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Potencial de criação de Pirarucu, Arapaima gigas,em cativeiro.

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Academic year: 2017

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POTENCIAL DE CRIAÇÃO DE PIRARUCU,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Arapaima gigas, EM CATIVEIRO

Emir Palmeira IMBIRIBA1

RESUMOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA — O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns aspectos do manejo da criação  do pirarucu, nos itens relativos à reprodução, alevinagem, alimentação, crescimento rusticidade  e aspectos econômicos. Mesmo havendo medidas de proteção, a pesca é predatória e com graves  prejuízos aos estoques naturais. O cultivo é viável, em razão do extraordinário desenvolvimento  ponderal, chegando a alcançar em torno de 10 kg, com apenas um ano de criação. Desova  naturalmente a partir do quinto ano de idade, com peso em torno de 40 a 45 kg e de forma  parcelada. Excetuando­se o período de reprodução, não apresenta caracteres sexuais secundários  extragenitais. No ambiente natural, a idade e o período da primeira maturação sexual, não estão  perfeitamente definidos. Usa­se a densidade de um indivíduo para cada 200m2

 de área inundada,  quando são utilizados os açudes como locais de reprodução. O processo empregado na obtenção  de alevinos dessa espécie consiste na captura no próprio açude onde ocorre a reprodução. O  arraçoamento dos alevinos deve ser feito em quantidade equivalente a 8­10% do seu peso vivo  de carne de peixe. Embora sejam ictiófagos, os alevinos dessa espécie apresentam excelentes  taxas de sobrevivência chegando a 100%, devido não fazerem canibalismo. Além da respiração  branquial, os pirarucus utilizam a bexiga vascularizada como órgão de respiração acessória. A  produção de pirarucu na bacia amazônica baseia­se na captura em ambientes naturais. Em sistema  extensivo de criação, foram obtidas 199,7 toneladas de pirarucu, no ano de 1962, nos açudes do  Nordeste brasileiro. 

Palavras-chave: Amazônia, pesca, piscicultura, Arapaima, pirarucu. 

Production Potential of Pirarucu, Arapaima gigas, in Captivity

SUMMARY — This paper aims to analyse aspects of production system and management of  "pirarucu", in regard to reproduction, fry survival, feeding, growth, rusticity and economics. 

Despite the animal protection act, fishing of pirarucu is predatory and cause serious damages to  its natural stocks. Because of its extraordinary ponderal development, 10kg on its first year of  age, culture of pirarucu is deemed viable. The spawning occurs naturally in captivity at age 5,  live weight around 40 to 45 kg and it is partially made. Outside the reproduction period, the  species does not show secondary extragenital characters. Age and the period of the first sexual  maturation are not well defined in nature. Density shall be one individual for each 200  m2

 of  flooded area, when dams are utilized as reproduction places. Fingerlings are usually captured on  the same dam where reproduction occurs. Fingerlings are fed on quantities equivalent to 8­10%  of its live weight. Despite its carnivore feeding habit, fingerling pirarucu are not cannibal and  show survival rates up to 100%. Pirarucu is a branquial breather, but utilizes its vascularized  swin bladders as accessory breathing  o r g a n . "Pirarucu" production on the Amazon basin relies 

on its capture in the wild. In extensive production system the species can reach 199,7 tons obtained, in 1962, in northeast Brazilian dams. 

Key words: amazon, fishing, pisciculture, Arapaina, pirarucu. 

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 Eng. Agro EMBRAPA Amazônia Oriental. Cx. Postal  4 8 , CEP. 66017­970 Belém­PA, Brasil  INTRODUÇÃO

OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Arapaima gigas, denominado  no Brasil de pirarucu e paiche no Peru, 

é considerado um dos maiores peixes 

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(Saint­Paul, 1986). Na Amazônia, são  c o m u n e n t e capturados pela pesca  comercial, os indivíduos com peso  variando entre 30 a 40 kg, cuja carne  apresenta um rendimento médio em  torno de 57%. 

A pesca do pirarucu na bacia  a m a z ô n i c a é  r e a l i z a d a no rio  Amazonas e afluentes, como também  nas vastas áreas alagáveis de várzea e  igapó ligados a eles. Essa atividade é  extremamente influenciada pelo nível  da água dos rios, que interfere na  bioecologia da espécie. 

Esse peixe foi abundante nas  proximidades dos principais centros de  c o n s u m o , como  M a n a u s , AM e  Santarém, PA. Até a década de 60,  existiam em Belém, PA, algumas  empresas de porte médio e em vários  estabelecimentos  m e n o r e s , que  comercializavam o pirarucu seco­ salgado. 

M e s m o  h a v e n d o medidas de  proteção, a pesca do pirarucu está  colocando em risco a sobrevivência da  espécie, pois é praticada de modo  predatório. A intensidade da pesca,  determinada pelo alto valor comercial,  tem  e s t i m u l a d o a  c a p t u r a de  e x e m p l a r e s  j o v e n s ,  c h a m a d o s de  "bodecos", prejudicando de maneira  sensível os estoques naturais. 

A realidade da pesca do pirarucu  na vasta região amazônica revela o  quanto é difícil aplicar uma legislação  pesqueira eficiente. O conhecimento  da biologia pesqueira desse peixe se  faz  n e c e s s á r i o ,  p a r a um  m e l h o r  entendimento sobre as peculiaridades  da pesca, visando oferecer medidas  racionais de exploração. O cultivo, por 

outro  l a d o ,  a p r e s e n t a ­ s e  c o m o  importante atividade complementar à  pesca, tendo como objetivo, aumentar  a produção pesqueira dessa espécie, a  médio e longo prazos. 

O cultivo dos peixes carnívoros,  de um  m o d o geral  a p r e s e n t a  l i m i t a ç õ e s ,  d e v i d o ao  b a i x o  rendimento das cadeias alimentares,  pela  p e r d a de  e n e r g i a em  c a d a  m u d a n ç a de  n í v e l .  E n t r e t a n t o , a  criação do pirarucu é viável, uma vez  q u e esse  p e i x e  a p r e s e n t a  e x t r a o r d i n á r i o  d e s e n v o l v i m e n t o  ponderai, chegando a alcançar em  torno de 10 kg com apenas um ano de  cultivo, e superior rusticidade em  ambientes tropicais. 

