Tese apresentada a Universidade Federal de São Paulo –
Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de
Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo –
Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de
Mestre em Ciências
! " # $ % % &' ( " )
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Profa. Dra. Débora Amado Scerni
) 4 ( "
Dr. Ivaldo da Silva
Dra. Roberta Monterazzo Cysneiros
Dra. Sandra Regina Perosa
0 !
Dr. Fabiano da Cunha Tanuri
Esta tese foi realizada na Disciplina de Neurologia Experimental do Departamento de
Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista
de Medicina, durante o curso de pós graduação em Neurologia/Neurociência. Auxilio
!
Agradeço, primeiramente e acima de tudo a 1, que está sempre comigo, orienta minha vida, me dá saúde e paz para buscar meus objetivos, e não me desampara
nunca;
Ao meu marido 4 " , um grande companheiro, que está sempre comigo, mesmo quando ausente, ele se fez presente, atravessou comigo todos os percalços,
me ajudou a retirar todas as pedras, não fraquejou, e não me deixou desistir;
À minha filha " , que trouxe mais amor e alegria para o nosso lar;
Aos meus pais " e 5 , por todo amor, carinho, amizade e educação que dedicaram a mim;
Ao meu irmão 5 / , meu grande amigo e companheiro, e a seu filho que ainda irá chegar, mas já merece todo meu amor;
À minha orientadora Profa. &' , pela oportunidade, pela confiança no meu trabalho, por toda paciência, e principalmente por compartilhar sua experiência
acadêmica comigo;
À , não somente por todo seu apoio e dedicação, mas por algo muito mais valioso,
mãe, e por estar presente no momento mais especial da minha vida, a chegada da
minha filha. A epigrafe é uma homenagem mais que merecida à você.
À Profa. 3 , pelo apoio e contribuição de seu conhecimento;
Ao Prof. 10 ' 5 / , por contribuir ricamente para a ciência;
Às minhas grandes amigas 7 , por tudo que vivemos, só posso dizer-lhes: se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi... Pra nunca se
esquecer!
Às queridas amigas - 11 " / , pelo companheirismo, afeto e amizade sinceros;
Aos amigos " 7 7 $ 7 , 7 , / 7 7 7 " - ! 7
1! 5 7 8 , pela amizade e apoio ao meu trabalho;
Aos valiosos funcionários do Departamento, 9 " 7 5 " 7 8 / "5 " , pelo apoio constante;
:
Dedicatória...vii
Agradecimentos...viii
Lista de figuras...xiv
Lista de tabelas...xv
Lista de Abreviaturas...xvi
Resumo...xviii
;% ! " 3 1.1 Epilepsia ...1
1.2 Epilepsia Catamenial e Disfunção Hormonal ...9
1.3 Melatonina ...27
1.4 Modelos Experimentais de Epilepsia...37
% '< ! 5 2.1 Objetivo Geral...46
=% ! &! " 1
3.1 Animais...48
3.2 Exame Colpocitológico ...48
3.3 Pinealectomia...49
3.4 Indução do Status Epilepticus...50
3.5 Parâmetros analisados no estudo comportamental...51
3.6 Análise Comportamental quanto a freqüência de crises...51
3.7 Análise histopatológica...52
3.7.1 Perfusão intra-aórtica...52
3.7.2 Método neo-Timm...53
3.7.3 Análise do brotamento axonal das fibras musgosas ...53
3.8 Análise Estatística...54
4.2 Aspectos comportamentais...57
4.3 Análise histológica...65
4.3.1 Estudo do brotamento das fibras musgosas - neo-Timm...65
?% 1) 11
5.1 Discussão ...67
@% ) 1
6.1 Conclusão ...77
$ A ) 1 ' , B$ ) 1
Referências Bibliográficas...79
1! " , 1
;* Localização da glândula pineal em humano...27
* Mecanismo de estimulação de secreção de melatonina...28
=* Esquema da evolução cronológica da Epilepsia do Lobo Temporal...44
>* Gráfico relativo ao estudo do ciclo estral...55
?* Gráfico relativo às fases do ciclo estral de ratas pinealectomizadas e/ou que receberam pilocarpina...57
@* Gráfico relativo ao período de latência para ocorrência da primeira crise após administração de pilocarpina...58
C* Gráfico relativo à porcentagem de animais que morreram por crise tônica após injeção de pilocarpina...59
D* Gráfico relativo à porcentagem de animais que evoluíram para o Status
Epilepticus...60
* Gráfico relativo ao período de latência para ocorrência do
Status
Epilepticus...61
; * Gráfico relativo à mortalidade durante Status Epilepticus...62
;;* Gráfico relativo ao período de latência para ocorrência da primeira crise espontânea...63
; - Gráfico relativo à freqüência de crises...64
1! " ' 1
;* Mecanismo de ação e os efeitos dos esteróides sexuais na excitabilidade neuronal...21
1! " ' 5 ! 1
ácido caínico
/ acetilcolina
) monofosfato de adenosina cíclico 1 adenosina trifosfato hidroxilase crise parcial complexa
crise parcial simples
droga anti-epiléptica
epilepsia do lobo temporal
epilepsia do lobo temporal mesial
17-beta-estradiol
9hormônio folículo estimulante ácido gama aminobutírico
glutamato
9 hormônio inibidor de gonadotrofina 9 hormônio liberador de gonadotrofina %0% intra peritoneal
9hormônio luteinizante
acetato de medroxiprogesterona
noradrenalina
N-acetiltransferase
E núcleo supra-quiasmático pilocarpina
F pinealectomia prolactina
pentilenotetrazol
salina
Status Epilepticus
sistema nervoso central
1 (
A epilepsia é um distúrbio que afeta o Sistema Nervoso Central (SNC), sendo a Epilepsia do Lobo Temporal (ELT) a forma mais freqüente dentre as epilepsias focais em adultos, representando 40% de todos os casos. Sua incidência é de 1-2% da população mundial, com destaque para o sexo feminino por apresentar certas peculiaridades, como ciclo menstrual e período gestacional. Alterações nos níveis dos hormônios sexuais estrógeno e progesterona podem interferir no curso da epilepsia. A produção e liberação destes hormônios são influenciadas pela melatonina, um hormônio sincronizador do ritmo circadiano, e protetor do SNC. Desta forma, uma alteração nos níveis de melatonina poderia interferir na produção dos hormônios esteróides, e influenciar na excitabilidade do SNC. '< ! 5 # estudar o efeito da pinealectomia na epileptogênese em ratas Wistar adultas, com ciclo estral regular, submetidas ao modelo experimental da pilocarpina, através de análise comportamental e morfológica. &! " # 4 grupos: – fêmeas controle (n=5); FG – animais pinealectomizados e que receberam solução salina (n=5); – animais que receberam pilocarpina (n=46); FG – animais pinealectomizados e que receberam pilocarpina (n=47). Os animais do grupo PILO e PNTX+PILO foram vídeo-monitorados por 60 dias após a primeira crise espontânea para estudo dos parâmetros comportamentais e então, perfundidos para técnica de neo-Timm. 1 ! " 1# os animais pinealectomizados apresentaram maior freqüência na fase de estro. Os animais PNTX+PILO tiveram diminuição nos períodos de latência para ocorrência da primeira crise após administração de pilocarpina, para ocorrência do SE e ocorrência da primeira crise espontânea, quando comparado com o grupo PILO. A mortalidade durante o
SE foi maior no grupo PNTX+PILO, no
entanto, a mortalidade por crise tônica foi maior no grupo PILO. Também foi maior no grupo PILO a porcentagem de animais que evoluíram para oSE. Quanto a
freqüência de crises e ao grau de brotamento de fribras musgosas, não observamos diferença entre os grupos. ) 1 # A pinealectomia além de promover alterações no ciclo estral da rata, de maneira diferente daquela observada em ratas não pinealectomizadas e submetidas ao modelo da pilocarpina, promove uma epileptogênese menos intensa do que aquela vista em machos pinealectomizados, ou até mesmo em fêmeas intactas ou castradas.;% H.
