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A morte mediante as representações sociais dos profissionais de saúde.

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Academic year: 2017

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A MORTE MEDIANTE AS REPRESENTA;OES SOCIAlS DOS

PROFISSIONAIS DE SAUDE

D EATH ACCO RD I N G TO TH E SOC IAL R E P R E S E N TATI O N S O F H EALTH P ROFESS I O NALS

LA M U E RTE M E D IANTE LAS R E P RE S E NTAC I O N E S SOC IALES DE LOS P RO F ES I O NALES DE LA SAL U D

M a ria das Dores Vale Oba1 Maria So lange Guarino Tavares2 M a ria Helena Pessini de Oliveira3

R E S U M O : Objetivo desta i nvestigayao foi con hecer e analisar a morte media nte as representayoes socia is dos profissionais de saude que prestam atendimento a m u l her no perfodo gravfd i co-puerpera l . Optou-se pela analise de conteudo, mas tambem foi ancorada nas representayoes sociais. Atraves das falas destes emergiu a categoria empfrica nas representayoes sociais da morte denominada de "terrfvel". Ao entrar em cena, no ambiente hospitalar ou ambulatori a l , a morte sera apree n d i d a d e diferentes formas pelos p rofissionais d e saude: uma fase da vid a , terrfve l , d iffci l de ser a ce ita , conflito sobre a fi nalidade de sua profissao, procu ra a l g u m a fal h a no proced imento rea l izado q u e a j u stifi q u e e n e s s e m o m e nto vive n c i a m os senti m e ntos de i n s eg u ra n ya , i n capaci d a d e , constrangi mento , culpa, a n g u sti a , sofri mento e dor.

PALAVRAS-CHAV E : enfermagem obstetrica , morte , saude da m u l her

ABSTRACT: The pu rpose of this i nvestigation was to acknowledge and to a n alyze death accord ing to the social representation of health professionals. The research was carried out with professionals that renders assistance to the women in the g estation-puerperal period . The tech n i q u e of content analysis was chose n , but data analysis was also anchored in social representations. From the narratives of the subjects interviewed , death emerged as an empirical category with a social representation denominated as "terri ble". Death , as it enters the scene, both in hospital or ambulatory setti ngs, is apprehended i n d iferent ways by health professionals: as a terrible phase of life that is d ifficult to be accepted , as a confl ict over the pu rpose of one's professi o n , as a way of seeking for mistakes in the procedu re carried out in order to justiy it, and, at this moment, professionals experience feelings of insecurity, i ncapacity, embarrassment, g u ilt, a n g u i s h , suffering and p a i n .

KEYWO RDS: obstetric n u rs i n g , death , women's health

RESU M E N : EI objetivo de esta i nvestigacian ha sido conocer y analizar la m u e rte mediante las representaciones sociales de los profesionales de la sal u d . La i nvestigacian se lIeva a cabo con profesionales q ue prestan atencian a la mujer en el perfodo g ravfd ico-puerpera l . Se opta por el analisis de contenido, pero tambien esta andado en las representaciones sociales. A traves de los d iscursos ha emergido la categorfa empfrica en las representaciones sociales de la muerte, denominada d e "terri ble". AI entra r en escena, e n el a m b ie nte del hospital 0 ambulatori a l , la muerte sera apre h e n d i d a d e d iferentes formas p o r lo s profesionales d e l a sal u d : u n a fase de la v i d a , terri ble, d ificil de aceptarse, generadora d e confl i ctos sobre la fi nalidad de s u profesian , 0 busqueda de alguna falla en el proced i m iento real izado que la j u stifi q u e y a partir de todo ello los profesionales pasan a vivir los senti mientos de i nseg uridad , incapacidad , verg uenza , culpa, angustia, sufri miento y dolor.

PALAB RAS CLAVE : enfermeria obstetrica , muerte, salud de l a m ujer

Recebido em 2 1 /05/200 1 Aprovado em 06/02/2002

1 Doutora em Enferm a g e m . M estre em Enfermagem em Saude P u b l ica. Enfermeira da Secreta ria M u n icipal de Saude - Ribeirao Preto .

2 Doutora em Enfermage m . Orie ntadora do Prog rama de Doutorame nto e m E nfermagem do I nteru nidades da E E e E E R P, U S P. Coordenadora d o C u rso de Enfermagem U N I BAN-RP/ U S P.