No Brasil, os primeiros estudos  sobre a criação de pirarucu foram  realizados por Oliveira (1944), em  Belém, e Fontenele (1948), em Icó,  CE, quando conseguiram a reprodução  em cativeiro. Em sete açudes públicos  do Nordeste brasileiro, Fontenele &  V a s c o n c e l o s  ( 1 9 8 2 )  c i t a m  u m a  p r o d u ç ã o total  a c i m a de  2 . 0 0 0  toneladas desse peixe até o ano de 

1981, em sistemas extensivos, tendo  sido utilizados 5.590 alevinos de pi­ rarucu no  p o v o a m e n t o  d e s s e s  mananciais. 

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peruana, têm sido realizados alguns  t r a b a l h o s com o  p i r a r u c u ,  n a  reprodução e no crescimento. 

A piscicultura intensiva desse  fisóstomo, foi iniciada em Belém, na  E m p r e s a  B r a s i l e i r a de  P e s q u i s a  Agropecuária — Embrapa Amazônia  O r i e n t a l , em  c o n s o r c i a ç ã o com  búfalos. Os peixes foram criados em  viveiros de 100m2

 de área inundada e  abastecidos com água de um açude  d e s t i n a d o ao banho de bubalinos 

(ImbiribazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et ai, 1985).  No Brasil, além da Amazônia 

onde encontra o seu habitat predileto,  esse peixe pode ser racionalmente  criado nas Regiões Nordeste, Centro  Oeste, e, em determinados locais da  Região Sudeste, onde não ocorrem  grandes variações de temperatura.  Neste trabalho, são analisados alguns  aspectos do manejo de criação dessa  e s p é c i e , nos itens  r e l a t i v o s à  reprodução, alevinagem, alimentação,  crescimento, rusticidade e aspectos 

econômicos. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

REPRODUÇÃO

Mesmo sendo considerado uma  espécie importante para a piscicultura,  tanto na  p r o d u ç ã o de  a l i m e n t o s ,  q u a n t o na  p r o t e ç ã o , com o  repovoamento dos estoques naturais,  os conhecimentos sobre a fisiologia  reprodutiva do pirarucu ainda são  muito escassos. O comportamento  reprodutivo é bastante complexo, e  e n v o l v e a  f o r m a ç ã o de  c a s a i s  monogâmicos, construção de ninhos e  cuidado parental com o ninho e a prole  (Fontenele, 1948) 

Os estudos sobre a reprodução 

dessa espécie em cativeiro foram  iniciados por Oliveira  ( 1 9 4 4 ) , no  Museu Paraense Emílio Goeldi, em  B e l é m , e,  p o s t e r i o r m e n t e por  Fontelene (1948), no Departamento  Nacional de Obras Contra as Secas ­ DNOCS, em Icó, onde conseguiram  importantes dados sobre anatomia e  hábitos de procriaçào do pirarucu. 

BardachzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et al. (1972) citam que no  Peru, esse peixe foi reproduzido e 

u t i l i z a d o no  p o v o a m e n t o e  repovoamento de ambientes naturais. 

A primeira desova de pirarucu  fora do seu habitat natural ocorreu em  janeiro de 1939, nos lagos do Museu  Emílio Goeldi. As larvas dias após  nascidas, eram retiradas dos pais e  transferidas para um pequeno tanque  de cimento, sendo alimentadas com  plàncton e, posteriormente, camarões  triturados. De acordo com Oliveira  (1944), o número médio de larvas por  d e s o v a , eram em torno de  4 . 0 0 0  indivíduos. 

Alguns exemplares provenientes  dessas desovas foram transportados  para  F o r t a l e z a ,  C E , e a seguir,  t r a n s f e r i d o s para a  E s t a ç ã o de  Piscicultura "Pedro Azevedo", em Icó.  A reprodução do pirarucu nesses  ambientes, somente foi observada em  d e z e m b r o de 1944  ( F o n t e n e l e &  Vasconcelos, 1982). Por ser  u m a  espécie de desova em água parada, sua  reprodução em cativeiro pode ser feita  em açudes e viveiros. 

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em função da melhor qualidade da  a l i m e n t a ç ã o  e n c o n t r a d a  n e s s e s  ambientes (Imbiriba, 1991). Outro  fator a  c o n s i d e r a r no  a ç u d e , diz  respeito ao tamanho dessas coleções  d'água, quando comparadas às de um  simples viveiro. Verificou­se que a  presença de bovinos e bubalinos,  pastejando e banhando­se nos locais  de desova, prejudica a reprodução. A  fim de contornar esse problema, é  aconselhável retirar os animais uns  dois meses antes do início do período  chuvoso, trazendo­os de volta somente 

após a época de reprodução (Imbiriba zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et ai, 1996). 

Fontelene & Vasconcelos (1982)  citam que no Nordeste brasileiro, os  alevinos produzidos nas Estações de  P i s c i c u l t u r a , eram  u t i l i z a d o s  n o  povoamento de açudes públicos, onde  após comprovada a reprodução, era  permitida a pesca. O comprimento to­ tal dos  a l e v i n o s  u t i l i z a d o s no  peixamento desses açudes variou de  30 a 70cm. A pesca  p r e d a t ó r i a  praticada na época da reprodução e o 

uso indiscriminado de rede de espera  foram fatores  d e t e r m i n a n t e s  n o  declínio desta espécie nos açudes  daquela região. 

Na Tabela 1, são mostrados a  relação entre o número de alevinos  i n t r o d u z i d o s e o  n ú m e r o de  exemplares de pirarucu, capturados  nos açudes públicos do  N o r d e s t e  brasileiro. O início da reprodução do  pirarucu nesses ambientes ocorreu em  outubro de 1944, no açude Riacho do  Sangue, em Solonópole, CE, tendo os  alevinos sido introduzidos no dia 

16.07.1941 (Fontenele & Vasconcelos,  1982). Pode­se observar que os piraru­ cus, no citado açude, reproduziram­se  a partir do terceiro ano de idade. 

