O USO DE PLANTAS MEDI CI NAI S COMO RECURSO TERAPÊUTI CO: DAS I NFLUÊNCI AS DA
FORMAÇÃO PROFI SSI ONAL ÀS I MPLI CAÇÕES ÉTI CAS E LEGAI S DE SUA APLI CABI LI DADE
COMO EXTENSÃO DA PRÁTI CA DE CUI DAR REALI ZADA PELA ENFERMEI RA
Neide Apar ecida Tit onelli Alv im1 Már cia de Assunção Fer r eir a1 I v on e Ev an gelist a Cabr al1 Ant onio José de Alm eida Filho1
Pesquisa qualit at iv a que buscou analisar a influência biom édica no cont ex t o de for m ação e at uação profissional dos enferm eiros; reflet ir sobre as im plicações ét icas e legais do em prego de plant as m edicinais no cuidado de enferm agem ; discut ir a necessidade de configuração e delim it ação desse recurso com o inst rum ent o legít im o de ex t ensão da pr át ica de cuidar r ealizada pela enfer m agem . Ut ilizou- se o m ét odo cr iat iv o- sensív el e o desenvolvim ent o de dinâm icas para produzir dados j unt o a um grupo de enferm eiras analisados nas cat egorias “ a influência biom édica na or ient ação acadêm ico- pr ofissional da enfer m agem ” e “ im plicações ét icas e legais n a aplicabilidade de plan t as m edicin ais n o cu idado” . Os r esu lt ados apon t ar am a n ecessidade de se av an çar nos est udos sobr e o diagnóst ico de enfer m agem que im pliquem pr escr ição de plant as m edicinais par a que o client e sej a devidam ent e cuidado pela enferm eira e, assim , se possa legit im á- la com o ext ensão de sua prát ica p r of ission al. Não com o t er r it ór io ex clu siv o, m as com o ação com p ar t ilh ad a e in t er d iscip lin ar n o cu id ad o à saú d e.
DESCRI TORES: en fer m agem ; cu idados de en fer m agem ; plan t as m edicin ais
THE USE OF MEDI CI NAL PLANTS AS A THERAPEUTI CAL RESOURCE: FROM THE
I NFLUENCES OF THE PROFESSI ONAL FORMATI ON TO THE ETHI CAL AND LEGAL
I MPLI CATI ONS OF I TS APPLI CABI LI TY AS AN EXTENSI ON OF NURSI NG CARE PRACTI CE
This qualit at ive research aim ed t o analyze t he biom edical influence in t he cont ext of nurses’ form at ion and pr ofessional act iv it ies; t o r eflect about et hical and legal im plicat ions of using m edicinal plant s in nur sing car e; t o ar gue about t he need t o configur e and delim it t his r esour ce as a legit im at e inst r um ent for expanding nur sing car e pr act ice. We used t he cr eat iv e- sensible m et hod and dev eloped dy nam ics w it h a gr oup of nur ses t o pr oduce dat a, analy zed in t he cat egor ies “ t he biom edical influence in t he academ ic- pr ofessional or ient at ion of nursing” and “ et hical and legal im plicat ions in t he applicabilit y of m edicinal plant s in care” . Result s indicat ed t he need t o advance in st udies on t he nursing diagnosis t hat im plies t he prescript ion of m edicinal plant s, so t hat t he client is well t aken care of by nurses, t hus legit im izing it as an ext ension of t heir professional pract ice. Not as an ex clusiv e t er r it or y , but as shar ed and int er disciplinar y healt h car e act ion.
DESCRI PTORS: nur sing; nur sing car e; plant s, m edicinal
EL USO DE PLANTAS MEDI CI NALES COMO RECURSO TERAPÉUTI CO: DE LAS I NFLUENCI AS
DE LA FORMACI ÓN PROFESI ONAL A LAS I MPLI CACI ONES ÉTI CAS Y LEGALES DE SU
APLI CABI LI DAD COMO EXTENSI ÓN DE LA PRÁCTI CA DE CUI DAR DE LA ENFERMERA
Est a in v est igación cu alit at iv a bu scó an alizar la in f lu en cia biom édica en el con t ex t o de f or m ación y act uación pr ofesional de los enfer m er os; r eflej ar sobr e las im plicaciones ét icas y legales del uso de plant as m ed icin ales en la en f er m er ía; d iscu t ir la n ecesid ad d e con f ig u r ación y d elim it ación d e est e r ecu r so com o inst r um ent o legít im o de ex t ensión de la pr áct ica de enfer m er ía. Fue ut ilizado el m ét odo cr eat iv o- sensible y el desarrollo de dinám icas j unt o con un grupo de enferm eras para producir los dat os de la invest igación, analizados en las cat eg or ías “ la in f lu en cia b iom éd ica en la or ien t ación acad ém ico- p r of esion al d e en f er m er ía” y “ las im plicaciones ét icas y legales en la aplicabilidad de plant as m edicinales en el cuidado” . Los result ados señalaran la n ecesidad de av an zar en los est u dios sobr e la diagn osis de en fer m er ía qu e im plica en pr escr ibir plan t as m edicinales para que el client e sea bien cuidado por la enferm era y, así, se pueda legit im arla com o ext ensión de su práct ica. No com o t errit orio exclusivo, sino com o la acción com part ida e int erdisciplinar en el cuidado de salu d .
