UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
AS APRENDIZAGENS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM EVENTOS DE AÇÃO SOCIAL
VIVIANE CASTILHO VARGAS
VIVIANE CASTILHO VARGAS
AS APRENDIZAGENS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM EVENTOS DE AÇÃO SOCIAL
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Área de concentração: Enfermagem e Saúde Orientadora: Profª. Drª Maria Flávia Gazzinelli Co-orientadora: Profª. Drª Rita de Cássia Marques
Vargas, Castilho Viviane
V292a As aprendizagens dos profissionais de saúde em eventos de ação
Social – Minas Gerais [manuscrito]. / Viviane Castilho Vargas. - -
Belo Horizonte: 2008. 91 f.
Orientador: Maria Flávia Gazzinelli Co-orientador: Rita de Cássia Marques Área de concentração: Enfermagem e Saúde
Dissertação (mestrado): Universidade Federal de Minas Gerais,
Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem
Dissertação intitulada: “AS APRENDIZAGENS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM EVENTOS DE AÇÃO SOCIAL”, de autoria da mestranda Viviane Castilho Vargas, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:
__________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Flávia Gazzinelli - Escola de Enfermagem/UFMG - Orientadora
_________________________________________
Profª. Drª Rita de Cássia Marques - Escola de Enfermagem/UFMG Co-orientadora
_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Roseni Rosângela Sena - USP
________________________________________ Prof.ª Dr.ª Silvania Sousa doNascimento - USP
__________________________________________ Prof.ª Dr.ª Cláudia Maria de Mattos Penna -UFMG
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem/UFMG
Dedico este trabalho a meus pais, que me
ensinaram a ser quem eu sou, e a minha irmã,
Andréia Castilho Vargas, por sua luta que é
AGRADECIMENTOS
A Deus, que não me abandonou nem um segundo em toda esta jornada.
À Prof Dr Maria Flávia Carvalho Gazzinelli, minha orientadora, minha amiga, pelo carinho, compreensão, incentivo, paciência e contribuições para meu estudo. E principalmente por me fazer acreditar que eu conseguiria.
À Prof Drª Rita de Cássia, minha co-orientadora, pela disponibilidade e acolhida que demonstrou em todos os momentos.
Ao Hospital Socor, tendo como representante minha gerente, Cristina Helena Marrocos de Miranda, que permitiu que eu me ausentasse para que eu fizesse o mestrado e me escutou nas horas difíceis.
À minha amiga do coração, Fernanda, que esteve a meu lado sempre disposta a ouvir minhas leituras e questionamentos sobre meu trabalho.
À minha amiga e irmã, Cássia Ronise Senra Silva, que nos momentos mais difíceis não me abandonou.
A meu querido amigo Dener, amigo de todas as horas, que, se não fosse por seu incentivo, eu não estaria aqui.
À Ângela Diniz Costa, a minha mais profunda gratidão. Muito obrigada por tudo que tem feito por mim durante todos esses anos. Cresci muito e você me ensinou que primeiro é preciso desconstruir para depois construir uma vida diferente. Você me fez enxergar que é possível ser dono do próprio caminho e de nossas escolhas. E também que precisamos nos responsabilizar por elas.
Ao Renato Ávila, que, mesmo sem saber, me ajudou muito durante todo este processo.
Aos amigos Drª Bernadete Catete Blom e Dr Sérgio Luiz Lima, pelo incentivo e por entenderem minha ausência.
A toda minha família e amigos que compreenderam minhas ausências e distanciamento durante todo esse tempo. Amo muito todos vocês!
RESUMO
VARGAS, Viviane Castilho. As Aprendizagens dos profissionais de saúde nos eventos de ação social: 2008. 91F. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
Este estudo se insere no contexto de uma reflexão sobre o crescente envolvimento do trabalho voluntário de profissionais de saúde em eventos públicos de ação social e a possibilidade de estes se constituírem em espaços de aprendizagem significativos para a formação dos profissionais. No final do século XIX e início do século XX, um novo cenário e diferentes atores sociais surgem, com múltiplos interesses na realização de eventos de ações sociais. Esses eventos podem se constituir em possibilidades de re-significar o currículo historicamente hegemônico nas escolas. Nesse sentido, este estudo pretendeu investigar as aprendizagens dos profissionais de saúde nos eventos de ações sociais. É um estudo de abordagem qualitativa. Os sujeitos pesquisados foram egressos da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, que haviam participado de eventos de ações sociais de forma voluntária, em espaços desapropriados de estrutura física, material e tecnológica. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado a entrevista semi-estruturada individual. Para análise de dados, utilizou-se a análise de conteúdo, de onde se extraíram vinte categorias temáticas, posteriormente sintetizadas em quatro temas principais. O primeiro refere-se aos eventos de ações sociais em saúde, a participação dos profissionais e/ou alunos, as dificuldades encontradas nos eventos, a diversidade de atividades que são oferecidas, os espaços em que os eventos se realizaram e seu planejamento. O segundo refere-se aos interesses que norteiam o trabalho nos eventos de ações sociais. O terceiro refere-se à Universidade Federal de Minas Gerais e sua relação com a participação dos alunos nos eventos, a importância dessa participação e o papel da Universidade nesse contexto. O quarto está relacionado com as aprendizagens adquiridas nos eventos de ações sociais em saúde. Como aprendizagens efetivadas nos eventos, os profissionais indicaram a capacidade de relacionar com o ser humano, incluindo aí a habilidade de orientar, comunicar e abordar o outro; a competência de escuta sensível, de enfrentamento do imprevisível, do lidar com o outro diferente, além dos exercícios de transposição didática, inteligência, imaginação, inventividade, memória. Sintetizando, para os profissionais, a principal aprendizagem obtida relaciona-se com a idéia de que o aprender vai além do saber, envolvendo questões ligadas à interação com o outro. O estudo contribui especificamente para aproveitar e explorar o potencial formador desses diversos espaços não formais de aprendizagem.
