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Magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no Rio Grande do Norte

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENFERMAGEM CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO E DOUTORADO

CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE

MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO GRANDE DO NORTE

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2

Cleonice Andréa Alves Cavalcante

MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO GRANDE DO NORTE

Tese apresentada à banca de defesa do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

Área de concentração: Enfermagem na atenção a saúde

Linha de pesquisa: Educação e trabalho em Enfermagem e

saúde

Orientadora: Profª Drª Soraya Maria de Medeiros

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Catalogação da Publicação na Fonte

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MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO GRANDE DO NORTE

Tese apresentada à banca de defesa do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

Aprovada em: 28/01/2016, pela banca examinadora.

PRESIDENTE DA BANCA:

Professora Dra. Soraya Maria de Medeiros (Departamento de Enfermagem/UFRN)

BANCA EXAMINADORA:

Professora Dra. Soraya Maria de Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Orientadora

Professora Dra. Izaura Luzia Silvério Freire Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Membro Externo do Programa

Professora Dra. Maria Lúcia Azevedo Ferreira de Macêdo Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Membro Externo do Programa

Professora Dra.Iris do Céu Clara Costa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Membro Externo do Programa

Professora Dra. Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi Universidade de São Paulo USP

Membro Externo do Programa

Professora Dra. Claudia Santos Martiniano Sousa Universidade Estadual da Paraíba UEPB

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A Deus, que conhece a minha alma, guia os meus passos e sossega o meu coração. “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor” (Provérbios, 16-1). Aos meus pais (in memoriam), Raimundo Ferreira e Margarida Alves, sempre, pelos exemplos a serem seguidos, pela dedicação ao trabalho e à família. Ao meus amados e abençoados filhos, Lucas e Daniel, que apesar dos momentos de ausência souberam compreender e ainda presentear-me com demonstrações de afeto, carinho, incentivo e amor, proporcionando-me a alegria de ser mãe. Ao meu amor, Gilson Júnior, companheiro de todas as horas. Obrigada pelo carinho, compreensão e apoio, sempre. “Você é o amor da minha vida”. À minha família, irmãs e irmãos, sobrinhos e sobrinhas, cunhados e cunhadas. Saibam o

quanto eu sou abençoada de ter vocês em todos os momentos da minha vida. Em especial a minha irmã Francisca Lúcia e ao meu cunhado Cleber Gomes por me proporcionar aprendizado, carinho e ensinamentos. Minha eterna gratidão. Ainda aos meus queridos irmãos Melchíades Alves Neto e Ronaldo Cavalcante pelo carinho de pais que me dedicam e por cuidarem com carinho de sua sempre “Deinha”. A minha irmã Barbara Thalita e sua linda família, meu carinho e admiração pelo exemplo

de mãe, irmã, filha e esposa. Seu carinho é especial em nossas vidas. A minha secretária e amiga Lúcia Andréa (Dedé) por cuidar com tanto carinho e zelo da nossa família e do nosso lar. Você, por mérito, faz parte da nossa pequena família. Ao meu sogro e sogra, Seu Gilson e D. Célida e sua família que me tratam e amparam como

filha e irmã. Pelos exemplos em tudo que fazem, minha enorme admiração e respeito À minha segunda família, todos que fazem parte da Escola de Saúde da UFRN. Saibam o quanto eu sou abençoada de ter vocês em minha vida. As minhas companheiras de trabalho e luta pela Enfermagem: Jovanka, Edilene, Gilvânia, Agripino, Cleide, Sheila, Juliana Jales, Eliane Santos e Ana Cristina. As minhas grandes e fieis amigas/irmãs Maria Lúcia, Elisangela Franco, Lannúzya Veríssimo – companheiras de todas as horas, grandes incentivadoras– agradeço por terem acreditado em mim, contribuído em tudo, esse título é nosso! À querida colega e Profª Dra. Izaura Luzia Silvério Freire, que não mediu esforços em auxiliar-me nesse processo, contribuindo com o seu saber, sempre disposta a me dispor de

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AGRADECIMENTOS

A elaboração deste trabalho foi marcada por uma trajetória árdua, mas com inúmeras contribuições, que me auxiliaram a ultrapassar os obstáculos com mais facilidade e determinação. Agradeço nominalmente a algumas pessoas que estiveram comigo nesta caminhada, com a certeza de que muitas deveriam também aqui constar.

A minha orientadora, Prof. Dra. Soraya Maria de Medeiros, por ter aceitado o desafio desse trabalho, quando essa possibilidade era ainda um sonho rabiscado em forma de projeto, mas, sobretudo, pelas valiosas orientações, o meu mais profundo agradecimento.

A minha amiga/chefa Francisca Idanésia da Silva, que me amparou nos momentos mais difíceis, disponibilizando seu tempo para meus desabafos, sempre apoiando e encorajando-me com suas sábias palavras e sua loucura encantadora.

A minha querida mestre, Profa. Dra. Maria Ângela Fernandes Ferreira, incentivadora dos meus sonhos, com quem aprendi a sonhar ainda mais, nas disciplinas que me fizeram admirá-la como um exemplo de mestre a ser seguido.

Ao colega e amigo Marquiony Santos pela contribuição primorosa na Consultoria estatística nos resultados da tese. A quem aprendi a admirar sua espontaneidade e alegria de menino. Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: à coordenação, aos professores, aos funcionários e servidores terceirizados.

À Zanigley e José Carlos, meus amigos e compadres que me fizeram sorrir, nos momentos mais difíceis que atravessei, eu jamais esquecerei.

Às minhas colegas de trabalho e amigas de coração, Alessandra, Maristela e Alice, com quem dividi minhas necessidades durante esses anos de doutorado, entendendo e suprindo minhas ausências e que souberam sempre me ouvir, apoiando-me em tudo que precisei na secretaria da direção de ensino.

As minhas queridas Profª Drª. Lara de Melo Barbosa de Andrade, Profª Drª. Iris do Céu

Clara Costa e Profª Drª. Bertha Cruz Enders pela honra em tê-las na banca de qualificação

e de defesa. Vocês me incentivaram e deram Luz as minhas dúvidas e inseguranças. Esse trabalho tem um pouquinho de cada uma de vocês.

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Castro que se dispôs a trabalhar comigo na coleta de dados, apesar da demanda de trabalho que já assume e do compromisso que demonstra na luta pela Saúde do trabalhador do RN. A minhas querida Profª Drª. Maria Lúcia Robazzi (USP), pela honra em tê-la na banca examinadora de defesa, por quem tenho profunda admiração.

A Profª Drª. Claudia Santos Martiniano Sousa (UFPB), pela honra em tê-la na banca examinadora de defesa, pelo prazer de conhecê-la e admirá-la.

Aos colegas dos grupos de mestrado/doutorado com quem vivi momentos inesquecíveis, em especial à Marcely, Sales, Renata, Fernando, Larissa, Kalyane Kelly, Theo Duarte, João

Mário e Cilene com quem partilhei minhas alegrias e tristezas, na organização e planejamento das tarefas a serem apresentadas nos seminários e oficinas. Sem dúvida, formamos um excelente grupo.