DESCRI PTORES: enfer m er ía; at ención de enfer m er ía; plant as m edicinales
1 Doutor em Enferm agem , Professor Adj unto da Escola de Enferm agem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e- m ail: tit onelli@t erra.com .br,
I NTRODUÇÃO
Q
u a n d o se d i scu t e o u so d e p l a n t a s m edicinais no cuidado de enferm agem , vários são os aspect os que se nos apresent am im bricados. Alguns desses, m uit as vezes, colocam - se com o im pedit ivos à p r á t i ca p r o f i ssi o n a l , r est r i n g i n d o - se a p en a s a sit uações de im passe, ou sej a, àquelas em que as p r át icas con v en cion al, t ecn icist a e alop át ica n ão encont ram a saída im ediat a para a resolut ividade de cert os problem as de saúde.Nos bancos acadêm icos, a ideologia científica qu e per passa a f or m ação do en f er m eir o, desde o nascedour o da enfer m agem pr ofissional no Br asil à at ualidade, sust ent a- se na r acionalidade do m odelo biom édico. E, na atuação profissional, o que ocorre é que o enfer m eir o t ende a r epr oduzir acr it icam ent e esse m od elo, d escon sid er an d o, p or v ezes, ou t r as p ossib ilid ad es d e m an if est ação d o sab er sob r e a saúde, com o as advindas da sabedoria popular.
Acredit a- se que essas quest ões dificult am a a p l i ca b i l i d a d e d e t e r a p i a s n a t u r a i s ( o u n ã o co n v en ci o n a i s) p o r en f er m ei r o s, a ex em p l o d a s plant as m edicinais, im pedindo um a discussão m ais am pliada acer ca dos aspect os ét icos e legais qu e per m eiam essa aplicabilidade. O que nor m alm ent e acont ecem são discussões paralelas ou isoladas que at endem a int er esses par t icular es e que, por t ant o, não possuem forças suficient es para serem t rat adas no plano da Lei do Exercício e do Código de Deontologia da profissão, e, desse m odo, passíveis de sust ent ar m udanças que possam assegurar essas terapias com o prát icas legít im as da enferm agem .
Diante dessas considerações, este estudo teve p or ob j et iv os: an alisar a in f lu ên cia b iom éd ica n o con t ex t o d e f or m ação e at u ação p r of ission al d os enfer m eir os; r eflet ir sobr e as im plicações ét icas e legais do em prego de plant as m edicinais no cuidado de enferm agem ; e discut ir acerca da necessidade de co n f i g u r a çã o e d el i m i t a çã o d e sse r e cu r so co m o instrum ento legítim o de extensão da prática de cuidar da enfer m eir a.
REVI SÃO DE LI TERATURA
O uso t erapêut ico das plant as m edicinais na saú d e h u m an a con st it u i- se com o p r át ica m ilen ar, h ist or icam en t e con st r u íd a n a sab ed or ia d o sen so com um que ar t icula cult ur a e saúde, um a v ez que
esses aspectos não ocorrem de m aneira isolada, m as inseridos num contexto histórico determ inado. Mesm o com os expressivos avanços científicos da fitoterapia, com o são conhecidas as plant as ut ilizadas para fins terapêuticos na linguagem acadêm ica, elas continuam sen d o m u it as v ezes u sad as ap en as com b ase n a cult ur a popular par a a pr om oção e r ecuper ação da saúde das pessoas.
O h o m e m p r i m i t i v o se m p r e b u sco u n a nat ureza as soluções para os diversos m ales que o assolava, fossem esses de ordem espirit ual ou física. Aos feit iceiros, considerados int erm ediários ent re os h om en s e os deu ses cabiam a t ar ef a de cu r ar os doent es, unindo- se, desse m odo, m agia e religião ao saber em pírico das prát icas de saúde, a exem plo do e m p r e g o d e p l a n t a s m e d i ci n a i s. A e r a An t i g a i n a u g u r o u o u t r o e n f o q u e , q u a n d o , a p a r t i r d o pensam ento hipocrático, que estabelecia relação entre am bient e e est ilo de vida das pessoas, os processos de cura deixaram de ser vist os apenas com enfoque espirit ual e m íst ico.
At ribuída com o fenôm eno nat ural, a origem das doenças passou a ser est udada cient ificam ent e. Na m esm a ocasião, o sist em a orient al desenvolveu-se desenvolveu-seguindo a lógica de que o organism o era part e integrante do universo( 1). Assim , a saúde, nos sistem as
ociden t al e or ien t al n a An t igü idade, apesar de se o r i e n t a r e m p o r co n t e x t o s cu l t u r a i s d i f e r e n t e s, baseava- se no holism o, ou sej a, a terapêutica deveria at u ar n o or g an ism o com o u m t od o in t eg r ad o ao Universo ( m acrocosm o) e não apenas na elim inação dos sint om as da doença m anifest ados localm ent e.
Com a consolidação do posit ivism o nos fins d o sécu lo XI X e in ício d o sécu lo XX, h ou v e u m a ruptura com o conhecim ento m etafísico e um a ênfase n o d esen v olv im en t o d a p esq u isa ex p er im en t al. A at enção dos cient ist as v olt ou- se par a as par t es do corpo hum ano, e a assistência à saúde passou a seguir a o r i e n t a çã o ca r t e si a n a e m e ca n i ci st a q u e perm aneceu na I dade Contem porânea, sendo a saúde considerada sob a ópt ica biológica com o ausência de doenças. I nst alou- se o m odelo biom édico de saúde, alicer çad o n o p ar ad ig m a car t esian o, q u e at en d ia p len am en t e aos in t er esses d o m od o d e p r od u ção cap i t al i st a( 1 ). O co n h eci m en t o e as t er ap êu t i cas
an t er i o r m en t e em p r eg ad o s n a saú d e h u m an a, a exem plo das plantas m edicinais, entre outras práticas de origem popular, foram m arginalizados por não t er base cient ífica.
