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Influência da pinealectomia na epileptogênese em ratas submetidas ao modelo de epilepsia induzido por pilocarpina

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Academic year: 2017

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Tese apresentada a Universidade Federal de São Paulo –

Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de

(2)

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo –

Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de

Mestre em Ciências

! " # $ % % &' ( " )

(3)

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Profa. Dra. Débora Amado Scerni

(4)

) 4 ( "

Dr. Ivaldo da Silva

Dra. Roberta Monterazzo Cysneiros

Dra. Sandra Regina Perosa

0 !

Dr. Fabiano da Cunha Tanuri

(5)

Esta tese foi realizada na Disciplina de Neurologia Experimental do Departamento de

Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista

de Medicina, durante o curso de pós graduação em Neurologia/Neurociência. Auxilio

(6)
(7)

!

(8)

Agradeço, primeiramente e acima de tudo a 1, que está sempre comigo, orienta minha vida, me dá saúde e paz para buscar meus objetivos, e não me desampara

nunca;

Ao meu marido 4 " , um grande companheiro, que está sempre comigo, mesmo quando ausente, ele se fez presente, atravessou comigo todos os percalços,

me ajudou a retirar todas as pedras, não fraquejou, e não me deixou desistir;

À minha filha " , que trouxe mais amor e alegria para o nosso lar;

Aos meus pais " e 5 , por todo amor, carinho, amizade e educação que dedicaram a mim;

Ao meu irmão 5 / , meu grande amigo e companheiro, e a seu filho que ainda irá chegar, mas já merece todo meu amor;

À minha orientadora Profa. &' , pela oportunidade, pela confiança no meu trabalho, por toda paciência, e principalmente por compartilhar sua experiência

acadêmica comigo;

À , não somente por todo seu apoio e dedicação, mas por algo muito mais valioso,

(9)

mãe, e por estar presente no momento mais especial da minha vida, a chegada da

minha filha. A epigrafe é uma homenagem mais que merecida à você.

À Profa. 3 , pelo apoio e contribuição de seu conhecimento;

Ao Prof. 10 ' 5 / , por contribuir ricamente para a ciência;

Às minhas grandes amigas 7 , por tudo que vivemos, só posso dizer-lhes: se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi... Pra nunca se

esquecer!

Às queridas amigas - 11 " / , pelo companheirismo, afeto e amizade sinceros;

Aos amigos " 7 7 $ 7 , 7 , / 7 7 7 " - ! 7

1! 5 7 8 , pela amizade e apoio ao meu trabalho;

Aos valiosos funcionários do Departamento, 9 " 7 5 " 7 8 / "5 " , pelo apoio constante;

(10)
(11)

:

Dedicatória...vii

Agradecimentos...viii

Lista de figuras...xiv

Lista de tabelas...xv

Lista de Abreviaturas...xvi

Resumo...xviii

;% ! " 3 1.1 Epilepsia ...1

1.2 Epilepsia Catamenial e Disfunção Hormonal ...9

1.3 Melatonina ...27

1.4 Modelos Experimentais de Epilepsia...37

% '< ! 5 2.1 Objetivo Geral...46

(12)

=% ! &! " 1

3.1 Animais...48

3.2 Exame Colpocitológico ...48

3.3 Pinealectomia...49

3.4 Indução do Status Epilepticus...50

3.5 Parâmetros analisados no estudo comportamental...51

3.6 Análise Comportamental quanto a freqüência de crises...51

3.7 Análise histopatológica...52

3.7.1 Perfusão intra-aórtica...52

3.7.2 Método neo-Timm...53

3.7.3 Análise do brotamento axonal das fibras musgosas ...53

3.8 Análise Estatística...54

(13)

4.2 Aspectos comportamentais...57

4.3 Análise histológica...65

4.3.1 Estudo do brotamento das fibras musgosas - neo-Timm...65

?% 1) 11

5.1 Discussão ...67

@% ) 1

6.1 Conclusão ...77

$ A ) 1 ' , B$ ) 1

Referências Bibliográficas...79

(14)

1! " , 1

;* Localização da glândula pineal em humano...27

* Mecanismo de estimulação de secreção de melatonina...28

=* Esquema da evolução cronológica da Epilepsia do Lobo Temporal...44

>* Gráfico relativo ao estudo do ciclo estral...55

?* Gráfico relativo às fases do ciclo estral de ratas pinealectomizadas e/ou que receberam pilocarpina...57

@* Gráfico relativo ao período de latência para ocorrência da primeira crise após administração de pilocarpina...58

C* Gráfico relativo à porcentagem de animais que morreram por crise tônica após injeção de pilocarpina...59

D* Gráfico relativo à porcentagem de animais que evoluíram para o Status

Epilepticus...60

* Gráfico relativo ao período de latência para ocorrência do

Status

Epilepticus...61

; * Gráfico relativo à mortalidade durante Status Epilepticus...62

;;* Gráfico relativo ao período de latência para ocorrência da primeira crise espontânea...63

; - Gráfico relativo à freqüência de crises...64

(15)

1! " ' 1

;* Mecanismo de ação e os efeitos dos esteróides sexuais na excitabilidade neuronal...21

(16)

1! " ' 5 ! 1

ácido caínico

/ acetilcolina

) monofosfato de adenosina cíclico 1 adenosina trifosfato hidroxilase crise parcial complexa

crise parcial simples

droga anti-epiléptica

epilepsia do lobo temporal

epilepsia do lobo temporal mesial

17-beta-estradiol

9hormônio folículo estimulante ácido gama aminobutírico

glutamato

9 hormônio inibidor de gonadotrofina 9 hormônio liberador de gonadotrofina %0% intra peritoneal

9hormônio luteinizante

acetato de medroxiprogesterona

noradrenalina

N-acetiltransferase

(17)

E núcleo supra-quiasmático pilocarpina

F pinealectomia prolactina

pentilenotetrazol

salina

Status Epilepticus

sistema nervoso central

(18)

1 (

A epilepsia é um distúrbio que afeta o Sistema Nervoso Central (SNC), sendo a Epilepsia do Lobo Temporal (ELT) a forma mais freqüente dentre as epilepsias focais em adultos, representando 40% de todos os casos. Sua incidência é de 1-2% da população mundial, com destaque para o sexo feminino por apresentar certas peculiaridades, como ciclo menstrual e período gestacional. Alterações nos níveis dos hormônios sexuais estrógeno e progesterona podem interferir no curso da epilepsia. A produção e liberação destes hormônios são influenciadas pela melatonina, um hormônio sincronizador do ritmo circadiano, e protetor do SNC. Desta forma, uma alteração nos níveis de melatonina poderia interferir na produção dos hormônios esteróides, e influenciar na excitabilidade do SNC. '< ! 5 # estudar o efeito da pinealectomia na epileptogênese em ratas Wistar adultas, com ciclo estral regular, submetidas ao modelo experimental da pilocarpina, através de análise comportamental e morfológica. &! " # 4 grupos: – fêmeas controle (n=5); FG – animais pinealectomizados e que receberam solução salina (n=5); – animais que receberam pilocarpina (n=46); FG – animais pinealectomizados e que receberam pilocarpina (n=47). Os animais do grupo PILO e PNTX+PILO foram vídeo-monitorados por 60 dias após a primeira crise espontânea para estudo dos parâmetros comportamentais e então, perfundidos para técnica de neo-Timm. 1 ! " 1# os animais pinealectomizados apresentaram maior freqüência na fase de estro. Os animais PNTX+PILO tiveram diminuição nos períodos de latência para ocorrência da primeira crise após administração de pilocarpina, para ocorrência do SE e ocorrência da primeira crise espontânea, quando comparado com o grupo PILO. A mortalidade durante o

SE foi maior no grupo PNTX+PILO, no

entanto, a mortalidade por crise tônica foi maior no grupo PILO. Também foi maior no grupo PILO a porcentagem de animais que evoluíram para o

SE. Quanto a

freqüência de crises e ao grau de brotamento de fribras musgosas, não observamos diferença entre os grupos. ) 1 # A pinealectomia além de promover alterações no ciclo estral da rata, de maneira diferente daquela observada em ratas não pinealectomizadas e submetidas ao modelo da pilocarpina, promove uma epileptogênese menos intensa do que aquela vista em machos pinealectomizados, ou até mesmo em fêmeas intactas ou castradas.