Fazendo a comparação entre o  número de alevinos introduzidos,  5.590, com o  n ú m e r o total de  exemplares capturados pela pesca, 

106.318, comprova­se a reprodução  desse espécime nos açudes públicos do  Nordeste brasileiro. Dos números  acima citados, não são levados em  consideração aqueles indivíduos que 

Tabela 1. Relação entre o número de alevinos introduzidos e o número de exemplares de pi­

rarucu capturados nos açudes públicos do Nordeste brasileiro. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A ç u d e s B a c i a h i d r á u l i c a ( h a )

A l e v i n o i n t r o d u z i d o

E x e m p l a r C a p t u r a d o

São Gonçalo (PB)  570,00  323  6.307 

Ayres de Souza (CE)  1.288,00  568  7.166 

General Sampaio (CE)  3.300,00  1.050  23.256 

Engo Ávidos (PB)  2.800,00  1.153  16.239 

Estevam Marinho (PB)  11.150,00  1.776  27.375 

Riacho do Sangue (CE)  918,57  168  7.166 

Itans (RN)  1.340,00  552  9.759 

Total  5.590  106.318 

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escaparam do controle estatístico, e os  que fugiram pelo sangradouro nos  períodos de repleção (Fontenele &  Vasconcelos, 1982). 

Os reprodutores desse espécime,  quando criados em açudes de fazenda,  devem ser alimentados com peixes de  baixo valor comercial, comumente  encontrados nesses tipos de ambiente,  em razão da fertilização orgânica,  ocasionada pelos dejetos dos gados  b o v i n o e  b u b a l i n o . O  a ç u d e  empregado na reprodução do pirarucu,  preferencialmente, deve fazer parte de  um sistema integrado, envolvendo a  pecuária com a piscicultura. Quando o  açude não contém uma população  e x p r e s s i v a de  p e i x e s  n a t i v o s , é  necessário fazer um povoamento com  espécimes "forrageiras", como por  exemplo as tilápias, as piabas, ou  e s p é c i m e s de  g r a n d e  c a p a c i d a d e  reprodutiva. 

Em  r a z ã o do  p o r t e dos  reprodutores e do tamanho mínimo do  açude, Imbiriba (1991) recomenda que  o povoamento dessas coleções d'agua  com pirarucus que servirão como  plantei de matrizes e reprodutores,  deva obedecer a densidade de um  indivíduo para cada 200m2

 de área  inundada. Devido à facilidade de  captura e ao transporte, bem como  o b j e t i v a n d o a  r e d u ç ã o do  t e m p o  necessário para procriação, sugere­se  que o povoamento seja feito com  animais pesando entre 5 e 10kg. 

Fontenele (1948; 1953) cita que  esse  e s p é c i m e ,  e x c e t u a n d o ­ s e o  período da desova, não apresenta  c a r a c t e r e s  s e x u a i s  s e c u n d á r i o s  extragenitais. Somente no período da 

reprodução é possível a identificação  do sexo dos reprodutores, uma vez que  o macho adquire acentuada coloração  escura na parte superior da cabeça e na  região dorsal, que se prolonga até  quase a inserção da nadadeira dorsal,  enquanto os flancos, ventre e parte  caudal adquirem coloração vermelha.  Na fêmea, a mudança de coloração é  pouco perceptível e todo o peixe  permanece com a cor castanho­clara.  Queiroz (no prelo) cita que os machos  são geralmente mais longos e esguios,  e n q u a n t o as fêmeas  t e n d e m a  apresentar um corpo mais curto e  grosso. 

Bard & Imbiriba (1986) citam  que o ovário da fêmea do pirarucu é  um órgão ímpar e está situado na  cavidade abdominal, em posição látero  mediana esquerda. Segundo Fontenele  (1948), um exemplar de pirarucu com  1,90m de comprimento total, o ovário  em estado de estro mede 495mm de  comprimento, 120mm de largura e  peso em torno de 650g. A coloração do  ovário é dada pela cor dos óvulos. O  ovário em estado de estro embora  apresente coloração variável, a cor  predominante é a verde petróleo. 

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atrofiado. 

No ambiente natural, a idade e  o período da primeira maturação  sexual desse espécime, ainda não estão  perfeitamente definidos. A desova  o c o r r e logo após o início das  enchentes e a época deve variar muito  ao  l o n g o da calha  S o l i m õ e s ­ Amazonas. Lowe­Mc Coonnell (1987)  cita que a reprodução dos pirarucus,  está intimamente relacionada com a  intensa dinâmica do nível das águas  dos rios da Amazônia. 

Muito embora pareça existir  sempre uma pequena parcela das  populações reproduzindo­se durante o  ano todo, o pico da reprodução está  associado ao início do período da  enchente dos rios, que varia de acordo  com o local específico da região  amazônica (Queiroz, no prelo). No  Peru, a reprodução desses animais,  inicia­se por volta do mês de agosto  (Guerra, 1980). 

A  p e s c a do  p i r a r u c u na  Amazônia começou a ser disciplinada  p e l a  a n t i g a  S u p e r i n t e n d ê n c i a de  D e s e n v o l v i m e n t o da  P e s c a  ( S U D E P E ) , hoje  i n c o r p o r a d a ao  I n s t i t u t o  B r a s i l e i r o de  Desenvolvimento do Meio Ambiente  e  R e c u r s o s  N a t u r a i s  R e n o v á v e i s  (IBAMA), a partir de 2 de setembro  de 1976, através da Portaria  n2

 15, que  proibia sua captura, anualmente, no  período de  Ia

 de outubro a 31 de  março. A portaria em questão tinha  como objetivo preservar a espécie na  época da reprodução. 

O início da pesca do pirarucu na  bacia amazônica, após 31 de março,  deixa vulnerável aqueles animais que 

ainda estão protegendo a prole durante  os meses de abril e maio, na Amazônia  O r i e n t a l . Em  r a z ã o do  desconhecimento da bioecologia desse  peixe, sua pesca era reaberta em plena  época de reprodução. Em 4 de março  de  1 9 9 1 , o  I B A M A  d e l i b e r o u a  Portaria  n2

 480, proibindo a pesca do  pirarucu, anualmente, no período de  l2 

de dezembro a 31 de maio. Assim, a  legislação ficou mais adequada às  condições locais da pesca deste peixe  na Amazônia. 

Em cativeiro, normalmente, o pi­ r a r u c u tem  a p r e s e n t a d o sua  reprodução a partir do quinto ano de  idade, com peso em torno de 40 a 45 

kg (ImbiribazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et ai, 1994). Esses dados  são considerados por Lüling (1964), 

para o pirarucu do rio Pacaya, no Peru,  o qual torna­se adulto após o quarto ou  quinto ano de vida, quando chega a  medir 1.70m de comprimento e peso  de 40 a 45 kg. A idade desses animais  foi determinada através do estudo das  vertebras. 