;%;
Conhecida desde a antiguidade, a epilepsia foi descrita pelos egípcios e pelos
sumérios 3500 a.C. Antigamente dizia-se que pessoas que sofriam crises epilépticas eram
pessoas possuídas pelo demônio.
Durante toda a nossa história muitas pessoas sofreram com a epilepsia, algumas
personalidades históricas são apontadas como epilépticas e em muitos casos o diagnóstico
conclusivo jamais pôde ser estabelecido, devido a imprecisão clínica e as limitações
tecnológicas da época. Dentre as personalidades podemos destacar alguns nomes como,
Vincent van Gogh, Joana D`Arc, Fiódor Dostoiévski, Júlio César e Machado de Assis
(DANTAS et al., 2008).
Ao longo dos anos a sociedade tem tido diferentes perspectivas dos indivíduos com
epilepsia. Hoje os conhecimentos a cerca da epilepsia são muito maiores que antigamente,
os avanços na medicina e na tecnologia dos diagnósticos permitem estudar a epilepsia com
mais detalhe e tudo isto fez com que a epilepsia passasse de doença sobrenatural a uma
condição neurológica. Contudo, mesmo com todos os avanços tecnológicos, a epilepsia ainda
representa um problema de discriminação, o que provoca dificuldades na educação, no
A epilepsia não é uma doença ou uma síndrome única, ela engloba numerosas
condições neurológicas e é atualmente definida como um distúrbio crônico do sistema
nervoso central, e tem como característica principal a manifestação de crises epilépticas
espontâneas e recorrentes, sem intervalos previsíveis (GUERREIRO et al., 2000 FONTENELLE & PIRES, 2006).
A crise epiléptica é resultado de uma descarga elétrica excessiva, súbita e geralmente
rápida de um grupo de neurônios que podem estar localizados em qualquer região do
cérebro, acompanhada de manifestações comportamentais, em que os pacientes podem
apresentar uma grande variedade de sinais clínicos (McAMARA, 1994).
A Epilepsia é a condição neurológica mais comum em todo mundo (ENGEL Jr., 1995).
Cerca de 1-2% da população apresenta epilepsia ativa, aproximadamente 50 milhões de
pessoas (DHEW, 1978; JACKSON, 1994; LI e SANDER, 2003), sendo observada em todas as
idades, ambos os sexos, sem distinção de raça ou classe social.
Há uma incidência maior em países em desenvolvimento, embora este fato não
esteja inteiramente esclarecido. Acredita-se que a maior ocorrência da epilepsia em países
subdesenvolvidos esteja relacionada a fatores nutricionais, a falta de assistência médica
adequada e a maior exposição a doenças endêmicas, sabidamente responsáveis por crises
epilépticas recorrentes, como a neurocisticercose e a malária, entre outras (FONTENELLE &
A incidência anual varia de 20 a 70 casos por 100 mil habitantes e a prevalência é de
4 a 10 casos por mil habitantes (SHORVON, 1990). Nos países em desenvolvimento
estima-se que a prevalência da epilepsia estima-seja em torno de 2%, o que faz supor que existam mais de
três milhões de brasileiros com epilepsia (GOMES, 2000).
GOMEZ et al., (1978), realizaram estudo de campo visando determinar a prevalência dos transtornos convulsivos em Bogotá, e estabeleceram a taxa de prevalência de 19 por
mil, sendo este o único dado epidemiológico relativo à epilepsia na América Latina até 1986.
Neste mesmo ano, MARINO Jr., CUKIERT e PINHO (1986) utilizaram metodologias similares
e realizaram estudos nos quais estabeleceram a prevalência das epilepsias na região
metropolitana de São Paulo em 11,9 por mil habitantes. Números mais expressivos foram
encontrados na Grande Porto Alegre, segundo FERNANDES et al., (1992), onde a prevalência foi de 16,5 e 20,3 por mil habitantes, respectivamente, para epilepsias ativas e inativas.
BORGES et al., (2004) estudando a população urbana da cidade de São José do Rio Preto, no estado de São Paulo, com 336000 habitantes verificaram que a prevalência de
epilepsia foi 18,6/1000 habitantes, sendo 8,2/1000 para epilepsia ativa. A prevalência na
faixa etária acima dos 65 anos foi a mais elevada, compreendendo 32,8/1000 habitantes.
A maioria dos casos de epilepsia se iniciam na infância, principalmente nos
primeiros anos de vida e tal fato se deve as características físicas e químicas do
aumento das epilepsias em pessoas com idade avançada em função das doenças
próprias da idade (MELO et al., 2006).
As crises podem surgir espontaneamente ou serem desencadeadas por situações
como: febre, distúrbio eletrolítico, intoxicação, doenças degenerativas e alterações
vasculares, infecções cerebrais, traumatismo craniano, tumores cerebrais, trauma durante o
parto (PEDLEY et al., 2000), porém muitas vezes a causa é desconhecida.
A epilepsia é um distúrbio crônico da função cerebral caracterizada pela presença de
crises epilépticas espontâneas e recorrentes que ocorrem na ausência de condição
tóxico-metabólica ou febril, causando conseqüências neurológicas, cognitivas, psicológicas e sociais
(ENGEL Jr, 2001 a).
Segundo GUERREIRO et al., (2000), “crises epilépticas são eventos clínicos que refletem disfunção temporária de um conjunto de neurônios de parte do encéfalo (crises
focais), ou de área mais extensa, envolvendo simultaneamente os dois hemisférios cerebrais
(crises generalizadas)”.
Como a epilepsia não é uma entidade nosológica única, mas advém de várias
condições diferentes que ocasionam disfunção cerebral, alguns preferem o uso do termo no
plural “epilepsias”, mas a Comissão de Terminologia da ILAE preconiza seu uso no singular,
A Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) propõe a definição de epilepsia baseada
naquela da ultima Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE) de 2005: distúrbio cerebral
causado por predisposição persistente a gerar crises epilépticas e pelas conseqüências
neurobiológicas, cognitivas, psicossociais e sociais da condição, devendo ter ocorrido pelo
menos uma crise epiléptica (GUILHOTO, et al., 2006).
Dentre as formas de epilepsia descritas, a epilepsia do lobo temporal (ELT) é a
mais comum na população adulta, representando cerca de 40% de todos os casos
(GASTAUT
et al., 1975, REGESTA e TANGANELLI, 1999). Ela é classificada em
familiar, sintomática ou provavelmente sintomática, de acordo com a sua etiologia.
Quanto à origem e semiologia das crises, é subdividida em neocortical, lateral ou
mesial (ENGEL Jr, 2001b).
A ELT caracteriza-se pela presença de crises parciais simples (CPS) e crises
parciais complexas (CPC) e apresenta grande importância clínica devido a sua alta
incidência e gravidade. Dentre as síndromes epilépticas refratárias, a ELT é a mais
freqüente, onde 20% dos pacientes mostram-se refratários aos medicamentos
anticonvulsivantes disponíveis no mercado (DANTAS et al., 1998).
A Epilepsia do Lobo Temporal Mesial (ELTM) corresponde a aproximadamente
60% dos casos de ELT. Na maioria das vezes tem seu início na infância tardia ou
adolescência. Há geralmente história prévia de convulsão febril, hipóxia, trauma
De uma maneira geral, caracteriza-se por crises parciais simples, complexas
ou com generalização secundária (CENDES e KOBAYASHI, 2000), sendo as CPC o
tipo predominante e incapacitante (FRENSHI et al., 1993).
