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A verticalização da Vila Romana: 1964 à 2012

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ARQUITETURA E URBANISMO

RODRIGO FERNANDES MICHELIN

A verticalização da Vila Romana

1964 - 2011

Orientadora: Prof

a

. Dr

a

. Nadia Somekh

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ARQUITETURA E URBANISMO

RODRIGO FERNANDES MICHELIN

A verticalização da Vila Romana

1964 - 2011

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Mestre

Orientadora: Prof

a

. Dr

a

. Nadia Somekh

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M623v Michelin, Rodrigo Fernandes

A verticalizaçăo da Vila Romana : 1964 à 2012. / Rodrigo

Fernandes Michelin – 2012.

178 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. Bibliografia: f. 172-175.

1. Verticalizaçăo. 2. Condomínios fechados. 3. Segregaçăo urbana

4. Vila Romana, Săo Paulo. I. Título.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à professora doutora e orientadora Nadia Somekh que, com seu conhecimento e paixão pelas questões urbanas e arquitetura, nos estimula, um norte a ser seguido, um exemplo a ser admirado. Aos professores doutores Flávio Villaça e Antonio Cláudio Fonseca que na qualificação contribuíram com suas experiências para formatar este trabalho. Aos professores do programa de pós - graduação da FAU Mackenzie pelas aulas e orientações durante estes dois anos de convivência.

Agradeço também todos os companheiros do bairro bem como aos profissionais envolvidos neste processo, funcionários da Prefeitura Municipal, equipe do SECOVI - SP, agentes imobiliários e aos colegas de mestrado.

Um agradecimento especial ao meu pai , que a cada dia admiro mais como pai, homem e exemplo de retidão e caráter, agradeço à minha mãe com suas palavras de conforto e amor incondicional e aos meus filhos, Luiza, um presente de Deus e Pedro, um projeto de vida! Que eu possa ser para vocês o que meu pai é para mim.

E por fim, todos os agradecimentos não serão suficientes para minha esposa Suzana, sorrimos juntos, sofremos juntos e assim construímos nosso lindo projeto.

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RESUMO

Esta dissertação trata da verticalização da Vila Romana , cidade de São Paulo. A pesquisa traz um levantamento dos edifícios residenciais e descreve analiticamente os diferentes tipos de condomínios que transformaram a vila de 1964 até 2011. A pesquisa aponta a crescente segregação urbana derivada dos grandes condomínios fechados que se estabeleceram na Vila Romana a partir das novas diretrizes de uso e ocupação do solo estabelecidas em 2004. O trabalho apresenta não só a evolução das habitações criadas, mas também o retrocesso para a cidade caracterizado pela redução dos espaços públicos.

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ABSTRACT

This dissertation presents the vertical growth of Vila Romana neighborhood, city of Sao Paulo. The research provides a list of residential buildings and makes an analytical description of different types of condos that has been changing the whole area from 1964 until 2011. The research points the increasing urban segregation derived from large gated communities that have settled in Vila Romana caused from the new guidelines for land use and occupation established in 2004. The work not only presents the evolution of housing, but also the city regression by the decreasing of city's public spaces.

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Sumário

Introdução... 8

Capítulo 1 – A formação da Vila Romana... 25

1.1 – O Gram Burgo da Lapa, ingleses italianos... 25

1.2 – Arruamento e estruturas... 29

1.3 – A Vila Romana hoje ... 38

Capítulo 2 – Os primeiros edifícios residenciais (1964 à 1971), o empilhamento de unidades... 45

2.1 – Características e estruturas... 45

2.2 – Legislação e o Estado – construindo um zoneamento... 55

2.3 – Levantamento empírico do período... 59

Capítulo 3 – Os primeiros condomínios residenciais (1972 à 1993), um projeto social... 69

3.1 – Características e estruturas... 70

3.2 – Legislação e o Estado – o zoneamento segregador... 78

3.3 – Levantamento empírico do período... 84

Capítulo 4 – Os condomínios residenciais (1994 à 2004), a busca por segurança... 97

4.1 – Características e estruturas... 98

4.2 – Legislação e o Estado – Estatuto da Cidade e Plano Diretor... 103

4.3 – Levantamento empírico do período... 107

Capítulo 5 – Os condomínios residenciais fechados (2005 à 2011), a busca por segurança e status... 121

5.1 – Características e estruturas... 122

5.2 – Legislação e o Estado – um novo zoneamento... 129

5.3 – Levantamento empírico do período... 138

Considerações finais... 164

Referências Bibliográficas... 172

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Introdução

Na cidade de São Paulo, os debates urbanos ganham importância nos anos 40 e o primeiro grande zoneamento data do início dos anos 70. Este desenvolvimento tardio representou, durante muitos anos, espaços urbanos ineficientes e ocupações desordenadas. A partir de 2000, o Brasil vem experimentando um desenvolvimento econômico e político, estabelecendo-se como uma importante liderança mundial e desta forma, recebendo investimentos em diversas áreas.

Neste momento, muitos empreendimentos imobiliários surgem e as metrópoles brasileiras ganham um novo ritmo de desenvolvimento. As áreas industriais abandonadas e as antigas vilas estão sendo transformadas em novos bairros com edificações modernas. Não somos contra o desenvolvimento e a valorização, porém questionamos a forma como isso vem ocorrendo na cidade de São Paulo.

Fica claro que os novos condomínios fechados da cidade de São Paulo privilegiam a reprodução do capital à uma agenda social ou de formação do espaço coletivo. Por que? Não pode o capital se reproduzir e criar o espaço coletivo ao mesmo tempo?

Ao analisarmos as transformações ocorridas na Vila Romana e observarmos que estas transformações podem ser generalidades para várias áreas da cidade, acreditamos que ao entender a dinâmica da Vila Romana nos faz entender São Paulo. O que estamos vivendo não é um episódio isolado mas sim um processo, e devemos entender que a tarefa de moldar a cidade é nossa, dos técnicos e da própria população.

Segundo PIANO (1997), a arquitetura é um serviço no sentido mais literal do termo. É uma arte que produz coisas que são usadas. Ainda segundo PIANO (1997) (opinião que nós concordamos), é também uma arte socialmente perigosa, porque é imposta. Nas palavras dele:

(10)

condomínio ruim que temos diante de casa.”1

PIANO (1997) argumenta que a arquitetura impõe uma imersão total no que é ruim, não dá escolha ao usuário, o que se torna uma responsabilidade grave no comprometimento com as gerações futuras.

O pensamento de HARVEY (2000) alinha-se com os nossos quando ele coloca que devemos nos perguntar que tipo de cidade queremos no futuro, e que esta pergunta não pode estar separada de outra pergunta que é: qual o tipo de pessoas queremos ser?

As transformações das cidades nos últimos 30 anos vêm sistematicamente obedecendo a agenda dos empreendedores imobiliários e das grandes instituições financeiras. HARVEY (2000) apontaria como o neo-liberalismo, CASTELLS (1996) como a sociedade da informação, KOOLHAAS (1994) como o pós-modernismo e outros simplesmente como o capitalismo. A segregação urbana é a face edificada das mudanças sociais. A visão de HARVEY (ibid.) nos sensibiliza, sua argumentação é de que as cidades estão sendo refeitas sob uma agenda neo-liberal, onde as grandes instituições financeiras estabelecem as regras. Continua dizendo que, as cidades estão se transformando e que nós estamos nos transformando na imagem neo-liberal, questiona o quanto nos transformamos e o quanto refletimos esta imagem neo-liberal. Isso significa dar as costas a questão de redução das desigualdades sociais, ainda grandes no Brasil, e privilegiar a reprodução do capital.

