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Intervenções em linguagem infantil na atenção primária à saúde: revisão sistemática.

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Academic year: 2017

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em Evidências

Evidence-based

Speech-Language Pathology

Bruna Campos De Cesaro1

Léia Gonçalves Gurgel1

Gabriela Pisoni Canedo Nunes1

Caroline Tozzi Reppold1

Descritores

Saúde pública Fonoaudiologia Linguagem infantil Atenção primária à saúde Revisão

Keywords

Public health Speech, language and hearing sciences 

Child language  Primary health care

Review

Endereço para correspondência:

Bruna Campos De Cesaro

Rua Sarmento Leite, 245, Centro, Porto Alegre (RS), Brasil, CEP: 90050-170. E-mail: brunacc@ufcspa.edu.br

Recebido em: 02/01/2013

Aceito em: 04/11/2013

Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA – Porto Alegre (RS), Brasil.

(1) Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA – Porto Alegre (RS), Brasil.

Conflito de interesses: nada a declarar.

à saúde: revisão sistemática

Child language interventions in public health: a systematic

literature review

RESUMO

Objetivo: Revisar sistematicamente na literatura as intervenções realizadas em linguagem infantil na atenção primária à saúde. Métodos: Foram pesquisadas as bases de dados eletrônicas (de janeiro de 1980 até agosto de 2013) MEDLINE (acessada pelo PubMed), Scopus, Lilacs e Scielo. Os termos da busca utilizados foram “child language”, “primary health care”, “randomized controlled trial” e “intervention studies” (em inglês, português e espanhol). Foram incluídos quaisquer ensaios controlados randomizados que abordassem os temas linguagem infantil e atenção primária à saúde. A análise foi descritiva quanto ao tipo de intervenção em linguagem realizada na atenção básica em saúde. Resultados: Dez estudos foram incluídos e utilizaram estratégias de intervenção como o vídeo interacional, a orientação aos pais e a terapia em grupo. Indivíduos de ambos os gêneros foram incluídos nos sete estudos. A idade das crianças participantes das amostras dos trabalhos incluídos nesta revisão variou de zero a 11 anos. Esses sete estudos utilizaram abordagens que incluíam somente os pais, os pais e as criançasou apenas as crianças. Conclusão: Observou-se que as intervenções em linguagem na atenção primária, utilizadas em ensaios clínicos controlados randomizados, envolvem principalmente o uso de vídeos interacionais. Diversos profissionais, além dos fonoaudiólogos, estiveram inseridos nas intervenções em linguagem na atenção primária, demonstrando a importância do trabalho interdisciplinar. Nenhum dos estudos mencionou aspectos relacionados à audição. Há escassez de ensaios clínicos controlados randomizados que tratem sobre a linguagem e a saúde coletiva, seja no Brasil ou internacionalmente.

ABSTRACT

Purpose: Systematically review the literature on interventions in children’s language in primary health care. Methods: One searched the electronic databases (January 1980 to March 2013) MEDLINE (accessed by PubMed), Scopus, Lilacs and Scielo. The search terms used were “child language”, “primary health care”, “randomized controlled trial” and “intervention studies” (in English, Portuguese and Spanish). There were included any randomized controlled trials that addressed the issues child language and primary health care. The analysis was based on the type of language intervention conducted in primary health care. Results: Seven studies were included and used intervention strategies such as interactive video, guidance for parents and group therapy. Individuals of both genders were included in the seven studies. The age of the children participant in the samples of the articles included in this review ranged from zero to 11 years. These seven studies used approaches that included only parents, parents and children or just children.

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INTRODUÇÃO

A comunicação pode ocorrer por meios não verbais, no entanto, a maior parte é realizada pela conversão de ideias em linguagem escrita e oral(1). A ausência de linguagem ou a sua aquisição tardia, em relação aos limites cronológicos e de escolaridade esperados, podem indicar alterações no desenvol-vimento. Grande parte dessas alterações no curso evolutivo da linguagem poderiam ser solucionadas, caso houvesse diagnós-tico precoce e intervenção adequada(²).