Durante o período de 1962/1963,  cerca de 762 exemplares juvenis de  p i r a r u c u foram  u t i l i z a d o s no  povoamento do lago Sauce , no Peru.  O objetivo do estudo era utilizar o  ambiente natural do lago como área de  r e p r o d u ç ã o , onde  m a i s  t a r d e os  alevinos desse espécime pudessem ser  aproveitados nas fazendas de criação  de  p e i x e s . A  p r i m e i r a  d e s o v a  n o  referido lago ocorreu em outubro de 

1975, ou seja, 12  a n o s após o  povoamento (Wosnitza­Mendo, 1984). 

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ter sido causada pela perturbação da  atividade pesqueira, no período da  reprodução (Wosnitza­Mendo, 1984).  Segundo Lüling (1971), o começo da  maturidade sexual do pirarucu em  c a t i v e i r o  p o d e ser  a t r a s a d o  consideravelmente, desde que sejam  perturbados. Wosnitza­Mendo (1984)  cita também que a desova do pirarucu  começa somente a partir do quarto ano  de idade, ou talvez mais tarde, desde  que sejam selecionadas áreas especiais  para reprodução e que os animais não  sejam  m o l e s t a d o s por ocasião do  período reprodutivo. 

Guerra (1980) reporta que na  Reserva Nacional dos rios Pacaya­ Samira, na Amazônia peruana, o pi­ rarucu desova durante o ano todo,  e n t r e t a n t o , com um  p e r í o d o de  máxima intensidade de setembro a  dezembro, com um pico mais alto no  mês de novembro, e de mínima, entre  março e maio. Alcança sua primeira  m a t u r a ç ã o sexual com um  comprimento total de l,85m e idade  de cinco anos. Estudos realizados com  pirarucu em Iquitos, Peru, no período  de 1985 a 1987, em viveiro com 3.000  m2

 de área inundada, e profundidade  variando entre 0,60 a l,20m, os peixes  alcançaram sua reprodução com a  idade de seis anos e um comprimento  de l,60m (Alcântara, 1990). 

O período de procriação do pi­ r a r u c u , na  A m a z ô n i a  O r i e n t a l , é  iniciado por ocasião das primeiras  chuvas na região, e ocorre entre os  meses de janeiro a maio, em locais de  pouca profundidade. A mudança do  nível da água por ocasião do início das  grandes precipitações pluviométricas, 

e de forma contínua, deve provocar  variações na condutividade elétrica e  pH da água, fatores ambientais de fun­ d a m e n t a l  i m p o r t â n c i a no  d e s e n v o l v i m e n t o gonadal e na  reprodução de várias espécies da bacia  a m a z ô n i c a .  O s  d a d o s  s o b r e a  i n f l u ê n c i a da  p r e c i p i t a ç ã o  pluviométrica na maturação gonadal  em peixes ainda são escassos. 

Bard & Imbiriba (1986) citam  que os ninhos são construídos pelo  casal em locais de fundo argiloso e  sem vegetação. Possuem a forma da  calota esférica, tendo cerca de 0,20m  de  p r o f u n d i d a d e e  d i â m e t r o de  aproximadamente 0,50m. Nos ninhos,  as fêmeas colocam os óvulos, que  recebem o líquido seminal do macho  para ocorrência da fertilização. Após  a  e c l o s ã o dos  o v o s , as  l a r v a s  permanecem durante cinco dias no  n i n h o , até  a b s o r ç ã o da  v e s í c u l a  vitelina (Fontenele, 1948). 

As larvas são pretas e nadam  sobre a cabeça e região dorsal do pai,  que as protege, e somente são visíveis  após atingirem uma semana de vida.  Segundo  F o n t e n e l e  ( 1 9 4 8 ) , nesse  período, as larvas já vêm à superfície  da água no exercício da respiração  aérea. Durante os primeiros meses, as  larvas, pós­larvas e alevinos vivem em 

cardume protegidos pelos pais. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ALEVINAGEM

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necessidade de virem à superfície no  e x e r c í c i o da  r e s p i r a ç ã o  a é r e a ,  facilmente os ninhos e casais são  perceptíveis, ocasião em que deve ser  acompanhada a evolução da prole e  efetuada a captura dos alevinos, quando  esses animais atingirem um peso em  torno de 40 gramas. 

S o b a  p r o t e ç ã o do casal de  reprodutores, os alevinos se reúnem  num só cardume, em razão do hábito  g r e g á r i o da  e s p é c i e  n e s t a fase,  facilitando a operação de captura  ( I m b i r i b a , 1991). O  a p a r e l h o de  captura empregado nesta operação  d e v e ser uma tarrafa tipo  "camaroneira". 

A  p r o l e no  a ç u d e  d e v e ser  acompanhada utilizando uma pequena  embarcação para duas ou três pessoas,  devido à necessidade de se fazerem  deslocamentos rápidos em busca dos  alevinos. O operador da tarrafa tem  que ser um pescador dotado de certa  h a b i l i d a d e no  m a n u s e i o  d e s t e  aparelho. A tarrafa tem que ser lançada  na  á g u a , no  m o m e n t o em que os  alevinos estão subindo à superfície  p a r a  r e s p i r a r e,  i m e d i a t a m e n t e ,  recolhidos para dentro da embarcação. 

Na fase de  a l e v i n a g e m , a  mortalidade é baixa, pelo fato de não  ocorrer canibalismo entre os membros  dessa espécie, e também porque os  pais protegem a prole. O transporte  para os viveiros de alevinagem deve  ser feito logo após a captura, em  caixas de isopor ou de plástico, com  cerca de  2 5 % de água, sem tampa  (Imbiriba, et al., 1996). 

O transporte dos alevinos de pi­ rarucu, para grandes distâncias, é feito 

em sacos de plástico cheios de água e  oxigênio. O número de alevinos por  saco depende do tamanho dos peixes  e da duração do percurso. O transporte  aéreo é efetuado em sacos de plástico  duplos de 25kg, contendo água e  oxigênio, com aproximadamente 25  alevinos de 30 a 40g de peso médio.  Para facilitar o  t r a n s p o r t e ,  e s s a s  embalagens devem ser acondicionadas  em caixas de papelão ou isopor. 