(19)

;% H.

;%;

Conhecida desde a antiguidade, a epilepsia foi descrita pelos egípcios e pelos

sumérios 3500 a.C. Antigamente dizia-se que pessoas que sofriam crises epilépticas eram

pessoas possuídas pelo demônio.

Durante toda a nossa história muitas pessoas sofreram com a epilepsia, algumas

personalidades históricas são apontadas como epilépticas e em muitos casos o diagnóstico

conclusivo jamais pôde ser estabelecido, devido a imprecisão clínica e as limitações

tecnológicas da época. Dentre as personalidades podemos destacar alguns nomes como,

Vincent van Gogh, Joana D`Arc, Fiódor Dostoiévski, Júlio César e Machado de Assis

(DANTAS et al., 2008).

Ao longo dos anos a sociedade tem tido diferentes perspectivas dos indivíduos com

epilepsia. Hoje os conhecimentos a cerca da epilepsia são muito maiores que antigamente,

os avanços na medicina e na tecnologia dos diagnósticos permitem estudar a epilepsia com

mais detalhe e tudo isto fez com que a epilepsia passasse de doença sobrenatural a uma

condição neurológica. Contudo, mesmo com todos os avanços tecnológicos, a epilepsia ainda

representa um problema de discriminação, o que provoca dificuldades na educação, no

(20)

A epilepsia não é uma doença ou uma síndrome única, ela engloba numerosas

condições neurológicas e é atualmente definida como um distúrbio crônico do sistema

nervoso central, e tem como característica principal a manifestação de crises epilépticas

espontâneas e recorrentes, sem intervalos previsíveis (GUERREIRO et al., 2000 FONTENELLE & PIRES, 2006).

A crise epiléptica é resultado de uma descarga elétrica excessiva, súbita e geralmente

rápida de um grupo de neurônios que podem estar localizados em qualquer região do

cérebro, acompanhada de manifestações comportamentais, em que os pacientes podem

apresentar uma grande variedade de sinais clínicos (McAMARA, 1994).

A Epilepsia é a condição neurológica mais comum em todo mundo (ENGEL Jr., 1995).

Cerca de 1-2% da população apresenta epilepsia ativa, aproximadamente 50 milhões de

pessoas (DHEW, 1978; JACKSON, 1994; LI e SANDER, 2003), sendo observada em todas as

idades, ambos os sexos, sem distinção de raça ou classe social.

Há uma incidência maior em países em desenvolvimento, embora este fato não

esteja inteiramente esclarecido. Acredita-se que a maior ocorrência da epilepsia em países

subdesenvolvidos esteja relacionada a fatores nutricionais, a falta de assistência médica

adequada e a maior exposição a doenças endêmicas, sabidamente responsáveis por crises

epilépticas recorrentes, como a neurocisticercose e a malária, entre outras (FONTENELLE &

(21)

A incidência anual varia de 20 a 70 casos por 100 mil habitantes e a prevalência é de

4 a 10 casos por mil habitantes (SHORVON, 1990). Nos países em desenvolvimento

estima-se que a prevalência da epilepsia estima-seja em torno de 2%, o que faz supor que existam mais de

três milhões de brasileiros com epilepsia (GOMES, 2000).

GOMEZ et al., (1978), realizaram estudo de campo visando determinar a prevalência dos transtornos convulsivos em Bogotá, e estabeleceram a taxa de prevalência de 19 por

mil, sendo este o único dado epidemiológico relativo à epilepsia na América Latina até 1986.

Neste mesmo ano, MARINO Jr., CUKIERT e PINHO (1986) utilizaram metodologias similares

e realizaram estudos nos quais estabeleceram a prevalência das epilepsias na região

metropolitana de São Paulo em 11,9 por mil habitantes. Números mais expressivos foram

encontrados na Grande Porto Alegre, segundo FERNANDES et al., (1992), onde a prevalência foi de 16,5 e 20,3 por mil habitantes, respectivamente, para epilepsias ativas e inativas.

BORGES et al., (2004) estudando a população urbana da cidade de São José do Rio Preto, no estado de São Paulo, com 336000 habitantes verificaram que a prevalência de

epilepsia foi 18,6/1000 habitantes, sendo 8,2/1000 para epilepsia ativa. A prevalência na

faixa etária acima dos 65 anos foi a mais elevada, compreendendo 32,8/1000 habitantes.

A maioria dos casos de epilepsia se iniciam na infância, principalmente nos

primeiros anos de vida e tal fato se deve as características físicas e químicas do

(22)

aumento das epilepsias em pessoas com idade avançada em função das doenças

próprias da idade (MELO et al., 2006).

As crises podem surgir espontaneamente ou serem desencadeadas por situações

como: febre, distúrbio eletrolítico, intoxicação, doenças degenerativas e alterações

vasculares, infecções cerebrais, traumatismo craniano, tumores cerebrais, trauma durante o

parto (PEDLEY et al., 2000), porém muitas vezes a causa é desconhecida.

A epilepsia é um distúrbio crônico da função cerebral caracterizada pela presença de

crises epilépticas espontâneas e recorrentes que ocorrem na ausência de condição

tóxico-metabólica ou febril, causando conseqüências neurológicas, cognitivas, psicológicas e sociais

(ENGEL Jr, 2001 a).

Segundo GUERREIRO et al., (2000), “crises epilépticas são eventos clínicos que refletem disfunção temporária de um conjunto de neurônios de parte do encéfalo (crises

focais), ou de área mais extensa, envolvendo simultaneamente os dois hemisférios cerebrais

(crises generalizadas)”.

Como a epilepsia não é uma entidade nosológica única, mas advém de várias

condições diferentes que ocasionam disfunção cerebral, alguns preferem o uso do termo no

plural “epilepsias”, mas a Comissão de Terminologia da ILAE preconiza seu uso no singular,

(23)

A Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) propõe a definição de epilepsia baseada

naquela da ultima Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE) de 2005: distúrbio cerebral

causado por predisposição persistente a gerar crises epilépticas e pelas conseqüências

neurobiológicas, cognitivas, psicossociais e sociais da condição, devendo ter ocorrido pelo

menos uma crise epiléptica (GUILHOTO, et al., 2006).

Dentre as formas de epilepsia descritas, a epilepsia do lobo temporal (ELT) é a

mais comum na população adulta, representando cerca de 40% de todos os casos

(GASTAUT

et al., 1975, REGESTA e TANGANELLI, 1999). Ela é classificada em

familiar, sintomática ou provavelmente sintomática, de acordo com a sua etiologia.

Quanto à origem e semiologia das crises, é subdividida em neocortical, lateral ou

mesial (ENGEL Jr, 2001b).

A ELT caracteriza-se pela presença de crises parciais simples (CPS) e crises

parciais complexas (CPC) e apresenta grande importância clínica devido a sua alta

incidência e gravidade. Dentre as síndromes epilépticas refratárias, a ELT é a mais

freqüente, onde 20% dos pacientes mostram-se refratários aos medicamentos

anticonvulsivantes disponíveis no mercado (DANTAS et al., 1998).

A Epilepsia do Lobo Temporal Mesial (ELTM) corresponde a aproximadamente

60% dos casos de ELT. Na maioria das vezes tem seu início na infância tardia ou

adolescência. Há geralmente história prévia de convulsão febril, hipóxia, trauma

(24)

De uma maneira geral, caracteriza-se por crises parciais simples, complexas

ou com generalização secundária (CENDES e KOBAYASHI, 2000), sendo as CPC o

tipo predominante e incapacitante (FRENSHI et al., 1993).

