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Caracterização das atividades produtivas realizadas pelos agricultores familiares do assentamento Alecrim, em Selvíria-MS

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Academic year: 2017

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CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

Caracterização das atividades produtivas realizadas pelos agricultores familiares do Assentamento Alecrim, em Selvíria-MS.

CÍCERO ROGÉRIO HENRIQUE LALUCE

Engenheiro Agrônomo

Orientador : Prof. Dr. Antonio Lázaro Sant´Ana

Ilha Solteira-SP 2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

Desenvolvido pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação

Laluce, Cícero Rogério Henrique.

Caracterização das atividades produtivas realizadas pelos agricultores

familiares do assentamento Alecrim, em Selvíria-MS. / Cícero Rogério Henrique Laluce . -- Ilha Solteira: [s.n.], 2013

100 f. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. Especialidade: Sistema de Produção, 2013

Orientador: Antonio Lazaro Sant'Ana Inclui bibliografia

1. Sistemas produtivos. 2. Desenvolvimento. 3. Assentamentos rurais . 4. Agricultura familiar.

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DEDICO

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A Deus,

Pelo resgate e presença constante em minha vida, pela força, disciplina e motivação para realização deste sonho, que não acaba aqui.

Em memoria de meus pais Isac Laluce e Ana Maria Henrique,

Que desde menino me ensinaram o valor e me mostraram o caminho da escola.

A meus filhos,

Que este pequeno feito na imensidão do universo sirva de inspiração para conquistas ainda maiores.

A Unesp de Ilha Solteira, Pela oportunidade e confiança.

Ao meu orientador Dr. Antonio Lázaro Sant’Ana,

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A política de reforma agrária nacional apesar dos muitos percalços do processo é uma realidade no Brasil, em algumas regiões tem-se tornado o mais importante instrumento de ocupação de áreas, levando milhares de famílias para o campo, como no Pontal do Paranapanema no Estado de São Paulo e na Região de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. Apesar da baixa produção na maioria dos lotes, outros aspectos do dia a dia das famílias têm demostrado que a reprodução da vida nestes territórios não está na dependência direta somente da eficiência dos sistemas produtivos. A nosso ver, discutir a vida no campo, sob a ótica da agricultura familiar sem colocar o aspecto da produção no centro da análise não é possível, pois esta forma de agricultura foi à base de sustentação para o processo de desenvolvimento e soberania alimentar de vários países hoje considerados desenvolvidos e no Brasil ainda hoje é responsável por grande parte dos alimentos levados à mesa da população. Neste trabalho analisamos, no caso específico do Assentamento Alecrim no município de Selvíria (MS), as motivações que levaram as famílias a ir para o Assentamento, a escolha das atividades produtivas, como ocorreu a evolução dessas atividades ao longo do tempo, quais os fatores que têm influenciado seu desenvolvimento e a importância da produção e outros fatores no processo de consolidação do referido Assentamento. A pesquisa foi realizada, em 2013, com 40% das famílias assentadas, utilizando-se um questionário, contendo 48 perguntas, para a coleta dos dados. A investigação contou ainda com a pesquisa bibliográfica a partir de livros e artigos científicos e pesquisa documental. A análise dos resultados foi realizada com base na tabulação dos dados dos questionários da pesquisa e sua comparação com dados do ISEV/INCRA, realizado em 2008, e com resultados do questionário socioeconômico, aplicado para elaboração do P.D.A., em 2009. Observou-se que a motivação principal que levou as famílias para terra não foi obter alta produção e produtividade. Observou-se que a quase totalidade das famílias permanece no Assentamento, sua produção tem priorizado o autoconsumo e a principal fonte de renda, da maioria das famílias, tem sido proveniente de trabalhos fora do lote e de benefícios sociais, porém a produção agropecuária tem aumentado, especialmente a pecuária de leite e a criação de pequenos animais, como aves e suínos. No caso da pecuária de leite, a liberação do crédito do Pronaf “A” teve um papel importante para aumentar o rebanho e a produção. De maneira geral as famílias estão satisfeitas com o seu modo de vida, consideram que tiveram melhoria da renda e a maioria tem esperança de dias ainda melhores.