Em se t r a t a n d o d e Br a si l , e ssa s t ransform ações no m undo da ciência e da econom ia ocor r er am m ais t ar diam ent e, o que colabor ou par a que as prát icas de saúde populares perm anecessem hegem ônicas at é o início dest e século, ocasião em que t al hegem onia com eçou a ser r om pida com a institucionalização dos serviços de saúde e o advento d a alop at ia, con sid er ad os im p r escin d ív eis p ar a o m odo de produção em ergent e( 2). At é essa ocasião, o
uso popular de plantas m edicinais, associado a outros recursos naturais, era m aj oritário no processo de cura de m uitos m ales que acom etiam a saúde das pessoas. A e co n o m i a d o p a ís, e sse n ci a l m e n t e r u r a l , e r a duplam ent e fav or áv el à ut ilização desses r ecur sos, pois, ao t em po em que a região era propícia ao seu desenvolvim ento ( pela praticidade advinda do contato est reit o com a t erra) , t am bém se configurava com o a única alt ernat iva de t rat am ent o.
Com o m arco inicial desses dois event os - a i n st i t u ci o n a l i za çã o d a sa ú d e e o su r g i m en t o d a alopat ia; e, forçadas pelas t ransform ações advindas da nova ordem cult ural est abelecida pelos m oldes da p r o d u çã o i n d u st r i a l ca p i t a l i st a , a s p r á t i ca s n ã o co n v en ci o n ai s d e saú d e, em esp eci al as p l an t as m edicinais, com eçar am a ser despr est igiadas, pois não faziam parte do saber especializado, com provado pela lógica da ciência, e tudo o que não era obj etivado, ex plicado e dem onst r ado cient ificam ent e, foi sendo d escar t ad o com o sab er e com o p r át ica. O sab er m édico hegem ônico im perou, perseguindo e proibindo as práticas não oficiais, os charlatães, os sangradores, e t ant as out ras pessoas do povo, por consider á- las incapazes de exercer a art e de curar, im pondo- se o reconhecim ento social e valorização do saber m édico.
Sob a égide da ideologia do capital, destacou-se a form ação e at uação dos profissionais de saúde calcada ainda hoj e no m odelo biom édico de assistência e n a p r át ica alop át ica. Os p r of ission ais d e saú d e passaram a at uar sobre e a invest igar m ais o saber cient ífico, racional, e m enos o enraizam ent o polít ico e social do conhecim ent o. Assim , “ a m edicina oficial, legit im ada pelos cânones da ciência, apropriou- se do saber de saú de do pov o, de cu n h o em pír ico, e o t r a n sf o r m o u e m u m sa b e r m é d i co , d e cu n h o b iolog icist a, con st it u in d o- se, assim , em u m n ov o sab er ”( 3 ). Nesse co n t ex t o , su r g i u a En f er m ag em
Pr ofissional nos m oldes do sist em a Nigt hingale, em u m a ép o ca em q u e o m o d el o b i o m éd i co est a v a ganhando cont or nos m ais nít idos, e a eficiência da m edicina encont r av a r espaldo no desenv olv im ent o t ecnológico e na m edicalização.
Contudo, a partir dos anos 80 e 90 do século passado, frente às várias m udanças engendradas pelo m om ent o polít ico, econôm ico e t am bém da saúde, a l g u m a s p r á t i ca s p o p u l a r es, d en t r e el a s, o u so t erapêut ico das plant as m edicinais, com eçaram a ser resgat adas no m eio cient ífico, não no sent ido de se cont r apor em às alopát icas, m as de at uar em com o co m p l em en t a r es à s p r á t i ca s d e sa ú d e v i g en t es. Dent re as razões apont adas com o m ot ivadoras desse r esg at e, d est acam os a f alt a d e êx it o d o m od elo m édico biologicist a n o t r at am en t o de doen ças; os ef ei t os i at r og ên i cos asso ci ad o s ao al t o cu st o d e d e t e r m i n a d a s d r o g a s a l o p á t i ca s; a e f i cá ci a d e algum as plant as j á com pr ov adas cient ificam ent e; a par do respeit o e valorização aos aspect os cult urais m a r ca d a m e n t e p r e se n t e s n o co n t e x t o d e ssa s pr át icas.
um a concepção de totalidade do ser, ao pensar e fazer da enfer m agem .
O CAMI NHO METODOLÓGI CO
Est e est u d o é u m r ecor t e d a p esq u isa “ A e n f e r m a g e m f u n d a m e n t a l e se u s n e x o s co m a s prát icas nat urais de saúde: o exem plo das farm ácias vivas”, aprovado pelo Com it ê de Ét ica e Pesquisa do Nú cl eo d e Sa ú d e Co l et i v a d a UFRJ, co n f o r m e o previst o na Resolução 196/ 96, do Conselho Nacional de Saúde que dispõe sobre as Norm as de Pesquisa em Ser es Hum anos.
É do t ipo qualit at ivo, cuj o m ét odo ut ilizado f oi o cr iat iv o- sen sív el( 4 ) ( MCS) . As d in âm icas d e
cr iat iv idade e sen sibilidade ( DCS) for am adot adas com o ferram ent as de produção, análise, discussão e v a l i d a çã o d o s d a d o s, t e n d o si d o e l e i t a s p a r a a pr odução do pr esent e ar t igo os dados ger ados nas dinâm icas ‘Alm anaque’ e ‘Cor po- Saber ’.