Os viveiros de alevinagem têm  dimensões entre 400 e 1.000  m2

 de  área inundada. Essa variação depende  do tamanho do empreendimento. As  instalações devem ser construídas em  locais que possibilitem o controle  efetivo da  a l i m e n t a ç ã o e do  crescimento dos alevinos, bem como  da  p r o t e ç ã o  c o n t r a os  a n i m a i s 

predadores. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ALIMENTAÇÃO

Apesar do grande potencial para  cultivo, o pirarucu apresenta pouco  conhecimento com relação ao hábito  alimentar, cujo estudo é importante  p a r a se ter  u m a  i d é i a  d a s  s u a s  n e c e s s i d a d e s  n u t r i t i v a s . 

P r i m a r i a m e n t e , ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Arapaima é um  piscívoro que nada lentamente, ou fica 

(9)

As presas são capturadas pelo  pirarucu por forte sucção, provocando  certos ruídos na água. Toda a água  apreendida é expelida pela abertura  das tampas operculares. Apesar do  avantajado porte, o pirarucu é um  p e i x e  i n o f e n s i v o ,  d e s p r o v i d o de  e s p i n h o s e  d e n t e s  a g u ç a d o s .  O s  maxilares dos exemplares adultos são  formados por uma fileira de poucos  dentes cônicos, com menos de 2mm  de comprimento. Como nas demais  espécies ictiófagas, o tubo digestivo é  curto. 

Ao  c o n t r á r i o das  e s p é c i e s  onívoras e herbívoras, que são menos  exigentes em conteúdo protéico e  aproveitam melhor uma variedade  muito maior de alimentos, tanto de  origem vegetal quanto de origem ani­ m a l , os carnívoros necessitam de  maior conteúdo  p r o t é i c o , quando  criados em cativeiro, e costumam não  aproveitar bem os alimentos de origem  vegetal. 

Inicialmente, a alimentação dos  a l e v i n o s de  p i r a r u c u  d e v e ser  constituída de peixes de pequeno  porte, como pós­larvas e alevinos de 

tilápia do Nilo,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Oreochromis niloticus, ou de outras espécies de elevada 

prolificidade. A captura dessas pós­lar­ vas é feita com rede de arrasto tipo  m o s q u i t e i r o .  N e s s e  s i s t e m a ,  conseguem­se peixes de menor porte  que os alevinos de pirarucu. Outra  alternativa de alimentá­los é cortar os  p e i x e s  f o r r a g e i r o s em  p e q u e n o  pedaços (Imbiriba et ai, 1996). 

O arraçoamento dos alevinos,  utilizando carne de peixes, deve ser  feito em quantidade equivalente a 8­

10% do  p e s o vivo individual  (Imbiriba, 1991). Durante o período de  alevinagem, deve­se ter o cuidado  com animais predadores, como peixes  carnívoros e pássaros ictiófagos. A  p e r m a n ê n c i a dos  a l e v i n o s nesses  viveiros deve durar até que atinjam  aproximadamente três meses de idade. 

O policultivo entre alevinos de  pirarucu e tilápia no mesmo viveiro,  em consorciação com suínos, é uma  alternativa utilizada na alimentação  dos pirarucus. Primeiramente se faz  uma consorciação prévia de suínos e  tilápias, construindo­se uma pocilga  rústica sobre o viveiro de alevinagem.  Q u a n d o  h o u v e r  u m a  e x p r e s s i v a  população de pós­larvas e alevinos de  tilápia, o que deverá ocorrer após três  a quatro meses dessa consorciação, é  que então os alevinos de pirarucu são  colocados no viveiro de alevinagem  (Imbiriba, 1994). 

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búfalos, aliada às altas temperaturas  durante o ano inteiro, e à capacidade  reprodutiva, cria condições favoráveis  a uma superpopulação de tilápias que,  em  g e r a l ,  n ã o  a t i n g e m  t a m a n h o  comercial. Esses peixes, com baixo  c u s t o de  p r o d u ç ã o ,  p o d e m ser  aproveitados na alimentação do pi­ rarucu, transformando um produto não  c o m e r c i a l em  o u t r o  a l t a m e n t e  rentável. 

O  r e g i m e  c a r n í v o r o do zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Arapaima, que representa uma das 

dificuldades na piscicultura, pode ser  solucionado de várias maneiras e que  variam com o método de criação  empregado (Bard & Imbiriba, 1986).  Através da consorciação pirarucu com  animais  d o m é s t i c o s , é possível o  a p r o v e i t a m e n t o dos  r e s í d u o s da  pecuária ­ dejeções sólidas e líquidas  "in natura" — como fertilizantes no  aumento da população de "peixes  forrageiros", que por sua vez irão  servir de alimento aos pirarucus. En­ tre as criações possíveis, pode­se citar  a consorciação conjunta de pirarucu  com suínos, bovinos, búfalos e aves. 

N o s  s i s t e m a s  i n t e g r a d o s de  cultivo envolvendo animal doméstico  e pirarucu, é importante a contenção  desses animais para que os resíduos de  sua alimentação e os excrementos  possam ser coletados. Os abrigos  devem estar instalados em locais  próximos aos viveiros de pirarucu,  para diminuir os custos de transporte,  ou  e n t ã o ,  c o n s t r u í d o s  s o b r e os  viveiros. Na criação consorciada entre  pirarucu e suínos, a pocilga pode ser  construída sobre o viveiro dos peixes. 

Em razão do potencial hídrico, 

normalmente as propriedades rurais da  Região Norte do Brasil, são dotadas de  açude geralmente superpovoados com  peixes de baixo valor comercial e que  podem ser aproveitados pelo pirarucu.  Bard & Imbiriba (1986) citam que  independente da espécie de peixe  forrageiro utilizada na piscicultura, a  sua produção e, conseqüentemente, a  do pirarucu, deve estar condicionada  à intensidade das criações de animais  domésticos na qual a piscicultura está  consorciada. Tendo como objetivo  evitar o custo do arraçoamento, seria  m a i s  p r o v e i t o s o  c r i a r  n o  m e s m o  viveiro o peixe forrageiro e o pirarucu.  Quatro meses antes da introdução dos  pirarucus nos viveiros de engorda,  deve­se efetuar um peixamento com  peixes  " f o r r a g e i r o s " . A  b i o m a s s a  desses peixes se desenvolverá e será  m a n t i d a  a t r a v é s da  f e r t i l i z a ç ã o  orgânica dos animais domésticos,  servindo assim de alimentos aos pi­ rarucus. 