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ABSTRACT

The rural settlement policy despite the many mishaps of the process is a reality in Brazil, in some regions it has become the most important instrument of occupation of areas, taking thousands of families to the field, as in Pontal do Paranapanema in the State of São Paulo and the region of Sidrolândia, Mato Grosso do Sul. Despite the low production in most plots, other aspects of the day to day life of families have shown that the reproduction of life in these areas is not only the direct dependence of production systems. In our view, t's not possible to discuss life in the field, from the perspective of family farming, without putting the aspect of production at the center of analysis, because this form of agriculture was the base of support for the process of development and food sovereignty of various countries now considered developed and in Brazil, up to this day ,is responsible for a big part of the food brought to the table of the population. In this work we analyze the specific case of the Assentamento Alecrim (Rosemary Settlement) in Selvíria (MS), the reasons that led families to go to the Settlement, the choice of productive activities, how the evolution of such activities occured over time, which factors that have influenced its development and importance of production and other factors in the process of consolidation of that Settlement. The survey was conducted in 2013, with 40% of the settled families, using a questionnaire containing 48 questions for data collection. The investigation also included the literature from books and scientific articles, and documentary research. The analysis was based on data tabulation of research questionnaires and their comparison with data from ISEV / INCRA, conducted in 2008, and the results of the socioeconomic questionnaire, applied to the elaboration of the P.D.A. in 2009. It was observed that the main motivation that led families to the plots of land was not to get high production and productivity. The near total of families stay in the settlement, its production has prioritized their own consumption and the main income, of most families, has been coming out of the work done apart from the plots and social benefits, however the agricultural production has increased, especially the milk livestock and the raise of small animals, such as poultry and pigs. In the case of the milk livestock, the release of credit Pronaf had an important role to increase the herd and production. Generally the families are satisfied with the way they live, they consider that their income improved and most of them hope for even better days.

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Figura 1 - Croqui do Assentamento Alecrim, com os lotes pesquisados (aplicação de questionário) destacados em azul.

Figura 2 - Mato Grosso do Sul: Divisão Político-Administrativa e Microrregional Figura 3 - Localização do Projeto de Assentamento no município de Selvíria-MS Figura 4 - Vista parcial do relevo do Assentamento Alecrim, Selvíria (MS).

Figura 5 - Vista parcial do Córrego Queixada, com uma margem sem mata ciliar em parte da margem que serve de acesso a água aos animais do Assentamento Alecrim. Figura 6 - Outras fontes de renda das famílias assentadas, segundo pesquisa socioeconômica realizada pela equipe do P.D.A/2009.

Figura 7 - Faixas de renda mensal dos titulares dos do Assentamento Alecrim Figura 8 - Casa construída em um lote do Assentamento Alecrim (sem acabamento externo)

Figura 9 - Templo evangélico improvisado da Igreja Deus é Amor, em 2008, no Assentamento Alecrim

Figura 10 - Motivações das famílias pesquisadas do assentamento Alecrim para ingressarem no processo de reforma agrária.

Figura 11 - Como são utilizados os recursos provenientes de trabalhos fora do lote e/ou nãoagrícolas?

Figura 12 - Evolução da renda das famílias pesquisadas do Assentamento Alecrim, entre 2008 e 2013

Figura 13 - Fatores apontados pelos entrevistados, como determinantes do aumento da renda das famílias no ano de 2013.

Figura 14 - Principais fontes de entretenimento informadas pelas famílias pesquisadas Figura 15 - Situação de funcionamento as organizações sociais que atuam no

assentamento Alecrim

Figura 16 - Forma de contribuição do recurso dos Pronaf, segundo famílias entrevistadas que receberam o crédito.