Tr ab al h o u - se co m u m g r u p o - p esq u i sad o r d if er en t e em cad a d in âm ica r ealizad a. Os g r u p os foram const it uídos por enferm eiras assist enciais que a t u a v a m e m d i f e r e n t e s ce n á r i o s d a p r á t i ca p r o f i ssi o n a l , b e m co m o p o r e n f e r m e i r a s q u e lecionavam em universidades públicas e privadas, em um t ot al de quinze par t icipant es som adas as duas dinâm icas, cuj a form a de participação se deu por m eio da assinat ura do Ter m o de Consent im ent o Liv r e e Esclar ecido.
As dinâm icas for am desenv olv idas em um a sala de aula, no âm bito de um a universidade pública, devidam ent e preparada para o desenvolvim ent o das atividades. A produção de dados totalizou duas horas e t rint a m inut os. A ident ificação das enferm eiras se fez por m eio de cor es ( dinâm icas ‘Cor po- Saber ’) e de plantas ( dinâm ica ‘Alm anaque’) escolhidas por elas pr ópr ias.
As f o n t es p r i m á r i a s se co n st i t u ír a m d a s pr oduções ar t íst icas das par t icipant es, ger adas no âm bit o das DCS, além dos r elat ór ios de cada um a delas, de onde em er gir am as sit uações pr oblem as que perm itiram a codificação de dois tem as geradores de debat e, de acordo com a linguagem freiriana que subsidia a análise dos dados utilizada no MCS, e que se co n st i t u ír a m n a s se g u i n t e s ca t e g o r i a s: 1 ) A i n f l u ê n ci a b i o m é d i ca n a o r i e n t a çã o a ca d ê m i co -p r of ission al d a en f er m ag em ; e 2 ) As im -p licações éticas e legais da aplicabilidade de plantas m edicinais no cuidado de enferm agem .
RESULTADOS E DI SCUSSÃO
A in f lu ên cia b iom éd ica n a or ien t ação acad êm ico-pr ofissional da enfer m agem
Na seqüência dialógica ocor r ida no int er ior da dinâm ica ‘Corpo- Saber’, o discurso da Enferm eira Lilás fez surgir o prim eiro t em a gerador de debat e: ” a in f lu ên cia biom édica n a or ien t ação acadêm ico-pr ofissional da enfer m agem ”. A discussão ocor r ida com esse t em a g er ad or f oi a d e q u e, n o seio d a academ ia, o uso de pr át icas não conv encionais de saúde assum e, na m aioria das vezes, um a conotação pej orativa. Essa visão é m antida, inclusive, por parte de alguns alunos de enferm agem , que acreditam que a utilização dessas práticas não garante “ status” para a profissão. Mesm o quando a experiência de ensino-a p r e n d i zensino-a g e m o p o r t u n i zensino-a ensino-a o ensino-a l u n o v i v e n ci ensino-a r ensino-a aplicação das ervas no cuidado à clientela, o estudante não valoriza a prát ica por não a consider cient ífica.
Eis o que diz a m encionada enferm eira ao se referir a um a experiência curricular de seu curso de graduação em que t eve a oport unidade de est agiar em um posto de saúde em Niterói: [ ...] acho que a m inha
t urm a foi a últ im a nesse post o... Porque os alunos não viam isso
com o produt ivo, o fat o de você lidar com aquela coisa de ir lá na
hort a, que t em no fundo do Post o, onde você reconhece as ervas,
onde você vê a m anipulação... Aquilo não é reconhecido com o um
conhecim ent o cient ífico que passa pela quest ão do st at us, pela
quest ão do poder.Ocorre que, nos cursos de graduação,
de u m m odo ger al, o u so de pr át icas n at u r ais n o cuidado é eventual, não existindo um a sistem atização dessas pr át icas no ensino de enfer m agem . Via de regra, a sua int rodução com o experiência de ensino-a p r e n d i zensino-a g e m ensino-a co n t e ce d e f o r m ensino-a ensino-a ensino-a t e n d e r individualm ent e os int eresses específicos de docent es estudiosos de tais práticas, e não a um proj eto político pr ofissional.
A r esist ência à par t icipação dos est udant es n a s e x p e r i ê n ci a s q u e i n cl u ía m o s t r a t a m e n t o s n a t u r a i s, d u r a n t e a su a f o r m a çã o i n t e l e ct u a l ( a ca d ê m i ca ) , se g u n d o u m a d a s e n f e r m e i r a s par t icipan t es da pesqu isa, v in h a acom pan h ada da visão de que o enferm eiro é quem sabe; logo, detém o poder pelo saber e, por conseguint e, segundo o seu pont o de vist a, possuidor de um st at us e de um reconhecim ento social. É aquele profissional que det ém
o m anej o t écnico e t ecnológico, concluiu a Enferm eira Lilás.
da saúde. O desenvolvim ent o do m odelo biom édico de assist ência, cuj a influência encont ra- se alicerçada no paradigm a cart esiano, cont ribuiu com a m edicina par a a elim in ação ou con t r ole de cer t as doen ças, com o as bact er ian as, par a cir u r gias do cor ação e t ransplant es de órgãos, ent re out ros.