Constata-se que os problemas relacionados à linguagem não são identificados de forma adequada e que faltam dados relativos à saúde e atenção primária nessa área. Entre 5 e 8% das crianças pré-escolares apresentam atraso no desenvolvimento de linguagem, o que muitas vezes persiste ao longo dos anos escolares e na sua vida adulta(³). Estas alterações estão asso-ciadas a pior desempenho escolar, dificuldades em aspectos interacionais sociais e relações emocionais(4). Nesse sentido, a intervenção fonoaudiológica é necessária para a condução da criança ao longo do processo de desenvolvimento da linguagem, bem como para a orientação e o aconselhamento familiar(1).

Os profissionais de saúde e educadores, principalmente os que atuam na rede de atenção básica e rede escolar pública, devem ser alvo de treinamento e capacitação continuados para se adequarem às necessidades da população infantil(5). Informações a respeito das alterações da linguagem infantil devem estar ao alcance de todos a fim de que possam orientar e encaminhar os indivíduos para as intervenções necessárias(²). A atenção primária à saúde é essencial nesse processo de detecção precoce das alterações de linguagem e parte integral do sistema de saúde do país. Nesse contexto, a atenção básica leva a atenção à saúde o mais próximo possível dos locais onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo o primeiro elemento de um processo de atenção continuada à saúde(6).

A atuação fonoaudiológica, portanto, engloba ações de pro-moção, proteção e recuperação da saúde nos diferentes aspectos relacionados à comunicação humana(7). Essa atuação, realizada em equipe, é uma prática crescente no atendimento à saúde e se caracteriza pelo modo de interação presente na relação entre os profissionais(8). Na equipe multiprofissional, a articulação refere-se à recomposição de processos de trabalhos distintos e, portanto, à consideração de conexões e interfaces entre as intervenções técnicas de cada área profissional(9).

OBJETIVO

Assim, o objetivo deste trabalho é revisar sistematica-mente na literatura as intervenções realizadas em linguagem infantil na atenção primária à saúde.

MéTODOS

Estratégia de pesquisa

foram pesquisadas as bases de dados eletrônicas MedLine (acessada pelo PubMed), Scopus, Lilacs e Scielo no período de janeiro de 1980 a março de 2013. Os termos da busca utilizados

foram “child language”, “primary health care”, “randomized

controlled trial” e “intervention studies”, seus entretermos e

seus equivalentes, em português e espanhol. Restringiu-se, para esta pesquisa, estudos com amostras de famílias e crianças com até 12 anos incompletos, como considera o Estatuto da Criança e do Adolescente(10).

Critérios de seleção

Os estudos incluídos na presente revisão foram aqueles que descreviam de maneira adequada o tipo de intervenção utilizada, realizados no contexto da atenção básica, que abor-daram os temas linguagem infantil e atenção primária à saúde, delineados como ensaios clínicos controlados randomizados. Este delineamento foi pré-requisito para a inclusão das pes-quisas a fim de manter a qualidade da revisão sistemática. Ensaios clínicos controlados randomizados são capazes de minimizar a influência de fatores prejudiciais sobre as relações de causa-efeito e também uma fonte de evidências confiável. As revisões sistemáticas, apesar de serem consideradas ain-da mais relevantes, são estudos secundários, ou seja, dependem de estudos primários com qualidade para derivarem inferências, daí a importância dos ensaios clínicos randomizados como fonte de evidências também para as revisões sistemáticas(11).

Não houve restrição quanto aos desfechos esperados para aumentar a sensibilidade da pesquisa. Foram excluídos artigos que não abordassem o tema linguagem, não abordassem o tema saúde pública e intervenção em linguagem na atenção primária, incluíssem apenas indivíduos com mais de 12 anos e não des-crevessem de maneira confiável o tipo de intervenção utilizada.

Análise de dados

O processo de análise dos dados foi composto por três etapas. Na primeira, dois revisores independentes realizaram a leitura dos títulos e dos resumos dos artigos identificados pela estratégia de busca. Todos os que não forneceram informações suficientes foram selecionados para a segunda etapa, denomi-nada “fase de avaliação do texto integral”, assim como os que atendiam aos critérios de inclusão.

