ANA CAROLINA OLIVEIRA DA PALMA RODRIGUES
EFEITO DO PROCESSO ECAP (EQUAL CHANNEL ANGULAR PRESSING) NA MICROESTRUTURA E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UMA LIGA
COMERCIAL DE ALUMÍNIO AA3104
Guaratinguetá
UNESP
Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá
ANA CAROLINA OLIVEIRA DA PALMA RODRIGUES
EFEITO DO PROCESSO ECAP (EQUAL CHANNEL ANGULAR PRESSING) NA
MICROESTRUTURA E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UMA LIGA
COMERCIAL DE ALUMÍNIO AA3104
Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica na área de Materiais.
Orientador: Prof. Dr Angelo Caporalli Filho
Guaratinguetá
R696e
Rodrigues, Ana Carolina Oliveira da Palma
Efeito do processo ECAP (EQUAL CHANNEL ANGULAR
PRESSING) na microestrutura e nas propriedades mecânicas de uma liga comercial de alumínio AA3104 / Ana Carolina Oliveira da Palma
Rodrigues – Guaratinguetá : [s.n], 2013. 49 f : il.
Bibliografia: f. 47-49
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2013.
Orientador: Prof. Dr Angelo Caporalli Filho
1. Ligas de alumínio 2. Microestrutura I. Título
DADOS CURRICULARES
ANA CAROLINA OLIVEIRA DA PALMA RODRIGUES
NASCIMENTO 17/07/1987 – PINDAMONHANGABA/SP
FILIAÇÃO Geraldo Donizeti da Palma Rodrigues
Claudia Maria de Oliveira da Palma Rodrigues
2005/2009 Curso de Graduação
Engenharia Mecânica – Universidade de Taubaté – UNITAU
2010 / 2013 Curso de Pós Graduação em Engenharia Mecânica, nível de Mestrado na UNESP – Campus de Guaratinguetá.
2010 / 2013 Engenheira Júnior, na área de Engenharia de Aplicação e
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que me deu forças e sabedoria para realizar este
trabalho, aos meus pais Geraldo e Claudia que com seu amor incondicional me apoiou em
todos os momentos e ao meu irmão Victor que sempre acreditou que no final tudo daria certo.
Agradeço meu orientador, o Professor Dr. Angelo Caporalli Filho que me ensinou e
orientou com muita dedicação e paciência.
Aos professores do Departamento de Materiais e Tecnologia da Faculdade de
Engenharia de Guaratinguetá, FEG-UNESP dentre eles os Professores Doutores: Valdir Alves
Guimarães, Marcelo dos Santos Pereira, Tomaz Manabu Hashimoto e Jorge Abdala, pelos
ensinamentos passados.
A toda equipe de técnicos do Departamento de Materiais e Tecnologia em especial ao
Wilson Roberto Monteiro e o Célio José de Souza que também com muita paciência me
ensinou e contribuiu para que todos os ensaios fossem realizados com sucesso.
A técnica do laboratório de Química Dra. Conceição A. Matsumoto Dutra que me
ajudou preparando os reagentes necessários e a Dra. Marinalda Claudete Pereira que com
muita dedicação me ajudou a realizar ensaios e preparar amostras.
Aos amigos que acreditaram e encorajaram em especial ao Adilson Luiz, pois sem ele
e seus conhecimentos técnicos não teria sido possível realizar todas as analises
metalográficas, a Cássia Cavalcanti, Guilherme Campoy e Renato Barros que estavam sempre
presente para me ajudar.
Agradeço também ao meu Gestor o Engenheiro Paulo Nakamichi e a Empresa Alcoa
RODRIGUES, A. C. O. P. Efeito do Processo ECAP (Equal Channel Angular Pressing)
na Microestrutura e nas Propriedades Mecânicas de uma liga comercial de Alumínio AA3104. 2013. 49f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá,
2013.
RESUMO
A Engenharia tem buscado a fabricação de materiais com elevados valores de resistência
mecânica e tenacidade. Uma das formas de obter tais propriedades é promover a redução do
tamanho de grão do material. A fim de reduzir o tamanho de grãos e obter tais propriedades
neste trabalho foi aplicado o processo ECAP (Equal Channel Angular Pressing) em amostras
da Liga de Alumínio AA3104, liga de Al-Mn não Tratável Termicamente. As amostras de
alumínio foram deformadas plasticamente por cisalhamento simples na região de interseção
dos canais. A repetição deste processo resulta no encruamento do material. Os resultados
mostram que após o processamento a microestrutura esta com grãos alongados devido ao
encruamento do material e por meio de ensaios de dureza Vickers verifica-se um aumento de
dureza após 3 passes de ECAP aplicados.
RODRIGUES, A. C. O. P. Effect of Process ECAP (Equal Channel Angular Pressing) on
the Microstructure and Mechanical Properties of a commercial aluminum alloy AA3104. 2013. 49f. Dissertation (Master in Mechanical Engineering) – Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá,
2013.
ABSTRACT
A constant search in Engineering is the manufacturing of materials with high values of
strength and tenacity. One way to obtain such properties is to promote the reduction of grain
size of the material. In order to reduce the size of grains and obtain such properties in this
work was applied the ECAP (Equal Channel Angular Pressing) process in samples of
Aluminum Alloy AA3104, Al-Mn alloy is non-heat treatable. A sample of aluminum was
deformed by simple shear in the intersection of the channels that leads to a severe plastic
deformation. The repetition of the process results in a material with a cold work hardening.
