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O rapto das figurinhas

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Academic year: 2017

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G E T U L I O

maio 2010

f I M

o

jornalista e cronista carioca Jo-aquim Ferreira dos Santos es-creveu, em 1997, um daqueles livros que a gente lê com mui-to gosmui-to. Parafraseando Zue-nir Ventura, autor de 1968, o Ano Que Não Terminou, Joaquim produziu Feliz 1958!, o Ano Que Não Devia Terminar, saboroso recordatório de um ano em que o otimismo tomou conta do país.

Havia motivos de sobra – e o traba-lho de Joaquim foi criar uma espécie de enciclopédia de fatos e dados que mostram por que aquele foi um ano para durar sempre: a seleção canari-nho, como se dizia, conquistou a Copa do Mundo na Suécia; a tenista Maria Esther Bueno ganhou seu primeiro torneio em Wimbledon; a seleção masculina de basquete se classiicara para o Mundial (e seria campeã no ano seguinte); Glauber Rocha e Nel-son Pereira dos Santos davam a partida para o cinema novo; Maria Della Costa encenava A Boa Alma de Setsuan, pri-meira montagem proissional de Brecht no país; surgia a bossa nova com João Gilberto, Vinicius e Tom Jobim; come-çavam a circular pelas ruas as primeiras Vemaguet, carro produzido aqui pela DKW-Vemag; e Juscelino Kubitschek entusiasmava o país com a construção da nova capital, traçada por Lúcio Cos-ta e Oscar Niemeyer – Cos-tanto que o pre-sidente, envolvido em compromissos do projeto “50 anos em 5”, não esperou no Galeão a chegada da Seleção.

Ainal, o DC-7C da Panair se atrasa-va pelos sucessivos stops no voo iniciado às 10h45 do dia 1º de julho em Estocol-mo. Dali saiu em direção a Londres,

depois Paris e Lisboa – onde o avião aterrissou à noite e, mesmo assim, a se-leção foi levada para homenagens nos estádios do Sporting e do Benica, com direito ao fado de Amália Rodrigues. Saíram do aeroporto de Portela de Saca-vém pouco depois da meia-noite rumo ao Recife, e a novo atraso: a população cercou o avião, obrigando a descida do “escrete”, que tinha o pernambucano Vavá. O voo terminou no Galeão às 17h50 do dia 2, hora local.

Ao editar este número, concebido por Leandro Silveira Pereira, muitas vezes relembrei passagens do livro de Joaquim, tornei a ler a reportagem A Volta dos Campeões – assinada a oito mãos por Mário de Moraes, Henri Ballot, Luiz Carlos Barreto e Arman-do Nogueira e publicada na revista O Cruzeiro de 12 de julho de 1958. A asso-ciação entre os momentos é inevitável.

De Marcelo Côrtes Neri a Maria Lúcia Pádua Lima, passando por Bres-ser-Pereira e a tertúlia dos professores Yoshiaki Nakano, Leda Paulani e Mar-cos Fernandes Gonçalves da Silva, todos coincidem no otimismo quando falam do atual momento vivido pelo Brasil. Um otimismo agora de pés no chão.

Até o curioso fenômeno da “febre das igurinhas”, que tomou de assalto a cidade de São Paulo a partir do últi-mo 11 de abril – com o lançamento do álbum Fifa World Cup 2010, encartado no jornal O Estado de S. Paulo –, trouxe de volta lembranças daquela época em que tudo parecia dar certo. Em 1958 a Editora Vecchi lançara os álbuns Marce-lino Pão e Vinho e Ídolos da Tela (neste, com 480 igurinhas, o dobro do anterior,

cada página continha um ator/atriz “ca-rimbado”, e Marilyn Monroe era a mais difícil: carimbada e assinada). Como numa volta de meio século, nestas últi-mas semanas as igurinhas se tornaram o “talk of the town”: nos corredores das faculdades alunos trocam igurinhas, anotando num mapa os números que faltam. Em escritórios de advocacia, a mania é colecionar – até como ferra-menta para “integrar a equipe”, como garantiu um tributarista à Veja São Pau-lo. O vão do MASP, na Paulista, ou o shopping Santa Cruz tornam-se pontos de troca. O Museu do Futebol, no Paca-embu, abriu o Foyer Paulo Machado de Carvalho (o chefe da delegação brasilei-ra de 1958) pabrasilei-ra quem aderiu à febre. O espaço abrirá todos os sábados, até 10 de julho, para a troca entre colecionadores. O hobby invadiu o Facebook, Orkut e Twitter e a Fifa lançou o álbum oicial de igurinhas online.

E o rapto das igurinhas, do título? Ele ocorreu no feriado de 21 de abril, na cidade de Santo André, no ABC pau-lista (um dos focos daqueles anos de industrialização e urbanização). Cinco assaltantes roubaram 135 mil igurinhas do álbum da Copa do Mundo 2010, fu-gindo com uma carga avaliada em R$ 100.000,00. Dois dias depois, uma de-núncia anônima levou a Polícia Militar a recuperar parte do roubo, quarenta caixas localizadas numa favela em São Bernardo do Campo.

Espera-se que desta vez não haja re-trocesso na caminhada para o desenvol-vimento, para a distribuição do bolo que cresce e para a educação de qualidade, em que aposta Marcelo Neri.

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