Na maioria dos pacientes, a semiologia ictal consiste em uma aura,
geralmente sensações epigástricas e alterações dismnésticas, seguida por olhar fixo
não responsivo, automatismos oroalimentares, postura distônica da mão
contralateral à descarga ictal e automatismos motores estereotipados da mão
ipsilateral (FRENCH
et al., 1993). A fase pós-ictal inclui desorientação, déficit de
memória recente, amnésia do evento, e afasia em crises que começam no hemisfério
dominante (ENGEL, 1996, GUEDES et al., 2006).
Na ELTM a lesão neuroanatômica mais comumente encontrada é a esclerose
hipocampal, identificada em aproximadamente 65% dos pacientes com ELT refratária
ao tratamento medicamentoso (BABB
et al., 1984; DE LANEROLLE
et al., 1989). A
esclerose hipocampal é caracterizada por gliose e perda celular, principalmente das
células da região CA1 e CA3, e dos neurônios da região hilar, com relativa
preservação de CA2, resultando em cicatrização e atrofia do tecido (BABB
et al.,
1984; BLUMCKE
et al., 1999). Associado à perda neuronal, observa-se também na
esclerose hipocampal uma dispersão das células granulares do giro denteado e a
reorganização sináptica proveniente do brotamento de axônios, por exemplo, das
Lesões causadas nas estruturas mesiais em decorrência das crises epilépticas podem
comprometer diferentes áreas cerebrais e afetar outros sistemas, como por exemplo a
conexão entre o sistema límbico e o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, comprometendo
a função ovariana, envolvendo tais conexões e alterando a liberação dos hormônios
hipotalâmicos, como o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), causando uma série
;% H. 9
Na história da humanidade a mulher mais famosa que sofreu provavelmente com a
epilepsia foi Joana D’Arc (1412-1431). Segundo os seus próprios relatos, ela começou a
ouvir vozes aos treze anos, que acreditava serem vozes divinas. Estes sons vinham da
direção da igreja, acompanhadas de claridade e uma sensação de medo. A possibilidade
mais viável seria o diagnóstico de um distúrbio epiléptico, especificamente, sugere-se a
epilepsia musicogênica reflexa, uma vez que os episódios eram geralmente desencadeados
pela audição de sons estereotipados (as badaladas do sino da igreja). Outro possível sintoma
epiléptico sugerido como parte das "visões" de Joana D'Arc: trata-se das auras extáticas,
fenômeno pouco descrito, mais popularizado após as descrições feitas pelo escritor russo
Dostoiévski. Trata-se de uma aura normalmente relacionada à epilepsia do lobo temporal
(DANTAS et al., 2008). Considerada bruxa, Joana D’Arc foi condenada e queimada viva na fogueira, e mesmo com a desmistificação em torno da epilepsia, as mulheres ainda hoje
sofrem com os efeitos causados por esta síndrome.
Pacientes com epilepsia podem apresentar padrões distintos na freqüência e
gravidade dos eventos epilépticos, isto depende de seu histórico e de outros fatores como,
idade, origem da síndrome e sexo. Em pacientes do sexo feminino o ritmo hormonal pode
influenciar na ocorrência das crises epilépticas.
A partir da puberdade, mulheres saudáveis passam a produzir hormônios esteróides,
hipotalámico-hipofisário-gonadal. O hipotálamo produz o GnRH que controla a liberação dos hormônios
hipofisários LH e FSH e estes por sua vez estimulam as gônadas na liberação dos hormônios
ovarianos estrógeno e progesterona.
Na primeira fase do ciclo menstrual (primeiros 14 dias num ciclo de 28 dias) o FSH
promove o desenvolvimento e a liberação do ovócito, e o LH estimula a secreção de
estrógeno. Na segunda metade do ciclo (14º ao 28º dia num ciclo de 28 dias) o LH estimula
a secreção tanto de estrógeno quanto de progesterona. O pico de estrógeno ocorre por
volta do 14º dia, seguido da ovulação, o pico de progesterona ocorre na segunda metade do
ciclo, por volta do 21º dia. Tanto o estrógeno quanto a progesterona estão em níveis
reduzidos no inicio do ciclo menstrual, considerando o primeiro dia da menstruação como
sendo o inicio do ciclo (MENICONI, 2005).
Em ratos, o ciclo de reprodução é chamado ciclo estral, ele é um evento curto, com
duração de quatro a cinco dias, com fases bem definidas, caracterizada por proestro, estro,
metaestro e diestro, e que podem ser observadas através da citologia vaginal.
A primeira fase do ciclo estral da rata, denominada proestro, ocorre quando o animal
se prepara para o acasalamento, apresentando pico de hormônio folículo estimulante (FSH),
hormônio luteinizante (LH), prolactina (PRL), androgênios, estradiol e progesterona. Seguida
pela fase de estro, onde ocorre a cópula, e na ausência de fecundação, ocorre a terceira
com invasão leucocitária intensa. A ultima fase é o diestro, quando o endométrio,
novamente, começa a ser preparado para um novo ciclo (SMITH et al., 1975).
Desta maneira, tanto a mulher, quanto a rata apresentam flutuações nas
concentrações plasmáticas dos hormônios sexuais durante o ciclo reprodutor, estas variações
são constantes e perduram por toda idade reprodutiva.
Em mulheres a epilepsia pode ser ainda mais crítica, pois envolve questões
relacionadas ao sexo como, distúrbios de natureza endócrina (BEN HAMOUDA e MABET,
2009), que podem causar amenorréia, oligomenorréia, ciclos menstruais mais curtos ou mais
longos que o normal, ciclos anovulatórios e o desenvolvimento de um fenótipo que lembra a
síndrome de ovários policísticos, além da diminuição do desejo sexual e de problemas de
reprodução e infertilidade (LUEF, 2009; MORRELL, 1991; WEBBER et al., 1986). Estas alterações podem estar relacionadas à disfunção do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal ou
a alteração ovariana (MORRELL et al., 2002).
Existem evidências de que diferentes fases reprodutivas (puberdade, menarca, ciclo
menstrual, gravidez, climatério e menopausa) podem influenciar na freqüência e gravidade
das crises epilépticas (BEM HAMOUDA, 2009; DIAMANTOPOULOS et al., 1986; HERZOG 2009; REDDY, 2009; ROSCIZEWSKA et al., 1986; WOOLEY et al. 1992). Algumas mulheres podem apresentar maior susceptibilidade às crises um pouco antes ou durante a
menstruação. Aproximadamente 1/3 das mulheres com epilepsia apresentam variações na
hormônios estrogênicos, não contrabalançado pelo efeito neuroprotetor da progesterona
(BEN HAMOUDA e MABET, 2009).
Tais eventos epileptogênicos relacionados ao ciclo menstrual caracterizam a Epilepsia
Catamenial, quando geralmente ocorre um aumento na freqüência e/ou intensidade das
crises (HERZOG, 1997;HERZOG, 2009; MIZIARA, 2005; REDDY, 2009). A palavra catamenial
é de origem grega (Katamenios), que significa mensal.
A Epilepsia Catamenial ocorre em cerca de 40% das mulheres com epilepsia, em que
se verifica o predomínio do hormônio estrogênico sobre a progesterona durante o período
pré ovulatório e/ou pré menstrual (PENOVICH e HELMERS, 2008).
Variações hormonais durante o ciclo menstrual podem alterar a freqüência e
gravidade das crises (PENNELL, 2009). As crises por sua vez, podem ser responsáveis por
alterações no ciclo menstrual (LEUF, 2009).
O agravamento no padrão das crises epilépticas no período pré-menstrual tem sido
atribuído à redução do efeito antiepiléptico da progesterona (MENICONI, 2005).
Por volta dos quarenta anos, a mulher passa a produzir concentrações reduzidas de
hormônios esteróides, sendo esta fase chamada climatério. Aos poucos o organismo
que é a ocorrência da ultima menstruação. Para HARDEN (2008), mulheres maduras que
sofrem com a epilepsia catamenial são mais suscetíveis à mudanças hormonais, e que
existem evidências de que a freqüência de crises pode aumentar durante o climatério e
diminuir após a menopausa.