The results show that after the processing ECAP microstructure with elongated grains and by
Vickers hardness testing the hardness increase after the three pass of ECAP applied.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2. 1 - LIGAS DE ALUMÍNIO (BINÁRIAS, TERNÁRIAS E QUARTANÁRIAS) FORMADA COM OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DE LIGA (DEAN, 1990, P.201). ... 18 FIGURA 2. 2 - ESQUEMA BÁSICO DO PROCESSO ECAP (MELO, 2004). ... 22 FIGURA 2. 3 – O PRINCÍPIO DO ECAP, PLANO DE CISALHAMENTO EVIDENCIADO PELOS
ELEMENTOS 1 E 2. (NAKASHIMA ET AL, 2000). ... 23 FIGURA 2. 4 - ILUSTRAM AS QUATRO ROTAS DE DEFORMAÇÃO BÁSICAS PARA O PROCESSO
ECAP (NAKASHIMA ET AL,2000). ... 26 FIGURA 2. 5 - ILUSTRAÇÃO DOS PADRÕES DE DESLIZAMENTO NOS PLANOS X, Y E Z COM
PASSAGENS SUCESSIVAS NAS ROTAS A, BA, BC E C. (DANTAS JÚNIOR, 2008). ... 27 FIGURA 2. 6 – DISTORÇÕES INTRODUZIDAS EM ELEMENTOS CÚBICOS NOS PLANOS X, Y E Z
APÓS 8 PASSES DE ECAP NAS ROTAS A, BA, BC E C (DANTAS JÚNIOR, 2008). ... 27 FIGURA 2. 7 - FERRAMENTA UTILIZADA PARA O PROCESSAMENTO DA PLASTICINA. (MELO,
2004). ... 28 FIGURA 2. 8 - (A) PLANO Z, VISTA SUPERIOR DO BLOCO DE PLASTICINA APÓS 10 PASSSES DE
ECAP. (B) PLANO Y, VISTA FRONTAL EM CORTE DO TARUGO APÓS 10 PASSES DE ECAP (MELO, 2004). ... 29 FIGURA 2. 9 - ILUSTRAÇÃO DA ZONA MORTA DURANTE O PROCESSAMENTO ECAP (MELO,
2004). ... 29
FIGURA 3. 1 - TARUGO DE ALUMÍNIO DA LIGA AA3104 HOMOGENEIZADAS ANTES DO
PROCESSAMENTO POR ECAP. ... 31 FIGURA 3. 2 - DESENHO DA FERRAMENTA UTILIZADA PARA O PROCESSAMENTO ECAP... 31 FIGURA 3. 3 - DISCO RETIRADO DO LINGOTE BRUTO DE FUSÃO, DEPOIS DE USINADO E FEITO A
ANALISE QUÍMICA. ... 32 FIGURA 3. 4 – PLANOS ORTOGONAIS DE OBSERVAÇÃO. ... 33
FIGURA 4. 1 - TARUGOS DE ALUMÍNIO NA LIGA AA 3104 PROCESSADOS POR ECAP A UMA VELOCIDADE DE 3 MM/MIN EM TEMPERATURA AMBIENTE. ... 35 FIGURA 4. 2 – AMOSTRA DE ALUMÍNIO NA LIGA AA3104 PROCESSADO POR ECAP DIVIDIDO POR REGIÕES ONDE FORAM REALIZADAS MEDIÇÕES DE DUREZA. ... 37 FIGURA 4. 3 – MICROGRAFIA DAS AMOSTRAS COM PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE
DISTRIBUÍDAS NA MATRIZ DE ALUMÍNIO (A) SEM PROCESSAMENTO ECAP. (B) APÓS 1° PASSE DE ECAP. (C) APÓS 2° PASSE DE ECAP. (D) APÓS 3° PASSE DE ECAP. ... 40 FIGURA 4. 4 - ESPECTRO DA LIGA AA3104. (A) ESPECTRO DA MATRIZ DE ALUMÍNIO. (B)
ESPECTRO DAS PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE AL6(MNFE). ... 41 FIGURA 4. 5 – MICROGRAFIA DO MATERIAL NO PLANO X (A) SEM PROCESSAMENTO ECAP (B)
APÓS 1° PASSE DE ECAP. (C) APÓS 2° PASSE DE ECAP. (D) APÓS O 3° PASSE. ... 42 FIGURA 4. 6 - MICROGRAFIA DO MATERIAL NO PLANO Y (A) SEM PROCESSAMENTO ECAP (B)
APÓS 1° PASSE DE ECAP. (C) APÓS 2° PASSE DE ECAP. (D) APÓS O 3° PASSE. ... 43 FIGURA 4. 7 - MICROGRAFIA DO MATERIAL NO PLANO Z (A) SEM PROCESSAMENTO ECAP (B)
APÓS 1° PASSE DE ECAP. (C) APÓS 2° PASSE DE ECAP. (D) APÓS O 3° PASSE. ... 44
LISTA DE TABELAS
TABELA 4. 1 - RESULTADOS DA ANÁLISE QUÍMICA DAS AMOSTRAS NA LIGA AA3104. ... 34
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 4. 1 - CARGAS APLICADAS A CADA PASSE DO PROCESSAMENTO POR ECAP. ... 36 GRÁFICO 4. 2 - DUREZA VICKERS PARA CADA PASSE DE ECAP ... 37 GRÁFICO 4. 3 - DUREZAS MEDIDAS AO LONGO DAS REGIÕES: INICIO, MEIO E FINAL DAS
LISTA DE ABREVEATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
AA - Aluminium Association
ABAL - Associação Brasileira do Alumínio
CFC - Cúbico de Face Centrada
DMT - Departamento de Engenharia de Materiais
DPS - Deformação Plástica Severa
ECAP - Equal Channel Angular Pressing
Ltda. - Limitada
mm - milímetros
min - minutos
NBR - Norma Brasileira Registrada
nm - nanômetro
S.A. - Sociedade Anônima
LE - Limite de Escoamento
LRT - Limite de Resistência a Tração
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ... 16
1.1 ECAP (Equal Channel Angular Pressing) ... 16
1.2 OBJETIVO ... 16
1.3 JUSTIFICATIVA ... 17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 18
2.1 O ALUMÍNIO E SUAS LIGAS ... 18
2.2 LIGAS Al-Mn (3XXX) ... 19
2.3 REDUÇÃO DE TAMANHO DE GRÃO ... 20
2.4 O PROCESSO ECAP... 21
3 MATERIAIS E MÉTODOS ... 30
3.1 PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA ... 30
3.2 FERRAMENTA ... 31
3.3 ANÁLISES QUÍMICAS ... 32
3.4 DUREZA VICKERS... 32
3.5 ANÁLISES METALOGRÁFICAS ... 33
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 34
4.1 RESULTADOS DA ANÁLISE QUÍMICA... 34
4.2 RESULTADOS DO PROCESSAMENTO ECAP... 35
4.3 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE DUREZA VICKERS ... 36
4.4 RESULTADOS DAS ANALISES METALOGRÁFICAS ... 40
5 CONCLUSÕES ... 45
SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ... 46
1 INTRODUÇÃO
1.1ECAP (Equal Channel Angular Pressing)
Desenvolvido por Segal, o processo ECAP (Equal Channel Angular Pressing) é uma
técnica que promove a deformação plástica por cisalhamento simples sem a redução da seção
transversal do material.