Cont udo, na or ganização da v ida m oder na, a socied ad e con f r on t a- se com v ár ios p ar ad ig m as t eór ico- f ilosóf icos. En con t r am o- n os d ian t e d e u m g r a n d e p a r a d o x o , p o i s, a o t e m p o e m q u e o i n cr e m e n t o t é cn i co - ci e n t íf i co b e n e f i ci o u a l g u n s seg m en t os d a p op u l ação com a est r u t u r ação d a ciência, segundo det erm inados padrões de verdade, o m odelo cart esiano t am bém os t ransform ou em um si st e m a m e ca n i za d o , d e p a r t e s e st a n q u e s e dist in t as( 1 ). Nessa an álise, em f ace as con st an t es
m u t ações n a v ida do h om em at u al, su a saú de se encont r a abalada, ent r e out r as r azões, pela for m a d e o r g a n i za çã o so ci a l e p e l o co n su m i sm o desenfreado. No cam po ét ico, polít ico e econôm ico, n a a t u a l i d a d e , o d i scu r so v o l t o u - se p a r a a t erceirização e a globalização da econom ia.
A co m p et i ção d esm ed i d a n o m er cad o d e t rabalho, a ênfase no aum ent o da produt ividade em m enor t em po e na eficácia t écnica do t rabalhador, car act er íst icas de um a polít ica de cunho neoliber al, t ê m l e v a d o a u m p a d r ã o d e d e se n v o l v i m e n t o desm edido e sem controle. As condições inadequadas e insalubr es no t r abalho e o aum ent o de acident es profissionais, a recessão e o desem prego t êm sido a cau sa d e v ár i as d o en ças f ísi cas e so ci ai s e t êm colabor ado par a o aum ent o do índice de v iolência. Ainda m ais, as diferentes form as de agressão ao m eio am b ien t e são f at or es im p or t an t es d esse sist em a responsável, em grande part e, pela det erioração da saúde hum ana. É im port ant e salient ar que a saúde t em várias dim ensões e decorre da int eração que se est abelece en t r e os v ár ios com pon en t es – físicos, sociais, hist óricos e cult urais.
Face a essas considerações e na concepção neoliberal da econom ia globalizada dos dias atuais, o hom em v em sendo ut ilizado com o inst r um ent o de produção. Ele é controlado, do ponto de vista político e social, par a at ender às necessidades do sist em a econôm ico, o que afeta todas as suas relações com o m u n d o . Ou t r o a sp e ct o a se r co n si d e r a d o é a “ cu lp ab ilização d a v ít im a”. Vale r essalt ar q u e “ a individualização da culpa resulta na explicação de um a prát ica colet iva ( ...) , por exem plo, se supervaloriza o s p r o b l e m a s so ci o e co n ô m i co s d a p o p u l a çã o , j ust ificando, assim , os serviços precários”( 5).
Nesse contexto, os profissionais de saúde são form ados para dar cont a dessa est rut ura ideológica, ca p a z d e r e cu p e r a r a f o r ça d e t r a b a l h o a t i v a , r epr odut or a de m ão- de- obr a, pr incipalm ent e com o desafio da revolução da inform ática frente ao trabalho hum ano. E é isso que vem os ret rat ado nas falas das enferm eiras part icipant es da dinâm ica ‘Alm anaque 2’, ou sej a, que a for m ação ( acadêm ica) é t ot alm ent e b i o m éd i ca . : A m i n h a f o r m a çã o a ca d ê m i ca f o i p a r a a
racionalidade... E a fit ot erapia não t inha vez m esm o ( Enferm eira
Boldo) ; Eu t ive um a form ação t ot alm ent e biom édica ( Enferm eira
Rosa) .
Not adam ent e at é o início dos anos 8 0 , as t é cn i ca s q u e e r a m e n si n a d a s p o r m e i o d e pr ocedim ent os não inv asiv os, t ais com o, aplicação de cat aplasm as, vent osas, m assagens t er apêut icas, en t r e ou t r as, m u it as v ezes se per diam n o espaço hospit alar, cedendo lugar às prát icas alopát icas( 3). É
opor t uno r essalt ar que algum as dessas t écnicas ou p r o ce d i m e n t o s se g u e m o r i e n t a çã o se m e l h a n t e àquelas encont radas na lógica popular. No ent ant o, é m ist er ressalt ar que há um a dicot om ia ent re o saber cien t íf ico e o p op u lar ( d o sen so com u m ) , e q u e “ q u a n d o p o st o s u m e m r e l a çã o co m o o u t r o , à p r i m e i r a v i st a , t ê m u m a a p a r ê n ci a d e e st a r ca m i n h a n d o e m ca m i n h o s o p o st o s q u e n ã o se encont r am , acent uando cada v ez m ais a dist ância en t r e am b os”( 4 ). A acad em ia en sin a e su st en t a o
processo ensino- aprendizagem no saber acadêm ico-ci e n t íf i co , p o r q u e e st e f o i co m p r o v a d o p e l a ex per im ent ação e pr ov a cient ífica e obj et iv ado por m eio da t écnica; conseqüent em ent e, ele passa a ser adot ado com o crit ério de verdade.
No m ovim ento dialógico, no âm bito das duas d i n â m i ca s d e se n v o l v i d a s, a s e n f e r m e i r a s participantes ao tem po em que analisaram a influência biom édica no cont ex t o de sua for m ação e at uação p r o f i ssi o n a l q u e a s co n d u zi a m a p r á t i ca s con v en cion ais su st en t adas n esse m odelo, t am bém r e f l e t i r a m a s i m p l i ca çõ e s é t i ca s e l e g a i s n a aplicabilidade de plant as m edicinais no cuidado de en f er m ag em . Lo g o , o seg u n d o t em a g er ad o r d o debat e, t rat ou de discut ir essas im plicações.