Figura 17 - Aplicações do crédito do PRONAF A feito pelas famílias entrevistadas Figura 18 – Atividades que os produtores do Assentamento Alecrim aplicariam um possível

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Figura 20 – Fatores dentro do assentamento que segundo as famílias dificultam a produção nos lotes

Figura 21 – Principais formas de contribuição da assistência técnica para o desenvolvimento do Assentamento Alecrim, segundo os produtores pesquisados Figura 22 - Principais causas apontadas pelas famílias pesquisadas que consideraram que a assistência técnica não contribuiu para o desenvolvimento do Assentamento Alecrim

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Tabela 1 - Número de estabelecimentos Agropecuários por grupo de área total – série histórica (1975 a 2006) – Mato Grosso do Sul

Tabela 2 - Assentamentos implantados na Microrregião de Paranaíba (MS) Tabela 3 - Distância das sedes municipais ao Assentamento Alecrim

Tabela 4 - Tipos de créditos e outros investimentos destinados pelo INCRA ao P.A. Alecrim até o ano de 2009

Tabela 5 - Demonstrativo de áreas legais do assentamento

Tabela 6 - Classes de relevo e de declividade existentes no Assentamento Alecrim Tabela 7 - Uso da terra no Assentamento Alecrim, em 2009

Tabela 8 - Resumo da situação da infraestrutura existente em 2009 no Assentamento Alecrim

Tabela 9 - Tipo de animais criados pelas famílias do Assentamento Alecrim, no ano de 2008

Tabela 10 - Atividades que as famílias assentadas pretendiam desenvolver nos lotes Tabela 11 - Principais culturas que as famílias do Assentamento Alecrim pretendiam cultivar

Tabela 12 - Resumo das informações contidas nos desenhos dos lotes e no questionário socioeconômico

Tabela 13 - Principais produtos (in natura e processados) dos lotes comercializados ou consumidos pelas famílias no ano de 2012, por atividade.

Tabela 14 - Fatores apontados pelas famílias pesquisadas como existentes na região e que favorecem a produção nos lotes

Tabela 15 - Fatores apontados pelas famílias como existentes na região que dificultam a produção nos lotes?

Tabela 16 - Como deveria ser feito a assistência técnica no Assentamento Alecrim, segundo opinião das famílias pesquisadas

Tabela 17 - Entidades que segundo as famílias tem contribuído para o desenvolvimento do Assentamento Alecrim

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1 INTRODUÇÃO

2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL

2.1 A REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL

2.2 A OCUPAÇÃO DAS TERRAS E A REFORMA AGRÁRIA NO MATO GROSSO DO SUL

2.3 A REFORMA AGRÁRIA E A PRODUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR

2.4 PRODUÇÃO, REFORMA AGRÁRIA E DESENVOLVIMENTO

3 CARACTERIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DE PARANAÍBA (MS)

E DO ASSENTAMENTO ALECRIM

3.1 DIAGNÓSTICO DA MICRORREGIÃO DE PARANAÍBA 3.1.1 SISTEMA PRODUTIVO E LIGAÇÃO COM O MERCADO

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO ALECRIM

3.2.1 HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DO ASSENTAMENTO

3.2.2 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DO PROJETO DO ASSENTAMENTO ALECRIM

3.2.3 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA E CULTURAL 3.2.4 INFRAESTRUTURA FÍSICA, SOCIAL E ECONÔMICA. 3.2.5 ANÁLISE SUCINTA DO SISTEMA PRODUTIVO 3.2.6 SERVIÇOS DE APOIO À PRODUÇÃO

3.2.7 ANÁLISE DAS LIMITAÇÕES, POTENCIALIDADES E CONDICIONANTES.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA.

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA E CULTURAL

4.2 SISTEMAS PRODUTIVOS EXISTENTES 4.3 ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS

4.4 ASPECTOS GERAIS DO DESENVOLVIMENTO DO ASSENTAMENTO

ALECRIM

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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1 INTRODUÇÃO

A partir da década de 1980 a discussão sobre reforma agrária passa a ocupar cada vez mais espaço no cenário nacional, ganha ainda mais força a partir das manifestações dos movimentos sociais, principalmente o MST – Movimento dos Sem Terra, já na década de 90. Estas manifestações, muitas terminando em confrontos e chacinas dos trabalhadores envolvidos na luta pela terra é destaque na mídia nacional e fazem efervescer o debate sobre a reforma agrária na sociedade, entretanto os debates não são suficientes para conscientizar a nação sobre temas relevantes como a questão agrária e nem para a real necessidade e importância da reforma agrária para o País.

