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Prevalência de transtornos oculares na população de idosos residentes na cidade de Veranópolis, RS, Brasil.

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Academic year: 2017

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Prevalence of ocular diseases in a population of elderly residents of the city of

Veranópolis, Brazil

Trabalho realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

* Doutor em Medicina e Professor Regente da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Porto Alegre (RS).

Endereço para correspondência: Av. Juca Batista, 1200/37 - Porto Alegre (RS) CEP 91770-000 E-mail: f.romani@terra.com.br

Recebido para publicação em 04.06.2004 Versão revisada recebida em 15.06.2005 Aprovação em 16.06.2005

Nota Editorial: Depois de concluída a análise do artigo sob sigilo editorial e com a anuência do Dr. Haroldo Vieira de Moraes Jr. sobre a divulgação de seu nome como revisor, agradecemos sua participação neste processo.

Flávio Antônio Romani*

INTRODUÇÃO

A perda da visão, uma das causas mais incapacitantes para o ser humano, tem uma relação muito estreita com a senilidade. As estruturas oculares sofrem, de uma forma acumulativa, os inúmeros danos metabólicos e ambien-tais, através dos anos. Com isto, as formas mais comuns de patologias oculares são mais freqüentes e mais debilitantes nos idosos. A baixa visual é considerada uma queixa freqüentemente não referida na população idosa(1).

Sabe-se que os idosos que enxergam melhor sofrem menos quedas, cometem menos erros com medicações, apresentam menos depressão e menor isolamento social, são mais independentes e têm melhor qualidade de vida em suas casas, com menos perturbações emocionais, as quais, quando presentes, são atenuadas pela assistência médica adequada(2).

Por outro lado, apenas 50% dos médicos generalistas sabem que os seus pacientes têm baixa de visão(3), e que existem fortes evidências epide-miológicas de que um considerável número de doenças oculares não são detectadas nos idosos dentro da sua comunidade(3), e que eles não chegam aos hospitais e às clínicas especializadas(4-5) devido à falta de programas de educação social e assistência médica adequada(6).

Os idosos tendem a minimizar a sua deficiência visual(7), e doenças

idosos residentes na cidade de Veranópolis, RS, Brasil

Descritores: Catarata; Cegueira; Degeneração macular, Presbiopia, Ectrópio; Idoso

Objetivo: Avaliar os transtornos oculares e a sua prevalência em pessoas

com 80 anos de idade, ou mais, na cidade de Veranópolis, Rio Grande do Sul, Brasil. Métodos: 187 idosos foram submetidos a exame oftalmológico por meio de inspeção externa, motilidade extrínseca, medidas de acuidade visual para longe e perto, tonometria de aplanação, biomicroscopia, cicloplegia, fundoscopia direta e esquiascopia estática. Resultados: As doenças mais prevalentes foram: presbiopia em 173 (92,5%) pacientes, catarata em 160 (85,6%), ectrópio senil em 130 (69,5%), hipermetropia em 130 (69,5%) e a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) em 59 (31,5%). Na população estudada, 85 (45,4%) pacientes apresentaram baixa visual acentuada cujas causas principais eram a catarata em 46 (54,1%) e erros de refração em 16 (18,9%) dos idosos. A principal causa de queixas dos idosos foi relacionada com a presença de ectrópio senil. Conclusão: Doenças comuns como a catarata e os erros de refração continuam a ser um desafio para os oftalmologistas, pois são importantes causas de dificuldade visual nos idosos, com conseqüente perda de qualidade em suas vidas.

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relativamente raras em jovens ocorrem regularmente nos ido-sos, devendo serem presumidas como típicas da idade avan-çada(8). As taxas de cegueira e baixa visual aumentam, dramati-camente, com o aumento da idade. Os problemas visuais em pessoas acima dos 80 anos são de 15 a 30 vezes maiores do que entre pessoas de 40 a 50 anos(9).

