interesse dos estudiosos das organizações contemporâneas, o conhecimento é
hoje considerado um valor fundamental para as organizações que deverão estar
preparadas pra enfrentar as permanentes mudanças que caracterizam o mundo
contemporâneo. O instigante reside na seguinte questão: o conhecimento é o valor máximo no velho e no novo circo.
Diretamente vinculada à tradição e ao conhecimento está a maestria.
Saber fazer, fazer de forma única e inimitável é peculiaridade do circo. Domínio e desenvoltura na execução de um número são pressupostos básicos para que um
pai, o que forma, o que deixa sua marca. O artista é o que ele consegue ir para
além do que lhe foi ensinado.
Senge (1995, p 182) caracteriza maestria como uma disciplina a ser
desenvolvida nas chamadas organizações de aprendizagem e diz: "Maestria como
usamos a palavra hoje, reflete ma Ttre. Significa a capacidade não apenas de
produzir resultados, mas também de dominar os princípios que subjazem o modo
de produzir resultados".
Esta é a ótica pela qual devo examinar esta dimensão, buscando os
princípios subjacentes e as suas manifestações que acabam por ser o meio pelo
qual o circo vende sua imagem.
A itinerância é outro valor que devo considerar nesta análise.
Diferentemente dos tradicionais enfoques dados a esta especificidade do mundo
circense não usarei o conceito de nomadismo? Considero que nômades são
grupos que por essência se organizam de forma tribal, seguem um líder e têm
como referência o movimento contínuo
e
permanente. Embora organizadosinternamente, vivem em função do que poderão vir a encontrar e que lhes venha a
ser favorável à sobrevivência.
o
circo, é geralmente considerado nômade por não se atentar para estaspeculiaridades. O circense não vive de forma tribal, mas familiar, em função do
ofício. É dono de uma liberdade que se manifesta de forma individual e nuclear.
Circula entre grupos mais do que com seu próprio grupo, como os nômades. Sua
fidelidade é ao circo, entidade, instituição, identidade. Não é à organização à qual esteja eventualmente vinculado. Traça seus trajetos em função dos pontos onde
pretende aportar. Não tem o movimento como um pressuposto; tem o destino. E é
? Um notável estudo sobre nomadismo pode ser encontrado no número especial entitulado:
por isto que pode trabalhar nos mais diversos tipos de espaço, fixos ou móveis.
Circula em função deles e do espetáculo que- possuem e são capazes de
apresentar, independente das condições que encontrem. Para apresentar seu
produto, criam as condições; não dependem delas.
Esta condição de itinerantes está tão profundamente arraigada à idéia de
circo que acabou por ser tratada como nomadismo, devido aos pontos de
convergência entre os dois conceitos. No entanto, se considerar nômade o circo,
devo considerar também características que não o identificam. Talvez o que de
mais relevante apareça nesta distinção seja a questão da liberdade. O artista
circense é dono de si mesmo. Trabalha onde quiser e puder. Há sempre soluções
individuais ou grupais possíveis. Portanto, mantenho a distinção que faço, para
considerar esta itinerância como um valor sobre o qual se alicerça a instituição.
No artigo: O que se pode aprender com o circo, Vergara (1994) propõe:
o
que se pode aprender com o circo? Tudo, mas sobretudo, como construiruma organização em que todos raciocinem, pensem, ajam; em que descobertas grupais e solução conjunta de problemas complexos sejam a ênfase; em que se perceba a complexidade das interações; em que o raciocínio dominante seja o sistêmico; em que a tensão existente seja a criativa; e na qual haja compartilhamento de valores e objetivos, ao qual se chega por engajamento, energia, paixão, empolgação, fé. Elementos desagrega dores sempre existirão,
mas eles fazem o contraponto que mantém viva a organização.
Estas considerações remetem a um novo conceito de organização no
qual posso identificar paralelos com o que demonstram os teóricos
contemporâneos que buscam imagens e referenciais teóricos que expliquem os
rumos das organizações no limiar do século XXI.