Na fase de avaliação do texto integral, os dois revisores, de maneira independente, analisaram os artigos em sua íntegra e realizaram suas seleções de acordo com os critérios de elegibi-lidade. Todas as discordâncias entre eles foram resolvidas por consenso. Já na terceira etapa houve o preenchimento de um formulário padronizado, sobre cada estudo incluído, contendo informações sobre as suas características metodológicas, as intervenções e os desfechos descritos em cada pesquisa. O dado principal coletado foi quanto às intervenções realizadas em linguagem, com indivíduos na faixa etária infantil, no âmbito da atenção primária em saúde.

RESULTADOS

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e foram considerados relevantes para a amostra deste trabalho, sendo analisados detalhadamente (Figura 1).

Indivíduos de ambos os gêneros foram incluídos nos dez estudos. A idade das crianças que faziam parte das amostras dos trabalhos integrantes desta revisão variou de zero a 11 anos. Esses dez estudos utilizaram abordagens que incluíam somente os pais(12,13), os pais e as crianças(14-17) ou apenas as crianças(18). As estratégias de intervenção em linguagem utilizadas foram programas com os pais, ou somente com a mãe, para promover a linguagem por meio de jogos compartilhados(14), leitura compartilhada(14), vídeo interacional(12,14,15), livro guia sobre como estimular a linguagem(12), oficinas(12), material para auxiliar a aprendizagem(14), panfletos informativos(14), jornal com atividade interativa específica para a idade(14), visitas domi-ciliares(17), ensino de mães sobre como cuidar de seus próprios sinais de ansiedade e estresse, facilitando o seu relacionamento com as crianças bem como o desenvolvimento delas(13), o for-talecimento do vínculo familiar(16) e orientações em grupo(18), e preparação para a ida à escola com os pais. Na Tabela 1 são

256 citações potencialmente relevantes identificadas nas bases de dados MEDLINE (acessada pelo PubMed), Scopus, Lilacs e Scielo

238 estudos excluídos com base nos títulos e resumos

18 estudos recuperados para a análise detalhada

do texto completo 8 estudos excluídos com base

nos critérios de elegibilidade

10 estudos incluídos na presente revisão

Figura 1. Diagrama do processo de seleção dos estudos

Tabela 1. Características dos estudos incluídos

Autores Língua original

País de origem

Periódico

(Fator de impacto) Tipo de intervenção População (n) Idade da amostra Wake et al. 2011(12) Inglês Austrália British Medical Journal

(13,47)

Programa preventivo de orientação proposto para

pais de crianças com vocabulário restrito

1.217 famílias 2 e 3 anos

Zelkowitz et al. 2008(13)

Inglês Canadá BMC Pediatrics (1,85) Programa de intervenção de apoio às mães para diminuir ansiedade

92 mães Pré-termos abaixo de 1.500 g

Mendelsohn et al. 2011(14)

Inglês Estados Unidos

Jama Pediatrics

(nada consta)

Programa de intervenção preventiva na relação mãe e

recém-nascido

410 mães 18 a 36 meses

Mendelsohn et al. 2007(15)

Inglês Estados Unidos

Journal of Developmental and Behavioral Pediatrics

(3,02)

Intervenção preventiva na relação pais e filhos

99 crianças 33 meses

Love et al. 2005(16) Inglês Estados

Unidos

Developmental

Psychology (nada consta)

Programa de intervenção para apoio emocional aos pais

3.001 famílias Gestantes e crianças até 36 meses Spittle et al. 2010(17) Inglês Austrália Pediatrics (5,78) Programa de intervenção

preventiva de visitas domiciliares

120 famílias Pré-termos

McCartney et al. 2011(18)

Inglês Reino Unido

International Journal of Language & Communication

Disorders (1,85)

Avaliaram a eficiência de terapia feita por fonoaudioóogos e terapia

estilo “consultoria”.