ABSTRACT
VARGAS, Viviane Castilho. Health professionals learning in social events: 2008. 91F. Dissertation (Masters degree in Healthy in Nursing) – Nurse School of the University Federal of Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
This study is related to a reflection on the increasing health professionals involvement in social events and the possibility of these places become a real learning ambient for the professionals. In the end of XIX century and the beginning of the XX century, a new perspective seems to rise; different social actors, with a whole of interests take place in social events. These events may be considered as possibilities of a new meaning in the actual curriculum. Considering this, this study intended to investigate health professionals learning in social events.It´s a qualitative study. The subjects are egress students of Nursing school from the Federal University of Minas Gerais, who had volunteered being involved in social events, in places run of physical, material and technological structure. Data collection was based on individual semi structured interviews. Data analysis was based on a qualitative method composed by 20 categories and four main themes. The first is related to the health professionals social events; the professionals and/or students participation; the difficulties, the whole of activity in these events, the places where it happens and its planning. The second is related to the social events works leading interest. The third is related to Federal University of Minas Gerais and its relationship with students participation in these events; the importance of these participation and the University place in these context. The fourth is related to knowledge obtained in health social events. While knowledge obtained in these events, professionals show the capacity of dealing with human being, including the ability of communicating and approaching others; sensitive listening, facing the unpredictable, dealing with different subjects, and exercise didactics transposition, intelligence, imagination, creativity, memory. In synthesis, health professionals learning is related to the idea that learning goes beyond knowledge, including interaction with others. The study especially improves the exploration of the knowledge potential provided by these whole of non formal learning places.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO... 9
2 OBJETIVO... 24
3 METODOLOGIA... 25
3.1 Referencial Metodológico... 25
3.2 Local... 27
3.3 Sujeitos... 28
3.4 Coleta de dados... 29
3.5 Análise de dados... 30
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS... 34
4.1 Os eventos de ações sociais em saúde... 34
4.1.1 Espaços formais e não formais de aprendizagem... 37
4.1.2 A diversidade de atividades... 40
4.1.3 Propostas e objetivos e freqüência dos eventos... 42
4.1.4 Dificuldades encontradas em eventos de ações sociais.... 44
4.2 Os interesses que norteiam o trabalho nos eventos sociais ... 49
4.3 A Universidade Federal de Minas Gerais e sua relação com a participação dos alunos nos eventos realizados extramuros... 56
4.4 A aprendizagem adquirida em eventos de ações sociais em saúde... 59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 74
REFERÊNCIAS... 81
APÊNDICES... 86
1 INTRODUÇÃO
Este estudo se insere no contexto de uma reflexão sobre envolvimento do
trabalho voluntário de profissionais de saúde em eventos públicos de ação social e a
possibilidade desses espaços se constituírem em espaços de aprendizagem
significativos para a formação desses profissionais.
Torna-se necessário, dentro dessa temática, buscar na história o
comportamento da ação voluntária ao longo do tempo, os discursos que promovem
essa cultura da ação voluntária, como também refletir sobre o modo como os atuais
currículos vêm sendo organizados.
O trabalho voluntário na área de saúde não é uma novidade. Por ser o
cuidado com as doenças uma preocupação ancestral dos humanos e por ser
relativamente recente a profissionalização daqueles que cuidam da saúde, por muito
tempo a prestação de serviços nessa área acontecia voluntariamente. Até mesmo
nos dias de hoje, quando vigora a profissionalização e, mais até, a especialização na
área de saúde, ainda é possível encontrar em algumas instituições pessoas
voluntárias, movidas pela caridade e organizadas muitas vezes em associações1.
Atualmente o voluntariado assumiu outras características. Corullón (2002)
aponta o voluntariado como um fenômeno típico da América do Norte, ligado à
formação local dentro de um processo histórico que teve como conseqüência a livre
associação entre as pessoas em detrimento do poder coercivo do Estado.
Em certas regiões dos Estados Unidos, uma parte importante da
população era perseguida em sua terra natal e vinha se estabelecer no Novo
1
Mundo, onde pessoas se apoiavam mutuamente, promovendo assim um sentido de
comunidade que até hoje se reflete em algumas iniciativas de interesse público,
como é o caso do trabalho voluntário.
Na América Latina, a colonização foi construída pelo Estado. Com a
chegada dos colonos, instalavam-se concomitantemente os aparatos burocráticos da
Coroa Portuguesa, ou da Coroa Espanhola, e as estruturas hierárquicas do
catolicismo. Dessa forma, essas sociedades moldaram-se ao identificar o espaço de
atuação pública como sendo exclusivamente estatal ou religioso (CORULLÓN,
2002).
O trabalho voluntário na América Latina baseou-se, por muito tempo, em
dois fortes paradigmas: no primeiro, caracterizado pelo mais puro assistencialismo
material e cultural, dá-se alguma coisa àquele que nada tem, tudo precisa e nada
sabe; no segundo, outro pilar da identidade do voluntariado, ao outro tudo deve ser
dado, sem se receber nada em troca (GARCIA, 2001).
Assistencialismo e caridade marcaram o voluntariado na América Latina,
e essa combinação tão forte influenciou diretamente a configuração do voluntariado
como apolítico, puro e, principalmente, silencioso. “Pode-se dar, servir, porém não
se pode contar” (GARCIA, 2001, p.3).
No Brasil, segundo Domeneghetti (2001), o voluntariado esteve muito
tempo ligado a questões religiosas e a ações de caridade muito centradas na área
de saúde. Um marco desse fato foi o surgimento do primeiro hospital brasileiro em
1543, em uma pequena vila do litoral paulista, iniciando-se aí os movimentos de
caráter assistencialista. O autor relaciona essa ligação do voluntariado com as
Meister (2003) destaca que o fato de os brasileiros terem sido
catequizados pelos jesuítas, que pregavam a caridade e cujo assistencialismo
intensificava a dependência do ajudado, contribuiu para a formação da cultura
brasileira atual e possivelmente para a maneira dos voluntários atuarem.
Lima (2004) discute que os movimentos religiosos foram grandes
difusores da filantropia pelo mundo e que foram os primeiros a pregar a caridade e o
doar-se ao próximo, buscando a elevação do ser por meio da boa ação, do
assistencialismo e da benevolência. No assistencialismo, o enfoque é dar sem saber
se o outro quer ser ajudado e quais seriam as conseqüências dessa ajuda. Não
havia uma preocupação com a busca da qualidade de vida da comunidade, era
simples caridade.
Cabe aqui, no entanto, problematizar esse discurso que relaciona o
voluntariado à Igreja Católica, que oferece caridade, bondade e fé.
Segundo Caponi (2000), a caridade é um modo de legitimar as
desigualdades, de naturalizar a lógica das compensações entre o supérfluo e a
carência do necessário. Assim, nessa interação, a reciprocidade não existe, no
entanto é alimentada por uma necessidade de reconhecimento. O autor sinaliza que,
por esse motivo, as pessoas que são ajudadas estão sempre em dívida com seu
benfeitor, mas, ao mesmo tempo, não têm consciência disso. Assim é possível
pensar que, dessa forma, a caridade pode ser vista como uma maneira de controle
da comunidade que se torna cada vez mais devedora de algo para seus
beneficiários.
Outros discursos permeiam o voluntariado na modernidade. Torna-se
essencial para discuti-los destacar alguns conceitos que tentam explicar o que é o
Segundo Lima (2004), o voluntariado é originado do latim voluntarium,
que, de acordo com os maiores dicionários da língua portuguesa, significa pessoas
que se comprometem a cumprir alguma tarefa ou função sem para isso serem
obrigadas, e sem terem ganho algum em troca.
Outro conceito que vem sendo relacionado ao voluntariado, segundo a
ONU (2004), é:
O voluntariado é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos.
Segundo a Associação Internacional de Esforços Voluntários –
Internacional Association for Volunteers Efforts (IAVE, 2004), trata-se de “[...] um
serviço comprometido com a sociedade e alicerçado na liberdade de escolha. O
voluntariado promove um mundo melhor e torna-se um valor para todas as
sociedades.”
Para a Fundação Abrinq pelos direitos da Criança, em uma das primeiras
tentativas de definir o conceito no Brasil, afirma:
O voluntário, como ator social e agente de transformação, presta serviços não remunerados em benefício da comunidade, doando seu tempo e seus conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como a suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional (CORULLÒN WILHEIM, 1996, p.1).