Mesmo assim os movimentos sociais, juntamente com as entidades de apoio como INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, FAO - Food and Agriculture Organization e alguns partidos políticos, até então identificados como de esquerda, conseguem sensibilizar as autoridades para necessidade da elaboração e implementação de políticas públicas que tinham como objetivo o processo de democratização da terra através da retomada do processo de implantação de assentamentos rurais e a formulação de políticas públicas para agricultura familiar no Brasil.

O reconhecimento da importância da agricultura familiar tem sido cada vez mais evidente, porém ainda falta muito para que possamos de fato democratizar o acesso a terra e principalmente diminuir a diferença acentuada na distribuição da riqueza em nosso País.

O objetivo deste trabalho foi realizar uma caracterização das atividades produtivas desenvolvidas pelas famílias do assentamento Alecrim no município de Selvíria no Mato Grosso do Sul e verificar de que forma estas atividades e outros fatores ligados ao desenvolvimento do assentamento se comportaram entre 2008/2009 a 2013 (período de estudo).

A pesquisa foi feita com aplicação de um questionário no ano de 2013, a 35 famílias assentadas (Apêndice 2). O questionário constou de 48 perguntas, divididas entre questões abertas e fechadas, as famílias foram escolhidas ao acaso e representam cerca de 40% das famílias que residem atualmente no Assentamento Alecrim (Figura 01).

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regional. Procurou-se verificar também o grau de interação entre as famílias e empresa de assistência técnica responsável pela atuação na área e como esta e outras entidades têm contribuído (ou não) para os diferentes aspectos do desenvolvimento do Assentamento Alecrim (segundo a visão das famílias assentadas), além de verificar o papel que o crédito do Pronaf teve na evolução das atividades produtivas.

Figura 01. Croqui do Assentamento Alecrim, com os lotes pesquisados (aplicação de questionário) destacados em azul.

Fonte: INCRA, 2007 (Modificado pelo autor).

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Embora se tenha feito à coleta de dados quantitativos, foi dada ênfase à investigação do tipo qualitativa, a qual se baseia na obtenção de dados descritivos, colhidos no contato direto do investigador com a situação estudada, de acordo com Martins e Campos (2003).

Os dados obtidos nos questionários foram tabulados no software Microsoft Excell for Windows e apresentados na forma de tabelas e figuras. A análise dos resultados foi realizada comparando-os com os dados do ISEV/INCRA e do questionário socioeconômico aplicado para elaboração do P.D.A.

Além desta introdução e das considerações finais, a dissertação é composta do Capítulo 2 no qual é apresentada uma revisão bibliográfica sobre a Questão Agrária no Brasil, abrangendo aspectos históricos e discutindo com base em vários autores, aspectos importantes do processo de ocupação do espaço rural Nacional e são apresentados dados que mostram como se deu a ocupação das terras do Mato Grosso do Sul, Estado onde foi realizado o estudo de caso demonstrando que a participação do Estado foi fundamental para a implantação da atual desigualdade na distribuição das terrase o quanto a democratização da terra ainda pode evoluir no Estado de Mato Grosso do Sul. São abordados ainda aspectos da produção na reforma agrária demonstrando a importância da agricultura familiar para o País e apresentando relatos de autores que apontam uma produção basicamente para autoconsumo em alguns lotes de assentamentos do estado. O capitulo traz ainda uma prevê discussão sobre o processo de desenvolvimento e coloca, com base na visão do autor que a processo de desenvolvimento da reforma agrária deverá passar por um processo de crescimento econômico das famílias, sem o qual a evolução das atividades produtivas ficara comprometida.