161 crianças 6 a 11 anos

Lowell et al. 2011(23)

Inglês Estados Unidos

Child Development

(nada consta)

Intervenção pai e filho 157 crianças 6 a 36 meses

Sheridan et al. 2011(22)

Inglês Estados Unidos

Journal of School

Psychology (nada consta)

Preparação para a escola com os pais

217 crianças 36 a 53 meses

Johnston et al. 2006(21)

Inglês Estados Unidos

Jama Pediatrics

(nada consta)

Programa com as gestantes 439 gestantes Gestantes e crianças até completarem 30

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apresentadas as principais características dos estudos incluídos na presente revisão, como autores, língua original, periódico, fator de impacto, tipo de intervenção realizada, número de participantes e média da idade da amostra.

A maior parte dos estudos(14-17) realizou intervenções con-juntas com pais e filhos (crianças ou recém-nascidos). Um deles(14), realizado na clínica pediátrica de um hospital público de cuidados primários nos Estados Unidos, objetivou determi-nar os efeitos de intervenções na relação entre pais e filhos de 410 famílias de baixa renda. O primeiro grupo, denominado

Video Interaction Project (VIP), participou de sessões com um

especialista em desenvolvimento infantil e recebeu intervenções a partir da visualização de vídeos nos quais ocorria a interação com a criança, leitura compartilhada e materiais de aprendiza-gem (brinquedos e panfletos informativos). O segundo grupo, chamado Building Blocks (BB), recebeu intervenção por meio de um informativo sugerindo atividades interativas para cada idade, e um material de aprendizagem. Em ambos observou-se aumento das interações entre pais e filho em comparação com o grupo controle, que recebeu apenas os cuidados pediátricos usuais. No entanto, o primeiro grupo apresentou melhores resultados. Mostrou-se que intervenções primárias no contato mãe e filho melhoram o desenvolvimento da criança, incluindo a linguagem, mesmo sem a determinação de uma idade certa para essa intervenção. Foi observado também que quanto maior o nível de escolaridade da mãe, melhores os resultados de intervenções no desenvolvimento das crianças.

A abordagem VIP envolve assistir vídeos de momentos de interação entre pais e filhos com o especialista em desenvol-vimento infantil, destacando os pontos positivos e negativos da interação. Essa técnica dá suporte à relação e melhora o desenvolvimento socioemocional e da linguagem infantil. No grupo VIP são realizadas discussões que têm como tema as expectativas e preocupações dos pais sobre a criança, e há o fornecimento de um material sobre o desenvolvimento infan-til. O especialista constrói uma relação de cuidado com cada família, favorecendo o desenvolvimento pleno da criança(14,15).

Outro estudo(15) também utilizou a técnica de vídeos intera-cionais em um programa da atenção primária. Participaram 99 crianças em risco para o desenvolvimento devido à pobreza e baixa escolaridade materna. Foi analisada a intervenção direta denominada VIP, comparada a um grupo controle. O grupo que recebeu a intervenção VIP melhorou quanto ao comportamento e ensino, e os pais se mostraram menos estressados. Concluiu-se que programas de intervenção pediátrica na atenção primária podem evoluir o desenvolvimento geral e de linguagem de crianças em situação de risco.

Uma pesquisa australiana(16) incluiu 3.001 famílias de di-ferentes raças, etnias e línguas no programa Early Head Star, destinado a atender mulheres grávidas e famílias com bebês até três anos de idade, de baixa renda. O programa buscou avaliar quanto o desenvolvimento das crianças, bem como dos pais, melhora quando há um maior fortalecimento do vínculo nas famílias, e incluiu visitas domiciliares e a creches, orientações aos pais, apoio à educação e saúde, e realização de encaminhamentos. Os resultados mostraram que as crianças de zero a três anos de idade que haviam aderido ao programa

apresentaram melhores desempenhos cognitivo e de lingua-gem, maior envolvimento afetivo com os pais e redução no comportamento agressivo. Já os pais que aderiram ao programa destacaram-se por oferecer maior apoio emocional, estimular o aprendizado de outras línguas, lerem mais para os filhos e apresentarem menor taxa de violência doméstica.