Quanto ao aspecto organizacional, os estudos sobre as novas
tendências concentram-se sobre alguns conceitos básicos: a circulação rápida e
ampla da informação; as estruturas mais simples, mais ágeis e competentes; a
profunda coerência da organização com o seu tempo e a mais profunda relação
questões como a evolução da informática, da integraçãó em redes mundiais de
comunicação, de capacitação de pessoal, da interrelação entre as pessoas e as
organizações; em constantes discussões sobre generalistas e especialistas e seus
papéis na organização, sobre o conceito de flexibilidade e sobre as inevitáveis
reavaliações das concepções clássicas de organização. Procuram, também,
estabelecer paralelos e encontrar imagens que expliquem as novas tendências
organizacionais.
Observar o circo sob o aspecto organizacional deve portanto abarcar
todos esses fatores. Assim a dimensão organizacional será examinada a partir da
estrutura, dos processos e do produto circense, procurando compreender como
esses fatores se manifestam nas organizações circenses.
Desta forma, será possível perceber em que medida os valores
institucionais chegam às organizações e como interferem em seu formato atual.
1.5 QUE CAMINHOS TEÓRICOS PERCORRER?
Minha observação sobre o circo, me faz perceber que organizações
oriundas de uma instituição assim conformada não serão explicadas por um único
modelo de análise, mas por vários. Assim, procuro encontrar recursos analíticos
em diferentes fontes.
Estudando modelos e teorias de mudança organizacional, Paulo Roberto
Motta, alerta para o fato de que mesmo os mais sólidos modelos apresentam-se
imperfeitos nesses casos, devido a própria "fragilidade de suas bases conceituais".
Estudar a mudança não é só procurar unidade e coerência entre modelos, mas
enriquecer-se no conhecimento de suas variedades, superposições e
complementações. Todos os modelos são parciais mesmo quando se
apresentam como genericamente válidos; todos são necessários mesmo
o
circo sobrevivente, mutante e permanente, produzindo arte eentretenimento fora dos padrões de empresa da era industrial passa por essa
dificuldade ao ser analisado. Sua inserção no mundo produtivo não se dá por
padrões uniformes e sim particulares e isso exige certo cuidado ao observá-lo
mesmo que se considere que como qualquer empresa capitalista, vise
lucratividade e necessite do mercado para viver.
Quando Guerreiro Ramos propôs uma abordagem substantiva das
organizações (Ramos, 1989), procurava uma reformulação da teoria organizacional
baseado na premissa de que a unidimensionalização da análise organizacional
fundamentada na dimensão mercadológica não permitia que se vislumbrasse
qualquer outra forma de inserção simbólica da organização com a realidade. Ao
contrário, demonstra ao propor seu modelo multidimensional, (Ramos, 1989) que
o mercado é apenas um dos aspectos sob os quais se pode olhar um sistema
social. Afirma que a sociedade é constituída de diversos enclaves e que o
mercado é apenas um deles. Portanto, podemos perceber que utilizar o mercado
como categoria básica para se proceder à análise organizacional é unidimensionalizar a análise e, conseqüentemente, incorrer em dois graves erros:
deixar de fora uma série de organizações que não têm a mesma relação com o
mercado, ou procurar sempre encontrar uma explicação mercadológica para todos
os fenômenos organizacionais.
Sem desvalorizar a inserção do circo no mercado, uma vez que estarei
tratando de organizações que precisam sobreviver dessa relação, procuro manter
nesta análise uma amplitude maior de possibilidades. A visão unidimensional
impregna a visão de muitos autores e pode ter inibido a produção intelectual sobre
o assunto. Talvez por isso os trabalhos teóricos brasileiros, raramente abordam o
circo como tema central, preferindo utilizá-lo como intermediador de análises.