Aos meus amigos e amigas que vivenciam e sentem na pele as consequências nefastas da precarização do mundo do trabalho: Zefinha, Aparecida, Célia, Eduardo, Alexandre,

Célia, Lízia, Fátima, Joana, Edvânia e Wanderley. Vocês são os verdadeiros guerreiros

nessa luta desigual e excludente.

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“Nada mais concreto do que a inserção do homem no sistema produtivo, onde a saúde garante ao homem a disponibilidade do uso da força de trabalho. A doença representa uma ruptura nesta lógica”

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CAVALCANTE, C. A. A. Magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no Rio Grande do Norte. 2016. 160 f. Tese (Doutorado) – Programa de pós-graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

RESUMO

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planejamentos e políticas públicas de saúde. No entanto, o sistema de informação ainda carece de melhoria tanto na cobertura como na qualidade dos dados no sentido de demonstrar com maior fidedignidade a magnitude dos eventos para subsidiar o planejamento das ações em Saúde do Trabalhador no estado.

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CAVALCANTE, C. A. A. Magnitude of morbidity related to work in Rio Grande do

Norte. 2016. 160 f. Thesis (Doctorate) - Post Graduate Program in Nursing, Federal

University of Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

ABSTRACT

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demonstrate with greater reliability the magnitude of events to support the planning of workers' health into shares in the state.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Variáveis dependentes com escala/critério e identificação dos agravos e

doenças relacionadas ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Natal/RN, 2015 ... 64 Quadro 2 – Variáveis de caracterização sociodemográfica dos trabalhadores que sofreram agravos e doenças relacionadas ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Natal/RN, 2015... 65 Quadro 3 – Variáveis ocupacionais relacionadas aos casos de agravos e doenças relacionados ao trabalho dos notificados e acompanhados pelo CEREST/RN. Natal/RN, 2015... 65 Quadro 4 – Síntese dos artigos que compõem os resultados e discussões da Tese de doutorado: Análise da magnitude das doenças relacionadas ao trabalho no Rio Grande do Norte. Natal/RN, 2015... 72

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Divisão político - administrativa do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, 2015... 62

ARTIGO 1

Figura 1 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte, notificados no período de 2007 a 2014 ... 78 Figura 2 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte por ano de notificação, notificados no período de 2007 a 2014... 79 Figura 3 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte estratificado por sexo. Rio Grande do Norte, RN, Brasil, 2007-2014... 81

ARTIGO 2

Figura 1 - Distribuição da frequência relacionada à evolução dos casos de acidentes com exposição a material biológico em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014... 100 Figura 2 - Distribuição da frequência do uso de equipamentos de proteção individual durante a ocorrência do acidente com exposição a material biológico no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014... 101

ARTIGO 3

Figura 1 - Distribuição da frequência relacionada à evolução dos casos de acidentes de trabalho grave em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014... 120 Figura 2 - Distribuição da frequência das partes do corpo atingida nos acidentes de

trabalho grave em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a

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LISTA DE TABELAS

ARTIGO 1

Tabela 1 – Distribuição de valores absolutos e porcentagens das variáveis socioeconômicas e relacionadas ao trabalho. Rio Grande do Norte, RN, Brasil, 2007-2014 ... 80

ARTIGO 2

Tabela 1– Distribuição da frequência das variáveis sociodemográficas dos acidentes com exposição a material biológico notificados em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014... 96 Tabela 2 – Comparação das proporções do tipo de acidente percutâneo com as variáveis contextuais dos acidentes com material biológico em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014... 98

ARTIGO 3

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMB – Acidente com exposição ao material biológico AT – Acidente de trabalho

ATG – Acidente de trabalho grave

Anti-HIV – Anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana Anti-HBS – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B Anti-HCV – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite C ARV– antirretrovirais

AZT – medicamento antirretroviral zidovudina CAT – Comunicação de acidente de trabalho CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CDC – Centro de Prevenção e Controle de Doenças CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CEREST – Centros de Referência em Saúde do Trabalhador CGSAT – Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador CID – Classificação Internacional de doenças

COSAT – Coordenação de saúde do trabalhador

CNST – Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador

DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DSAT – Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador EPI – Equipamento de proteção individual

FII – Ficha Individual de Investigação FIN – Ficha de Notificação e Investigação Hbs Ag - Antígeno de superfície da Hepatite B HVB – Vírus da hepatite B

HIV - Vírus da imunodeficiência humana HCV - Vírus da hepatite C

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social ILO - International Labour Organization

LER/DORT – Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho

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MS – Ministério da Saúde

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família

NOST – Núcleo Operacional de Saúde do Trabalhador OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial da Saúde PAIR – Perda auditiva induzida por ruído PEA – População Economicamente ativa

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNSST - Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador PPP – Profilaxia Pós-exposição

RP – Razão de prevalência

RENAST - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador RN – Rio Grande do Norte

SAT – Seguro de acidente de trabalho

SESAP – Secretaria de Estado da Saúde Pública

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação SIM - Sistema de Informações de Mortalidade

SIH - Sistema de Informações Hospitalares

SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas SUVIGE – Sub-Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica

SUS - Sistema Único de Saúde

TME - Transtornos musculoesqueléticos

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 18

2 OBJETIVOS... 24

2.1 OBJETIVO GERAL... 24

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 24

3 REVISÃO DE LITERATURA... 25

3.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO/SOCIAL DA SAÚDE DO TRABALHADOR... 25

3.2 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA MARXISTA... 26

3.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT): O TRABALHO DECENTE... 29

3.4 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO BRASIL... 35

3.5 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN): INSTRUMENTO PARA REVELAR A SITUAÇÃO DO TRABALHADOR NO BRASIL ... 55

4 MÉTODO... 61

4.1 TIPO DE ESTUDO... 61

4.2 LOCAL DO ESTUDO... 61

4.3 POPULAÇÃO ... 62

4.4 PRODEDIMENTO DE COLETA DE DADOS... 63

4.5 VARIÁVES DE INTERESSE PARA O ESTUDO... 64

4.6 ASPECTOS ÉTICOS... 70

4.7 TRATAMENTO ESTATÍSTICO... 70

5 RESULTADOS ... 72

5.1 ARTIGO1- DOENÇAS E AGRAVOS OCUPACIONAIS EM UM ESTADO DO NORDESTE: UM ESTUDO TRANSVERSAL... 73

5.2 ARTIGO 2 - ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO EM TRABALHADORES... 92

5.3 ARTIGO 3 - ACIDENTES DE TRABALHO GRAVE NO RIO GRANDE DO NORTE: ESTUDO TRANSVERSAL ... 113

6 CONCLUSÃO... 131

REFERÊNCIAS... 136

(19)

1 INTRODUÇÃO

A formulação e a implementação de políticas e ações governamentais são meios necessários para que o Estado cumpra seu papel na garantia da saúde como direito básico dos cidadãos, conforme instituído na Constituição Federal de 1988.

A referida legislação estabeleceu explicitamente a competência da União para cuidar da segurança e da saúde do trabalhador por meio de ações integradas dos Ministérios do Trabalho e Emprego, Previdência Social e Saúde. Além disso, enunciou o conceito ampliado de saúde incluindo entre seus determinantes as condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego – e atribuiu ao Sistema Único de Saúde (SUS) a responsabilidade de coordenar essas ações no país (BRASIL, 2004; DIAS, HOEFEL, 2005).