São fatores considerados importantes relacionados à per-da visual, a iper-dade, o sexo, a profissão, a geografia e o clima(10). A exposição solar também é citada aumentando as degenera-ções maculares senis(11), e o uso de chapéu e óculos proteto-res é recomendado. É consenso que os homens approteto-resentam, mais freqüentemente, incapacitação visual, talvez devido a exercerem profissões que os exponham a condições visuais de maior risco. Também a prevalência de cegueira teria uma forte relação com a idade, aumentando consideravelmente com o aumento desta(10).

O aspecto social e econômico também tem importância na saúde ocular do idoso, como bem demonstra o trabalho que estudou a prevalência e as causas de baixa de visão na Itália. Este estudo populacional constatou que a prevalência de cegueira, em indivíduos com mais de 74 anos que vivem em piores condições socioeconômicas, no sul do país, foi cerca de três vezes maior (0,78%) que a taxa encontrada na popula-ção idosa e rica do norte do país (0,28%)(4).

Outro fator a considerar na qualidade visual do idoso é que, dependendo do grau de desenvolvimento socioeconômi-co do país, alteram-se as etiologias mais prevalentes. De ma-neira geral, em países com pleno desenvolvimento, predomi-nam as causas degenerativas retinianas que não respondem a tratamento, enquanto que nos países subdesenvolvidos e miseráveis, predominam as lesões corneanas por deficiência alimentar, infecções, traumas, erros de refração e catarata, isto é, causas perfeitamente preveníveis e tratáveis(10,12-13).

Com o avançar da idade, encontram-se, além da presbiopia, a diminuição da sensibilidade aos contrastes, a diminuição da adaptação claro-escuro, a demora da recuperação aos ofusca-mentos(2), e a diminuição da sensibilidade às cores(14).

Embora a catarata seja uma patologia com diagnóstico muito fácil e simples, ainda é a principal causa de deficiência visual relacionada ao envelhecimento, sobretudo nos países em de-senvolvimento e nos subdesenvolvidos. As dificuldades so-cioeconômicas, a falta de educação e informação e as dificulda-des na assistência médica especializada são os principais fato-res a contribuir para esta calamitosa situação(12,15-16).

A prevalência de catarata, mesmo nos países desenvolvi-dos, aumenta significativamente com o aumento da idade. No importante Beaver Dam Eye Study tem-se esta idade-depen-dência determinada(17).

Outra importante causa de alteração visual no idoso é a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) a qual é considerada a causa principal de baixa de visão e cegueira nos países desenvolvidos(18-19). Nos Estados Unidades da Améri-ca (EUA) e Reino Unido, a DMRI é a principal Améri-causa de cegueira e baixa severa de visão entre as pessoas idosas(18,20). A prevalência de DMRI aumenta com a idade (Mitcheli et

al., 1995 e Hirvellä et al., 1996)(21-22). Dougherty(23) cita a preva-lência de DMRI, na Califórnia, de 20,7%, também aumentando com a idade.

A população dos EUA, com mais de 65 anos, atingirá, nos próximos 30 anos, cerca de 17% da população em geral. O número de pessoas com 85 anos de idade, ou mais, será maior do que o dobro da atual, e a DMRI é a causa principal de cegueira em pessoas idosas com mais de 65 anos(24).

A presente pesquisa procurou contribuir para o conheci-mento da epidemiologia dos transtornos oculares em nossas comunidades, estudando estas patologias em uma população de idosos, de uma cidade brasileira.

MÉTODOS

A população de longevos de Veranópolis vem sendo objeto de estudos pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pon-tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e o presente trabalho incorpora-se a este estudo, retratando a si-tuação de saúde ocular destes habitantes com 80 ou mais anos de idade.

Delineamento

Estudo descritivo, de corte transversal, com base popula-cional.

Amostra

200 pessoas com 80 anos de idade ou mais, representando 88,5% da população total com idade acima de 80 anos, da cidade de Veranópolis, RS, Brasil.