Alguns estudos demonstraram que o inicio das crises se dá imediatamente por
ocasião da menarca (LENNOX e LENNOX, 1960). Outros autores evidenciam o aumento na
freqüência de crises durante o climatério (HARDEN, 2008), para outros, a ocorrência da
primeira crise se dá durante a menopausa (ABASSI et al., 1999), mas ROSTE et al.,(2008) sugere que a freqüência de crises pudesse diminuir após a menopausa em mulheres com
epilepsia catamenial. Entretanto, os dados relativos aos efeitos da menopausa sobre a
epilepsia ainda são limitados. De qualquer forma, parece haver uma relação estreita entre
períodos hormonais e epilepsia.
Teoricamente, a diminuição da produção de estrógeno durante o climatério diminuiria
a freqüência de crises, uma vez que o estrógeno é considerado um indutor de crises
epilépticas. Entretanto, a progesterona que age inibindo a excitação também tem sua
produção diminuída.
Mulheres com epilepsia podem apresentar antecipação da menopausa em
comparação com a população geral. Isto demonstra que neste grupo estudado, as crises
Outro período intrigante neste contexto “hormônio e epilepsia” é a gestação, onde
ocorrem modificações hormonais como aumento de gonadotrofina coriônica, progesterona e
estrógenos (LUEF, 2009).
Existem evidências de mudanças ocorridas no padrão de crises de mulheres
grávidas no primeiro ou terceiro trimestre gestacional, embora não esteja claro na
literatura a existência de um predomínio em algum trimestre da gestação
(LOPES-CENDES et al., 2000). Entretanto, aproximadamente 25% das mulheres apresentam
um aumento no número de crises durante a gestação, sendo algumas das causas a
baixa aderência às medicações, diminuição dos níveis de DAEs devido a modificações
na absorção e metabolismo, privação do sono e estresse (LIPORACE e D’ABREU,
2003). Esses dados estão de acordo com outro trabalho onde foi observado que
cerca de um quarto a um terço das gestantes demonstram uma piora no controle
das crises (TANGANELLI et al., 1992). Porém, um terço delas apresentam diminuição
das crises e outro um terço não tem alteração nesse parâmetro. Provavelmente as
modificações quanto à freqüência de crise pode estar relacionada a mudanças dos
níveis séricos hormonais (KLEIN e HERZOG, 1998).
Se durante a gestação pode haver um aumento na freqüência de crises por
decorrência do aumento nos níveis dos hormônios relacionados à reprodução, estrógeno e
progesterona, a diminuição progressiva destes hormônios durante o climatério também
Em geral, em mulheres com epilepsia, a ocorrência de crises pode causar alterações
no eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, podendo levar a secreção inadequada de
gonadotrofinas e esteróides ovarianos. O crescimento dos folículos ovarianos sob baixos
níveis de FSH é prematuramente interrompido, resultando em uma anovulação crônica, e
presença de um grande número de folículos formando pequenos cistos, que alcançam o
diâmetro entre 5-8 mm e acumulam-se abaixo da albugínea. Esta se encontra espessada e
os ovários bilateralmente aumentados (LUCA, 2005). No entanto, o ovário policístico é
visualizado em exames de ultra-sonografia de cerca de 22% de mulheres em idade
reprodutiva dentro da população geral, mas só podemos considerar como síndrome do
ovário policístico (SOP) na presença das alterações mencionadas acima. Mulheres com
epilepsia são mais propensas ao desenvolvimento da SOP, devido às alterações hormonais,
acometendo cerca de 20-40% delas (HARDEN, 2005; HERZOG, 2006; LUCA, 2005).
Tem-se observado ainda a ocorrência da SOP em mulheres que fazem uso de
algumas DAEs, como por exemplo, o valproato, com longos períodos sem menstruação e
anovulação (HARDEN, 2005; HERZOG, 200; MENICONE, 2005 e MIKKONEN et al., 2004;). O risco parece ser elevado quando o uso deste medicamento é iniciado na infância ou
adolescência (HERZOG, 2006).
Estes distúrbios sexuais são particularmente comuns em mulheres com ELT (HERZOG,
1989; HERZOG, 1995) pelo envolvimento de estruturas mesiais nesse tipo de epilepsia, e que
estão relacionados a tal disfunção, devido à extensa interconexão entre o córtex límbico e
este eixo. As crises epilépticas podem interromper estas conexões e alterar a liberação dos
mudanças na esteroidogênese e morfologia ovariana (MORRELL, 2002 e HERZOG et al., 1986).
Segundo MORRELL (1999), a incidência de disfunções sexuais ocorrem entre 14 -
66% das mulheres que tem epilepsia. A interferência das crises epilépticas sobre a liberação
de hormônios do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal pode levar a disfunção sexual de
natureza endócrina, visto que os hormônios gonadais têm um papel importante na excitação
e desejo sexual, tanto em homens quanto em mulheres (MORRELL, 1998). A disfunção
sexual pode ser ainda uma conseqüência indireta, como por exemplo, um efeito adverso do
uso de DAEs (HARDEN, 2008; LUEF, 2009; MATTSON et al., 1985).
Há dois séculos atrás, em 1881, GOWERS já relacionava as crises epilépticas e o ciclo
menstrual de suas pacientes. A origem destas idéias pode ter partido das primeiras
observações clínicas de mulheres com epilepsia (GOWERS, 1881; TURNER, 1907). Hoje
sabemos que há uma estreita relação entre neuroesteroides e os distúrbios que afetam o
SNC. A epilepsia pode ser um destes distúrbios que são afetados pela ação dos
neuroesteroides, da mesma maneira, a própria epilepsia pode ter efeito sobre a ação destes
hormônios.
As observações que relacionam hormônios sexuais e excitabilidade neuronal na ELT
são estudadas com bastante interesse. Neste sentido, a progesterona e o estrógeno
despertam a atenção dos cientistas. Diversos trabalhos vem sendo desenvolvidos a fim de
da neurociência permitem descobrir quais mecanismos ocorrem durante a atuação dos
hormônios ovarianos no SNC, e como eles podem interferir na ocorrência e na gravidade das
crises epilépticas.
O sistema nervoso tem sido classicamente considerado alvo para os hormônios
esteróides produzidos pelas glândulas esteroidogênicas, pois muitas das funções cerebrais
parecem ser dependentes da ação destes hormônios. Muitos pesquisadores têm concentrado
atenção para o papel dos esteróides neuroativos associados às disfunções como estresse,
envelhecimento e neurodegeneração. Por outro lado, o potencial terapêutico dos esteróides
neuroativos como agentes neuroprotetores tem sido avaliado no sistema nervoso central e
periférico (MELCANGI e PANZICA, 2001).
Os hormônios sexuais são classicamente definidos como mensageiros químicos
secretados no fluxo sangüíneo por glândulas endócrinas, percorrem o corpo através do
sistema circulatório, se ligam a receptores em células alvo específicas localizadas a alguma
distância do seu sítio de secreção, e exercem funções fisiológicas regulatórias sobre essas
células alvo.
O estrógeno e a progesterona são secretados pelos ovários e são liberados dentro do
sistema circulatório. A secreção é controlada por células do hipotálamo e hipófise através de
alças de retroalimentação do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas (WOOLLEY e
SCHWARTZKROIN, 1998). Atuam na célula alvo através de difusão pela membrana da célula e
ação dos hormônios são: (1) entram na célula, migram para o núcleo e agem como
reguladores da transcrição e moduladores da expressão gênica e (2) agem na membrana da
célula, regulando diretamente os canais iônicos, dependentes de ligantes (SANTOS, 1991).
