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A dimensão moral do cuidar na educação infantil

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS- CAMPUS BAURU

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ANDRESSA HELENA AGULHARE

A DIMENSÃO MORAL DO CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS- CAMPUS BAURU

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ANDRESSA HELENA AGULHARE

A DIMENSÃO MORAL DO CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao departamento de Educação da Faculdade de Ciências - UNESP, Bauru, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da Profa. Dra. Rita Melissa Lepre.

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Agulhare, Andressa Helena.

A dimensão Moral do cuidar na Educação Infantil / Andressa Helena Agulhare, 2015

53f.

Orientador: Rita Melissa Lepre.

Monografia (Graduação)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2015 1. Cuidados. 2. Desenvolvimento moral. 3. generosidade. I. Universidade Estadual

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ANDRESSA HELENA AGULHARE

A DIMENSÃO MORAL DO CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao departamento de Educação da Faculdade de Ciências - UNESP, Bauru, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da Profa. Dra. Rita Melissa Lepre.

BANCA EXAMINADORA:

Prof.ªDrª Rita Melissa Lepre.

Assinatura:____________________________________

Prof.º Dr.º Luciene Ferreira da Silva.

Assinatura:____________________________________

Prof.ªDrª Ana Carolina BiscalquiniTalamoni.

Assinatura:____________________________________

Bauru

2015

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e por me guiar sempre na jornada da vida com seu infinito amor.

Agradeço à minha querida orientadora, Profª. Drª Rita Melissa Lepre, pelo apoio, dedicação e incentivos que contribuíram em muito, não somente para a conclusão deste trabalho, como também para a minha formação, pois a tenho como um grande exemplo de educadora, compromissada e dedicada, buscando sempre fazer o melhor pela educação. Muito obrigada por tudo!

Agradeçoà Cláudia, amiga que me ajudo muito para a conclusão deste trabalho, não apenas por me auxiliar na pesquisa, com a coleta de dados nas escolas, mas principalmente pelo apoio, força, dedicação, conselhos que nortearam todo o processo, os quais irei levar para toda a vida.

À minha família e amigos também pelo apoio e por toda força que me dão o que muito me auxilia na busca dos meus sonhos. Obrigada por acreditarem em mim.

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“O cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. Sem o cuidado, ele deixa

de ser humano. Se não receber cuidado desde o nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, definha, perde sentido e morre. Se, ao longo da vida, não fizer com cuidado tudo que empreender, acabará por prejudicar a si mesmo e por destruir o que

estiver a sua volta. O cuidado deve ser entendido na linha da essência humana.”

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RESUMO

Apresente pesquisa investigou como a moralidade vem sendo desenvolvida desde a Educação Infantil por meio das relações de cuidado que se estabelecem entre as auxiliares de creche, as chamadas cuidadoras, e as crianças da faixa etária de 0 a 2 anos de idade, buscando identificar se há a ação de cuidar expressões de generosidade, considerada uma das virtudes que constituem a gênese da moralidade humana, assim como analisar as concepçõesdessas auxiliares de creche sobre o cuidar como uma possibilidade para odesenvolvimento moral das crianças. Apesquisa teve como baseteóricaosestudos de Jean Piaget (1932), pioneiro nas investigações psicológicas sobre odesenvolvimento do juízo moral na criança, e outros autores que possuempesquisas na área da psicologia moral relacionadas ao contexto educacional, assim como a relação do cuidado com a moralidade de modo a fundamentar a investigação. Os resultados revelam que o entendimento sobre o cuidar na educação infantil ainda é superficial e fundamentado em concepções ligadas ao assistencialismo, compreendendo o cuidado de forma limitada, apenas como uma ação voltada à integridade física das crianças. Não foi possível notar preocupações com o desenvolvimento moral das crianças tendo os cuidados como aporte. Esperamos que essa investigação instigue reflexões sobre a importância do cuidar na creche e suas contribuições ao despertar moral das crianças atendidas.

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ABSTRATC

Present research investigated how morality has been developed from kindergarten through care relationships established between the nursery assistants, caregivers calls, and children aged 0-2 years old in order to identify if there the action of caring expressions of generosity, considered one of the virtues that are the genesis of human morality, as well as to analyze the conceptions of these nursery assistants about care as a possibility for the moral development of children. The research was based on theoretical studies of Jean Piaget (1932), a pioneer in psychological research on the development of moral judgment in children, and others who own research in the field of moral psychology related to the educational context as well as the care relationship with morality in order to support the research. The results show that the understanding of care in early childhood education is still superficial and based on concepts related to welfare, including caring in a limited way, just as an action aimed at the physical integrity of children. Unable to note concerns and moral development of children, taking care as a support. We hope this research instigate reflections on the importance of care in day care and their contributions to the moral awakening the children they serve.

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SUMÁRIO

1. Introdução____________________________________________11

2. A Educação Infantil enquanto etapa educativa________________14

3. O cuidar do ponto de vista moral___________________________18

4. A construção da autonomia moral__________________________21

5. Procedimentos metodológicos_____________________________25

6. Resultados ____________________________________________28

7. Análise dos dados_______________________________________38

8. Considerações finais____________________________________ 46

REFERÊNCIAS__________________________________________47

APÊNDICE

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1.

INTRODUÇÃO

Pesquisas que adotam como referencial a Psicologia da Moralidade Humana vem crescendo consideravelmente no Brasil (MENIN, 1996; LATAILLE, 2006; MARTINS, 2009; LEPRE E MARTINS, 2009; TOGNETTA, 2008; VINHA 2003; entre outros) e no mundo (GILLGAN, 1982; DEVRIÉS e ZAN, 1988; entre outro). Mas do que se trata essa área da Psicologia e qual a justificativa para o crescente interesse no tema?

Para La Taille (2006), a Psicologia Moral é “a ciência preocupada em desvendar por

que os processos mentais de uma pessoa chegam a intimamente legitimar, ou não, regras,

princípios e valores morais”. (p. 09). Dito de outra forma é a área que se dedica ao estudo dos

processos psicológicos (intelectuais e afetivos), subjacentes aos juízos e ações morais. De uma forma geral, podemos afirmar que a moral e a ética são responsáveis pela criação e manutenção da civilização e pela superação da barbárie. Sem regras e códigos de conduta não seria possível haver um pacto civilizatório.

Se analisarmos as relações humanas na contemporaneidade, constataremos que trazem consigo traços marcantes da individualidade e da superficialidade, que são expressos em uma sociedade paradoxal, uma vez que se diz global, mas reforça o individual em detrimento do coletivo. As relações interpessoais tornam-se abaladas e fragilizadas pela intolerância e falta de valores que são importantes para se respeitar o outro, e necessários para viver em sociedade. Isto nos faz refletir sobre como a moralidade tem importância significativa para a sociedade.

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Mas, como os sujeitos passam a respeitar as regras, princípios e valores morais? Na psicologia o autor pioneiro em pesquisas a responder essa questão foi Jean Piaget, que reuniu

suas investigações no livro “O juízo Moral na criança” (1932), referência na área. Segundo o

autor, a moral se desenvolve por meio de um caminho psicogenético que apresenta duas tendências morais: A heteronomia e a autonomia. Essa última deve ser construída ativamente pelas crianças na interação com o meio, sobre tudo, o social.

Destemodo,a educação moral tem um papel fundamental no desenvolvimento humano em geral, e deve ser iniciada desde que os sujeitos são crianças, a partir do momento em que começam estabelecer relações com os outros, no convívio da família, amigos e até mesmo nos meios de comunicação. Aescolasendoumainstituiçãosocialtemmuita influência na formação moral de seus alunos contribuindo ou não para a construção da autonomia moral dos mesmos. Asinstituições de Educação Infantil, creches e pré- escolas, não se distanciam desta influência no desenvolvimento moral das crianças, pois nelas também se vivenciam diversas relações que contribuem para despertar a moral dos alunos, cujas relações de cooperação entres educadores, auxiliares e as crianças pequenas podem acontecer durante o cuidar, em que se pode inserir um componente moral por meio das expressões de generosidade, que se revela como a origem do respeito ao próximo sendo uma das virtudes morais fundamentais no desenvolvimento da autonomia moral.