Coleta de dados

A avaliação dos idosos foi realizada em consultório oftal-mológico localizado na cidade de Veranópolis, pelo mesmo examinador, em conjunto com o Instituto de Geriatria e Geron-tologia da PUCRS. Dos 200 pacientes que faziam parte do projeto, 187 (93,5%) foram examinados oftalmologicamente.

Métodos diagnósticos

O exame oftalmológico constou de inspeção externa, medi-das de acuidade visual (AV) para longe e perto, com a corre-ção óptica usada no momento do exame e sem correcorre-ção, estu-do da motilidade extrínseca, tonometria de aplanação, dilata-ção pupilar, fundoscopia direta, esquiascopia estática e biomi-croscopia.

As alterações oculares externas foram diagnosticadas através da inspeção visual desarmada e sob o biomicroscópio. As medidas da AV foram tomadas através de quadro ilu-minado de optotipos (tabela de Snellen) a 5 metros de distân-cia, e através da tabela de Snellen para perto, na distância de 33 cm. As medidas foram tomadas, com e sem correção óptica, individualmente, em cada olho, para longe e perto.

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As medidas da pressão intra-ocular foram realizadas com tonômetro de aplanação manual de Perkins, após o uso de 1 gota de colírio anestésico (cloridrato de proximetocaína 0,5% -Anestalcon®) e fluoresceína em bastonetes (Frumtost S.A.).

O estudo das alterações retinianas foi feito através de fundoscopia direta com oftalmoscópio Welch Allyn de luz halógena, após midríase obtida pela instilação de tropicamida 0,5% (Alcon), 1 gota em cada olho, 2 vezes, instilada com um intervalo de 5 minutos.

Critérios diagnósticos

O diagnóstico de catarata foi obtido através da biomicros-copia, sendo considerada como tal, qualquer alteração da transparência normal do cristalino, desde as mais tênues até as mais densas.

O diagnóstico de DMRI foi presuntivo, levando-se em conta a presença de drusas, lesões maculares exsudativas e/ou atróficas, observadas através da fundoscopia direta sob midríase e com baixa visual conseqüente.

RESULTADOS

Dos 200 idosos, 187 (93,5%) foram submetidos ao exame oftalmológico. Os 13 (6,5%) pacientes restantes não compare-ceram à consulta. Dos participantes, a maioria era do sexo feminino (63,6%). Quanto à idade, predominavam os pacientes de 80 a 85 anos (Tabela 1). Em relação ao último exame oftalmo-lógico realizado, 16 (8,6%) deles, ocorreu no último ano, e 71 (38,0%) deles nunca haviam sido examinados oftalmologica-mente (Tabela 2).

Através da inspeção externa, foram diagnosticadas altera-ções oculares e palpebrais, algumas severas e outras não. Mui-tos deles tinham doenças associadas. Destacou-se o ectrópio palpebral, presente em 130 indivíduos (69,5%) do estudo.

As medidas de AV para longe e perto encontradas, com ou sem correção óptica, mostraram que 120 (64,1%) dos idosos apresentavam uma visão de J3 ou mais para perto e que 110 (58,8%) dos passíveis de medida apresentavam uma AV de 0,7 ou mais para longe.

O exame de motilidade ocular extrínseca mostrou uma fre-qüência de estrábicos de 2,7%.

As medidas da tonometria de aplanação, realizada em cada olho, mostraram predomínio de pressões consideradas nor-mais (até 20 mmHg). Encontramos 2 olhos com pressão acima de 40,0 mmHg.

O exame fundoscópico do olho direito não foi possível de ser realizado em 16 (8,6%) pacientes, e em 23 (12,3%) dos pacientes, em seu olho esquerdo, devido à perda de transpa-rência dos meios oculares, ocasionada, principalmente, pela catarata. O achado principal foi de DMRI em 59 indivíduos (31,5%), presumida, como afirmamos anteriormente. Não foi encontrado nenhum quadro de retinopatia diabética e as alte-rações hipertensivas foram poucas e muito leves (Tabela 3).