3 Professora. Doutora em E nfermagem. Orientadora e Coordenadora do C u rso de Enfermagem da U NAERP -Ribeirao Preto .

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INTRODU;Ao

o secu lo XX traz a m o rte q u e se esconde, a morte vergonhosa , a morte q u e n a o pertence mais a pessoa , tira-se a sua responsabilidade e depois a sua conscienci a . A sociedade atual expulsou a morte para proteger a vida. Nao ha mais sinais d e q u e uma mote ocorre u . 0 grande va lor do secu lo atu al e 0 de dar a impressao de q u e "nada m u d o u " , a morte nao deve ser percebida (KovAC S , 1 992).

A morte acabou por ser banida, ocu ltad a , proibida das preocupayoes do homem ocidental neste secu lo. Ora , ao ocu lta r a m o rte 0 homem ati nge a propria vida (MARCI L l O , 1 983).

A vida e assi m , l igada a morte pelo u m bigo, vida e morte j u ntas e o posta s . Ao se fa l a r d a vid a , nao se pode d eixar d e fal a r d a morte , porq u e sao u m a c o i s a s O . . . A v i d a n a t u r a l o c o r r e e n t r e 0 n a s c i m e n t o e a m o rt e n o t e m p o c e rt o . 0

ro m p i m e nto desse c i c i o n at u ra l re p rese nta u m perigo nao s o p a ra a q u e l e q u e d eixa de c u m p

ri-10, mas tambem p a ra tod a sociedade (MART I N S , 1 98 3 , p . 259 ) .

Na sociedade ocidental nao ha igualdade d iante d a morte , d e acordo com a s co n d i yoes soci a i s , econ6m icas e pol iticas e l a podera se a d i a nta r ou s e atrasar e , da mesma form a , a i n d u stria fu nera ria i m pora seus va lores as pompas fu nebres, 0 va lor do terre n o p a ra 0 s e p u lta m e n to , a l o ca l i za y a o n o cemiterio, as taxas m u n icipa i s , etc .

A s o c i e d a d e m e rc a n t i l c r i a u m s i s t e m a d e i m o rta l i d a d e d a s p e s so a s , n e g a n d o q u a l q u e r

status aos m o rtos, e ca rrega 0 mome nta d a morte de tod as a s q u a l ifica;;6es pej o rativa s , q u e se possa imagi nar, esvazia , ocu lta , nega a morte . E u m sistema q u e a l i e n a a q u e m morre , priva ndo­ o de sua p ropria morte . Mesmo com todo 0 poder na mao d o med ico e 0 paciente sem nen h u m , ele conti n u a sendo 0 s uj e ito epistem i co d e sua morte (KOVAC S , 1 992 , p. 4 1 ) .

A m o rt e e s t a p r e s e n t e n o c o t i d i a n o d a sociedade moderna como u m a assombrayao q u e deve ser evitada . Os mortos , os velhos e os doentes sao despachados para seus devidos l u g a res, isto e, aos cemiterios, asilos e hospita i s , e sao tratados co mo se fo s s e m c o n t a m i n a d o s p e l a m o rt e . N e s s a socied a d e d e co n s u m o , 0 tra b a l h o , a co m p ra e o lazer sao elementos-chave e q u e m nao participa desse circu ito sofre uma mote social ( KAMAL, 1 983). A socied a d e i n d u st ri a l n a o t e m l u g a r p a ra os m o rto s : sao s e re s q u e n a o p ro d u z e m , n a o c o n s o m e m , n a o r e s p o n d e m . A o s s e u s cond icionantes: nao com pete m , n a o corre m , nao l i g a m p a ra 0 te m p o , n e m p a ra 0 d i n h e i ro . O s mortos s a o m a rg i n a i s do siste m a ao n o s l e m b rar q u e , por mais que nos e m pe n h e mos no p rocesso com petitivo d e l uta p a ra ter, poss u i r, vencer, u m

OBA, M . das D . d o v. ; TAVA R E S , M . S . G . ; OL IVE I RA, M . H . P. d e

d i a seremos u m m a rg i n a l , u m d e s poj ado. Nao h a c o m o n a o e n c a ra r n o s s a p roj e;;ao nesse " nao ter" . So ha q u e nega-Ios (SANTO S , 1 98 3 , p. 23).