As políticas governamentais no âmbito da saúde devem, portanto, nortear-se pelas diretrizes do SUS, dispostas na Lei Orgânica nº 8.080/90, dentre as quais se encontra a integralidade, entendida como um “conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (PAIM, SILVA, 2010).

Nesse sentido, em 2004, foi criada a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (PNSST), que aponta para uma concepção de trabalho como base da organização social e direito humano fundamental, que deve se realizar em “condições que contribuam para a melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores e sem prejuízo para sua saúde, integridade física e mental” (BRASIL, 2004).

O campo da saúde do trabalhador emerge no Brasil e no mundo como alternativa à prática da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional, buscando entre outros aspectos referenciar o trabalhador como figura central e sujeito ativo no processo saúde/doença. Assim, na PNSST, o Ministério da Saúde dispõe como objetivos a “promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada no SUS” (JACQUES, MILANEZ, MATTOS, 2012).

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identificar, investigar e notificar os acidentes e doenças relacionados ao trabalho, registrando-os no Sistema de Informação de Agravregistrando-os de Notificação - SINAN (BRASIL, 2012; JACQUES; MILANEZ; MATTOS, 2012).

No contexto da RENAST, os CEREST desempenham papel fundamental, posto que funcionam como pólos irradiadores da cultura da produção social das doenças e da centralidade do trabalho no processo de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, atuando nos níveis estadual e regional.

Sua função em nível regional é de prover suporte técnico e viabilizar ações de vigilância, facilitando processos de capacitação para técnicos, controle social e toda a rede do SUS, além de executar, organizar e estruturar a assistência nos níveis de atenção secundária e terciária para atender aos acidentes e agravos à saúde relacionados com o trabalho. Cabe também aos CEREST regionais apoiar as investigações de maior complexidade, assessorar a realização de convênios de cooperação técnica e subsidiar a formulação de políticas públicas (BRASIL, 2012; JACQUES; MILANEZ; MATTOS, 2012).

Quanto aos CEREST estaduais compete elaborar e executar a Política Estadual de Saúde do Trabalhador, acompanhar os planos de ação dos CEREST regionais, participar da pactuação para definição da rede sentinela e contribuir para as ações de vigilância em saúde (BRASIL, 2012).

Tomando-se o enfoque das ações de vigilância em Saúde do Trabalhador enquanto campo de atuação, é possível estabelecer diferenças com a vigilância em saúde em geral e de outras disciplinas no campo das relações entre saúde e trabalho, uma vez que delimita como seu objeto específico “a investigação e intervenção na relação do processo de trabalho com a saúde” (MACHADO, 1997).

As doenças e agravos prioritários à vigilância em saúde devem ser selecionados, dentre outros aspectos, pela sua magnitude, que diz respeito à dimensão do problema ou do processo saúde-doença em questão (PEREIRA, 2004). A magnitude é adotada universalmente como critério de seleção, portanto, aferida pela incidência e prevalência, bem como pela extensão geográfica de ocorrência da doença ou agravo. Assim, para obter dados de magnitude é preciso considerar incidência, prevalência, morbidade, mortalidade e gravidade de efeito do evento (PAIM; ALMEIDA-FILHO, 2014).

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custo atual dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho é equiparado a 4% do PIB mundial. Na China, as perdas anuais chegam a US$131,8 bilhões, enquanto que na Índia atingem a marca dos US$54 bilhões (SCHMIDT, 2010).

A vigilância em Saúde do Trabalhador no Brasil responsabiliza-se por conhecer a magnitude dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, para que seja possível identificar fatores de riscos ocupacionais, estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde de forma permanente. Só assim ocorrerão significativas transformações nas condições de trabalho e será garantida a qualidade da assistência à Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2001; BRASIL, 2005).

Em face ao exposto é possível considerar que, ainda com as transformações políticas e organizacionais alcançadas no campo da saúde do trabalhador no Brasil, que constituíram avanços, vivencia-se no momento atual uma realidade desafiadora. Os agravos e as doenças relacionados ao trabalho, por exemplo, apresentam expressiva morbimortalidade e constituem importante problema de saúde pública. Os sistemas de informação em saúde no país são avançados, mas as informações sobre acidentes de trabalho continuam a demandar melhores registros, tanto de cobertura como de qualidade. É frequente a ocorrência de sub-registro do SINAN e os dados mais amplamente utilizados, da Previdência Social, são parciais, restritos aos trabalhadores segurados que correspondem a apenas um terço da população economicamente ativa ocupada, além de também sofrerem sub-registros (GALDINO et al, 2012).

Em relação ao perfil de acidentes, mortes e adoecimentos relacionados ao trabalho, são, em geral, destacados dois problemas que ainda carecem de resolução e que, como tais, dificultam a definição de prioridades para o planejamento e a implementação de ações focais: primeiro, a qualidade e a consistência das informações sobre o quadro de saúde dos trabalhadores; segundo, o caráter parcial das mesmas, cobrindo, sobretudo, o mercado formal de trabalho (CHAGAS, SALIM, SERVO, 2011).

Partindo da noção de que o conhecimento dos fatores que impulsionam a notificação irá contribuir para o desenvolvimento de ações mais apropriadas e direcionadas para os pontos frágeis da RENAST e do CEREST, é fundamental que este cenário seja investigado, visando à melhoria da qualidade e da cobertura da notificação (GALDINO et al, 2012).

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De acordo com o Ministério da Saúde (2001), o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores caracteriza-se pela coexistência de agravos que têm relação direta com condições de trabalho específicas, como os acidentes de trabalho típicos e as doenças profissionais; as doenças relacionadas ao trabalho, que têm sua frequência, surgimento e/ou gravidade modificadas pelo trabalho e doenças comuns ao conjunto da população, que não guardam relação etiológica com o trabalho.

Desse modo, a dimensão da problemática dos efeitos à saúde, relacionadas ao trabalho, nos diversos coletivos populacionais, depende da qualidade das informações coletadas relativas à: documentação da distribuição de agravos segundo variáveis demográficas, detecção de situações para relacioná-las às suas causas, identificação de necessidade de investigação, estudos ou pesquisas e, finalmente, organização de banco de dados para o planejamento de ações e serviços. Decorre daí a importância de serem definidos instrumentos de coleta de dados a partir do nível local que alimentem e retro-alimentem as diversas instâncias do sistema de saúde para as ações em saúde do trabalhador (BRASIL, 2001).

O Estado do Rio Grande do Norte/RN tem sua rede de atenção à Saúde do Trabalhador composta de três CEREST regionais (Caicó, Mossoró e Natal) e um estadual, situado na capital, além de instituições sentinelas, tais como hospitais de referência estadual e distritos sanitários municipais. Vale salientar que uma das dificuldades enfrentadas no nível estadual é a qualidade da informação gerada nas unidades sentinelas, nem sempre adequada. Os dados gerados atualmente pelos CEREST Natal, CEREST Caicó e CEREST Mossoró/RN, encaminhados para o CEREST estadual, contabilizam de parte das notificações registradas no Estado do RN sobre a morbimortalidade relacionada ao trabalho. Porém, há necessidade constatada de maiores avaliações, como por exemplo, a investigação sobre a magnitude de morbidade relacionada ao trabalho no quadro de morbidade geral no Estado do Rio Grande do Norte.

