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A potencialidade do estresse devido ao acumulo de informação: um estudo aplicado com estudantes do curso MBA

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Academic year: 2017

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A POTENCIALIDADE DO ESTRESSE DEVIDO

AO ACUMULO DE INFORMAÇÃO

Um estudo aplicado com estudantes do curso MBA

Banca Examinadora:

Professor Orientador Or. Sigmar Malvezzi , Professora Ora. Ideli Oomingues

Professora Ora. Ana Cristina França

(2)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

MARIA EUGENIA CAUDURO CRUZ

A POTENCIALIDADE DO ESTRESSE DEVIDO

AO ACUMULO DE INFORMAÇÃO

Um estudo

aplicado com estudantes do curso MBA

Dissertação apresentada ao Curso MBA, Master in Business Administration, da FGV/EAESP

Área de Concentração: Recursos Humanos como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Dr. Sigmar Malvezzi

(3)

Resumo: O estudo a seguir apresenta um levantamento bibliográfico e exploratório sobre o estresse do profissional que cursa o MBA (Master in Business Administration) devido

à

sobrecarga de informações a que é exposto. Após examinar o estilo de vida desse profissional durante a fase em que está em contato com novas informações, de diversas áreas e em grande volume, este documento passa a analisar o estresse em relação

à

motivação, e

à

luz de várias teorias. O levantamento exploratório sobre o modo de vida do profissional em estudo, sugere que esse profissional está exposto a diversos fatores estressores, que demonstram forte probabilidade desse profissional vir a apresentar sintomas de estresse durante, ou mesmo, logo após o curso do MBA. Finalmente, este estudo apresenta algumas idéias de como esse profissional e o próprio meio acadêmico podem evitar, ou minimizar a vulnerabilidade dele ao estresse, devido

à

presença de fatores estressores. CRUZ, Maria Eugenia Cauduro. A potencialidade do estresse devido ao acumulo de

informacão: um estudo aplicado com estudantes do curso MBA. São Paulo: EAESP/FGV, 2000. 111 p. (Dissertação de mestrado apresentada ao Curso MBA, Master in Business Administration, da EAESP/FGV, área de concentração: Recursos Humanos, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Palavras-chave: Estresse Fatores Estressores Pressão Acúmulo de Informação -Sobrecarga de Informação - Tecnologia de Informação - Aprendizagem -Motivação - Fator de Satisfação - administração do tempo - Qualidade de vida - aspectos sociais - aspectos tecnológicos.

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(4)

Dedico este trabalho

à

memória de meu

irmão Luis Augusto Cruz, inestimàvel

(5)

Sumário

INTH.ODUÇÃO 1

2 MODO DE VIDA E ESTRESSORES

..t

2.\ ACUMULO DE INFORMAÇÃO 5

') ') TECI-lNOSTRESS II

2.3 MEDO TECNOLÓGICO \3

2.4

o

PARADOXO DA PRODUTIVIDADE 15

2.5 APRENDIZAGEM 16

2.5.1

Adquirindo a informação 1/

2.5.2

Interpretando a informação 19

)

-

,

_.J.J Aplicando a Informação 20

2.5.-1 Problemas de Aprendizagem 22

J ESTRESSE E SEUS DESDOBRAMENTOS 31

3.\ A PERSPECTIVA PSICOSSOCIAL DO ESTRESSE 35

3.2 O PROCESSO DE ESTRESSE .40

3.3 ESTRESSE X MOTIVAÇÃO .44

4 A.PESQUISA EMPÍRICA 54

4.\ ESTRATÉGIA DA PESQUISA 54

4.2 PROCEDIMENTO , 55

-L3 RESULTADOS OBTIDOS 57

-1.3.1 Idade ·..··..·· ··..··..··..···58

-1.3.2 Sexo 59

(6)

Modulo do MBA : 61

-/.3.5 Tempo de trabalho em período integral antes de entrar no UBA 61

-/.3.6 Periodo de trabalho Atual 62

-/.3.7 Horas de sono nos dias úteis 63

-/.3.8 Refeições nos dias úteis 63

-/.3.9 Exercícios flsicos 6-/

-/.3.1() Tempo dedicado à atividades de vida acadêmica 65

-/.3. // Tempo dedicado às atividades profissionais 66

Tempo dedicado à vida social 67

-/.3.13 Alteração no rendimento do desempenho no trabalho após o início do MBA 68

-1.3./-/ Alteração na integração com afamilia após o início do .\IBA 69

-/.3./5 Alteração no relacionamento social após o início do AlBA 70

-/.3.16 Estressares do dia a dia 71

-/.3. /7 Pressões no trabalho 73

-/.3./8 Horas dedicadas a tarefas relacionadas ao processamento de infonnações. 75

5 CONSII)EI~AÇÕES FINAIS 79

5.1 CO:'\CLUSÕES DA PESQUISA 79

5.2 A BCSCA POR UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA 84

5.3 A POTENCIALIDADE DO ESTRESSE E COMO EVITA-LO 89

5.3.1 Suporte instrumental 91

-

,)

J ...>._ Suporte informativo 93

5.3.3

Suporte na avaliação 9-/

5.3.-/

Suporte emocional. 95

5.3.5

Discussão 96

(7)

BIBLIOGI~AFIA 99

ABSTRACT 102

(8)

Agradecimentos

Ao professor orientador Sigmar Malvezzi, pelo acompanhamento, incentivo e atenção dedicada;

Aos professores e coordenadores do curso do MBA que participaram da minha vida por dois anos, instruindo-me e tornando-me um profissional mais capacitado a compreender, questionar e sobreviver no mundo competitivo atual.

Aos meus colegas de MBA, que realmente mostraram-se amigos e participativos durante todo o curso, e hoje, formam um grupo de pessoas que me orgulho em fazer parte.

Aos meus familiares, que compreenderam as minhas ausências e me deram todo o apoio afetivo para que eu completasse meus estudos com sucesso.

Em especial, a meu marido, Paulo, que soube ser paciente, compreender meus esforços e participar a cada instante das minhas conquistas.

Muito obrigada.

(9)

1 Introdução

Atualmente nas empresas, os gerentes estão mais sensíveis e interessados em saber como as organizações afetam a saúde de seus funcionários, vide o grande número de programas nas empresas sobre qualidade de vida e ergonomia, por exemplo, que tem surgido nos últimos anos nas empresas. Com esta questão em mente foram várias as preocupações que surgiram sobre estresse no trabalho. sobre as relações conflitantes, o ambiente de trabalho e outras afins. Dentre estes enfoques, surgiram alguns estudos especificamente sobre o estresse enfrentado pelo profissional devido ao acumulo de informação 1, visto que as pessoas têm tido um maior contato com muita informação, ou mesmo, com informações conflitantes ou demasiadamente profundas, que exigem um esforço maior do profissional para assimilar.

Com a necessidade de manter-se atualizado e adaptar-se às mudanças que têm ocorrido muito rapidamente no ambiente de negócios, o profissional busca um aprofundamento dos seus conhecimentos, através de cursos específicos, pós-graduação, mestrado ou doutorado. Tem crescido a procura pelo mestrado com título de MBA (Master in Business Administration) devido ao seu caráter voltado a negócios e pelo grande volume de conhecimento transmitido durante o curso através de profissionais de grande reconhecimento no mercado. Este fato é

detectado pelo crescente número de novos cursos de MBA que têm surgido no Brasil nos últimos 5 anos.

Durante o período em que o profissional está trabalhando e cursando o MBA. observa-se que o profissional enfrenta um acumulo de responsabilidades. Tem que atender às exigências profissionais e, em paralelo, manter um forte

IComo o estudo patrocinado pela Reuters e entitulado:Dyinng for Information? A research sponsored

(10)

comprometimento com o curso, com novas informações a serem absorvidas de forma bastante profunda e em um período de tempo muito regrado.

Vale ressaltar que a recente evolução tecnológica tem contribuído para que esse profissional tenha um acesso mais fácil às informações e possa se adequar mais rapidamente às mudanças no ambiente de negócios e acadêmico, entretanto, nem sempre esta tecnologia se traduz em maior produtividade para esse profissional. Isto se deve a vários fatores: (1) o profissional tem acesso a muitas informações de uma só vez, e não consegue assimilar todo o conteúdo necessário; (2) As informações que recebe, nem sempre são as mais importantes, ou exatamente o que ele necessita naquele momento; (3) O número de informações que tem acesso aumentou, mas não necessariamente todas as informações são de boa qualidade e podem agregar valor ao profissional; (4) Ou mesmo, as informações podem ser muito profundas, exigindo um repertório prévio do profissional para serem compreendidas.