Diante destas afirmações, algumas reflexões se tornam necessárias, tais como:as relações de cooperação podem ocorrer durante o cuidar, ação indissociável do educar, com vistas ao desenvolvimento moral das crianças rumo à construção da autonomia? Épossível observar expressões de generosidade nessa ação? Os auxiliares de educação infantil concebem o cuidar como uma possibilidade para o desenvolvimento moral da criança?

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Para atingir tais objetivos, a metodologia utilizada no estudo foi de caráter qualitativo, por meio de pesquisas bibliográficas que deram aporte teórico necessário para análise e compreensão do momento da observação nos berçários e das entrevistas realizadas com as auxiliares de creche de duas escolas de Educação Infantil da rede pública da cidade de Bauru (SP).

Assim no capítulo 2 será apresentado um breve histórico da Educação Infantil enquanto uma etapa educativa, destacando o dualismo existente entre a esfera assistencialista e a esfera educacional nas práticas vigentes nas creches, que impedem de ver o cuidar de forma indissociada do educar e como uma possibilidade para o desenvolvimento moral das crianças, aspecto este que será abordado no capítulo 3, o cuidar a partir do ponto de vista moral e no capítulo 4 a questão do desenvolvimento moral será abarcada fundamentada pelos estudos dos principais autores da área da psicologia moral, como os de Piaget (1932), apresentado os estágios de desenvolvimento moral e a importância do papel da escola, expressa na figura do educador/ cuidador neste processo.

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2.

A EDUCAÇÃO INFANTIL ENQUANTO ETAPA EDUCATIVA

A Educação Infantil como primeira etapa da educação básica é recente na história da educação brasileira, passando por um período de transição que vai da esfera assistencialista para a esfera educativa. Esta transição começa a se intensificar a partir da década de 70, época marcada por transformações sociais no Brasil e devido ao desenvolvimento econômico e industrial, a entrada da mulher no mercado de trabalho passou a ser cada vez maior e isto fez com que os estabelecimentos de atendimento as crianças pequenas, as chamadas creches, fossem expandidas para que os filhos das mulheres trabalhadoras tivessem onde ficar sob os cuidados de alguém no horário de trabalho.Assim:

A recomendação de criação de creches junto às indústrias ocorria com freqüência [...] Era uma medida defendida no quadro de necessidade de criação de uma regulamentação das relações de trabalho, particularmente do trabalho feminino. (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p. 85)

De maneira que o aumento destes estabelecimentos foi uma conquista de reivindicações de movimentos populares e sociais, que tinham a creche como o direito da mulher trabalhadora e não da criança com direito à educação. Deste modo o foco destas instituições era assistencialista, o cuidado era restrito a manter a integridade física das crianças, de caráter doméstico e maternal, assim:

[...] O trabalho com as crianças nas creches tinha um caráter assistencial-protetor. A preocupação era alimentar, cuidar da higiene, e da segurança física, sendo pouco valorizado um trabalho orientado à educação e ao desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças (OLIVEIRA, 2002, p. 101)

Somente na década de 1980 a Educação Infantil começa a ter reconhecimento legal, considerando o direito da criança, as especificidades da infância e a importância da educação para seu desenvolvimento. É a partir desta década que os textos legislativos e documentos oficiais começam a ser criados incorporando o atendimento da criança pequena no âmbito da educação.

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CIVILETTI, 1988; KISHIMOTO, 1988; entre outros), contribuindo também para romper com a concepção de educação compensatória e assistencial vigente na época. Desta forma:

O interesse por creches e pré- escolas passou de uma fase mais reivindicatória, visando a expansão de vagas e atendimento, para outra,mais voltada para a melhoria da qualidade do serviço fornecido. [...] as instituições de Educação Infantil começam a ser legitimadas pelo Estado e pela sociedade, que passam a reconhecer seu valor (MONTENEGRO, 2005, p. 81)

Em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal, a Educação Infantil é incorporada na lei sob uma perspectiva educacional e como direito da criança de 0 a 6 anos e dever do Estado e da família em assegurar o acesso e permanência (BRASIL, 1988).

Este direito também é asseguradopelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o E.C. A, criado em 1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases 9.394/ 96 (1996), que regulamenta o sistema de educação brasileiro de acordo com os princípios presentes na Constituição; cuja educação das crianças pequenas, creches e pré- escolas, passou a integrar o sistema brasileiro de ensino, como primeira etapa da educação básica (BRASIL, 1996).

A partir do ano de 2006, por meio do projeto de Lei nº 144/ 2005, no qual passou estabelecer o Ensino Fundamental de 9anos, as escolas de Educação Infantil passam a atender crianças de 0 a 5 anos de idade. No ano de 2009 a Emenda Constitucional n° 59, trouxe modificações significativas para a educação, principalmente para as de educação infantil, pois a educação básica se torna obrigatória e gratuita dos 4 ao 17 anos, implementando assim a obrigatoriedade da pré- escola, de forma o que esta tentativa de democratização desta etapa educativa, como afirma CAMPOS (2010), gera uma desigualdade, em termos de quantidade e qualidade, e segmentação da creche da pré-escola, pois

Os governantes tem optado, pela focalização do atendimento nas instituições públicas para crianças de quatro- cinco anos, na perspectiva da universalização do direito à educação. Em contrapartida, para criançasdezero- três anos, cujo direito também precisa ser assegurado, vêm sendo adotado políticas que transferem para a organização da sociedade civil, portanto, para a esfera privada, a responsabilidade pela oferta desse serviço (CAMPOS, 2010, p. 300)

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Kuhlmann Júnior (1998) enfatiza em seus trabalhos a importância da história da infância e da educação infantil para se compreender o que acontece hoje nas instituições de Educação Infantil, além das concepções que abarcam as práticas vigentes, contextualizando com o momento histórico, social, político, econômico, cultural. Segundo o autor

[...] a história das instituições pré- escolares não é uma sucessão de fatos que se somam, mas a interação de tempos, influências e temas, em que o período de elaboração da proposta educacional assistencialista se integra aos outros tempos da história dos homens. (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p. 81)

E também alerta para o risco que podemos correr ao desconsiderarmos a história, pois “quando se desvaloriza a história por ela se ocupar do que já passou, o risco está na ilusão de se inventar a roda novamente” (1998, p. 6); repetindo e perpetuando práticas já superadas, não nos atentando para as novas possibilidades e para o processo de reflexão que auxiliaria na formação dos profissionais de Educação Infantil e conseqüentemente, contribuindo para qualidade desta modalidade de ensino. Por isso se faz necessário compreender a origem das instituições de atendimento da criança pequena e da concepção assistencialista que por longo tempo sustentou tais instituições, assim como a concepção de infância e educação que possibilitaram o entendimento que temos hoje de Educação Infantil, afinal:

A história da assistência, ao lado da história da família e da educação, constituem as principais vertentes que têm contribuído com inúmeros estudos para a história da infância, a partir de várias abordagens, enfoques e métodos. (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p. 17)

Devido ao fato, na história da educação brasileira, a modalidade Educação Infantil ter surgido por uma função assistencialista, o cuidado acabou assumindo hoje, mesmo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), na qual o ensino as crianças pequenas passou a integrar o sistema brasileiro de ensino, como a primeira etapa da educação básica; comrejeição e preconceito por parte dos profissionais de educação, que concebem o cuidado como uma função na qual não deveriam desempenhar, por estar mais associada a dimensão doméstica do que a pedagógica. Sobre isso Kuhlmann Júnior afirma que,

Quando se apregoou que as creches precisavam se tornar educacionais e se rejeitaram essas dimensões fundamentais da educação da criança pequena, o que se fez foi colaborar para que os cuidados e a assistência fossem deixados de lado, secundarizados. Ou seja, que os cuidados fossem prestados de qualquer maneira, porque o que importaria era o educacional, considerado atividade nobre em oposição às tarefas desagradáveis como trocar as fraldas dos bebês, ou qualquer outro tipo de cuidado. (KUHLMANN JÙNIOR, 1998, p. 206)

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3. O CUIDAR DO PONTO DE VISTA MORAL

Pensando no desenvolvimento social, o cuidado, enquanto função associada ao ato de educar, se torna importante para o desenvolvimento da autonomia moral. Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), ressaltam a importância e a necessidade de se trabalhar com o desenvolvimento moral na construção da autonomia e da personalidade.