Para ilustrar o problema vejamos dois exemplos londrinos. A partir de 2000, a cidade de Londres formatou uma agenda de reconstrução de uma grande área degradada à oeste, a região das docas. Dentre os novos condomínios edificados está o Greenwich Millenium Village.

1

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Este condomínio londrino é formado por um conjunto de edifícios que mesclam moradias populares e unidades para as classes média e rica da sociedade. O resultado, como podemos ver na imagem anterior, é a formação da cidade. Os edifícios são abertos à rua e fomentam o encontro social. Ao contrário do modelo estabelecido na cidade de São Paulo, a cidade de Londres é favorecida como palco das atividades sociais, e as áreas comum e de lazer são da cidade e não do condomínio. Desta forma, podemos notar que a cidade ganha a qualidade de organização do espaço público, as praças, equipamentos, passeios recebem uma atenção especial. O condomínio forma a cidade.

Figura 01 - Condomínio Greenwich Millenium Village, Londres. A área resultante é comum a cidade. Fonte: Rodrigo F. Michelin

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Acima podemos ver como a praça do condomínio Greenwich apresenta seu espaço urbano ordenado. O passeio, os equipamentos, a organização e o paisagismo são comuns à cidade, a qualidade de espaço é coletiva e não individual, cercada por muros, como no caso de São Paulo.

No modelo utilizado na Vila Romana, a qualidade de espaço é individual.

Figura 02 - Condomínio Greenwich Millenium Village, Londres. A área resultante é comum a cidade. Fonte: Rodrigo F. Michelin

Praça do condomínio Greenwich Millenium Village

Maquete do condomínio Paradiso

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Na figura anterior, a maquete do condomínio Paradiso Vila Romana, ao contrário do exemplo londrino já demonstrado, o espaço qualificado é interno ao condomínio e não forma a cidade, mas a segrega. O resultado é que os espaços públicos passam a ser subutilizados e por fim, abandonados.

Acima, imagem da Praça Diogo do Amaral na Vila Romana, fica evidente que a praça não é um ambiente ordenado. No modelo adotado na cidade de São Paulo, a qualidade de espaço não é pública, mas sim privada. O espaço público representa a desordem.

Outro exemplo londrino é o condomínio Brunswick, que segue a mesma agenda do condomínio Greenwitch, mistura moradias populares com unidades para classe média e alta e tem um centro comercial ao nível do solo, aberto à cidade. Mais uma vez, podemos notar como o condomínio forma a cidade e seu espaço de vivência é comum não só aos moradores, mas também à cidade.

Praça Diogo do Amaral

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Acima a imagem do condomínio Brunswick, a área comum é destinada a um centro comercial aberto ao público. Ao compararmos as imagens dos condomínios londrinos, podemos notar que ambos formam a cidade, integram suas unidades habitacionais com a cidade, formando praças de comércio e lazer. Notamos também que cada intervenção tem sua própria característica estética e soluções, são projetos diferentes e únicos para espaços diferentes.

Cada projeto tem características próprias, e formam a cidade de Londres de maneiras diferentes mas sempre coletivas. Dotam os locais de características que formam a identidade da área em que estão inseridos, estão intimamente ligados à cidade e ao sítio.

Ao observarmos os exemplos londrinos aqui citados, podemos notar que o capital pode se reproduzir de outras formas que não a adotada na cidade de São Paulo. O capital pode se reproduzir produzindo resultados coletivos e formatando a cidade de forma

Condomínio Brunswick

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inclusiva e não segregadora. Este é ao nosso ver o problema da reconstrução adotada na Vila Romana, em particular, e em São Paulo, no geral. A cidade de São Paulo vem reconstruindo seus bairros e valorizando suas áreas degradadas. Estamos produzindo espaços segregados por muros e estamos perdendo a oportunidade de construir uma cidade melhor.

A reprodução de projetos que observamos no modelo de São Paulo é outro fator que contribui para a produção do espaço urbano de baixa qualidade, ao reproduzir soluções não se respeita características locais. O que vem ocorrendo é a reprodução fiel de um mesmo condomínio em 4 bairros da mesma cidade, e este é também reproduzido em outras capitais, o resultado é uma massificação visual na cidade onde Moema, Vila Romana, Vila Leopoldina, entre outras, são muito similares entre si. Ao reproduzirmos projetos não pensamos a cidade, o que se forma é somente uma realidade criada, fechada em muros.

Em seu livro, Cities for a Small Planet, ROGERS (1997) mostra a mentalidade do Capital que encara os edifícios como mercadoria, a escolha de arquitetos é feita não pela qualidade de seu trabalho, e sim pelo baixo valor de seus salários – o profissional é colocado em situação de realizar o maior projeto (volume de trabalho) pela menor remuneração, no menor prazo e ainda:

Vestir fachadas com qualquer estilo que seja possível aparafusar... Estruturas estéreis, com suas modernas fachadas clássicas, neo-vernáculas, como se escolhidas a partir de um catálogo de fachadas, não têm qualquer ligação com a comunidade ou o lugar”2.

O resultado são grandes muros que separam os ambientes particulares de boa qualidade do ambiente público de baixa qualidade, a rua e a cidade são resumidas a um espaço de circulação.

2

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Na imagem anterior, podemos notar a nova interface edifício/cidade resultante dos grandes condomínios residenciais, muros que formatam a rua como um corredor de circulação e não como espaço de convivência.

A riqueza da cidade está na sua diversidade, nas oportunidades e nos encontros de convívio social que ela oferece. Como pode a cidade se desenvolver em um espaço sem encontro? O espaço público torna-se o espaço do automóvel, a rua deixa de torna-ser palco das relações humanas para tornar-se somente uma via de circulação. O automóvel demanda espaço e historicamente vem sendo priorizado na cidade de São Paulo em detrimento do pedestre ou da convivência social.

Ao nosso ver, um estudo acadêmico tem sempre na sua origem e razão motivos nas nossas essências. Decidimos estudar a Vila Romana pois presenciamos a constituição do que consideramos o problema desta pesquisa. O aparecimento de grandes condomínios fechados vem transformando a Vila Romana. O bairro, que antes apresentava uma comunidade forte e uma vivência do espaço público, encontra nestes novos empreendimentos uma realidade oposta. Os grandes muros segregam a sociedade e retiram a convivência possível do espaço público, reservando a este somente a função de circulação

Figura 06 – Rua Aurélia, os muros como interface rígida. A rua como corredor de circulação. Fonte: Rodrigo F. Michelin - 2011

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de pedestres e principalmente de automóveis.

Morando na Vila Romana há 35 anos, testemunhamos a transformação deste bairro localizado à oeste da cidade de São Paulo. Desta forma, a escolha em estudar as transformações ocorridas na Vila Romana, em especial na última década, vem carregada de motivos pessoais e de experiências vividas. De um lado, por conhecer a área escolhida, foi possível identificar as transformações recentes. Por outro, é um exercício contínuo o distanciamento das vivências para que o estudo não receba uma carga de subjetividade, mas sim possa ser fruto de um trabalho objetivo com a imparcialidade das observações científicas .