Seguindo na mesma linha de intervenção infantil, outro estudo incluído na presente revisão(17) avaliou a eficácia de um programa de visitas domiciliares preventivas durante os primeiros 12 meses de vida de recém-nascidos pré-termos extremos e suas famílias. Verificou-se o efeito do ViBes Plus

Intervention Program, um programa de intervenções no qual

são abordadas as preocupações do cuidador e as estratégias utilizadas, em conjunto com o terapeuta. A equipe foi composta por um fisioterapeuta e um psicólogo, ao longo de nove sessões, que observavam aspectos como cognição, desenvolvimento motor e da linguagem e interação da criança com o cuidador. Até completarem dois anos, as crianças foram avaliadas e não houve diferença entre o grupo controle e o que recebeu a in-tervenção. Entretanto, os pais das que receberam a intervenção relataram que seus filhos apresentavam menos comportamentos de desajustamento emocional, além de melhor desempenho em tarefas do dia a dia. Eles ainda relataram menores índices de ansiedade e depressão.

Nesse sentido, a detecção precoce de atrasos de linguagem e o conhecimento dos fatores de risco e proteção são funda-mentais para a organização de programas de intervenção na infância, os quais têm efeitos positivos no progresso escolar(19). Práticas educativas inadequadas estão relacionadas a proble-mas no desenvolvimento cognitivo e social e no desempenho acadêmico das crianças(20).

Alguns outros trabalhos geraram intervenções diretamente com os pais(12-14). Pediatras, psicólogos e fonoaudiólogos reali-zaram intervenções preventivas, de baixo custo, como orienta-ções aos pais de crianças com risco para atraso de linguagem por apresentarem vocabulário reduzido.

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encontros com um profissional capacitado para a atividade, e as formas de intervenção reduziram a ansiedade materna e aumentaram a sensibilidade das mães, auxiliando no desenvol-vimento geral e de linguagem da criança(13).

Outra pesquisa teve como objetivo melhorar a saúde infantil ao longo do desenvolvimento, apoiando práticas parentais ade-quadas. Os resultados foram agrupados em três domínios: saúde e desenvolvimento infantil; práticas parentais; e bem-estar dos pais. A intervenção foi realizada por quatro profissionais. Um grupo recebeu visitas pós-natal e conselhos sobre desenvolvi-mento; outro, três visitas domiciliares estruturadas para ajudar os pais a criarem um ambiente seguro e acolhedor e receberam triagem e intervenção relacionadas a fatores de risco como a depressão, o tabagismo e a violência doméstica. Foram obser-vados resultados positivos, especialmente no vocabulário do grupo de crianças que receberam o de profissionais(21).

Uma pesquisa realizada por Sheridan et al.(22) apresenta os resultados de uma intervenção que buscou o engajamento do pai ao longo da preparação para a ida a escola, com foco particular sobre a linguagem e o desenvolvimento da alfabe-tização. Participaram 217 crianças, 211 pais e 29 professores de 21 escolas. Foram observadas diferenças estatisticamente significativas a favor do grupo em que os pais participaram da intervenção, especialmente em relação ao uso da linguagem infantil, da leitura e das habilidades de escrita, observadas ao longo de dois anos pelos professores.

A eficácia do programa de intervenção Child First foi ob-servada em um estudo realizado em Bridgeport, nos Estados Unidos, nas casas das famílias participantes, por meio de atendimento psicoterapêutico. Mães que apresentavam riscos e crianças com idades entre seis e 36 meses fizeram parte desta pesquisa. Nos 12 meses de seguimento, as crianças integrantes do estudo melhoram a linguagem e a habilidade de externali-zação em comparação às com cuidados habituais(23).

Apenas um trabalho(18) incluído nesta revisão contou com intervenções exclusivamente com crianças. Ele foi realizado no Reino Unido e incluiu crianças de seis e 12 anos de uma escola pública, a fim de verificar a efetividade de dois tipos de intervenção. Um grupo recebeu o modelo utilizado comumente nas escolas do Reino Unido, em que os funcionários realizam intervenções em linguagem com as crianças, após consulto-ria com um profissional especializado. A ação foi comparada com a do grupo que recebeu terapia fonoaudiológica usual. Os autores concluíram que este tipo de terapia, realizada por profissionais específicos, é mais eficaz do que a intervenção pelos profissionais da escola.