A esquiascopia estática, tanto para o olho direito, quanto para o olho esquerdo, mostrou um predomínio amplo de hiper-metropia leve (até 2 dioptrias). Dentre os míopes, também predominaram aqueles de até 1 dioptria, isto é, com miopia leve.

Desta forma, identificamos 130 (69,5%) indivíduos hiper-métropes e 41 (21,9%) míopes nesta população de idosos.

A biomicroscopia revelou que 160 (85,6%) dos idosos estudados apresentavam catarata, distribuídos conforme a tabela 4.

Tabela 1. Distribuição por faixa etária em anos

Faixa etária n %

80 – 85 143 76,5

85 – 90 36 19,2

> 90 8 4,3

Total 187 100,0

Tabela 2. Distribuição por tempo de consulta oftalmológica realizada

Data da consulta n %

Último ano 16 8,6

Entre 2 e 3 anos 18 9,6

Entre 3 e 5 anos 29 15,5

Mais de 5 anos 53 28,3

Nunca consultou 71 38,0

Total 187 100,0

Tabela 3. Alterações encontradas na fundoscopia

n %

Degeneração relacionada à idade (DMRI) 59 31,5 Rarefação de epitélio pigmentar 53 28,3 Alterações vasculares leves (KW1) 22 11,8 por arterioesclerosis

Estreitamento arteriolar 17 9,1

Drusas 7 3,7

Lesão de coriorretinite cicatrizada 1 0,5 Alterações vasculares moderadas (KW2) 1 0,5 por arterioesclerosis

Escavação de papila glaucomatosa 1 0,5

Sem anormalidades 48 25,7

Impossível 16 4,8

Tabela 4. Taxa de prevalência de catarata

n %

Catarata 160 85,6

Binocular 135 72,2

Monocular 25 13,4

Ausência 27 14,4

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A tabela 5 relaciona as doenças mais prevalentes encon-tradas nos idosos de nosso estudo.

A capacidade visual dos pacientes estudados é mostrada na tabela 6.

Com visão subnormal, critério Organização Mundial da Saúde (OMS) de 0,3 de visão máxima, no melhor olho em 1 olho, foram 22 pacientes (11,8%), e, com visão subnormal em ambos os olhos, foram 15 pacientes (8%).

Já, com cegueira legal (critério OMS de 0,05 de visão máxi-ma, no melhor olho) em 1 olho, foram encontrados 33 pacien-tes (17,6%) e, com cegueira legal em ambos os olhos, foram encontrados 15 pacientes (8%).

Dentre as causas de déficit visual incapacitante apresenta-das por 85 pacientes (Tabela 7), 46 deles (54,0%) tinham cata-rata e 16 deles (18,9%), erros de refração.

DISCUSSÃO

Verificamos que apenas 16 (8,6%) dos participantes haviam sido submetidos a um exame oftalmológico no último ano e um grande número deles, 71 (38,0%) nunca haviam sido exami-nados, levando a supor uma deficiente assistência médica nesta área específica, na cidade. Neste sentido, chama a atenção a citação de Wormald(3) de que apenas 50% dos médicos genera-listas saberiam que seus pacientes têm baixa de visão, e que um considerável número de doenças oculares não são detectadas nos idosos, dentro da sua comunidade, e que eles não chegam aos hospitais e às clínicas especializadas, conforme observaram

Nicolosi(4) e Little(5). Segundo Tielsh muitos pacientes não utili-zam os serviços disponíveis, mesmo quando existem(9).O mes-mo foi constatado no Brasil, onde a população não se benefi-ciou de tratamento oftalmológico gratuito, que fora oferecido em hospital especializado, localizado a apenas 19 km de distân-cia da comunidade estudada(25).