Encontram-se vários apontamentos nesses conceitos do que é o
voluntariado: um trabalho sem remuneração, como doação, valorizado pela
sociedade, e relacionado a motivações que vão de religiosas a motivações políticas.
Alguns outros interesses, entretanto, parecem permear o trabalho voluntário e outros
Na contemporaneidade, um novo cenário parece estar sinalizando que
existem interesses diversos de atores sociais que estão à frente na realização
voluntária de eventos de ações sociais em saúde. Parecem ser velhas idéias e
propostas que retornam como novas soluções para os problemas sociais, como, por
exemplo, as novas posturas que seriam exigidas das empresas consideradas
modernas, como a responsabilidade social de empresas, (CORRULÓN, 2002).
Segundo o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável (LIMA, 2001), Responsabilidade Social Corporativa é:
[...] o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comprometimento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo.
A responsabilidade social está relacionada, como é citada por Corrulón
(2002), a alguns fatores, como exigências de consumidores e investidores,
espontâneas ou organizadas por grupos de pressão com alcance ampliado pela
mídia; a própria situação social e ambiental que, vista de uma perspectiva
estratégica, será, por si mesma, fator limitante da atividade empresarial; e a
necessidade de redefinir os papéis do Estado e da empresa.
Apesar de ser ainda polêmica, a idéia de responsabilidade social tem sido
ampliada para incluir também a atuação da empresa em assuntos de interesse
públicos, ligados ou não ao âmbito dos negócios.
Alguns dados do Grupo de Instituições, Fundações e Empresas (GIFE)
aparecem confirmando novas posturas das maiores instituições sociais mantidas
por capitais privados no Brasil. Uma pesquisa realizada em 2004 entre seus
artes, 43,7% de saúde e 43,7% de fortalecimento das organizações da sociedade
(GIFE, 2004).
No Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
uma pesquisa realizada a partir de entrevistas com dirigentes de 47 empresas das
áreas metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia constatou que 80% têm
perspectivas de expandir sua atuação social (IPEA, 2004). Pesquisa mais ampla e
anterior ao IPEA já havia constatado que dois terços das empresas da região
Sudeste no Brasil têm algum tipo de atuação voltada à comunidade, e Minas
Gerais é a maior, 81% das empresas.
Esse cenário tem mostrado modificações visíveis na promoção de
eventos sociais em saúde e pode estar sinalizando que a exigência que é sentida
pelas empresas para que ela tenha responsabilidade social é uma das causas dessa
modificação.
Klein (2005) discute que esse tipo de estratégia pode estar servindo de
marketing social, que seria constituído pelos discursos da responsabilidade social
que envolvem a responsabilização de empresas em causas sociais, garantindo-lhes
uma imagem de “imagem do bem” , preocupada com os consumidores e não apenas
com o lucro.
Assim a responsabilidade social estaria servindo como estratégia para o
marketing, possibilitaria reforçar o comprometimento com os problemas sociais,
criando uma idéia de satisfação a seus clientes por estarem adquirindo produtos
fabricados por uma empresa que se preocupa com os problemas e ajuda a
resolvê-los (KLEIN, 2005).
No final do século XX e início do século XXI, novos conceitos vêm sendo
O nome de Terceiro Setor vem sendo utilizado para nomear organizações que vão
desde entidades sem fins lucrativos, instituições filantrópicas, fundações, projetos
sociais ligados a empresas, dentre outros, às chamadas organizações não
governamentais. No Terceiro Setor, encontram-se tanto organizações formalizadas
juridicamente quanto informais; organizações com uma gestão estruturada e pouco
profissionalizadas; organizações de grande porte, quanto de tamanhos médios e
pequenos (CARRION, 2000).
Diante desses acontecimentos, Teodósio (2002) lembra que discussões
recentes no campo das ciências gerenciais, tanto na esfera acadêmica quanto no
âmbito das práticas produtivas concretas, têm relegado lugar de destaque ao
chamado Terceiro Setor.
O autor afirma que o Terceiro Setor virou sinônimo de modernização de
ação social voluntária e seria então o responsável por esse fenômeno que vem
ocorrendo em nossa comunidade. Ele se assemelha ao estado que é chamado de
primeiro setor, na medida em que tem objetivo e alvo para atuar no espaço público,
mas é diferente do governo por estar relacionado a uma iniciativa da sociedade.
Também não equivale à iniciativa privada (segundo setor), pois tem como objetivo o
benefício social.
A busca de um controle maior sobre os serviços e também de uma maior
autonomia na gestão da saúde, ligada à falta de respostas das agências do setor
saúde, tem tido como conseqüência o interesse de outros grupos sociais de terem
um maior acesso e de construírem conhecimentos nessa área do saber. Desse
movimento, têm surgido novas identidades coletivas nesse campo, dentre elas
Além dessas, têm-se presenciado na modernidade outras instituições que
estão à frente na organização de eventos de ações sociais em saúde e que não
fazem parte do Terceiro Setor. As universidades públicas e particulares constituem
exemplos dessas instituições. Assim como as empresas privadas, os eventos
promovidos pelas universidades também estão ligados à responsabilidade social e à
necessidade de dar visibilidade ao trabalho que estas realizam. Os alunos
participam, assim como os profissionais que estão vinculados às universidades, e os
trabalhos realizados por eles nos eventos se encontram envoltos em vários
interesses individuais, como certificados para incrementar currículos e abrir novas
possibilidades profissionais.
Klein (2005) aponta que as empresas estão cada vez mais valorizando as
experiências relacionadas à participação nesses eventos. Esse fato pode explicar o
interesse tanto individual como institucional da universidade em preparar os alunos
para o mercado de trabalho. Nesse estudo, não se tem a pretensão de analisar
todos os discursos que envolvem e caracterizam os trabalhos voluntários, mas sim
de buscar quais os interesses verdadeiros que permeiam esse trabalho, como
também se, por meio dele, são desenvolvidas aprendizagens e de que natureza.
Assim, o presente estudo pretendeu investigar a crescente promoção de
eventos de ações sociais em saúde, a participação dos profissionais enfermeiros
nessas ações, como também as aprendizagens adquiridas. Parece ser expressivo o
trabalho dos profissionais de saúde nesses eventos públicos de ações sociais em
saúde e esse fato pode estar apontando novos espaços articuladores de
aprendizagem que talvez possam posteriormente representar novos espaços-tempo
A relação que se estabelece entre espaço e aprendizagem vem sendo
discutida por educadores. Burnham (2000) e Young (2000) apontam que o processo
de formação não ocorre somente na escola e sim em múltiplos espaços, assim como
são múltiplas as aprendizagens que ocorrem em cada um desses espaços. Esses
autores discutem a importância desses novos locais articuladores de aprendizagem
e valorizam a relação que se estabelece nos espaços nos quais se materializa a
educação. Entretanto “não basta definir novos locais para o ensino, é preciso
exercitar a reflexão sobre a prática, para que esta possa ser uma referência para
interpelação e transformação das formas tradicionais de conceber currículo”
(FAGUNDES; BURNHAM, 2004, p. 105).