Na maioria dos pacientes, a semiologia ictal consiste em uma aura,

geralmente sensações epigástricas e alterações dismnésticas, seguida por olhar fixo

não responsivo, automatismos oroalimentares, postura distônica da mão

contralateral à descarga ictal e automatismos motores estereotipados da mão

ipsilateral (FRENCH

et al., 1993). A fase pós-ictal inclui desorientação, déficit de

memória recente, amnésia do evento, e afasia em crises que começam no hemisfério

dominante (ENGEL, 1996, GUEDES et al., 2006).

Na ELTM a lesão neuroanatômica mais comumente encontrada é a esclerose

hipocampal, identificada em aproximadamente 65% dos pacientes com ELT refratária

ao tratamento medicamentoso (BABB

et al., 1984; DE LANEROLLE

et al., 1989). A

esclerose hipocampal é caracterizada por gliose e perda celular, principalmente das

células da região CA1 e CA3, e dos neurônios da região hilar, com relativa

preservação de CA2, resultando em cicatrização e atrofia do tecido (BABB

et al.,

1984; BLUMCKE

et al., 1999). Associado à perda neuronal, observa-se também na

esclerose hipocampal uma dispersão das células granulares do giro denteado e a

reorganização sináptica proveniente do brotamento de axônios, por exemplo, das

(25)

Lesões causadas nas estruturas mesiais em decorrência das crises epilépticas podem

comprometer diferentes áreas cerebrais e afetar outros sistemas, como por exemplo a

conexão entre o sistema límbico e o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, comprometendo

a função ovariana, envolvendo tais conexões e alterando a liberação dos hormônios

hipotalâmicos, como o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), causando uma série

(26)

;% H. 9

Na história da humanidade a mulher mais famosa que sofreu provavelmente com a

epilepsia foi Joana D’Arc (1412-1431). Segundo os seus próprios relatos, ela começou a

ouvir vozes aos treze anos, que acreditava serem vozes divinas. Estes sons vinham da

direção da igreja, acompanhadas de claridade e uma sensação de medo. A possibilidade

mais viável seria o diagnóstico de um distúrbio epiléptico, especificamente, sugere-se a

epilepsia musicogênica reflexa, uma vez que os episódios eram geralmente desencadeados

pela audição de sons estereotipados (as badaladas do sino da igreja). Outro possível sintoma

epiléptico sugerido como parte das "visões" de Joana D'Arc: trata-se das auras extáticas,

fenômeno pouco descrito, mais popularizado após as descrições feitas pelo escritor russo

Dostoiévski. Trata-se de uma aura normalmente relacionada à epilepsia do lobo temporal

(DANTAS et al., 2008). Considerada bruxa, Joana D’Arc foi condenada e queimada viva na fogueira, e mesmo com a desmistificação em torno da epilepsia, as mulheres ainda hoje

sofrem com os efeitos causados por esta síndrome.

Pacientes com epilepsia podem apresentar padrões distintos na freqüência e

gravidade dos eventos epilépticos, isto depende de seu histórico e de outros fatores como,

idade, origem da síndrome e sexo. Em pacientes do sexo feminino o ritmo hormonal pode

influenciar na ocorrência das crises epilépticas.

A partir da puberdade, mulheres saudáveis passam a produzir hormônios esteróides,

(27)

hipotalámico-hipofisário-gonadal. O hipotálamo produz o GnRH que controla a liberação dos hormônios

hipofisários LH e FSH e estes por sua vez estimulam as gônadas na liberação dos hormônios

ovarianos estrógeno e progesterona.

Na primeira fase do ciclo menstrual (primeiros 14 dias num ciclo de 28 dias) o FSH

promove o desenvolvimento e a liberação do ovócito, e o LH estimula a secreção de

estrógeno. Na segunda metade do ciclo (14º ao 28º dia num ciclo de 28 dias) o LH estimula

a secreção tanto de estrógeno quanto de progesterona. O pico de estrógeno ocorre por

volta do 14º dia, seguido da ovulação, o pico de progesterona ocorre na segunda metade do

ciclo, por volta do 21º dia. Tanto o estrógeno quanto a progesterona estão em níveis

reduzidos no inicio do ciclo menstrual, considerando o primeiro dia da menstruação como

sendo o inicio do ciclo (MENICONI, 2005).

Em ratos, o ciclo de reprodução é chamado ciclo estral, ele é um evento curto, com

duração de quatro a cinco dias, com fases bem definidas, caracterizada por proestro, estro,

metaestro e diestro, e que podem ser observadas através da citologia vaginal.

A primeira fase do ciclo estral da rata, denominada proestro, ocorre quando o animal

se prepara para o acasalamento, apresentando pico de hormônio folículo estimulante (FSH),

hormônio luteinizante (LH), prolactina (PRL), androgênios, estradiol e progesterona. Seguida

pela fase de estro, onde ocorre a cópula, e na ausência de fecundação, ocorre a terceira

(28)

com invasão leucocitária intensa. A ultima fase é o diestro, quando o endométrio,

novamente, começa a ser preparado para um novo ciclo (SMITH et al., 1975).

Desta maneira, tanto a mulher, quanto a rata apresentam flutuações nas

concentrações plasmáticas dos hormônios sexuais durante o ciclo reprodutor, estas variações

são constantes e perduram por toda idade reprodutiva.

Em mulheres a epilepsia pode ser ainda mais crítica, pois envolve questões

relacionadas ao sexo como, distúrbios de natureza endócrina (BEN HAMOUDA e MABET,

2009), que podem causar amenorréia, oligomenorréia, ciclos menstruais mais curtos ou mais

longos que o normal, ciclos anovulatórios e o desenvolvimento de um fenótipo que lembra a

síndrome de ovários policísticos, além da diminuição do desejo sexual e de problemas de

reprodução e infertilidade (LUEF, 2009; MORRELL, 1991; WEBBER et al., 1986). Estas alterações podem estar relacionadas à disfunção do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal ou

a alteração ovariana (MORRELL et al., 2002).

Existem evidências de que diferentes fases reprodutivas (puberdade, menarca, ciclo

menstrual, gravidez, climatério e menopausa) podem influenciar na freqüência e gravidade

das crises epilépticas (BEM HAMOUDA, 2009; DIAMANTOPOULOS et al., 1986; HERZOG 2009; REDDY, 2009; ROSCIZEWSKA et al., 1986; WOOLEY et al. 1992). Algumas mulheres podem apresentar maior susceptibilidade às crises um pouco antes ou durante a

menstruação. Aproximadamente 1/3 das mulheres com epilepsia apresentam variações na

(29)

hormônios estrogênicos, não contrabalançado pelo efeito neuroprotetor da progesterona

(BEN HAMOUDA e MABET, 2009).

Tais eventos epileptogênicos relacionados ao ciclo menstrual caracterizam a Epilepsia

Catamenial, quando geralmente ocorre um aumento na freqüência e/ou intensidade das

crises (HERZOG, 1997;HERZOG, 2009; MIZIARA, 2005; REDDY, 2009). A palavra catamenial

é de origem grega (Katamenios), que significa mensal.

A Epilepsia Catamenial ocorre em cerca de 40% das mulheres com epilepsia, em que

se verifica o predomínio do hormônio estrogênico sobre a progesterona durante o período

pré ovulatório e/ou pré menstrual (PENOVICH e HELMERS, 2008).

Variações hormonais durante o ciclo menstrual podem alterar a freqüência e

gravidade das crises (PENNELL, 2009). As crises por sua vez, podem ser responsáveis por

alterações no ciclo menstrual (LEUF, 2009).

O agravamento no padrão das crises epilépticas no período pré-menstrual tem sido

atribuído à redução do efeito antiepiléptico da progesterona (MENICONI, 2005).