A inspeção externa dos pacientes mostrou uma prevalência muito significante de portadores de ectrópio senil 130 (69,5%). Esta patologia não é citada na literatura como importante acha-do oftalmológico nos iacha-dosos, mas foi a principal causa de quei-xas referidas pelos nossos idosos em suas consultas.

Em relação à AV da população estudada, constatamos que, embora seja uma população com pouca assistência oftal-mológica, 38 (20,3%) dos pacientes tinham no olho direito, sem correção óptica, e, 45 (24,1%) deles, no olho esquerdo, também sem correção óptica, uma AV de 0,7 (70%) ou mais de visão para longe. Para perto, ainda sem correção óptica, 42 (22,5%) dos estudados tinham no olho direito, e 34 (18,2%) deles, no olho esquerdo, uma visão de J1, J2 ou J3 na tabela de Snellen, o que possibilita condições visuais adequadas para desempenharem as suas atividades diárias de rotina. Estes dados visuais para longe e perto, sem correção óptica, talvez sejam um indicativo da excelente condição física geral e da qualidade de vida muito particular destes longevos, e de quanto mais poderiam se beneficiar com uma adequada assis-tência médica.

O número de pacientes estrábicos da população em estu-do, 5 (2,7%), está dentro da taxa considerada habitual de prevalência na população em geral de tal patologia, que é de cerca de 2%(26).

Em relação ao glaucoma, sabemos que a medida da pressão ocular é apenas um dos componentes necessários ao seu diagnóstico. Apesar da limitação no estudo desta patologia entre os nossos pacientes, podemos afirmar que 2 (1,1%) deles, devido à elevada pressão intra-ocular (40 mmHg), apre-sentaram glaucoma.

Um agravante para o diagnóstico, prevenção e tratamento do glaucoma, é o desconhecimento de tal patologia, por parte da população em geral, como demonstrou Ghanen no estudo populacional de Joinville, SC, Brasil(27), e Bonomi no The Egna-Neumarkt Study no norte da Itália(28).

Os achados fundoscópicos, realizados apenas com oftal-moscopia direta, devem ser considerados com cautela, já que os diagnósticos relatados são discutíveis e passíveis de erros, pois para um diagnóstico definitivo de DMRI, além dos acha-dos funacha-doscópicos, são necessárias avaliações das lesões maculares, através da angiografia contrastada da retina. Cha-ma a atenção, que nenhum diagnóstico de retinopatia diabéti-ca foi feito nos nossos pacientes, e que poudiabéti-cas alterações de retinopatia hipertensiva foram encontradas, sendo que estas, quando presentes, eram nas fases iniciais da doença. Talvez mais um indício da excelente condição física geral da popula-ção estudada.

O estudo refracional dos idosos mostrou um predomínio

Tabela 5. Diagnóstico geral - doenças prevalentes

n %

Presbiopia 173 92,5

Catarata 160 85,6

Ectrópio senil 130 69,5

Hipermetropia 130 69,5

DMRI 59 31,5

Tabela 6. Déficit visual incapacitante

n %

Visão sub-normal

Monocular 22 11,8

Binocular 15 8,0

Cegueira legal

Monocular 33 17,6

Binocular 15 8,0

Total 85 45,4

Tabela 7. Causas tratáveis de déficit visual incapacitante (n=85)

n %

Catarata 46 54,0

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amplo de hípermetropia baixa (até 2 dioptrias), 130 (69,5%), e miopia baixa, 41 (21,9%), (até 1 dioptria). Estes erros refracio-nais, considerados leves, possivelmente seriam uma das ra-zões de tão pouca procura do atendimento médico da popula-ção estudada, já que 71 (38,0%) dos idosos nunca haviam submetido-se a um exame oftalmológico.