Todas estas situações podem gerar medo do profissional em falhar no entendimento de uma informação crucial para o seu trabalho; ou mesmo, não conseguir encontrar uma informação específica dentre um grande volume de informação, sendo incapaz de selecionar o que é importante do que não é; além de gerar ansiedade por conta da necessidade de ter que lidar com muita informação para ter eficiência no trabalho. Enfim, as emoções afloram em uma intensidade muito elevada.

Sob essas condições, observa-se o surgimento de algumas características de estresse, como o fato do indivíduo entrar em conflito, sem saber decidir sobre qual decisão mais certa a tomar, com medo de errar, por não saber lidar com a informação que recebe; o profissional perde a habilidade de distinguir o que é informação relevante do que não é; a fadiga torna-se eminente, em qualquer tipo de atividade, seja profissional ou a lazer, havendo perda de satisfação no trabalho

(11)

e em todos os aspectos da vida em geral, podendo gerar falta motivação e até, doença física, ou seja, devido

à

fragilidade do estado de estresse, doenças que estavam latentes podem se manifestar com mais facilidade.

o

objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica, associada a um estudo empírico, através do qual pretende-se saber qual a potencialidade de estresse de um profissional que trabalha em funções competitivas e estuda em uma escola que exige muitas horas de estudo aprofundado, como um curso de MBA conceituado e considerado "puxado".

Apesar de existirem vários estressores ambientais, profissionais ou mesmo, familiares, este estudo será baseado em uma análise do modo de vida desse profissional/estudante e do estresse, com foco na sobrecarga de informação que esse profissional recebe, principalmente, durante esse período de estudos.

(12)

2 Modo de Vida e estressores

Esta seção analisará as variáveis que estão relacionadas com a vida do profissional que cursa o MBA em relação ao estresse, através da análise dos estressores a que está exposto no dia a dia.

A situação no mercado de trabalho tem se tornado cada vez mais competitiva, sendo cada vez mais valorizado pelo mercado de trabalho o profissional que cursa ou tem título de MBA (Master in Business Administration). São empresas que procuram profissionais com conhecimentos gerais, estudiosos, com ambição de crescer e que tenham contato com outras estratégias empresariais (benchmarking).

Desta forma, os profissionais que começam a cursar um curso exigente e reconhecido como um MBA, entram em contato com novas informações, de diversas áreas de aprofundamento e com um grande volume de informações a serem absorvidas em pouco período de tempo.

Soma-se a pressão de ter que absorver um conteúdo variado de matérias, o fato dos estudantes concorrerem entre si para tirar boas notas. As notas no curso são comparativas, assim, os alunos que forem melhor, comparativamente, tiram a nota "A", os que forem piores tiram a nota "C", e o restante tira a nota "B". Um aluno pode ter somente até 6 "Cs" durante todo o curso, caso tire mais "Cs", é eliminado do curso. Assim, este desenho do curso propicia uma maior concorrência entre os alunos, que se desdobram mais nos estudos para tirar melhores notas

o

volume de informações é grande e abrangente, vindo de encontro com as expectativas do profissional-estudante. Entretanto, a forte carga de estudos exige alteração de seu rendimento no trabalho, ou na sua dedicação

à

família e amigos,

(13)

até mesmo, minimizar o tempo normalmente dedicado a lazer, pois esse curso exige que o profissional dedique, além das 12 horas de aula por semana, horas extras para seus estudos em casa.

Os setores da vida mais sacrificados pela falta de tempo que o profissional enfrenta, devido

à

forte carga de estudos, parecem ser

o

social, o familiar e o pessoal no que se refere a dedicar algumas horas do dia a exercícios físicos, a ter uma alimentação saudável e uma boa noite de sono. O tempo dedicado a estes itens vai diminuindo conforme o aumento da pressão dos estudos para esse profissional.

Durante o período do curso, o principal desafio mostra ser, portanto, a necessidade em manter o equilíbrio entre a vida profissional, o curso e a vida social, familiar e pessoal, dedicando tempo a cada um deste setores. As alterações em um ou todos esses fatores podem ocasionar forte desconforto no que esse profissional considera por equilíbrio.

2.1

Acumulo de informação

O problema de sobrecarga de informação já é tão eminente que pode ser observado em diversas publicações, jornais, revistas e em algumas pesquisas realizadas especificamente sobre o assunto.

Em uma pesquisa denominada "overload information" (sobrecarga de informação) realizada em 1996 e patrocinada pela agência de notícias da Reuters Lirnited', foram levantados alguns pontos a 'respeito da sobrecarga de informação do homem moderno, tais como:

(14)

>-

o

volume de informação cresceu de forma exponencial nos últimos anos. Mais informação foi produzida nos últimos 30 anos que nos 5000 anos anteriores.

>-

Surgiram novos jornais e revistas que aumentaram suas publicações em freqüência ou volume, bombardeando as pessoas com informações. Por exemplo, pode-se comparar o fato de que uma edição de fim de semana do New York Times tem mais informação do que um homem do século XVII teria em toda a sua vida.

>-

Diariamente, cerca de 1000 livros são publicados

internacionalmente, e este valor vem duplicando a cada cinco anos. São novas publicações que, nem sempre, podem ser consideradas todas de boa qualidade e com importância significante para o profissional. Por vezes, são publicações com dados conflitantes aos anteriormente publicados, o que dificulta o profissional poder filtrar e selecionar o que realmente seja importante.

>-

Um estudo do Instituto para o Futuro descobriu que os funcionários das 1000 empresas da Fortune enviavam e recebiam cerca de 178 mensagens dia através de tecnologia de comunicação. Dentre eles, 84% reportaram que seus trabalhos são interrompidos pelo menos 3 vezes por hora. O que demonstra não só o volume de informação que o

profissional recebe, mas também, os ruídos quê desviam a atenção do profissional do que realmente é importante para atingir seus objetivos.

6

(15)

~ Pesquisas da Carleton University e da University of Western Ontario aplicadas em 2437 funcionários do governo,

descobriram que o e-mail- considerada uma "aplicação assassina" - realmente é "assassina". De fato, a maioria dos trabalhadores pesquisados, colocaram a culpa de seu

estresse no e-mail.

o

"e-mail", apesar de facilitar por sobremaneira a comunicação, trouxe o problema da "sobre-comunicação". Por ser um modo bastante fácil de enviar e receber mensagens, o emissor, que antigamente selecionava mais o que iria enviar ao receptor, agora, envia mensagens despreocupadamente, ou mesmo sem lê-Ias previamente, simplesmente através de alguns rápidos comandos.

Um estudo realizado pela autora deste trabalho'', quando analisando o porquê do . recebimento de 150 e-mails por dia, com base no modelo de Magorah Maruyama" de feedback positivo e negativo para delineamento da dinâmica dos sistemas, demonstra a mútua causalidade e como o sistema se envolve na própria transformação.

.~

..

.' CRUZ. M.E. "Feedback" positivo e negativo no envio de e-mai/s. Modelo de mútua causalidade de Magorah Maruyama. (rnirnco). 1999, pg.1.

(16)

"Feedback" positivo e negativo no envio de e-mails

Figura 1: "Feedback" positivo e negativo no envio de e-mails, Modelo de mútua causalidade de Magorah Maruyama.

Sensaçlo c&noda: "te Informei, pois asseium e-mail"

cOretopara o receptor

~

---..,.

--.. Feedback positivo ----. Feedback negativo

A nova tecnologia, a globalização e descentralização das informações facilitaram a comunicação entre as pessoas, com menores custos de comunicação e sendo uma forma fácil de provar por escrito o que foi acordado. Entretanto, esta forma de envio e recebimento de mensagens, não necessariamente

é

uma comunicação por completo, pois "passa" a informação adiante com maior rapidez, mas não necessariamente sabe-se que a informação foi compreendida e comunicada com eficiência ao receptor.