Conceber uma educação em direção à autonomia significa considerar as crianças como seres com vontade própria, capazes e competentes para construir conhecimentos, e, dentro de suas possibilidades, interferir no meio em que vivem. Exercitando o autogoverno em questões situadas no plano das ações concretas, poderão gradualmente fazê- lo no plano das ideias e valores. (BRASIL, 1998, p. 14)

No cuidar estabelecemos relações que nos permite compreender, além e si, a importância do outro e se torna um momento propício para aconstrução de valores e para o desenvolvimento da moralidade e autonomia da criança.

A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos. (BRASIL, 1998, p. 24)

Segundo Montenegro (2005), no campo da moralidade, a virtude que mais se aproxima do sentido de cuidado é a generosidade. Para La Taille(2006), a generosidade é uma virtude moral que está na gênese da moralidade, notadamente na fase do despertar do senso moral. Assim, o contato das crianças com a generosidade, expressa na figura do educador/cuidador que pode contribuir para despertar o senso moral, desde a Educação Infantil. Comte-Sponville aborda a virtude da generosidade de maneira racional, tendo a como

uma “forma de liberdade e de domínio de si mesmo” (MONTENEGRO, 2005, p.90); segundo o autor:

Generosidade é a virtude do dom. Não setrata mais de “ atribuir a cada um o que é seu, como dizia Spinoza a propósito da justiça, mas de oferecer o que não é seu, o que é de quem oferece e que lhe falta (COMTE- SPONVILLE, 2009, p.97)

E diferencia a generosidade de justiça argumentando que:

[...] a generosidade é mais subjetiva, mais singular, mais afetiva, mais espontânea, ao passo que a justiça, mesmo quando aplicada, guarda em si algo mais objetivo, mais universal, mais intelectual ou mais refletido. A generosidade parece dever mais ao coração ou ao temperamento; a justiça, ao espírito da razão (2009, p. 97)

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a Educação Infantil é um ambiente de socialização e a todo o momento são passadas mensagens morais nas relações que se estabelecem, querendo ou não. Ao analisar o cuidado na perspectiva do desenvolvimento moral na Educação Infantil, MONTENEGRO afirma que é:

[...] necessário adotar uma perspectiva de desenvolvimento da moralidade que integre componentes cognitivos e emocionais, universais e pessoais. É nessa articulação das relações entre essas dimensões que entendo deva residir o fundamento de uma conceituação do cuidado na educação infantil (2009, p. 92)

Por isso as concepções que estas auxiliaresde Educação Infantil possuem sobre educação, infância, autonomia e moralidade são importantes fontes que revelam o desenvolvimento de suas práticas, se comprometidas com a construção da autonomia moral, devem estar atreladas a uma educação moral consciente, que propicie um ambiente de respeito mútuo, cujas relações sejam embasadas na cooperação entre cuidador e as crianças, contribuindo assim, na formação sócio- moral e da autonomia das crianças. O cuidar é um exemplo de moralidade, pois demonstra a preocupação com o outro, é uma forma de considerar e respeitar o próximo. Gilligan (1982) em suas pesquisas conseguiu identificar e pensar a ética do cuidado, que envolve vários valores, como a generosidade, que influenciam no desenvolvimento moral e da construção da personalidade ética das crianças.

Assim no cuidar os cuidadorestêm a possibilidade de formação moral através das relações de generosidade com os bebês, expressando a importância e responsabilidade de suas ações em relação aos outros, fazendo com que acriança compreenda que além de si, existem outras pessoas, com sentimentos e visões diferentes que necessitam ser consideradas e respeitadas.

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Apesar de ser mais conhecido por seus estudos sobre a construção do conhecimento com os estádios do desenvolvimento cognitivo, Piaget dedicou- se também a psicologia da moralidade, se distanciando das reflexões especulativas, buscando dados empíricos, entrevistando crianças e assim contribuindo com uma abordagem cientifica da moralidade

humana “mostrando como o estudo do pensamento infantil joga decisivas luzes sobre o

pensamento adulto e humano em geral” (LA TAILLE, 1994, p. 10). Por meio de suas investigações sobre o raciocínio das crianças nos jogos de regras, acabou descobrindo a existência de um caminho psicogenético no desenvolvimento moral, identificando dois fenômenos fundamentais para a compreensão da construção da autonomia moral:

1º) A prática das regras, isto é, a maneira pela qual as crianças de diferentes idades as aplicam efetivamente.2º) A consciência da regra, isto é, a maneira pela qual crianças de diferentes idades se apresentam o caráter obrigatório, sagrado ou decisório, a heteronomia ou a autonomia inerente às regras do jogo.( PIAGET, 1994, p. 23)

Sendo assim, um ponto importante da teoria de Piaget, é de que a ação antecede a tomada de consciência da regra no indivíduo, ou seja, é através das experiências vividas e das relações estabelecidas no meio social, em que as crianças interagem que será realizada a abstração destas relações, as quais influenciam no modo como elas pensam e lidam com as regras, apresentando duas tendências morais: a heteronomia e a autonomia. Desta maneira “as

relações existentes entre a prática e a consciências da regra são de fato, as que permitem melhor definir a natureza psicológica das realidades morais” (PIAGET, 1994, p. 23).

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4. A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA MORAL

A criança constrói a sua moralidade gradativamente a partir da interação com seu meio social, passando por diversas experiências e situaçõescotidianas que exigem dela valores, respeito às normas e princípios. Partindo da ação da regra, Piaget (1994) estabeleceu três momentos ou tendências de julgamento moral, os quais caracterizam a construção da moralidade pela criança: anomia, heteronomia e autonomia, que “na realidade não são

propriamente estágios de desenvolvimento moral, mas sim atitudes dominantes que foram encontradas em determinadas idades” (VINHA, 2003, p. 27). Em cada estágio a criança apresenta condutas que correspondem a três tipos de regra: regra motora, regra coercitiva e as regras racionais.

A anomia (pré- moralidade) é marcada pela ausência de consciência às regras morais, cuja ação da criança é subordinada as suas vontades e a aos seus impulsos motores, pois tal fase do desenvolvimento da moralidade se encontra nas etapas sensório-motora e pré-operatória do desenvolvimento cognitivo da criança, já que se inicia do nascimento e vai até aos 04/05 anos de idade aproximadamente. Sendo assim, o egocentrismo característico destas etapas da inteligência, é predominante na pré- moralidade. O egocentrismo se revela na incapacidade de indiferenciação do ponto de vista da própria criança com a dos outros, conseguindo apenas perceber a sua perspectiva frente aos fatos. Mas com o seu desenvolvimento e com as relações sociais que começam a estabelecer com os outros acabam descentrando seu ponto de vista, passando a considerar os outros e a coordenar as diferentes perspectivas.