Na maioria dos estudos incluídos nesta revisão(12,14,15,17) houve intervenções preventivas. A prevenção tem sido reco-nhecida e utilizada pela maioria dos profissionais envolvidos no processo de desenvolvimento e busca de qualidade de vida da criança. Considerando-se a importância da detecção precoce dos distúrbios no desenvolvimento infantil, deve-se priorizar a identificação das dificuldades, almejando monitorar a eficiência dos cuidados e oportunizando a intervenção precoce(21).

Três estudos(12,14,15) utilizaram o vídeo interacional em programas de atenção primária preventiva, uma técnica para rever pontos positivos e negativos de gravações feitas por

especialistas do desenvolvimento infantil durante momentos de interação pais e filhos, como forma de mostrar aos pais como regular as suas próprias ações, aprendendo a contribuir e estimular a linguagem de seus filhos. Objetivou-se, com esta técnica, melhorar o desenvolvimento de linguagem e socioe-mocional dos indivíduos, sendo o baixo custo a principal van-tagem(15). O uso do recurso do vídeo e exibição com discussão posterior se configura como importante instrumento para a educação popular em saúde(24). A importância do vídeo está no fato de as imagens poderem ser interrompidas, repetidas e gravadas. Além disso, ele pode ser transportado para qualquer lugar onde haja um aparelho reprodutor(25). Além disso, a visão e as imagens são o principal meio de obtenção de informações pelo homem(26).

Estudos(14,15) realizaram intervenções verbais com jogos e leitura compartilhada, fundamentais para a preparação para a escola, já que é grande o número de crianças com nível so-cioeconômico inferior que ficam atrasadas no nível de leitura se comparadas à sua faixa etária. Uma pesquisa(14) também utilizou materiais para auxiliar na aprendizagem, como pan-fletos informativos com sugestões de uso de objetos, entre eles brinquedos, livros e CD com canções de ninar. Receberam também um espelho e um jornal com atividades interativas específicas para cada idade, a fim de estimular a cognição e a linguagem verbal.

As visitas domiciliares realizadas tiveram como foco o desenvolvimento do bebê, a relação entre pais e filhos, e a saúde mental dos pais(17); ensinar as mães a verem pistas fisio-lógicas, sinais cognitivos e comportamentais delas próprias e das crianças(13), havendo significativo impacto no desen-volvimento socioemocional das crianças, sugerindo também visitas a centros especializados(16). Não foi observado impacto no desenvolvimento cognitivo e de linguagem em programas que eram unicamente de visitas domiciliares, sendo melhor o resultado quando ela estava associada a outro tipo de interven-ção, como a visita a centros com especialistas. A consultoria aos profissionais da escola, realizada no Reino Unido, foi comprovada menos eficaz do que a terapia direta com o fonoau-diólogo (individual ou em grupo)(18), corroborando a eficácia e importância do acompanhamento de especialistas no processo de desenvolvimento infantil de crianças em risco e das que já apresentam alterações de linguagem.

Em relação aos dados sociodemográficos, apenas um estu-do classificou diferentes classes econômicas(12), dividindo sua amostra em três classes. Fatores sociais afetam as condições biológicas individuais, os comportamentos de risco, as exposi-ções ambientais e o acesso a recursos de promoção à saúde(27). Duas pesquisas(14,16) selecionaram amostras de baixo nível socioeconômico. Um estudo(15) contou com crianças com mães com baixa escolaridade, fato definido como fator de risco para o desenvolvimento da linguagem infantil.

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fatores de risco para o desenvolvimento infantil(28). O pequeno vocabulário dos 18 aos 24 meses de idade também foi conside-rado risco para o desenvolvimento adequado da linguagem(12). O fator socioeconômico também pode influenciar no desen-volvimento do vocabulário, mostrando que os fatores de risco estão interligados e merecem atenção especial por parte dos profissionais que trabalham com o público infantil(29,30).