utilizado para identificar uma forma de lazer barato do trabalhador ou um
espetáculo de periferia próprio de grupos de baixo poder aquisitivo. Isto parece
explicar porque só os pequenos circos foram objeto destas análises e os grandes,
desprezados. Em sua maioria o circo aparece como objeto central quando tema
dos memorialistas, dos críticos de espetáculo ou de sua estética. Ademais só em
teses de mestrado e doutorado bem recentes no campo da história encontrei
novos 0lhares.8
Determinadas organizações, como o circo por exemplo, foram
desprezadas, como se não existissem ou como se não chegassem a contar, a ter
peso para o mercado. Seguindo estes princípios, Serva em seu artigo: O
fenômeno das organizações substantivas (1993) empreende justamente a busca
de um novo referencial e encontra no paradigma da complexidade bases para
tentar este reconhecimento. Encontro neste tipo de organização muitas
identificações com a organização circense como: a extrema ligação de seus
membros com seus ideais, a flexibilidade hierárquica, o reconhecimento da
individualidade de seus membros, a espontaneidade na assunção de
compromissos e a capacidade de autocontrole.
Ao definir as organizações substantivas, alvo de sua pesquisa, Serva
(1993) trata de organizações específicas que parecem se formar quase que
espontaneamente nos mais diversos lugares, à partir de indivíduos que se reúnem em torno de ideais e princípios. Estes elementos determinam a ação conjunta
muito mais comprometida com políticas sócio-organizacionais que com o
"estatuto sistêmico da sociedade burocratizada."
8 Sobre o primeiro aspecto, estou fazendo referência aos textos de Magnani (1984); Montes (1983)
Sua preocupação com a busca de novos referenciais fica claro quando
afirma que tentar aprofundar as análises organizacionais baseadas nos
instrumentos oferecidos pelas teorias organizacionais não responderia às
necessidades que hoje se delineiam quando se tenta compreender as
organizações substantivas. Um estudo sobre o circo passa pela mesma
dificuldade.
Assim, acredito que no paradigma da complexidade, desenvolvido por
Morin (1996) encontro um referencial bastante adequado a essa análise. Além de
permitir boas condições de análise das organizações substantivas adequa-se às
inferências sobre a própria "ambiência global pós- moderna" (Serva, 1993) O
paradigma da complexidade pode ser uma ótica possível para a análise da
organização circense, justamente porque concilia características até certo ponto
desconsideradas.
Morin (1996:138) demonstra que o pensamento complexo, foge da
simplificação dos modelos unidimensionais, pois são simplistas e mutiladores. A
complexidade não implica em ser completo, mas implica em não ser mutilador,
parcial. Assim, se nos consideramos que para a compreensão do ser humano
precisamos nos considerar como seres "simultaneamente físicos, biológicos
sociais, culturais, psíquicos e espirituais", percebemos que a complexidade
consiste em proceder a "articulação, a identidade e a diferença entre todos esses
aspectos, enquanto o pensamento simplificador ou separa estes diferentes
aspectos ou os unifica através de uma redução mutiladora".
Portanto, neste sentido é evidente que a ambição da complexidade é relatar as
articulações que são destruídas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias
cognitivas e entre vários tipos de conhecimento. De fato, a aspiração à
complexidade tende para o conhecimento multidimensional. Não se trata de dar
todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas de respeitar as suas
diversas dimensões ( .. .) Dito isto, o pensamento complexo, não deixando de
aspirar à multidimensionalidade, comporta no seu cerne um princípio de
Fundamentado no pensamento sistêmico o olhar complexo sobre a
realidade pressupõe a. interligação e a interdependência entre diferentes fatores,
resguardadas as peculiaridades do objeto. Longe de uma receita, ou um "modelo"
no sentido clássico do termo, como uma camisa de força, ao qual deve
enquadrar-se o objeto estudado, o pensamento complexo permite que enquadrar-se recorra a todas as
interfaces do objeto e se valorize suas particularidades.