A vida na Vila Romana sempre foi calma. Como uma cidade do interior paulista conservou por muitas décadas o aspecto de comunidade e tranqüilidade. Nossas recordações da comunidade da Vila Romana são muito fortes e marcantes. As festas juninas promovidas pela igreja na praça Cornélia, as feiras de bairro na rua Fábia (onde comíamos pastel com os amigos da vila), o mercadinho que vendia o sorvete italiano de máquina na esquina da rua Tito com a Duílio, os jogos de bola na escola Experimental contra o time da Rua Marcelina, o bicicleteiro da Rua Duílio, o cheiro de bolacha no caminho à escola que vinha da fábrica da Petibom na rua Fábia, são algumas das recordações de como a Vila se organizava e sua comunidade fazia a cidade.

Como querer que a cidade pare de se desenvolver e mantenha seu aspecto? A sociedade é dinâmica, e o espaço urbano também deve ser. É certo que a Vila Romana não pode parar no tempo e manter-se igual à época de nossa infância somente para satisfazer uma emoção saudosista, porém é agressivo o resultado físico estabelecido pelos novos empreendimentos imobiliários que estamos construindo, especialmente a partir de 2004.

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grandes condomínios verticais, especialmente os que se desenvolveram na última década, alteraram significativamente não só o espaço urbano da Vila Romana, como a comunidade desta. Será a cidade um reflexo da sociedade? São estes condomínios fortificados uma resposta física da sociedade ou são meros produtos de consumo criados?

O objeto de estudo desta pesquisa é a verticalização da Vila Romana e como ela ocorreu. Desde os primeiros edifícios na década de 60 aos condomínios fechados atuais, a evolução de técnicas construtivas, as leis e os interesses privados formataram e formatam o espaço público. O problema não é a verticalização em si, mas a forma que ocorreu na cidade de São Paulo e especificamente na Vila Romana nas últimas décadas.

Entendemos que a verticalização com altas densidades pode democratizar uma localização: permitir a muitos os benefícios e a infraestrutura de uma grande cidade. No caso da Vila Romana, a densidade não é muito maior que a anterior. Segundo dados do IBGE, a média atual da quantidade de moradores por domicílio ocupado nos novos condomínios é de 3,09, enquanto que na vila original (quarteirões com sobrados), a média é de 2,4 moradores por domicílio ocupado.3

Portanto, a verticalização de São Paulo não produz uma cidade mais densa, mais racional, ou mesmo a cidade compacta.

ROGERS (1997) argumenta que as cidades não tem considerado a fragilidade do ecossistema e que, atualmente, as pessoas se lembram das cidades muito mais como cenário de automóveis e de edifícios do que por suas ruas e praças, muito mais pelo isolamento social, poluição, medo da violência, local de consumo e pela busca insaciável de lucro do que pela comunidade, participação, espírito cooperativo, beleza e prazer. 4

Ao estabelecer uma comparação entre Curitiba e São Paulo, ROGERS (1997) constata que em São Paulo a reprodução do capital está descolada de qualquer compromisso social. Em suas palavras:

3

Fonte: site IBGE - http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/?nivel=st 4

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São Paulo, a terceira maior cidade e a terceira mais poluída do mundo, é uma massa contínua de edifícios pontuada em todas as direções por arranha-céus. Suas ruas estão constantemente congestionadas e os níveis de poluição são dramáticos, além disso, a cidade parece não ter centro, nenhuma diversidade e nenhuma coerência urbana.”5

ROGERS (1997) argumenta que o crescimento territorial das cidades esteve sempre ligado a idéia de “modernização”, porém negligenciando a sustentabilidade e a fragilidade do ecossistema, tornando as cidades as grandes responsáveis pela poluição e desperdício energético, ameaçando assim a própria humanidade. Ele advoga a favor da cidade compacta demonstrando que quanto mais compacta a cidade for mais eficiente ela se torna. ROGERS (1997) critica ainda a invasão dos espaços públicos pelo automóvel e a ineficácia dos transportes públicos.6

Detectamos no estudo 4 períodos distintos: os primeiros edifícios residenciais (1964 à 1971), o empilhamento de unidades; os primeiros condomínios residenciais (1972 à 1993), um projeto social; os condomínios residenciais (1994 à 2004), a busca por segurança; e os condomínios residenciais fechados (2005 à 2011), a busca por segurança e status.

Esta pesquisa busca entender como estas mudanças ocorreram na Vila Romana, os agentes destas transformações, o modelo de reconstrução urbana aplicado e o resultado físico no espaço urbano. Pesquisar como o perfil dos novos empreendimentos imobiliários alteram o padrão de vida e dos moradores da Vila Romana. Como uma vila de uma comunidade, que tinha na rua e no espaço da cidade seu palco de desenvolvimento e ao mesmo tempo fomentava a riqueza de variedades de relações que a cidade proporciona, torna-se um espaço fragmentado por grandes condomínios murados que deixam o espaço

5

Rogers, Richard – Cities for a Small Planet – Faber and Faber – London 1997 6

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público rígido e sem possibilidades de convívio social.

A moradora Janice de Piero (52 anos, educadora) vive em um sobrado construído em 1920 que pertenceu aos seus bisavós (imigrantes italianos), destaca que a demolição destes imóveis (sobrados) está destruindo a identidade da Vila Romana.

Todo mundo se conhece. As pessoas se encontram na rua. Quando alguém viaja, pede para o vizinho olhar a casa. E isso está se perdendo.” Diz Janice.

Ao nosso ver, a riqueza da cidade está na sua diversidade, nas oportunidades e nos encontros de convívio social que ela oferece. Como pode a cidade se desenvolver em um espaço sem encontro? O espaço público torna-se o espaço do automóvel, a rua deixa de ser palco das relações humanas para tornar-se somente uma via de circulação. O automóvel demanda espaço e historicamente vem sendo priorizado na cidade de São Paulo em detrimento do pedestre ou da convivência social.

A moradora Tereza Mello (63 anos, dona de casa) salienta que as pessoas dizem que o bairro está ficando sofisticado, porém em sua avaliação as condições de vida estão piorando, principalmente em relação ao trânsito.

As pessoas estão mais agressivas e com menos paciência, o trânsito no bairro está um inferno, já não encontramos vagas para estacionar.” Diz Terezinha.

A Vila Romana é um testemunho deste novo sistema de morar da metrópole contemporânea, nunca se criou tanto espaço vazio apenas destinado ao automóvel e nunca os espaços públicos estiveram tão abandonados.

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que podemos fazer entre as periodizações, está a constatação de que, na última década, a individualidade se sobrepõe a coletividade. Os espaços privados são cada dia maiores e de melhor qualidade, enquanto o espaço público é abandonado. O mesmo ocorre com o transporte, o coletivo é destinado à população de baixa renda e o automóvel assume um papel cada dia mais importante na vida urbana das classes média e alta.

A afirmação da sociedade do automóvel é medida pela análise da criação do número de vagas para autos na Vila Romana. Chama a atenção como o automóvel passou a ser fundamental na vida moderna, principalmente na última periodizacão.

No gráfico anterior (gráfico 01), observamos como o automóvel foi amplamente incorporado aos condomínios fechados, mais uma vez o último período (que corresponde aos condomínios fechados) tem uma significativa majoração em número de vagas criadas, os condomínios passam em alguns casos a oferecer até 5 vagas por unidade

Gráfico 01 – Número total de vagas para autos criadas na Vila Romana por período. Fonte: Rodrigo F. Michelin

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habitacional.

Este modelo de ocupação, estabelecido pelas grandes torres verticais fortificadas, não é uma característica somente da Vila Romana, observado em diversos bairros da cidade de São Paulo, ele se reproduz velozmente.