Nesse contexto, a relevância do estudo justifica-se, inicialmente, pela sua contribuição ao campo de saberes e práticas da Saúde do Trabalhador, uma vez que não há estudos desta natureza considerando a realidade do Estado do Rio Grande do Norte (RN), Brasil.

(23)

nacionais e regionais; o estabelecimento de parcerias e intercâmbios com organismos e instituições técnicas e universidades para a realização de estudos e pesquisas nessa área e a busca de recursos nas instituições financiadoras de pesquisa para apoiar estudos e pesquisas e a promoção de estudos e pesquisas para conhecer o perfil epidemiológico e os riscos à Saúde e Segurança no Trabalho (BRASIL, 2011).

A motivação para a realização do presente estudo teve como eixo principal à necessidade constatada na prática de estudos analíticos no que se refere à situação epidemiológica das doenças e agravos relacionados ao trabalho no estado, para orientação da gestão local quanto às ações voltadas para a Saúde do Trabalhador e políticas públicas. Desta forma, esta investigação é fruto de diálogos com a equipe do CEREST estadual na tentativa de buscar novas formas de enfrentamento para a otimização do processo e organização do sistema de informação nessa área a partir de análise aprofundada da realidade das doenças ocupacionais no estado, partindo desse conhecimento para planejamento e implementação das ações de promoção, prevenção e controle das doenças relacionadas ao trabalho.

A pesquisa produziu dados essenciais ao planejamento, execução e avaliação das ações em Saúde do Trabalhador desenvolvidas em nível local, o que poderá ser utilizado como instrumento de assistência e gestão, bem como para elaboração de políticas públicas voltadas para a população trabalhadora. Nesse sentido, o estudo apresenta significativa relevância social, pois pretende responder as reivindicações de entidades e instituições que atuam na defesa dos direitos dos trabalhadores.

Além disso, buscou atender a necessidade de visibilidade social, como contribuição na formação de consciência coletiva sobre a magnitude da problemática da saúde do trabalhador e seu impacto na saúde pública, como forma de alerta para a sociedade e órgãos gestores sobre a necessidade de maior envolvimento, compromisso e investimentos com pactuação interinstitucional e intersetorial, destacando-se o papel do controle social. Ressalta-se também a importância da participação de entidades da sociedade civil, como parceiras nessa busca de esforços para a melhoria da Saúde do Trabalhador como, por exemplo, a participação de universidades públicas, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na perspectiva de contribuir na integração e cooperação ensino-serviço.

Salienta-se ainda que o presente estudo traz contribuições para a ciência, possibilitando a ampliação da produção científica e atualização dos conhecimentos nessa área, mediante a divulgação de seus resultados em âmbito nacional e internacional.

(24)

pretendeu-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Qual a magnitude e os fatores associados à morbidade relacionada ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte no período de 2007 a 2014?

Em conformidade com o que foi exposto, propõe-se, por meio desta investigação, buscar respostas as seguintes questões de pesquisa:

 Qual o perfil da morbidade relacionada ao trabalho registrado no CEREST estadual no estado do Rio Grande do Norte?

 Quais as doenças e agravos ocupacionais que apresentam maior incidência/prevalência nesse Estado?

 Quais os principais fatores associados às doenças e agravos ocupacionais que acometem os trabalhadores nesse estado?

Partindo do pressuposto que o conhecimento da magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte será importante para determinar as formas de prevenção e controle dos riscos relacionados ao trabalho, elegeram-se as seguintes hipóteses de pesquisa:

Hipótese nula (H0): As doenças e agravos ocupacionais não tem relação com os determinantes relacionados ao trabalho.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

 Analisar a magnitude da morbidade relacionada ao trabalho a partir dos agravos e doenças notificados pelos serviços de Saúde ao SINAN/CEREST do Rio Grande do Norte no período de 2007 a 2014.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar e descrever as doenças e agravos ocupacionais notificados pelo SINAN/CEREST no Estado do Rio Grande do Norte.

 Identificar se as doenças e agravos ocupacionais registrados pelo SINAN/CEREST apresentam relação com os determinantes relacionados ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO/SOCIAL DA SAÚDE DO TRABALHADOR

O trabalho, realizado por homens e mulheres, ao longo da história, assume uma centralidade fundante do ser social. No conjunto de atividades intelectuais e manuais organizadas pela espécie humana e aplicadas sobre a natureza visa assegurar a existência da humanidade (CAMARGO, 2012).

Para Marx (2004) o objetivo do trabalho é a objetificação da vida como espécie do homem, pois ele não mais se reproduz a si mesmo apenas intelectualmente, como na consciência, mas ativamente e em sentido real e vê seu próprio reflexo em um mundo por ele construído. Assim, o trabalho emerge como categoria central do ser social.

Esse conceito de trabalho proposto por Marx não se limita ao aspecto econômico como meramente ocupação ou tarefa, mas como categoria central nas relações sociais, nas relações dos homens com a natureza e com outros homens sendo uma atividade vital. Significa dizer que, se o caráter de uma espécie define-se pelo tipo de atividade que ela exerce para produzir ou reproduzir a vida, esta atividade vital, essencial aos homens, é o trabalho (CAMARGO, 2012).

A partir dessa concepção dialética, Marx reafirma o entendimento que sem o trabalho o homem não poderia existir como ser social, ou seja, é a partir do trabalho que o ser humano diferencia-se de outras formas pré-humanas na história. Dotadas de consciência, as pessoas têm a possibilidade de planejar antes de dar forma ao objeto (CAMARGO, 2012).

O desenvolvimento do capitalismo no século XIX transformou o trabalho concreto social em trabalho abstrato assalariado. Essa transformação ocorreu em função de interesses econômicos e capitalistas que se encontram fortemente presentes até os dias atuais.

No capitalismo, independente das formas organizativas que o trabalho adquire, o fenômeno da alienação estará sempre presente. Enquanto existir um sistema em que se privilegia a produção de mercadorias em detrimento da classe trabalhadora, o antagonismo entre capital-trabalho permanecerá (CAMARGO, 2012).

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Para Marx (2004) a alienação ocorre quando o trabalho passa a ser externo ao trabalhador, negando sua natureza e a si mesmo; por conseguinte, ele não se realiza em seu trabalho o que lhe causa sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolvendo mais livremente suas energias mentais e físicas.

Nessa perspectiva, as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores são atingidas de forma intensa e destrutiva, em que a propriedade privada dos meios de produção determina a intensidade e o ritmo acelerado do trabalho, bem como o aumento da sua jornada (CAMARGO, 2012).

A alienação, a opressão e a perda da identidade do trabalho como categoria fundante do ser, trazem consequências diretas para a vida e a saúde do trabalhador podendo ocasionar doenças físicas e mentais que interferem na sua capacidade laborativa e na sua relação social. A desigual distribuição dos poderes e dos recursos econômico-sociais produzidas pela lógica do sistema capitalista determina a estrutura das classes sociais e, também, as suas desigualdades e os fenômenos de saúde e doença (SKALINSKI; PRAXEDES, 2003).