Nos centros u rbanos brasileiros das regioes mais desenvolvidas observa-se uma mudanya nos ritos fu nerarios, passam do espayo privado para 0 publico e nesse novo espayo sofrem a explorayao capitalista da morte q u e especu la 0 a parato desse ritual. A morte e con cebida em um s i l encio civi l izado, q u e i m prime atitudes ra ci o n a i s , prati cas e remove ra pidamente 0 moribundo da vida dessa sociedade.

o local d a m o rt e , n a socied ade capita l i sta ocidental e transferido do lar para 0 hospital. No seculo XX, a m a i oria d a s pessoas nao ve os parentes morrerem . 0 hospita l e conve n i ente, pois esconde a repugnlncia e os aspectos sordidos ligados a doenya . A fam i l i a tambem fica afastada para nao incomodar 0 s i lencio dos hospita i s . Desse modo, nao atrapalha 0 trabalho dos med icos e nao torna vis ivel a presenya d a m o rt e a t r a v e s de l a m e n t a y o e s , c h o ro s o u q u estionamentos ( KOVAC S , 1 992 ) .

Assi m nesta pesq u isa tem-se p o r objetivo : Conhecer e analisar as representayoes sociais dos profissionais d e saude de uma U n idade Basica D istrita l d e S a u d e d a reg iao norte e de u m H ospital Filantropico da regiao central do m u nicipio de Ribeirao Preto-SP sobre a morte.

METODOLOGIA

Os d ados deste estudo fazem parte da tese de D o u t o ra d o : " A m o rt e m a t e r n a m e d i a n t e a s representayoes socia is dos profi ssionais d e saude no municfpio de Ribeirao Preto-SP" que foi apreciado pel a c o m i s s a o d e e t i c a e m p e s q u i s a d a E s c o l a d e Enfermagem d e Ribeirao Preto d a U niversidade d e Sao P a u l o , sendo rea lizado no mes de j u l h o de 1 999, em u ma U nidade B a s i ca D istrital d e S a u d e da regiao norte e n o Hospital F i l a ntropico d a regiao central d o m u nicipio d e Ribeirao Preto-S . P. C o m o tambem n a Coord e nayao d o Prog ram a de Assi stencia a Saude d a M u lher e n o Com ite de Estu do e Prevenyao de Morte Matern a .

A U n idade Basica Distrita l de S a u d e da reg iao norte local iza-se em u m a area de g randes bolsoes de m i s e ri a , q u e re a l i za ate n d i m e nto nas areas basicas progra m aticas ( g i neco-obstetrici a , cl in ica­ medica , odontologico e enfermagem), especialidades e pronto atendimento, com um horario de atendimento de 24 hora s . Sendo q u e 65% dos profissionais de s a u d e d e s e n v o l v e m s u a s ati v i d a d e s n o p ronto atend i mento .

o Hospital Filantropico da regiao central e uma i nstituiyao considerada d e referencia secu ndaria e/ou terciaria no sistem a de saude m u n icfpal de Ribeirao

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Preto d e outros m u nicipios e Estados. Foi criado em 1 896, com intu ito de atender pacientes sem condi:oes de pagar, sem fins l ucrativos e nao recebia s u bs id ios do E s t a d o e s e u fa t u r a m e n t o e ra a t r a v e s d e atendimento a pacientes d e convenios (SUS e outros), d a s d o a :o e s e da a d m i n i st r a : a o d o s i m ove i s pertencentes a o mesmo ( R I B E I RAo P R ETO , 1 996).

B u sca ndo ati n g i r 0 objetivo p ro posto nesta pesq u isa uti l iza-se abordagem q u a l itativa , u m a vez que essa nos induz a aprofundar na abordagem social da s a u d e . Pode-se d izer q u e h a u m a o rd e m de sign ificados cu ltu rais mais abrangentes, que i nforma o olhar lan:ado sobre 0 corpo q u e adoece e morre ( M I NAYO, 1 994 ) . Optou-se pela anal ise de conteudo, seg u ndo Bard i n ( 1 979).

Esta p e s q u i s a ta m b e m fo i a n co ra d a n a s re p r e s e n t a : o e s s o c i a l s . E n t e n d e - s e a q u i representa:oes sociais, enquanto linguagem do senso com u m , que se m a n ifesta m em cond utas e chegam a ser institucional izad a s . Portanto , podem e devem ser analisadas a partir da com preensao das estruturas e dos compotamentos soci a i s ( M I NAY O , 1 994) .

Elegeu-se a entrevista sem i-estrutu rada e a observa:ao livre como tecn icas de coleta de dados .