No capitulo 3 é apresentada uma caracterização da região e do assentamento Alecrim. Na caracterização da região (microrregião de Paranaíba) são apresentados os principais dados geográficos, econômicos e de mercado, além de uma descrição da ocupação das terras. Na caracterização do assentamento Alecrim é feita uma descrição detalhada de sua área, o histórico de formação do assentamento e são apresentados os dados edafoclimaticos, socioeconômicos, culturais e ambientais. São discutidos aspectos relativos às potencialidades e limitações do assentamento e os principais sistemas produtivos existentes assim como a infraestrutura já implantada.

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INCRA em 2008 e do Plano de Desenvolvimento do Assentamento – PDA, realizado em 2009. No capitulo 6 são feitas as considerações finais.

2 A Questão Agrária no Brasil

2.1 A REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL

O termo reforma agrária passou a ser mais difundido para toda a nação brasileira a partir de meados dos anos 1980, devido ao grande movimento nacional que reivindicava a sua implantação, promovido pelos movimentos sociais, principalmente pelo MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, cujas ações ocuparam a mídia nacional nesse período. Porém, segundo Martins (2000), o centro da discussão deve ser a Questão Agrária, para o qual a reforma agrária é uma resposta. Para o autor este último tema não veio à tona e não tem sido discutido pela sociedade em geral, permanecendo desconhecido por grande parte da nação.

A questão agrária brasileira tem início na ocupação do território brasileiro que teve seu curso natural alterado com a chegada dos imigrantes portugueses, já que nossa história, de certa forma, começa a ser contada a partir da chegada destes. Segundo Stédile (2011), primeiro foram tirados dos nativos e do território brasileiro, as riquezas naturais que foram transformadas em mercadorias para serem comercializadas na Europa. Posteriormente a coroa portuguesa já com o domínio do território conhecido, passa a subdividi-lo em grandes áreas e fazer concessões de uso com direito à herança para grandes produtores realizarem plantios com fins de abastecer o mercado europeu. A intensificação deste modelo de produção e comércio aumentou as pressões externas pela propriedade da terra até que em 1850 surge a Lei nº 601, denominada “Lei de Terras”, que institucionaliza a propriedade privada da terra no Brasil por meio de sua compra, cerceando o direito a terra por parte dos nativos sem terras e escravos que poderiam se tornar livres, assim como dos imigrantes que começavam a chegar em grande número para trabalhar nas lavouras de café. Há, portanto, ao longo da história a concentração da terra em grandes propriedades, estabelecendo as bases para formação do latifúndio em todo o território nacional. Esse modo de ocupação das terras e de produção se torna hegemônico e progride até os dias de hoje, por isso acreditamos que a reforma agrária está inserida em uma questão maior na história do País, ou seja, na discussão dos paradigmas da questão agrária e do capitalismo agrário.

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agrária para o Brasil, precisamos ter em mente o que está no centro desses dois paradigmas. Segundo Martins (2000) a questão agrária pode ser entendida como uma forma de impedimento ao desenvolvimento ampliado do Capital, por meio da redução de sua taxa média de lucro representada pela importância quantitativa que pode alcançar a renda fundiária na distribuição da mais-valia ou na sinecura de uma classe de rentistas que como consequência também traria o fim das formas de produção da pequena propriedade. No paradigma do capitalismo agrário a propriedade das terras por pequenos produtores não é impedimento para expansão do capitalismo e desenvolvimento da nação, porém suas formas de produção são transformadas à medida que o capitalismo de expande, fazendo com que estas se integrem às normas de mercado, mudando as características de seus sistemas produtivos e de comercialização.