(17)

As causas exemplificadas na figura acima podem ter um processo de "feedback" negativo, em que uma mudança em uma variável inicia uma mudança na direção oposta, ou "feedback" positivo, processos em que mais leva a mais e menos a menos. Esses mecanismos de "feedback", juntos, podem explicar como os sistemas ganham ou preservam determinada forma e como esta forma pode ser elaborada e modificada com o tempo. Pode-se observar, portanto, que o e-mail facilitou o aumento do envio de mensagens indiscriminadamente, aumentando de forma crescente a troca de informações sem haver um filtro para evitar a sobrecarga de informações.

o

mesmo estudo patrocinado pela Heuters'' (1996) com 1313 gerentes juniores, médios e seniores nos Estados Unidos, Inglaterra, Hong Kong, Singapura e Austrália identificou uma nova síndrome: a fatiga por informação. 73% dos profissionais perceberam que necessitavam de uma grande quantidade de informação para serem eficazes no seu trabalho e a tecnologia fez esta informação ficar mais acessível. Entretanto, também detectou-se que esta mesma tecnologia que, inicialmente, satisfez uma necessidade latente por mais informação, causou vários problemas no que diz respeito ao acumulo de informação, como:

• 33% dos gerentes entrevistados sofriam de problemas de saúde diretamente relacionados com o acumulo de informação.

• 66% reportaram que a tensão com colegas de trabalho e a perda de satisfação no trabalho estavam diretamente relacionados ao acumulo de informação.

(18)

• 62% admitem que os relacionamentos sociais e pessoais foram sendo sacrificados como resultado do estresse por estarem envolvidos com muita informação.

• Mais da metade dos profissionais acredita que seus trabalhos tornar-se-iam mais estressantes nos próximos dois anos, devido ao crescente bombardeio de informação.

As pessoas estão tendo uma avalanche de informações para administrar. Um mesmo assunto pode ser defendido de formas diferentes, por diferentes autores. Mas como filtrar esta informação? Como saber a qualidade e ter confiança no conteúdo de um material, quando tanta publicação está sendo feita ao mesmo tempo? O que dificulta esta tarefa é determinar o valor que esta informação tem para cada indivíduo. Muitas vezes, o profissional pode receber um volume grande de boas informações, mas nem todas terem valor para o seu objetivo.

A cada dia, fica mais fácil o acesso rápido

à

novas informações, havendo um crescimento tecnológico muito maior do que a capacidade das pessoas absorverem tanta informação.

Sob essas condições, o profissional começa a enfrentar problemas de administração do seu tempo, não conseguindo cumprir com suas atividades diárias, postergando compromissos, tarefas e decisões, faltando concentração, enfim, não conseguindo planejar o seu dia de forma eficiente".

Esse estudo patrocinado pela Reuters foi um passo além de detectar o problema de acumulo de informação, propôs, também, algumas soluções que podem ser tomadas para evitar ou minimizar o problema do acumulo de informação, como:

ÓRIO. R. P.

o

facínio do Stress. Vencedo desafios num mundo emtransformação, Dunya: 1998. pg. 131-132

(19)

>

Realizar um melhor treinamento, desde uma idade jovem, ensinando o indivíduo a diferir entre informações primárias (que são essenciais) de informações secundárias que, não importam o quão interessantes sejam, elas não têm significado naquela situação específica.

>-

Prover uma pré-analise e filtro de informação mais efetiva para que os gerentes recebam somente o que eles precisam saber para realizar se.u trabalho de forma mais eficiente, sem que percam tempo com informações irrelevantes.

>-

Proporcionar condições e treinamentos para haver melhorias nas habilidades do profissional em eliminar informações desnecessárias.

Enfim, o que esse estudo traz a tona é a importância de se lidar com o acumulo de informação nos dias atuais, sendo esse, um dos principais desafios para manter os funcionários trabalhando de forma saudável e produtiva.

2.2 TechnoStress

(20)

As novas tecnologias são normalmente introduzidas no ambiente de trabalho sem aviso prévio, de forma súbita para o funcionário. Estudos? recentes com mais de 200 trabalhadores e 350 gerentes constataram que 78% dos entrevistados tinham nenhum controle sobre a decisão de usar um computador. Na verdade, a maioria dos funcionários não tem qualquer escolha sobre qual ferramenta tecnológica utilizar, simplesmente são forçados a utilizar a tecnologia que foi pré-determinada por alguém. O sistema de "e-mail" é um bom exemplo, pois uma vez que é instituído na empresa, torna-se o principal meio de comunicação a ser utilizado, sendo uma afronta

à

etiqueta da companhia se o funcionário quiser ainda utilizar o memorando de papel.

Desta forma, os funcionários das organizações, em todos os níveis, já estão sentindo os efeitos da rápida mudança tecnológica em seus trabalhos e expectativas. A cada dia que passa, um novo tipo de comunicação é criada, um

novo software, ou um novo hardware que os funcionários têm que conhecer, têm

que usar e devem utilizar em seus trabalhos.

Entretanto, as mudanças são tantas, que não há tempo de treinar apropriadamente o funcionário sobre como utilizar e aplicar a nova tecnologia, pouca trégua tem sido dada entre o aprendizado de uma nova tecnologia para a criação e necessidade de aprendizado de uma outra.

Nota-se assim, que o profissional entra em contato com a nova tecnologia através de estímulos externos e intemos, logo percebe a necessidade daquela nova tecnologia para seu trabalho, quando então, canaliza sua energia, mostrando-se motivado a aprende-Ia. Se não for bem treinado, se não tiver tempo suficiente para absorver a nova informação, se sua necessidade inicial não for satisfeita, aumenta a possibilidade dele sentir-se frustrado e até mesmo, repudiar a nova tecnologia.

É

necessário, portanto, detectar a carência ou necessidade interna do

7 F[NLEY. M. Techno-crazed. Pace-Seuer Bcoks, [995. Pago 5

(21)

profissional para que o ato motivacional seja completo, que se satisfaça a necessidade inicial".

A onipresença da tecnologia; as rápidas mudanças de sistemas e máquinas; a preocupação com a segurança no emprego, que pode ser substituído por uma nova tecnologia, ou por um novo profissional que saiba utilizar a nova tecnologia e a constante cobrança por conhecimento tecnológico têm levado os funcionários a sentirem angústia tecnolóqica" (TechnoStress). Esta angústia pode interferir com a habilidade de concentração, fazendo com que os trabalhadores tornem-se menos produtivos, menos eficientes, e menos satisfeitos com seus trabalhos.

2.3 Medo tecnológico

Se de algum modo a tecnologia ajuda, de outro, pode ser ainda pior para o profissional. Um estudo recente do grupo Gallup 10 patrocinado pelo Mel descobriu que os gerente estão preocupados que a tecnologia possa trazer os seguintes problemas:

1. Perda de privacidade; 2. Inundaçãode informações; 3. Perda do contato pessoal;

4. A necessidade de aprendizagem contínua de novas capacidades;

5. Não ter uma promoção, devido a falta de conhecimento.

SBERGAMINI C., Coda R. Psicodinâmica da Vida Organizacional. 1997. Motivação: Mitos,

Crenças e Mal-entendidos, pg. 84.

9FINLEY, ·M. Techno-Crazed. Pace-Setter Books, 1995. Pg.35.

(22)

Para lidar com estas questões, esse mesmo estudo indica que os gerentes e profissionais preferem manter-se distantes da tecnologia que eles solicitam que seus funcionários utilizem.

Estudos mostram que 90% dos gerentes seniores nas maiores corporações americanas têm computador em suas mesas, cerca de 50% desses, nem ligam seus computadores. O mesmo estudo do MCI-Gallup mostrou que 91

%

dos profissionais não conectam-se "on-line", 66% não usam "e-mail" e 67% não usam "beepers", e menos da metade do pessoal da empresa utiliza o "voice mail".

Os trabalhadores estavam começando a se acostumar com a mudança de máquina de escrever para processadores de texto, quando os "faxes" e "e-rnails" começaram a surgir, então, surgiu o mundo da Internet (World Wide Web). Assim que um novo sistema

é

instalado e utilizado, está sujeito a mudanças que o tornam obsoleto e fora de moda. Por exemplo, hoje já existem "sites" que não podem ser acessados pelo Explorer 4.0. A cada dia, muitos lideres corporativos -muitos dos quais não têm inclinação tecnológica - devem tomar decisões críticas sobre em qual tecnologia investir e quando.