Acreditamos que a pesquisa é relevante por buscar apontar como está ocorrendo o processo de criação dos condomínios fortificados e promover um debate ressaltando seus problemas sobre a formação da cidade. A pesquisa de dados é também um importante termômetro da ação do Estado no espaço urbano.

Localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, a Vila Romana experimenta a elitização de sua comunidade. O valor do metro quadrado construído, segundo dados do SECOVI-SP7, saltou de

R$2.409,06/m2 em 2007 para R$4.246,00/m2 em 2010 e hoje (Nov.

2011) está em R$5.455,00/m2. Pelo levantamento feito para esta

pesquisa, constatamos que a área média das unidades habitacionais oferecida no início da verticalização (anos 60) era de 84 m2 e hoje esta

média é de 164 m2.

Antes de iniciarmos as considerações e levantamentos de dados sobre a Vila Romana e suas transformações, faz-se necessário definir seus limites. Representada de diferentes formas em textos e mapas, definiremos como limites de estudo a área compreendida na seguinte descrição.

Para o presente estudo, vamos considerar a Vila Romana o polígono formado dentro do limite das seguintes vias: Rua Catão, Rua Guaicurus, Rua Venâncio Aires, Rua Coriolano, Praça Tupã, Rua Mauricyna, Rua Cláudio, Rua Crasso e Rua Marcelina, conforme as figuras a seguir.

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Na figura anterior, delimitado pelo polígono vermelho, está a Vila Romana, todos os levantamentos e considerações serão feitas dentro deste polígono. Vamos considerar à oeste a Rua Catão como limite de estudo, pois esta já faz margem com a Lapa, à leste vamos considerar como limite a Rua Venâncio Aires, pois esta também

Figura 07 – Em vermelho a localização da Vila Romana sobre foto aérea. Fonte: Google maps – sem escala

Figura 08 – Ilustração sobre Mapa de referência da região da Vila Romana, mostrando os limites da Vila Romana para efeito deste estudo . Fonte: www.maps.google.com.br - sem escala

Localização da Vila Romana no município de São Paulo

Demarcação de limites da Vila Romana para o presente estudo

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margeia a Vila Pompéia, à norte o limite será dado pela Rua Guaicurus, que faz divisa com a linha férrea, e à sul o limite será a rua Marcelina, que margeia o Bairro Siciliano.

Fica definido portanto que toda vez que nos referirmos à Vila Romana no presente estudo estaremos nos referindo à área destacada no mapa anterior. Assim como todos os dados levantados e aqui apresentados estão dentro deste polígono.

Estruturamos o trabalho em cinco capítulos divididos da seguinte maneira. O primeiro capítulo apresenta a formação do bairro, o segundo capítulo descreve os primeiros edifícios residenciais da Vila Romana (de 1964 à 1971), no terceiro capítulo descrevemos o aparecimento dos primeiros condomínios residenciais (1972 à 1993), no quarto capítulo mostramos a evolução dos condomínios residenciais (1994 à 2004), o quinto capítulo descreve o aparecimento e evolução dos grandes condomínios fechados (2005 à 2011). Por fim apontamos que a Vila Romana vem sendo palco para o desenvolvimento de grandes empreendimentos imobiliários que fomentam a segregação urbana e reduzem o espaço público, estas mudanças se acentuam principalmente a partir de 2004 e como a atuação do poder público incentiva este modelo de empreendimento.

Para a identificação dos períodos e a análise dos dados apresentamos o levantamento total dos edifícios compreendidos dentro da área de estudo já apresentada anteriormente. O levantamento destes edifícios foram sistematizados em fichas de pesquisa e serão apresentados em cada capítulo conforme a periodização.

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Capítulo 1

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Capítulo 1 – A formação da Vila Romana

Reduto de imigrantes italianos e ingleses que trabalhavam nas indústrias e nas ferrovias respectivamente, os primeiros loteamentos da região onde hoje é a Vila Romana datam da década de 1880.

Localizada na zona oeste da cidade de São Paulo a Vila Romana, junto com o núcleo da Lapa, representou um importante pólo de desenvolvimento. A Vila Romana manteve suas características de um bairro predominantemente residencial com características similares a de uma cidade do interior do estado. Comunidade forte, feiras de rua, pequenos comércios formavam a identidade desta área.

Seu arruamento definitivo data dos anos 40, quando a malha do Gram Burgo da Lapa juntou-se com a malha proveniente do centro principal da cidade de São Paulo que chegava à Vila Pompéia.

O início da verticalização do bairro data dos anos 60 e a partir dos anos 90 grandes torres residenciais começaram a alterar significativamente o espaço e a sociedade da Vila Romana. Hoje esta área é uma das mais valorizadas da cidade de São Paulo.

1.1 – O Gram Burgo da Lapa, ingleses e italianos

Os primeiros loteamentos da região onde hoje é a Vila Romana datam da década de 1880. A região era fundamentalmente agrícola e ocupada por grandes fazendas e, na década de 1880, iniciou-se a divisão destas fazendas em pequenas chácaras.

A Vila Romana nasceu junto com a Lapa. Localizada à oeste esta área tornou-se um importante pólo de desenvolvimento na cidade da São Paulo. Nascido às margens das estradas de Ferro Sorocabana e SP Railway o núcleo do bairro da Lapa era então chamado de Gram Burgo da Lapa.

O Gram Burgo da Lapa8 era constituído de indústrias que

margeavam a linha férrea, um centro comercial que se desenvolveu

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junto à igreja, edificada em homenagem à Nossa Senhora da Lapa, e a vila de moradias dos funcionários destas indústrias e funcionários da ferrovia.

“As indústrias, prevalecendo-se do GRAM BURGO, Vila Sofia e parte da Vila Romana se aglomeraram em suas vizinhanças, como os primeiros passos da expansão urbana, fixando-se inicialmente no Corredor da Lapa, Rua Roma, Catão, Scipião, Aurélia, Spartaco, Sertório e Caio Gracco. A rua Spartaco, porém seguia em direção à Rua Augusta (Cerro Corá) como estrada.”9

As indústrias ocupavam os lotes mais próximos à linha férrea e as moradias os lotes mais afastados desta. As casas refletiam a divisão do trabalho nas indústrias e ferrovias, as mais imponentes eram dos mestres das oficinas e cargos de chefia, já as menores para os demais operários, geralmente sobrados germinados com seu alinhamento alternando o recuo e o alinhamento no limite do lote.

O bairro foi colonizado principalmente por imigrantes italianos que constituíam a principal mão de obra das indústrias e das ferrovias. A cultura italiana formou a identidade desta comunidade, as características dos italianos, que são devotos do trabalho e prezam a estrutura familiar, deu aos moradores da Vila Romana e da Lapa um forte sentido de comunidade.

Houve também uma importante influência inglesa na formação da Vila Romana, as edificações eram em estilo inglês. Os engenheiros e técnicos que vinham da Inglaterra para trabalhar e desenvolver a ferrovia influenciaram o estilo de construção. Tanto os galpões industriais como os sobrados germinados, que são característicos na Vila Romana, são resultado da influência inglesa.

9

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Na imagem anterior podemos observar como era a organização social da Vila Romana no início de sua formação. Em primeiro plano os trabalhadores italianos que eram a base da comunidade e ao fundo os galpões industriais em estilo inglês que formavam a identidade física e visual da vila em formação.

A influência da colonização italiana resultou na formação da Vila Romana. Para homenagear Roma, capital da Itália, o engenheiro civil Luiz Bianchi Betholdi loteou uma propriedade e deu a esta o nome de Vila Romana, criada para assentar os imigrantes italianos.

