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Terapia gênica

Gene therapy

1 Departamento de Genética, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves 9.500. Caixa Postal 1.5053 91501-970 Porto Alegre RS. nardi@vortex.ufrgs.br 2 Pesquisa Básica, Divisão de Medicina Experimental, Instituto Nacional do Câncer, Rio de Janeiro. Nance Beyer Nardi 1

Leonardo Augusto Karam Teixeira 2 Eduardo Filipe Ávila da Silva 1

Abstract Gene therapy is a m edical interven-tion that involves m odifying the genetic m ate-rial of living cells to fight disease. Genes influ-ence virtually every hum an disease, either by encoding for abnorm al proteins, which are di-rectly responsible for the disease, or by causing a susceptibility to environmental agents which induce it. Gene therapy is still experim ental, and is being studied in clinical trials for m any different types of diseases. The developm ent of safe and effective m ethods of im planting nor-mal genes into the human cell is one of the most important technical issues in gene therapy. Al-though much effort has been directed in the last decade toward improvement of protocols in hu-m an gene therapy, and in spite of hu-m any con-siderable achievem ents in basic research, the therapeutic applications of gene transfer tech-nology still rem ain m ostly theoretical. The po-tential for gene therapy is huge and likely to im pact on all aspects of m edicine.

Key wo rds Viral and nonviral vectors, Gene therapy protocols, Gene transfer

Resum o Terapia gênica é um procedim ento m édico que envolve a m odificação genética de células com o form a de tratar doenças. Os ge-nes influenciam praticam ente todas as doen-ças hum anas, seja pela codificação de proteí-nas anorm ais diretam ente responsáveis pela doença, seja por determ inar suscetibilidade a agentes am bientais que a induzem . A terapia gênica é ainda experim ental, e está sendo es-tudada em protocolos clínicos para diferentes tipos de doenças. O desenvolvim ento de m éto-dos seguros e eficientes de transferência gênica para células hum anas é um dos pontos m ais importantes na terapia gênica. Apesar do gran-de esforço dirigido na últim a década para o aperfeiçoam ento dos protocolos de terapia gê-nica hum ana, e dos avanços im portantes na pesquisa básica, as aplicações terapêuticas da tecnologia de transferência gênica continuam ainda em grande parte teóricas. O potencial da terapia gênica é muito grande, devendo ain-da causar grande im pacto em todos os aspec-tos da m edicina.

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A possibilidade de descrição gen ética do ho-m eho-m represen ta talvez o últiho-m o n ível de uho-m a busca de autoconhecimento que teve início há m ilênios. A prim eira etapa é representada pe-los grandes filósofos da Antigüidade, que bus-cavam iden tificar a relação do hom em com o universo. O segundo e terceiro grandes passos foram dados no século passado, quando Char-les Darwin colocou o ser humano em perspec-tiva na escala evoluperspec-tiva e Sigmund Freud reve-lou seu interior psíquico. Nos últimos cem anos, órgãos, tecidos, células e seus componentes fo-ram revelados com u m gran de n ível de deta-lhamento. Quarenta anos após a descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, concluím os a prim eira etapa do conhe-cim ento hum ano ao nível m olecular, que permite a identificação genética única de cada in -divíduo.

O con hecim en to dos gen es respon sáveis por características normais ou patológicas per-mite a plena aplicação dos princípios da medi-cina genômica, que deverá modificar os proce-dimentos médicos no diagnóstico e tratamento de várias doenças e onde se inclui a terapia gê-nica. Os princípios desta nova metodologia en-volvem a introdução, no paciente portador de doenças genéticas ou outras, de genes respon -sáveis por proteínas que poderão ser benéficas. Em doenças causadas por m utações gênicas, a introdução de um gene normal poderá reverter o quadro clínico; em um a am pla gam a de ou -tros tipos de doen ças, células gen eticam en te modificadas poderão ativar mecanismos de de-fesa n atu rais do organ ism o (com o o sistem a imune) ou produzir moléculas de interesse te-rapêutico.