O que torna esta técnica cada vez mais interessante é que como não há redução da
seção transversal é possível obter acumulo de deformação plástica e com isso obter grãos na
ordem de escala nanométrica.
Este trabalho consiste em submeter uma liga de alumínio AA3104 ao processo de
ECAP (Equal Channel Angular Pressing). A liga AA3104 é uma liga a base de alumínio e
manganês, possui excelente resistência à corrosão combinada à boa resistência mecânica,
possui bom desempenho no processo de estampagem e é indicada para aplicações que exige
maior estabilidade de tamanho de grão sendo amplamente utilizada no mercado de produção
de latas para bebidas.
1.2 OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo submeter amostras de alumínio da liga AA3104 ao
processo ECAP (Equal Channel Angular Pressing) utilizando a rota Bc e analisar o efeito do
processamento na microestrutura e propriedades mecânicas através de ensaios de dureza
Vickers.
Para se atingir os objetivos propostos foram necessários:
Desenvolver uma metodologia de trabalho incluindo a definição dos parâmetros de
processos térmicos e mecânicos, os procedimentos experimentais adotados para a preparação
das amostras e corpos de prova, a realização das analises microestruturais e dos ensaios
mecânicos.
Em seguida fazer o processamento dos tarugos na liga AA3104 pelo processo ECAP
através da rota Bc.
Realizar os ensaios, analisar, discutir e comparar os resultados explicando o
1.3 JUSTIFICATIVA
Existe uma busca constante para se fabricar materiais com elevados valores de
resistência mecânica e tenacidade e uma das formas de se obter tais propriedades é através da
redução de tamanho de grão. Tratamentos Termomecânicos como laminação e extrusão são
utilizados para alcançar tais objetivos. Porém o material tem sua seção transversal reduzida
através da deformação plástica o que inviabiliza estes processos quando se deseja manter as
dimensões do material. Para isso surgiram as técnicas de deformação plástica severa para a
obtenção de uma granulação ultra-fina e aumento de propriedades mecânicas.
A liga AA3104 foi escolhida, devido a sua maior estabilidade de tamanho de grão e boa
estampabilidade, características importantes para a fabricação de latas. É uma liga que possui
melhores propriedades mecânicas do que o alumínio puro com ductilidade ligeiramente
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O ALUMÍNIO E SUAS LIGAS
O alumínio é o terceiro elemento mais abundante na crosta terrestre e é um dos metais
mais utilizados no mundo.
Suas propriedades como baixo peso especifico, alta resistência a corrosão, boa
condutividade térmica e elétrica, alta refletividade para calor e luz permite que ele seja
utilizado em diversas aplicações como na construção civil, transportes, fios e cabos, utensílios
domésticos e embalagens como, por exemplo, a de bebidas (O ALUMÍNIO, 2012)
Segundo Mazzolani (1995) as ligas de alumínio são desenvolvidas com o fim de
aumentar sua resistência mecânica já que o alumínio puro é muito dúctil e resistente à
corrosão diferentemente do aço.
Os principais elementos de liga utilizados são o magnésio, silício, zinco, cobre e
manganês (MAZZOLANI, 1995).
O esquema apresentado na figura 2.1 mostra as várias combinações do alumínio com os
principais elementos de liga (binárias, ternárias e quartanárias) (DEAN, 1990).
Figura 2. 1 - Ligas de alumínio (binárias, ternárias e quartanárias) formada com os principais elementos de liga (DEAN, 1990, p.201).
De acordo com Mazzolani (1995) os elementos de liga apresentam as seguintes
O magnésio reduz a temperatura de fusão da liga, aumenta sua resistência à corrosão a
água salgada e seu endurecimento por deformação. O silício combinado com o magnésio
permite o endurecimento por precipitação alem de aumentar a resistência e ductilidade do
alumínio (MAZZOLANI, 1995).
O cobre e o Zinco aumentam a resistência mecânica do material e permitem o
endurecimento por precipitação porem o cobre diminui a resistência à corrosão, soldabilidade
e ductilidade (MAZZOLANI, 1995).
O manganês aumenta a resistência mecânica do alumínio, com pequena redução da
ductilidade e melhora na resistência à corrosão (ZANGRANDI, 2006).
O titânio proporciona a redução do tamanho de grão e é utilizado durante o processo de
vazamento do alumínio como refinador de grão sendo as quantidades utilizadas dependentes
da aplicação final do material e da liga.