A idade das crianças participantes dos estudos esteve entre zero (incluindo o período gestacional, por meio da intervenção com gestantes) e 11 anos. Em relação ao profissional que reali-zava a intervenção, os estudos apresentaram-se diversificados. Destaca-se o acompanhamento de fonoaudiólogos(12), psicólo-gos(12), fisioterapeutas(17) e especialistas em desenvolvimento infantil não especificados(14,15). Nesse contexto, ressalta-se que é essencial a troca de conhecimentos entre as várias áreas profissionais envolvidas com o desenvolvimento infantil a fim de promover a interdisciplinaridade e, consequentemente, ampliar os conhecimentos dos profissionais acerca do processo de desenvolvimento, tornando o olhar deles mais abrangente sobre a criança(31).

Apesar de se saber que a audição é essencial para a aquisição da linguagem oral(32), nenhum dos ensaios clínicos controlados randomizados incluídos na presente revisão mencionou aspec-tos relacionados à audição. Há fortes razões para a realização da triagem auditiva, como o impacto da perda auditiva no desenvolvimento cognitivo, na aquisição de linguagem e na integração social(33). Uma revisão dos estudos de intervenção com crianças americanas(34) revelou que a perda auditiva sub-metida a tratamento antes dos seis meses de idade possibilita à criança melhor desenvolvimento da linguagem.

Por fim, observou-se na presente revisão que há escassez de ensaios clínicos controlados randomizados que tratem da lin-guagem na atenção básica, seja no Brasil ou internacionalmente. Há a necessidade de os profissionais da saúde repensarem suas práticas, direcionando-as para a visão da atenção básica e saúde coletiva(35), considerando a linguagem adequada uma condição básica para uma vida com qualidade.

CONCLUSÃO

As intervenções em linguagem na atenção primária à saú-de utilizadas em ensaios clínicos controlados randomizados envolvem principalmente a utilização de vídeo interacionais. Também observou-se o uso de jogos, leitura compartilhada, oficinas em grupo e visitas domiciliares, entre outras abor-dagens, mostrando que a intervenção com os pais resulta no melhor desenvolvimento das crianças, especialmente na área da linguagem, estejam elas em grupos com fatores de risco ou não. As intervenções foram realizadas antes de as crianças completarem três anos de idade. Outros estudos apontam que os três primeiros anos de vida são críticos para a aquisição de informações sobre o mundo(36).A intervenção precoce imple-mentada é determinante especialmente quando se pretende obter efeitos benéficos para as crianças e suas famílias(37).

Diversos profissionais, além dos fonoaudiólogos, estiveram inseridos nas intervenções em linguagem na atenção primá-ria, como psicólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais,

demonstrando a importância do trabalho interdisciplinar entre os que trabalham com o desenvolvimento infantil. Esta atuação desenvolve um novo entendimento sobre o usuário do sistema de saúde pública, distancia-se da visão focada na doença e aponta para os aspectos de suas individualidades e das relações familiares e sociais(38).

Nenhum dos estudos mencionou aspectos relacionados à audição, mas sabe-se que esta é pré-requisito para a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, e que as perdas auditivas afetam de maneira importante o desenvolvimento da fala e da linguagem(36,39). Como limitações deste estudo, encontra-se a opção pela inclusão apenas de ensaios clínicos controlados randomizados. Apesar de serem essenciais para a realização de uma revisão sistemática de qualidade, algum estudo relevante para a área pode ter sido excluído da presente revisão.

Observou-se a escassez de ensaios clínicos controlados randomizados que tratem da linguagem na atenção primária à saúde, não sendo encontrada nenhuma publicação no Brasil sobre esse tipo de intervenção, e poucas publicações inter-nacionais. Sugere-se, assim, a realização de mais estudos, em situações ideais de pesquisa, a fim de instrumentalizar os profissionais que atuam na atenção primária, oportunizando não só a identificação precoce e intervenção adequada, mas também a prevenção de alterações na linguagem infantil e no desenvolvimento geral das crianças.

*BCC foi responsável pela busca, coleta e análise dos dados; LGG colaborou e supervisionou a busca, coleta e análise de dados; GPCN colaborou com a coleta e a análise dos dados; CTR foi responsável pela orientação geral das  etapas de execução, supervisão, análise dos dados e elaboração do manuscrito.

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Tabela 1.  Características dos estudos incluídos

Referências

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