o
paradigma da complexidade não produz nem determinaa
in teligibilida de.Pode somente incitar
a
estratégia-inteligência do sujeito investigadora
considerar
a
complexidade do problema estudado. Incitaa
distinguire
fazercomunicar em vez de isolar e de disjuntar, a reconhecer traços singulares, originais, históricos do fenômeno em vez de ligá-los pura e simplesmente a
determinações ou leis gerais, a conceber a unidade - multiplicidade de toda a
entidade em vez de a heterogeneizar em categorias separadas ou de
homogeneizar numa totalidade indistinta. Incita a dar conta dos caracteres
multidimensionais de toda a realidade estudada. (Morin, 1996:256)
Considerando que uma das mais relevantes particularidades do circo é o fato de ter uma enorme capacidade de adaptação que provavelmente o levou a
sobrevivência e convivência com diferentes modelos organizacionais ao longo de
séculos, creio que nenhum modelo se adeqüe a sua compreensão. No paradigma
da complexidade encontro a possibilidade de interrelacionar diferentes dimensões
do objeto e de recorrer a diferentes olhares para compreender essas
inter-relações.
Assim é possível fugir de determinantes mutiladoras como a que tão habilmente revela Guerreiro Ramos quando trata o mercado como um enclave da
sociedade, permitindo que se observe as organizações para além das amarras
determinantes da relação organização e mercado. Vale ressaltar a impressionante
atualidade dessa afirmação, sobretudo quando se trata de questões relativas às
organizações de cunho artístico e cultural como é o caso do circo.
Para Drucker (1989), estamos vivendo hoje o devenir da organização
auto-organizada e onde a livre circulação da informação promove a realimentação
necessária. Antecipa uma radical diminuição de níveis administrativos em
qualquer grande organização. Estabelece relações entre esta organização que
assim se estrutura e modelos de organização como a orquestra sinfônica, o
hospital e a universidade.
Aí se pode estar incluído o circo. Drucker (1989) define a estrutura de
uma organização fundamentada na informação como detentora de uma estrutura
mais plana e, portanto, bem diversa das que hoje compõem os órgãos públicos ou
as grandes empresas. Compara estas estruturas altamente hierarquizadas onde o
conhecimento se encontra na cúpula que tudo decide, com as OFI onde o
conhecimento é um bem de cada especialista, que assim pode dirigir-se a si
próprio envolvendo-se em diferentes tarefas. Chega a afirmar que estas
organizações estão mais próximas daquelas anteriores ao grande processo de
industrialização do século XX , que das atuais.
Da mesma forma que Drucker procura nas organizações de cento e
cinqüenta anos, isto é aquelas que ainda guardam as características anteriores
aos modelos impostos pela Révolução Industrial, paralelos com a organização do
futuro, posso pensar o circo como uma legítima herdeira das corporações de
ofícioQ
sobrevivente por séculos, que mantém resguardadas características
chaves de uma organização baseada no conhecimento e na informação. Uma das
questões que mais apontam para isto é o fato das corporações serem núcleos de produção e aprendizagem baseadas na herança familiar e na transmissão direta
Q Refiro-me às corporações de Ofício que foram grupamentos de trabalhadores urbanos, (artesãos
do conhecimento. Observando estas corporações com olhos voltados para as
bases de sua tão longa sobrevivência, poderia talvez ampliar conceitos e resgatar
elos perdidos para um mais amplo entendimento da organização contemporânea.
Wood Jr, (1992) procurando entender as questões ligadas à mudança
organizacional, aponta como Maurício Serva (1993), para a mesma questão: a
maior dificuldade reside em encontrar um corpo teórico que se adeque às
situações de mudança tão rápidas e complexas como as que vemos hoje nas
organizações. Mostra ainda como Peter Orucker e Gareth Morgan apontam para
novos referenciais quando buscam a compreensão do processo de mudança.
Considerando os autores que o paradigma de base newtoniana
-cartesiana tornou-se limitado para a compreensão do fenômeno organizacional no
mundo hoje, caracterizado pela velocidade das mudanças. Consideram, também,
que de outras áreas do conhecimento humano surgem perspectivas que apontam
para uma nova visão de mundo. Assim, propõem mais uma via de observação: o
paradigma holístico. A presença do todo em cada parte, a interrelação e
interdependência entre elas como base do entendimento do que seja olhar de
forma holística a questão, levam-me a ver com clareza que podemos contar com
este olhar para compreender a organização circense.