Os profissionais de saúde exercem seu trabalho em múltiplos espaços:
comunidades, hospitais, laboratórios, clínicas, consultórios, empresas, entre outros.
Cada um desses espaços de trabalho aparece como local de articulação de saberes
distintos, que provavelmente produzirão aprendizagens distintas. Esses espaços,
contudo, não parecem figurar como locais de produção de novos conhecimentos,
para as formas tradicionais de organização dos currículos (FAGUNDES; BURNHAM,
2004, p.105). Observa-se uma tendência na formulação desses currículos de
preceder a aprendizagem de referenciais teóricos, para depois aplicá-los na prática,
reduzindo os espaços de prática a meros receptores de conteúdos fragmentados
estudados em sala de aula (TORALLES - PEREIRA, 1997).
Entretanto, apesar das dificuldades e polêmicas, um novo cenário parece
estar se desvelando. Percebe-se atualmente, nas novas propostas curriculares, a
intencionalidade de diversificar os cenários de aprendizagem e, para isso, parece ser
necessária a aproximação contínua do mundo do ensino com o mundo do trabalho.
locais onde são articulados intencionalmente diferentes tipos de saberes (escolas,
universidades, institutos de pesquisa) e de trabalho (locais de trabalho, agências de
serviços, grupos culturais, ações de movimentos políticos e sociais). Segundo a
autora, cada vez mais há uma interpenetração entre as duas formas de organização
de aprendizagens. Isso pode estar relacionado ao fato de que todo tipo de trabalho
traz em sua prática algum aprendizado, que se transforma, se refaz e se reconstrói
para cada indivíduo de um modo particular. Dentro desse contexto então, seria
possível que os vários campos do exercício profissional fossem incluídos como
espaços do processo ensino-aprendizagem. Para Fagundes e Burnham:
Pensar em currículos mais sensíveis às necessidades do trabalho, às demandas localizadas, significa o desenvolvimento de uma capacidade de escuta às práticas curriculares nos espaços em que elas ocorrem e a outros espaços sociais em que se aprende saúde, como fonte de questionamentos e de demandas para o processo de formação. Esta compreensão tem na noção de “espaços de aprendizagem” um importante norte. (FAGUNDES; BURNHAM, 2004, p. 3-4)
Além do debate sobre espaços e aprendizagens, observam-se,
atualmente, algumas propostas de voluntariado na escola; entretanto, para que elas
façam parte do currículo, é importante que se problematizem os reais interesses dos
discursos variados que estão envolvidos nesses projetos.
Klein (2005) discute as propostas de voluntariado na escola e a produção
de saberes no currículo. A autora aponta a necessidade de problematizar alguns
discursos que pretendem construir uma cultura de voluntariado, através de práticas
que produzem saberes para serem incluídos no currículo escolar. Lança um olhar
mais crítico sobre a naturalização de inclusão dessas propostas na escola e indica
que as organizações de voluntariado têm sido entendidas como alternativas às
diversas formas de exclusão, colocando-se como críticas ao sistema econômico,
Em outro trabalho, Klein (2002) discute a docência voluntária e o discurso
neoliberal, apontando a necessidade de se investigar o voluntariado na escola,
especialmente em tempos neoliberais, em que esse tipo de trabalho tem sido
tomado como solução para resolver problemas sociais e os da escola. A autora
problematiza o discurso do voluntariado, que aparece como um discurso neutro,
caridoso e de doação, sem interesses econômicos, com fim estritamente solidário.
Klein, nesse trabalho, faz um convite à desconstrução desse discurso sobre o
voluntariado, pondo essas características sob suspeita e problematizando essas
verdades.
Diante desse cenário, muito ainda precisa ser estudado e conhecido
sobre currículo, espaços de aprendizagem e voluntariado. Para tanto, torna-se
necessário lançar um olhar crítico aos paradigmas que orientam os processos de
construção de currículos, ou seja, de seleção, organização, elaboração e
socialização dos conhecimentos (TORALLES - PEREIRA, 1997).
Antes de tudo, é necessário dizer que o currículo é uma práxis, não um
objeto estático e, como tal, se expressa por seus conteúdos, por seu formato e pelas
práticas que gera em torno de si, devendo ser estudado a partir de sua configuração
concreta no espaço onde acontece.
Os estudos de currículo nas últimas décadas do século XX e início do
século XXI que discutem as posições pós-modernas seguem essa tendência. Ao
questionar a importância das metanarrativas, a fronteira entre cultura elaborada e
cultura cotidiana, a consciência unitária, autocentrada, construída sobre
conhecimentos universais que se consubstanciaram a partir do Iluminismo, tais
posições acabam por criticar as abordagens humanista, tecnicista e
Nesse sentido, as explicações dos determinantes sociais, econômicos e
políticos dos fenômenos são substituídos por perspectivas interpretativas da
realidade, entre elas os estudos pós-estruturalistas e culturais. Tais estudos
reforçam a crença nas incertezas para explicar os acontecimentos, elegem a
diferença como resistência, a cultura local como objeto de estudo e trocam o
horizonte político pelo acontecimento (SILVA, 2008).
Assim, no movimento de fuga do currículo tecnicista, no cerceamento do
planejamento de ensino-aprendizagem centrado em objetivos comportamentais, os
estudos pós-estruturalistas acabam por criar práticas curriculares que respondem,
de maneira mais adequada, aos desafios da pós-modernidade.
Não se pode deixar de mencionar, entretanto, algumas críticas que vêm
sendo feitas às perspectivas pós-modernas de entendimento do currículo. Segundo
Freitas (2005), tais perspectivas, ao operarem com a lógica de um currículo que se
faz no presente, deixam de dar ênfase aos determinantes políticos, econômicos e
sociais do currículo, negligenciando, em conseqüência, sua importante função de
formação humana voltada para a mudança do status quo. Como apontam as
análises que buscam ir além dos pós–estruturalistas e dos estudos culturais, pensar
em um currículo implica sempre investir na formação de sujeitos históricos, capazes
de atuar coletivamente para transformar os processos sociais.
Inserem-se aqui, seja de maneira intencional ou não, as propostas
educacionais subjacentes às ações características dos eventos de ação social, por
oferecer novos espaços de aprendizagem que se diferenciam dos espaços
oferecidos pelos tradicionais currículos.
A esse respeito, pode-se dizer que os currículos escolares estão
aprendizagem (VEIGA, 2002). Essa matriz espacializa um tempo, colocando-o num
espaço específico, onde atividades transcorrem temporalmente.
Nesse sentido, importante reconhecer que a escola, os cronogramas, as
atividades e os horários escolares operam como dispositivos espacializadores
epistemológicos, ou seja, que conformam a percepção sobre o que seja
conhecimento e o uso do que é possível fazer dele. Nessa ótica, entende-se que a
maneira como o conhecimento é concebido e o espaço onde ele acontece definem
onde se deve estar, fazendo o quê, em que momento e com quem (VEIGA, 2002).
Depreende-se daí, em termos do conhecimento, que algo distinto deve
acontecer nos eventos de ação social, espaços onde se aprende sobre saúde, o que
pode ter forte repercussão na formação do profissional de saúde.