A partir do momento em que começam a participar das relações sociais, percebem a existência de regras, de que há normas, há um certo e também um errado, coisas que podem ser feitas e outras não. Porém tais regras surgem em uma relação de respeito unilateral, como uma verdade única e sagrada. Segundo Telma Vinha:

Conforme o egocentrismo característico da inteligência prática vai decrescendo, e ao se relacionar comos adultos, percebe- se um certo progresso no desenvolvimento da criança pequena. Combinando o egocentrismo no plano das representações (pré- operatório) com a coação própria das relações entre os adultos e crianças, observa- se que a criança transfere a fonte da verdade, passando da submissão das próprias idéias (anomia) para a submissão à palavra adulta (heteronomia) (VINHA, 2003, p. 54)

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as regras que devem ser obedecida. A obediência à regra é algo exterior a criança, compreendendo a como um dever ao adulto e acabam as legitimando não por uma reflexão consciente, que as levasse a interiorizar tais regras, mas sim porque alguém considerado importante por ela às colocou. Na heteronomia a regra é coercitiva, pois “a criança está

persuadida de que há regras, verdadeiras regras, e de que é preciso se conformar com elas, por que são sagradas e obrigatórias” (PIAGET, 1994, p. 79) vindas de pessoas pelas quais possuem respeito, caracterizando uma relação de submissão:

Assim, para a criança, as normas são concebidas e impostas pelo adulto; então a regra ou recomendação tem sempre uma origem respeitada (Deus, pais, irmão mais velho, professora, etc.), exprimindo autoridade. A legitimidade das regras se dá pelo prestígio de quem as colocou, ou seja, a autoridade legitima a regra. (VINHA, 2003, p. 74)

Ou seja, as regras são legitimadas e impostas por alguém com autoridade e as crianças as detêm como algo absoluto, rígido, superior e inquestionável, sem compreender o

verdadeiro valor e sentido da regra que segue. Neste estágio é comum que elas sigam ao “pé

da letra” e de forma rigorosa as regras e pelo fato de ainda serem egocêntricas, acabam

adaptando as regras segundo seus interesses e ponto de vista e quando se faz julgamentos aos atos alheios, preza mais as conseqüências materiais do que a intenção de uma pessoa que cometeu certo erro desobedecendo a uma regra. A este fato, Piaget (1994) dominou de

“julgamento por responsabilidade objetiva”. DeVries e Zan (1998), a respeito de como as

crianças pensam sobre regras morais afirmam que:

As crianças pequenas podem ser descritas como realistas morais, porque seus julgamentos de certo e errado, bom ou mau, estão baseados naquilo que lhes é observável ou “real”. [...]Isso resulta da limitação intelectual da criança pequena incapaz de pensar além da “superfície observável” dos eventos. (DEVRIES; ZAN, 1998, p. 40)

Por conta deste realismo moral e pela dificuldade de assumir diferentes pontos de vista que não sejam o seu, sentimentos e intenções são difíceis de serem perceptíveis e compreendidos pelas crianças, assim como em compreender as razões das regras tornando as arbitrárias. Só a partir dos 10/11 anos de idade, a criança passa a ter uma postura diferente em relação ao respeito às regras, realizando “julgamento por responsabilidade subjetiva”,

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perspectivas, sentimentos, intenções e ideias dos outros. Este momento é denominado autonomia.

Na autonomia, o sujeito “governa a si” próprio, moral e intelectualmente, sendo capaz interiorizar as regras conscientemente por meio da reflexão crítica, compreendendo o verdadeiro valor e razão das regras morais que cumpre e não mais por obediência à autoridade (DEVRIES; ZAN, 1998). A regra deixa de ser algo externo, partindo do seu interior, tornando se uma regra racional. O temor e o autoritarismo vão sendo substituídos pelo sentido de igualdade e respeito mútuo nas relações levando a criança a uma moral autônoma:

Com respeito mutuo, aos poucos, a criança vai substituindo suas relações embasadas unicamente na obediência, passando a fundamentá- las também na reciprocidade. Com esta possibilidade da mutua coordenação das diferentes perspectivas, sentimentos e das ações, a criança passa ater maiores condições de elaborar suas próprias normas de conduta. (VINHA, 2003, p. 28)

O ser autônomo e consegue abstrair os porquês das regras impostas, conseguindo fazer então, uma auto-regularem moral e intelectual. Para Piaget (1932), o importante não são as normas em si, mas o porquê as segue. Os sentidos e significados destes porquês são construídos a partir de interações das criançascom os mais variados ambientes sociais; onde por meio da prática das regras a criança constrói a consciência de si, do mundo e das regras morais. Piaget (1994), afirma que estas interações sociais podem ocorrer por meio de dois tipos de relações: as de coação e a de reciprocidade. Nas relações de coação há respeito unilateral, da criança pelo adulto, medo da punição e obediência da parte da criança. Nas relações de cooperação há respeito mútuo, reciprocidade e respeito entre a criança e adultos e entre seus pares.

A construção da autonomia está intimamente relacionada à vivência de relações sociais de cooperação. As interações assumem um papel importe na construção da autonomia moral, só em um ambiente cooperativo, onde vivencie verdadeiras situações e experiências de reciprocidade e respeito ao próximo, é que as crianças poderão desenvolver a sua autonomia:

É desce de pequenina, durante a convivência diária que a criança irá construir seus valores princípios e normas morais [...] Dessa forma, ao interagir com as situações do cotidiano que envolvam normas e relações entras as pessoas, o sujeito irá desenvolvendo a sua moralidade. (VINHA, 2003, p. 22)

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moral é o contexto de interações onde as crianças constroem seu “self” (identidade) e suas concepções sobre o mundo dos objetos, das pessoas e são “os adultos que determinam a

natureza do ambiente sócio- moral no qual a criança pequena vive, através das interações

diárias” (DEVRIES; ZAN, 1998, p. 51), que podem ser coercitivas ou cooperativas.

A instituição escola constitui um dos ambientes sociais, como a família e a sociedade, de interação das crianças e pode influenciar na formação intelectual e moral de seus alunos. Dependendo das relações que se estabelecem no meio educacional, a criança poderá, ou não, desenvolver sua autonomia moral. Como a moralidade é construída desde que a criança épequenina, a Educação Infantil constitui se espaço de formação integral que contribui no desenvolvimento da moralidade infantil.

Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998), a instituição infantil é um espaço onde as crianças se relacionam eticamente e moralmente, porém essas relações não se devem apenas ao âmbito escolar, mas também a sociedade e cultura a qual pertence.

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5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo que apresentamos teve caráter qualitativo uma vez que objetivou conhecere interpretar determinado fenômeno por meio da observação, descrição, análise e compreensão.

A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas de educação infantil da rede pública de ensino da cidade de Bauru (SP), ambas situadas na periferia da cidade. São escolas de médio porte que atendem a creche e a pré-escola. O contexto social das escolas é bastante semelhante e o entorno dos bairros que as abrigam também. Ambas foram escolhidas por conveniência e, sobretudo, por terem demonstrado interesse em participar da investigação. Denominaremos as escolas de Instituição A e Instituição B.

Os participantes desta pesquisa foram as crianças da creche, entre 0 e 2 anos de idade e as auxiliares de Educação Infantil. Na cidade de Bauru, o trabalho com as crianças da creche é desenvolvido pelas auxiliares que não necessitam, obrigatoriamente, terem formação pedagógica de nível superior. A maioria das auxiliares cursou o magistério e algumas estão cursando Pedagogia.

A escolha de ter as crianças da creche como participantes se justifica pela presença constante de cuidados como troca de fraldas, banho e alimentação podendo ser mais facilmente observados. Essa opção pela idade dos participantes também se justifica pela pouca freqüência de pesquisas com essa população.

A fim de conhecer e analisar as relações de cuidado e suas possíveis relações com o desenvolvimento moral, por meio da generosidade, trabalhamos com os berçários das escolas participantes, em diversos momentos e em diferentes horários da rotina. Cada berçário possui, em média, 20 crianças e 04 auxiliares de creche (ou cuidadoras)que se organizam de tal forma que cada uma fica responsável por uma tarefa.

Os instrumentos para a coleta de dados foram a observação da rotina de cuidados e a entrevista dirigida com as cuidadoras. Tantos asobservações como as entrevistas semi-dirigidas seguiram um roteiro pré-estabelecido.