Os esteróides regulam importantes funções neuronais incluindo a organização dos
circuitos neurais durante o desenvolvimento e a regulação da organização das sinapses no
adulto. Os hormônios esteróides podem promover a sobrevivência e diferenciação dos corpos
celulares e células da glia, regulando a sinaptogênese, induzindo o crescimento axonal e
dendrítico, e tem participação durante a regeneração do sistema nervoso (ARNOLD, 1990;
JONES, 1994 e SCHUMACHER, 1996).
O mecanismo de ação dos esteróides acontece pela modulação da atividade de uma
variedade de receptores de neurotransmissores, como do tipo GABAA, que podem ser
modulados positiva ou negativamente (COVEY et al., 2001), aumentando ou diminuindo a duração e a freqüência da abertura dos canais (MELLON et al., 2001) ou NMDA (N-metil-D-aspartato), agindo em diferentes regiões do receptor e aumentando o cálcio intracelular ou
ainda em canais iônicos de superfície, regulando a abertura dos canais de cálcio, e como
conseqüência, aumentando a sua concentração intracelular (MAJEWSKA, 1992; MELLON,
1994; LAMBERT et al., 1995; JOELS, 1997; RUPPRECHT e HOLSBOER, 1999 a e b).
O cérebro não é somente alvo para a ação dos neuroesteróides, ele pode também ser
No cérebro dos vertebrados, as células da glia são os maiores sítios de formação e
metabolismo dos neuroesteróides (BAULIEU, 1998; SCHARFMAN e MACLUSKY, 2008).
TSUTSUI et al., (2000), demonstraram que neurônios também são capazes de sintetizar esteróides neuroativos.
Os principais mecanismos de ação e os principais efeitos dos esteróides sexuais
neuroativos na excitabilidade neuronal foram resumidos por HERZOG (1999); RUPPRECHT e
I! 1 10 )I$ ) 1
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Primariamente hipotalâmico e sistema límbico
Primariamente hipotalâmico e sistema límbico
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Catecolestrogênios* Alopregnenolona
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GABA, NMDA, cainato e serotonina
GABA, NMDA, nicotínicos, acetilcolina, glicina, serotonina, cainato, oxitocina
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-inibição da síntese de GABA
-diminui o número de subunidades dos receptores GABAA
-induz a formação de espinhos dendriticos
-reduz o limiar eletroconvulsivo
-cria novos focos epilépticos quando aplicado topicamente
-aumenta a severidade e duração das crises induzidas quimicamente
-ativa focos epilépticos pré-existentes
-aumenta a síntese de GABA
-aumenta o número de subunidades do receptor GABAA
-inibe crises induzidas por abrasamento, lesão focal e retirada
do álcool
-induz sedação e anestesia
; - Mecanismos de ação e os efeitos dos esteróides sexuais na excitabilidade neuronal
(modificado por HERZOG, 1999; RUPPRECHT & HOLSBOER, 1999; MORREL,
1999)*catecolestrogênios são compostos químicos com duas faces ativas que permitem
interação tanto com catecolaminas como na via dos estrogênios no hipotálamo; modulam a
localmente no sistema nervoso central pela hidroxilação dos carbonos 2 e 4 (C2 e C4) do
estradiol e podem atuar nos receptores noradrenérgicos, fornecendo uma vasta atuação dos
esteróides
De acordo com os estudos de SCHARFMAN et al., (2007), níveis fisiológicos de estrógeno são suficientes para afetar profundamente a função hipocampal. Ele pode diminuir
o limiar para as crises, pois potencializa a transmissão glutamatérgica e bloqueia a
neurotransmissão GABAérgica (SMITH et al., 1988; SMITH 1989; MURPHY et al., 1998; WOOLLEY e SCHWARTZKROIN, 1998; WOOLLEY, 1999). Em neurônios hipocampais, o
estrogênio potencializa a resposta pós sináptica glutamatérgica (WOOLLEY, 1999), realça a
inflamação e tem seus níveis diminuídos após o inicio da descarga elétrica (PENOVICH, 2008),
além de agir nos neurônios do sistema límbico (WOOLLEY, 2000).
Por outro lado, o efeito anticonvulsivante da progesterona tem sido observado em
diversos modelos de epilepsia agudos e crônicos (JOELS, 1997; BACKSTROM e
ROSCISZEWSKA, 1997; HERZOG, 1999b). Ela afeta a excitabilidade nervosa de maneira
inibitória, retardando a susceptibilidade a inflamação e a diminuição de crises em modelos
animais (PENOVICH, 2008). Além disso, a progesterona pode ser convertida em
alopregnenolona, um composto altamente neuroativo (LEPHART, 1993; MENSAH-NYAGAN et al., 1999; STOFFEL-WAGNER et al., 2000), que parece ser um agente anticonvulsivante mais potente do que a própria progesterona (LANDGREN et al., 1987; FRYE, 1995; KOKATE et al., 1999), agindo como um potente modulador alostérico positivo do complexo receptor GABAA
Durante várias décadas têm sido observado a relação entre crises epilépticas e
hormônios sexuais, e existem relatos sobre os efeitos proconvulsivantes do estrogênio
(CRAIG, 1966; BACKSTROM et al., 1984), enquanto que a progesterona apresenta efeito anticonvulsivante sobre a atividade epiléptica (JOELS, 1997; BACKSTROM e ROSCISZEWSKA,
1997; HERZOG, 1999b).
Ainda na primeira metade do século passado, em 1942, SELYE mostrou em um de
seus trabalhos experimentais a ação anticonvulsivante que a progesterona exerceu no
cérebro de ratas. Observações clinicas demonstraram uma diminuição das crises epilépticas
concomitante a fase do ciclo menstrual correspondente a altas taxas de progesterona
(ANSELL e CLARKE, 1956; MATTSON et al.1974; SELYE, 1942). Estudos em fêmeas de roedores têm mostrado evidências consistentes de que as crises epilépticas interferem na
regulação da ciclicidade ovariana. Alem disso, a indução de crises em ratas adultas, causam
alteração da função reprodutiva. AMADO e CAVALHEIRO (1998), observaram alterações no
ciclo estral de ratas submetidas ao modelo experimental da pilocarpina e neste estudo os
níveis de progesterona, FSH E LH estavam diminuídos, enquanto os níveis de estradiol
estavam aumentados. SCHARFMAN et al., (2008) também observaram alterações na ciclicidade estral, no entanto, foi verificado aumento nos níveis séricos de testosterona, já os
níveis dos hormônios estradiol, progesterona e prolactina estavam normais. Neste estudo foi
observado também o aumento de cistos ovarianos e ganho de peso corporal em ratas
(SCHARFMAN et al., 2008). A presença de ovários policísticos e ganho de peso também foi observada em mulheres com epilepsia por HAMED (2008).
Os estudos de MAGUIRE et al.; (2005), mostraram uma relação direta entre os níveis de progesterona e a freqüência de crises epilépticas em ratas. Durante a fase de diestro eles
verificaram um aumento das subunidades δ dos receptores GABAA concomitante ao aumento
de progesterona e nesta fase foi observada diminuição na susceptibilidade às crises. Durante
a fase de estro houve uma redução na expressão das subunidades δ e aumento na
expressão das subunidades γ2. Nesta fase do ciclo, os níveis de progesterona estão
diminuídos e a susceptibilidade às crises estão aumentadas. As mudanças na exitabilidade
neuronal nas diferentes fases do ciclo estral são atribuídas aos efeitos dos neuroesteroides
sobre os receptores GABAA e nas mudanças na expressão das subunidades δ e γ2.
No modelo experimental de epilepsia do lobo temporal induzido por pilocarpina a
expressão da subunidade δ dos receptores GABAA nas células granulares do giro denteado
torna-se progressivamente reduzida (PENG, 2004) e é provável que neste modelo os níveis
de progesterona estejam diminuídos. O aumento na susceptibilidade as crises em modelos
experimentais pode ser observado com a retirada ou inibição do metabolismo da
progesterona (REDDY, 2001; SMITH, 2002 e HERZOG, 2003).