Gareth Morgan em seu livro Imagens da organização (1996) utiliza
diferentes metáforas para compreender as organizações. Entre as metáforas que
utiliza, compara determinadas organizações com o cérebro humano para afirmar
que o cérebro, assim como as organizações, pode ser compreendido como um
sistema de processamento de dados ou como um holograma. Desta forma, as
informações se articulam e se auto-organizam, mantendo o funcionamento das
partes conectadas com o funcionamento do todo numa interrelação complexa.
Morgan caracteriza as organizações como sistemas de processamento
refletir os princípios holográficos. Funcionando desta forma, as organizações são
capazes de se auto organizarem e criar sistemas de realimentação constantes,
capazes de corrigir rumos e estarem sempre prontas a enfrentarem as novas
situações, atuando sempre na medida das necessidades que se apresentam.
Esta metáfora se adequa
à
compreensão da organização circense emqualquer momento de sua existência. Identifica e aponta as mais relevantes
competências desenvolvidas pelo circo: sua grande capacidade de adaptação, a
constante alternância de papéis dentro da organização, as diferentes instâncias de
decisão, e sua permanente reestruturação.
Organizações que tem a capacidade de se adaptar e se reestruturar
diante das exigências da realidade são organizações em permanente processo de
aprendizagem. Senge (1998) estuda as disciplinas do aprendizado organizacional
que permitem o enfrentamento das constantes situações de mudança. Esse
processo de aprendizagem organizacional de baseia na idéia de que o maior
patrimonio de uma organização contemporânea reside nas pessoas, no
conhecimento que elas posuem, na capacidade de se manterem atualizadas e
criativas.
No circo, o conhecimento e as habilidades são o real patrimônio das
organizações e dos indivíduos. Esse patrimônio intangível (Sveiby, 1998)
constituiu para o circo uma sólida base sobre a qual as organizações apoiaram-se
para sobreviver e resistir as dificuldades que enfrentaram. Independente do
tempo, das tendências e dos modismos, o conhecimento nunca se perdeu ou foi
substituído por outro valor maior.
Sobre essa capacidade de se manter vivo e bem sucedido por um longo
tempo, Collins e Porras (1998) em sua pesquisa sobre as empresas visionárias,
ou seja, aquelas "feitas para durar", percebem que a sobrevivência e o sucesso
da vida da empresa. Mostra que mais importante que um ou outro produto de
. sucesso, a instituição é o que de mais relevante foi construído. Poderia inferir que
estes autores estão falando do circo.
Partindo dessa idéia, pude pressupor que as dimensões institucionais
relevantes que identifico na organização circense estariam presentes nas
organizações e que representariam fator importante para sua sobrevivência.
Perceber isso foi o que busquei.
Pela ótica da complexidade, procuro caminhos que podem ser os
daqueles que buscam novos referenciais para entender novas organizações,
assim como as organizações que se renovam e se mantém com sucesso.
Em duzentos anos vimos valores cristalizarem-se como se nunca mais
pudessem ser abalados e caírem por terra como um castelo de cartas. Muitas
organizações desapareceram por não suportar as mudanças. Outras resistiram e
têm muito a ensinar. Entretanto, algumas sobreviveram a tudo isso, sem ter
entrado no redemoinho de construção e desconstrução do paradigma industrial. O
circo é uma delas. Procuro saber porque. Encontraria nesta sobrevivência boas
indicações dos caminhos a seguir no futuro?
1.6 A METODOLOGIA
Para a realização da pesquisa contei com diferentes fontes e com
agradáveis surpresas. Inicialmente pensei que faria uma pesquisa exploratória,
uma vez que a literatura disponível não tratava diretamente das questões que
pretendia abordar. No entanto, acabei por me deparar com um enorme quantidade
de informações esparsas nos textos e nos depoimentos a que tive acesso.