As im plicações ét icas e legais da aplicabilidade de plant as m edicinais no cuidado de enferm agem
para reflexão e debate: [ ...] durant e a m inha form ação, j á
t em alguns anos, eu via um a colocação m uit o fort e em relação à
ét i ca , q u e r essa l t a v a q u e n ó s n ã o p o d ía m o s u sa r esses
con h eci m en t os d i t os p op u l ar es, p or q u e i sso f er i a a ét i ca
profissional, por tratar- se de um a prática que não está com provada
cient ificam ent e. Ent ão, quando t inha alguém volt ado para essas
prát icas, era m eio perseguido, era m eio discrim inado e podado
m esm o ( Enferm eira Verde) .
Sabe- se que a dim ensão ética perpassa todas as dim ensões do set or saúde, est ando pr esent e no exercício das várias profissões e serviços dessa área. Ent ret ant o, as decisões dessa nat ureza t ranscendem o setor e passam a ser da sociedade com o um todo. Nessa p er sp ect iv a, é p r eciso q u e se con sid er e a pluralidade de situações que envolvem fatores éticos. Assim é, pois, que a m issão dos com it ês bioét icos “ não é a de encontrar a solução m ilagrosa, a solução providencial para tais conflitos; a princípio, sua m issão é a de explicitá- los e por isso é bom que eles reúnam personalidades de opinião, de m et afísica, de crenças bem diferent es”. É por isso que na bioét ica “ est am os co n d e n a d o s a co m p r o m i sso s a r b i t r á r i o s e provisórios”( 6). Desse m odo, ent ende- se com o viável
a incorporação de conhecim entos herdados da cultura popular na form ação acadêm ica, o que não im pede q u e o p r of i ssi on al ( ou em v i as d e f or m ação) se m ant enha em const ant e at ualização t écnica na busca de novos ou resgat ados conhecim ent os. Afinal, “ nós n ão t em os a m en sag em . O q u e p od em os f azer é levant ar os problem as, é form ular as cont radições, é propor a m oral provisória”( 6).
A u n i v e r si d a d e co m o ce n t r o g e r a d o r d o conhecim ent o, por ex celência, t em o com pr om isso ét ico de part icipar desse processo de discussão. I sso porque as universidades, principalm ent e as públicas, se su st en t am em u m t r ip é f or m ad o p elo en sin o, pesquisa e extensão. Cabe a ela, portanto, form alizar e fort alecer os laços com a sociedade civil, na busca de alt ernat ivas que possam m elhorar a qualidade de vida, e de saúde, da população.
Ainda sob o m esm o enfoque, ao consult ar o Código de Ét ica dos Profissionais de Enferm agem( 7),
p or u m lad o, p od e- se ob ser v ar q u e, em n en h u m m om ent o, há qualquer m enção que inviabilize o uso d e q u a l q u e r p r á t i ca a l t e r n a t i v a , p o r si , p e l a s enferm eiras. Por out ro, o capít ulo I I I , Art . 17 e 18-“ Das responsabilidades”, respect ivam ent e, dizem que o en f er m ei r o d ev e: “ Av al i ar cr i t er i o sam en t e su a co m p e t ê n ci a t é cn i ca e l e g a l e so m e n t e a ce i t a r e n ca r g o s o u a t r i b u i çõ e s, q u a n d o ca p a z d e
d esem p en h o seg u r o p ar a si e p ar a a clien t ela” e “ Mant er- se at ualizado am pliando seus conhecim ent os t écn icos, cien t íf icos e cu lt u r ais, em b en ef ício d a cl i en t el a , co l et i v i d a d e e d o d esen v o l v i m en t o d a pr ofissão”.
Em r elação aos asp ect os r essalt ad os n os Ar t igos do Código de Ét ica Pr ofissional, dest aca- se os relat ivos à com pet ência e às diferent es form as de co n h e ci m e n t o . Ne sse s t e r m o s, sa l i e n t a - se q u e , t am bém , n a aplicabilidade das plan t as m edicin ais p e l a s e n f e r m e i r a s, h á q u e st õ e s é t i ca s a se r e m v alor izadas. Nesse sent ido, a academ ia dev er ia se preocupar, em prim eiro plano, com as condições de p r od u ção d o con h ecim en t o sob r e o u so d e er v as m edicinais e validar o saber que sust ent a o seu uso p e l a s cl a sse s p o p u l a r e s. Assi m , p a r a q u e a s enfer m eir as possam ex er cer a pr át ica do cuidado, aplicando as ervas m edicinais, t orna- se urgent e que a form ação acadêm ica respalde essa prática por m eio d a i n cl u são f o r m al d e co n t eú d o s e ex p er i ên ci as prát icas curriculares ( na graduação e pós- graduação) que possam levar a enferm eira a adquirir com petência t écnica para at uar nesse cam po específico do saber. A e sse r e sp e i t o , co n si d e r a - se r e l e v a n t e acrescent ar que edit oras universit árias t êm incluído, em seus catálogos, publicações referentes ao assunto a ex em plo das edit or as das Univ er sidades Feder ais do Ceará( 8) e do Rio Grande do Sul( 9) que têm trazido
a público trabalhos que contribuem para o estudo das plant as com pr opr iedades t er apêut icas. Quant o às pesquisas cient íficas na enferm agem , que privilegiam o assu n t o, d est aca- se alg u m as q u e, n as ú lt im as décadas, enfocaram t ant o o lado do client e quant o o do profissional de enferm agem( 3,10- 13) . É m ister reforçar
tam bém que não são poucos os endereços eletrônicos, dispon ív eis n a I NTERNET, de gr u pos de pesqu isas experim ent ais int eressados no assunt o, m uit os deles, inclusive, ligados a proj et os acadêm icos em parceria com in st it u t os d e p esq u isa e com a com u n id ad e usuár ia.
elas a serem discut idas com o um a possibilidade na assist ência à saúde.