De acordo com Deloitte e Touche Consulting Group' os investimentos em tecnologia cresceram de 0,5% em 1993 para 3,5% em 1994, e acima de 6% em 1995. Em muitos casos o dinheiro não

é

utilizado em novas tecnologias, mas investido para evitar problemas com a tecnologia corrente (vide bug do milênio). Mesmo a mais alta tecnologia freqüentemente não funciona como foi anunciado ou antecipado.

11HARP, C. Is training for less. Computerworld, 1996. Pg. 1.

(23)

2.4 O paradoxo da produtividade

A tecnologia torna a vida do profissional mais fácil, facilitando a comunicação, o arquivamento dos dados e mesmo aumentando a produtividade. Entretanto, em muitos casos, ao invés de tornar a vida no trabalho mais fácil, a tecnologia normalmente tem o efeito oposto.

Desde 1980, mais de um trilhão de dólares foram investidos em tecnologia nas empresas dos Estados Unidos, com o intuito de aumentar a produtividade. Nesse mesmo período, notou-se um decréscimo de 1% na produtividade, o que vem a ser chamado de "paradoxo da produtividade?".

Um recente estudo da STB Accounting System de São Rafael, Califórnia, mostrou que um usuário típico de computador gasta 43% do seu tempo mexendo na máquina. O tempo gasto no download, ou mudando softwares, organizando arquivos, ou experimentando novos aplicativos não traduzem em produtividade.

Como resultado, as pessoas estão sentindo-se cada vez mais confusas, irritadas, frustadas, ou simplesmente estúpidas. Isto as leva às características de estresse, como: desespero, falta de esperança, raiva, hostilidade, descrença nos outros e sentimentos de vítima.

1"

(24)

2.5 Aprendizagem

A aprendizagem das informações recebidas, requer do profissional questionamentos, mantendo a mente aberta para que possa modificar hábitos e atitudes, realmente incorporando a informação adquirida e aplicando-a ao seu dia a dia.

Os profissionais, entretanto, são constantemente bombardeados por fatos, opiniões e previsões e para evitar a sobrecarga de informação, muitos utilizam processos de categorizarão e filtros. Com muita freqüência, estas categorias são utilizadas sem um questionamento prévio, simplesmente repetindo fórmulas já utilizadas no passado. Por exemplo, quando se determina quem é ou não o concorrente direto de uma empresa e qual o mercado de negócios de uma empresa, mesmo que haja mudanças profundas no mercado, normalmente, demora-se muito para os profissionais mudarem esses paradigmas já pré concebidos.

O objetivo destas rotinas é o de melhorar a eficiência através da padronização, ganhando-se tempo no aspecto operacional e deixando com que a informação flua mais facilmente, pois o mesmo padrão é utilizado repetidamente, e normalmente, inconscientemente 13. Entretanto, o aprendizado requer novos conhecimentos e novas formas de lidar com esse conhecimento, e respostas pré moldadas deixam pouco espaço para novas idéias.

Desta forma, uma melhor compreensão do processo de aprendizagem pelo profissional pode trazer uma visão mais clara de como ele deve lidar com as informações relevantes para seu dia a dia.

(25)

A literatura, normalmente, divide o estágio de aprendizagem em três ou quatro estágios, variando somente as nomenclaturas 14. Para que haja realmente a aprendizagem de determinada informação,

é

necessário que se (1) adquira a informação, quando se questiona qual a informação a ser coletada, de onde, como obte-Ia e de quem; (2) Posteriormente, interprete essa informação, colocando as percepções e posições a respeito da informação previamente coletada. Nesta fase, questiona-se qual o significado da informação, qual a relação de causa e efeito destas informações; (3) Assim, pode-se ir para a fase efetivamente do uso da informação no dia a dia. Nesta fase, a análise

é

transformada em ação,

é

quando se pergunta quais novas atividades são mais apropriadas e que atitudes devem ser modificadas. Cada fase, portanto, tem um conjunto de atividades e desafios a serem transpostos.

2.5.1 Adquirindo a informação

Como já foi detalhado anteriormente, o número de livros, jornais, conferencias e "Web sites" que surgem a cada minuto continua a crescer de forma alarmante, desta forma, tornou-se muito fácil adquirir novas informações. O real desafio para o profissional, entretanto,

é

o de distinguir qual informação é de qualidade e qual não é. Ou seja, separar os "sinais" dos "ruidos". Os sinais são aqueles dados que tem real impacto ou estão realmente correlacionados a um evento. Os ruídos são qualquer contradição, ou informação confusa que ofusque a mensagem 15.

1.'GARVIN. D. Learning in Action: A guidc to putting the learning organization to work. 1992. Harvard

Busincss School Prcss, p.22

IJPor exemplo. as escolas descrevem o processo de aprendizagem em busca da informação. interpretação e

aprendizagem; levantamento de hipóteses exposição, decodificação e integração: observação. asscsso, desenho e implementação. Estes exemplos podem ser encontrados Dalf R. L. e Wcick K.E., Toward a model 01'Orgunizations as lnterpretation Systems. 1984:284-295.

15WOHSLETTER. R. Pcarl Harbor: Warning and Decision,:Stanford University Press, 1962: pg. 1-3.

(26)

o

aprendizado efetivo demanda claros sinais e o mínimo de ruído, assim como a habilidade de dividir idéias claras para que não fiquem escondidas em meio a tantos ruídos. Infelizmente, com os ambientes de rápida mudança e muita . informação, de muitas fontes, esta combinação tem sido cada vez mais rara.

Um estudo do VLSI (Very Large Scale Integration) quando integrando sistemas de fabricação, encontrou altos níveis de ruídos, tornando melhorias nesta área praticamente impossíveis de se identificar. Na maioria dos casos, haviam tanta variação através dos processos de produção, tantas informações conflitantes, que os estudos se tornaram de pouco valor. O ruído era tanto, em alguns casos, que valia mais a pena mante-Ios como estavam do que tentar identificar quais as variáveis críticas do

processo".

Esse e outros exemplos demonstram como pode ser difícil adquirir uma informação relevante e necessária em meio a tantos ruídos do ambiente. As informações mais críticas ficam isoladas, guardadas e muitas vezes não são conectadas. Mesmo quando todos os dados já foram obtidos, a mensagem principal fica obscura. As implicações para os profissionais são óbvias, para aumentar o conhecimento, devem melhorar a relação entre sinal e ruídos, desenvolver mecanismos de pesquisa de informação e trabalhar de forma integrada, cruzando dados que eliminem cada vez mais os ruídos.

Existe um outro fator agravante, quando na fase de levantamentos de informações, que é o fato dos profissionais não buscarem todas as informações. sendo seletivos, mas somente acreditando nos processos que amplificam alguns estímulos e atenuam outros, distorcendo os dados "crus" e focando sua atenção. Uma hipótese é formada inicialmente e a informação é então coletada para confirmar esta primeira hipótese. Como psicólogos sociais já notaram, os

16ROGER. E. B. The impact of proccss noise on VLSI Process Improverncnt. Transaction in Scmiconducror manufucturing, 8 (Agoslo-1995) 228-238.

(27)

resultados são previsíveis: "a informação coletada serve somente para confirmar dados antiços.'?"

De fato é difícil estar com a mente aberta a novas informações, sem desvios, especialmente quando são inesperadas. A maioria dos gerentes' buscam informações que lhe sejam familiar. Um bom exemplo disto são as pesquisas de mercado, em que os profissionais buscam informações no mercado, somente para confirmar informações que já possuem, para cobrir falhas, e gerar suporte a decisões previamente já tomadas, mais do que buscar fonte de novas idéias. De fato, deve-se estar mais aberto para novas idéias e informações para que realmente haja um novo aprendizado 18.

2.5.2 Interpretando a informação

Mesmo que tenha sido possível encontrar toda a informação relevante, há a necessidade de interpreta-Ia. Para avaliar o impacto, de novos produtos, por exemplo, os gerente tem que prover interpretações sobre como está o mercado, a competição e o que os clientes esperam. Nesse ponto desenvolvem seus pensamentos através de estruturas mentais pré concebidas que organizam as informações dando forma e significado, como categorias, modelos, classificação e relações de causa e efeito.

São várias as ações a serem tomadas: organizar e classificar novas informações, preencher dados que estejam faltando, incluir probabilidades a eventos e prover

li KIESLER S., Sproull L., Managerial Rcsponsc to Changing Environrnents: Pcrspectives on Problern

Scsing frorn Social Cognition. Ad ministrative Science Quartcly, 27 (1982), pg 559.