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Qual é a tonalidade da voz que é utilizada? Como são os gestos das professoras/ cuidadoras com as crianças? São bruscos, rápidos, rígidos ou calmos delicados e suaves? Elas prestam atenção nas expressões do rosto das crianças e as levam em consideração para se comunicar e compreender as emoções das mesmas? É possível perceber a generosidade em suas ações? Como é feita a abordagem por parte das professoras/ cuidadoras na hora do choro, ou em alguns outros conflitos que podem ocorrer com as crianças pequenas durante esses momentos, como mordidas, tapas, etc? Qual é a atitude e a postura diante de tais situações? (possuem paciência utilizando o diálogo, tom de voz moderado ou gritam, apelidam a criança, que tipo de advertência que é dada?) Nesses momentos há alguma articulação do cuidado com o educar, com ações que estimulem o desenvolvimento moral e a autonomia dessas crianças ou o cuidado é restrito, apenas para mantera integridade física das mesmas? Há o empenho para proporcionar o desenvolvimento integral das crianças? Quanto à moralidade: professoras/ cuidadoras demonstram ter consciência do papel que possuem no desenvolvimento da moralidade infantil, principalmente nesses momentos de cuidados ou consideram dever da família?

As entrevistas semidirigidas seguiram o seguinte roteiro, tendo o intuito de conhecer e analisar as concepções das auxiliares de creche sobre o papel do cuidado na Educação Infantil e a possibilidade de relação com o desenvolvimento moral das crianças.

Dados para identificação: - Iniciais do nome; - Sexo;

- Idade;

- Formação inicial (Inicial e continuada); - Tempo de atuação na Educação Infantil;

1. Qual a importância que você atribui à ação de cuidar na Educação Infantil?

2. Em sua opinião o que significa, ou seria, a ação de cuidar e educar como ação complementares na Educação Infantil? Você integra o educar e o cuidar? Quando você cuida você está educando?

3. Você já ouviu falar sobre o desenvolvimento do juízo moral na criança? O que você entende sobre isso?

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6. Você considera essa virtude (a generosidade) importante na sua atuação enquanto cuidadora (auxiliar de Educação Infantil)?

7. Para você, qual seria a possível relação existente entre o cuidar, a generosidade e o desenvolvimento da moralidade das crianças?

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6. RESULTADOS

AS OBSERVAÇÕES

a)Instituição A

A primeira creche observada, logo após ter feito o contato explicando o objetivo da pesquisa e os procedimentos de observação e entrevistas, iniciei a coleta de dados. A diretora da escola foi muito gentil e receptiva, apoiou o trabalho e logo, junto com as cuidadoras do berçário, estabeleceu a quantidade de vezes e um horário para que eu pudesse observar. Deste modo ficou decidido que eu iria duas vezes por semana do horário das nove horas da manhã até às onze horas período a qual eu conseguiria analisar e observar o lanche antes do almoço, momento do banho e a hora do soninho.

Assim, durante um mês acompanhei todas as quartas e quintas feiras a jornada das cuidadoras de Educação Infantil. Esta escola atende a educação das crianças pequenas de 0 a 5 anos de idade e no berçário atende cerca de 20 crianças pequenas de 0 até 2 anos de idade. Ao todo são 4 cuidadoras, o que permite uma média de 5 bebês para cada cuidadora. Isso contando quando todas vão, pois é muito freqüente de algumas faltarem. Devido a esta proporção de bebês por cuidadoras, a rotina acaba se tornando um verdadeiro caos, refletindo a desvalorização da creche enquanto espaço educativo e o embate que ainda vigora entre assistência e educação. Na primeira semana notei certo receio por partes das cuidadoras comigo, mas entendo que é muito complicado estar sendo observado por alguém. No momento em que chego, elas preparam as crianças para o lanche antes do almoço; naquele dia

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maior se resume se a criança comeu tudo ou não sem fazer muita sujeira, afinal são elas que limpam.

Depois do lanche as crianças são levadas para tomar banho. O banho é dado por duas cuidadoras das quatro que ficam no berçário. Assim enquanto duas dão banho as outras duas ficam cuidando das crianças e vão revezando as duplas ao longo da semana. Achei interessante ao fato de me chamarem para observar este momento o que demonstrou certa receptividade com a minha presença.

Assim cada uma pega uma criança e leva para o fraldário e lá se revezam para utilizar a ducha. Como são muitas crianças o momento do banho é corrido, pouco se conversa com a criança. O assunto é entre as cuidadoras e a pauta principal é a família.

O discurso das cuidadoras revelou que a relação entre escola e família é difícil. Não há parceria e sim uma rivalidade que gera o desentendimento e distanciamento das duas instituições formadoras. As reclamações quanto aos pais e família são diversas. Em umdos dias foi o descuido que os pais têmem relação ao cuidado com as crianças, pois relatam que algumas crianças chegam sujas para o berçário, com a fralda cheia, muitas vezes voltam com a mesma roupa do dia anterior, reclamam também pelo fato de alguns pais não arrumarem direito a malinha das crianças, mandando poucas roupas, pouca fralda e nem pomada de assadura.

Quanto a isto elas disseram que usam as receitas da vovó, passando amido de milho, porque se a criança ficar assada os pais brigam com elas. Também reclamam que há muitos bebês grandes, que dificulta dar o banho. Falaram de começar a usar o chuveiro para essas crianças maiores, mas antes tentariam adaptar o espaço do fraldário que é muito pequeno. Taiscircunstâncias, segundo elas, dificultam a hora do banho, fazendo com que se perca muito tempo devido a estas questões. Porém um dos dias uma atitude me chamou a atenção. Foi aabordagem de uma das cuidadoras que para acalmar uma criança que chorava muito, fazendo uso do diálogo, conversando com a criança, falando para ela que não precisava chorar, pedindo para se acalmar, utilizando um tom de voz moderado e quando a criança se acalmou ela continuo conversando e disse assim: “Viu como você está melhor agora que acalmou”.

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Depois do banho é a hora do almoço. Para almoçar as crianças maiores são colocadas em cadeirões e os menores no carrinho. Da mesma forma do momento do lanche, cada uma das cuidadoras alimenta de 4 a 5 crianças. A refeição é diferente entre eles; os bebês de até 7 meses comem papinha, já os maiores comem alimentos mais sólido. É um momento em que as crianças estão muito agitadas e impacientes, com fome e sono e por isso choram muito. Em um dos dias uma das cuidadoras para acalmá-los começou a cantar. Foi como mágica. As crianças simplesmente pararam de chorar no instante que ela começou a cantar, mas o incrível disto foi que elas passaram a imitar seus gestose arriscavam a pronunciar algumas palavras para cantar junto. Porém este momento dura até o alimento chegar e não acontece todo dia, infelizmente não há uma finalidade pedagógica, o cuidado relacionado ao cognitivo, há apenas a intenção delas ficarem quietas sem chorar para comertodo o alimento. Como nos outros momentos o almoço é corrido, sem diálogo e há pouca estimulação para as crianças maiores comerem sozinhas. Há a preocupação de elas comerem com o mínimo de sujeira possível, isto ficou visível quando uma das cuidadoras ficou brava com uma das crianças por esta começar a comer sozinha.

Interessante foi notar que algumas crianças têm preferência e só se alimentam com determinada cuidadora, demonstrando um grau de afetividade. Parece que algumas são até mães das crianças ao ponto delas chorarem caso não as vejam. E assim como as crianças, as cuidadoras também tem as suas preferências. Ouvi uma dizer que não gostava de alimentar determinada criança, porque ela era muito “chatinha para comer”. Dava muito trabalho e

era,segundo ela “só por Deus”.

Fato este que mostra que a questão da afetividade existente na relação do cuidador com as crianças é importe e outro ponto interessante é que este grau de afetividade é maior quando a criança é mais carentes, dando a estas crianças mais atenção. A questão social foiconstantemente levantada pelas cuidadoras pois muitas crianças chegam em estados críticos que demonstram a falta de cuidado ( higiênicos e com a saúde) dos pais com a crianças, e uma delas argumentou que não é porque é pobre que precisa chegar neste estado.