3.2 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA MARXISTA

Em decorrência da crise capitalista, pós década de 1970, que alterou de forma significativa as relações entre Estado x Sociedade e, portanto, trazendo consequências para as condições de trabalho e vida do trabalhador, colocam-se em questão as teses do fim do trabalho e da centralidade da categoria trabalho, na perspectiva marxista. Esta parte do pressuposto de que a crise do capital insere mudanças significativas na ordem social, não desconsiderando a perspectiva da centralidade do trabalho, no sentido de compreender os mecanismos adotados pelo capital para garantir a exploração da força de trabalho e a valorização do capital (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Porém, torna-se frequente no debate acadêmico o aparecimento de uma tendência denominada de Pós-Modernidade que aponta o “fim da sociedade do trabalho” como uma realidade da sociedade contemporânea, exaltando a sociedade do conhecimento e a criação de novos padrões de sociabilidade voltados para a construção dos particularismos e para uma visão direcionada para a compreensão dos micro-espaços (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

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Torna-se necessário, portanto, utilizar novas abordagens na interpretação do processo saúde/doença do trabalhador por meio de concepções teórico-metodológicas que ampliem sua análise, considerando a influência social no desenvolvimento desse processo.

Conforme Skalinski e Praxedes (2003) foram Marx e Engels que estabeleceram essa possibilidade, uma vez que introduziram os caminhos para a compreensão dos fenômenos geradores de agravos e doenças, permitindo observar as relações entre o biológico e o social. Marx propunha a análise das relações que conectam o social e o natural, a produção e o consumo e seus efeitos sobre a classe trabalhadora. A adoção dos princípios gerais delineados por Marx e Engels na investigação epidemiológica pode permitir a organização de uma sociedade que rompa com as barreiras do capitalismo para resgatar a saúde física e mental do ser humano.

O modelo Neoliberal é entendido como fonte potencializadora do processo de precarização do trabalho, uma vez que propõe as questões da livre iniciativa, da competição individual, da economia de mercado como panaceia para curar as mazelas do mundo do capital. Além disso, a flexibilização dos mercados e dos contratos de trabalho, subcontratação das relações de trabalho, a fragilização do poder sindical, o desemprego estrutural, uma política de privatizações de empresas estatais, a fuga de capitais para o setor financeiro, a proposta de redução do Estado no financiamento de políticas públicas e na regulação social entre capital e trabalho contribuem na produção de novos riscos e de novas formas de adoecimentos e sofrimento sob a orientação dos preceitos dos organismos financeiros internacionais (MENEZES, 2007; MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010; FERREIRA; AMARAL, 2014).

No capitalismo contemporâneo a partir dos meados da segunda metade do século 20, particularmente nos países centrais, as transformações no mundo do trabalho vêm trazendo sérias consequências para a saúde dos trabalhadores, contribuindo para o aumento do desgaste físico e mental da força de trabalho, precarização, retração e perda dos direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores. Já nos países capitalistas periféricos, este processo possui particularidades que, todavia, não ficaram imunes à crise capitalista e foram atingidos no âmbito da produção e da reprodução social com consequências para o mundo do trabalho atual (FERREIRA; AMARAL, 2014).

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precários, exacerbação dos riscos e aumento nos índices de adoecimento e acidentes de trabalho (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Na atualidade, são fatores determinantes/condicionantes que afetam diretamente a saúde do trabalhador: os baixos salários; a carga de trabalho excessiva ou o desemprego; a falta de equilíbrio entre o volume de responsabilidade e o de autoridade ou de capacidade de tomar decisões; a falta de gerenciamento eficiente; as condições físicas de trabalho incômodas ou perigosas. Esses fatores somados aos conflitos pessoais (relação familiar, relação amorosa, satisfação profissional e outros) podem vir também a provocar situações de adoecimento e morte (MENEZES, 2007).

Para Marx (2004),

O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadoria cria. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens (destaques do autor).

As condições sociais de vida decorrentes da contradição capital e trabalho, como fonte geradora de desigualdades sociais, intensificada pela massificação do trabalho pelo capital, adquirem, conforme Marx, uma aparência de questão natural e, por isso mesmo, assume um caráter de imutabilidade e eternização, que dificulta os questionamentos e o enfrentamento ao que está posto como verdade (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Nesse processo, o trabalho, de categoria fundante e realização do homem enquanto ser social passa a instrumento de exploração, subjugação, subordinação do sujeito a formas aviltantes de extração de mais-valia e venda da força de trabalho, único bem daqueles destituídos dos meios de produção, que agora são submetidos às relações hierárquicas desiguais e autoritárias de trabalho (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Na perspectiva equivocada da dinâmica capitalista, o trabalho transforma-se em objeto de sofrimento e desumanização, perdendo sua função de atividade vital e realizadora, seja nas relações do homem com a natureza, seja nas relações sociais, tornando-se fonte geradora de agravos e doenças com consequências nas múltiplas dimensões dos seres humanos.

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uma expressão de um sujeito humano vivendo na sociedade, no mundo e na natureza (MARX, 2004).

A saúde do trabalhador deve ser compreendida como um bem social, sendo condição fundamental para o desenvolvimento humano, indissociável do trabalho, objetivo precípuo nas relações de produção no sentido de favorecer e promover o desenvolvimento da cultura do trabalho decente para a promoção da saúde e da qualidade de vida do trabalhador/trabalhadora.

3.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT): O TRABALHO DECENTE

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde sua criação em 1919 é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho através de convenções e recomendações, que uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico (OIT, 2012).

Um dos grandes marcos na história da OIT foi a Conferência Internacional do Trabalho em 1944 que teve como produto a Declaração de Filadélfia que constitui a carta de princípios e objetivos da OIT e serviu de referência para a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). A primeira reafirma o princípio de que a paz permanente só pode estar baseada na justiça social e estabelece quatro ideias fundamentais, que constituem valores e princípios básicos da OIT: o trabalho deve ser fonte de dignidade; o trabalho não é uma mercadoria; a pobreza, em qualquer lugar, é uma ameaça à prosperidade de todos e que todos os seres humanos tem o direito de perseguir o seu bem estar material em condições de liberdade e dignidade, segurança econômica e igualdade de oportunidades (OIT, 2012).

A OIT desempenha um papel importante na definição das legislações trabalhistas e na elaboração de políticas econômicas, sociais e trabalhistas durante boa parte do século XX até os dias atuais, tendo como uma de suas metas a luta pela a saúde e segurança no trabalho (SCHMIDT, 2010).

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abolição do trabalho infantil e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação (OIT, 2012).

O Brasil que está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião, tem mantido representação do órgão desde a década de 1950, com programas e atividades que refletem os objetivos da Organização ao longo de sua história (OIT, 2012).

Além da promoção permanente das Normas Internacionais do Trabalho, do emprego, da melhoria das condições de trabalho e da ampliação da proteção social, a atuação da OIT no Brasil tem se caracterizado, no período recente, pelo apoio ao esforço nacional de promoção do trabalho decente em áreas tão importantes como o combate ao trabalho forçado, ao trabalho infantil e ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e comercial, à promoção da igualdade de oportunidades e tratamento de gênero e raça no trabalho e à promoção de trabalho decente para os jovens, entre outras (OIT, 2012).