Nesse sentido, este estudo tomará como referência o trabalho voluntário
do profissional de saúde em eventos públicos de ações sociais em saúde, em
espaços não formais2, desapropriados de estrutura física, material e tecnológica,
como praças públicas, parques, rodoviárias entre outros. O trabalho com a
comunidade será tomado como referência.
Segundo Fagundes e Burnham (2004), a comunidade caracteriza-se por
ser um espaço em que cruzam diversos referenciais que poderão dar origem a
saberes distintos daqueles que circulam nas instituições, onde tradicionalmente as
práticas dos cursos de saúde são exercidas. A possibilidade do encontro do
profissional de saúde com a comunidade em espaços não formais poderia ser uma
oportunidade de uma maior interação entre eles, e essa nova situação geradora da
presença de um diante do outro figurar como um momento de aprendizagem.
Há poucos estudos publicados na literatura envolvendo essa temática.
Fagundes e Burnham (2004) fizeram um estudo que discute a relação entre espaço
e aprendizagem como forma de modificar ou inovar a organização curricular a partir
das demandas da prática.
Acredita-se que mais estudos nesse campo possam favorecer o
reconhecimento de que a forma como os conhecimentos e as aprendizagens são
entendidos dependem dos espaços-tempo onde acontecem, o que aponta para os
eventos de ação social se configurarem como espaços importantes de
re-significação dos currículos.
Torna-se necessário, dentro desse contexto, ancorar este estudo em teorias
pedagógicas de aprendizagem que ajudem a compreender os processos de
aprendizagem que ocorrem nos eventos de ação social.
As teorias de Jean Piaget, David Ausubel, Lev Vygotsky discutem os
processos intelectuais humanos, a forma de abordar e resolver problemas
complexos e a maneira como o ambiente incide sobre ambos, fornecendo um
quadro teórico útil para se analisarem as aprendizagens que ocorrem nos eventos
de ação social.
Na teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento cognitivo origina-se
enormemente de dentro para fora, pela maturação. Apesar de o ambiente poder
favorecer ou impedir o desenvolvimento, a ênfase dada pelo autor situa-se no
aspecto biológico e, portanto, maturativo do desenvolvimento (PIAGET, 1976). David
Ausubel, tendo como base os trabalhos desenvolvidos por Jean Piaget, estabelece,
em sua teoria da aprendizagem significativa, uma metodologia considerada
avançada, de instrução, em que o sistema de aprendizagem relaciona a informação
aprendizagem é o que indivíduo já sabe. Ausubel argúi que, para que aprendizagem
ocorra, esse conhecimento prévio deverá servir de ponto de ancoragem para os
novos conceitos (AUSUBEL, 1976).
Lev Vygotsky, ao conceituar aprendizagem, valoriza sobremaneira a
importância do ambiente no desenvolvimento intelectual do indivíduo e defende que
o desenvolvimento procede de fora para dentro pela internalização, ou seja, pela
absorção do conhecimento proveniente do contexto sociocultural. Dentro desse
pressuposto, as influências sociais, em vez das biológicas, são a base de sua teoria
(VYGOTSKY, 1991).
Em face do exposto, pode-se concluir que é a dimensão interacionista da
aprendizagem que deve ser considerada neste estudo. Pretende-se investigar aqui
se a participação dos profissionais de saúde nos eventos de ações sociais em saúde
configura-se como espaços de aprendizagem que possam posteriormente
2 OBJETIVO
Analisar as aprendizagens dos profissionais de saúde em eventos de ações
3 METODOLOGIA
3.1 Referencial Metodológico
Para se buscar um referencial teórico-metodológico tendo em vista a
compreensão do objeto de pesquisa, é preciso que se reflita sobre um aspecto
essencial dessa problemática: não é possível alcançar a compreensão total e
completa da realidade; entretanto, lançar um olhar cuidadoso sobre as linhas de
pensamentos existentes, reconhecendo suas limitações diante da realidade
estudada, pode ser um começo para a escolha desse referencial teórico (MINAYO,
1994).
Ao pretender estudar as aprendizagens dos profissionais de saúde em
eventos de ações sociais, a partir da visão desses sujeitos acredita-se que a opção
mais apropriada é por um encaminhamento qualitativo. Abordar, desse modo, esse
fenômeno pressupõe uma postura compreensiva, que permita um autêntico
aprofundamento da questão.
Como caminho metodológico, escolheu-se o referencial teórico da Análise
de Conteúdo (BARDIN, 1997). Nascida de uma longa tradição de abordagem de
textos, essa prática interpretativa se sobressai, a partir do início do século XX,
buscando recursos metodológicos que validem suas descobertas. A partir da
sistematização do material a ser analisado, da tentativa de conferir-lhe maior
pretende oferecer uma alternativa `a prática tradicional de leitura e interpretação de
textos (ROCHA; DEUSDARÁ, 2005).
Embora tal iniciativa tenha se traduzido em oferecer procedimentos
científicos de legitimação de uma dada técnica de leitura, há algo que permaneceu
ao longo do tempo: o objetivo de atingir uma significação profunda dos textos,
incluindo suas mensagens obscuras, com duplo sentido, cuja significação profunda
só pode surgir depois de uma observação cuidadosa e de um importante processo
intuitivo.
O objetivo da Análise de Conteúdo é alcançar uma pretensa significação
profunda, um sentido estável, conferido pelo locutor no próprio ato de produção do
texto. Definida como um conjunto de técnicas de análise de comunicações, a Análise
de Conteúdo aposta no rigor do método como forma de não se perder a
heterogeneidade de seu objeto.
O rigor, portanto, é o fundamento das contribuições oferecidas pela
Análise de Conteúdo, e, por meio dessa característica, afirma-se a possibilidade de
ultrapassar as aparências, os níveis mais superficiais do texto, descobrindo o que há
de forma oculta nele. Desse modo, seus dois traços – desejo de rigor e necessidade
de descobrir – de adivinhar, ir além das aparências, expressam seu desenvolvimento
histórico e o aperfeiçoamento que, atualmente, ainda a faz oscilar entre duas
tendências (BARDIN, 1997, p. 29).
A Análise de Conteúdo inclui técnicas precisas e objetivas que garantem
o desvelamento do significado atribuído pelos sujeitos da pesquisa aos eventos,
situações e acontecimentos, captando um saber que está por trás da superfície
textual. Parte de pressupostos sobre ciência, linguagem, realidade e pesquisador:
verificação de uma determinada realidade: ciência como processo por meio da qual
se apreende a realidade que está oculta, chegando a uma verdade; uma concepção
de linguagem como representação de uma realidade que existe a priori; a realidade
como um veículo de transmissão de uma mensagem subjacente; o suposto do
pesquisador como investigador que desvenda a realidade escondida, leitor
privilegiado por dispor de técnicas seguras de trabalho em detrimento do
pesquisador como agente participante de uma determinada ordem, contribuindo
para uma articulação entre linguagem e sociedade (ROCHA; DEUSDARÁ, 2005).