“24 de outubro de 1887 - Com o intuito de facilitar a aquisição de lotes aos trabalhadores italianos imigrantes, o Dr. Luiz Bianchi Betholdi comprou de Antonio Xavier de Figura 09 – Operários da fábrica de louças Santa Catarina localizada à Rua Aurélia nº 8, mostrando a organização social da Vila Romana no início da década de 20. Em primeiro plano os trabalhadores italianos e ao fundo os galpões industriais em estilo inglês. Fonte: Jornal da Lapa

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Borba as terras então denominadas de “Campos da Pedreira ou do Mandi.”10

No entanto este arruamento se constituía principalmente de lotes agrícolas. As ruas eram as seguintes:

Augusta (Cerro Corá), Caio Gracco, Camilo, Cacau, Cincinato (Tito), Clélia, Colle Latino (Pio XI), Coriolano, Duílio, Fábia, Faustolo, Marcelina, Mário Pompeiana (Ponta Porã), Roma, Scipião, Sertório (Vespasiano), Spartaco e Troyana (Toneleiros), incluindo a praça Romana (Alfredo Weiszflog).”11

Desta forma, a Vila Romana é contemporânea ao Gram Burgo da Lapa, tanto na formação do seu espaço como na formação de sua comunidade, a Vila Romana sempre existiu para o centro da Lapa.

“Embora a elite e os trabalhadores vivessem relativamente próximos uns dos outros, havia uma tendência de a elite ocupar a parte alta da cidade - em direção ao espigão central onde se localizaria a Av. Paulista - e os trabalhadores viverem nas áreas mais baixas, ladeando as margens dos rios Tamanduateí e Tietê e próximos ao sistema ferroviário.”12

Desta forma, o Bairro agrícola de 1890 passou a ser um importante pólo urbano proletariado composto de indústrias, vila de moradores e um forte centro comercial. Tradicionalmente a Vila Romana sempre foi um bairro de classe média, composto de funcionários públicos e comerciantes.

9,10

SANTOS, Wanderley dos. Lapa, bairro. São Paulo : Depto. Patrimônio Hist., Div. Arq. Hist., 1980 11

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1.2 – Arruamento e estruturas

Assim como a comunidade da Vila Romana está intimamente ligada com a Lapa, seu arruamento e sua estrutura também estão. Ao analisarmos os mapas seguintes poderemos notar com clareza como o arruamento e a organização da Vila Romana são provenientes e contemporâneos ao núcleo da Lapa.

Como podemos observar na imagem a seguir, em 1905, estavam estabelecidas todas as principais ruas do Gram Burgo da Lapa, e em destaque, o arruamento da Vila Romana que compunha este núcleo de desenvolvimento à oeste da cidade de São Paulo. Destacado em laranja temos as principais ruas da Vila Romana definidas, estas já faziam parte do núcleo que se desenvolvia na Lapa.

A organização da quadrícula e da malha viária da Vila Romana são resultado da organização da Lapa, a orientação de suas vias são ditadas pela expansão do núcleo da Lapa. Este desenho deu a Vila Romana uma característica importante, pois por muito tempo ela permaneceu desconectada da malha viária proveniente do centro principal da cidade de São Paulo, conservando assim sua característica de vila proletária.

Figura 10 - Ilustração sobre recorte da Planta geral da cidade de São Paulo – 1905. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 48

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Na imagem seguinte observamos que, em 1905, as duas linhas férreas já estão estabelecidas, as edificações em preto no canto superior esquerdo na imagem são as oficinas da estrada de ferro. Podemos notar também que a ligação do núcleo da Lapa com o restante da cidade era feita por uma única via de acesso (Rua Guaicurus), que ligava a Lapa à Água Branca.

A primeira conexão viária do pólo que se desenvolvia da Lapa com a cidade, que vinha do centro principal, ocorreu em 1925 com a ligação da Rua Guaicurus. Nesta mesma oportunidade a Vila Romana ganhou a praça Cornélia.

“Em 5 de outubro de 1925 – a Água Branca foi finalmente ligada à Lapa, quando a Prefeitura recebeu do Dr. Paulo de Souza Queirós as áreas livres entre a Rua Guaicurus, Coriolano, Clélia e Faustolo. Ao mesmo tempo que as ruas se prolongavam deu-se o nome de Cornélia à praça ali existente, em homenagem à filha de Scipião.”13

13

SANTOS, Wanderley dos. Lapa, bairro. São Paulo : Depto. Patrimônio Hist., Div. Arq. Hist., 1980

Figura 11 - Recorte da Planta geral da cidade de São Paulo – 1905. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone

Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 48

Núcleo do Gram Burgo da Lapa

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O desenvolvimento do centro principal da cidade de São Paulo chegava às margens da Vila Romana em 1922, o loteamento da Vila Pompéia se aproximava da estrutura existente no núcleo de desenvolvimento da Lapa. A Vila Romana, em 1922, já apresentava uma estrutura maior com ruas prolongadas e novas conexões com a malha urbana do centro principal da cidade de São Paulo.

Como podemos notar na imagem seguinte, a quadrícula que vinha do centro principal da cidade de São Paulo chegava à Vila Pompéia. Esta era rotacionada cerca de 45º em relação a quadrícula desenvolvida pela Vila Romana que é proveniente da Lapa. Existe também um “hiato de cidade” que só foi conectada nos anos 40. Chama a atenção também a diferença de tamanho das quadras entre os loteamentos, as quadras da Vila Romana são visivelmente menores do que as quadras desenhadas nos bairros de Perdizes e Pompéia.

Figura 12 - Recorte da Planta da cidade de São Paulo para o Indicador Prático – 1922, mostrando a quadrícula que vinha do centro principal da cidade de São Paulo rotacionada cerca de 45º em relação a quadrícula desenvolvida pela Vila Romana. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 78

Vila Romana

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Esta orientação de nascimento e sentido de crescimento causou uma característica peculiar na Vila Romana, ela por muito tempo foi ligada ao restante da cidade somente por vias principais, suas ruas não tinham continuidade com a região da Pompéia e seu arruamento definitivo foi resultado de um esforço para ligar da melhor forma possível um desenho urbano proveniente do pólo da Lapa com o desenho do Centro principal da cidade que já chegara à Vila Pompéia.

No mapa a seguir, de 1930, podemos observar que mesmo com o adensamento e a urbanização da área, permanecia o hiato entre a Vila Pompéia e a Vila Romana. Esta lacuna no desenvolvimento das ruas entre as vilas deve-se à dificuldade apresentada pela topografia nesta área. O córrego da Água Preta está localizado exatamente no vale. Para a cidade formar-se entre os bairros o arruamento tinha de vencer dois obstáculos, o vale com o córrego e a junção de dois desenhos urbanos diferentes entre si.

Figura 13 - Recorte da Planta da cidade de São Paulo mapa de serviços de utilidade pública – 1930. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed.

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Podemos considerar desta forma que a Vila Romana foi o ponto de encontro da quadrícula da cidade principal de São Paulo com a quadrícula proveniente do Gram Burgo da Lapa. Representa o encontro da cidade neste ponto.

Ainda na década de 30, outro fator importante no desenvolvimento da cidade de São Paulo foi o plano de avenidas de Prestes Maia. Com a verticalização crescente no centro de São Paulo, o fomento ao “espírito paulista” da revolução e o plano de avenidas, a cidade de São Paulo experimentou uma fase de grande desenvolvimento e adensamento nos anos seguintes.