Entre as patologias mais prevalentes encontradas nos pa-cientes do nosso estudo, está a presbiopia, que aparece em 173 (92,5%) pacientes, o que era esperado, confirmando que é a mais freqüente condição afetando a visão dos idosos(2). Convém salientar que 14 (7,5%) dos pacientes estudados apresentaram acuidade visual para perto, sem lentes correto-ras, de J1 na tabela de Snellen, a 33 cm de distância, simultânea a uma acuidade visual para longe, também sem lentes correto-ras, de 0,8 ou mais, na tabela de Snellen para longe.

A catarata aparece a seguir, atingindo o olho direito de 146 (78,1%) pacientes e o olho esquerdo de 152 (81,3%) pacientes, sendo que, dos 187 pacientes estudados, 135 (72,2%) eram portadores de catarata binocular e 25 (13,4%) deles, eram portadores de catarata monocular determinando uma taxa de prevalência de 85,6%. Estas elevadas taxas de prevalência de catarata nos idosos com 80 anos ou mais, por nós estudados, não surpreendem, ao contrário, apenas ratificam o que já foi encontrado em estudos anteriores, ao redor do mundo. Ela é uma das doenças mais prevalentes no idoso, como já afirma-ram, entre outros, Hyman(7) e Limburg(29). Estas elevadas taxas de prevalência de catarata também confirmam que o aumento de idade é um importante fator de risco para o aparecimento de tal doença como afirmam, entre outros, Burton(30) e Klein(17).

Quando confrontamos nossas taxas de prevalência de ca-tarata com as de outros estudos, vemos que elas se asseme-lham, tanto com a de estudos semelhantes, populacionais, como os realizados por Hirvellä na Finlândia(31), por Leske em Barbados(32), por Klein nos EUA(17), quanto com estudos ins-titucionais, realizados por Dougherty nos EUA(23), por Dasna Inglaterra(12), desde que sejam comparados indivíduos de fai-xas etárias semelhantes, isto é, parece ser a idade o fator principal determinante do aparecimento da catarata. Esses estudos descrevem taxas de prevalência de catarata que va-riam de 77,2 a 97,6%.

Podemos afirmar, portanto, que a taxa de prevalência de catarata nos idosos é alta e que, como a expectativa de vida tem aumentado, deveremos ter, no futuro, taxas ainda maiores. O ectrópio senil, a terceira patologia mais prevalente na população por nós estudada, ocorrendo em 69,5% dos indiví-duos, mostrou ser peculiar e única, como já ressaltamos ante-riormente, por não ter sido referida em nenhum dos trabalhos a que tivemos acesso, como sendo uma patologia ocular impor-tante do idoso. Nos idosos por nós estudados, ao contrário, o ectrópio senil tornou-se a patologia mais importante, no aspecto da sintomatologia dos pacientes, porque foi a princi-pal causa de suas queixas. Ressalta-se que os sintomas de dor, desconforto ocular, sensação de corpo estranho ocular e lacrimejamento eram mais significantes, para eles, do que a

eventual incapacidade visual, embora não tenhamos dados objetivos para comprovar tal assertiva.

A hipermetropia vem a seguir, como quarta patologia mais prevalente, atingindo cerca de 55% da população estudada.

Podemos afirmar, portanto, que as patologias mais preva-lentes encontradas entre os idosos de 80 ou mais anos de idade, da cidade de Veranópolis, RS, Brasil, ou seja, da grande maioria dos indivíduos com esta faixa etária nesta população, são a presbiopia, a catarata, o ectrópio senil e a hipermetropia, todas elas passíveis de correção, seja através de lentes corre-toras e/ou de cirurgia ocular. Apenas na quinta posição viria a DMRI, esta sim, geralmente, causa de perda visual irredutível. Isto significa que a população estudada, e a partir do que a literatura mostra, as populações em geral, ao redor do mundo, poderiam ter a qualidade de vida melhorada em muito, desde que assistidas adequadamente.

Se passarmos à análise da incapacidade visual apresenta-da por 85 (45,4%) dos pacientes do nosso estudo, veremos corroboradas as afirmações anteriores.