A amostra foi con stitu ida por profissionais de saude, q u e atu a m na assistencia a saude da m u l her na U n idade Basica Distrita l d e Saude Note (dois m e d i cos g i n eco l o g i s ta s , tres enferm e i ras e d o i s a u x i l i ares d e e nfe rm a g e m ) ; n a Coord e n a :ao d o Programa de Assistencia I ntegral a Saude da M u lher da Secretaria M u nicipal de Saude de Ribeirao Preto­ SP (um medico g i necolog i sta ) ; no Com ite de Estud o e P re v e n : a o d a M o rt e M a t e r n a ( u m m e d i c o ginecolog ista , membro d o comite e representante da Divisao Reg ional de S a u d e d e Ribeirao P reto-D I R­ XVI I I ) ; na assistencia a m b u l atori a l e hospitalar do processo de trabalho de parto no H ospital Filantropico da reg iao centra l (tres medicos g i n ecologista s , d uas enfermeiras , sendo uma do setor ambulatorial e outra da matern idade e tres a u x i l i a res d e e nfermage m , s e n d o u m a d o s e t o r a m b u l at o r i a l e d u a s d a maternidade), tota l izando dezessete sujeitos sociais. Os s ujeitos soci a i s que p a rticipara m desta i nvestiga:ao d e ra m 0 s e u consentime nto l ivre e esclarecid o . Como criterio d e inclusao optou-se pelo profissional d e saude que atuava m na assistencia a saude da mulher no momenta da investiga:ao, ou seja, no pre-nata l , parto e p u e rperio, na Coordena:ao d o Prog rama de Assistencia I ntegral a S a u d e d a M ulher e no Com ite d e Estu d o e P re v e n :ao d a M o rte Materna.

RESULTADOS

N a s fa l a s d os s uj e i to s soci a i s em estu d o emerg i u a categoria e m p i ri ca n a s representa:oes

soci ais da morte denominada de "terrivel " . A morte tem sido apreend i d a e representada de diferentes maneiras pelos homens, de acordo com a trad i :ao cultura l , fa m i l i a r e 0 contexto socioecon6mico e, atraves desses parametros, tera q u a lidades, formas, p e r s o n i f i c a : o e s , ou s ej a , t e ra a s u a p ro p r i a representa:ao soci a l .

Percebe-se q u e os profissionais de saude tem g rande d ificu ldade em reconhecer os seus proprios l i m ites . Ass i m , util izam-se de mecanismos de defesa para negar um aconteci mento n atura l e inevitavel da vida, a morte! N ota-se essa d ificu ldade nas falas do s ujeitos soci a i s em estu d o .

A o entrar e m cena , no ambiente hospitalar o u a m b u l atori a l , a morte sera apreendida de d iferentes formas pelos proissionais de saude: uma fase da vida , terrivel , d ifici l de ser aceita , confl ito sobre a fi nalidade d e s u a p rofi s s a o , p ro c u ra a l g u m a fa l h a n o p roce d i m e nto rea l izado q u e a j u stifi q u e e nesse momenta vivenciam os sentimentos de inseg u ran:a, i n capaci d a d e , con stra n g i m e nto , c u l p a , a n g u st i a , sofri mento e dor, como se observa na fala a seg u i r.

Olha e uma experifmcia muito dificil e a morte, a nossa finalidade, da nossa profissao e justa mente o tempo todo e vitar qualquer complica;ao, nEW digo nem a morte, qualquer complica ;ao, e e vitar 0 sofrimento e a dor da paciente . . . (Pro. 2) .

o tra u m atismo d a morte e , em certa med id a , toda a d i stancia q u e separa a consciencia da mote da aspira:ao a i m o rtalidade, toda a contrad i:ao, que o p o e 0 fato b r u t a l da m o rte a afi r m a : a o d a sobrevivencia ( M O R I N , 1 970) conforme s e observa nessa fal a .

E a gente e muito ceptico, e muito viI, a gente acha que e treinado, para vivenciar tanto a vida, quanto a morte de uma maneira muito natural, ne .. . eu acho, q u e a m o rte e terrive l, re a lm e n te choca todo mundo .. . (Pof 1)

Percebe-se um d iscu rso institucional que, em nome do profissionalismo, estim u la a impessoalidade e tenta d i stanciar q uem trabalha dos principais fatos q u e confi g u ra m essa realidade, a dor, 0 sofrimento e a morte .

Para tanto , as i nstitu i :oes tem-se uti lizado de mecan ismos de d efesa estruturados social mente que aparecem como elementos na estrutura , na cultu ra e n o m o d o d e fu n c i o n a m ento d a o rg a n iza:a o , d e maneira a n a o i nterferi r na d i n a m ica e n a assistencia prestada (MART I N S ; ALV E S ; GODOY, 1 999).