Quanto à vertente que trata do respaldo legal ao ex er cício pr ofissional das pr át icas alt er nat iv as a Re so l u çã o 1 9 7 / 9 7 d o COFEn( 1 4 ) “ e st a b e l e ce e
r e co n h e ce a s Te r a p i a s Al t e r n a t i v a s co m o especialidade e/ ou qu alif icação do pr of ission al de enfer m agem ”. Nest a avaliação, isso r epr esent a um si n al d e q u e p r at i car o cu i d ad o d e en f er m ag em aplicando plant as m edicinais possui o r espaldo do órgão norm atizador da profissão. No entanto, precisa-se est ar cient e de que a referida Resolução t rat a de
“ t erapias alt ernat ivas”, não especificando quais seriam essas dit as t erapias. I sso abre possibilidades para a con st r u ção e d escon st r u ção d e cl assi f i cação d as inúm eras prát icas que, hoj e, são denom inadas com o a l t e r n a t i v a s. Se a s p l a n t a s m e d i ci n a i s f o sse m consideradas “ t er apias alt er nat iv as”, as enferm eiras, em t ese, est a r i a m r esp a l d a d a s; ca so co n t r á r i o , p e r d e r i a m o r e sp a l d o l e g a l p a r a o e x e r cíci o p r o f i ssi o n al d o cu i d ad o co m p l an t as m ed i ci n ai s. Ficar íam os a m er cê d a t r an sit or ied ad e d o cam p o t eórico- filosófico na const rução dos conceit os.
No âm bit o dessa discu ssão, qu est ion a- se: pr escr ev endo er v as, a enfer m eir a est ar ia fer indo a Lei do Exercício Profissional? A esse respeit o, vej a-se a que a-se refere o Artigo 48, Capítulo V do Código de Ét ica da Pr of issão( 7 ). Ele diz qu e é v edado ao
enferm eiro “ prescrever m edicam ent os ou prat icar at o cir úr gico, ex cet o os pr ev ist os na legislação v igent e ou em caso de em ergência”. Já o Artigo 8º , inciso I I , item C, da Lei do Exercício( 15) cita com o com petência
p r i v a t i v a d o e n f e r m e i r o a “ p r e scr i çã o d e m e d i ca m e n t o s p r e v i a m e n t e e st a b e l e ci d o s e m pr ogr am as de saúde pública e em r ot ina apr ov ada pela inst it uição de saúde”. Ao se observar o Código de Ét ica e a Lei do Exercício Profissional, vê- se que am bos fazem referência a “ m edicam ent os”, deixando m ar g em a in t er p r et ações d if er en t es, ou sej a, ao pr escr ev er er v as m edicin ais, est ar ia a en f er m eir a p r e scr e v e n d o m e d i ca m e n t o s, t a i s q u a i s e l e s m encionam ? A que t ipo de m edicam ent o am bos se pr onunciam ?
O dicionário vernáculo aj uda um pouco nessa em preitada, um a vez que a definição de m edicam ento se am plia quando incor por a o sent ido de r em édio. Vej a- se: m edicam ent o é um subst ant ivo m asculino
que se refere à “ substância ou preparado que se utiliza com o rem édio”( 16) ; e rem édio é aquilo que com bat e
o m al ou a dor de; recurso, solução; auxílio, aj uda; em enda, correção( 16) . Assim , pode- se ent ender que
o r em éd io in clu i, além d e m ed icam en t os, ou t r os recursos, a exem plo do m odo de viver das pessoas, d e su a s cr en ça s, d e seu s v a l o r es e a s p r á t i ca s popular es de cuidado. Nesse caso, a enfer m eir a se ut iliza de m uit os r em édios na sua prát ica, um a vez que inúm er as são as for m as de aj udar o client e a enfrentar o processo de viver e ser saudável, adoecer e m orrer.
Po d e - se i n t e r p r e t a r t a m b é m , q u e
m ed i cam en t o é aqu ele pr odu zido pelas in dú st r ias far m acêut icas, m aj or it ar iam ent e m ult inacionais, ou sej a, os alopát icos. Ou, ainda, as fórm ulas nat urais m anipuladas em far m ácia m ediant e pr escr ição; ou as fórm ulas nat urais produzidas por laborat ório que det ém as m arcas. Dessa feit a, pode- se t om ar com o proibidas todas essas no seu conj unto ou parte delas. Essas dúv idas adv êm do fat o de se est ar, de cer t a for m a, inclinado a consider ar com o “ m ed icam en t o”
aquele que passa por um preparo profissional prévio, no caso, dos labor at ór ios e far m ácias. E quant o às e r v a s i n n a t u r a? Se r i a m co n si d e r a d o s o s m edicam ent os os quais t rat a a proibição da Lei?
Com o se p od e ob ser v ar, em u m a sim p les incursão à tem ática à luz da Lei e da Ética Profissional, i d e n t i f i ca - se u m a sé r i e d e p o n t o s q u e , n e ssa concepção, fragiliza a prát ica e, conseqüent em ent e, a aut onom ia pr ofissional*. Essas am bigüidades que
se a p r e se n t a m , p o d e m d e t e r m i n a r ( o u n ã o ) a ap l i cab i l i d ad e d as p l an t as m ed i ci n ai s n a p r át i ca profissional da enferm eira. Mas é prim ordial que se co n si d e r e a a n á l i se d e q u e é p r e ci so q u e se conquist em espaços na pr át ica par a que se possa assegurá- la em Lei.