3.2 Local
Para este estudo em questão, escolheram-se os diferentes campos de
atuação dos enfermeiros como locais para a coleta de dados, como, por exemplo,
hospitais, clínicas, postos de saúde, docência, entre outros. O local em que o
profissional está atuando torna-se de grande importância neste estudo, para a
produção da heterogeneidade de discursos, resultado do modo como o sujeito
entrevistado percebe suas aprendizagens, que, por sua vez, são fruto, dentre outros
fatores, das demandas surgidas a partir das práticas realizadas em seu espaço
3.3 Sujeitos
Os sujeitos desta pesquisa foram egressos da escola de enfermagem da
Universidade Federal de Minas Gerais, que participaram de eventos de ações
sociais de forma voluntária, em locais desapropriados de estrutura física, material e
de equipamentos.
Compreender o currículo a partir das experiências vivenciadas por estes
sujeitos em sua formação e como profissionais poderá ser um caminho profícuo para
se desvelar a distância que ainda existe entre essas duas instâncias. Fazer um
paralelo entre elas pode ser uma forma de perceber se essas experiências foram
significativas tendo conseqüentemente modificado a prática do sujeito pesquisado
como profissional.
Foram dez enfermeiros os participantes da pesquisa. Quatro desses
enfermeiros trabalham em hospitais, respectivamente, na emergência, no centro de
tratamento intensivo e na unidade de internação. Outros três são docentes na escola
de enfermagem da universidade Federal de Minas Gerais. Dois trabalham em
unidades básicas da cidade de Belo Horizonte e Contagem. E o último, na
Secretaria de Saúde, em Belo Horizonte. Esse número não foi definido previamente.
De acordo com Duarte (2002), em uma metodologia de base qualitativa, o número
de sujeitos que compõem o quadro de entrevistas dificilmente pode ser definido a
priori, em razão da qualidade das informações obtidas em cada depoimento. A
profundidade, o grau de recorrência e a divergência dessas informações também
aparecendo dados originais ou pistas que possam indicar novas perspectivas, a
investigação em curso e as entrevistas precisam continuar sendo feitas.
Para Dauster (1999), o procedimento que se tem mostrado mais
adequado seria o de ir realizando entrevistas até que o material obtido permita uma
análise mais ou menos densa das relações estabelecidas naquele meio e a
compreensão de significados e sistemas simbólicos e também de classificações que
seriam códigos, práticas, valores, entre outros.
3.4 Coleta de dados
Foi utilizada na pesquisa a entrevista semi-estruturada. Esse tipo de
instrumento difere da entrevista estruturada porque combina perguntas fechadas e
abertas, possibilitando ao entrevistado falar sobre o tema proposto sem condições
pré-fixadas. A entrevista semi-estruturada contém poucas questões e deve ser um
instrumento facilitador da comunicação entre pesquisador e entrevistado, nunca um
obstáculo (MINAYO, 1994). Na Análise de Conteúdo, as perguntas são vistas como
motivações para fazer emergir a significação profunda que preexiste a pergunta.
De acordo com a autora, alguns itens indispensáveis deverão ser
respeitados na construção do instrumento. Cada questão precisa estar relacionada,
para dar forma e conteúdo ao objeto, permitir ampliar e aprofundar a comunicação e
contribuir para fazer emergir do ponto de vista dos interlocutores os juízos e as
Na entrevista deste estudo foram enfocados os seguintes pontos:
a) a participação dos profissionais nos eventos;
b) a relevância para o profissional na participação desses eventos;
c) a aprendizagem adquirida nos eventos;
d) o processo saúde – doença;
e) o incentivo da universidade no período de formação.
Esse tipo de entrevista que parte de pontos norteadores constitui uma
opção teórica metodológica, que tem estado no centro de vários debates entre
pesquisadores das ciências sociais.
Queiroz (1998) concebe a entrevista semi-estruturada como uma técnica
de coleta de dados, que deve ser dirigida pelo investigador de acordo com seus
objetivos. Portanto, da vida do informante só interessa o que insere diretamente no
domínio da pesquisa. Segundo a autora, existe uma distinção entre o narrador e
pesquisador, que se envolvem na situação de entrevistas, movidos por interesses
diferentes.
3.5 Análise de dados
Para análise de dados utilizou-se o referencial de análise de conteúdo,
segundo Bardin (1997), comumente utilizado para o tratamento dos dados de uma
pesquisa qualitativa (MINAYO, 1994).
Para Bardin (1977), pode-se definir a análise de conteúdo como um
de um instrumento, mas de um conjunto de possibilidades, ou sendo mais rigoroso,
um instrumento “[...] mas marcado por uma grande disparidade de formas e
adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações” (BARDIN, 1977,
p.31).
A análise de conteúdo possui duas funções principais, que podem
coexistir de forma complementar ou não: uma função heurística; que aumenta a
propensão, a descoberta, e uma função de administração da prova em que as
hipóteses são colocadas em forma de questões ou de afirmações provisórias, que
servirão de diretrizes e utilizarão o método de análise sistemática para serem
verificados, no sentido de uma confirmação ou de uma afirmação (BARDIN, 1977).
Algumas técnicas de análise de conteúdo têm sido desenvolvidas na
busca de atingir os significados do material qualitativo, e, para esse estudo em
questão, a análise temática foi à técnica utilizada.
De acordo com Minayo (1994), “[...] a noção de tema está ligada a uma
afirmação a respeito de determinado assunto. Ela comporta um feixe de relações e
pode ser graficamente apresentado através de uma palavra, uma frase, um resumo”
(MINAYO, 1994, p.208).
A autora destaca que fazer uma análise temática consiste em descobrir os
núcleos de sentido que fazem parte de uma comunicação cuja presença ou
freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado (MINAYO,
1994).
De acordo com Minayo (1994), a análise temática desdobra-se em três
etapas. A primeira etapa é a pré-análise, que consiste na escolha da documentação
e na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final. A pré-análise
pode ser dividida em algumas tarefas:
a) leitura flutuante do conjunto das comunicações: consiste em leituras
exaustivas do material ate impregnar-se de seu conteúdo e ser capaz de ultrapassar
a sensação de caos essencial;
b) constituição do corpus: organização do material de modo que possa
responder as normas de validade, exaustividade (que contempla todos os aspectos
levantados no roteiro), representatividade (que contenha a representação do
universo pretendido), homogeneidade (para escolha de temas, os critérios precisam
ser obedecidos) e pertinência (os documentos analisados devem servir ao objetivo
do trabalho);
c) formulação de hipóteses e objetivos: no material qualitativo a proposta
do quadro de análise sobre as técnicas é controversa. Parece ser um caminho
interessante estabelecer hipóteses iniciais, entretanto flexíveis, que permitam
hipóteses emergentes a partir dos procedimentos exploratórios.
A segunda etapa da análise temática foi a exploração do material, que
consiste na operação de codificação. Pode aqui ser feito um recorte no texto, nessa
primeira fase, em unidades de registro que podem ser uma palavra, uma frase, um
personagem, um tema, entre outros. A segunda fase que consiste nas regras de
contagem permitindo alguma forma de quantificação, não foi realizada neste estudo.