A terapia gênica idealm ente visaria substi-tuir um gene defeituoso por um gene norm al. A remoção de um gene do organismo é, entre-tanto, algo muito difícil de ser realizado, e des-necessário na maioria das vezes. Assim, os pro-cedim entos envolvem , em geral, a introdução do gen e de in teresse, que deve ser com pleta-mente conhecido.

O gen e de in teresse (tam bém cham ado de transgene) é transportado por um vetor e está con tido em u m a m olécu la de DNA ou RNA que carrega ainda outros elem entos genéticos importantes para sua manutenção e expressão. As formas de transferência deste vetor conten -do o gene são muito variadas. Em primeiro lu-gar, é im portante definir se é m ais apropriado in trodu zir o gen e diretam en te n o organ ism o (in vivo) ou se, alternativamente, células serão

retiradas do in divíduo, m odificadas e depois reintroduzidas (ex vivo). Conform e detalhado a seguir, algum as das form as de tran sferên cia u tilizam víru s, dos qu ais os prin cipais são os retrovírus, os adenovírus e os vírus adenoassociados. Ou tras form as de tran sferên cia in -cluem a injeção direta do gene no organism o, bem com o m étodos utilizando princípios físi-cos (biolística, eletroporação) ou químifísi-cos (li-pofecção). A avaliação do sucesso do procedi-mento envolve a análise da manutenção de ex-pressão do gene nas células transform adas e a correção da doença.

Um dos tipos celulares mais visados pela te-rapia gênica são as células chamadas tronco do organismo. Estas células são mantidas durante toda a vida do indivíduo, e apresentam a pro-priedade de poder originar múltiplas linhagens de células maduras. As células-tronco hemato-poiéticas, por exemplo, originam todas as célu-las do sangue, de modo que a introdução necélu-las de um gene terapêutico garante que muitos ti-pos celulares diferentes expressem este gene e produzam a proteína de interesse. Outra abor-dagem da terapia gênica, bem com o de outras form as de m anipulação genética, pode envol-ver células-tronco em brionárias. Estas células apresentam maior potencial que as célulastron -co do adulto, já que delas se originam não ape-n as alguape-n s, m as sim to do sos tipos de células que compõem o organismo. Além disso, as cé-lulas-tronco do adulto são muitas vezes difíceis de serem localizadas in vivoe m an ipuladas in vitro, o que não acontece com as embrionárias. A u tilização de célu las-tron co em brion árias, entretanto, depende da destruição de um em -brião, em um a fase extrem am en te precoce de desen volvim en to (poucos dias). As questões éticas, que se impõem imperativamente frente às inúm eras possibilidade de utilização destas informações, são especialmente pertinentes ao se tratar das células-tronco embrionárias.

Vetores de transferência gênica

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mo-m en to. Nesta seção discutiremo-m os umo-m dos ele-m entos ele-m ais iele-m portantes no estabeleciele-m ento de um protocolo de terapia gênica, que é a uti-lização de vetores visando à efetiva correção de patologias com base molecular.

Transferência gênica é um termo que inclui todos os procedimentos que visam à entrada de algu m m aterial gen ético (n a form a de DNA, RNA ou oligonucleotídeos) em células-alvo. Os agentes utilizados para esta entrada são conhe-cidos com o vetores, palavra que vem do latim vector– sign ifican do “aquele que en trega”. O vetor ideal possui algumas características alta-m ente desejáveis, entre as quais podealta-m os des-tacar as seguintes: capacidade de acom odação de um transgene de tam anho ilim itado, baixa im un ogen icidade e citotoxicidade, expressão estável do tran sgen e, direcion am en to para ti-pos específicos de células ou tecidos, baixo cus-to, fácil produção e manipulação e ainda possi-bilidade de regular a expressão do gene exóge-no exóge-no tempo e/ou na quantidade. Até o presen-te momento, espresen-te vetor não pode ainda ser ob-tido. No entanto, entre as alternativas disponí-veis, podemos sempre escolher aquele que me-lhor se adapte às características terapêu ticas desejadas no tratamento.