Por volta dos quarenta anos, a mulher passa a produzir concentrações reduzidas de

hormônios esteróides, sendo esta fase chamada climatério. Aos poucos o organismo

(30)

que é a ocorrência da ultima menstruação. Para HARDEN (2008), mulheres maduras que

sofrem com a epilepsia catamenial são mais suscetíveis à mudanças hormonais, e que

existem evidências de que a freqüência de crises pode aumentar durante o climatério e

diminuir após a menopausa.

Alguns estudos demonstraram que o inicio das crises se dá imediatamente por

ocasião da menarca (LENNOX e LENNOX, 1960). Outros autores evidenciam o aumento na

freqüência de crises durante o climatério (HARDEN, 2008), para outros, a ocorrência da

primeira crise se dá durante a menopausa (ABASSI et al., 1999), mas ROSTE et al.,(2008) sugere que a freqüência de crises pudesse diminuir após a menopausa em mulheres com

epilepsia catamenial. Entretanto, os dados relativos aos efeitos da menopausa sobre a

epilepsia ainda são limitados. De qualquer forma, parece haver uma relação estreita entre

períodos hormonais e epilepsia.

Teoricamente, a diminuição da produção de estrógeno durante o climatério diminuiria

a freqüência de crises, uma vez que o estrógeno é considerado um indutor de crises

epilépticas. Entretanto, a progesterona que age inibindo a excitação também tem sua

produção diminuída.

Mulheres com epilepsia podem apresentar antecipação da menopausa em

comparação com a população geral. Isto demonstra que neste grupo estudado, as crises

(31)

Outro período intrigante neste contexto “hormônio e epilepsia” é a gestação, onde

ocorrem modificações hormonais como aumento de gonadotrofina coriônica, progesterona e

estrógenos (LUEF, 2009).

Existem evidências de mudanças ocorridas no padrão de crises de mulheres

grávidas no primeiro ou terceiro trimestre gestacional, embora não esteja claro na

literatura a existência de um predomínio em algum trimestre da gestação

(LOPES-CENDES et al., 2000). Entretanto, aproximadamente 25% das mulheres apresentam

um aumento no número de crises durante a gestação, sendo algumas das causas a

baixa aderência às medicações, diminuição dos níveis de DAEs devido a modificações

na absorção e metabolismo, privação do sono e estresse (LIPORACE e D’ABREU,

2003). Esses dados estão de acordo com outro trabalho onde foi observado que

cerca de um quarto a um terço das gestantes demonstram uma piora no controle

das crises (TANGANELLI et al., 1992). Porém, um terço delas apresentam diminuição

das crises e outro um terço não tem alteração nesse parâmetro. Provavelmente as

modificações quanto à freqüência de crise pode estar relacionada a mudanças dos

níveis séricos hormonais (KLEIN e HERZOG, 1998).

Se durante a gestação pode haver um aumento na freqüência de crises por

decorrência do aumento nos níveis dos hormônios relacionados à reprodução, estrógeno e

progesterona, a diminuição progressiva destes hormônios durante o climatério também

(32)

Em geral, em mulheres com epilepsia, a ocorrência de crises pode causar alterações

no eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, podendo levar a secreção inadequada de

gonadotrofinas e esteróides ovarianos. O crescimento dos folículos ovarianos sob baixos

níveis de FSH é prematuramente interrompido, resultando em uma anovulação crônica, e

presença de um grande número de folículos formando pequenos cistos, que alcançam o

diâmetro entre 5-8 mm e acumulam-se abaixo da albugínea. Esta se encontra espessada e

os ovários bilateralmente aumentados (LUCA, 2005). No entanto, o ovário policístico é

visualizado em exames de ultra-sonografia de cerca de 22% de mulheres em idade

reprodutiva dentro da população geral, mas só podemos considerar como síndrome do

ovário policístico (SOP) na presença das alterações mencionadas acima. Mulheres com

epilepsia são mais propensas ao desenvolvimento da SOP, devido às alterações hormonais,

acometendo cerca de 20-40% delas (HARDEN, 2005; HERZOG, 2006; LUCA, 2005).

Tem-se observado ainda a ocorrência da SOP em mulheres que fazem uso de

algumas DAEs, como por exemplo, o valproato, com longos períodos sem menstruação e

anovulação (HARDEN, 2005; HERZOG, 200; MENICONE, 2005 e MIKKONEN et al., 2004;). O risco parece ser elevado quando o uso deste medicamento é iniciado na infância ou

adolescência (HERZOG, 2006).

Estes distúrbios sexuais são particularmente comuns em mulheres com ELT (HERZOG,

1989; HERZOG, 1995) pelo envolvimento de estruturas mesiais nesse tipo de epilepsia, e que

estão relacionados a tal disfunção, devido à extensa interconexão entre o córtex límbico e

este eixo. As crises epilépticas podem interromper estas conexões e alterar a liberação dos

(33)

mudanças na esteroidogênese e morfologia ovariana (MORRELL, 2002 e HERZOG et al., 1986).

Segundo MORRELL (1999), a incidência de disfunções sexuais ocorrem entre 14 -

66% das mulheres que tem epilepsia. A interferência das crises epilépticas sobre a liberação

de hormônios do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal pode levar a disfunção sexual de

natureza endócrina, visto que os hormônios gonadais têm um papel importante na excitação

e desejo sexual, tanto em homens quanto em mulheres (MORRELL, 1998). A disfunção

sexual pode ser ainda uma conseqüência indireta, como por exemplo, um efeito adverso do

uso de DAEs (HARDEN, 2008; LUEF, 2009; MATTSON et al., 1985).

Há dois séculos atrás, em 1881, GOWERS já relacionava as crises epilépticas e o ciclo

menstrual de suas pacientes. A origem destas idéias pode ter partido das primeiras

observações clínicas de mulheres com epilepsia (GOWERS, 1881; TURNER, 1907). Hoje

sabemos que há uma estreita relação entre neuroesteroides e os distúrbios que afetam o

SNC. A epilepsia pode ser um destes distúrbios que são afetados pela ação dos

neuroesteroides, da mesma maneira, a própria epilepsia pode ter efeito sobre a ação destes

hormônios.

As observações que relacionam hormônios sexuais e excitabilidade neuronal na ELT

são estudadas com bastante interesse. Neste sentido, a progesterona e o estrógeno

despertam a atenção dos cientistas. Diversos trabalhos vem sendo desenvolvidos a fim de

(34)

da neurociência permitem descobrir quais mecanismos ocorrem durante a atuação dos

hormônios ovarianos no SNC, e como eles podem interferir na ocorrência e na gravidade das

crises epilépticas.

O sistema nervoso tem sido classicamente considerado alvo para os hormônios

esteróides produzidos pelas glândulas esteroidogênicas, pois muitas das funções cerebrais

parecem ser dependentes da ação destes hormônios. Muitos pesquisadores têm concentrado

atenção para o papel dos esteróides neuroativos associados às disfunções como estresse,

envelhecimento e neurodegeneração. Por outro lado, o potencial terapêutico dos esteróides

neuroativos como agentes neuroprotetores tem sido avaliado no sistema nervoso central e

periférico (MELCANGI e PANZICA, 2001).

Os hormônios sexuais são classicamente definidos como mensageiros químicos

secretados no fluxo sangüíneo por glândulas endócrinas, percorrem o corpo através do

sistema circulatório, se ligam a receptores em células alvo específicas localizadas a alguma

distância do seu sítio de secreção, e exercem funções fisiológicas regulatórias sobre essas

células alvo.

O estrógeno e a progesterona são secretados pelos ovários e são liberados dentro do

sistema circulatório. A secreção é controlada por células do hipotálamo e hipófise através de

alças de retroalimentação do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas (WOOLLEY e

SCHWARTZKROIN, 1998). Atuam na célula alvo através de difusão pela membrana da célula e

(35)

ação dos hormônios são: (1) entram na célula, migram para o núcleo e agem como

reguladores da transcrição e moduladores da expressão gênica e (2) agem na membrana da

célula, regulando diretamente os canais iônicos, dependentes de ligantes (SANTOS, 1991).