(28)

explicações racionais para atitudes. Como os modelos de estrutura normalmente são comuns aos indivíduos, todos acabam por pensar de forma similar".

Peter Drucker'", por exemplo, observou que todas as empresas têm uma teoria de negócios implícita, que são um grupo de pressupostos comum a todos da empresa sobre mercados, consumidores, competidores, tecnologia e competências e missões das empresas. Estas teorias são consistentes e oferecem uma forma fácil de estruturar as informações.

Desta forma, nota-se que a interpretação

é

a base de todas as decisões a serem tomadas sobre informações previamente coletadas. Assim, o objetivo torna-se encontrar interpretação mais precisa, aquela que as categorias, classificações e relações de causa e efeito melhor se adeqüem. No geral, as melhores interpretações acabam por ser aquelas que estão baseadas em dados concretos, estão conectadas entre si de forma muito forte e são aceitas e utilizadas por um maior número de "atores?", No caso da Xerox, por exemplo, suas vendas melhoram muito quando a gerência separou o mercado de duas grandes categorias (grandes e pequenos clientes) para cerca de 6 categorias mais específicas. Assim, seu poder de previsão aumentou muito, porque as novas categorias eram mais diferenciadas e facilitavam a diferenciação entre "atores" e suas necessidades.

2.5.3 Aplicando a Informação

Mesmo quando uma nova interpretação de uma informação

é

evidente, as pessoas demoram a toma-Ias devido ao costumes e rotinas que estão

~.• [;)AF[ & WEICK. Toward a model of organizations as Interpretation Systerns. 1995.p.284-295

-') DRUCKER. P. The theory of Business. Harvard Business Review 72(scptember/O<.:tobcr 1994); 95-104 cl GARVIN. D. How thc Baldrige Award ReaIly Works Harvard Business Review 69

(November/December): 93.

(29)

acostumados. Para sobrepor a esta inércia, a solução é enviar sinais claros sobre qual informação é relevante e esperada que os funcionários da empresa assimilem, oferecendo tempo disponível para que aquela nova informação seja aplicada. Atividades do tipo "hands on",· em que as pessoas aplicam um conhecimento na prática, normalmente, mostram ser muito eficazes. Portanto, se há a necessidade das pessoas utilizarem algo novo, elas precisam de tempo disponível para que apliquem esse novo conhecimento.

Eliminar tarefas desnecessárias ou antigas mostra-se necessário para evitar a sobrecarga de tarefas. Um bom exemplo é o da Continental Airlines que em meados de 1990 iniciou um processo de multifunção de seus funcionários (uma mesma pessoa deveria realizar várias tarefas, como "check in" das bagagens e conferencia do "Boarding pass" dos clientes no portão de embarque). Inicialmente, houve muita relutância dos funcionários, pelo medo da sobrecarga de tarefas, mas logo foram persuadidos, depois que a gerência eliminou tarefas desnecessárias, ou que não agregavam valor. O resultado foi uma forte adesão ao programa pelos funcionários, pois eles teriam tempo extra para o aprendizado'".

Entretanto, somente proporcionar tempo para a prática não é suficiente por si só, é necessário que os funcionários tenham capacitações para realizar as tarefas. Mesmo treinados, um grupo de técnicos pode ter problema no atendimento ao cliente, por estarem muito mais identificados com a tecnologia, do que com as necessidades do cliente.

(30)

2.5.4 Problemas de Aprendizagem

Durante o processo de aprendizagem, vários são os problemas enfrentados para que haja o real aprendizado de uma informação. Infelizmente, um grande grupo de problemas de aprendizado impedem o processo. São problemas comuns e muitas vezes, inevitáveis, pois envolvem o modo de pensar e agir do profissional, e podem ocorrer em cada um dos estágios do processo de aprendizagem.

Problemas na fase de aquisição da informação podem ocorrer devido a omissão ou erro na coleta de dados, pois as pessoas tendem a fazer pré julgamentos sobre qual a probabilidade de determinados eventos ocorrerem, por exemplo. Problemas na fase de aplicar o aprendizado ocorrem devido ao medo do risco ("risk aversion"). Juntos, esses problemas prejudicam o aprendizado, reduzindo sua eficiência.

2.5.4.1 Informação com viés

Na fase de coleta de informações, alguns problemas podem ocorrer devido a uma coleta parcial da informação, com viés, como: "pontos cegos" e filtros.

o

termo "pontos cegos23" é referente ao modo de coleta de informação com

direcionamento errado, resultando em áreas que o indivíduo não pode ver a importância de determinados eventos, ou mesmo, percebe-los de forma incorreta. Um exemplo comum, é o julgamento errado das fronteiras de um negócio, por basear-se em conceitos antigos de mercado e competição.

2.\ PORTER. M. E. Competi tive Strategy. :"ew York, Free Press, 1980, p.59

(31)

Esses "pontos cegos" , normalmente, surgem em época de crise, quando o estresse e a ansiedade restringem a quantidade e tipo de informação que o indivíduo irá processar, mesmo a tendência de buscar as informações que confirmam pontos de vista anteriores.

o

problema de filtro ocorre quando um fato crítico é ignorado por não estarem de acordo com uma hipótese anterior. Em vários experimentos, psicólogos separaram grupos de acordo com suas crenças, a favor e contra a pena de morte. Oferecendo evidencias idênticas a ambos os grupos, notou-se que cada um teve conclusões diametralmente

opostas".

Porque cada um dos grupos lia as informações de forma seletiva, permitia-se tomar conclusões prévias sobre os fatos. Eles minimizavam a importância de eventos contrários a suas crenças prévias.

Esse tipo de comportamento, normalmente, ocorre quando o indivíduo encontra-se sob estresencontra-se. Quando há alta expectativa, hipóteencontra-ses ou interpretações prévias sobre determinado assunto, este filtro serve como defesa contra a ansiedade e fraquezas, focando a atenção da pessoa para outro ponto, que lhe cause menos estresse. Nas empresas, por exemplo, observa-se que os gerente sob pressão, normalmente, só ouvem o que desejam ouvir.

2.5.4.2

Falha de interpretação

Durante a fase de interpretação de uma informação podem ocorrer várias falhas, pois o processo pode ser muito complexo e compreendido de forma fraca. A interpretação envolve julgamento e um pouco de instinto. Ambos são governados por fatores outros que a lógica e a razão.

l~LORD, C. G.; Ross L.; Lepper M. R. Biased Assimilation and Altitude Polarization: Journal of Pcrsonulity and Social Psychology, 37 (1979): 1098-2109.

(32)

o

ser humano, em particular, está sujeito a vários problemas de erro de interpretação, mesmo o gerente mais hábil infere em erros de interpretação. A despeito de suas melhores intenções, eles normalmente desenvolvem interpretações, estimativas e relações de causa e efeito que estão direcionadas a determinados temas, não observando o problemas como um todo.

Alguns estudos têm demonstrado a aparição de um grande número de problemas de interpretação,

corno'":

• Causa ilusória - Determinar a causalidade de um evento, correlacionando a outro, somente por que apareceram na seqüência durante determinado estudo.

• Validade ilusória - Aumento de confidência no julgamento de alguém, especialmente que tenha uma grande bagagem de informação, ou seja reconhecido em determinada área.

• Viés de categorias - A persistência em utilizar estereótipos e categorias pré formuladas para classificar pessoas e eventos, mesmo quando estes entram em conflito com a informação obtida.

• Viés pela facilidade - Privilegiar a probabilidade de determinados eventos devido a facilidade com que os exemplos vêm

à

mente, ao invés de ser devido a freqüência com que ocorrem.

15KIESLER S., SPROULL L., Managerial Response to Changing Environments: Perspectives on Problcm

Sesing trom Social Cognition. Ad ministrative Science Quartely, 27 (1982), pg 553-55~.

(33)

• Visão míope - Viés sistemático de crença em estimativas devido probabilidade e a eventos passados, ao invés de análise real dos resultados atuais.

Desta forma, nota-se que vários são os fatores que podem incorrer em uma má interpretação dos fatos. Nos exemplos acima, nota-se que conceitos pré formados a respeito de fatos e de pessoas influenciam por sobremaneira na forma de um indivíduo analisar a validade de uma informação.

2.5.4.3

Ciclos incompletos de aprendizagem

A falta de tempo para dedicar-se a estudos pode proporcionar ciclos incompletos de aprendizado ao profissional-estudante, que podem explicar o porquê de não aplicarem satisfatoriamente seus novos conhecimentos no seu dia a dia.