Os profissionais de saude, no cotidiano dos servi:os e na racionalidade de um processo de trabalho cujo enfo q u e e a p rod u :ao e nao 0 produto desse t r a b a l h o , e x e rc i t a m re l a : o e s i m p e s s o a i s , fragmentari a s , 0 isolamento e a ind iferen:a afetiva , conforme se observa na fa la do sujeito social e m

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estudo.

. . . mas a gente todo dia ta vendo isso, eu nao sei se a gente se a costuma ou fica meio frio, ne, mas eu acho que e uma coisa assim, que a gente tem que aprender, ne, quem trabalha nessa area, apesar de que tem casos, que a gente fica bem emotivo (Po. 1 2).

A s o c i e d a d e o c i d e nt a l c u l t i v a 0 carater acidental da morte : acidentes , doen:as , i nfec:oes, etc. A morte fica despojada do carater de necessidade em termos do processo vita l . E sempre um assombro . o trau matismo provoca d o pel a m o rte e sempre u m a i rru p:ao no real . N o i nconsciente, esta mos tod os persuad idos da nos sa i m o rta l i d a d e , sem reg istro da morte , como 0 a n i m a l cego (KOVAC S , 1 992 ) .

Os homens, ao alienarem-se da morte, deixam de vivenciar os sentimentos , signifi cados e a poss ivel determ i na:ao d o carater soci ocultural e economico q u e defi ne 0 modo e as con d i :oes d e morte, os sentimentos e as con d i :oes de vida , a explora:ao que destroi a memoria de um povo .

A morte, pore m , nao afeta os p rofissionais de saude do mesmo modo. A maneira como eles reagem varia, e m g e ra l , d e a co rd o c o m a i d a d e d o m o rto , a circu nstancia em q u e ocorreu essa morte e g ra u de envolvi me nto com 0 paci ente , conforme se observa na fala a seg u i r.

. . ha uma sensibilidade maio, quando e uma crian;a, um RN uma crian;a em uma situa ;ao delicada, um acidente ou nao resistiu apos 0 parto, isso e mais sensivel .. . (Pro. 6) .

Os profissionais de saude expressam em suas falas q u e a m o rte e um processo natural do cicio da vida, mas como s uj eitos soci a i s banhados por u m a cu ltu ra ocidental p e l a q u a l apreendem a mote como fi m , r u p t u ra , fra c a s s o , v e rg o n h a e o c u l t a : a o apresentam atitudes de ocultar a m o rte vivenciad a , m a n ifestam os s e n t i m e ntos d e c u l p a , verg o n h a , angustia, vazio, tristeza , etc , conforme se observa na fala do sujeito social em estu d o .

A morte . . . eu considero uma fase normal, uma fase de vida, como voce nasce, desen volve e marre, porem, em algumas situa;6es sao mais sensiveis e outras ja se ha uma espera de que 0 organismo ja esta entrando em falencia . . . . (Prof. 1 1) .

Martins em seu livro ( 1 983 , p . 9 ) afi rma q u e : A concep:ao d a m o rte reve l a a concep:ao d a vid a . U m a socied a d e , p a ra q u a l a m o rte j a n a o tem senti d o , e ta m b e m u m a soci e d ad e , . . . . q u e perdeu 0 sentido d a vid a . Esta mos vivendo esse mome nto , d e perd a , d e fa lta d e sentido. Ja nao sabemos mais 0 q u e e a m o rt e , porq u e j a nao sabemos com cla reza 0 que e a v i d a .

A apreensao d a s d i m ensoes cultural e soci al d a morte na sociedade ocidental capita l i sta permite

OBA, M . das D . do v. ; TAVA R E S , M . S . G . ; OLIVE I RA, M . H . P. de

com preender as transforma:oes das rela:oes socia is dos p rofi s s i o n a i s d e saude e m rela:ao aos seus sentimentos e s i g n ificados d i a nte d a morte .

E m bora 0 homem seja 0 u n i co ser consciente de sua motalidade e finitude, a sociedade capitalista, com toda a sua tecnolog i a , faz com que os homens fiquem i nconscientes e privados de sua propria morte . o hospital e u m m icrocosmos onde se resumem, com m u ita clareza , os confl itos constitutivos da sociedade ocidenta l , percebe-se que m u itas vezes 0 paciente nao sabe com o morrer e 0 p rofissional da saude e i n ca paz de I h e expl icar 0 sentido d a morte ( KOVACS, 1 992 ) , conforme se observa nesta fal a .