A incapacidade visual destes pacientes está dividida entre visão subnormal e cegueira legal. A taxa de prevalência de visão subnormal monocular foi de 11,8% (22 pacientes) e de visão subnormal binocular foi de 8% (15 pacientes). A taxa de prevalência de cegueira legal monocular foi de 17,6% (33 pa-cientes) e de cegueira legal binocular foi de 8% (15 papa-cientes). A realidade dos países desenvolvidos é outra. Neles, as taxas de cegueira estão abaixo de 1%, como demonstraram os estudos de Framinghan, EUA(33), de Baltimore, EUA(9), de Kentucky, EUA(34), e em Londres, UK(3).

As taxas de visão subnormal repetem as mesmas caracte-rísticas das taxas de cegueira, isto é, são elevadas no nosso estudo e nos estudos efetuados com populações de diferen-tes regiões do Brasil, como em São Paulo(35), em Porto Ale-gre(6), em Goiânia(36), em Campinas(37) onde variam de 3% a 54,1%, e são baixas quando em estudos realizados em países desenvolvidos, como em Framinghan, EUA(33) e em Londres(3), onde as taxas encontradas foram de 1,76% a 7,7%.

(6)

abran-gendo a grande maioria dos idosos com 80 anos ou mais de idade, de uma cidade do Brasil, pode ser um retrato da situação dos idosos nos países menos desenvolvidos, e nos indica que a população idosa necessita de uma atenção especial, envol-vendo médicos generalistas, oftalmologistas, autoridades da área de saúde, de programas de educação, de informação e de assistência médica adequada.

Embora exista, no Brasil, a preocupação dos oftalmologis-tas com a saúde ocular da população em geral, como demons-tram as campanhas nacionais – Projeto Catarata e Veja Bem Brasil, entre outras, e a realização, a cada 2 anos, do Congres-so Brasileiro de Prevenção da Cegueira, organizado pelo Con-selho Brasileiro de Oftalmologia, a realidade das condições visuais da população brasileira, sobretudo a dos idosos, está distante das condições ideais e muito terá ainda que ser feito, para se atingir o estágio ideal de assistência médica.

CONCLUSÕES

As patologias oculares mais prevalentes entre os idosos com 80 anos ou mais na cidade de Veranópolis, RS, Brasil, foram a presbiopia (92,5%), a catarata (85,6%), o ectrópio senil (69,5%), a hipermetropia (69,5%) e a degeneração macular relacionada à idade (31,5%).

Dos 187 idosos estudados, 85 (45,4%) apresentaram baixa visual incapacitante, tendo 33 (17,6%) deles cegueira legal mo-nocular e 15 (8,0%) deles, cegueira legal bimo-nocular, sendo a catarata a principal causa etiológica de tais deficiências visuais.

ABSTRACT

Purpose: To evaluate the prevalence of diseases of the eye in

a population aged 80 years and above in the city of Verano-polis, Rio Grande do Sul, Brazil. Methods: 187 elderly people were submitted to ophthalmologic tests including external inspection, ocular motility examination, visual acuity determi-nation for near and far distance, appladetermi-nation tonometry, bio-microscopy, cyclopegia, direct fundus examination and static skiascopy. Results: The most prevalent disease was presbyo-pia in 173 (92,5%) patients, cataract in 160 (85,6%), age-related ectropion in 130 (69,5%), hypermetropia in 130 (69,5%) and age-related macular degeneration (ARMD) in 59 (31,5%) pa-tients. 85 (45,4%) patients presented marked low vision whose main causes were cataract in 46 (54,1%) and refractive error in 16 (18,9%) of the studied population. The most prevalent com-plaint was due to presence of age-related ectropion.

Conclu-sions: Common diseases as cataract and retractive error are

still a challenge to ophthalmologists because these diseases remain main causes of visual deficit in old age resulting in life quality losses.

Keywords: Cataract; Blindness; Macular degeneration;

Pres-byopia; Ectropion; Aged

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IX Congresso Internacional de Catarata e

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