2.2 LIGAS Al-Mn (3XXX)
As ligas da série 3XXX (Aluminum Association) são ligas trabalhadas, ou seja, não são
endurecíveis por precipitação e não obtêm ganho de dureza mediante tratamento térmico de
envelhecimento. Desta forma só são endurecíveis por trabalho mecânico (encruamento). O
manganês de maneira geral aumenta a resistência mecânicas das ligas trabalhadas, seja através
da formação de fases intermetálicas como AlFeMnSi e AlMnSi ou por meio de
endurecimento por solução sólida. O manganês reduz a susceptibilidade à corrosão sob tensão
(MELO, 2004).
Nas ligas AlMn a temperatura eutética é 660°C a um teor de 1,9%. O limite de
solubilidade do manganês no alumínio nesta temperatura é de 1,8%. A fase intermetálica, que
existe em equilibrio com a solução sólida de alumínio, tem composição que corresponde a
Al6Mn. Esta fase separa-se da fase líquida que contém 1,9 a 4,1% de manganês. Quando
soluções sólidas possuem maiores teores ela se forma pela reação peritética entre Al4Mn e a
fase líquida a 710°C (MELO, 2004).
A única fase metaestável conhecida no sistema Al-Mn tem a composição Al12Mn com
14,5% de manganês.
Segundo Melo (2004) parte do manganês precipita sob forma de partículas dispersóides
comparada com o alumínio comercialmente puro o qual praticamente não contem estes
dispersóides, permanecendo o restante do manganês em solução sólida.
A liga AA3104 possui uma resistência mecânica mais elevada devido ao fato do
endurecimento por solução sólida promovido pelo magnésio em sua composição,
privilegiando sua utilização em aplicações que exigem mais estabilidade do tamanho de grãos
e maior resistência à corrosão (MELO, 2004).
Iwahashi et al. relatou que o tamanho de grão em ligas de alumínio processadas por
ECAP diminuiu com o aumento na concentração de magnésio apesar das mesmas condições
de processamento. Atribuindo o efeito do magnésio a uma redução no deslocamento
(mobilidade de deslocamento) e taxa de recuperação por atuar como um endurecedor por
solução sólida. Por isso é importante compreender a influência da liga, elemento e
solubilidade na obtenção de grãos ultra refinados.
2.3 REDUÇÃO DE TAMANHO DE GRÃO
A deformação plástica nos materiais policristalinos ocorre através da movimentação de
discordâncias em um sistema de escorregamento especifico (planos e direções atomicamente
mais densos). As discordâncias se movem por meio da aplicação de tensões de cisalhamento
que provocam a quebra das ligações atômicas. A energia necessária para quebrar estas
ligações para que as discordâncias possam promover o escorregamento planar e
consequentemente, a deformação plástica é que definem a resistência intrínseca do alumínio
puro.
Para isso existem alguns mecanismos de aumento de resistência mecânica que pode ser
endurecimento por solução sólida, endurecimento por envelhecimento e endurecimento
encruamento.
Com o encruamento, propriedades mecânicas como LE (Limite de Escoamento), LRT
(Limite de resistência a Tração) aumentam e consequentemente o seu alongamento diminui.
À medida que o material vai sendo encruado através de um trabalho mecânico, ocorre
uma multiplicação no número de discordâncias, sendo que com este aumento no número de
discordâncias uma atua sobre as outras bloqueando seu movimento e consequentemente
aumentando a resistência do material, ou seja, exigindo uma tensão cada vez maior para que
No material policristalino como cada grão possui sua orientação cristalográfica, quando
uma discordância percorre por um plano de escoamento e se depara com um contorno de grão
onde há mudança de orientação cristalográfica, as discordâncias tem seu movimento
dificultado, barrando o movimento das demais discordâncias. Por isso, materiais com grãos
refinados possuem maior resistência mecânica.
Esta relação redução de tamanho de grão que leva ao endurecimento do material é
expressa através da equação Hall-Petch.
𝜎= 𝜎°+ 𝑘 ∙ 𝑑 −1
2 (1)
Onde é o limite de escoamento, d é o tamanho médio do grão e e k são constantes
particulares do material.
Do ponto de vista microestrutural os materiais metálicos policristalinos aumentam sua
resistência mecânica e tenacidade através da redução do tamanho de grão e quando este refino
é aumentado de forma acentuada o material ganha características de superplasticidade.
A superplasticidade é observada em muitas ligas metálicas e é caracterizado como a
capacidade que o material tem de suportar grandes quantidades de deformação plástica sem
ocorrência da fratura.
As técnicas de deformação plástica severa (DPS) deformam o material a um grau
elevado em uma temperatura relativamente baixa e com tensão aplicada elevada a fim de se
obter metais com grãos nanocristalinos. Um exemplo de técnica de deformação plástica
severa é o Processo ECAP (Equal Channel Angular Pressing) que reduz o tamanho de grão
sem reduzir a seção transversal diferentemente dos processos de Laminação, Extrusão e
Trefilação que permitem o refino de grão, porém reduzem significativamente a espessura e
diâmetro do material impossibilitando seu uso quando a limitações dimensionais ou
geométricas.
2.4 O PROCESSO ECAP
O processo ECAP (Equal channel angular pressing) foi desenvolvido por Segal em
1972 nesta época muitos estudos eram realizados no Instituto Físico Tecnológico da
Academia de Ciências da Bielorússia. Mais tarde em 1990 com o aumento no interesse em
publicadas sobre esta técnica para obter grãos altamente refinados, o estudo da evolução de
sua microestrutura e a relação com suas propriedades mecânicas. (SEGAL, 1999).