“Pobreza não é desculpa para “porquice”.

Tal discussão surgiu no momento do banho em que uma das crianças apresentava a falta de cuidados, chega toda suja, com cheiro ruim, a pele cheia de alergias. Elas começaram a indagar se esta situação poderia ser considerada como maus tratos. Uma delas disse quea

escola está mais para um “maternalismo”. Pai, mãe e a família nãoquerem criar seus filhos e

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Disse que se pudesse, a escola deveria pegar as crianças assim quando nascem e educar até os 18 anos, então só assim entregaria para a família, pois tem muitas crianças em situações de dar dó. De maneira geral, as observações revelaram que o cuidado é realizado de forma assistencialista e que há pouca ou nenhuma preocupação com o desenvolvimento moral das crianças e com demonstrações de generosidade.

b) INSTITUIÇÃO B

O berçário da segunda instituição observado fica localizado também em um bairro periférico da cidade,atende crianças de 0 a 5 anos. O berçário tem12 crianças, com idades que variam de 4 meses a dois anos de idade conta com 3 cuidadoras.

Devido ao número menor de criança, o ambiente é calmo se comparado com a primeira e são poucas as crianças que permanecem o período inteiro no berçário que é das oito da manhã até às quatro e meia da tarde.

Para a observação, a diretora da EMEII estabeleceu o período da tarde, pois no da manhã havia poucas crianças e seria um período que possibilitaria observar melhor a interação das cuidadoras com as crianças no momento do lanche logo após o “soninho”, o jantar delas,

além da troca de fralda e banho. Arotina é toda programada para atender as necessidades da criança de acordo com o horário que ficam no berçário.

Todos os dias de observação ao chegar, as crianças estavam brincando com os diversos brinquedos que estavam espalhados pelo ambiente. As cuidadoras pouco interagiam com as crianças, só ficam as assistindo, atentas aos seus movimentos e ações, orientando, ora ou ora, para não subirem determinado local, não brigar ou bater em outra criança, para não se machucar.

Algumas crianças ainda estavam dormindo e eram acordadas para o lanche, que variou de bolacha para frutas, que eram dadas em pedaços para as crianças, só para as que eram muito pequenas as frutas eram amassadas.

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“descansar” em um cantinho. Tal prática se repetiu várias vezes sempre queuma criançafazia algo de errado, de acordo com a cuidadora era muito feio, tão feio que deixava a criança feia.

No momento da alimentação, o jantar deles, a situação se repete comona outra instituição devido a proporção cuidador para crianças. Elas chegam adar comida para 2 ou 3 ao mesmo tempo. Mas como o número de criança émenor, o momento é mais calmo, porém não há muito diálogo com as crianças.Notei que na parede há vários cartazes, dentre eles um que dizia paraaproveitar o momento da alimentação para se trabalhar os sentidos dascrianças, quanto aos cheiros, sabores, cores e texturas dos alimentos e que noplano de rotina do berçário, há entre as atividadespara serem realizadas comcolagem, desenho, massinha, passeios no parquinho da escola, ao tanque deareia, mas na prática nada disto acontece.

Depois que comem é hora de tomar água e assistir algum DVD. Momento complicadoporque a televisão é pequena e fica em um lugar com muito reflexo de luz e pouco dá para ver o que se passa e escutar também, pois o som é muito baixo. Algumas crianças ficam impacientes, pois tem que ficar assistindo o que passa na TV sentados no carrinho até que todos estejam com as fraldas limpas.

Assim, um a um são trocados, o banho nem sempre acontece, só se a criança estiver muito suja, ficando prontos e arrumados para irem embora. O fraldário é maior, amplo e espaçoso, possui banheiras, chuveiros e até uma pia adaptada para as crianças pequenas aprenderem a utilizar, lavando as mãos e escovando os dentes.

Diferente do outro berçário, a relação das cuidadoras com a família não é um problema, pois o que se espera das duas partes quanto aos cuidados das crianças são atendidos.

Também nessa instituição, de forma geral, não foi possível notar preocupações com a hora dos cuidados como possível momento facilitador da construção da moralidade infantil e, ainda que esse ambiente tenha se caracterizado como mais calmo que o da instituição A, também não houve expressões ativas da generosidade.

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duas instituições teve uma cuidadora em cadaescola que não aceitou participar da entrevista justificando quetema da moralidade humana é complicado demais.

AS ENTREVISTAS

As entrevistas foram realizadas nas escolas participantes em local adequado. Apresentaremos as perguntas e as respostas das participantes denominadas de C1, C2, C3 e C4, sendo o C referente ao termo cuidadora. E após a apresentação faremos nossas análises.

1. Qual a importância que você atribui à ação de cuidar na Educação Infantil?

C1= “Essa é a fase que a criança está em aprendizagem, então a gente tem que ter um

cuidado maior pela idade dessas crianças. Então o cuidado é bem maior.”

C2= “Eu acho importante nosso trabalho em cuidar das crianças, porque eles são muitos

pequenos então não tem como a gente passar uma parte pedagógica, mas a gente cuida deles, porque eles ficam o dia inteiro aqui com a gente; então a gente cuida, troca eles quando precisa, dá o alimento deles, a gente passa nosso carinho, nosso amor. Então a gente cuida basicamente deles em todos os sentidos, para eles não caírem, não se machucar.”

C3= “Qual a importância? Nesse mundão de hoje que ta aí, eu que cada um fazer a sua parte pra criança começar a se desenvolver para ser um cidadão honesto, aprender a cuidar das nossas... como eu posso dizer?... Das nossas... ah, cuidar das coisas, do poder público, porque a gente vê muita criança que sai entra na escola ejá que destruir; essa pichação que tem em nossa cidade...eu acho que a educação faz um papel muito bonito com essas crianças.”

C4= “Eu acho que é bom para o desenvolvimento da criança e aqui ele ta aprendendo para ser

um bom cidadão.”

2. Em sua opinião o que significa, ou seria, a ação de cuidar e educar como ação complementares na Educação Infantil? Você integra o educar e o cuidar? Quando você cuida você está educando?

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C2= “É, eu acho assim, é tudo interligado com o outro, a gente tenta de uma certa forma

passar para eles o que é certo e o que é errado né. Mas também tem o que eles trazem de casa, o que é passado pra eles em casa né, e o que a gente já não sabe. Alguns a gente já tem um certo conhecimento, mas não dá pra gente saber ao certo. Então a gente tenta fazer nosso papel que é cuidar deles e isso vai dando seqüência quando eles saem do berçário e vão para as atividades lá de fora, que ai sim começa uma atividade mais pedagógica. Então, assim, é um trabalho a longo prazo, não começa e termina aqui no berçário, pelo contrário, dentro do berçário só começa e eles vão começando a pegar o ritmo das coisas e vão dando

continuidade mais pra frente.”

C3= “Eu acho que a família tem que estar inserida junto com a escola. Porque a educação começa em casa, os pais que tem a obrigação de educar e a escola complementa essa educação, ensinando acriança além de aprender a ler e a escrever e a ser um ótimo cidadão.”

C4= “Eles passam a maior parte do tempo na escola né, então a maior parte da vida deles está sendo na escola, eles estão crescendo, aprendendo, e descobrindo novas coisas na escola e

isso gratifica bastante, porque a gente encontraeles lá fora e eles reconhecem.”

3. Você já ouviu falar sobre o desenvolvimento do juízo moral na criança? O que você entende sobre isso?

C1 = “Então aqui a gente passa uma coisa para a criança e em casa acriança aprende outra

coisa né e aqui na escola a gente tenta passar o que é certo. Tudo que é certo e tudo que a gente acha o que é certo que a criança deve aprender a gente tenta passar para a criança. Mas

é complicado, porque em casa se passa de um jeito, aqui a gente passa de outro.”