Na terceira fase, a classificação e a organização dos dados foram
realizadas, sendo escolhidas as categorias teóricas ou empíricas que comandariam
a especificação dos temas.
A terceira etapa da análise temática envolveu o tratamento dos resultados
e precisa ser reinventado a cada momento da pesquisa, dependendo dos tipos de
fala a que se dedica e também do tipo de interpretação que se pretende como
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Da análise do material das categorias temáticas, que foram vinte no total,
extraíram-se quatro temas e cada um deles se constituiu em um capítulo.
O primeiro refere-se aos eventos de ações sociais em saúde. Nesse tema
são abordados a participação dos profissionais e/ou alunos, as dificuldades
encontradas na participação desses eventos, a diversidade de atividades que são
oferecidas, os espaços em que acontecem os eventos e seu planejamento.
O segundo diz respeito aos interesses que norteiam o trabalho nos
eventos. Especificamente, são focalizados o trabalho voluntário nos eventos e os diversos interesses a ele relacionados.
O terceiro refere-se à Universidade Federal de Minas Gerais e sua relação
com a participação dos alunos em eventos de ações sociais em saúde.
Particularmente a ênfase recai sobre a importância da participação dos alunos
nesses eventos e o papel da universidade nesse contexto.
O quarto está relacionado às aprendizagens adquiridas nos eventos de
ações sociais em saúde.
4.1 Os eventos de ações sociais em saúde
A participação nos eventos de ações sociais em saúde é descrita, a
faculdade eu participava, é sempre quando tinha relacionada à diabetes. É no
parque municipal. Participei da Feira do Cuidado.” (S1)3
O entrevistado diz de sua participação em dois eventos, realizados no
Parque Municipal e na Barragem de Santa Lúcia, os quais foram promovidos pela
Universidade Federal de Minas Gerais durante sua graduação. Ele afirma que se
disponibilizou a participar desse evento, fato que mostra que possivelmente não era
obrigatório. Tratava-se de um evento promovido pela escola e os alunos teriam sido
convidados a participar.
Hoje em dia é possível observar eventos de ações sociais em saúde
sendo realizados em locais abertos, como, por exemplo, parques, rodoviárias,
praças públicas, passeios, entre outros promovidos por universidades, de um modo
geral, e também por outras instituições. Percebe-se que os alunos da graduação
participam desses eventos motivados, geralmente, por algum interesse diferente
daqueles que são contemplados no ensino formal.
Cabe indagar quais seriam os reais interesses desses alunos quando
participam de um evento de ação social. Enfim, o que esses alunos buscam
encontrar nesses espaços?
O entrevistado pontua um convite que foi feito a ele para participar como
voluntário em um evento da Caravana da Alterosa, promovido pela Rádio Alterosa
de Belo Horizonte: “[...] já Caravana da Alterosa e esse pessoal que viu que eu
comecei a fazer enfermagem me convidou pra fazer parte, de ir um dia como
voluntária.” (S3)
O entrevistado, em sua observação, relaciona o convite que foi feito a ele
para participar como voluntário na Caravana da Alterosa a sua profissão de
enfermeiro. Supõe que a representação das pessoas que fizeram o convite é de
uma enfermagem vinculada à ação voluntária. A enfermagem ainda hoje é
associada às atividades de ajuda, caridade e vocação, e tal ideologia está presente
na enfermagem brasileira desde sua origem.
Segundo Rodrigues (2001), essa ideologia provavelmente está
relacionada à origem da profissão do enfermeiro no Brasil e na Inglaterra, uma
relação ao voluntarismo de guerra de Ana Neri e Florence Nightingale, ambas
imprimindo a ele tanto valores militares como espírito de serviço
Em um trabalho realizado com alunos de enfermagem do primeiro e último
ano, Rodrigues (2001) relata que, de trinta e sete alunos de primeiro grau
entrevistados, 48,6% atribuem à enfermagem as características de ajuda, de
valorização do contato com o ser humano, como forma de satisfazer uma
necessidade pessoal de ajuda. Apesar de os alunos do último ano terem uma
concepção mais elaborada do que é ser enfermeiro, o autor discute que essa
postura não é somente de alunos recém-chegados à escola.
Outro entrevistado relata sua participação como aluno em uma feira
organizada em Sabará:
[...] Participei. Participei da feira de saúde de Sabará, foi uma parceria entre a UFMG e o CVT, que é o Centro Vocacional Tecnológico, é da UFMG. Participaram alunos daqui do curso de enfermagem e alunos do curso de nutrição. Essa feira, ela foi programada pra acontecer dentro do CVT, no estacionamento do CVT, num espaço pequeno, onde o CVT estaria entrando com o material de barracas e a UFMG com os alunos e com material didático que seria utilizado na feira. (S6)
O entrevistado aponta a parceria que foi feita para a realização desse
evento. Especificamente, nessa ação, o entrevistado relata que duas instituições
foram as promotoras e a cada uma delas coube a responsabilidade de oferecer
Outros eventos de ações sociais em saúde são promovidos pela
Universidade Federal de Minas Gerais, observação descrita abaixo por uma aluna
que diz ter participado de um deles: “[...] participei uma vez, na Federal, quando era
bolsista da Cláudia Penna, aí eu participei foi na barragem Santa Lúcia.” (S7)
Os alunos que participam de projetos dentro das universidades, como
bolsistas e ou voluntários, acabam tendo maiores chances de participar em eventos
realizados fora da escola. O envolvimento desse aluno com projetos de extensão
além dos muros da Universidade pode ser um dos fatores responsáveis por sua
participação nos eventos de ações sociais, quando focalizam uma realidade
diferente daquela que o aluno vivencia na escola. Outro fator que pode ser
determinante nesse contexto é que a participação em um projeto parece
responsabilizar de alguma forma o aluno no envolvimento com ações promovidas
por seu grupo.
4.1.1 Espaços formais e não formais de aprendizagem
Os entrevistados fazem comparações entre os eventos de ação social e os
hospitais e postos de saúde. O que existe em comum nos argumentos dos
entrevistados é que todos reconhecem tratar-se de espaços fundamentalmente
distintos. A contribuição que um dos entrevistados traz para esse debate está
[...] eu acho que muda a forma de você trabalhar com a população, acho que muda completamente porque é num ambiente controlado, você tem, geralmente, um processo já definido, um protocolo, você tem um começo, um meio e um fim nesses ambientes. Nem sempre esse protocolo ele é, vamos dizer assim, percorrido em toda sua plenitude. (S9)
O entrevistado aponta que nos hospitais a diferença se situa no tipo de
trabalha que se realiza, orientado sempre por finalidades claras e previamente
definidas
[...] foi uma experiência que eu quero trabalhar de novo, e é bastante diferente mesmo da prática de saúde que a gente vê dentro de um hospital, de um posto de saúde, são coisas completamente diferentes. Eu acho que a gente pode fazer mais numa feira de saúde. (S5)
O que chama atenção nesse comentário é que o entrevistado acredita que
em um evento pode-se fazer “mais” pela comunidade do que em postos e hospitais.
E possível que, em suas experiências dentro dos espaços formais, algo tenha
impedido que ele exercitasse uma prática mais sensível às necessidades da
comunidade.