Segundo Segal (1999) o processo ECAP apresenta uma série de vantagens sendo a mais
importante o cisalhamento simples que ocorre através da tensão uniforme aplicada nos
tarugos gerando grandes deformações plásticas apresentando um papel fundamental no
deslizamento dos planos cristalográficos.
Podemos definir o ECAP (Equal Channel Angular Pressing) como um processo de
deformação plástica severa onde ocorre a redução do tamanho de grão do material sem que
haja a redução de sua secção transversal.
O processo consiste na passagem de um tarugo metálico através de dois canais que se
interceptam formando um determinado ângulo. Um esquema deste processo pode ser visto na
Figura 2.2. O tarugo tem as dimensões bem próximas às dos canais da matriz e é submetido a
um cisalhamento simples na região de interseção desses canais, que resulta em uma intensa
deformação plástica no tarugo. Essas deformações plásticas são acumuladas no tarugo sem
que ocorra a redução de sua seção transversal após o termino do processo, o que permite a
repetição por diversas vezes. A repetição garante o acumulo da deformação plástica e com
isso microestruturas de grãos cada vez menores associados à formação de contornos de grão
de alto ângulo. (ANTUNES et al., 2006).
Através da passagem do tarugo pela matriz ocorre a deformação. O plano de
cisalhamento teórico pode ser visto na Figura 2.3 ela é ilustrada pelos elementos adjacentes 1
e 2, dentro da matriz, estes elementos são transpostos pelo esforço cisalhante e apesar da
introdução de uma tensão intensa a amostra atravessa o plano de cisalhamento e no final do
processo surge sem alteração nas dimensões transversais.
Figura 2. 3 – O princípio do ECAP, plano de cisalhamento evidenciado pelos elementos 1 e 2. (NAKASHIMA et al, 2000).
Muitos estudos realizados utilizam barras com cortes transversais quadrados e matrizes
com canais quadrados, porém os mesmo procedimentos podem ser aplicados quando as
amostras estiverem em forma de barras com seções transversais circulares.
No processo ECAP, há quatro variáveis que determinam a natureza do desenvolvimento
da microestrutura sendo elas a configuração da ferramenta, a rotação que o tarugo sofrerá
após cada passe de ECAP sendo ela a responsável pela modificação dos planos de
deslizamento do material, a velocidade de prensagem e a temperatura de prensagem. (MELO,
2004).
O ângulo do canal (ϕ) e o ângulo do cotovelo (ψ) influenciam na deformação. Foi desenvolvida por Segal uma equação para prever a intensidade da deformação que será
alcançada após o processamento por ECAP, equação (2) e mostrou que a redução do ângulo
(2)
Como não haverá a redução da seção transversal do material durante o processo ECAP
e, portanto não há redução de espessura, o material pode ser submetido a sucessivas passadas
pelo canal (N é o número de passes), acumulando deformações a cada passe de tal forma que
a redução efetiva pode ser calculada pela equação (3).
(3)
O ângulo do canal (ϕ) e o ângulo do cotovelo (ψ) têm papel importante na deformação efetiva do material como pode ser observado nas equações (2) e (3) sendo que estudos foram
realizados com o objetivo de identificar os melhores ângulos para se obter uma melhor
estrutura.
Experimentos realizados por Segal (1999) identificou que o ângulo de ϕ=90°
combinado com ψ=0° favorece o desenvolvimento de uma estrutura de grãos ultrafinos, pois representa a maior deformação.
Na tabela 2.1 é possível verificar que para ϕ maiores que 90° (mantendo-se constante
os valores de ψ e R) há um decréscimo da deformação equivalente (ε) por passe, de acordo com a equação (2) sendo o máximo de deformação por passe a seguinte configuração ϕ=90°,
Tabela 2. 1 - Efeito dos ângulos ϕ e ψ e do raio R sobre a deformação por passes (MELO, 2004).
O sentido e o valor do ângulo de rotação na sequência dos passes, denominadas rotas de
deformação tem grande influência sobre a microestrutura formada, levando a formação de
grãos finos, mas com características cristalográficas distintas em função do ângulo e sentido
de rotação influenciando também as propriedades mecânicas do material. A figura 2.4 mostra
Figura 2. 4 - Ilustram as quatro rotas de deformação básicas para o processo ECAP (NAKASHIMA et al,2000).
Na Rota A a amostra é processada sem rotação, na Rota Ba a amostra é rotacionada a
90º em direções alternadas entre passagens sucessivas, na Rota Bc a amostra é rotacionada
a 90º no mesmo sentido (horário ou anti-horário) entre cada passagem e na Rota C a
amostra é rotacionada a 180º entre passagens (DANTAS JÚNIOR, 2008).
São possíveis combinações dessas rotas, porém experimentos evidenciam que
combinações mais complexas não levam a uma melhoria adicional nas propriedades
mecânicas obtidas (DANTAS JÚNIOR, 2008).
Padrões de deslizamento são associados às rotas aplicadas ao ECAP a Figura 2.5
ilustra esquematicamente os padrões de deslizamento associados a cada rota de prensagem
Figura 2. 5 - Ilustração dos padrões de deslizamento nos planos X, Y e Z com passagens sucessivas nas rotas A, BA, BC e C. (DANTAS JÚNIOR, 2008).
A Figura 2.6 descreve para as 4 rotas básicas as distorções macroscópicas introduzidas
em um elemento cúbico nos planos X, Y e Z para oito passes de ECAP.
As distorções são mais agudas no elemento cúbico nas rotas A e BA e quando a rota BC
e C são empregadas o elemento cúbico é restabelecido e este restabelecimento se dá a cada 2
passagens na rota C e a cada 4 passagens pela rota BC. Nas rotas A e C não se verifica
distorções do elemento cúbico no eixo Z.