Ao final da década de 1990, a OIT desenvolveu e passou a disseminar o conceito de trabalho decente como síntese do seu mandato histórico, lastreado em quatro pilares estratégicos: i) respeito às normas internacionais do trabalho, em especial aos princípios e direitos fundamentais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; eliminação de todas as formas de trabalho forçado; abolição efetiva do trabalho infantil; eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação); ii) promoção do emprego de qualidade; iii) extensão da proteção social e iv) diálogo social. Nesta perspectiva, trabalho decente é um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, sem quaisquer formas de discriminação e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que dele vivem (RIBEIRO; BERG, 2010).

A OIT formalizou o conceito de Trabalho Decente como uma síntese da sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas. Considerando-o como o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT, o trabalho decente é condição fundamental para a superação da pobreza, redução das desigualdades sociais, garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável (OIT, 2012).

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formas de trabalho cuja renda seja insuficiente para que os indivíduos e suas famílias superem a situação de pobreza ou que se baseiam em atividades insalubres, perigosas, inseguras e/ou degradantes. Afirma ainda a necessidade de que toda forma de trabalho ou emprego esteja também associado à proteção social e aos direitos do trabalho, entre eles os de representação, associação, organização sindical e negociação coletiva (RIBEIRO; BERG, 2010).

As políticas de proteção social desempenham um papel fundamental na concretização do direito humano à segurança social para todos, reduzindo a pobreza e a desigualdade e apoiando o crescimento inclusivo – ao promover o capital humano e a produtividade, apoia a demanda doméstica e facilita a transformação estrutural das economias nacionais. No entanto, apesar do reconhecimento internacional de sua importância, apenas uma parcela de 27% da população global usufrui do acesso a sistemas de segurança social abrangente, enquanto 73% têm cobertura parcial ou nenhuma (OIT, 2014).

Ao longo da década de 1990, os elevados níveis de desemprego e de precarização do trabalho vivenciados proporcionaram severos impactos sobre a proteção social em toda a América Latina, levando a uma diminuição nos já limitados padrões de cobertura da população. A insuficiência de cobertura do sistema de proteção social, tanto em relação ao número de trabalhadores, quanto a gama de riscos cobertos e a baixa qualidade da proteção oferecida, estão entre os principais desafios enfrentados para a promoção do trabalho decente e o fortalecimento da coesão social na região (RIBEIRO; BERG, 2010).

A proteção social é um elemento fundamental para a promoção do desenvolvimento humano, da estabilidade política e do crescimento inclusivo. Em relação aos trabalhadores, os tipos de proteção social estão relacionados às mulheres e aos homens em idade ativa, estabilizando os seus rendimentos em caso de desemprego, acidente do trabalho, incapacidade, doença e maternidade e garantindo que tenham, pelo menos, a segurança de uma renda básica (OIT, 2014).

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De acordo com as legislações em vigor, apenas 28% dos trabalhadores de todo o mundo encontram-se em situação de proteção social no caso de ficarem desempregados. Neste quadro geral, há ainda consideráveis diferenças regionais: 80% dos trabalhadores são abrangidos na Europa, 38% na América Latina, 21% no Oriente Médio, 17% na região Ásia-Pacífico e 8% na África. Em todo o mundo, apenas 12% dos trabalhadores desempregados recebem, de fato, benefícios por desemprego e, mais uma vez, com enormes disparidades regionais, com uma cobertura efetiva que varia desde 64% dos desempregados na Europa Ocidental até 7% na região Ásia-Pacífico, 5% na América Latina e no Caribe e menos de 3% no Médio Oriente e na África (OIT, 2014).

Conforme a OIT (2014), apenas 33,9 % da força de trabalho mundial estão abrangidas pela legislação relativa aos acidentes de trabalho e doenças profissionais, por meio de regimes obrigatórios de seguro social. Mesmo que se inclua a cobertura voluntária por seguros sociais e as disposições jurídicas sobre a responsabilidade de empregadores, apenas 39,4% da força de trabalho está coberta pela lei. Na prática, o acesso efetivo à proteção em caso de acidentes do trabalho é ainda mais baixo, em grande parte devido à deficiente aplicação da lei em muitos países.

Assim, o modelo neoliberal alavancado pelo já instituído modo de produção capitalista estabelece novas formas de relação de trabalho que enfraquecem o poder de reivindicação e participação coletiva dos trabalhadores e reduz o papel do Estado nas relações de trabalho, o que diminui a regulação e, consequentemente, restringe também a proteção social (ANDRADE; MARTINS; MACHADO, 2012; IM et al, 2012).

A virada do século é marcada por grandes mudanças no mundo do trabalho, decorrentes do processo de reestruturação produtiva, com a perda da centralidade do trabalho industrial, crescimento do setor de serviços e incremento do desemprego estrutural e dos índices de informalidade. Destaca-se a adoção na gestão do trabalho de estratégias como a terceirização e a flexibilização dos contratos de trabalho resultando na precarização das condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores (NOBRE, 2010; IM et al, 2012).

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concorrência entre os próprios trabalhadores, que somada a desproteção social, tem fortes impactos sobre a saúde dos trabalhadores e a sua reprodução (FERREIRA; AMARAL, 2014; IM et al, 2012).

Estudos evidenciam que alguns riscos tradicionais têm diminuído em virtude de melhorias na segurança, dos avanços tecnológicos e de uma melhor regulamentação de normas de Saúde e Segurança no Trabalho, especialmente nos países desenvolvidos; entretanto os mesmos continuam a provocar danos inaceitáveis na saúde dos trabalhadores em países em desenvolvimento. Paralelamente, riscos emergentes e doenças relacionadas ao trabalho estão surgindo por ocasião das novas tecnologias e formas de organização do processo de trabalho que suscitam perigos novos e desconhecidos no local de trabalho sem que se implementem medidas adequadas de prevenção, proteção e controle, tais como as deficientes condições ergonômicas, a exposição à radiação eletromagnética e aos riscos psicossociais (OIT, 2013).

Assim, o mundo do trabalho atual trouxe, por um lado, aspectos positivos como os relacionados aos avanços em matéria de novas tecnologias dos processos produtivos e da mudança de paradigmas de trabalho (mudanças organizacionais) e, por outro, novos riscos emergiram desse processo com destaque para as novas formas de organização, as condições e as relações de trabalho (SCHMIDT, 2010; OIT, 2013; SUBIRÁN, 2014).

A relação trabalho/saúde/doença passa a ter como expressão as diversas formas de violência que desencadeiam o adoecimento/acidentes no trabalho: a violência da manutenção de condições precárias de trabalho, traduzida pelos acidentes e doenças do trabalho; a violência decorrente de relações de trabalho degradantes, como o trabalho análogo ao de escravo; o trabalho infantil; a violência ligada às discriminações de gênero, raça/cor da pele, etnia, orientação sexual, religiosa ou geracional; o assédio sexual e as práticas de assédio moral (NOBRE, 2010).