O m aterial gen ético a ser utilizado em ex-perim entos de transferência gênica é m ais co-mumente encontrado em duas formas: na for-ma plasmidial, onde um gene de interesse é in-serido em um plasmídio de expressão eucario-ta, promovendo assim a síntese da proteína de-sejada nas células ou tecidos alvos, ou na forma viral, onde o transgene substitui regiões gêni-cas de certos vírus. Estas sequências virais são quase sem pre as responsáveis pela patogenici-dade nos hospedeiros. Assim, nestes vetores vi-rais, o vírus ao ser modificado é atenuado e in-capaz de causar qualquer quadro patológico. O m aterial gen ético a ser in troduzido tam bém pode ser en con trado em algu m as ou tras for-mas, como uma sequência de DNA linearizada (pouco útil pela baixa estabilidade na célula, já que este este tipo de m aterial é facilm ente de-gradado por nucleases citoplasmáticas) ou um oligonucleotídeo. Além deste, DNA m itocon -drial ou mesmo cromossomos artificiais (Har-rin gton et al.,1997) já foram estudados. Tais formas são ainda pouco empregadas, mas pos-suem um potencial de aplicação no futuro.

Os métodos de transferência gênica são ge-ralmente divididos em três categorias: métodos físicos (o tran sgen e é in troduzido de m an eira mecânica na células), métodos químicos (o

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de-senvolvim ento de vacinas de DNA. Um outro método físico de grande importância é a biolís-tica ou gene gun (do inglês, arma genética), on-de m icroesferas on-de ouro ou tungstênio cober-tas com DNA são aceleradas por u m gás car-reador, que projeta estas esferas contra células, prom oven do a en trada deste DNA n o n úcleo das células bom bardeadas. Este sistem a é bas-tante eficiente, apesar de causar uma morte ce-lular elevada, e vem sendo adaptado para utili-zação in vivonas vacinas de DNA.

Os métodos químicos utilizam característi-cas do DNA e das m em bran as celulares para, utilizando compostos químicos, garantir a en -trada de m aterial genético nas células. Em ge-ral, os compostos utilizados são catiônicos, ou seja, possuem carga total positiva. Assim, estes com postos interagem com as cargas negativas dos grupam en tos fosfato do DNA e form am com plexos. Tais com plexos têm tam bém um a carga geral positiva, elim inando a repulsão de cargas existente entre o DNA e os domínios extracelulares da maioria das proteínas de mem -brana, que também têm carga negativa. Assim, a entrada do complexo na célula por mecanis-m os celulares n ormecanis-m ais, comecanis-m o a en docitose, é facilitada. A co-precipitação de DNA com fos-fato de cálcio foi um dos prim eiros sistem as descritos, e apresen ta algum as van tagen s pela segurança, simplicidade e custo. No entanto, a eficiência e reprodutibilidade deste método são m uito baixas. Apesar disso, procedim entos de transferência gênica com fosfato de cálcio são importantes até hoje, sendo bastante utilizadas na produção de vetores virais. Alguns dos pro-tocolos mais modernos de transferência gênica in cluem a utilização de com postos catiôn icos de origem lipídica, protéica e am idoprotéica (Brown et al.,2001). Tais métodos apresentam eficiên cias variáveis, m as que podem ser bas-tan te elevadas (Teixeira et al.,2001), além de facilitar o escape do m aterial nucléico da ação das enzimas degradativas lisossomais. A expres-são n a m aioria dos casos é tran sien te, m as al-guns plasmídios já foram desenvolvidos e mos-traram um a expressão estável. Entre as vanta-gens da utilização de lipossomos e proteínas po-dem os citar a sim plicidade, baixa im unogenicidade e, em certos casos (dependendo da com -posição do com plexo), capacidade de direcio-namento destes vetores para células específicas. No entanto, a utilização in vivoainda é lim ita-da pela especificiita-dade reduziita-da e pela opsoni-zação dos complexos por proteínas plasmáticas, que diminuem muito a eficiência da transfecção.