A possibilidade de criar é vista como um traço dos eventos de ação social
que o distingue dos demais. Nas palavras do mesmo entrevistado:
[...] eu não gosto de hospital, eu sinto assim, que eu tô uma parede aqui, outra aqui e alguém mandando em mim e eu não saio dali e ali eu não consigo, sabe? Assim planejar e criar, não sei, eu acho que é muito protocolado hospital, assim, você não tem a chance de poder, de alguma forma, fazer um pouco diferente, que é o que eu sempre gostei. (S5)
O participante faz uma analogia entre o sentimento de estar confinado no
espaço do hospital e a falta de abertura concedida à invenção, iniciativa e
transgressão, característica desse espaço de trabalho. Fazer diferente e criar são
atos que dão passagem ao pensamento. Do ponto de vista do entrevistado, no
a repetição, por mais mecânica que seja, mais cotidiana, mais habitual, mais
estereotipada, encontra seu lugar na criação e dela se pode sempre extrair a
diferença. Esse pensamento leva a pensar: o que estaria impedindo o sujeito
entrevistado de, nos espaços-tempo do hospital, trazer o novo?
Outro aspecto é enfocado quando outro entrevistado busca diferenciar os
espaços formais dos não formais:
[...] é porque na verdade muda, né, a doença, por exemplo, numa instituição já atualmente onde eu trabalho, é, chegam pessoas mais ricas, eles vêm com outras doenças, por exemplo, enfarto, depressão porque ele tem uma dívida, sei lá; agora, quando essas pessoas menos favorecidas, eles vêm é porque ele não têm comida, ou não consegue ter uma boa higiene, ou meninas ficando grávidas, porque não têm conhecimento. Muda num sentido é a causa, digamos assim. (S3)
Os fatores socioeconômicos são apontados como responsáveis pela
distinção existente entre as doenças que acontecem nos dois tipos de ambiente.
O contato mais próximo com a realidade é outro elemento indicado:
[...] é eu acho que sim porque a gente vê que a relação é diferente, você vê os problemas que a população enfrenta, aí você tem um contato mais próximo da realidade, então vê, como é que está o processo saúde/doença, o que é saúde pra uns, o que é doença, o que então eu acho que se aproxima, você consegue ver esse aspecto mais de perto, coisa que você sai só da questão teórica. Então o que essa população entende por saúde, o que essa população entende por doença, então você consegue aproximar mais desse embate, eu acho que tem. (S3)
Aproximando-se da realidade das pessoas da comunidade e conhecendo
como vêem seu processo de saúde e adoecimento, pode-se pensar o contexto e
criar formas de comunicação que tenham sentido para elas.
Ainda sobre a diferença entre os trabalhos nos dois ambientes:
No posto é diferente, você já chega com um foco, ,já chega eu tô doente, eu quero fazer um exame, eu quero isso, eu quero aquilo. (S2)
Para esse entrevistado, os eventos de ação social configuram-se como
espaços para que a saúde seja experienciada, ao contrário dos postos de saúde,
onde se vive a doença.
Outro entrevistado, ainda na mesma temática, acrescenta:
[...] é um local aberto e, mesmo que seja perigoso, entre aspas, todo mundo respeita a gente, hum, chegava acolhendo a gente no local. Nós, como visitantes, chegamos ali sendo acolhidos e não sendo, tipo assim, botado pra fora, que eles podiam muito bem...”ah eu não quero isso. Não, eles nos acolheram muito bem, receberam a gente muito bem e a forma de tratamento é diferente do que se tivesse no posto. (S3))
Esse entrevistado comenta que a comunidade se comporta de uma
maneira diferente quando está sendo atendida nos espaços em que ocorrem os
eventos de ações sociais. Pode-se observar pela fala do sujeito que se constrói um
contexto de respeito que permite justamente que todos interajam, se acolham e se
entendam.
4.1.2 A diversidade de atividades
A diversidade de atividades é descrita como uma característica dos
eventos de ação social: “[...] eu já vi assim é sempre um auxiliar pra medir a pressão
e, sei lá, e outras coisas que não são ligadas a área de saúde, né.” (S9)
Os eventos de ação social são caracterizados pelo entrevistado como um
espaço que oferece, além de opções da área de saúde, momentos de descontração
para a população, que pode usufruir de eventos de lazer; como dança, entre outras
atividades.
Nessa fala, como na que se segue, os entrevistados comentam sobre os
assuntos abordados nas barracas que foram montadas na feira: “[...] a gente
explicava, tava um pessoal em seis ou sete pessoas, aí a gente explicava a prática
de parada, agora as outras barracas, tinha barraca sobre doenças sexualmente
transmissível.” (S2)
Os temas surgidos e indicados pelos entrevistados foram diabetes, parada
respiratória, doenças sexualmente transmissíveis, meio ambiente, pressão arterial.
Nesse item da diversidade de opções oferecidas nos eventos, o mesmo
entrevistado completa: “[...] tipo assim, cada uma tinha um joguinho pra que a
pessoa não saísse de lá somente com o fôlder, ele já saísse de lá com alguma coisa
na cabeça dele, aprendendo alguma coisa, construindo conhecimento lá mesmo.”
(S2)
Ele demonstra acreditar que o uso de jogos pedagógicos, além dos
materiais informativos, possibilitaria a construção de conhecimentos pela
comunidade. Esse pensamento faz parte do senso comum pedagógico; no entanto,
sabe-se que o simples fato de se lançar mão de jogos, brincadeiras e do lúdico nas
situações de ensino não assegura a ação do sujeito aprendiz sobre o objeto de
conhecimento. E necessário que as estratégias estejam apoiadas em pedagogias
interacionistas, segundo as quais o conhecimento é visto como fruto de uma
Este outro entrevistado relata sua percepção sobre os eventos de ações
sociais, “[...] nestas feiras, eu tô indo porque eu quero, porque eu tô me sentindo
bem, e, além de divertir passeando, saindo ao ar livre, eu ainda vou ver minha saúde
e aprender sobre ela”. (S3)
Interessante perceber que o entrevistado fala sobre saúde, não sobre
doença. Associa saúde a bem-estar, a sentir-se bem e ter prazer.
Outro entendimento dos eventos merece realce:
[...] acho que a questão do trabalho nesses eventos, caracterizado aí evento de praça pública, eu acho que, na verdade, pra mim ele teria um caráter, talvez não de um screaming, mas eu acho que ele teria um caráter de chamar atenção pra alguns problemas que estão na sociedade, e remetê-los a um fluxo, pressão arterial, a pessoa tá com uma pressão elevada, orientar sobre alguns cuidados e coisa e tal. (S9)
Para esse participante, o evento teria o caráter de denúncia de problemas
da comunidade. Ele acredita que, por meio dos eventos, seja possível divulgar os
problemas da comunidade e remetê-los aos canais responsáveis. É o que parece
estar implícito na expressão por ele utilizada “[...] remetê-los a um fluxo”.
4.1.3 Propostas, objetivos e freqüência dos eventos
Ao descrever e caracterizar os eventos de ação social, os entrevistados
expressaram preocupação com a proposta, os objetivos e a freqüência com que são