ARSÊNICO EM NERVOS PERIFÉRICOS NORMAIS DO HOMEM
ABRÃO ANGHINAH*; FRANCISCO B . DE JORGE**; FRANCISCO FORTI***; ANTONIO F . FERRARI***
A inclusão do arsênico inorgânico entre os constituintes normais do organismo humano foi durante muitos anos motivo de controvérsias entre vários toxicologistas. A opinião da maioria dos pesquisadores foi sintetizada por K u n k e l em 1899 (cit. Ecker e K e r n o h a n2
) , que considerava sem valor significativo (milésimos de miligramas em u m dado órgão) a quantidade de arsênico habitualmente encontrada nos vários tecidos do organismo humano normal.
A s referências bibliográficas (Alexander e M y e r s o n1
, M c l l w a i n5
, Lowen-t h a l4
) , salvo alguma omissão de nossa parte, dizem respeito a dosagens realizadas na urina, cabelos, unhas, derma e cérebro, nada constando a propósito de pesquisas realizadas em nervos periféricos do homem.
O presente trabalho constitui u m a contribuição para o conhecimento do conteúdo de arsênico inorgânico nos nervos cubtial e tibial anterior de indi-víduos sem afecções neurológicas. Acreditamos que tal estudo servirá de base para a interpretação de dados relacionados com o conteúdo deste elemento em nervos periféricos de pacientes com polineuropatia arsenical.
M A T E R I A L E MÉTODOS
Durante a realização de necropsias, foram excisados fragmentos de nervos peri-féricos (10 de nervo cubital e 10 de nervo tibial anterior) em 20 cadáveres, antes de decorridas 24 horas após o óbito. Destes, 13 pertenciam ao sexo masculino e 7 ao sexo feminino, com idades variando entre 19 e 68 anos.
As causas determinantes do óbito foram as seguintes: em 6, politraumatismos; em 4, traumatismos cranianos; em 2, hemorragia interna pós-traumática; em 2, enfarte do miocardio; em 2, afogamento; em 1, intoxicação por gás de rua e, em 1, asfixia pós-enforcamento.
Trabalho realizado na Clínica Neurológica (Prof. H. M. Canelas) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: * Assistente; ** Chefe de Laboratório da Fac. Med. Mogi das Cruzes; *** Residente.
Os espécimes foram secados a 105°C em estufa até se conseguir peso constante. Os tecidos secos foram incinerados em forno-mufla regulado potenciometricamente a 55C° durante aproximadamente 12 horas (durante a noite). Para a determinação do arsênico inorgânico preparou-se solução das cinzas com ácido clorídrico con-centrado. As quantidades de arsênico foram determinadas pelo método de Kingsley-Schaffert3
.
R E S U L T A D O S
O método empregado demonstrou que, em 20 espécimes de nervos periféricos aparentemente normais (10 de nervo cubital e 10 de nervo tibial anterior), foram encontrados traços indosáveis (sem valor significativo) de arsênico inorgânico.
S U M M A R Y
Inorganic arsenic in normal human peripheral nerves
A s a c o n t r i b u t i o n t o t h e k n o w l e d g e o n i n o r g a n i c a r s e n i c c o n c e n t r a t i o n in p e r i p h e r a l n e r v e s , a s t u d y w a s c a r r i e d o u t in 20 n e r v e f r a g m e n t s ( 1 0 f r o m n. u l n a r i s a n d 10 f r o m n. t i b i a l i s ) e x c i s e d d u r i n g n e c r o p s y f r o m 20 c o r p s e s less t h a n 24 h o u r s a f t e r d e a t h a n d s h o w i n g n o a p p a r e n t d i s e a s e o f t h e n e r v o u s s y s t e m . T h e s a m p l e s w e r e a s h e d in a n o v e n o v e r n i g h t a t 5 5 0 ° C . T h e a s h e s w e r e d i s s o l v e d in a k n o w n v o l u m e o f 2 N - H C 1 . I n this s o l u t i o n i n o r g a n i c a r s e n i c w a s d e t e r m i n e d b y t h e K i n g s l e y - S c h a f f e r t m e t h o d . T h e r e s u l t s r e v e a l e d n o s i g n i f i c a n t c o n c e n t r a t i o n s ( v e s t i g e s ) o f i n o r g a n i c a r s e n i c in t h e p e r i p h e r a l n e r v e s .
R E F E R Ê N C I A S
1. ALEXANDRE, L. & MYERSON, A. — Minerals in normal and in pathologic brain tissue, studied by micro-incineration and spectroscopy. Arch. Neurol. Psychiat. (Chicago) 39:131, 1938.
2. ECKER, A. D. & KERNOHAN, S. W. — Arsenic as a possible cause of subacute encephalomyelitis. Arch. Neurol. Psychiat. (Chicago) 45:24, 1945.
3. KINGSLEY, G. R. & SCHAFFERT, R. R. — Microdetermination of arsenic and its application to biological material. Anal. Chem. 23:914, 1951.
4. LOWENTHAL, A. — The metals of the human system. In Tedeschi, C. G. — Neuropathology, Methods and Diagnosis. Little-Brown, Boston, 1970, pp. 769-778.
5. McILWAIN, H. — Biochemistry and Central Nervous System. Churchill, London, ed. 3, 1966, p. 28.