“Estamos, sob todos os pontos de vista, em um momento decisivo de nossa existência urbana. No centro os arranha-céus se multiplicam (...). A época é, assim, muito própria para o início dos melhoramentos.”14

O impacto do plano de avenidas de 1930 para a região da Vila Romana foi a afirmação da Avenida Pompéia e das Ruas Guaicurus e Clélia como importantes eixos de circulação e conexão (ver Figura 14). As marginais aos Rios Pinheiros e Tietê foram importantes não só para a região mas também para a cidade de uma maneira geral.

Os anos 40 foram marcados por um rápido crescimento da cidade de São Paulo, resultado de ações como a revolução e a implantação do plano de avenidas de Prestes Maia que visava ampliar a capacidade de circulação na cidade. A verticalização já ocorria no centro da cidade e importantes marcos referenciais eram implantados como o estádio Paulo Machado de Carvalho, popularmente conhecido como estádio do Pacaembu. Na vila Romana sentia-se os efeitos do plano de avenidas de Prestes Maia e a malha viária da Vila Romana foi finalmente conectada à Vila Pompéia, vencendo assim o desnível do terreno e juntando finalmente as quadrículas de diferentes tamanhos e orientação.

14

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A ferrovia experimentava nesta mesma época um importante crescimento alcançando o interior do estado, firmando-se como o principal meio de transporte.

Nas décadas de 50 e 60, as estradas de ferro estavam em franca expansão, responsáveis pelo transporte de passageiros e insumos dentro do Estado de São Paulo e conectando a capital ao litoral e interior.

Na Vila Romana o impacto deste crescimento foi a criação da estação na Lapa, que fomentou o crescimento do bairro.

A ESTAÇÃO: Inaugurada como km 7 em 1958 para atender a região do bairro da Lapa, a estação manteve esse nome por muitos anos. Pelos mapas anteriores a 1958, sabe-se que já existia uma parada.”15

No mapa de seguinte podemos ver a Vila Romana com seu arruamento definitivo, vencido o córrego da Água Preta e efetuada a junção das quadrículas. Podemos notar também o resultado do plano de

15

www.estacoesferroviarias.com.br/l/lapa-sor.htm

Figura 14 - Recorte do Estudo de um plano de Avenidas para a cidade de São Paulo – 1930. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 78

Vila Romana

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Avenidas que ratificaram a Avenida Pompéia e as Ruas Clélia e Guaicurus como importantes eixos de conexão com o restante da malha urbana.

Nas décadas de 60 e 70 a Vila Romana passou a apresentar, em seu ambiente construído, sintomas do crescimento urbano da cidade de São Paulo. Os primeiros edifícios verticais e a aparição de grades nos sobrados ingleses característicos foram alguns destes sintomas.

Na imagem anterior temos o exemplo dos sobrados originais

Figura 15 – Mapa atual da Vila Romana já com a unificação das malhas viárias entre ela e a Vila Pompéia. Fonte: IBGE – Sinopse por setores.

Figura 16 - Imagem dos sobrados originais da Vila Romana localizados na Rua Cláudio – 2011. Fonte: www.maps.google.com.br

Arruamento final da Vila Romana

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que constituíam a Vila Romana. Nesta imagem específica podemos observar dois tempos diferentes, os sobrados ainda sem grades e o advento contemporâneo da cobertura de fibrocimento e a grade.

Na imagem anterior temos novamente a aparição do gradil de maneira forte e marcante na fachada dos sobrados, desta vez na Rua Vespaziano.

Em 1972 foi inaugurado o conjunto de condomínios de apartamentos Electra I e II, iniciava-se então uma nova fase na Vila Romana. O aparecimento de novos conjuntos como os Electra em meio aos sobrados davam uma nova cara ao bairro.

Os anos 80 e 90 foram de pouca mudança estrutural na região

Figura 17 - Imagem dos sobrados originais da Vila Romana localizados na Rua Vespaziano – 2011. Fonte: www.maps.google.com.br

Figura 18 - Imagem dos condomínios Electra I e II da Vila Romana localizados na Rua Duílio – 2011. Fonte: www.maps.google.com.br

Sobrados originais da Vila Romana

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da Vila Romana. Acompanhando o cenário político e econômico do Brasil, a vila teve um freio em seu desenvolvimento devido à grande inflação e ao pequeno desenvolvimento do pais. Apesar da forte inflação alguns edifícios apareceram na paisagem do bairro.

A principal mudança, principalmente na década de 90, foi o aparecimento de muitos pequenos comércios e serviços na Vila Romana. O bairro, antes predominantemente residencial, passou a ter um uso misto do espaço público. As ruas principais, como a Rua Clélia e a Rua Tito, tornaram-se ruas comerciais e o comércio também se difundiu pelas ruas de menor circulação do bairro.

Acima temos o exemplo de como estes comércios e serviços ocorrem nos sobrados da Vila Romana.

Outro importante aspecto ocorrido na Vila Romana na década de 90 foi o aparecimento de áreas degradadas e abandonadas. A queda da ferrovia e o processo de desindustrialização geraram galpões

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abandonados, principalmente nas proximidades da ferrovia.

Estas áreas abandonadas somadas à ações de legislação urbana e política econômica alteraram a configuração da Vila Romana na década de 2000.

1.3 – A Vila Romana hoje

Na década de 2000 a Vila Romana transformou-se de maneira muito rápida, o aparecimento de grandes condomínios fechados alteraram não só o perfil das ruas como também da comunidade.

Ações do Estado, de forma geral, e do Município, de forma pontual, alteraram a configuração do bairro. Ações como a mudança de zoneamento, as operações urbanas, a volta do fomento ao crédito imobiliário, resultaram no aparecimento destes condomínios fechados.

Os investidores observaram a oportunidade de construir grandes empreendimentos nesta área, aproveitando grandes lotes deixados pelas indústrias ou com a compra dos sobrados, aliado à ajuda do Estado em possibilitar investimentos e à facilidade de crédito ao consumidor final, investiram muito nos últimos cinco anos na Vila Romana.

Na imagem anterior temos o resultado dos novos condomínios

Figura 20 - Imagem dos novos condomínios da Vila Romana localizados na Rua Fábia – 2011. Fonte: www.maps.google.com.br

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na Vila Romana, fechando assim o ciclo de transformações ocorridas no bairro desde o seu surgimento em 1880 até 2011.

O resultado destes novos condomínios foi a fragmentação do bairro em unidades de quadra. Nas transformações ocorridas na Vila Romana, o poder público foi e é um importante agente. A implantação da operação urbana Água Branca, as novas diretrizes de uso e ocupação do solo de 2004, as diretrizes da Operação Urbana Diagonal Norte formam a base econômica e de desenvolvimento urbano que a iniciativa privada necessita para seus investimentos.

A Vila Romana hoje se iguala a outros bairros da cidade de São Paulo. Com a demolição dos sobrados e o aparecimento de grandes condomínios, o bairro passou a ter características semelhantes a outras áreas onde estes condomínios se instalaram, a citar Moema.

No gráfico anterior vemos claramente o aumento dos condomínios a partir dos anos 2000, além de observar que a década 2010/11 é composta de dois anos somente. Desta forma, nos últimos dois anos surgiram o mesmo número de condomínios da década passada. Alguns destes novos condomínios têm entre duas à quatro

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torres de apartamentos.

Na mesma proporção, o automóvel assumiu um papel fundamental na nova organização da Vila Romana. Com os novos condomínios fechados, o deslocamento é feito pelo automóvel e tende a promover os grandes mercados e shoppings que disponibilizam o estacionamento facilitado.