Assim, os determinantes da saúde dos trabalhadores não compreendem apenas fatores de risco ocupacionais como físicos, químicos, biológicos, de acidentes e ergonômicos, mas também estão relacionados ao conjunto de condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais responsáveis por contextos e situações de vulnerabilidades, fragilidades, nocividades e riscos presentes no ambiente e no processo de trabalho que possam comprometer a saúde e a vida dos trabalhadores.

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proposta pela OIT ao longo dos anos. Essa lista de doenças profissionais estabelecidas no ordenamento jurídico nacional e internacional tem desempenhado um papel importante na prevenção das doenças relacionadas ao trabalho no mundo e subsidia as convenções e recomendações propostas pela OIT (KIM; KANG, 2014; SUBIRÁN, 2014).

É importante destacar que no Brasil o processo da industrialização ocorreu de forma tardia e acelerada, permitindo a existência de ambientes e condições de trabalho que variam desde os cenários mais “tecnologizados” às condições laborais mais rudimentares, inclusive com a existência de trabalho escravo e infantil. Todo esse processo modificou, de forma significativa, o ambiente, as condições e a organização do trabalho, interferindo no processo saúde/doença dos trabalhadores com consequências advindas das contínuas transformações que se operam no mundo ocidental geradas desde a revolução industrial à globalização da economia e à entrada no mercado de novas tecnologias altamente sofisticadas (BRASIL, 2011).

Partindo do entendimento que, por um lado o trabalho representa uma dimensão fundamental na estruturação do homem (individual e coletivo), no que se refere ao desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, psicológicas, espiritual, como também, em relação à garantia das condições materiais de sobrevivência, por outro, ele tem sido, ao longo dos tempos, causador de sofrimentos, adoecimentos e morte. Ou seja, os trabalhadores adoecem e morrem por causas relacionadas ao trabalho, como consequência direta das atividades profissionais que exercem ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado. Dessa forma, o trabalho impacta sobre o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores, contribuindo de forma direta – os acidentes de trabalho e as chamadas doenças profissionais e, de forma indireta, nas chamadas doenças relacionadas com o trabalho (BRASIL, 2011).

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3.4 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO BRASIL

A Carta de Ottawa, assinada no dia 21 de Novembro de 1986, no documento final da 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde permanece, até os dias atuais, como um guia orientador para as políticas e ações em promoção da saúde como uma fonte de inspiração e um desafio para a implementação de iniciativas neste domínio. O corpo teórico da Carta de Ottawa influenciou de modo significativo formulação de políticas e programas na área da saúde pública em todo o mundo (NUNES, 2011).

Esta Carta vem trazer uma nova perspectiva da saúde como um recurso para a vida a partir das ações de Promoção à Saúde, as quais devem ser entendidas e buscadas a partir de ações intersetoriais e transdiciplinares no sentido de subsidiar políticas públicas saudáveis. A saúde é considerada, portanto, o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida (OTTAWA CHARTER FOR HEALTH PROMOTION, 1986).

Partindo desses princípios, a Carta de Ottawa traz no seu arcabouço teórico novas estratégias para melhoria da qualidade de vida e saúde, a partir da proposição de estratégias e ações específicas sobre os determinantes sociais da saúde com o propósito de reduzir as iniquidades, em uma tentativa de superação da concepção de causalidade biologicista do processo saúde/doença vigente desde a década de 1970 (OTTAWA CHARTER FOR HEALTH PROMOTION, 1986; HEIDEMANN et al., 2012).

De acordo com Nunes (2011), agir sobre os determinantes sociais da saúde implica em lutar contra os efeitos adversos, econômicos e sociais, decorrentes da globalização, aos quais estamos sujeitos tais como a massificação, a liberalização econômica, o desemprego, a marginalidade, a pobreza e a exclusão social, no sentido de garantir igualdade de oportunidades entre gêneros e entre diferentes grupos sociais.

Entre outras ações, a Carta de Ottawa propõe a criação de ambientes favoráveis à saúde tanto nos aspectos sociais como ecológicos, partindo do princípio de que o trabalho e o lazer devam ser fontes de saúde e não de adoecimento e morte. Para isso, sugere que a organização social do trabalho deva contribuir para a constituição de uma sociedade mais saudável a partir da “promoção de condições de vida e trabalho seguras, estimulantes, satisfatórias e agradáveis” (OTTAWA CHARTER FOR HEALTH PROMOTION, 1986).

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em seus aspectos gerais e específicos e, em situação de iniquidade social, pode ser considerado fator de risco para a saúde e, portanto, determinante social na qualidade de vida da população.

Uma das primeiras abordagens epidemiológica no estudo da relação saúde/doença/trabalho foi a publicação do estudioso italiano Bernadino Ramazzini do livro

De Morbis Artificum Diatriba em 1700, reconhecido internacionalmente como um marco

histórico no estudo da Saúde do Trabalhador. A partir de então, numerosos estudos abordando esse tema vêm sendo realizados em todos os países do mundo, inclusive no Brasil, buscando estabelecer a relação existente entre o trabalho e o processo saúde-doença, que vão se materializar nas formas de sofrimentos, adoecimentos, acidentes e mortes dos trabalhadores (BRASIL, 2011).

No Brasil, o campo da saúde do trabalhador teve sua embriogênese durante o movimento da reforma sanitária brasileira na década de 1980, com a postura de ruptura com as abordagens e práticas distanciadas do trabalhador e do processo de trabalho. Desenvolveu a partir das mudanças e ampliação do conceito de saúde/doença, assim como na própria concepção e proposta que permitiu um novo olhar sobre as questões que envolvem a saúde e o mundo do trabalho, cujas demandas do movimento sanitário e dos trabalhadores foram canalizadas para o arcabouço teórico e jurídico, dando uma nova forma de entender a saúde e o trabalho - e conduzindo seus aspectos para a discussão e fortalecimento social por meio de sua politização (SANTOS, 2009).

Nesse contexto de redemocratização do Estado brasileiro e com influência do interesse na saúde por parte de alguns sindicatos de ramos industriais da região Sudeste, a discussão da Vigilância Epidemiológica em Saúde do Trabalhador no país também se desenvolve inicialmente a partir das experiências da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo que, em 1986, estabelece a primeira lista de doenças relacionadas ao trabalho e com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, a partir da criação da Coordenação Estadual de Saúde do Trabalhador (RABELLO NETO et al., 2011).

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A Saúde do Trabalhador é evidenciada na CF no seu Artigo 200, quando determina que ao SUS compete executar as ações de saúde do trabalhador e colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Essa determinação é reafirmada pela Lei Orgânica da Saúde (LOS – Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990), que define a Saúde do Trabalhador como integrante do campo de atuação do SUS e regulamenta os seus dispositivos constitucionais (BRASIL, 1990).

É importante destacar que a incorporação da temática da saúde do trabalhador no âmbito do SUS trazida pela Constituição Federal de 1988 e pela LOS, expressa, principalmente, a necessidade de que o setor saúde não se limite a ações assistenciais e curativista, mas se dedique a desenvolver ações de promoção e vigilância que transformem os processos e os ambientes de trabalho que impactam negativamente na saúde da população (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).