Dentro deste debate emerge uma questão secundária, mas não menos importante, a partir dos conceitos de agricultor familiar e de camponês. Porém como demostrado por Abramovay (1992) a agricultura familiar assumiu formas de produção particulares altamente integradas ao mercado, capazes de incorporar os avanços técnicos e de responder às políticas públicas governamentais, principalmente nos países ditos como desenvolvidos, como os Estados Unidos da América e os países da Europa ocidental, diferenciando-se das formas tradicionais de campesinato que se caracterizam por inserção parcial nos mercados e por um tecido social marcado pela partilha de laços comunitários. Entender as diferenças destas duas categorias é fundamental para a análise do processo de formação das políticas públicas no Brasil, voltadas para o desenvolvimento da agricultura familiar. No contato direto com realidade do dia a dia em algumas regiões do Brasil as duas categorias ainda parecem se confundir, tamanha a diversidade de situações econômicas e culturais que se encontram esses produtores.

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agrícolas, das negociações relativas ao comércio exterior, da tecnologia e da assistência técnica, entre outras questões.

Para alguns autores como Sabourin (2008) as questões que permeiam o debate sobre a política de reforma agrária no Brasil passam pelas discussões sobre o projeto de sociedade, tipo de desenvolvimento rural, importância da agricultura na sociedade e o futuro da agricultura familiar. Para o autor existem vários segmentos ou grupos sociais, com diferentes discursos e práticas, relacionados à reforma agrária no Brasil. Dentro dos grupos políticos que na verdade, são contra a reforma agrária por princípio, por medo de perder seus privilégios ou preconceito pelos pobres, o discurso é simplificado, mas o usam como meio de conseguir seus interesses, tendo que para isso recorrer às vezes a alianças inesperadas. Outra tendência segundo o autor pode ser vista tanto nos partidos de situação como oposição, ambos mesmo não acreditando no sucesso econômico da reforma agrária; mobilizam indivíduos e setores da sociedade buscando atender seus interesses sociopolíticos, eleitorais e ideológicos. Os especuladores fundiários tem tido, a partir de 1996, grande interesse na negociação de terras para reforma agrária, pois a indenização das terras assegura um verdadeiro mercado fundiário institucional que tem de fato beneficiado os proprietários, os bancos e os investidores. Para o autor há ainda outras tendências importantes, como a constituída pelos movimentos sociais e os sindicatos de trabalhadores rurais, as organizações dos sem-terra, a Igreja católica e os partidos de esquerda, dentre estes, o Partido dos Trabalhadores (PT) que defendem a reforma agrária por convicção social, ideológica e econômica. Para o autor esta tendência toma força a partir de 1990 - 2000 e consegue grande apoio da opinião pública, a favor da reforma agrária, principalmente na classe média, o que teve como consequência o surgimento da política de reforma agrária1 no então governo de Fernando Henrique Cardoso.

Segundo Leite (2007) a reforma agrária deve ser entendida não somente como uma política de distribuição de ativos fundiários, mas como um processo mais geral que envolve o acesso aos recursos naturais, ao financiamento, à tecnologia, ao mercado de produtos e de trabalho e, especialmente, à distribuição do poder político. Ainda segundo Leite (2007), citando Tavares (1996):

(...) da perspectiva do pensamento reformista latino-americano dos anos 50 e 60, a reforma agrária era concebida como um processo social inserido em um movimento global de transformação da sociedade e direcionado a três objetivos estratégicos: a

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ruptura do poder político tradicional (democratização), a redistribuição da riqueza e da renda (justiça social) e a formação do mercado interno (industrialização). No caso brasileiro, as transformações ocorridas no campo durante as décadas de 60 e 70 (...) e o marco político-ideológico que se consolidou (...) conduziram a um progressivo reducionismo na concepção da reforma agrária, que foi redefinida (...) como um instrumento de ‘política de terras’. A ‘revolução agrícola’ (...) ‘desativou’ o significado econômico clássico da reforma (a formação do mercado interno), contribuindo assim para a afirmação da concepção reducionista.E segue Maria da Conceição Tavares lembrando que as “transformações das bases técnicas e econômicas” não tiveram correspondência nos outros planos: “a terra e a riqueza continuaram sendo concentradas por força dos novos interesses agroindustriais, da expansão da fronteira e dos interesses agrários ‘tradicionais’ (...)”. E, depois de lembrar que a terra “mantém (...) notável importância econômica e política”, conclui: “a confluência no campo de dois processos - a modernização conservadora da produção e o agravamento dos fatores de exclusão nas áreas tradicionais e de fronteira - tende a tornar mais crítica a questão da terra (TAVARES, 1996, citado por LEITE, 2007, p.4)