Observamos a mesma lógica dos condomínios na última década e nos dois primeiros anos da década atual - o número de vagas é significativamente maior. Foram construídos mais condomínios com mais vagas de estacionamento por unidade.

Em seu espaço físico o aparecimento de grandes muros deixam a rua com a função única de circulação. Os serviços e comércios que existiam ao longo da rua dão lugar a grandes muros de isolamento destes novos condomínios.

Gráfico 03 - Número total de vagas para autos criadas na Vila Romana por décadas. Fonte: Rodrigo F. Michelin

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Na imagem acima podemos observar a nova configuração das ruas da Vila Romana. Os muros dos condomínios são grandes em metragem linear e em altura.

Os grandes projetos de transformações urbanas caracterizam-se por necessitarem de um grande período de tempo para sua implantação (maior que 15 anos), envolvem muitos agentes e interesses, requerem grandes investimentos em infra-estrutura urbana, fomentam parceria entre o setor público e privado.

As ações das operações urbanas da Água Branca e Diagonal Norte somadas às modificações da legislação estão surtindo efeito. A rápida mudança é resultado direto dos investimentos nestas áreas de transformação urbana.

O interesse dos investidores imobiliários em formar condomínios residenciais se intensifica após as alterações da legislação em 2004 e a implementação da operação urbana Água Branca, a influência das novas diretrizes na Vila Romana estão sendo sentidas agora. A formação de grandes condomínios fechados, que em alguns casos ocupam toda a quadra, nasce em conformidade com a pavimentação

Figura 21 - Rua Caio Gracco. Nova interface na Vila Romana. Escala dos grandes muros dos condomínios Fonte: Rodrigo F. Michelin

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jurídica e econômica estabelecidas pelo poder público municipal.

A visão de renovação e de estruturação da cidade por meio de projetos urbanos tem aceitação em todo o mundo e seus resultados podem ser medidos e vistos no espaço urbano. Docklands em Londres é um exemplo destes projetos, assim como as áreas marginais à ferrovia e os galpões industriais abandonados ao longo da Marginal Pinheiros, as docas londrinas representam uma área decadente da cidade e recebem projetos urbanos de reconstrução, assim como as operações urbanas na cidade de São Paulo.

A influência das ações do Estado sobre a cidade e o espaço construído é sentida em primeiro lugar pelas macro políticas praticadas. A política econômica pavimenta o desenvolvimento do capital e este dita as regras para o mercado. O mercado formata o espaço.

Na Vila Romana o mercado está formatando um novo espaço urbano e o negócio, ou instrumento são os grandes condomínios residenciais verticais.

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Na imagem anterior temos em primeiro plano as casas e sobrados da Vila Romana e em segundo plano a nova realidade que vem substituindo estas casas e sobrados.

Portanto vamos descrever e analisar o desenvolvimento dos edifícios residenciais na Vila Romana para que possamos definir quais e como ocorreram as transformações do espaço urbano e da comunidade.

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Capítulo 2

Os primeiros edifícios residenciais

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Capítulo 2 – Os primeiros edifícios residenciais –1964 à

1971 – o empilhamento de unidades

Os primeiros edifícios residenciais da Vila Romana datam do início da década de 60. São seis edifícios identificados neste período e representam 10% do total de edifícios residenciais cadastrados na área deste estudo.

Não contemplam áreas comuns, eram unidades residenciais reproduzidas ou empilhadas. Ocupando pequenos lotes, estes edifícios tinham uma ou mais empenas cega em ao menos uma das faces, não apresentam o recuo do lote. Vamos descrevê-los, veremos como o poder público age no processo e apresentaremos as fichas dos edifícios.

Estes edifícios são ainda resíduos da forma antiga de se construir e de pensar a habitação e a cidade, não estão enquadrados nas novas diretrizes de ocupação do solo que foi implementada em forma de lei em 1972.

2.1 – Características e estruturas

Atualmente a Vila Romana conta com 51 condomínios residenciais. Destes, seis edifícios residenciais estão agrupados nesta primeira periodização. Estes seis edifícios que vamos descrever neste capítulo representam o início da verticalização na Vila Romana, foram edificados entre 1964 e 1971 e apresentam características comuns entre si.

Vejamos então quais são as características destes edifícios e como eles formataram o espaço interno e se relacionaram com o espaço público.

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observar é o lote e a implantação do edifício.

Os lotes de terreno deste primeiro grupo de edifícios eram lotes de terrenos existentes no loteamento da Vila Romana, não foram resultado de remembramento, geralmente ocupados por pequenos galpões de armazéns e oficinas. A metragem média dos lotes é de 650m2. No caso do Edifício Moraes o lote é de 600m2.

Nesta primeira etapa da verticalização da Vila Romana os edifícios não apresentavam recuo, sua construção é no alinhamento do lote. Desta forma estes edifícios estão abertos à rua, sua porta de

Figura 23 – Edifício Moraes de 1964, Rua Faustolo 955 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br

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acesso é aberta diretamente para o passeio público. Os edifícios também encostavam nos limites laterais e dos fundos do lote, criando recuos no interior do lote que eram destinados a abertura de janelas.

Este tipo de ocupação do lote não permitia a criação de um espaço de área comum, o espaço interno da edificação e do lote é destinado à circulação e à moradia. Este perfil de construção mostra que na década de 60 não havia a preocupação da criação de uma área de lazer ou equipamentos comuns aos moradores. A ocupação e o resultado final das edificações eram destinadas unicamente à moradia.

A formatação destes edifícios também não contempla a existência do zelador ou os bloqueios de segurança, o interfone conecta cada apartamento à porta de entrada e estes são responsáveis pela entrada e saída de pessoas no edifício. Estas características ilustram a maneira de pensar e viver a moradia na década de 60 na cidade de São Paulo de uma forma geral e da Vila Romana em particular. A criação de

Figura 24 – Croqui de Implantação do Edifício Moraes de 1964, Rua Faustolo 955 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin.

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barreiras para favorecer a segurança não estava em pauta no programa destes edifícios.

Outra observação que podemos fazer é em relação ao papel do automóvel na concepção destes edifícios, no caso do Edifício Moraes a fachada é composta de uma porta de entrada de pedestres central e dois portões de garagem dispostos de forma simétrica, laterais à entrada central de pedestres.

Estes portões de garagem eram espaços mistos que poderiam ser destinados a abrigar veículos ou abrigar estabelecimentos comerciais. O certo é que estes primeiros edifícios não contemplavam espaço para o automóvel em sua implantação, mesmo que estes espaços abrigassem veículos dos moradores do edifício, não havia vagas para todos. Nos anos 60 a indústria automobilística brasileira estava começando a produção em maior escala e o transporte público ainda era a principal forma de circulação na cidade de São Paulo. Desta forma, a criação de novas unidades residenciais não tinham o automóvel como um elemento principal de organização do espaço.

A escala de altura do Edifício Moraes é de 5 andares, aproximadamente 15 metros, esta escala se repete nos demais edifícios desta periodização (1964-1971). Isso deve-se principalmente ao sistema construtivo e materiais utilizados na edificação destas unidades.

O tijolo maquinado foi o principal elemento de construção destes edifícios, a alvenaria de espessura grossa revela paredes estruturais que sustentam a carga dos andares superiores. A utilização de pilares e vigas de concreto ocorre com menor freqüência nestas unidades. As lajes eram “batidas” ou forjadas in loco, as amarrações e sistemas estruturais acompanhavam as técnicas mais baixas da época, as grandes estruturas de concreto armado que já tomavam conta do centro de São Paulo só apareceram na Vila Romana na década de 70.