C2= “Então é assim, é o que eles vêem dentro do berçário, que é um ambiente saudável, um ambiente com crianças, mais ou menos da mesma idade, então aqui eles tem os brinquedo apropriados para a idade, mas é, tem a parte decasa também né, tudo o que é passado, tudo o que pai, mãe, avós e tios, é passado para essa criança e aqui a gente tenta fazer um trabalho social também, mas é também é o eles aprendem em casa, se é um ambiente saudável, com o pai, com a mãe, se não é um ambiente traumatizante para a criança. Então é tudo junto, não

tem como separar.”

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casa, né, mas a escola complementa para mostrar para a criança o que é certo e o que é errado, ai ela se transforma em um homem ela vai procurar um caminho e esperamos nós que ela procure o caminho certo e é dentro da escola ela aprende também qual é o caminho certo.”

C4 = “Não, nunca ouvi falar.”

4. Em sua opinião qual seria o papel do cuidador para promover o desenvolvimento da moralidade na criança? É possível através do cuidar desenvolver a moralidade da criança?

C1= “Aqui é mais cuidar do que educar, porque a idade das crianças que a gente cuida né, não tem professor, então a gente só auxilia a criança, tipo assim, a não fazer aquilo, mas é mais para cuidar, tipo trocar, dá o papa, e nesse meio tempo a gente vai ensinando algumas coisas. Muito pouco porque o que a gente passa para as crianças égente tem mais é que cuidar porque como eles são pequenininhos, tem que ficar mais atento para não se machucar, trocar quando eles necessitam, dá o alimento. Então quando a gente vai alimentando, cuidando, dando

banho, agente vai tentando passar alguma coisa para ele.”

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não for passado isto ai a gente não tem muito o que fazer. A gente pode ajudar, orientar, conscientizar ....mas né!”

C3= “O meu papel? O meu papel é encaminhar elas tudo o eu aprendi, tudo o que a gente

aprendeu entre família, nas escolas com professores, para se tornar uma pessoa honesta, digna, uma pessoa de caráter, responsável. Eu acho que tudo issoengloba na moralidade. E eu

acredito que através do cuidar a gente pode desenvolver essa moralidade.”

C4= “Na minha opinião é fazer o possível para ele aprender o melhor, porque o que ele aprender aqui é o que ele, tirando a família, é o que ele vai guardar e desenvolver e crescer. Então eu acho que eu estou ajudando bastante, né porque como eles ficam bastante tempo na escola, eu estou ajudando.”

5. Em sua opinião, o que é generosidade?

C1=“Generosidade? É a gente dá tudo da gente para a criança, né; tudo o que a gente sabe a

gente passa para eles, tudo de bom e de melhor.”

C2=“É o que a gente tenta passar para eles, o carinho, atenção. No momento em que eles estão aqui a gente procura cuidar deles com muito carinho, ver a hora que precisa trocar no momento certo, a hora que eles estão com fome, seguir o horário das refeições que é o horário que eles já estão com fome, a parte do soninho que é a hora que eles descalçam, então é bom pra eles também. Então eu acho que é isto, é tudo o que a gente faz por eles, cuidar com

carinho”.

C3= “Generosidade? Generosidade é o... como que fala, compartimento... não, não é compartimento... É um compartilhar entre o ser humano, para a criança aprender a repartir, que começa de pequenininho. Lógico tudo através da educação que se tem dentro de casa e a repartir o que tem e eu acho que o maternal é o primeiro passo da escola.”

C4= “Generosidade é o que é ser bondoso, né? É o que é bondoso, é o que estáajudando a se tornar uma boa pessoa.”

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C1= “Eu acho que sim, é bem importante a gente passar a generosidade da gente, abondade da gente para as crianças né que eles vão aprender.”

C2= “Sim, considero importante.”

C3= “Sim, porque eu tento passar tudo o de melhor para eles, para que eles se tornem

cidadãos honestos, pessoas de caráter, cuidando sempre da melhor forma.”

C4 = “Sim, bastante, porque, assim, eu procuro passar a questão de educação e de respeito. O que é certo e o que é errado.”

7. Para você, qual seria a possível relação existente entre o cuidar, a generosidade e o desenvolvimento da moralidade das crianças pequenas?

C1= “Então pra gente cuidar, a gente tem que cuidar e a gente tem que tratar bem a criança,

porque se a gente não tratar bem , a gente não vai ta passando, tipo, o necessário para a criança, a gente tem que passar o necessário cuidando e educando, nesse sentido né; porque a gente não é educadora, a gente não ta aqui pra educar, é pra cuidar, mas nesse sentido a gente

acaba educando e passando o que é melhor para a criança.”

C2= “É, se você não tem generosidade, você não vai cuidar de uma criança. Então para você ta aqui cuidando, não só de uma criança, mas cuidando de uma outra pessoas independente se é criança, novo ou velho, você tem que gostar, você tem que ter essa generosidade de cuidar

de uma outra pessoa, né. Então é tudo interligado uma coisa com a outra.”

C3 = “A gente precisa ser generoso, ser bondoso pra cuidar do outro, e eu procuro dar o melhor de mim pra eles se tornarem uma boa pessoa.”

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7. ANÁLISE DOS DADOS

Por meio da observação e entrevistas foi possível compreender a rotina da creche e como as concepções das cuidadoras quanto à ação de cuidar, a integração do cuidar e educar, assim como sobre o desenvolvimento moral e de como esse cuidar pode ser uma possibilidade para tal desenvolvimento na criança, influenciam nas suas práticas cotidianas no contexto da creche, caracterizando a dicotomia que existe entre o cuidar e educar.

Ao analisar as respostas das cuidadoras e de acordo com a observação das práticas no cotidiano dos berçários foi possível constatar que o entendimento sobre o cuidado é superficial e fundamentado em concepções ligadas ao assistencialismo, compreendendo o cuidar como uma ação voltada a integridade física das crianças, enfatizando a importânciade atender as necessidades das mesmas quanto a troca de fraldas, roupas, banho, alimentação, higiene e saúde e desconsiderando a parte educativa (pedagógica), assim não conseguem compreender o cuidar e o educar de forma integrada e nem as possibilidades desta relação para atender a criança em todas as suas dimensões como estabelecido nos textos legislativos e documentos oficiais, que garantem como uma das especificidades do atendimento às crianças pequenas o cuidado e educação como açõesindissociáveis de modo que orientem as práticas na Educação Infantil e assimse possa abranger todos os aspectos das crianças ( físico, afetivo, cognitivo, psicológico e social)

Quando questionadas sobre o grau de importância que a ação de cuidar tem na Educação Infantil, todas afirmam que consideram o cuidar importante, atribuindo diversas razões, que vão desde o fato de que as crianças estão em fase de aprendizagem, porque são muito pequenas e até mesmo demonstrando um cuidado com a questão da formação do caráter, para que a criança se torne um bom cidadão como no caso de uma das cuidadoras que disse:

“Nesse mundão de hoje que tá aí, eu que cada um fazer a sua

parte pra criança começar a se desenvolver para ser um cidadão honesto, aprender a cuidar das nossas... como eu posso dizer?... Das nossas...ah, cuidar das coisas, do poder público, porque a gente vê muita criança que sai entra na escola e já que destruir; essa pichação que tem em nossa cidade...eu acho que a educação faz um papel muito

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A fala apresenta o cuidado articulado com a educação,mas uma educação no sentido de formação social, um disciplinamento para formação deum bom caráter, de cunho moralizante, de maneira a compensar e proteger dos males sociais.