De acordo com alguns estudos", há três tipos de ciclos incompletos de aprendizado:

1. Aprendizado situacional: o indivíduo depara-se com um problema, improvisa algo para a dificuldade encontrada, soluciona o problema e continua seu trabalho. O aprendizado situacional acontece quando o indivíduo esquece ou não incorpora o aprendizado para uso posterior. O elo entre o aprendizado individual e os modelos mentais individuais é, então, prejudicado. Esse aprendizado, portanto, não altera o modelo mental de ninguém. Pelo fato do modelo mental individual não ser alterado, a organização não tem condições de também absorver o aprendizado. Uma determinada crise organizacional é

21> MORIT A. O.H. The link 'between individual and organizational learning. Sloam Management Revicw,

(34)

um bom exemplo desse tipo de "pseudo" aprendizado. Cada problema é resolvido, mas nenhum aprendizado é aproveitado para um próximo passo.

2. Aprendizado oportunístico: há momentos em que as organizações, propositadamente, tentam se desviar dos procedimentos padrões porque, naquela situação particular, sua maneira tradicional de agir não representa a melhor prática. O aprendizado oportunístico ocorre, então, quando ações organizacionais são tomadas com base em ações individuais (ou de um pequeno grupo de indivíduos), e não com base nos modelos mentais comuns da organização como um todo (valores, cultura, mitos, etc). Esse tipo de aprendizado pode concorrer para a criação de novos modelos mentais comuns na organização, ou simplesmente, não ser um aprendizado incorporado pelos outros, perdendo o seu valor no tempo.

3. Aprendizado fragmentado: há muitos casos em que os indivíduos aprendem, mas a organização como um todo não. Quando o elo entre os modelos mentais individuais e os modelos mentais comuns é quebrado, ocorre o aprendizado fragmentado. Nesse caso, a perda do indivíduo representa a perda do aprendizado. Universidades são exemplos clássicos de aprendizado fragmentado. Professores de cada departamento podem ser especialistas competentes em finanças, marketing, estratégia, mas a universidade como uma instituição não pode aplicar tais competências no mesmo nível. Organizações muito descentralizadas podem ser também suscetíveis ao aprendizado fragmentado.

No caso do curso do MBA, há uma grande carga de informações adquiridas e há a necessidade de absorve-Ias em pouco tempo, sendo o profissional cobrado desse conhecimento através de exercícios e provas com datas marcadas. Nesse contexto, pode-se perceber que o curso o induza "resolver rapidamente os seus problemas" para a prova, e logo, já se preparar para resolver outros problemas

(35)

(outras provas). Surge, então, o problema do aprendizado situacional, em que o profissional acaba por não perceber a importância de utilização da informação aprendida no seu dia a dia, ou percebendo, mas não tendo tempo hábil de aplica-la.

Esse tipo de aprendizado pode gerar estresse quando, após vários esforços repetitivos do profissional em adequar-se às cobranças momentâneas, ele perceber que não houve um real aprendizado da informação. A constante tensão inicial, sem a saciar a ânsia pelo conhecimento no longo prazo, causam o estresse devido a necessidade inicial não ter sido saciada.

Vale ressaltar também, que é comum o profissional focar seus estudos em um assunto, pois não conseguirá adquirir todo o conhecimento em todas as áreas que gostaria ou precisasse conhecer. É um aprendizado fragmentado, em que o profissional irá adquirir conhecimentos específicos e irá se deparar com outros profissionais que têm outros conhecimentos, em outras áreas. Isto pode causar a necessidade nesse profissional de conhecer mais sobre outras áreas, mas frustrado, percebe que não tem condições de absorver tanta informação.

(36)

entendimento melhor do mundo real.

o

fundamento desses laboratórios de aprendizagem é a investigação e a experimentação ativa, onde todos participam na avaliação dos modelos mentais de cada um. Através desse processo, pode haver uma compreensão comum dos fenômenos organizacionais. Por exemplo, o uso de um sistema interativo de informática chamado de "simulador de vôo" oferece aos participantes uma oportunidade de avaliar suas imagens da realidade, e experimentar as conseqüências de suas ações. Tal sistema ajuda a traduzir os modelos mentais num modelo de computador, mais formalizado e explícito.

Os administradores também têm seus objetos de transição e seus micromundos. Quando um grupo de profissionais sai numa excursão para exercício de formação de equipe, está criando um micromundo a fim de melhorar seu trabalho em conjunto. Quando a equipe do departamento de Recursos Humanos cria um exercício de interpretação a ser usado no treinamento de pessoal, também está criando um micromundo.

No campo da administração, além dos micromundos tradicionais, surgiu um novo tipo de micromundo, criado por intermédio do computador e que possibilita a· integração da aprendizagem de interações complexas da equipe com a aprendizagem de interações complexas da empresa. Esses novos micromundos proporcionam aos grupos a oportunidade de analisar, expor, testar e aperfeiçoar os modelos mentais nos quais eles se baseiam ao tentar resolver problemas complexos. Servem de cenários para forjar objetivos e experimentar uma grande variedade de estratégias e diretrizes que poderiam ser usadas para alcançá-Ias, transformando num tipo de "campo de treinamento" para equipes administrativas, um lugar onde elas poderão aprender em conjunto enquanto tratam de resolver seus problemas mais importantes referentes

à

empresa.

;'7MORITA. D.H. Thc link between individual and organizational learning. Sloam Managemcnt Revicw.

(37)

Mas para que haja possibilidades de trocas de informação com o aprendizado da organização como um todo, a empresa precisa valorizar a formação de grupos com profissionais de diversos departamentos e proporcionar condições para que isto ocorra. Grupos Matriciais ou de Qualidade, onde se discute a estratégia da empresa como um todo ou em departamentos específicos, podem ser uma boa oportunidade da empresa absorver os conhecimentos fragmentados de seus profissionais e uma boa forma do profissional absorver um número maior de informações, de forma lúdica, sem sentir-se sobrecarregado.

Após essa análise, nota-se que o modo de vida do profissional que cursa o MSA, e está em busca de novos conhecimentos, mostra-se rodeado por vários estressores. No próprio curso há uma forte pressão, devido a competição por nota entre os alunos, que são comparativas e seguindo uma curva ASC. O fato de que a extrema carga de estudos faz com que o profissional não se dedique tanto

à

família e

à

vida social, perdendo em afeto e em horas de lazer. E mesmo uma vida sedentária sem exercícios e má alimentação, levam o profissional a ficar mais debilitado e suscetível

à

doenças.

Outro fator que se mostra bastante claro é o acumulo de informação no trabalho e nos estudos, devido

à

facilidade com que esse profissional entra em contato com novas informações. As rápidas mudanças, o forte crescimento da tecnologia de informação, a Internet, os "e-mails",tudo concorre para que o profissional sinta-se sobrecarregado por informações, podendo gerar problemas de falta de concentração, por exemplo, e problemas de saúde, como o estresse.

Em meio a esta sobrecarga de informações o profissional não consegue ter tempo para realizar suas atividades, as tarefas se acumulam e surge, então, uma forte pressão sobre o profissional pela má administração do tempo.

1993. \".35 n.l, p.51-57.

(38)

Soma-se a isto, os problemas na aprendizagem que só vem a complicar a situação desse profissional. A falta de clareza nos sinais enviados para o profissional, devido

à

presença de vários ruídos, pode desviar a atenção deste profissional a informações menos relevantes, fazendo com que ele perca tempo estudando o que não é tão importante para a compreensão da matéria. Vale ressaltar também, o viés na busca e interpretação de informações que podem ocasionar em um aprendizado parcial e no aprendizado fragmentado, de somente algumas informações ensinadas no MBA.

(39)

3

Estresse e seus desdobramentos

Esta seção irá analisar alguns conceitos teóricos sobre estresse; sua perspectiva psicossocial; o processo do estresse, envolvendo os fatores de pressão, percepção, personalidade e enfrentamento; bem como sua relação com a motivação do profissional-estudante.

A palavra estresse

é

uma das mais imprecisas literatura científica, pois

é

utilizada para descrever tanto a causa, quanto os efeitos do processo de estresse.