Outra alternativa encontrada na  alimentação dos pirarucus seria a  o p ç ã o do  e m p r e g o de  r a ç õ e s  peletizadas. Entretanto, não existe  nenhum estudo quanto aos níveis de  proteína e energia necessárias na dieta  para esse peixe, estando portanto esta  solução condicionada à realização de  p e s q u i s a s que  c o m p r o v e m sua 

eficiência. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

CRESCIMENTO

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cultivo. No habitat natural, os dados  são pouco conhecidos e o crescimento  dos  p e i x e s  q u e  r e s p i r a m o ar  atmosférico é muito mais rápido nos  primeiros anos de idade. 

M e n e z e s  ( 1 9 5 1 ) cita  q u e o  crescimento do pirarucu durante o  p r i m e i r o ano de vida é  m u i t o  acentuado, e chegam a alcançar em  t o r n o de 10kg de peso fresco. O  crescimento continua acentuado até o  i n í c i o do  p e r í o d o  r e p r o d u t i v o ,  podendo ocorrer a duplicação anual do  peso. Mesmo após atingirem o período  de maturidade reprodutiva o pirarucu  continua apresentando alta taxa de  c r e s c i m e n t o anual em peso e  comprimento (Queiroz, no prelo). 

Wosnitza ­ Mendo (1984) cita  que a taxa de crescimento do pirarucu,  no lago Sauce, no Peru, foi de 0,80 m  após o primeiro ano e de l,50m após  o  s e g u n d o . Daí por  d i a n t e ,  v a g a r o s a m e n t e se  a p r o x i m a do  comprimento máximo de 2,45m. Na  região do rio Pacaya, no Peru, Lüling  ( 1 9 6 4 )  r e l a t a um  c o m p r i m e n t o  máximo de 2,32 metros. Através de  dados de comprimento e idade de  peixes adultos e de exemplares até  dois anos de idade, foi construída uma 

curva de crescimento para os piraru­ cus do lago Sauce (Fig. 1). 

Na Estação de Piscicultura de  Iquitos, Peru, Sanches (s.d), citado por  Bard & Imbiriba (1986) realizou um  ensaio de crescimento com pirarucu.  Os alevinos foram coletados no rio  Amazonas e receberam uma ração  composta de farelo de arroz misturado  com sangue de matadouro. Embora os  peixes tenham aceitado a alimentação,  o seu crescimento foi lento. 

E x p e r i ê n c i a s  r e a l i z a d a s no  Instituto Veterinário de Investigações  T r o p i c a i s e Altura  ( I V I T A ) , em  Pucallpa, Peru, com crescimento de  pirarucu em açude consorciado com  bovino é reportada uma produtividade  l í q u i d a de 1.846  k g / h a / a n o ,  considerando apenas 40 animais numa  área de 2.600  m2

 de espelho d'agua.  Os peixes foram estocados com peso  médio de 1 kg, e, ao final de um ano,  apresentaram um crescimento em peso  individual em torno de 12 kg (Bard &  Imbiriba, 1986). O açude era usado  como bebedouro para o gado bovino  e  a p r e s e n t a v a  d i s p o s i t i v o de  e s c o a m e n t o total para facilitar a  despesca. 

O fator  p r i m o r d i a l  n o 

Fev. Abr. Ago. Out. Dez. Dez. 76 76 76 76 76 77

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crescimento dos pirarucus no citado  ensaio deveu­se à fertilização mineral  aplicada às pastagens, na qual uma  parte era carreada pelas chuvas ao  a ç u d e e a  a d u b a ç ã o  o r g â n i c a ,  procedente do excremento bovino. A  eutrofização do ambiente aquático foi  aproveitada na produção de peixes  planctófagos e iliófagos, e que por sua  vez, serviram de alimento aos piraru­ cus (Bard & Imbiriba, 1986). 

Em dois ensaios utilizando um  sistema de cultivo intensivo com  circulação de água morna, esses peixes  cresceram de 19g para 2.506g em dez  m e s e s , e de 15g para  4 k g em 12  meses, alcançando 15 kg no 26Ω

 mês 

(Von SengbuschzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et al., 1974, Von  Sengbusch, 1980a, 1980b ; Meske, 

1980). O  a l i m e n t o  u t i l i z a d o  n o s  ensaios era constituído inicialmente de  peixes vivos e, posteriormente, de  p e i x e  c o n g e l a d o  m o í d o , com  alimentos artificiais. 

O primeiro ensaio experimental  de crescimento intensivo de pirarucu  no Brasil foi realizado por Imbiriba et al. (1985), utilizando as densidades  seis, onze, quinze e 20 pirarucus por 

100m2

 de área inundada. Os viveiros 

eram abastecidos pela água de um  açude usado no manejo de criação de  búfalos. Por indisponibilidade de  alevinos, os animais entraram em  épocas diferentes nos viveiros, cujo  peso médio variou de 25 a 388 gra­ mas. 

Bard &  I m b i r i b a  ( 1 9 8 6 )  referindo­se ao experimento acima,  citam um crescimento em peso médio  final de 4.497g em 152 dias de cultivo,  na densidade de seis indivíduos, e  3.070g com duração de 201 dias na  densidade de 20 animais (Tab. 2). O  arraçoamento dos animais no citado  ensaio, foi realizado com tilápias  v i v a s ,  c a p t u r a d a s três  v e z e s  p o r  semana, numa quantidade equivalente  a 6% do peso vivo dos pirarucus. 