Os esteróides regulam importantes funções neuronais incluindo a organização dos

circuitos neurais durante o desenvolvimento e a regulação da organização das sinapses no

adulto. Os hormônios esteróides podem promover a sobrevivência e diferenciação dos corpos

celulares e células da glia, regulando a sinaptogênese, induzindo o crescimento axonal e

dendrítico, e tem participação durante a regeneração do sistema nervoso (ARNOLD, 1990;

JONES, 1994 e SCHUMACHER, 1996).

O mecanismo de ação dos esteróides acontece pela modulação da atividade de uma

variedade de receptores de neurotransmissores, como do tipo GABAA, que podem ser

modulados positiva ou negativamente (COVEY et al., 2001), aumentando ou diminuindo a duração e a freqüência da abertura dos canais (MELLON et al., 2001) ou NMDA (N-metil-D-aspartato), agindo em diferentes regiões do receptor e aumentando o cálcio intracelular ou

ainda em canais iônicos de superfície, regulando a abertura dos canais de cálcio, e como

conseqüência, aumentando a sua concentração intracelular (MAJEWSKA, 1992; MELLON,

1994; LAMBERT et al., 1995; JOELS, 1997; RUPPRECHT e HOLSBOER, 1999 a e b).

O cérebro não é somente alvo para a ação dos neuroesteróides, ele pode também ser

(36)

No cérebro dos vertebrados, as células da glia são os maiores sítios de formação e

metabolismo dos neuroesteróides (BAULIEU, 1998; SCHARFMAN e MACLUSKY, 2008).

TSUTSUI et al., (2000), demonstraram que neurônios também são capazes de sintetizar esteróides neuroativos.

Os principais mecanismos de ação e os principais efeitos dos esteróides sexuais

neuroativos na excitabilidade neuronal foram resumidos por HERZOG (1999); RUPPRECHT e

(37)

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Primariamente hipotalâmico e sistema límbico

Primariamente hipotalâmico e sistema límbico

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Catecolestrogênios* Alopregnenolona

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GABA, NMDA, cainato e serotonina

GABA, NMDA, nicotínicos, acetilcolina, glicina, serotonina, cainato, oxitocina

e sigma 1

$ ! 1

4) ! ' " "

-inibição da síntese de GABA

-diminui o número de subunidades dos receptores GABAA

-induz a formação de espinhos dendriticos

-reduz o limiar eletroconvulsivo

-cria novos focos epilépticos quando aplicado topicamente

-aumenta a severidade e duração das crises induzidas quimicamente

-ativa focos epilépticos pré-existentes

-aumenta a síntese de GABA

-aumenta o número de subunidades do receptor GABAA

-inibe crises induzidas por abrasamento, lesão focal e retirada

do álcool

-induz sedação e anestesia

; - Mecanismos de ação e os efeitos dos esteróides sexuais na excitabilidade neuronal

(modificado por HERZOG, 1999; RUPPRECHT & HOLSBOER, 1999; MORREL,

1999)*catecolestrogênios são compostos químicos com duas faces ativas que permitem

interação tanto com catecolaminas como na via dos estrogênios no hipotálamo; modulam a

(38)

localmente no sistema nervoso central pela hidroxilação dos carbonos 2 e 4 (C2 e C4) do

estradiol e podem atuar nos receptores noradrenérgicos, fornecendo uma vasta atuação dos

esteróides

De acordo com os estudos de SCHARFMAN et al., (2007), níveis fisiológicos de estrógeno são suficientes para afetar profundamente a função hipocampal. Ele pode diminuir

o limiar para as crises, pois potencializa a transmissão glutamatérgica e bloqueia a

neurotransmissão GABAérgica (SMITH et al., 1988; SMITH 1989; MURPHY et al., 1998; WOOLLEY e SCHWARTZKROIN, 1998; WOOLLEY, 1999). Em neurônios hipocampais, o

estrogênio potencializa a resposta pós sináptica glutamatérgica (WOOLLEY, 1999), realça a

inflamação e tem seus níveis diminuídos após o inicio da descarga elétrica (PENOVICH, 2008),

além de agir nos neurônios do sistema límbico (WOOLLEY, 2000).

Por outro lado, o efeito anticonvulsivante da progesterona tem sido observado em

diversos modelos de epilepsia agudos e crônicos (JOELS, 1997; BACKSTROM e

ROSCISZEWSKA, 1997; HERZOG, 1999b). Ela afeta a excitabilidade nervosa de maneira

inibitória, retardando a susceptibilidade a inflamação e a diminuição de crises em modelos

animais (PENOVICH, 2008). Além disso, a progesterona pode ser convertida em

alopregnenolona, um composto altamente neuroativo (LEPHART, 1993; MENSAH-NYAGAN et al., 1999; STOFFEL-WAGNER et al., 2000), que parece ser um agente anticonvulsivante mais potente do que a própria progesterona (LANDGREN et al., 1987; FRYE, 1995; KOKATE et al., 1999), agindo como um potente modulador alostérico positivo do complexo receptor GABAA

(39)

Durante várias décadas têm sido observado a relação entre crises epilépticas e

hormônios sexuais, e existem relatos sobre os efeitos proconvulsivantes do estrogênio

(CRAIG, 1966; BACKSTROM et al., 1984), enquanto que a progesterona apresenta efeito anticonvulsivante sobre a atividade epiléptica (JOELS, 1997; BACKSTROM e ROSCISZEWSKA,

1997; HERZOG, 1999b).

Ainda na primeira metade do século passado, em 1942, SELYE mostrou em um de

seus trabalhos experimentais a ação anticonvulsivante que a progesterona exerceu no

cérebro de ratas. Observações clinicas demonstraram uma diminuição das crises epilépticas

concomitante a fase do ciclo menstrual correspondente a altas taxas de progesterona

(ANSELL e CLARKE, 1956; MATTSON et al.1974; SELYE, 1942). Estudos em fêmeas de roedores têm mostrado evidências consistentes de que as crises epilépticas interferem na

regulação da ciclicidade ovariana. Alem disso, a indução de crises em ratas adultas, causam

alteração da função reprodutiva. AMADO e CAVALHEIRO (1998), observaram alterações no

ciclo estral de ratas submetidas ao modelo experimental da pilocarpina e neste estudo os

níveis de progesterona, FSH E LH estavam diminuídos, enquanto os níveis de estradiol

estavam aumentados. SCHARFMAN et al., (2008) também observaram alterações na ciclicidade estral, no entanto, foi verificado aumento nos níveis séricos de testosterona, já os

níveis dos hormônios estradiol, progesterona e prolactina estavam normais. Neste estudo foi

observado também o aumento de cistos ovarianos e ganho de peso corporal em ratas

(SCHARFMAN et al., 2008). A presença de ovários policísticos e ganho de peso também foi observada em mulheres com epilepsia por HAMED (2008).

(40)

Os estudos de MAGUIRE et al.; (2005), mostraram uma relação direta entre os níveis de progesterona e a freqüência de crises epilépticas em ratas. Durante a fase de diestro eles

verificaram um aumento das subunidades δ dos receptores GABAA concomitante ao aumento

de progesterona e nesta fase foi observada diminuição na susceptibilidade às crises. Durante

a fase de estro houve uma redução na expressão das subunidades δ e aumento na

expressão das subunidades γ2. Nesta fase do ciclo, os níveis de progesterona estão

diminuídos e a susceptibilidade às crises estão aumentadas. As mudanças na exitabilidade

neuronal nas diferentes fases do ciclo estral são atribuídas aos efeitos dos neuroesteroides

sobre os receptores GABAA e nas mudanças na expressão das subunidades δ e γ2.

No modelo experimental de epilepsia do lobo temporal induzido por pilocarpina a

expressão da subunidade δ dos receptores GABAA nas células granulares do giro denteado

torna-se progressivamente reduzida (PENG, 2004) e é provável que neste modelo os níveis

de progesterona estejam diminuídos. O aumento na susceptibilidade as crises em modelos

experimentais pode ser observado com a retirada ou inibição do metabolismo da

progesterona (REDDY, 2001; SMITH, 2002 e HERZOG, 2003).