A dicotomia entre o cuidar e o educar também está presente na fala dasoutras cuidadoras como de uma que enfatiza a importância do cuidar, argumentando a impossibilidade de se trabalhar com a parte pedagógica:

“Eu acho importante nosso trabalho em cuidar dascrianças,

porque eles são muitos pequenos então não tem comoa gente passar uma parte pedagógica, mas a gente cuida deles,porque eles ficam o dia inteiro aqui com a gente; então a gentecuida, troca eles quando precisa, dá o alimento deles, a gentepassa nosso carinho, nosso amor.Então a gente cuidabasicamente deles em todos os sentidos, para

eles não caírem,não se machucar” (C2)

Fica evidente por meio da fala da cuidadora que o cuidadoé restrito integridade física da criança, não há integração com o educar. Segundo Montenegro(2005) o cuidado é pouco estudado de modo a proporcionar um entendimento que explicite o verdadeiro significado de cuidar educar de forma integrada, como ações indissociáveis, e “mesmo quando se referem explicitamente ao cuidado, não se discute seus possíveis significados ou implementações específicas na formação das educadoras”. (MONTENEGRO, 2005, p.83)

A situação se agrava no município de Bauru, pois nos berçários das instituiçõesnão há educadoras formadas, apenas auxiliares de Educação Infantil, cuja exigência mínima de formação é o ensino médio completo. Das 4 entrevistadas apenas duas fazem pedagogia, mas mesmo assim não apresentam um entendimento substancial sobre o educar e o cuidar de forma integrada de modo a orientar as suas práticas. Segundo um edital de concurso público para agente educacional ou auxiliar de creche coloca como sua função as tarefas de cuidar, zelar e dar assistência às crianças de 0 a 5 anos de idade, no que englobe o cuidado com a higiene pessoal, saúde, segurança ealimentação.

De acordo com o Plano Municipal de Educação que estabelece metas para serem alcançadas no período de 2012 a 2021, o objetivo é que para até 2016, se tenha educadores formados em nível superior no berçário.

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cuidar e educar de forma integrada acabam sendo negligenciadas e pouco refletidas, tanto quenenhuma das cuidadoras estabeleceu uma relação entre essas ações. Inclusive quando questionadas sobre a relação do cuidar e educar como ações indissociáveis, em seu depoimento a cuidadoraafirmou que:

“... a gente tenta fazer nosso papel que é cuidar deles e isso vai dando seqüência quando eles saem do berçário e vão para as atividades lá de fora, que ai sim começa uma atividade mais

pedagógica” (C2).

Por mais que a Lei declare a creche como parte da educação básica, percebemos pelo discurso da cuidadora o grande abismo existente entre o ideal e o real, especificamente quando se trata do berçário, este abismo é mais evidente que separa totalmente a educação das crianças de 0 a 2 anos de idade do âmbito pedagógico desfavorecendo o desenvolvimento das mesmas, nãorespeitando as características do desenvolvimento infantil e descaracterizando o berçário enquanto um espaço educativo.

A integração é fundamental para se obter a qualidade desta modalidade de ensino. Kishimoto(2003) alega que a proposta pedagógica e a construção de um currículo de forma conjunta, envolvendo professores e os outros profissionais que atuam na escola, assim como a comunidade e os pais e que tenha como foco a criança e seu desenvolvimento, são aspectos muito importantes que devem ser considerados na dimensão cuidar e do educar, superando a

visão assistencialista e de “fragmentação e a compartimentalização de aspectos do desenvolvimento infantil (físico,intelectual, psicológico, social)” (p.405), afinal,

Não basta transferir creches para o âmbito da educação. Outros aspectos precisam ser considerados: concepções de criança e de educação, níveis deformação e funções dos profissionais, diferenças salariais, estrutura e funcionamento dos equipamentos infantis, financiamento, formação.(KISHIMOTO, 2003, p. 410)

Mas um fato interessante desta questão da relação entre o cuidar e o educar, é que todas compreenderam o educar não em uma perspectiva pedagógica e da educação escolar, mas sim com a educação que recebemos no meio familiar, na construção dos valores, caráter e dos ensinamentos que englobam tudo o que é certo e o que é errado, como no caso da que disse:

“... Assim agente tem que cuidar ensinando para a criança

aquilo que certo e o que é errado, mas ao mesmo tempo a gente cuidando para não cair, se machucar, ensinado à criança como deve

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Outro ponto importante de destacar de tal questão é a relação da família. Todas relataram a importância da família nessa educação de forma conjunta, em parceria com a escola, como neste relato:

“Eu acho que a família tem que estar inserida junto com a

escola. Porque a educação começa em casa, os pais que tem a obrigação de educar e a escola complementa essa educação, ensinando a criança além de aprender a ler e a escrever e a ser um ótimo

cidadão”. (C3)

Mas, por meio das observações e pelo discurso das cuidadoras, foi possível constatar que a parceria não ocorre em uma relação de cooperação entre ambas as partes. Há certo distanciamento e pouca motivação para proporcionar mais participação.

As famílias esperam que a creche cuide bem de suas crianças. O “cuidar” é a

prioridade, pois exigem que os filhos estejam bem alimentados, limpos, fraldas trocadas, sem nenhum machucado e quando isso não está de acordo cobram das cuidadoras, que por sua vez prezam para que tais cuidados sejam cumpridos da melhor maneira para que não tenha problemas com reclamações.

As cuidadoras reclamam dessas exigências das famílias e alegam que muitas delas delegam diversos cuidados com as crianças para creche, não havendo assim motivo para cobranças, principalmente por parte daqueles pais que dizem que trabalham, mas que de fato não é verdade. Inclusive uma delasno período de observação, utilizou o termo “maternalismo”

para explicartal situação o que demonstra que a creche está ainda muito articulada ao assistencialismo.

A relação família-escola é importante para o desenvolvimento da criança e também um dos aspectos importantes da integração cuidar e educar, pois

Desde o berçário, em todas as ações do cotidiano, é preciso integrar ações de cuidado e educação. Outras formas de integração: pré-escola e ensino fundamental, creche e família, creche e pré-escola, educação infantil e equipamentos comunitários como bibliotecas, museus e áreas de lazer e de cultura. Estruturas contínuas possibilitam melhor atendimento à criança.(KISHIMOTO, 2003,p. 410)

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O embate entre os deveres da família e da escola permaneceu no discurso das cuidadoras quando questionadas a respeito do desenvolvimento do juízo moral na criança e sobre a influência que elas teriam sobre este desenvolvimento.

Nenhuma delas tem o conhecimento sobre o que é o desenvolvimento do juízo moral na criança, mesmo aquelas que estão cursando pedagogia. Estas alegaram que no curso nunca se mencionou nada sobre o tema. De todas apenas uma declarou não saber do que se tratava, enquanto as outras tentaram responder a questão dizendo o que achavam.

De acordo com a concepção delas o desenvolvimento moral tem haver comensinamento do que é certo e o que é errado, porém, segundo as mesmas, este ensinamento no contexto da creche é um trabalho complicado devido à relação com a família, reforçando o distanciamento entre ambas, como na fala da cuidadora que representa a mesma ideia das demais expressando a descontinuidade no processo formativo e no desenvolvimento das crianças, pois na creche se ensinaria o melhor para a criança e da melhorforma possível, porém não haveria o conhecimento de como a família realiza essa mesma educação e nem a garantia de sua eficácia:

“Então aqui a gente passa uma coisa para a criança e em casa a

criança aprende outra coisa né e aqui na escola a gente tenta passar o que é certo. Tudo que é certo e tudo que a gente acha o que é certo que a criança deve aprender a gente tenta passar para a criança. Mas é complicado, porque em casa se passa de um jeito, aqui a gente passa

de outro.” (C1)

Assim, dentro das possibilidades, se empenham para passar o melhor para as crianças, mas quando questionadas sobre o papel que o cuidador teria no desenvolvimento moral das crianças e se através do cuidar seria possível favorecer estes desenvolvimento, duas das quatro, afirmaram ser muito difícil ajudar a desenvolver a moralidade na criança, sendo que uma justificou pelo fato de que na creche é mais o cuidar do que educar,o que dificultaria favorecer através a ação de cuidar o desenvolvimento moral:

“...é gente tem mais é que cuidar porque como eles são pequenininhos, tem que ficar mais atento para não se machucar, trocar quando eles necessitam, dá o alimento. Então quando a gente vai alimentando, cuidando, dando banho, agente vai tentando passar

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