De todos os sistemas de transferência gêni-ca, os virais são os atualm ente m ais utilizados nos estudos para desenvolvimento de protoco-los de terapia gênica, devido principalm ente à alta eficiência de transdução obtida com estes vetores. Todos os sistemas virais utilizados tra-balham com vírus deficien tes em replicação, que são capazes de tran sferir seu m aterial ge-nético para células-alvo mas não conseguem re-plicar-se e continuar seu ciclo infeccioso (Ro-m ano et al.,2000). Esta incapacidade de repli-cação é obtida através da deleção de gen es vi-rais in dispen sáveis para a proliferação viral e com substituição destes por genes de interesse terapêutico. Os genes que apresentam algum a função importante no desenvolvimento da pa-tologia também são deletados. Assim, as ques-tões referentes à seguranca de vetores virais po-dem ser adm inistradas de m aneira a dim inuir os riscos destes vetores. In úm eras fam ílias de vírus já foram utilizadas como vetores de trans-ferência gênica, m as grande ênfase vem sendo dada principalmente a quatro famílias: os ade-n ovíru s, retrovíru s (iade-n clu iade-n do os leade-n tivíru s), vírus adeno-associado e, mais recentemente, os herpesvírus.

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pri-matas (como o Vírus da Imunodeficiência Feli-na – FIV) têm tido um a im portância cada vez maior, e são uma das alternativas mais interes-san tes n o desen volvim en to de n ovos vetores. Ain da assim , problem as com o a m utagên ese insercional (causada pela integração aleatória dos retrovírus no genoma hospedeiro) e o silen-ciam ento da expressão do transgene são ques-tões que merecem um estudo mais aprofundado. Os vírus adeno-associados (família Parvovi-ridade) possuem algumas vantagens em relação aos demais sistemas virais, como integração sí-tio-específica, tropismo ampliado e ausência de patogenicidade. No entanto, a limitação do ta-manho do transgene carreado, a necessidade de vírus auxiliares para a produção destes vetores e, em certos casos, a perda da capacidade de in-tegração sítio-dirigida têm limitado a utilização destes vetores. Por último, devemos destacar a importância dos vetores baseados em herpesví-rus, que vêm gan han do um destaque gran de pelo seu tropismo bastante elevado por células n ervosas. Assim , acredita-se que a utilização destes vírus para procedimentos de transferên-cia gên ica em células do sistem a n ervoso seja uma alternativa bastante viável no futuro.

Os principais alvos da terapia gênica

Tan to doen ças hereditárias com o adqu iridas têm sido alvos constantes de estratégias de te-rapia gênica. O tratam ento de doenças hum a-nas através da transferência de genes foi origi-n alm eorigi-n te direcioorigi-n ado para doeorigi-n ças hereditá-rias, causadas n orm alm en te por defeitos em um ún ico gen e, com o a fibrose cística, as he-m ofilias, hehe-m oglobinopatias e distrofias he-m