Fletcher"

considera o estressor como uma variável independente que pode causar disfunções no processo saúde-doença, enquanto "strain" é usado para denotar a conseqüência, ou seja, as variáveis dependentes em função dos estressores. Considera ainda, que as evidências encontradas na literatura indicam que diferenças individuais influenciam a avaliação e a reação potencial ao estresse e, freqüentemente, são consideradas como variáveis moderadoras ou mediadoras do estresse.

o

conceito de estresse

é

desenvolvido por Selye29, numa perspectiva fisiológica, como sendo uma resposta adaptativa, causada por estressores exógenos e endógenos. Nesse modelo, o indivíduo, quando exposto a estressores de natureza física ou psicológica, apresenta reações de acordo com a intensidade dos estímulos e dos mecanismos de "coping" (lutar, competir, enfrentar) empregados. Assim, as variáveis psicológicas podem assumir o papel de estressores.

28 FLETCHER, B.C. Work, stress, disease and /ife expectancy. New York: John Willey & Sono

(40)

Outros autores'? consideram o estresse como um processo resultante das exigências decorrentes de situações sócio-econômicas e que sobrecarregam a capacidade do indivíduo. Ao analisar o processo de estresse, Aneshensel ressalta que esse não é decorrente, exclusivamente, de condições externas, mas da discrepância entre estas condições e os valores, as percepções e os recursos individuais.

Lazarus salienta que, entre o estímulo e a reação, existe a interferência de variáveis que podem ser visualizadas em dois grupos: psicológicas - a) mecanismos vinculados a disposições da personalidade, "coping", avaliação de ameaças, frustração, desafios, gratificações; b) reação de curta duração, respostas emocionais e comportamentais indicativas de distúrbios; c) reação de longa duração, compreendendo as neuroses e distúrbios de ajustamento; e

fisiológicas, consideradas como síndrome de adaptação dos processos neurológicos e dos bioquímicos, bem como das disposições genéticas e constitucionais; trocas fisiológicas, emergência de doenças, reversibilidade e irreversibiidade de doença. Assim, a análise de Lazarus incorpora tanto elementos fisiológicos como psicológicos para a compreensão do processo de estresse.

A concepção de Lazarus sobre estresse além de distinguir a esfera fisiológica da esfera psicológica, ressalta o papel da interpretação e do significado das situações nas reações psicológicas. Nesse sentido, o estresse psicológico pode ser considerado como "uma relação particular entre uma pessoa e o ambiente que é, então, avaliado pela pessoa como sobrecarregando ou excedendo aos seus recursos ou colocando em perigo o seu bem-estar":".

30LAZARUS, R. S. The cancept oiStress and disease.ln. Levi, L . Society, stress and disease:

The Psychosocial environment. London: 1966 Oxford University Press

Aneshensel, C.S. Social Stress: Theory and research. Annual Review Sociology, v.18, p.15-38.

'I

LAZARUS, R. S. The cancept ofStress and disease.ln. Levi, L . Society, stress and disease: The

Psychosocial environment. London: 1966 Oxford University Press, p.20

(41)

Williams32 diferencia em seu livro pressão como sendo o estímulo, o início do

processo e estresse, como o resultado da pressão, ou possível resposta a ela. De forma bastante clara e didática, explica que estresse

é

algo que faz o indivíduo sofrer, exerce um efeito negativo quando algo não acontece como esperado, podendo abalar a saúde física, mental e social.

A pressão, entretanto, pode produzir bons ou maus resultados, depende da capacidade de adaptação do indivíduo e de sua habilidade em lidar com situações difíceis. A pressão pode ser a força necessária para dar estímulo, motivar o indivíduo a aprender mais, fazer coisas diferentes, ir em busca de mais conhecimentos. Mas também pode ser o fator estressor que causa depressão e ansiedade, que faz o indivíduo fracassar, não conseguir absorver a informação que necessita no tempo exato.

É

a maneira como cada um reage, combinada com a capacidade de adaptação, que decidirá o resultado do processo de estresse.

Para crescer, necessitamos de pressão. Se para evitar o estresse elimina-se a pressão, o indivíduo atrofiará, ou produzirá novas pressões. Se uma pessoa, por exemplo, na tentativa de evitar algumas· pressões da cidade e já conhecidas pelo indivíduo, fugir para o campo, outras pressões surgirão, como a pressão do excesso de lazer, mostrando que tanto o tédio e quanto a forte carga de pressão podem levar ao estresse.

3~WILLlAMS, S. Administrando a pressão para obter o desempenho máximo. Liuera Mundi: 1994, p.IS.

(42)

CURVA PRESSÃO - DESEMPENHO

Alto

Média Desempenho

);> Tédio -i

»

Criatividade );> Frustração );> Resolução

>::j~

~ªf

}> Satisfação

Baixo

Mínima

Nível de pressão

);> Resolução irracional de \\ problemas

~\ Exaustão );>'Doença

}>

p~.~.o

"'~"""

Máxima

Fonte: Cunningham, J. B. "The Stress Management Sourcebook"33

A pressão produz o desempenho máximo, pois o indivíduo sente-se

estimulado. É o gatilho para o aumento do desempenho, alarme (brigar ou

fugir). A reação de alarme

é

importante para ajudar o indivíduo a sobreviver,

é

uma resposta física ou mental a uma ameaça física ou mental. Se a ameaça

continua, o organismo continua a liberar substâncias químicas e hormônios no

intuito de defender-se. Finalmente, os efeitos da exposição extrema a uma

ameaça contínua tornam-se prejudiciais, produzindo o estresse.

o

que varia, portanto,

é

como cada indivíduo responde a essa pressão. O nível

limite de informações novas, da quantidade, qualidade, diversidade, por

exemplo, será diferente de pessoa para pessoa.

33CUNNINGHAM, J. B. The StressManagement Sourcebook. Lowell House:1998, p.22.

(43)

3.1 A Perspectiva Psicossocial do Estresse

As contribuições de John Cassei" com o desenvolvimento da concepção de estresse como vertente teórica, para a compreensão dos processos psicossociais associados às enfermidades humanas, têm se revelado da maior relevância para os subsequentes desdobramentos teóricos sobre esta temática. Cassei acreditou na importância do ambiente social na determinação das doenças nas populações.

Seus estudos indicavam as relações entre os fatores sociais e culturais, especialmente no que se refere às mudanças culturais e suas repercussões no processo saúde-doença.

Dentre as inúmeras contribuições de John Cassei, pode-se destacar que este, a partir de evidências empíricas, indicou o papel dos fatores psicossocias na suscetibilidade do organismo a doenças, e, ainda, apontou que os estressores afetam diferentemente as pessoas, sendo limitada a noção de estressores gerais e universais, não contemplando a ação especifica do sujeito no processo de adoecimento. Segundo Cassei, a controvérsia sobre o caráter invariante e unidimensional dos estressores (presença sendo estressante e ausência sendo protetora) fica comprometida, uma vez que as pessoas, em função das suas características, percebem e interpretam as situações de forma diferente: "... as pessoas reagem às suas situações de vida ou condições sociais em termos do significado destas situações para elas ...".

.'~ CASSEL, J. Thecontribution of the social environment to host resisteance. American Journal of

(44)

De acordo com Alan

Mcl.earr"

(1979), dois fatores determinam a possibilidade da incidência do estresse:

• O contexto ou o ambiente externo no qual as interações ocorrem, e

• A vulnerabilidade do indivíduo naquele momento.

A menos que o fator estressor seja muito poderoso, ele só produz os sintomas de estresse quando o contexto ou a vulnerabilidade tomam-se contra produtivos.

O ambiente externo, o contexto, pode ser abrangente como a economia, ou pequeno, como a família e os amigos próximos. É a influência da comunidade, da família, da economia,da sociedade como um todo que o profissional traz consigo para o ambiente de trabalho. No trabalho, o profissional encontra-se influenciado por seus colegas, subordinados e superiores, que criam a cultura corporativa, definida pelas políticas e práticas da empresa. Conforme esses fatores externos mudam, as atitudes e comportamento dos profissionais também podem alterar.

Fatores econômicos como alto desemprego, inflação, baixa produtividade e baixas taxas de crescimento afetam as atitudes do profissional, sua confiança e sua performance. De acordo com a pesquisa "The World Employrnent=" cerca de um terço da força de trabalho no mundo estava desempregada ou sub-empregada em·1996.