As deformações acumuladas promoverão um aumento da fração volumétrica dos
contornos de grão e o aparecimento de bandas de deformação no interior dos grãos, com as
suas subestruturas de discordâncias (subgrãos) com características de contornos de alto ângulo
e em alguns casos o aparecimento de textura. Por meio de tratamentos térmicos subsequentes
os contornos de alto ângulo e as bandas de deformação agem como sítios para a nucleação de
novos grãos possibilitando a obtenção de uma microestrutura homogênea com grãos
extremamente refinados em uma faixa nanométrica ou micrométrica.
Para a obtenção de grãos mais uniformes do material é desejável que a deformação seja
mais homogênea possível ao longo do comprimento do tarugo, porém a deformação nas suas
extremidades são menos intensas. Outros fatores que podem influenciar na uniformidade de
deformação são o atrito entre tarugo e matriz, o efeito da contrapressão à frente do tarugo e o
coeficiente de encruamento do material. (SEGAL, 1999).
Melo (2004) realizou estudos do processo ECAP com plasticina a fim de prever o modo
do escoamento do material dentro da ferramenta através da rota Bc, rota escolhida para a
prensagem de amostras de alumínio na liga AA3104 deste trabalho pois de acordo com
estudos realizados é a rota que apresenta maior desenvolvimento da microestrutura
provocando deformações nos três planos de deslocamento e após quatro passes a estrutura
inicial é retomada.
O bloco de plasticina foi submetido a 10 passes de ECAP e pode-se verificar que a
plasticina se misturou bastante após o final do processo.
(A) (B)
Figura 2. 8 - (A) Plano Z, vista superior do bloco de plasticina após 10 passses de ECAP. (B) Plano Y, vista frontal em corte do tarugo após 10 passes de ECAP (MELO, 2004).
De acordo com os estudos realizados por Melo (2004) após o processamento dos
blocos de plasticina por ECAP é possível verificar que ocorreu a presença da zona morta que
pode ser verificada na Figura 2.9 pela seção circulada de laranja. Esta parte do material não
participa do processo de prensagem justificando o fato de não se utilizar o arco, já que o
material naturalmente encontra um ângulo para sofrer a deformação.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA
Corpos de prova na forma de barras de seção quadrada de 11,80 mm de largura e 49,20
mm de comprimento, usinado a partir de lingote recuperado de uma liga de alumínio
AA3104. As barras foram retiradas tendo seu comprimento paralelo à do lingote, conforme
figura 3.1.
Lingotes recuperados são aqueles em que o corpo da lata na liga AA3104 e a tampa na
liga AA5182 foram fundidos juntos, a composição química que prevalece é a AA3104 com
maior teor de magnésio devido à liga AA5182 presente durante a fusão.
Os corpos de prova da liga AA3104 foram processados por ECAP na condição
homogeneizadas.
Os parâmetros de tempo e temperatura utilizados para a homogeneização são os
mesmos utilizados para o tratamento térmico da liga AA3104 utilizada para a fabricação de
latas para bebidas. O tratamento térmico de homogeneização foi realizado no Laboratório de
Tratamentos Térmicos do Departamento de Materiais da Faculdade de Engenharia do Campus
de Guaratinguetá, UNESP.
Foi utilizado um forno tipo Mufla, série 7000, da EDG Equipamentos, modelo
EDGCON 3P com temperatura máxima de operação 1200°C.
A temperatura utilizada para o tratamento de homogeneização foi de 590° C por 5
horas, seguido de resfriamento ao ar até temperatura ambiente.
O lubrificante utilizado para o processamento dos tarugos por ECAP foi graxa
Figura 3. 1 - Tarugo de alumínio da Liga AA3104 homogeneizadas antes do processamento por ECAP.
3.2 FERRAMENTA
A ferramenta foi configurada para os ensaios de ECAP com ângulo do cotovelo de ψ=0º e ângulo do canal de ϕ= 90º.
Esta configuração será mantida este trabalho, não sendo, portanto a configuração da
ferramenta uma variável de processo avaliada.
A ferramenta já havia sido desenvolvida para trabalhos de pesquisa anteriores e sua base
foi usinada a partir do aço VND e o núcleo a partir do aço VC-130.
3.3 ANÁLISES QUÍMICAS
Foi retirada amostra do lingote bruto de fusão. Estas amostras foram usinadas e
transformadas em um disco conforme mostrado na figura 3.3 com aproximadamente 62 mm
de diâmetro por 6 mm de espessura. Os pontos escuros na superfície do disco são marcas de
analise químicas.
Figura 3. 3 - Disco retirado do lingote bruto de fusão, depois de usinado e feito a analise química.
A análise química foi realizada no disco conforme ilustrado na figura 3.3 utilizando-se
um espectrômetro de Emissão Ótica ARL 4460. Os resultados estão mostrados na tabela 4.1.
3.4 DUREZA VICKERS
Os ensaios de dureza Vickers foram realizados no Laboratório de Ensaios Mecânicos do
Departamento de Materiais e Tecnologia, da Faculdade de Engenharia do Campus de
Guaratinguetá, UNESP, numa máquina universal para medida de dureza WOLPERT, com
capacidade para aplicação de carga variando de 1 a 250 kgf.
Todos os ensaios foram feitos com carga de 5 kgf e tempo de aplicação de carga de 10
segundos.
As medidas de dureza foram feitas para a amostra que não sofreu o processamento
3.5 ANÁLISES METALOGRÁFICAS
Os corpos de prova passaram por um processo de corte na máquina de corte da marca
Arotec – Arocor 40. Os cortes foram feitos nos planos ortogonais X, Y e Z onde: X é o plano transversal perpendicular à direção do fluxo;
Y é o plano paralelo ao fluxo, as face lateral ao ponto de saída da matriz;
Z é o plano longitudinal paralelo à superfície de topo ao ponto de saída da matriz,
conforme ilustrado na figura 3.4.