Constituindo-se em uma área da Saúde Pública, a Saúde do Trabalhador tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e o processo saúde/doença. Em uma concepção dialética, a saúde e a doença são consideradas como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento histórico. Parte-se, portanto do princípio de que a forma de inserção dos homens, mulheres e crianças nos espaços de trabalho contribui decisivamente para suas formas específicas de adoecer e morrer (LIMA, 2014).

A Saúde do Trabalhador tem como objetivos prioritários a promoção da saúde e a proteção do trabalhador, traduzidos nas ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, bem como a vigilância dos agravos (acidentes e doenças) decorrentes. Ocupa-se também da organização e prestação dos serviços assistenciais aos trabalhadores vitimados com agravos decorrentes do trabalho, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento, notificação e reabilitação de forma integrada e regionalizada no SUS (BRASIL, 2001).

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atividade econômica, os aprendizes e estagiários e aqueles temporária ou definitivamente afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou desemprego.

A legislação brasileira estabeleceu a competência da União para cuidar da segurança e da saúde do trabalhador por meio de ações integradas dos Ministérios do Trabalho e Emprego, Previdência Social e Saúde, atribuindo-se ao Sistema Único de Saúde (SUS) a responsabilidade de coordenar essas ações no país. Além disso, enunciou o conceito ampliado de saúde incluindo entre seus determinantes as condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego (BRASIL, 2004; DIAS; HOEFEL, 2005).

As políticas governamentais no âmbito da saúde no Brasil devem, portanto, nortear-se pelas diretrizes do SUS, dispostas na Lei Orgânica nº 8.080/90, dentre as quais se encontra a integralidade, entendida como um “conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (PAIM; SILVA, 2010).

A Portaria N° 3.908/98 que aprovou a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador (NOST/SUS) agregou mais elementos ao campo da Saúde do Trabalhador no SUS, ratificando princípios como: universalidade e equidade; integralidade das ações; direito à informação sobre a saúde; controle social; regionalização e hierarquização das ações de saúde do trabalhador; uso do critério epidemiológico e de avaliação de riscos no planejamento e na avaliação das ações, ao elencar prioridades e na alocação de recursos. Nesta norma foi apontada a necessidade de notificação dos agravos relacionados ao trabalho, possibilitando a criação de uma base de dados nacional cuja alimentação e análise sistemática das informações subsidiaria o planejamento das políticas e ações nessa área.

As primeiras ações em Saúde do Trabalhador foram inseridas em áreas afins como Vigilância Sanitária, Assistência à Saúde e Secretaria de Políticas de Saúde, quando se estabeleceu como Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Em 1999 foi criada a Assessoria de Saúde Ocupacional na então Secretaria de Assistência à Saúde, que posteriormente teve o nome alterado para Assessoria Técnica de Saúde do Trabalhador. Assim, por alguns anos, o Ministério da Saúde conviveu com a insólita situação de ter duas áreas de saúde do trabalhador na sua estrutura, com perspectivas diferenciadas, inclusive pelas próprias características e funções das secretarias, e pouco articuladas em relação à formulação e implementação da PNST.

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de Atenção à Saúde (SAS), com uma única Área Técnica de Saúde do Trabalhador - COSAT (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).

A inserção da Saúde do Trabalhador no Ministério da Saúde consolida-se com a publicação do Decreto nº 6.860, de 27 de maio de 2009, que formaliza a Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador (CGSAT) no interior do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST) da SVS, cabendo à Secretaria a coordenação da gestão da PNST (BRASIL, 2009).

Em 2004 foi criada a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (PNSST), que aponta para a concepção de trabalho como base da organização social e direito humano fundamental, que deve ser realizado em “condições que contribuam para a melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores sem prejuízo para sua saúde, integridade física e mental” (BRASIL, 2004; OIT, 2012).

O campo da saúde do trabalhador emerge no Brasil e no mundo como alternativa à prática da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional na perspectiva de superar seu caráter meramente assistencial e reducionista, buscando entre outros aspectos referenciar o trabalhador como figura central e sujeito ativo no processo saúde/doença. Assim, na PNSST, o Ministério da Saúde dispõe como objetivo a “promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada no SUS” (JACQUES et al., 2012).

A PNSST tem por objetivo a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador, a prevenção de acidentes e de danos à saúde advindos do trabalho ou a ele relacionados, ou que ocorram no curso dele, por meio da eliminação ou da redução dos riscos nos ambientes de trabalho. Essa política deverá ser implementada por meio da articulação continuada das ações de governo, que deverá ocorrer no campo das relações de trabalho, produção, consumo, ambiente e saúde, com a participação das organizações representativas de trabalhadores e empregadores. E estabelece também, responsabilidades aos setores de governo diretamente responsáveis por sua implementação e execução: Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde e Ministério da Previdência Social, sem prejuízo da participação de outros órgãos e instituições que atuam na área (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).

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fortalecimento e articulação das ações de promoção, prevenção, proteção, vigilância e recuperação da saúde dos trabalhadores urbanos e rurais, independente do seu vínculo empregatício e inserção no mercado de trabalho (BRASIL, 2012; JACQUES et al., 2012).

O processo de construção da RENAST representou o fortalecimento da Política de Saúde do Trabalhador no SUS, reunindo as condições para estabelecer uma política de Estado e os meios para sua execução, integrando a rede de serviços do SUS, voltados à assistência e à vigilância, para o desenvolvimento das ações de Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2006).

A instituição da RENAST teve como principal estratégia a consolidação e implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da trabalhadora, a partir do fortalecimento da articulação das ações de promoção, prevenção, proteção, vigilância e recuperação da saúde dos trabalhadores urbanos e rurais, independentemente do vínculo empregatício e do tipo de inserção no mercado de trabalho; e a atenção integral à saúde do trabalhador, com suas especificidades, que deve ser objeto de todos os serviços de saúde, consoante com os princípios do SUS de equidade, integralidade e universalidade (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).

A implementação da RENAST permitiu ainda a elaboração de estratégias para promover o acesso dos trabalhadores informais e desempregados aos programas e serviços de Saúde do Trabalhador no âmbito do SUS com o intuito de minimizar essa iniquidade social com o trabalhador informal tão amplamente desassistido pelas diversas políticas públicas. No entanto, apesar de esforços empreendidos para garantir políticas de assistência social e de saúde a esses trabalhadores, medidas de vigilância e controle dos agravos à saúde continuam fugazes e pouco consistentes (MIQUILIN; CORREA FILHO, 2011).

No período de 2002 a 2010 foram habilitados 181 Centros Estaduais e Regionais de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), uma rede sentinela de 1.000 serviços médicos e ambulatoriais de média e alta complexidade, responsáveis por identificar, investigar e notificar os acidentes e doenças relacionados ao trabalho, registrando-os no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A RENAST responsabiliza-se pela execução de ações curativas, preventivas, de promoção e de reabilitação à saúde do trabalhador brasileiro (BRASIL, 2012; JACQUES et al., 2012; OIT, 2012).

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Figura 1  – Divisão político- administrativa do Rio Grande do Norte
Figura 1 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte, notificados  no período de 2007 a 2014
Figura 2 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte por  ano, notificados no período de 2007 a 2014
Tabela 1  – Distribuição das variáveis socioeconômicas e relacionadas ao trabalho dos agravos notificados no
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