Outros estudos relacionando hormônios sexuais e sistema nervoso central

demonstraram que o estrógeno atua de forma antagônica à progesterona, evidenciando o

seu papel excitatório sobre o sistema nervoso (MATTISON et al., 1981). Estes autores observaram que muitas mulheres têm seu padrão de crises modificado pelas flutuações

hormonais do ciclo menstrual, pois os hormônios ovarianos podem alterar a excitabilidade

neuronal no sistema nervoso central. O estrógeno pode alterar a estrutura e o

(41)

conseqüentemente a suscetibilidade para crises epilépticas. Isto explica o aumento

exacerbado das crises durante as fases do ciclo menstrual em que os níveis de estrógenos

estão elevados. Sabe-se que o estradiol aumenta a densidade dos espinhos dendríticos e de

sinapses excitatórias nos neurônios piramidais da região CA1 hipocampal (WOOLLEY e

McEWEN, 1993; WOOLLEY e McEWEN, 1994). Além disso, aumentama ligação à receptores

N-metil-D-aspartato e a atividade do glutamato, o que pode contribuir para as crises. Já a

progesterona diminui a densidade de espinhos dendríticos na região CA1 do hipocampo e de

sinapses excitatórias (WOOLLEY & McEWEN, 1993). O papel dos neurônios pituitários, tais

como o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), é importante na

determinação do nível estrogênico e de progestágeno nas diversas fases do ciclo.

Nosso laboratório tem se empenhado para esclarecer de que maneira os hormônios

sexuais estrógeno e progesterona influenciam e são influenciados pelas crises epilépticas.

Embora o estrógeno aumente a excitabilidade neuronal, em estudo realizado neste

laboratório, foi verificada a influência dos hormônios sexuais femininos na epilepsia através

da reposição hormonal com medroxiprogesterona (AMP) e 17-beta-estradiol (E2) em ratas

submetidas ao modelo experimental da pilocarpina. Neste trabalho a reposição hormonal

com AMP diminui moderadamente a freqüência de crises e o tratamento com E2 não

modificou o padrão das crises, no entanto, a associação entre os dois hormônios AMP+E2

diminuiu consideravelmente o padrão de crises (VALENTE et al., 2008).

Como podemos notar, a relação entre os hormônios sexuais, SNC e epilepsia são

(42)

A interação entre hormônios sexuais e eventos epilépticos deve ser estudada com

mais detalhe, afim de investigar o envolvimento de outros fatores que possam interferir na

produção e liberação dos esteróides ovarianos, estrógeno e progesterona, uma vez que a

excitabilidade neuronal parece depender não somente da ação destes hormônios, mas

(43)

;%=

Uma substância que merece atenção especial é a melatonina, pois está relacionada

tanto com a produção e liberação de hormônios sexuais, como com a epilepsia.

A Melatonina é um hormônio produzido principalmente pela glândula pineal, uma

estrutura ímpar que em humanos está localizada na parte superior e posterior do diencéfalo

(MACHADO, 2000) (Figura 1). Por muito tempo, o conhecimento da ação da melatonina

esteve restrito ao sistema nervoso central. Contudo, o interesse sobre a ação da melatonina

em outros sistemas do organismo, como o sistema reprodutor aumentou muito nos últimos

anos com a identificação de sítios de ligação da melatonina nas gônadas (SIROTKIN e

SCHAEFFER, 1997) e da caracterização do receptor de melatonina em ovários de ratas

(DUBOCOVICH et al., 2003).

A primeira descrição da glândula pineal foi relatada cerca de 300a.C. por Herófilo,

médico grego de Alexandria. Galeno por sua vez, introduziu o termo Konarium, que em latim refere-se à sua forma cônica, e mostrou que a glândula pineal era constituída de um tecido

diferente do tecido cerebral. No século XVII Descartes alimentou o conceito de que a pineal

seria a “sede da alma humana”, este pensamento foi compartilhado por muitas seitas,

(44)

, ;- Localização da glândula pineal em humano. Fonte:

http://psiquiatriahoje.blogspot.com/

A melatonina (N-acetil-metoxitriptamina) foi o primeiro composto biologicamente

ativo identificado na glândula pineal por LERNER e colaboradores em 1958, trata-se de uma

indolamina, sintetizada a partir do triptofano circulante (WURTMAN e AXEROLD, 1969;

REITER e VAUGHAN, 1988; REICHLIN, 1992).

A via nervosa que determina a produção rítmica de melatonina pela pineal começa na

retina (LEWY et al., 1980; SMITH et al., 1981). As fibras nervosas da retina captam a luminosidade do ambiente e transmitem essa informação, na forma de estímulos elétricos,

para o núcleo supra-quiasmático (NSQ).

Durante o dia, a síntese de melatonina, bem como o fluxo da atividade simpática, são

(45)

de norodrenalina (NA). A ativação dos receptores adrenérgicos α1 e β1 localizados nos

pinealócitos (células da glândula pineal) aumenta a produção de adenosina monofosfato

cíclico (AMPc), ativando a N-acetiltransferase (NAT) que catalisa a síntese da melatonina

(REITER, 1991; ARENDT, 1995). Imediatamente após a sua síntese, a melatonina, ou

N-acetil-5-metoxitriptamina, é liberada na circulação e distribuida para todos os órgãos devido

à sua lipossolubilidade (Figura 2).

, - Mecanismo de estimulação de secreção de melatonina. Fonte:

(46)

A função mais conhecida da melatonina está relacionada com o ritmo circadiano,

onde a mesma sinaliza para o meio interno quando é dia e quando é noite. No entanto,

outras funções importantes no organismo são atribuídas a esta indolamina. Na década de

90, o grupo do Dr. Reiter, no Texas (EUA), apresentou os primeiros indícios de que a

melatonina seria capaz de atuar como antioxidante, uma vez que a mesma é capaz de retirar

radicais livres das células, e estimular a produção de enzimas antioxidantes, como a

glutationa peroxidase (REITER, 1995). Alem disso, tem-se atribuído a melatonina a função

de neuroproteção do SNC (LIMA et al., 2005). Estudos neurofisiológicos in vitro demonstraram que a melatonina causa uma diminuição no influxo de cálcio para o interior

da célula, causando uma diminuição da atividade glutamatérgica, diminuindo com isto a

resposta excitatória neuronal (ESCAMES et al., 2001).

Outro ponto que vem despertando a atenção de pesquisadores são os efeitos da

melatonina na função gonadal. Em ovelhas e em hamsters, a melatonina tem uma ação

pró-gonadotrófica. Já no ser humano, em primatas e em alguns roedores, como o camundongo e

o rato, ela apresenta ação antigonadotrófica, atuando no eixo

hipotalâmico-hipofisário-gonadal (MASANA et al., 2005). Sua ação no hipotálamo controla a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) (TSUTSUI et al., 2000). O GnRH controla a fisiologia e o comportamento reprodutivo de animais vertebrados, estimulando a síntese e a liberação de

gonadotrofinas.

Tem sido descrito na literatura a relação da melatonina com outros hormônios,

inclusive os esteróides. Uma evidência da relação entre tais hormônios se dá pela ocorrência

(47)

glândula pineal (ERLICH e APUZZO, 1985). Outro fato que relaciona estes hormônios é a

identificação dos sítios de ligação da melatonina (SIROTKIN e SCHAEFFER, 1997) e da

caracterização de seus receptores em ovários de ratas (DUBOCOVICH et al.; 2003), além de altas concentrações de melatonina no liquido do folículo pré ovulatório (RONNBERG et al.; 1990) e de receptores de melatonina do tipo MT1 e MT2 nos folículos ovarianos humanos

(VIJAYALAXMI et al.; 2002).