Assim pude ter acesso a oito longos depoimentos gravados em 1989 e
em 1990 com professores da Escola Nacional de Circo, para o acervo de História
memórias, teses e análises, artigos e entrevistas de jornais e revistas, além de
alguns acervos pessoais. Realizei, também, entrevistas com os circenses: Luis
Olimecha, empresário e gerente do circo Thiany; com Robby Rethy Jr,
malabarista, empresário e diretor artístico da Escola Nacional de Circo; Edna
Ozon, artista aposentada; Humberto Braga, diretor do departamento de Artes
Cênicas da FUNARTE; Alice Viveiros de Castro, atriz, sindicalista,
ex-representante da área de circo no Conselho Deliberativo da Fundação Nacional de
Artes Cênicas e, atualmente dirigente do Instituto Acrobático do Brasil. Estas
entrevistas vieram complementar e esclarecer as questões tratadas nos textos.
Além das entrevistas e da pesquisa documental, contei com minhas
observações pessoais oriundas de uma experiência de seis anos como
Coordenadora da Escola Nacional de Circo, quando pude conviver de perto com o
universo circense. Durante esse tempo tive contato pessoal com inúmeros
circenses do Brasil e do exterior que renderam horas de conversas e
ensinamentos. Tive, nesse período a oportunidade de acompanhar de perto
várias temporadas de circo na Praça Onze. A temporada carioca do Circo Mágico
Thiany, em 1988 foi sobretudo valiosa, pois aconteceu no momento em que já
afastada da Escola de Circo, concluía a primeira versão desta dissertação.
O processo de observação que empreendí, foi bastante diferente do
olhar de um etnógrarafo, mas de alguém não circense, porém, envolvida neste
universo por muitos anos. Todos estas vias de acesso, permitiram uma grande
aproximação com o tema e foram igualmente úteis, embora muitas vezes pela
crítica que me permitiram fazer.
Assim, esta é uma investigação explicativa onde procuro "esclarecer
quais fatores contribuíram, de alguma forma, para
a
ocorrência de determinadofenômeno" (Vergara, 1997: 45). Neste caso, a proposta é a de reconhecer nas
razões da sobrevivência do circo. As organizações ( as empresas ) circenses
e"mboradiferenciadas entre si em aspectos como: tamanho, capacidade de
investimento, inserção no mercado, quantidade de pessoas que emprega, público
que atinge, forma de ser administrada, são reconhecidas sempre como circo e
seus participantes sentem-se integrados a um mesmo universo, como se fossem
todos, maiores e menores, ricos e pobres pertencentes a uma mesma família,
onde são mantidas vivas a identidade e a cultura circense.
Estes elementos constantes foram observados a partir da ótica da
análise organizacional, e do pressuposto de que embora muito intrincados os
conceitos de instituição e organização precisariam ser metodologicamente
distintos para que utilizando os instrumentos que cada uma das óticas me fornecia
pudesse fazer uma observação mais ampla possível. Para tanto a referência
básica foi o texto de Luciano Zajdsznajder, Um roteiro para a pesquisa
organizacional (Zajdsznajder, 1984 ), que propõe que a pesquisa organizacional
deve ser feita em dois níveis: o organizacional e o institucional, alertando para o
fato de que embora seja concebível, e às vezes necessário, que se trate cada
nível de forma autônoma e separada, são eles de fato inseparáveis, o que jamais
deve ser ignorado. (Zajdsznajder, 1984)
Utilizei muitos dos conteúdos por ele apontados embora não todos.
Arbitrei escolher apenas aqueles que julguei relevantes para o tema que propus.
Procurei meios de proceder uma análise em profundidade sem muita amplitude e
abrangência. Deixo de lado, portanto, algumas possíveis análises que optei por
não fazer, uma vez que a irregularidade nas informações e a ausência total de
determinados dados levariam a pesquisa para outro rumo que preferi não seguir.
A título de exemplo, não tive acesso a borderôs, para ter noção de quais eram as
reais despesas e receitas de uma temporada. Não me adiantaria nada