Figura 3. 4 – Planos ortogonais de observação.
Após o processo de corte as amostras passaram por um processo de lixamento na
sequencia de lixas de grana 220, 400 e 600 e polimento com pasta de diamante seguido de
polimento com óxido de magnésio com água destilada e para finalizar polimento utilizando
sílica coloidal em suspensão.
Os corpos de prova sofreram o ataque eletrolítico para revelar a microestrutura de
acordo com a composição abaixo:
294,6 ml de água destilada;
5,4 ml HBF4;
Fonte em 20v e 1,5A;
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Serão analisadas as microestruturas e propriedades mecânicas obtidas por meio de
ensaios de dureza Vickers da liga de alumínio AA3104 processadas por ECAP e os resultados
obtidos experimentalmente serão discutidos com base nos estudos teóricos.
4.1 RESULTADOS DA ANÁLISE QUÍMICA
Verificam-se na tabela 4.1 os resultados obtidos das análises químicas feitas em
amostras preparadas conforme procedimento descrito no item 3.3 do capítulo 3.
Tabela 4. 1 - Resultados da análise química das amostras na liga AA3104.
Analisando a Tabela 4.1 verifica-se que a composição química permaneceu abaixo dos
limites máximos estabelecidos para a liga AA3104 com exceção do magnésio que apresentou
valor médio acima do limite máximo permitido para a liga.
Este resultado pode ser explicado pelo fato de que o alumínio utilizado foi obtido
através de lingotes recuperados onde o corpo da lata na liga AA3104 foi fundido juntamente
com a tampa da lata na liga AA5182, liga a base de magnésio.
4.2 RESULTADOS DO PROCESSAMENTO ECAP
As amostras processadas passaram por uma análise visual a cada passe de ECAP. A
velocidade utilizada para o processamento foi de 3 mm/min com temperatura ambiente, não
sendo estas variáveis analisadas já que se mantiveram constantes ao longo de todo o
processamento ECAP.
No primeiro passe o tarugo não apresentou trincas, no segundo passe iniciou a
nucleação de trincas na face superior próximo ao ponto onde é aplicada a carga pelo punção,
no terceiro passe o tarugo apresentou trincas profundas na face superior e lateral do tarugo,
algumas trincas se entendiam até o meio do tarugo. Na figura 4.1 é possível verificar os
tarugos após o processamento ECAP.
Figura 4. 1 - Tarugos de alumínio na liga AA 3104 processados por ECAP a uma velocidade de 3 mm/min em temperatura ambiente.
Conforme apresentado no item 2.3 do Capítulo 2, em função do aumento do
encruamento é necessária uma carga cada vez maior para que a deformação plástica ocorra.
Gráfico 4. 1 - Cargas aplicadas a cada passe do processamento por ECAP.
4.3 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE DUREZA VICKERS
Verifica-se que existe um aumento nas propriedades mecânicas do material por meio
dos ensaios de dureza Vickers realizados onde o material não processado apresenta uma
dureza inferior quando comparado ao material processado e ainda pode ser verificado que
quanto maior o número de passes maior a dureza, de acordo com o apresentado no Capitulo 2
item 2.3 e ilustrado no gráfico 4.2.
Com o aumento da dureza, propriedades mecânicas como o LE (limite de escoamento),
Gráfico 4. 2 - Dureza Vickers para cada passe de ECAP
Quando se compara a amostra apenas homogeneizada com aquela após uma passada
verifica-se um aumento de 62,5% na dureza. Comparando-se a primeira passada com a
segunda observa-se um aumento de 12% na dureza e por fim quando se compara os resultados
obtidos na segunda passada com a terceira verifica-se um aumento de 5%.
Na Figura 4.2 estão ilustradas as regiões do tarugo onde foram realizadas medições de
dureza para constatar variações de dureza ao longo do tarugo.
Nos Gráficos 4.3 (A), (B), (C) e (D), é possível constatar que o inicio das amostras
processadas por ECAP possuem uma dureza menor do que o meio e o final da amostra.
(A)
(C)
Gráfico 4. 3 - Durezas medidas ao longo das regiões: inicio, meio e final das amostras processados e não processados por ECAP (A) Sem Processamento, (B) 1° Passe, (C) 2° Passe e (D) 3° Passe.
Verifica-se no gráfico 4.3 (A) as medições de dureza realizadas na amostra de alumínio
sem o processamento ECAP, nela as medições são variadas ao longo do tarugo
diferentemente do que pode ser visto no gráfico 4.3 (B), (C) e (D) onde as amostras foram
processadas por ECAP e pode ser verificado que o inicio das amostras, região onde é
A dureza menor no inicio do tarugo pode ser justificada por estar acima da zona morta,
aquela cujo volume não participa do processo de deformação durante o processamento
sofrendo somente compressão com deformação parcial, de acordo com os estudos teóricos no
Capítulo 2, item 2.4.
4.4 RESULTADOS DAS ANALISES METALOGRÁFICAS
Após o processo de preparação das amostras (corte, lixamento e polimento) as amostras
foram analisadas em microscópio óptico sem ataque, somente na condição de polidas. Nestas
micrografias verificam-se partículas de segunda fase distribuídas na matriz de alumínio,
conforme figura 4.3.
Figura 4. 3 – Micrografia das amostras com partículas de segunda fase distribuídas na matriz de alumínio (A) Sem processamento ECAP. (B) Após 1° passe de ECAP. (C) Após 2° passe de ECAP. (D) Após 3° passe de ECAP.