Outros estudos relacionando hormônios sexuais e sistema nervoso central
demonstraram que o estrógeno atua de forma antagônica à progesterona, evidenciando o
seu papel excitatório sobre o sistema nervoso (MATTISON et al., 1981). Estes autores observaram que muitas mulheres têm seu padrão de crises modificado pelas flutuações
hormonais do ciclo menstrual, pois os hormônios ovarianos podem alterar a excitabilidade
neuronal no sistema nervoso central. O estrógeno pode alterar a estrutura e o
conseqüentemente a suscetibilidade para crises epilépticas. Isto explica o aumento
exacerbado das crises durante as fases do ciclo menstrual em que os níveis de estrógenos
estão elevados. Sabe-se que o estradiol aumenta a densidade dos espinhos dendríticos e de
sinapses excitatórias nos neurônios piramidais da região CA1 hipocampal (WOOLLEY e
McEWEN, 1993; WOOLLEY e McEWEN, 1994). Além disso, aumentama ligação à receptores
N-metil-D-aspartato e a atividade do glutamato, o que pode contribuir para as crises. Já a
progesterona diminui a densidade de espinhos dendríticos na região CA1 do hipocampo e de
sinapses excitatórias (WOOLLEY & McEWEN, 1993). O papel dos neurônios pituitários, tais
como o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), é importante na
determinação do nível estrogênico e de progestágeno nas diversas fases do ciclo.
Nosso laboratório tem se empenhado para esclarecer de que maneira os hormônios
sexuais estrógeno e progesterona influenciam e são influenciados pelas crises epilépticas.
Embora o estrógeno aumente a excitabilidade neuronal, em estudo realizado neste
laboratório, foi verificada a influência dos hormônios sexuais femininos na epilepsia através
da reposição hormonal com medroxiprogesterona (AMP) e 17-beta-estradiol (E2) em ratas
submetidas ao modelo experimental da pilocarpina. Neste trabalho a reposição hormonal
com AMP diminui moderadamente a freqüência de crises e o tratamento com E2 não
modificou o padrão das crises, no entanto, a associação entre os dois hormônios AMP+E2
diminuiu consideravelmente o padrão de crises (VALENTE et al., 2008).
Como podemos notar, a relação entre os hormônios sexuais, SNC e epilepsia são
A interação entre hormônios sexuais e eventos epilépticos deve ser estudada com
mais detalhe, afim de investigar o envolvimento de outros fatores que possam interferir na
produção e liberação dos esteróides ovarianos, estrógeno e progesterona, uma vez que a
excitabilidade neuronal parece depender não somente da ação destes hormônios, mas
;%=
Uma substância que merece atenção especial é a melatonina, pois está relacionada
tanto com a produção e liberação de hormônios sexuais, como com a epilepsia.
A Melatonina é um hormônio produzido principalmente pela glândula pineal, uma
estrutura ímpar que em humanos está localizada na parte superior e posterior do diencéfalo
(MACHADO, 2000) (Figura 1). Por muito tempo, o conhecimento da ação da melatonina
esteve restrito ao sistema nervoso central. Contudo, o interesse sobre a ação da melatonina
em outros sistemas do organismo, como o sistema reprodutor aumentou muito nos últimos
anos com a identificação de sítios de ligação da melatonina nas gônadas (SIROTKIN e
SCHAEFFER, 1997) e da caracterização do receptor de melatonina em ovários de ratas
(DUBOCOVICH et al., 2003).
A primeira descrição da glândula pineal foi relatada cerca de 300a.C. por Herófilo,
médico grego de Alexandria. Galeno por sua vez, introduziu o termo Konarium, que em latim refere-se à sua forma cônica, e mostrou que a glândula pineal era constituída de um tecido
diferente do tecido cerebral. No século XVII Descartes alimentou o conceito de que a pineal
seria a “sede da alma humana”, este pensamento foi compartilhado por muitas seitas,
, ;- Localização da glândula pineal em humano. Fonte:
http://psiquiatriahoje.blogspot.com/
A melatonina (N-acetil-metoxitriptamina) foi o primeiro composto biologicamente
ativo identificado na glândula pineal por LERNER e colaboradores em 1958, trata-se de uma
indolamina, sintetizada a partir do triptofano circulante (WURTMAN e AXEROLD, 1969;
REITER e VAUGHAN, 1988; REICHLIN, 1992).
A via nervosa que determina a produção rítmica de melatonina pela pineal começa na
retina (LEWY et al., 1980; SMITH et al., 1981). As fibras nervosas da retina captam a luminosidade do ambiente e transmitem essa informação, na forma de estímulos elétricos,
para o núcleo supra-quiasmático (NSQ).
Durante o dia, a síntese de melatonina, bem como o fluxo da atividade simpática, são
de norodrenalina (NA). A ativação dos receptores adrenérgicos α1 e β1 localizados nos
pinealócitos (células da glândula pineal) aumenta a produção de adenosina monofosfato
cíclico (AMPc), ativando a N-acetiltransferase (NAT) que catalisa a síntese da melatonina
(REITER, 1991; ARENDT, 1995). Imediatamente após a sua síntese, a melatonina, ou
N-acetil-5-metoxitriptamina, é liberada na circulação e distribuida para todos os órgãos devido
à sua lipossolubilidade (Figura 2).
, - Mecanismo de estimulação de secreção de melatonina. Fonte:
A função mais conhecida da melatonina está relacionada com o ritmo circadiano,
onde a mesma sinaliza para o meio interno quando é dia e quando é noite. No entanto,
outras funções importantes no organismo são atribuídas a esta indolamina. Na década de
90, o grupo do Dr. Reiter, no Texas (EUA), apresentou os primeiros indícios de que a
melatonina seria capaz de atuar como antioxidante, uma vez que a mesma é capaz de retirar
radicais livres das células, e estimular a produção de enzimas antioxidantes, como a
glutationa peroxidase (REITER, 1995). Alem disso, tem-se atribuído a melatonina a função
de neuroproteção do SNC (LIMA et al., 2005). Estudos neurofisiológicos in vitro demonstraram que a melatonina causa uma diminuição no influxo de cálcio para o interior
da célula, causando uma diminuição da atividade glutamatérgica, diminuindo com isto a
resposta excitatória neuronal (ESCAMES et al., 2001).
Outro ponto que vem despertando a atenção de pesquisadores são os efeitos da
melatonina na função gonadal. Em ovelhas e em hamsters, a melatonina tem uma ação
pró-gonadotrófica. Já no ser humano, em primatas e em alguns roedores, como o camundongo e
o rato, ela apresenta ação antigonadotrófica, atuando no eixo
hipotalâmico-hipofisário-gonadal (MASANA et al., 2005). Sua ação no hipotálamo controla a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) (TSUTSUI et al., 2000). O GnRH controla a fisiologia e o comportamento reprodutivo de animais vertebrados, estimulando a síntese e a liberação de
gonadotrofinas.
Tem sido descrito na literatura a relação da melatonina com outros hormônios,
inclusive os esteróides. Uma evidência da relação entre tais hormônios se dá pela ocorrência
glândula pineal (ERLICH e APUZZO, 1985). Outro fato que relaciona estes hormônios é a
identificação dos sítios de ligação da melatonina (SIROTKIN e SCHAEFFER, 1997) e da
caracterização de seus receptores em ovários de ratas (DUBOCOVICH et al.; 2003), além de altas concentrações de melatonina no liquido do folículo pré ovulatório (RONNBERG et al.; 1990) e de receptores de melatonina do tipo MT1 e MT2 nos folículos ovarianos humanos
(VIJAYALAXMI et al.; 2002).