usculares. Entretanto, a m aioria dos experim en -tos clín icos de terapia gên ica atualm en te em cu rso está direcion ada para o tratam en to de doenças adquiridas com o a Aids, doenças car-diovasculares e diversos tipos de câncer (de m a-ma, de próstata, de ovário, de pulmão e leuce-m ias). Isso se deve basicaleuce-m en te ao fato de as doenças adquiridas apresentarem uma alta in cidên cia n a população m un dial quan do com -parada com as freqüências das doenças monogênicas. Dessa forma, ensaios clínicos bemsu -cedidos para essas enfermidades poderiam tra-zer ben efícios a um n úm ero m uito m aior de pacientes. Mais da m etade dos protocolos clí-nicos de terapia gênica hoje em curso apontam para o tratamento de algum tipo de câncer co-mo doença-alvo. Em segundo lugar, aparecem as doen ças m on ogên icas, correspon den do a 12% dos protocolos clínicos aprovados, seguidas, em um grande crescente, pelas doenças in -fecciosas, contribuindo com 6% dos protoco-los, basicam en te voltados para o com bate da Aids. Esses três grandes grupos englobam quase 90% de todos os pacientes que estão sob algum tipo de tratamento através da terapia gênica ao redor do m u n do (Tabela 1) (Dan i, 2000; T he Journal of Gene Medicine W ebsite).

Como toda nova proposta de tratamento, a terapia gên ica deve ser testada em protocolos pré-clínicos – estudos in vitro, com células em cultura, seguidos por experimentação em mo-delos an im ais – e em protocolos clín icos, que se desenvolvem em um a série de etapas ou fa-ses. Na fase I, os estudos envolvem um peque-no número de pacientes e avaliam sua reação a diferen tes form as de adm in istração do trata-m ento (via, dose, freqüência), principaltrata-m ente com relação a aspectos de segurança. Os

proto-Tabela 1

Número de protocolos clínicos em curso e número de pacientes em tratamento por grupo de doenças-alvo para a terapia gênica.

Doença-alvo Número de Porcentagem (%) Número de Porcentagem (%)

protocolos pacientes

Câncer 376 63.1 2.389 69.0

Doenças monogênicas 75 12.6 309 8.9

Doenças infecciosas 38 6.4 408 11.8

Doenças vasculares 46 7.7 59 1.7

Outras doenças 11 1.8 19 0.5

Uso de genes marcadores 48 8.1 274 7.9

Voluntários saudáveis 2 0.3 6 0.2

Total 596 100 3.464 100

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colos de fase II en volvem um n úm ero de pa-cien tes u m pou co m aior (cerca de 20 a 50) e, além de continuar a análise de aspectos de se-guran ça, in iciam a avaliação da eficiên cia do tratam en to. Ten do sido aprovado n esta fase, tem in ício a fase III do protocolo, que atin ge um número bem maior de pacientes (podendo chegar a milhares) e compara, empregando m é-todos estatísticos adequados, a nova proposta em estudo com um tratamento padrão, já bem estabelecido. E assim, um protocolo clínico po-de alcançar a quarta e últim a fase onpo-de a tera-pia a ser disponibilizada passa a ser produzida em larga escala com o objetivo de com erciali-zação e entrada no mercado consumidor.

O prim eiro protocolo a alcançar a terceira fase de ensaio clínico visa ao tratamento de um tumor cerebral maligno, o glioblastoma. Nesse procedimento, células de camundongos modi-ficadas in vitropara produzir partículas retro-virais específicas são injetadas diretam ente no local exato do tum or n o cérebro do pacien te. Os retrovíru s produ zidos por essas célu las transduzem somente células em divisão, e, por-tanto, atingem diretamente as células tumorais e as células vasculares que irrigam essa região. Um a vez dentro das células em divisão, os re-trovírus codificam um gene específico (HSTk, gene da timidina quinase do vírus herpes sim -plex) que irá afetar e bloquear a síntese de DNA nessas células, levando-as a morte. Outra abor-dagem interessante no tratam ento do câncer é o uso de vetores de transferência gênica com o vacin as tum orais. Algun s protocolos clín icos para melanomas malignos e carcinomas de ca-beça e pescoço baseiam-se na injeção de deter-minados vetores na massa tumoral, capazes de expressar an tígen os específicos de leucócitos humanos (HLA, human leukocyte antigen). Es-ses an tígen os rotulam as células tum orais co-m o estran has ao aco-m bien te do organ isco-m o eco-m questão e permitem o recrutamento de células do sistem a im unológico do próprio indivíduo para com bater o câncer. As abordagens para o tratam en to da Aids através da terapia gên ica tam bém têm se aproveitado do m odelo de ve-tores vacin ais, on de retrovírus que codificam para segm entos gênicos do H IV são injetados, em via intramuscular, induzindo um aumento na resposta imunológica de linfócitos T citotó-xicos con tra o vírus. Outros protocolos que também têm avançado com um sucesso consi-derável são direcionados para o tratamento das doenças monogênicas, como 1) a deficiência da enzima adenosina desaminase (ADA) que