Apesar do cenário desfavorável, a reforma agrária ocorrida até agora no Brasil tem sido importante pela democratização do acesso a terra e para expansão da agricultura familiar brasileira. A agricultura familiar não tinha lugar nas discussões sobre o cenário agrícola nacional, sua emergência como categoria de análise e como objeto de políticas públicas específicas é recente no Brasil, principalmente quando se compara aos países desenvolvidos. Após os dados divulgados pelo estudo INCRA/FAO na década de 1990 e, especialmente, do Censo Agropecuário de 2006, ficou mais difícil negar a relevância da agricultura familiar para a agropecuária brasileira e para soberania alimentar do País. Resta-nos o desafio de entender os diferentes contextos de inserção desta categoria de produtores nas diferentes regiões do país e os gargalos do processo de desenvolvimento destes produtores de base familiar, cujo conceito transcende os aspectos da produção. Cabe-nos entender de que maneira se reproduz este modo de vida, suas reais necessidades e anseios e como está fundamentada sua lida com a terra, visto que nem sempre a produção, especialmente a mercantil, parece ser seu principal objetivo. Para Chayanov (1974) a produção familiar é orientada para a satisfação das necessidades e a reprodução familiar, apesar de não negar o interesse da família agricultora em comercializar o resultado de sua atividade produtiva para obter maior renda.

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Censo Agropecuário de 2006 está concentrada na agricultura familiar, porém não faz distinção entre os chamados agricultores tradicionais e os produtores em áreas de assentamentos. Neste contexto nos cabe investigar os entraves específicos relativos à produção nos assentamentos rurais.

Segundo Sabourin (2008) os primeiros movimentos de luta pela reforma agrária no Brasil se deram por conta das ligas camponesas do Nordeste. Esse movimento era formado por meeiros, posseiros e trabalhadores rurais que lutavam por direitos elementares do trabalho, da saúde, da previdência, da escolarização, com base no direito à organização autônoma dos grupos sociais. O movimento tinha apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a partir de 1945 se expande por todo o País, mas com a colocação do PCB na ilegalidade, o movimento perde força e passa a ser reprimido. Segundo o mesmo autor o movimento ressurge com a organização dos trabalhadores da cana de açúcar no Nordeste e sua pressão leva João Goulart, o então governo da época, a instituir o Estatuto do Trabalhador Rural, em 1963. Por conceder aos trabalhadores rurais alguns direitos como estabilidade no emprego e indenização no caso de demissão, o Estatuto traz como reação dos fazendeiros uma grande expulsão dos trabalhadores do campo, o que foi agravado pelo fato de que também se iniciava a implantação da modernização que tinha como um dos seus eixos o aumento da produtividade do trabalho, supostamente para liberar mão de obra para a indústria. Os produtores e trabalhadores rurais se reorganizam e passam a formar os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, embora com certo controle de suas ações por parte do governo militar da época que vincula os sindicatos ao Ministério do Trabalho.

Após o Golpe Militar, no final de 1964, no Governo de Castello Branco, há a edição do Estatuto da Terra que estabelece as condições legais para o processo de reforma agrária no Brasil, inclusive para realizar a desapropriação por interesse social, porém esta não se efetiva nos governos militares que se limitaram a desenvolver um programa de colonização dirigida às terras dos Cerrados e da Amazônia.

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modernização agropecuária brasileira são reconhecidos por diferentes institutos internacionais que cobram maior justiça social no processo de “desenvolvimento” das nações emergentes. A adesão de um grande número de brasileiros desarranjados economicamente pela falta de oportunidade nas periferias das cidades e em bolsões de miséria deflagra uma luta pela reforma agrária como meio de proporcionar justiça social, maior produção de alimentos e um desenvolvimento sustentável. Porém devemos ponderar que o processo só consegue avançar graças às fissuras no sistema político econômico dominante, proporcionadas pela abertura política que se implanta com o fim da ditadura militar no País, principalmente a partir da promulgação da nova constituição de 1988.