Mesmo que os níveis de desemprego variem de país para país, o medo do desemprego e a ansiedade dos empregados temporariamente sem emprego,

35 McLEAN A., Work Stress. Reading, MA: Addison-Wesley Publishing Company, 1979,

36 INTERNATIONAL LABOR ORGANIZATION (ILO). Stress prevention in the offshore oi! and gas

exploration and production industry. Geneva: International Labor Office, 1996.

(45)

ou de profissionais que não encontram trabalhos desafiadores em uma economia estável, constituem um fator de estresse muito importante.

Outro fator externo de estresse a ser lembrado são as alterações na estrutura familiar - de solteiro para vários casamentos, de heterossexual para o casamento homossexual e da estrutura de um para carreira dupla familiar, onde ambos os parceiros têm responsabilidade financeira - todos promovem um contexto diferente nos fatores estressantes e tomam lugar, afetando a vida familiar e de trabalho.

Enfim, a sociedade tem alterado cada vez mais rápido, mas o ambiente de trabalho não têm se adaptado a estas mudanças. A burocracia nas estruturas de trabalho, do governo, do militarismo e universidades parecem impermeáveis a estas mudanças. De acordo com McLean, o acumulo desses fatores externos tem impacto negativo no stress individual, em adição ao fator vulnerabilidade.

De acordo com o mesmo estudo de McLean, a vulnerabilidade individual a fatores estressantes específicos variam muito e são tão importantes quanto o contexto para determinar a reação a fatores específicos em um ambiente de trabalho específico.

(46)

Holmes e Rahe37 construíram um questionário chamado "SRE - Schedule of

Recent Events" para documentar os eventos ocorridos assuntos durante os anos antecessores ao estresse, com 400 entrevistados. As quarenta e três questões sobre as mudanças na vida foram listadas e classificadas conforme o valor de "LCU - Life-Change-Unit" dado pelos entrevistados. Para a análise, o casamento foi usado com um valor de referência arbitrário de 500, para o qual os outras mudanças foram comparadas como a perda da esposa (o) ou a mudança de residência. Esse processo foi repetido para cada evento de mudança na vida do questionário SRE, a despeito das diferenças de sexo, idade, raça, religião e "background" educacional.

Conforme nota-se no quadro abaixo, a morte do companheiro, divórcio e separação estão como os fatores de mudança mais traumáticos. Quando o indivíduo passa por várias mudanças ao mesmo tempo, a pesquisa mostrou que o aumento do valor do LCU estava correlacionado positivamente com a doença do estresse.

Holmes-Rahe - listagem dos principais eventos recentes

Posição Evento Valor

01 Morte do (a) companheiro (a) 100

02 Divórcio 73

03 Separação 65

04 Termo de prisão 63

05 Morte de um membro próximo da família 63

06 Doença ou lesão pessoal 53

07 Casamento 50

08 Demissão 47

09 Reconciliação marital 45

10 Aposentadoria 45

37 HOLMES, T. H. and Rahe, R. H. Social readjustment rating scale. Journal of Psychosomatic

Research, 11:213, 1967.

(47)

11 Mudança na saúde de um membro da família 44

12 Gravides 40

13 Dificuldades sexuais 39

14 Novo membro na família 39

15 Reajuste nos negócios 39

16 Mudança no status financeiro 38

17 Morte de um amigo próximo 37

18 Mudança em uma nova área de trabalho 36

19 Mudança em número de temas maritais 35

20 Empréstimos acima de $10.000 31

21 Execução de hipoteca ou empréstimo 30

22 Mudança nas responsabilidades de trabalho 29

23 Filho(a) saindo de casa 29

24 Problemas legais 29

25 Conquista pessoal muito grande 28

26 Companheiro começando ou parando de trabalhar 26

27 Começando ou terminando a escola 26

28 Mudanças nas condições de vida 25

29 Revisão de hábitos pessoais 24

30 Problemas com o chefe 23

31 Mudança nas horas de trabalho, condições 20

32 Mudança na residência 20

33 Mudança de escola 20

34 Mudança nos hábitos de recreação 19

35 Mudança nas atividades religiosas 19

36 Mudança nas atividades sociais 18

37 Empréstimo abaixo de $10.000,00 17

38 Mudança nos hábitos de dormir 16

39 Mudança no número de familiares 15

40 Mudança nos hábitos alimentares 15

41 Férias 13

42 Festas de fim de ano 12

43 Violação pequena de lei 11

Fonte: Holmes,T.H. e Rahe R. H. Social readjustment rating scale.

(48)

Holmes e Rahe descobriram que os profissionais pesquisados que tinham valores de LCU variando entre 150 e 300 demonstraram a doença nos anos seguintes em 50% dos casos. Aqueles com valores acima de 300 por ano, reportaram a doença em 70% dos casos. Em contraste, os que reportaram um escore menor a 150 LCU demonstraram ter boa saúde nos anos seguintes. Esse questionário tem sido suportado e fortalecido por um grande número de pesquisadores de diferentes países e culturas.

As unidades de mudanças na vida do estudo de Holmes e Rahe tem claras implicações com o estresse causado pelas mudanças, principalmente tecnológicas, que fazem o profissional ter acesso a cada vez mais informações, em cada vez menos tempo, mostra-nos como as recentes mudanças deixam o indivíduo mais vulnerável

à

doença do estresse.

3.2 O Processo de Estresse

À tensão segue-se a ação e, com a satisfação, vem sempre o relaxamento. Depois o ciclo começa novamente": O indivíduo busca conservar o equilíbrio homeostático, alcançar objetivos e evitar perigos.

A classe de defesas que o indivíduo construiu e preserva vai depender muito do tipo de mundo que ele habite. Se trata de um mundo agradável, de mudanças graduais, a pessoa não necessita desenvolver defesas e aceita as novas experiências sem se sentir abatida, confusa ou desnorteada. Mas se o indivíduo vê, ao seu redor, um mundo duro, no qual as pessoas são cruéis e não pode confiar em nenhum relacionamento, provavelmente, ele construirá uma estrutura defensiva e procurará conserva-Ia a todo o custo.

(49)

Se um indivíduo se torna muito tenso como resultado de algum ou vários estímulos perturbadores e não pode desviar essa tensão mediante alguma atividade, vai acumulando uma crescente "carga residual". Com o tempo, acumulará tanta tensão que terminará por sofrer um colapso.

o

estresse psíquico depende do modo como a pessoa avalia as conseqüências dos eventos (situações) estressantes, bem como dos mecanismos disponíveis para enfrentá-los, conforme apresentado na Figura a seguir.

MODELO EXPLICATIVO DO ESTRESSE PSICOLOGICO

Processo de Estresse

Percepção Aspectos sócio-culturais,

dinâmica familiar,

história de vida Avaliação

Coping

Estratégias de

enfrentarnento

Pessoa

T.•.

Ambiente

Vulnerabilidade

Resistência

Saúde Psíauica

(50)

Na perspectiva do estresse psicológico, são incorporados no modelo ànalítico os fatores que mediatizam o processo, atuando como mecanismo de "coping" (mecanismos de enfrentamento). Dessa forma,

Lazarus'".

e colaboradores concebem estresse como uma decorrência da avaliação pessoal das exigências e das relações com os aspectos pessoais que são vinculados a crenças, a metas e

à

capacidade do indivíduo em encontrar, aliviar, ou alterar estas demandas em função do seu bem-estar.

Segundo Lazarus, a noção das diferenças individuais relacionadas aos padrões de estresse, através do enfrentamento e adaptação, se expressam mediante dois conceitos:

(1) Vulnerabilidade ou propensão: refere-se

à

tendência de cada indivíduo a reagir a certo tipos de acontecimentos ou situações com estresse psíquico, ou com um grau maior de estresse que outro indivíduo.

(2) Resistência: é a outra face da moeda. A presença de recursos que facilitam a manipulação de situações potencialmente estressantes.

Pode-se considerar que a vulnerabilidade e a resistência representam uma dimensão da esfera da experiência do indivíduo.

Os efeitos do estresse são determinados pela força exercida pela pressão dos fatores estressores, contrabalançada pelas habilidades de enfrentamento.

Uma grande variedade de mecanismos bem desenvolvidos de enfrentamento

39 FLETCHER, S.C. Work, stress, disease and /ife expectancy. New York: John Willey & Son

Imagem

Figura 1: &#34;Feedback&#34; positivo e negativo no envio de e-mails, Modelo de mútua causalidade de Magorah Maruyama.

Referências

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