Na espécie humana, a maior concentração de melatonina ocorre durante a infância,
caindo rapidamente antes do início da puberdade e sofrendo nova queda acentuada durante
a senilidade (LANGER et al., 1997). É provável que essa queda na produção de melatonina estimule o hipotálamo a secretar e liberar o GnRH, levando a um aumento na produção dos
hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH), e conseqüente produção dos
hormônios ovarianos estrógeno e progesterona. Desta forma, o início de declínio na
produção de melatonina pela pineal estaria associado ao processo de desencadeamento da
puberdade.
Recentemente, um novo hormônio sexual foi descrito na literatura, o Hormônio
Inibidor de Gonadotrofina (GnIH). O GnIH é um neuropeptídio hipotalâmico, que foi
identificado no núcleo paraventricular e na eminência mediana do cérebro de codorniz, e
atua na glândula pituitária, controlando a liberação de GnRH (TSUTSUI et al., 2000).
A melatonina pode também ter participação na produção e liberação do GnIH. Em
GnIH. A expressão do mRNA de GnIH assim como a produção do peptídeo diminuíram com a
ausência de melatonina através da pinealectomia, por outro lado, a expressão do mRNA de
GnIH, bem como a produção do peptídeo foram elevados após a administração de
melatonina exógena.
Em pesquisa recente, MADDINENI et al., (2008), verificaram a expressão do mRNA de GnIH no ovário de galinha. Neste estudo eles observaram que a quantidade de mRNA de
GnIH era significativamente menor em ovário de galinhas sexualmente maduras, em relação
ao ovário de galinhas sexualmente imaturas, demonstrando uma ação inibitória do GnIH no
desenvolvimento folicular ovariano. Estes autores também verificaram que os níveis de
mRNA de GnIH diminuíram com a administração de estradiol (E2) e progesterona,
reforçando o provável envolvimento do GnIH sobre o desenvolvimento folicular ovariano.
Neste mesmo contexto, outro grupo de pesquisadores demonstraram a atuação do GnIH
sobre o sistema reprodutor de galinhas através da administração de uma dose fisiológica de
GnIH, que diminuiu os níveis séricos de LH e inibiu a solicitação de cópula, sem afetar a
atividade locomotora (BENTLEY et al., 2006).
Diversos estudos vêm tentando demonstrar o papel da melatonina na secreção de
FSH e LH. A maioria dos trabalhos reporta que a melatonina atuaria no hipotálamo, afetando
a produção do GnRH, no entanto, alguns trabalhos sugerem que a melatonina poderia atuar
diretamente na glândula pituitária (ERLICH e APUZZO, 1985). A modulação da
esteroidogênese ovariana pela melatonina (MASANA et al.; 2005), principalmente na produção de progesterona é uma evidência da ação direta da melatonina nos ovários e no
evidência da ação da melatonina nas gônadas é a observação do aumento deste hormônio
em distúrbios endócrinos como a síndrome dos ovários policísticos (VOORDOUW et al., 1992).
A influência da melatonina na maturação sexual foi demonstrada por FISKE
(1941), na regulação do ciclo estral e hipófise de ratas mediante a exposição à
luz, verificando um aumento de FSH, ao contrário das ratas submetidas à ausência
de luz onde foi observada uma diminuição de FSH e aumento de LH.
Ao administrar melatonina diariamente, WURTMAN (1963) verificou alteração no ciclo
estral de ratas com a diminuição da ocorrência da fase de estro e redução do peso ovariano.
O efeito oposto foi observado após exposição das ratas a luz constante.
SOARES Jr. (2003), e DARDES et al., (2000), também observaram um aumento da fase de estro em ratas pinealectomizadas. Os estudos de PRATA-LIMA et al., (2004), mostraram ainda que, 60 dias após a pinealectomia as ratas permaneceram em estro
permanente, e apresentaram reversão espontânea 100 dias após a cirurgia.
Além de desregular o ciclo estral, a diminuição de melatonina pode ter outros efeitos
sobre o sistema reprodutor feminino. Em estudos experimentais com ratas e hamster a
diminuição dos níveis de melatonina através da pinealectomia levou à abertura vaginal e
maturação da função gonadal precoces, hipertrofia ovariana e aumento da cornificação das
et al.; 1963; HOFFMAN e CULLIN, 1975). Estes efeitos podem ser revertidos através da administração de melatonina exógena. A diminuição da melatonina também pode diminuir a
implantação embrionária e interferir na gestação (TEIXEIRA et al.; 2004).
Em experimentação, a diminuição nos níveis de melatonina causada pela
pinealectomia parece ser responsável pelas alterações no ciclo estral e na liberação de
hormônios sexuais femininos devido a uma provável mudança no balanço natural destes
hormônios, interferindo em diversos processos fisiológicos e conseqüente efeito sobre o
sistema nervoso central. Desta forma, modelos in vivo são fundamentalmente importantes para elucidarmos estas e outras questões relacionadas à epilepsia e aos distúrbios hormonais
envolvidos nesta síndrome.
Um trabalho realizado por nosso grupo mostrou que ratos machos pinealectomizados
e submetidos ao modelo experimental da pilocarpina apresentaram diminuição na latência
para ocorrência da primeira crise espontânea, aumento da freqüência de crises na fase
crônica do modelo, evidenciando a ação neuroprotetora da melatonina endógena contra a
excitotoxicidade causada pelo Status Epilepticus (LIMA et. al., 2005).
A melatonina tem uma ação dinâmica em várias glândulas e sistemas do organismo.
Ela parece ter participação na produção e liberação de todos os hormônios envolvidos na
reprodução, além de atuar também no SNC com ação neuroprotetora e antioxidante. Desta
somente ao ciclo sono/vigília, mas em outras funções importantes, como reprodução, e
conseqüente prejuízo ao sistema nervoso.
Diante de tantas evidências sobre as diferentes atuações da melatonina no organismo
podemos notar o quanto este hormônio é importante e merece a devida atenção e
investigação para, que possamos assim, melhor entender sua participação e mecanismos de
ação em diferentes processos.
;%> F
Para compreendermos melhor a fisiopatologia da epilepsia do lobo temporal é
necessário o uso de modelos experimentais que possam reproduzir as
características deste distúrbio, tais como: foco epiléptico no sistema límbico, um
foco inicial das crises, o período chamado latente, e a presença de esclerose
hipocampal que conduz a reorganização de redes neurais. Muitas destas
características podem ser reproduzidas em roedores através de alguns modelos
experimentais de epilepsia do lobo temporal tais como o do abrasamento, do
;%>%; JK " ,L
O modelo conhecido como Abrasamento (Kindling), foi descrito por
GODDARD (1967) e se assemelha à epilepsia parcial complexa humana. Ele
observou que a estimulação elétrica repetitiva e de baixa intensidade, aplicada em
certas estruturas cerebrais, levava ao aparecimento progressivo de crises
comportamentais e eletrográficas, que crescem em complexidade e se alastram,
induzindo crises motoras generalizadas e uma permanente susceptibilidade a
crises epilépticas. Este modelo é, sobretudo, um modelo de plasticidade nervosa
ligada à epilepsia, que confere grande validade quanto à extrapolação dos
achados em animais, para o ser humano. Os parâmetros de estimulação foram
definidos por GODDARD
et al., (1969) e a obtenção do abrasamento varia de
acordo com as estruturas estimuladas e com a espécie animal.
A evolução do processo de abrasamento segue um padrão característico
bem definido e tem sido estudado por diferentes pesquisadores (RACINE, 1978 ;
RACINE
et al., 1975). Animais submetidos ao abrasamento podem desenvolver
convulsões clônicas com quedas, que duram vários segundos. Em outros, podem
aparecer crises espontâneas, mas esse aspecto é muito discutido, considerando-se
que essas crises desaparecem após períodos longos sem estimulação elétrica
(McNAMARA
et al., 1993). Estudos realizados em animais que foram submetidos
ao abrasamento evidenciaram alterações eletrofisiológicas variadas tais como,
alterações na expressão e função dos receptores do tipo NMDA (GILBERT, 1988;
JONES, 1989), respostas sinápticas anormais (YAMADA, 1991) e alterações nos
mecanismos extracelulares de tamponamento de íons potássio extracelular
(GEULA et al., 1988; HEINEMANN et al., 1990).