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também em madeira; hoje já observamos a substituição de algumas destas venezianas de madeira por janelas de alumínio.

A circulação vertical deste edifício é feita por escadas, seu projeto e construção não contemplam o elevador.

O desenho da fachada já anunciava uma modernização do estilo, sem elementos de decoração ou adornos, a fachada destes edifícios contava apenas com detalhes de beiral de laje e em alguns casos uma pequena sacada. A função se sobrepõe à forma.

Vejamos estes dois outros edifícios localizados à rua Duílio 538 e 552. Com data de 1970, eles seguem o mesmo conceito do Edifício Moraes. Estas duas unidades estão construídas no alinhamento do lote, possuem a entrada de pedestres abertas ao passeio público, no caso da imagem da Figura 25 observamos os portões, porém estes são posteriores a construção do edifício. Ao observarmos sua implantação vemos como eles utilizam a totalidade da área com a ocupação de sua estrutura.

Figura 25 – Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br

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Os lotes mantém a média de tamanho entre 500m2 à 650m2 e o edifício ocupa este lote de maneira total, não sobrando terreno para a criação de áreas comuns ou de lazer. A implantação do edifício ocupa todo o lote e sua estrutura chega inteira ao chão.

Sua organização elimina a presença das estruturas de segurança observadas nos condomínios atuais, o interfone é localizado na rua e dá acesso direto aos apartamentos.

Sua circulação vertical é feita por meio de escadas, não contam com elevadores.

A estrutura destes edifícios da rua Duílio é baseada fundamentalmente nas alvenarias estruturais, com a presença de reforço estrutural de pilares e vigas em concreto. Sua escala de altura é de 3 a 5 andares.

Sua fachada é limpa sem a presença de adornos ou enfeites, a

Figura 26 – Croqui de implantação de dois Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin.

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função é sobreposta à forma, não existe preocupação estética na formação destes edifícios. Composta pelas janelas e portas de acesso, a fachada é resultado da estrutura. O detalhe estético destes dois edifícios fica por conta do desenho feito com as pastilhas hidráulicas utilizadas na fachada.

Acima, o trabalho de formação de um padrão com as pastilhas. Este acabamento de fachadas é característico dos edifícios da década de 60 e início dos anos 70, este padrão é facilmente identificável não só na Vila Romana mas na cidade de maneira geral.

Outro edifício que compõe esta primeira fase da verticalização na Vila Romana é o Edifício Marcelina. Este representa a transição dos primeiros edifícios para os primeiros condomínios que surgiram a partir de 1972.

O Edifício Marcelina data de 1970 e está localizado na rua de mesmo nome, número 394. Apresenta algumas das mesmas

Figura 27 – Detalhe dos acabamentos dos Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br

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características que os edifícios descritos anteriormente, como o alinhamento sem recuo, o lote relativamente pequeno se comparado aos condomínios atuais, a escala de altura ainda reduzida se comparada aos condomínios atuais, a falta de adornos e cuidados estéticos, as pastilhas hidráulicas de revestimento formando um desenho padrão e somente uma vaga de automóvel por apartamento.

Porém o Edifício Marcelina apresenta algumas características que já apontam para uma nova fase da verticalização na Vila Romana que aconteceu a partir de 1972.

A organização do Edifício Marcelina no lote é similar à dos anteriormente citados, não possui recuo frontal, é edificado no limite do lote e aberto à rua. A diferença está no aparecimento do recuo lateral. O lote continua tendo medidas pequenas e a implantação toma todo o

Figura 28 – Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br

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terreno, não sobrando espaço de áreas em comum ou sistemas de lazer. Toda a área é aproveitada como circulação ou área útil de moradia.

As características até aqui apresentadas em nada diferem este edifício dos demais, porém ele apresenta diferenças que serão sentidas nos anos seguintes.

Sua estrutura é fundamentalmente baseada em pilares e vigas em concreto armado, sendo a alvenaria responsável pelo fechamento. São 28 unidades de 2 e 3 dormitórios com aproximadamente 82m2,

distribuídos em 7 andares de apartamentos mais o térreo. São 28 vagas de autos que se dividem entre o térreo e um subsolo. Desta forma, este edifício possui no total 9 andares. Para sua circulação vertical está equipado com dois elevadores, sendo um de serviço e outro social.

Neste edifício já notamos a presença de pilotis que deixam a planta térrea livre. A presença destes pilotis cria na entrada do edifício um recuo coberto de acesso à porta de entrada. Mesmo o prédio

Figura 29 – Croqui de implantação do Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin.

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estando sem recuo, sua entrada é recuada, criando um pequeno hall de entrada com o cuidado de ambientá-lo com paisagismo. O edifício Marcelina também conta com aposentos para um zelador, a característica é que este aposento está localizado na cobertura do edifício junto à caixa d’água.

Sua fachada já transparece um cuidado estético maior que os edifícios anteriores da Vila Romana, as pastilhas cobrem totalmente a face voltada à rua e a face voltada ao recuo, ficando ainda o reboque na lateral que se ergue ao limite do lote e aos fundos. A marcação de faixas azuis com o desenho padronizado em pastilhas destacam pequenos detalhes de volume, o edifício passou a ter uma perspectiva, ganhou a terceira dimensão. As fachadas anteriores eram chapadas, trabalhavam somente um plano, já a do Edifício Marcelina cria volume ao recuar o edifício para buscar o sol. Ele possui apenas duas empenas cegas.

Figura 30 – Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br

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Desta forma, o edifício Marcelina apresenta inúmeras inovações e alterações na maneira de criar o ambiente habitacional, porém ainda se apóia em estruturas fundiárias dos antigos edifícios. Este edifício é uma mistura agridoce entre a forma tradicional de construção e organização do espaço e a forma moderna de formatar o espaço.

Ele poderia representar a quebra entre as duas primeiras periodizações adotadas neste trabalho, porém os Condomínios Electra I e II, edificados em 1972, romperam definitivamente o padrão dos edifícios da Vila Romana até então.

Entre estes dois edifícios ainda foram edificados mais dois outros. Na Rua Clélia, o Edifício Romeu Ranzuni em 1971 e na Rua Fábia, o Edifício Márcia em 1972, que mantinham as mesmas características do Edifício Marcelina.

2.2 – Legislação e o Estado - construindo um zoneamento

As características apresentadas pelos edifícios estão intimamente ligadas com os acontecimentos da sociedade. Estes não são somente resultado de características construtivas e de materiais, mas sim do pensamento da sociedade em determinada época.

Os edifícios, desta primeira fase de verticalização da Vila Romana, refletem não somente as técnicas construtivas da época, mas também a maneira social de organização do espaço privado e sua relação com o espaço público.

Para entendermos como a sociedade estava organizada vejamos como estava a organização política e social dos anos 60 e início dos anos 70. A legislação urbana, o zoneamento e as políticas habitacionais interferem diretamente na produção destas unidades habitacionais.

Imagem

Figura 03 - Condomínio Paradiso, Vila Romana – S.P. A área resultante é excluída  da cidade
Figura 04 – Praça Diogo do Amaral. Vila Romana – S.P. Mato alto e abandono da praça.
Figura 06 –  Rua Aurélia, os muros como interface rígida. A rua como corredor de circulação
Gráfico 01 – Número total de vagas para autos criadas na Vila Romana por período.
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