. . . a mate e uma coisa extremamente chocante, ne, para todos nos, que nao aprendemos a conviver com ela, nao aceita 0 sofrimento, nossa sociedade e uma sociedade que nao cultivamas a mote ne, entao a gente nao a entende e nao aceita essa ideia . . . (Po. 3).

O s p rofi s s i o n a i s d e s a u d e , cuja forma:ao cientifica trata os fenomenos da vida e da morte como eventos da esfe ra biologica e, como tai s , podem ser d es ve n d ad o s e c o n t ro l a d o s . D e s s a fo rm a , n a o a pree ndem a m o rte e a v i d a como pertencendo tambem a esfera d a natu reza e cultura .

Assi m , esses profission a i s , atraves d e seus saberes , buscam d esvendar os segredos do corpo h u mano, con hecer 0 seu fu ncionamento, recu perar 0 seu eq u i l ibri o , abalado pela enfermidade, vencer a morte , o u , no m inimo, controla-Ia, adiando-a , eis, pois, os grandes desafios que se VaG colocando no exercicio da pratica profissional no setor da saude (CONSORTE, 1 98 3 ) , conforme se observa na fa la d o sujeito social e m estu d o .

. . . Onde foi que a gente falhou? Onde ? No que a gente erou? muitas vezes a gente nao falhou nada, fai pefeito, e nao tem como a gente evitar determinadas acontecimentos, entaa e uma coisa, que angustia muita a gente, traz sofrimento e dor .. . ( Pro. 2) .

Os proissionais de saude VaG apreendendo no seu d i a-a-d ia q u e a dor, 0 sofri mento nao sao apenas s i n a i s/s i n to m a s e a m o rt e n a o se t r a d u z e m s i m plesmente a m a i s u m a declara:ao d e obito . A o se aperceberem d a s s u a s co ndi:oes hu manas, vivenciam momentos nesse cotidiano de trabalho que os afetam e Ihes provocam outros sentimentos como i n s e g u ra n : a , i n c a p a c i d a d e , c o n s t ra n g i m e nto , i m p otenci a , sofri me nto e dor, conforme se observa na fala a seg u i r.

E dificil para 0 medico como e dificil para a familia, . . . gera inseguran;a na gente, incapacidade, e, as vezes 0 constrangimento, 0 sentimento de culpa, que a gente poderia ter feito mais alguma coisa e a gente fica questionanda 0 tempo todo . . . (Po. 9).

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CONSIDERACOES FINAlS

Se a morte e apreendida pelos profi ssionais de saude como fi m , ru ptu ra , fracasso , verg o n h a e ocu ltaya o , ao d e p a ra rem-se com a m o rte , essa experiencia passa a ser "terrivel " e mostra que os profissionais nao sao formados para com p reender a morte enquanto u m momenta d o cicio da vida ( O BA, 2000).

Dessa forma os profissionais de saude passam por m o m e ntos de q u e sti o n a m e nto s o b re a s u a fi nalidade profissional (pratica voltada para vida e re c u s a d a m o rte ) . m a n ife s t a m s e nt i m e ntos d e i n s e g u ra n ya , i n ca p a c i d a d e , c o n s t ra n g i m e n t o , angustia, sofrimento, dor, culpa e procuram alguma falha nos proced i mentos q u e a j u stifi q u e .

A o analisar os conteudos d a s entrevistas dos profissionais de saude, percebe-se a i m portlncia de uma proposta educativa que ve n h a prepara-Ios para essa experiencia do seu coti d i a n o d e trabalho e d a vida e, assi m , q u e m s a b e , poderao apreender q u e a mote e um momenta do cicio da vida e , portanto, nao e u m desafio a ser vencido.

A morte esta no u n ive rse fisico-q u i m ico, onde a vida se encontra consta nte m ente a m ea:ada d e reca i r, mas onde se formou , teceu e d ese nvolve u . A morte esta n a i n d eterm i na:ao m icrofisica , mas essa i n d eterm i n a : a o e n co n tra-se ao m e s m o tem po na origem das m uta:6es e d a s cria:6es, d e toda cria:ao. A m uta:a o , fo nte d a morte , e ind isti nta da fonte da vida ( M O R I N , 1 97 0 , p.325).

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Referências

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