As alterações estruturais e funcionais persistem por um longo período e
são compatíveis com a epilepsia do lobo temporal (ELT). Porém, essas alterações
não são tão evidentes como as observadas em outros modelos de ELT (SUTULA,
1990).
O abrasamento pode também ser obtido através de estimulação química
repetida, utilizando-se drogas como fluorotil, pentilenotetrazol (PTZ), lidocaína,
cocaína e álcool (PRINCHARD et al., 1969; MASON e COOPER, 1972).
;%>% : M J L
SHINOZAKI et al., (1970), estudando os efeitos fisiológicos de certos
anti-helmínticos, demonstraram o efeito neurotóxico de um análogo do
neurotransmissor glutamato (GLU) no SNC de mamíferos, principalmente no
hipocampo (OLNEY et al., 1979; COYLE et al., 1980; FISHER et al., 1989).
O ácido caínico (AC - em japonês – o fantasma do mar), foi isolado da
(1970), descreveram o ácido caínico como uma potente neurotoxina, de ação
excitatória muito potente, produzindo descargas neuronais prolongadas, que
culminam em
status epilepticus (SE) e é capaz de lesar corpos celulares e
dendritos. Apesar da injeção não lesar as fibras de passagem, pode-se observar
que são lesados corpos celulares de núcleos cerebrais distantes do local da
injeção, que pode ser explicada pela intensa atividade epiléptica (BEN-ARI
et al.,
1980). Esta conclusão parte do princípio de que a administração de drogas
anticonvulsivantes reduz ou elimina as crises, evitando lesões à distância, sem
afetar as lesões locais (BEN-ARI et al., 1979; BEN-ARI et al., 1980).
NADLER et al., (1978) observaram que a injeção intraventicular de ácido
caínico produz crises comportamentais, acompanhadas de lesão cerebral, que se
assemelha à ELT em humanos. O
status epilepticus é seguido por um período
latente, onde a única alteração observada é um comportamento agressivo, com
posterior período crônico caracterizado pela presença de crises espontâneas e
recorrentes (CAVALHEIRO et al., 1982).
O dano neuronal induzido pela aplicação sistêmica (BEN ARI et al., 1981;
SPERK et al., 1983) ou local (BEN ARI, 1978; CAVALHEIRO et al., 1983) de ácido
caínico é mediado por mecanismos excitotóxicos induzidos por ativação de
determinados receptores dos aminoácidos excitatórios (COYLE, 1987). Esta ação
excitatória também foi verificada por LUCAS e NEWHOUSE (1976). Embora o
considerado um bom modelo de ELT mas apresenta limitações, pois pode ocorrer
remissão das crises espontâneas.
;%>%= J L
Dentre os modelos de epilepsia, o modelo da pilocarpina tem sido
amplamente usado em função da facilidade técnica e, principalmente, pelas
semelhanças fisiopatológicas encontradas com a epilepsia do lobo temporal humana.
Desde o início do século passado, neurologistas como, LANGLEY (1901) e
LANGLEY e KATO (1915), já admitiam o envolvimento de mecanismos colinérgicos na
epilepsia. Mais tarde, na primeira metade do século vários autores (SJOSTTRAND,
1937; MILLER
et al.,1938; CHATFIELD e DEMPSEY, 1943; BRENNER e MERRITT,
1942) demonstraram experimentalmente, durante o eletrocorticograma a ação
convulsivante da acetilcolina (ACh) e da fisostigmina, um inibidor da
acetilcolinesterase, enzima responsável pela hidrólise da acetilcolina. A possível
relação da ACh com o fenômeno epiléptico foi confirmada em estudos onde a
administração cerebral de ACh, seus análogos e precursores ou inibidores de
acetilcolinesterase, resultava em intensa atividade epiléptica (GROSSMAN, 1963;
MACLEAN e DELGADO, 1953).
TURSKI
et al., (1983), demonstraram que a pilocarpina, um alcalóide de
jaborandi, age sobre receptores colinérgicos muscarínicos e é um potente agente
convulsivante, que após injeção intra-amigdaliana ou sistêmica, em altas doses,
provoca lesões por todo o prosencéfalo. Posteriormente, através de injeção
sistêmica, foi observado que a pilocarpina resulta em uma série de alterações
comportamentais (TURSKI et al., 1986).
Em ratos adultos (CAVALHEIRO et al., 1991), após a administração intra-peritoneal (i.p.) de pilocarpina na dose de 320-380mg/kg, se desencadeia, seletivamente, uma
seqüência de distúrbios convulsivos e eletroencefalográficos, que podem ser divididos em
três fases comportamentais bastante distintas: aguda, silenciosa (latente) e crônica.
A fase aguda começa poucos minutos após a administração da droga e se caracteriza
por acinesia, automatismos faciais com salivação, tremor generalizado, clonias de cabeça e
patas anteriores, elevação sobre as patas posteriores, seguido de quedas e crises
generalizadas que se repetem a cada 2-8 minutos. Cerca de 40 minutos após a injeção da
droga, os animais evoluem para status epilepticus (SE), uma condição que dura de 12 à 18 horas. A recuperação total do animal sobrevivente ao insulto se estabelece dentro dos 5 dias
que seguem a administração de pilocarpina e é denominada de fase silenciosa. Esta fase se
estabelece após a recuperação clínica e comportamental do animal, tendo esta condição uma
duração variável (4 - 44 dias) e que termina com a ocorrência da primeira crise espontânea,
Na fase crônica observa-se a presença de crises espontâneas e recorrentes de origem
límbica, que se manifesta eletrograficamente por atividade paroxística, que se inicia
principalmente no hipocampo e depois se propaga para o córtex e outras estruturas.
Histopatologicamente, a região hipocampal é uma das estruturas mais lesadas,
evidenciando-se já no final da fase aguda, uma extensa degeneração das células piramidais
hipocampais da região CA1 e CA3. Também ocorre morte das células musgosas da região
polimórfica do giro denteado, (TURSKI et al., 1983), permanecendo preservados os interneurônios GABAérgicos (CAVALHEIRO et al., 1990). O brotamento supragranular das fibras musgosas no giro denteado, que é característico do tecido epiléptico humano (BABB et al., 1991), também é evidente na fase crônica deste modelo(MELLO et al., 1993).
Além disso, foi observado um aumento na concentração de diferentes
prostaglandinas em todas as três fases do modelo (NAFFAH-MAZZACORATTI et al., 1995), mudanças na atividade da enzima ATPase de membrana (Fernandes et al., 1996), aumento na liberação de glutamato (CAVALHEIRO et al., 1994) que, por sua vez, está associado à excitotoxicidade e morte neuronal em estruturas límbicas e em várias regiões encefálicas
(MELDRUM, 1991), dentre outras. Estes dados indicam que a excitotoxicidade, assim como a
inflamação, são fenômenos que podem influenciar a epileptogênese neste modelo e que,
inúmeros eventos estão associados à transformação de um neurônio normal em um
epiléptico.
De maneira geral, a história natural dos animais tratados com pilocarpina e que
como um fator precipitante das crises espontâneas que ocorrem em fases mais tardias
(CAVALHEIRO et al., 1991; GLOOR, 1991) (figura 3). Dentre as alterações anatomopatológicas evidenciadas nesse modelo, destaca-se a esclerose hipocampal, que
aparece como uma das principais características da ELTM.
, = – Evolução cronológica na Epilepsia do Lobo Temporal em humanos e no modelo