oca-siona um comprometimento severo do sistema im unológico do indivíduo; 2) a fibrose cística que é a doen ça hereditária letal m ais com um n os Estados Un idos e; 3) as hem ofilias A e B que ocupam uma posição de destaque no cenário mundial de doenças hereditárias e apresen -tam um a série de van tagen s com o m odelo de estudo para a terapia gênica (Anderson, 1998).

Em 1994, 50 protocolos de terapia gênica já tinham sido aprovados e eram administrados a 200 pacientes. Hoje, sete anos mais tarde, perto de 600 ensaios clínicos estão em curso e dispo-níveis a aproximadamente 3.500 pacientes. Os Estados Un idos e a In glaterra jun tos respon dem por mais de 85% dos protocolos e somen -te 5% de todos os protocolos aprovados são realizados fora dos Estados Un idos ou da Eu -ropa. O Brasil não apresenta qualquer protoco-lo clínico em curso aprovado no cam po da te-rapia gênica até o presente m om ento. O papel n acion al n o âm bito m un dial da tran sferên cia gênica ainda é bastante incipiente, porém pro-m issor. Estudos pré-clín icos in vitrojá estão sendo desenvolvidos nas principais universida-des e centros de pesquisa do país, basicamente em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, com am plas perspectivas Grande expan -são para modelos in vivoe talvez, futuramente, para a proposta de protocolos clín icos. Ain da na Am érica do Sul, o Chile e principalm ente a Argentina têm desenvolvido estudos pré-clíni-cos consistentes e avançando para modelos ani-mais com resultados extremamente promisso-res na terapia contra o câncer através da vaci-nação. Fora do eixo América do Norte e Europa, países com o Japão, Austrália e Israel tam -bém têm con tribuído sign ificativam en te n a área da terapia gên ica para algu m as doen ças (OBA, Office of Biotechnology Activities).

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Problemas, perspectivas e o futuro da terapia gênica

Apesar dos diversos protocolos clínicos apro-vados para a transferência de genes em hum a-n os, os bea-n efícios reais alcaa-n çados até o m o-m en to coo-m a terapia gên ica são fru stran tes e estão m u ito aqu ém das propostas in iciais. Mu itas barreiras ain da n ecessitam ser tran s-postas para qu e sejam alcan çados resu ltados satisfatórios. Os m étodos de transferência gê-nica disponíveis, ainda que variados, são pou-co eficien tes e apresen tam sérias lim itações quanto ao direcionamento celular. O desenvol-vim en to de sistem as de tran sferên cia gên ica híbridos que som em van tagen s de vetores vi-rais e n ão-vivi-rais pode proporcion ar um a m elhora n a eficiên cia de tran sfecção e n a m an u -tenção a longo prazo da expressão do gene de interesse in vivo. Além disso, a utilização de ve-tores virais em en saios clín icos em hu m an os levanta questões sobre a segurança do método em relação a m u tagên ese in sercion al e o alto poten cial im u n ogên ico desses víru s. A baixa expressão e a ausência de mecanismos precisos de regulação do gene de interesse na célula-al-vo dificu ltam ain da m ais o avan ço da terapia gênica como ferramenta terapêutica. O estudo dos m ecan ism os relacion ados à regu lação da expressão gênica pode perm itir um a m odula-ção m ais refin ada das regiões prom otoras e a conseqüente ativação/repressão do gene de in -teresse in vivo. Outro ponto im portante e que tam bém requer m aior atenção se refere à bio-logia da célula-alvo. Um a m elhor caracteriza-ção e o desen volvim en to de técn icas para a identificação e o isolamento dessas células po-derá facilitar o direcion am en to dos vetores e aumentar a eficiência de transfecção (Verm a & Somia, 1997).