Moura Carvalho & Nascimento  ( 1 9 9 2 ) citam um  e n s a i o  d e  c r e s c i m e n t o de  p i r a r u c u s  e m  associação com búfalos e suínos. O  crescimento em peso médio desse  peixe variou de 100 gramas para 10  kg, em  u m  a n o de  c u l t i v o . A  a l i m e n t a ç ã o dos  p i r a r u c u s  e r a  realizada com organismos forrageiros.  N e s s e  s i s t e m a ,  p r o c e d e u ­ s e a 

T a b e l a 2. Crescimento de pirarucu em peso e produtividade em diferentes densidades de  esiocagem. ;

 — ζ  zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Viveiro NT/100m2 Tempo Ρ (g) Ρ (g) Ganho de Ganho de Produtividade N° N° dias Inicial final peso peso extrapolada

diário(g) diário/ha (kg) T/ha/ano

1 6 152 388 4.497 27,0 16,2 5,9

2 11 152 126 4.037 25,7 28,2 10,3

3 15 131 167 3.567 25,9 38,8 14,2

4 20 201 25 3.070 15,1 30,2 11,2

(13)

introdução de alevinos de pirarucu,  três  m e s e s após a introdução dos 

suínos e organismos forrageiros. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

RUSTICIDADE

O pirarucu tem demonstrado ser  um peixe extremanente resistente ao  m a n u s e i o .  E s s a  e s p é c i e tem a  capacidade de suportar várias horas  fora d'agua, desde que suas escamas  permaneçam umedecidas. Não foi  observado nenhum sintoma de doença  entre esses animais. Embora sejam  ictiófagos, os alevinos dessa espécie  a p r e s e n t a m  e x c e l e n t e  t a x a s de  sobrevivência, chegando praticamente  a 100% ,  d e v i d o não fazerem  canibalismo. 

Além da respiração branquial, o  pirarucu utiliza­se da bexiga natatória  muito vascularizada como órgão de  respiração acessória (Sawaya, 1946).  Este aspecto evolutivo talvez esteja  relacionado com os baixos níveis de  o x i g ê n i o  d i s s o l v i d o nas  á g u a s  a m a z ô n i c a s  ( Q u e i r o z , no  p r e l o ) .  Lüling (1964) cita que essa espécie  respira obrigatoriamente por meio de  duas formas por toda a sua vida, e  devem, portanto, vir à superfície a  c a d a  d e z ou  v i n t e  m i n u t o s  p a r a  captarem o oxigênio atmosférico. 

Sioli (1967) classificou os rios da  Amazônia de acordo com sua coloração,  condutividade elétrica e pH, em água  branca, preta e clara. Junk (1983) cita  que mesmo havendo barreiras químicas,  com diferenças de pH e de concentração  de sais minerais entre a água branca e a  água preta, o pirarucu se adapta aos três 

tipos de água de acordo com a  classificação de Sioli. 

ASPECTOS ECONÔMICOS

A produção de pirarucu na bacia  amazônica baseia­se na sua captura  em ambientes naturais, o que durante  os últimos anos, vêm sofrendo os  efeitos negativos da sobrepesca, o que  têm contribuído marcantemente na  redução desses estoques. Segundo  Veríssimo (1970), essa espécie ocupou  posição de destaque na economia  p e s q u e i r a da  r e g i ã o .  E x i s t e m  e v i d ê n c i a s de que eram  desembarcados no porto de Belém, en  fins do século passado, uma médií  anual de 1.300 toneladas de pirarucus.  Essa média caiu para 300 toneladas,  na primeira metade do século 20  (Menezes, 1951). 

E s t u d o s  s o b r e a  p r o d u ç ã o  p r i m á r i a  m o s t r a m que as  á g u a s  brancas são as mais produtivas em  termos de fitoplâncton (cerca de seis  toneladas de matéria seca/ha/ano)  (Junk, 1986). Isto indica que os rios de  água branca, são as principais áreas  com alto  p o t e n c i a l  p r o d u t i v o  pesqueiro na região amazônica. Não é  somente a fertilização da própria água  que influencia a produtividade e as  redes alimentares. Normalmente os  r i o s , ao contrário dos lagos, têm  p r o d u ç ã o  a u t ó c t o n e muito baixa,  devido à sua turbidez e às fortes  t u r b u l ê n c i a s das  á g u a s . As redes 

a l i m e n t a r e s  d e p e n d e m ,  principalmente, do material autóctone 

da área de captação (Vannote et al.,  1980). 

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MacConnel (1987) e Pereira FilhozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et al. (1991) citam que a produção desse 

p e i x e na  A m a z ô n i a vêm sendo  reduzida drasticamente e, em algumas  regiões produtoras, os estoques já  estão comprometidos. O pirarucu é  comercializado na região amazônica  principalmente na forma de mantas,  que podem ser frescas, congeladas e  salgadas. Entretanto, são as mantas  s a l g a d a s , o  p r i n c i p a l  m e i o de  preservação e comercialização do  p r o d u t o , daí a  d e n o m i n a ç ã o de  "bacalhau brasileiro". 

A redução da população dessa  e s p é c i e , na bacia  a m a z ô n i c a , é  conseqüência de vários fatores, dentre  os quais podem­se citar: a reprodução  só ocorre após o quinto ano de idade  (dados de cativeiro); o grande porte  dos animais, que os transformam em  presas cobiçadas; a predação que  sofrem os alevinos, após a captura dos  reprodutores, no período de proteção  à prole; o processo de respiração  aérea, que torna a espécie facilmente  observada pelos pescadores e, portanto  a l t a m e n t e  v u l n e r á v e l ; e o  indiscriminado uso de malhadeiras  empregadas na captura dos peixes na  Amazônia. 

Imbiriba et al. (1994) relatam  um rendimento médio de carne de  5 7 %  p a r a o  p i r a r u c u , o que é  considerado excelente aproveitamento  q u a n d o  c o m p a r a d o com  o u t r a s  espécies da ictiofauna regional, dentre  as  q u a i s , a  p i r a m u t a b a ,  Brachyplastystoma vailantii e pargo,  Lutjanus purpureus, por exemplo, que  está em torno de 44%. 

I n d e p e n d e n t e do  m é t o d o 

empregado na pesca, o pirarucu é  sempre capturado morto, seja ferido  pelo arpão ou asfixiado pela rede. Pelo  próprio porte do animal, faz com que  ele seja imediatamente salgado nos  próprios locais de captura. A carne  fresca  n o r m a l m e n t e é  p o u c o  c o n s u m i d a ,  p r i n c i p a l m e n t e  n o s  grandes centros de comercialização de  pescado na Amazônia. 

