• Nenhum resultado encontrado

Educação e pobreza

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Educação e pobreza"

Copied!
2
0
0

Texto

(1)

marcoscintra.org http://marcoscintra.org/mc/educacao-pobreza/

Educação e pobreza

Folha de S. Paulo

Marcos Cintra – 28/05/2007

O homem público brasileiro não aprendeu com Japão e Coréia, que investiram em educação fundamental

HÁ SÉCULOS economistas tentam descobrir as causas do crescimento econômico para poderem eliminar a pobreza. Mas o governo brasileiro acha que encontrou a fórmula que uma profissão inteira vem procurando e ainda não achou.

Adam Smith sugeriu que o mercado livre e a especialização do trabalho seriam as causas fundamentais da riqueza das nações; Joseph Schumpeter priorizou a inovação tecnológica e a constante renovação dos métodos de

produção como fontes do crescimento econômico moderno; Robert Solow tentou medir o impacto da poupança e do investimento na expansão econômica, mas não foi capaz de explicar um grande resíduo em suas estimativas que chamou de progresso tecnológico; Kenneth Arrow introduziu o conhecimento e a pesquisa nas equações do

crescimento econômico; e John Galbraith sugeriu variáveis socioculturais como a base da armadilha da pobreza no mundo, entre muitos outros notáveis esforços de outros economistas.

Contudo nunca se conseguiu produzir uma teoria geral do crescimento, mas apenas identificar alguns fatores determinantes no sucesso dessa corrida rumo à riqueza. Recentemente, Douglas North propôs que valores e instituições são determinantes no crescimento econômico. A crença de que boas instituições geram crescimento econômico é hoje aceita por todos.

De fato, há correlação entre instituições eficientes, garantia de contratos e estabilidade de direitos com crescimento econômico. Mas essa relação não indica quais caminhos adotar se se deseja estimular o crescimento.

Recentemente me foi recomendado um texto que questiona a causalidade dessa correlação e que sustenta a tese alternativa de que é a qualidade do capital humano e a educação de um povo que geram crescimento e,

subsidiariamente, também geram boas instituições.

No Brasil, o caminho escolhido para a superação da pobreza tem sido o do redistributivismo, a nossa jabuticaba. Esse é o caminho mais ilusório e ineficaz de todos.

A demagogia redistributivista dos “vale-isto” e “vale-aquilo”, das bolsas “A” e bolsas “B”, da distribuição de subsídios e isenções, da exacerbação da progressividade tributária e dos confiscos de terra e de riqueza para serem

pulverizados entre os pobres jamais será capaz de eliminar a miséria. A dificuldade para romper o círculo vicioso da pobreza está no enraizamento do subdesenvolvimento nas estruturas sociais, econômicas, políticas e psicológicas da sociedade, como nos ensinou Galbraith. E isso não se altera com políticas assistenciais, que, ainda que

justificáveis, não serão capazes de sanar o problema a longo prazo.

A ruptura fundamental com esse dramático equilíbrio de pobreza acha-se na educação, como apontou Cristovam Buarque em sua notável pregação durante as últimas eleições presidenciais.

(2)

O homem público brasileiro não aprendeu com o sucesso do Japão e da Coréia do Sul, que investiram

pesadamente em educação fundamental. O Brasil ignora esse clamor e confunde caridade, que é uma virtude pessoal, com políticas eficazes de geração de renda, virtude pública rara entre nossos governantes.

Não se acaba com a pobreza punindo a riqueza. Com demagogia e pitadas de caridade, corre-se o risco de aprofundá-la.

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 60, doutor pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, foi deputado federal (1999-2003). É autor de “A verdade sobre o Imposto Único” (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

Internet: www.marcoscintra.org

Referências

Documentos relacionados

Não só por essa busca proustiana do tempo perdido, mas pelo sentido geral de sua obra, percebe-se como o passado cons- titui componente decisivo na teoria histórica de Gilberto

Considerando que o MeHg é um poluente ambiental altamente neurotóxico, tanto para animais quanto para seres humanos, e que a disfunção mitocondrial é um

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

3º - DIVULGAR a lista de candidatos convocados para a fase de entrevista, conforme ANEXO III do presente

Caso a situação se tornasse favorável a outras conquistas, o que o Arcebispo não achava que fosse realmente possível, sugeria que se pleiteasse: a abolição

Reconhece-se, outrossim, outros métodos utilizados no período ditatorial como violação aos direitos humanos, a saber: à prisão ilegal e arbitrária; à prática

Nesse sentido, elementos importantes do conceito de segurança e soberania alimentar e nutricional estão presentes na experiência da CSA de Sete Lagoas, como o acesso