Além disso, a exem plo do que ocorre com toda nova tecnologia, a terapia gênica também tem levan tado diversas discussões n os plan os éticos e filosóficos que perm anecem em deba-te. Existem hoje grandes discussões acerca das propostas para a aprovação dos prim eiros en -saios clínicos de terapia gênica a serem realiza-dos duran te a vida in tra-uterin a ou ain da em células germinativas como forma de tratamen -to para doen ças hereditárias. Mui-tos esforços no cam po da pesquisa básica ainda são necessários para que a terapia gênica possa realmen -te proporcion ar u m a m elhora sign ificativa e sem riscos aos pacien tes e, além disso, repre-sentar um a prática rotineira bem -sucedida no futuro. Infelizmente, os conceitos e as idéias em torno da terapia gênica estão, hoje, muito mais avançados do que as m etodologias necessárias para satisfazer seu s objetivos (Zan jan i & An -derson, 1999).

In terações en tre áreas m ultidisciplin ares com o a biologia m olecular, biologia celular, im unologia, fisiologia e genética clínica serão de extrema importância para uma melhor com -preensão dos processos relacionados à terapia gênica. O aprendizado nesses mais de dez anos de estudo em todas essas áreas foram im pres-cindíveis para a reform ulação das perguntas e o redirecion am en to dos objetivos a serem al-cançados com a terapia gênica. Apesar das atuais dificuldades e da falta de conhecimento em di-versos tópicos, a continuidade da prática da te-rapia gênica irá certamente revolucionar a pre-venção e o tratamento de diversas doenças que hoje assolam a humanidade.

O conhecim ento científico deve ser acom -pan hado pela sabedoria, o que n ão tem sido habitual n a história da hum an idade. Gran des em presas têm desen volvido e tom ado posse dessas descobertas, e seu em prego em

ativida-Tabela 2

Número de protocolos clínicos em curso e número de pacientes em tratamento por fase de andamento dos ensaios.

Fase do protocolo Número de Porcentagem (%) Número de Porcentagem (%)

clínico protocolos pacientes

Fase I 395 66.3 1.802 52.0

Fase I/II 125 21.0 904 26.1

Fase II 68 11.4 507 14.6

Fase II/III 4 0.7 – –

Fase III 4 0.7 251 7.2

Total 596 100 3.464 100

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des econ om icam en te im portan tes pode n ão acompanhar o interesse da sociedade como um todo. Estes assuntos devem ser discutidos am -plam ente, de m odo a perm itir um m aior nível de consciência da população em geral. Nos paí-ses m ais desen volvidos, on de a com un idade acompanha melhor o progresso científico, tem sido observada uma divisão muito grande com relação às opin iões sobre a terapia gên ica. Os opositores temem, por um lado, as conseqüên-cias de um processo novo e pouco previsível, e por outro sua utilização em uma nova onda de eugenia, colocando freqüentem ente a questão “estamos brincando de ser Deus?”. A corrente a favor da experim en tação gen ética argum en ta

que esta questão deveria ser igualmente aplica-da à utilização de medicamentos e outros pro-cedim en tos clín icos que alteram o curso n or-mal de qualquer doença, e que o já extenso de-sen volvim en to destas pesquisas e seu gran de poten cial para a cu ra de doen ças qu e afetam grande parte da humanidade continuam justi-ficando o investimento. A grande questão seria: existem limites para a experimentação científi-ca? Fin alm en te, deve ser lem brado que qual-quer mal que possa resultar da pesquisa para a espécie humana não será causado por qualquer descoberta, m as sim da u tilização qu e o ho-mem fizer dela.

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