Na espécie humana, a maior concentração de melatonina ocorre durante a infância,

caindo rapidamente antes do início da puberdade e sofrendo nova queda acentuada durante

a senilidade (LANGER et al., 1997). É provável que essa queda na produção de melatonina estimule o hipotálamo a secretar e liberar o GnRH, levando a um aumento na produção dos

hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH), e conseqüente produção dos

hormônios ovarianos estrógeno e progesterona. Desta forma, o início de declínio na

produção de melatonina pela pineal estaria associado ao processo de desencadeamento da

puberdade.

Recentemente, um novo hormônio sexual foi descrito na literatura, o Hormônio

Inibidor de Gonadotrofina (GnIH). O GnIH é um neuropeptídio hipotalâmico, que foi

identificado no núcleo paraventricular e na eminência mediana do cérebro de codorniz, e

atua na glândula pituitária, controlando a liberação de GnRH (TSUTSUI et al., 2000).

A melatonina pode também ter participação na produção e liberação do GnIH. Em

(48)

GnIH. A expressão do mRNA de GnIH assim como a produção do peptídeo diminuíram com a

ausência de melatonina através da pinealectomia, por outro lado, a expressão do mRNA de

GnIH, bem como a produção do peptídeo foram elevados após a administração de

melatonina exógena.

Em pesquisa recente, MADDINENI et al., (2008), verificaram a expressão do mRNA de GnIH no ovário de galinha. Neste estudo eles observaram que a quantidade de mRNA de

GnIH era significativamente menor em ovário de galinhas sexualmente maduras, em relação

ao ovário de galinhas sexualmente imaturas, demonstrando uma ação inibitória do GnIH no

desenvolvimento folicular ovariano. Estes autores também verificaram que os níveis de

mRNA de GnIH diminuíram com a administração de estradiol (E2) e progesterona,

reforçando o provável envolvimento do GnIH sobre o desenvolvimento folicular ovariano.

Neste mesmo contexto, outro grupo de pesquisadores demonstraram a atuação do GnIH

sobre o sistema reprodutor de galinhas através da administração de uma dose fisiológica de

GnIH, que diminuiu os níveis séricos de LH e inibiu a solicitação de cópula, sem afetar a

atividade locomotora (BENTLEY et al., 2006).

Diversos estudos vêm tentando demonstrar o papel da melatonina na secreção de

FSH e LH. A maioria dos trabalhos reporta que a melatonina atuaria no hipotálamo, afetando

a produção do GnRH, no entanto, alguns trabalhos sugerem que a melatonina poderia atuar

diretamente na glândula pituitária (ERLICH e APUZZO, 1985). A modulação da

esteroidogênese ovariana pela melatonina (MASANA et al.; 2005), principalmente na produção de progesterona é uma evidência da ação direta da melatonina nos ovários e no

(49)

evidência da ação da melatonina nas gônadas é a observação do aumento deste hormônio

em distúrbios endócrinos como a síndrome dos ovários policísticos (VOORDOUW et al., 1992).

A influência da melatonina na maturação sexual foi demonstrada por FISKE

(1941), na regulação do ciclo estral e hipófise de ratas mediante a exposição à

luz, verificando um aumento de FSH, ao contrário das ratas submetidas à ausência

de luz onde foi observada uma diminuição de FSH e aumento de LH.

Ao administrar melatonina diariamente, WURTMAN (1963) verificou alteração no ciclo

estral de ratas com a diminuição da ocorrência da fase de estro e redução do peso ovariano.

O efeito oposto foi observado após exposição das ratas a luz constante.

SOARES Jr. (2003), e DARDES et al., (2000), também observaram um aumento da fase de estro em ratas pinealectomizadas. Os estudos de PRATA-LIMA et al., (2004), mostraram ainda que, 60 dias após a pinealectomia as ratas permaneceram em estro

permanente, e apresentaram reversão espontânea 100 dias após a cirurgia.

Além de desregular o ciclo estral, a diminuição de melatonina pode ter outros efeitos

sobre o sistema reprodutor feminino. Em estudos experimentais com ratas e hamster a

diminuição dos níveis de melatonina através da pinealectomia levou à abertura vaginal e

maturação da função gonadal precoces, hipertrofia ovariana e aumento da cornificação das

(50)

et al.; 1963; HOFFMAN e CULLIN, 1975). Estes efeitos podem ser revertidos através da administração de melatonina exógena. A diminuição da melatonina também pode diminuir a

implantação embrionária e interferir na gestação (TEIXEIRA et al.; 2004).

Em experimentação, a diminuição nos níveis de melatonina causada pela

pinealectomia parece ser responsável pelas alterações no ciclo estral e na liberação de

hormônios sexuais femininos devido a uma provável mudança no balanço natural destes

hormônios, interferindo em diversos processos fisiológicos e conseqüente efeito sobre o

sistema nervoso central. Desta forma, modelos in vivo são fundamentalmente importantes para elucidarmos estas e outras questões relacionadas à epilepsia e aos distúrbios hormonais

envolvidos nesta síndrome.

Um trabalho realizado por nosso grupo mostrou que ratos machos pinealectomizados

e submetidos ao modelo experimental da pilocarpina apresentaram diminuição na latência

para ocorrência da primeira crise espontânea, aumento da freqüência de crises na fase

crônica do modelo, evidenciando a ação neuroprotetora da melatonina endógena contra a

excitotoxicidade causada pelo Status Epilepticus (LIMA et. al., 2005).

A melatonina tem uma ação dinâmica em várias glândulas e sistemas do organismo.

Ela parece ter participação na produção e liberação de todos os hormônios envolvidos na

reprodução, além de atuar também no SNC com ação neuroprotetora e antioxidante. Desta

(51)

somente ao ciclo sono/vigília, mas em outras funções importantes, como reprodução, e

conseqüente prejuízo ao sistema nervoso.

Diante de tantas evidências sobre as diferentes atuações da melatonina no organismo

podemos notar o quanto este hormônio é importante e merece a devida atenção e

investigação para, que possamos assim, melhor entender sua participação e mecanismos de

ação em diferentes processos.

;%> F

Para compreendermos melhor a fisiopatologia da epilepsia do lobo temporal é

necessário o uso de modelos experimentais que possam reproduzir as

características deste distúrbio, tais como: foco epiléptico no sistema límbico, um

foco inicial das crises, o período chamado latente, e a presença de esclerose

hipocampal que conduz a reorganização de redes neurais. Muitas destas

características podem ser reproduzidas em roedores através de alguns modelos

experimentais de epilepsia do lobo temporal tais como o do abrasamento, do

(52)

;%>%; JK " ,L

O modelo conhecido como Abrasamento (Kindling), foi descrito por

GODDARD (1967) e se assemelha à epilepsia parcial complexa humana. Ele

observou que a estimulação elétrica repetitiva e de baixa intensidade, aplicada em

certas estruturas cerebrais, levava ao aparecimento progressivo de crises

comportamentais e eletrográficas, que crescem em complexidade e se alastram,

induzindo crises motoras generalizadas e uma permanente susceptibilidade a

crises epilépticas. Este modelo é, sobretudo, um modelo de plasticidade nervosa

ligada à epilepsia, que confere grande validade quanto à extrapolação dos

achados em animais, para o ser humano. Os parâmetros de estimulação foram

definidos por GODDARD

et al., (1969) e a obtenção do abrasamento varia de

acordo com as estruturas estimuladas e com a espécie animal.

A evolução do processo de abrasamento segue um padrão característico

bem definido e tem sido estudado por diferentes pesquisadores (RACINE, 1978 ;

RACINE

et al., 1975). Animais submetidos ao abrasamento podem desenvolver

convulsões clônicas com quedas, que duram vários segundos. Em outros, podem

aparecer crises espontâneas, mas esse aspecto é muito discutido, considerando-se

que essas crises desaparecem após períodos longos sem estimulação elétrica

(McNAMARA

et al., 1993). Estudos realizados em animais que foram submetidos

ao abrasamento evidenciaram alterações eletrofisiológicas variadas tais como,

(53)

alterações na expressão e função dos receptores do tipo NMDA (GILBERT, 1988;

JONES, 1989), respostas sinápticas anormais (YAMADA, 1991) e alterações nos

mecanismos extracelulares de tamponamento de íons potássio extracelular

(GEULA et al., 1988; HEINEMANN et al., 1990).