Ainda analisando a figura 4.3 (A) podem-se verificar partículas de segunda fase
verificar também a presença de poros oriundos do processo de solidificação da liga de
alumínio. Nas figuras 4.3 (B), (C) e (D) os materiais já foram processados por ECAP, nelas
também são possíveis verificar as partículas de segunda fase na matriz de alumínio e na figura
4.3 (D) é possível verificar a presença de trincas geradas pelo alto grau de encruamento
causado pela intensa deformação plástica que o material sofreu no terceiro passe de ECAP.
As partículas de segunda fase distribuídas na matriz de alumínio identificadas nas
micrografias são fases de Al6(MnFe) que pode ser vista no Espectro da liga AA3104 ilustrado
na Figura 4.4.
Figura 4. 4 - Espectro da liga AA3104. (A) Espectro da matriz de Alumínio. (B) Espectro das partículas de segunda fase Al6(MnFe).
Após o processo de corte, lixamento e polimento as amostras passaram por um ataque
eletrolítico a fim de revelar os contornos de grão das amostras processada por ECAP e não
Figura 4. 5 – Micrografia do material no plano X (A) sem processamento ECAP (B) Após 1° passe de ECAP. (C) Após 2° passe de ECAP. (D) Após o 3° passe.
O plano ortogonal X é o plano transversal perpendicular à direção do fluxo. Na Figura
4.5 (A) é possível verificar que os grãos estão equiaxiais. Na Figura 4.5 (B) e (C) os grãos
estão mais alongados, pois correspondem ao primeiro e segundo passe de ECAP
respectivamente.
Na Figura 4.5 (D) os grãos estão ainda mais alongados e é possível identificar a
presença de trincas intergranulares, pode ser visto também que a deformação após a trinca é
maior do que antes da trinca, o que pode ser justificado pelo fato da parte anterior a trinca
estar próxima da zona morta, região da amostra que não sofreu a deformação plástica e sim
uma deformação parcial.
Nas Figuras 4.5 (B), (C) e (D) é possível verificar o sentido de escoamento do material
Figura 4. 6 - Micrografia do material no plano Y (A) Sem processamento ECAP (B) Após 1° passe de ECAP. (C) Após 2° passe de ECAP. (D) Após o 3° passe.
O plano ortogonal Y é o plano paralelo ao fluxo, face lateral ao ponto de saída da
matriz. Na Figura 4.6 (A) é possível verificar que os grãos estão equiaxiais. Na Figura 4.6 (B)
e (C) os grãos estão mais alongados, pois correspondem ao primeiro e segundo passe de
ECAP respectivamente.
Nas Figuras 4.6 (B), (C) e (D) verifica-se o sentido de escoamento do material e na
Figura 4.6 (D) verifica-se a presença de trincas intergranulares no sentido do escoamento do
material, nela os grãos não possuem diferença abaixo e acima da trinca, pois se trata do plano
Figura 4. 7 - Micrografia do material no plano Z (A) Sem processamento ECAP (B) Após 1° passe de ECAP. (C) Após 2° passe de ECAP. (D) Após o 3° passe.
O plano ortogonal Z é o plano longitudinal paralelo à superfície de topo ao ponto de
saída da matriz. Na Figura 4.7 (A) é possível verificar que os grãos estão equiaxiais. Na
Figura 4.7 (B) e (C) os grãos estão mais alongados, pois correspondem ao primeiro e segundo
passe de ECAP respectivamente.
Na Figura 4.7 (D) os grãos estão ainda mais alongados e é possível verificar a presença
de trincas intergranulares que surgiram na superfície do material.
Nas Figuras 4.7 (B), (C) e (D) é possível verificar o sentido de escoamento do material.
Analisando ainda as figura 4.5 (A), (B), (C) e (D), 4.6 (A), (B), (C) e (D) e 4.7 (A), (B),
(C) e (D) observa-se que existem poros localizados nos contornos de grão do material. Estes
poros oriundos do processo de solidificação do material podem atuar também como pontos de
concentração de tensão na nucleação de trincas quando as cargas aplicadas para a deformação
5 CONCLUSÕES
Com base nos estudos teóricos e nos resultados experimentais obtidos podem ser
extraídas as seguintes conclusões:
Houve um aumento nas propriedades mecânicas do material de acordo com os
resultados obtidos nos ensaios de dureza Vickers. Este aumento de dureza ocorreu devido ao
alto grau de encruamento do material como resultado de uma deformação plástica severa a
qual foi submetido.
Foi possível verificar que a dureza das amostras aumentou consideravelmente entre a
amostra homogeneizada em relação ao primeiro passe, 62%. Entre o primeiro passe e o
segundo passe foi de 12%, já entre o segundo passe e o terceiro passe, apenas 5%, isso
confirma o aumento do encruamento a cada etapa do processo, o que pode ser verificado nas
analises micrográficas.
Através das micrografias foi possível concluir que os grãos estão cada vez mais
alongados a cada passe de ECAP devido à alta deformação plástica que o material foi
submetido. As trincas intergranulares que surgiram foram ocasionadas pelo alto grau de
encruamento do material que o leva a fratura e também pelos poros presentes nas amostras,
oriundos do processo de solidificação do material que atuam como pontos de concentração de
tensão e nucleação de trincas.
Devido às amostras terem sido obtidas a partir de lingotes recuperados, ou seja, o corpo
da lata na liga AA3104 e a tampa da lata na liga AA5182, sem compensação de composição
química, pode ter levado a dificuldade encontrada no ataque eletrolítico utilizado para revelar
SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS
Submeter amostras de alumínio a um tratamento térmico de recristalização a fim de conseguir medir o tamanho dos grãos obtidos, cujo objetivo é se obter grãos altamente refinados.
Processar amostras de alumínio por ECAP modificando as variáveis de processo velocidade e temperatura a fim de entender sua influência nas microestruturas e propriedades mecânicas obtidas.
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