A carne deste Osteoglossídeo,  além de deliciosa, praticamente é  desprovida de espinhas. A textura  permite o preparo dos mais variados  pratos regionais. Alguns produtos  como o fishburger, fishfinger, salsicha  de peixe, presunto de peixe, poderiam  ser fabricados a partir de carne de pi­ rarucu oriunda de uma piscicultura in­ dustrial. O oferecimento da carne  p r o d u z i d a em cultivo teria  c o m o  conseqüência, a diminuição na pressão  pesqueira que é exercida sobre os  estoques naturais. As escamas podem  ser usadas como lixa de unha ou na  confecção artesanal de ornamentos  típicos, enquanto que a língua, que é  óssea e áspera, é largamente utilizada  pelos nativos da região para ralar o  guaraná. O couro do pirarucu que  representa 10% do peso do animal,  pode ser aproveitado na indústria,  como  m a t é r i a ­ p r i m a para  b o l s a s ,  sapatos e cintos, contribuindo de  maneira importante para o incremento  econômico do cultivo dessa espécie  (Imbiriba et al., 1994). 

Tendo como objetivo normatizar  o tamanho mínimo de abate de piraru­ cus, o IBAMA deliberou a Portaria  n2 

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espécie com comprimento total infe­ rior a 150 cm. Em 15 de fevereiro de 

1993, uma nova portaria limitou a  comercialização de mantas secas e  s a l g a d a s de  p i r a r u c u s com  comprimento superior a 100 cm. 

Mesmo havendo uma legislação  disciplinando a pesca do pirarucu na  bacia amazônica, eles são capturados  com malhadeiras durante o ano inteiro  e de maneira não muito seletiva. Junk  & Honda (1976) citam que grande  parte desses animais desembarcados  na cidade de Manaus, são menores que 

150 cm, chegando muitos a medir  cerca de lm de comprimento total. 

N ã o resta  d ú v i d a que a  i n t r o d u ç ã o da  m a l h a d e i r a ,  principalmente nas matas inundáveis,  trouxe grande prejuízos aos estoques  de  p i r a r u c u . A eficiência  d e s s e s  aparelhos é grande e esses peixes após  malhados dificilmente escapam, em  r a z ã o da  n e c e s s i d a d e de virem à  superfície logo após serem emalhados. 

Caso houvesse proibição quanto  ao uso de malhadeiras em locais,  c o m o mata  i n u n d á v e l e  c a m p o s  alagados na pescaria de espécies de  p e q u e n o  p o r t e ,  c o m o  m e d i d a de 

o5 ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA σι cn σ > σ > σ > 

preservação do pirarucu, iria afetar os  pescadores ribeirinhos, que utilizam  esse tipo de aparelho na pesca de  subsistência. Junk (1986) cita que a  proibição temporária em certas áreas  por alguns anos, tendo como objetivo  tentar recuperar os estoques de peixes  grandes ainda é discutida. A realidade  da pesca do  p i r a r u c u na  b a c i a  amazônica mostra o quanto é difícil  impor restrições. 

Na figura 2 são apresentados os  dados de produção de pirarucu nos  açudes do Nordeste brasileiro, em  sistema extensivo de criação, durante  os anos de 1958 a 1980. 

O rendimento global da pesca  dessa espécie nesses mananciais foi de 

199,7  t o n e l a d a s no ano de 1962,  q u a n d o foi  a t i n g i d o o  p i c o de  p r o d u ç ã o . A seguir, a  p r o d u ç ã o  começou a decrescer, afora pequenas  oscilações, até o desaparecimento to­ tal da estatística da pesca naquela  região. 

P e l o s  n í v e i s de  p r o d u ç ã o  apresentados, observa­se portanto que  essa espécie aclimatou­se muito bem  nos açudes nordestinos em que foi 

introduzido, alcançando assim uma zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

•  ANO zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ψ  ANO zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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captura econômica. A pesca predatória  e x e r c i d a em  p l e n a  é p o c a da  r e p r o d u ç ã o e com  a p a r e l h o s  prejudiciais à sobrevivência do pi­ rarucu deve ter concorrido para reduzir  os estoques em níveis não compatíveis 

à pesca econômica. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.  A p e s a r  d a s  m e d i d a s de  proteção, o pirarucu encontra­se em  fase de declínio nas principais zonas  de produção e comercialização da  Amazônia. A sobrepesca tem atingido  a  c a p t u r a de  e x e m p l a r e s  j o v e n s ,  prejudicando de maneira sensível os  estoques naturais. 

2.  A p ó s a  i n t r o d u ç ã o das  malhadeiras, principalmente nas matas  inundáveis, têm ocorrido grandes  baixas nas populações de pirarucu, em  razão da eficiência desses aparelhos.  Depois de emalhado, dificilmente essa  e s p é c i e  e s c a p a ,  o n d e é  m o r t o  asfixiado, devido à necessidade de vir  à superfície para respirar. 

3. A proibição das malhadeiras  em locais como matas inundáveis e  campos alagados, como medida de  preservação do pirarucu, irá afetar os  pescadores ribeirinhos, que utilizam  d e s s e  a p a r e l h o na  p e s c a de  subsistência. A realidade da pesca na  v a s t a  b a c i a  a m a z ô n i c a  m o s t r a o  quanto é difícil impor restrições. 

4. Estudos sobre a bioecologia  dessa espécie são necessários, para um  m e l h o r  e n t e n d i m e n t o sobre as  p e c u l i a r i d a d e s da pesca, visando  oferecer  m e d i d a s  r a c i o n a i s de  exploração. Dentre as alternativas de 

preservação do pirarucu está o seu  manejo em  a m b i e n t e s  n a t u r a i s e  artificiais. Essa espécie apresenta  e x t r a o r d i n á r i o  d e s e n v o l v i m e n t o  ponderai, chegando a alcançar em  torno de 10kg com apenas um ano de  cultivo. 

5. Pelos  n í v e i s de  p r o d u ç ã o  apresentado e pelo porte, o pirarucu  pode ser utilizado no desenvolvimento  de uma piscicultura agro industrial. A  carne produzida em cultivo teria como  conseqüência a diminuição na pressão  pesqueira que é exercida sobre os  estoques naturais. 

RECOMENDAÇÕES

1. Interditar a pesca do pirarucu  em áreas críticas até que a população  seja restabelecida. 

2.  R e a l i z a r  e s t u d o s  m a i s  a p r o f u n d a d o s da  e s p é c i e em  ambientes naturais e em cativeiro. 

3.  A p o i o  i n s t i t u c i o n a l no  desenvolvimento da criação do pi­ rarucu na Amazônia, em face do seu  grande potencial de mercado e de  cultivo. 

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