De acordo com essas reflexões, pensa- se que o discur so acer ca das possibilidades ét icas e legais de incorporação das plant as m edicinais no dia- a- dia de t r abalho das enfer m eir as não dev a r epr esent ar o b st á cu l o à su a a p r o p r i a çã o n a p r á x i s p ú b l i ca -profissional, dando suport e à et ernização de dogm as acadêm icos e reforçando, desse m odo, a sua adoção apenas na pr áx is pr iv ado- dom iciliar. Tem - se, hoj e, um a pr odução cient ífica de enfer m eir as no sent ido de dem onst rar a im port ância e a aplicabilidade das
plant as m edicinais no cuidado à saúde das pessoas. Ur ge, no ent ant o, configur ar - se e delim it ar - se essa prát ica no âm bit o do cuidado de enferm agem . Para t ant o, a especificidade dessa pr át ica, e do cuidado e sp e ci f i ca m e n t e , a m p a r a - se n a e m i ssã o d e diagnóst icos de enfer m agem .
O cuidado pr escr it o pela enfer m eir a v isa à r eso l u t i v i d ad e d e u m p r o b l em a d e en f er m ag em , p or t an t o, est á n o seu âm b it o p r of ission al. Dessa f o r m a , se se t r a b a l h a r b e m n a e l a b o r a çã o d o s conceit os que nort eiam a prát ica da enferm agem ( o cu id ad o) e, ain d a, se se av an çar n os est u d os d e diagn óst icos qu e im pliqu em pr escr ição de plan t as m ed i ci n ai s p ar a q u e o cl i en t e sej a d ev i d am en t e cu i d a d o p e l a e n f e r m e i r a , e l a e st a r á m a i s pr opr iam ent e inst r um ent alizada par a legit im ar esse e sp a ço co m o u m a e x t e n sã o d a su a p r á t i ca pr ofissional.
CONSI DERAÇÕES FI NAI S
Com o se v iu , a or igem do u so de plan t as m ed icin ais com o r ecu r so t er ap êu t ico n ão é u m a alcunha cient ífica, m as t r at a- se de um saber e de um a prát ica hist oricam ent e legit im ados e difundidos no senso com um . At ualm ent e, m uit as plant as est ão sendo est udadas cient ificam ent e, adquirindo espaço no m eio acadêm ico e na atuação dos profissionais de saúde, inclusive no cam po da enferm agem , a despeito da dom inância do m odelo biom édico na const r ução d a ci ê n ci a , n a f o r m a çã o e n a p r á t i ca d e sse s p r of ission ais. Nesse sen t id o, p od em - se ob ser v ar p esq u i sas q u e f o cam ex p er i m en t o s co m p l an t as m edicinais no âm bit o prevent ivo e curat ivo, em bora am parados nos est udos disponíveis e na observação em pír ica sobr e a pr át ica pr ofissional, ainda não se t e n h a a t i n g i d o su f i ci ê n ci a t a n t o n o ca m p o d a
discussão, com o na pr át ica concr et a par a gar ant ir sua legit im idade, especialm ent e por enfer m eir as, a pont o de t or ná- la um a pr át ica concr et a e aplicáv el no seu espaço público- profissional. Talvez isso ocorra p el a n ã o i n co r p o r a çã o d esse sa b er n o cu r r ícu l o f or m ad or, com o se d iscu t iu an t er ior m en t e. Daí a n ecessid ad e p ost a d e con f ig u r ação e d elim it ação dessa prática no cuidado, em ergindo a reflexão acerca das im plicações ét icas e legais de sua aplicabilidade pela enfer m agem .
Reflet ir sobre essas im plicações no cuidado de enfer m agem t or nou- se ur gent e nessa pr ofissão, ainda m ais quando m uit os profissionais se debat em n a t e n t a t i v a d e g a r a n t i r, ca d a q u a l p a r a si , a exclusividade de saberes e práticas, sem pre na busca do m elhor quinhão desses. Portanto, não se está aqui discut indo est rit am ent e as at ribuições ét icas e legais d o u so t e r a p ê u t i co d a s p l a n t a s co m o t e r r i t ó r i o exclusivo desse ou daquele profissional, m as há que se dem ocr at izar e r elat iv izar o em pr ego delas n o sent ido de um a ação com part ilhada e int erdisciplinar no cuidado à saúde, no caso da enferm agem , com o um a ext ensão de sua prát ica de cuidar.
Dest aca- se, t am bém , o papel fundam ent al qu e se esper a sej a ex er cido pelas Associações de Cl a sse co m o ABEn , Si n d i ca t o e Co n se l h o s Profissionais de Enferm agem , na luta pela dem arcação do espaço da enfer m agem em ár eas que est ão se deflagrando no contexto atual da saúde com propostas coerent es e consist ent es de cuidar.
Por fim , há de se ressaltar que, se é notória t oda a problem át ica por que passa a população em d i f er en t es n ív ei s, so b o u t r o ân g u l o , a f o r m ação universitária revela fragilidades no que tange às áreas d e co n h eci m en t o r el aci o n ad as, p o r ex em p l o , às q u e st õ e s d e sa ú d e q u e se a p r e se n t a m co m o alternativas àquelas que estej am à m argem do poder i n st i t u íd o , o u se j a , à m a r g e m d a ci e n t i f i ci d a d e r econhecida do m odelo biom édico.
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