As alterações estruturais e funcionais persistem por um longo período e

são compatíveis com a epilepsia do lobo temporal (ELT). Porém, essas alterações

não são tão evidentes como as observadas em outros modelos de ELT (SUTULA,

1990).

O abrasamento pode também ser obtido através de estimulação química

repetida, utilizando-se drogas como fluorotil, pentilenotetrazol (PTZ), lidocaína,

cocaína e álcool (PRINCHARD et al., 1969; MASON e COOPER, 1972).

;%>% : M J L

SHINOZAKI et al., (1970), estudando os efeitos fisiológicos de certos

anti-helmínticos, demonstraram o efeito neurotóxico de um análogo do

neurotransmissor glutamato (GLU) no SNC de mamíferos, principalmente no

hipocampo (OLNEY et al., 1979; COYLE et al., 1980; FISHER et al., 1989).

O ácido caínico (AC - em japonês – o fantasma do mar), foi isolado da

(54)

(1970), descreveram o ácido caínico como uma potente neurotoxina, de ação

excitatória muito potente, produzindo descargas neuronais prolongadas, que

culminam em

status epilepticus (SE) e é capaz de lesar corpos celulares e

dendritos. Apesar da injeção não lesar as fibras de passagem, pode-se observar

que são lesados corpos celulares de núcleos cerebrais distantes do local da

injeção, que pode ser explicada pela intensa atividade epiléptica (BEN-ARI

et al.,

1980). Esta conclusão parte do princípio de que a administração de drogas

anticonvulsivantes reduz ou elimina as crises, evitando lesões à distância, sem

afetar as lesões locais (BEN-ARI et al., 1979; BEN-ARI et al., 1980).

NADLER et al., (1978) observaram que a injeção intraventicular de ácido

caínico produz crises comportamentais, acompanhadas de lesão cerebral, que se

assemelha à ELT em humanos. O

status epilepticus é seguido por um período

latente, onde a única alteração observada é um comportamento agressivo, com

posterior período crônico caracterizado pela presença de crises espontâneas e

recorrentes (CAVALHEIRO et al., 1982).

O dano neuronal induzido pela aplicação sistêmica (BEN ARI et al., 1981;

SPERK et al., 1983) ou local (BEN ARI, 1978; CAVALHEIRO et al., 1983) de ácido

caínico é mediado por mecanismos excitotóxicos induzidos por ativação de

determinados receptores dos aminoácidos excitatórios (COYLE, 1987). Esta ação

excitatória também foi verificada por LUCAS e NEWHOUSE (1976). Embora o

(55)

considerado um bom modelo de ELT mas apresenta limitações, pois pode ocorrer

remissão das crises espontâneas.

;%>%= J L

Dentre os modelos de epilepsia, o modelo da pilocarpina tem sido

amplamente usado em função da facilidade técnica e, principalmente, pelas

semelhanças fisiopatológicas encontradas com a epilepsia do lobo temporal humana.

Desde o início do século passado, neurologistas como, LANGLEY (1901) e

LANGLEY e KATO (1915), já admitiam o envolvimento de mecanismos colinérgicos na

epilepsia. Mais tarde, na primeira metade do século vários autores (SJOSTTRAND,

1937; MILLER

et al.,1938; CHATFIELD e DEMPSEY, 1943; BRENNER e MERRITT,

1942) demonstraram experimentalmente, durante o eletrocorticograma a ação

convulsivante da acetilcolina (ACh) e da fisostigmina, um inibidor da

acetilcolinesterase, enzima responsável pela hidrólise da acetilcolina. A possível

relação da ACh com o fenômeno epiléptico foi confirmada em estudos onde a

administração cerebral de ACh, seus análogos e precursores ou inibidores de

acetilcolinesterase, resultava em intensa atividade epiléptica (GROSSMAN, 1963;

MACLEAN e DELGADO, 1953).

TURSKI

et al., (1983), demonstraram que a pilocarpina, um alcalóide de

(56)

jaborandi, age sobre receptores colinérgicos muscarínicos e é um potente agente

convulsivante, que após injeção intra-amigdaliana ou sistêmica, em altas doses,

provoca lesões por todo o prosencéfalo. Posteriormente, através de injeção

sistêmica, foi observado que a pilocarpina resulta em uma série de alterações

comportamentais (TURSKI et al., 1986).

Em ratos adultos (CAVALHEIRO et al., 1991), após a administração intra-peritoneal (i.p.) de pilocarpina na dose de 320-380mg/kg, se desencadeia, seletivamente, uma

seqüência de distúrbios convulsivos e eletroencefalográficos, que podem ser divididos em

três fases comportamentais bastante distintas: aguda, silenciosa (latente) e crônica.

A fase aguda começa poucos minutos após a administração da droga e se caracteriza

por acinesia, automatismos faciais com salivação, tremor generalizado, clonias de cabeça e

patas anteriores, elevação sobre as patas posteriores, seguido de quedas e crises

generalizadas que se repetem a cada 2-8 minutos. Cerca de 40 minutos após a injeção da

droga, os animais evoluem para status epilepticus (SE), uma condição que dura de 12 à 18 horas. A recuperação total do animal sobrevivente ao insulto se estabelece dentro dos 5 dias

que seguem a administração de pilocarpina e é denominada de fase silenciosa. Esta fase se

estabelece após a recuperação clínica e comportamental do animal, tendo esta condição uma

duração variável (4 - 44 dias) e que termina com a ocorrência da primeira crise espontânea,

(57)

Na fase crônica observa-se a presença de crises espontâneas e recorrentes de origem

límbica, que se manifesta eletrograficamente por atividade paroxística, que se inicia

principalmente no hipocampo e depois se propaga para o córtex e outras estruturas.

Histopatologicamente, a região hipocampal é uma das estruturas mais lesadas,

evidenciando-se já no final da fase aguda, uma extensa degeneração das células piramidais

hipocampais da região CA1 e CA3. Também ocorre morte das células musgosas da região

polimórfica do giro denteado, (TURSKI et al., 1983), permanecendo preservados os interneurônios GABAérgicos (CAVALHEIRO et al., 1990). O brotamento supragranular das fibras musgosas no giro denteado, que é característico do tecido epiléptico humano (BABB et al., 1991), também é evidente na fase crônica deste modelo(MELLO et al., 1993).

Além disso, foi observado um aumento na concentração de diferentes

prostaglandinas em todas as três fases do modelo (NAFFAH-MAZZACORATTI et al., 1995), mudanças na atividade da enzima ATPase de membrana (Fernandes et al., 1996), aumento na liberação de glutamato (CAVALHEIRO et al., 1994) que, por sua vez, está associado à excitotoxicidade e morte neuronal em estruturas límbicas e em várias regiões encefálicas

(MELDRUM, 1991), dentre outras. Estes dados indicam que a excitotoxicidade, assim como a

inflamação, são fenômenos que podem influenciar a epileptogênese neste modelo e que,

inúmeros eventos estão associados à transformação de um neurônio normal em um

epiléptico.

De maneira geral, a história natural dos animais tratados com pilocarpina e que

(58)

como um fator precipitante das crises espontâneas que ocorrem em fases mais tardias

(CAVALHEIRO et al., 1991; GLOOR, 1991) (figura 3). Dentre as alterações anatomopatológicas evidenciadas nesse modelo, destaca-se a esclerose hipocampal, que

aparece como uma das principais características da ELTM.

, = – Evolução cronológica na Epilepsia do Lobo Temporal em humanos e no modelo

Referências

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