Leite (2007) afirma ainda que apesar das previsões em contrário, a reforma agrária tem assumido posição de destaque no cenário nacional como uma possibilidade concreta para a reprodução social de grande número de famílias de camponeses e trabalhadores rurais do meio rural. Neste contexto devemos destacar o papel dos movimentos sociais, principalmente o MST- Movimento dos Trabalhos Sem Terra que mesmo tendo como pano de fundo uma luta política ideológica de ruptura de poder, que a nosso ver até agora foi infrutífera, consegue mobilizar grande número de brasileiros para a luta pela terra e com isso intensificar o processo de formação de assentamentos rurais no Brasil.

Conforme citado por Sabourin (2008):

(...) sem uma organização coletiva forte e determinada dos “sem-terra”, que recorrem ao mecanismo de ocupação de propriedades improdutivas, por razões políticas, técnicas e financeiras, a reforma agrária nunca teria deslanchado; ao contrário, teria se limitado à colonização de frentes pioneiras (Cerrados dos Estados de Minas Gerais, Goiás, Maranhão, Piauí e Floresta Amazônica) ou à distribuição de terras públicas (SABOURIM, 2008, p.156).

Este processo apesar de todos os percalços alcançou, segundo dados do Instituto de Colonização e Reforma Agrária-INCRA até a data de 18/11/2011 um total de 8.790 Projetos de assentamentos, com capacidade de assentar 1.117.985 famílias em uma área de mais de 85,869 milhões de hectares, divididos em diferentes modelos de assentamentos pelo território nacional (MDA, 2011)

2.2 A OCUPAÇÃO DAS TERRAS E A REFORMA AGRÁRIA NO MATO GROSSO DO SUL

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uma extensão territorial de 357.145,532 Km2, o que representa 22% da Região Centro–Oeste e 4% do território nacional. Atualmente encontra-se dividido em 79 municípios, tem como capital Campo Grande e possui, segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010, uma população de 2.449.024 habitantes, sendo que 2.097.716 correspondem à população urbana (85,65%) e 351.308 à população rural (14,34%).

A ocupação do território do atual Estado de Mato Grosso do Sul se dá por conta de suas características naturais que permitia a exploração de erva mate e criação extensiva de gado bovino. Esta ocupação foi marcada por conflitos, envolvendo inicialmente as populações indígenas e posteriormente segmentos de trabalhadores rurais sem terra, compostos por colonos, peões e os paraguaios, principalmente a partir da década de 1950 (SILVA, 2004).

Figura 2 - Mato Grosso do Sul: Divisão Político-Administrativa e Microrregional.

Fonte: SEMAC, 2013.

É oportuno mencionar que a história da ocupação das terras no Estado de Mato Grosso, que deu origem em 1979 ao Estado de Mato Grosso do Sul, para termos a real noção da importância da reforma agrária para esse Estado e obter subsídios para entendermos os percalços desse processo, não só no Mato Grosso do Sul, mas no Brasil de modo Geral, pois a história se repete de forma semelhante em outros Estados da federação.

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passou para o domínio do Estado por força da constituição republicana. A partir de 1892 começa a tomar corpo um aparato jurídico-político para dar sustentação e legitimar os interesses de latifundiários, capitalistas individuais ou de grupos econômicos, como grandes corporações de agropecuária e de colonização, que eram os principais interessados no processo e que passaram a ser beneficiados com grandes porções de terras no Estado. A legislação fundiária no Estado teve como base a lei imperial de terras de 1850 e seu regulamento de 1854. Estes documentos reconheciam o pleno direito de propriedade sobre as terras devolutas situadas no Estado e decretou a sua aquisição mediante título oneroso. Porém ajustando-se aos interesses dos “proprietários” permitia a regularização via reconhecimento das ocupações “consolidadas”, sesmarias e posses, abrindo mão de cumprir os dispositivos legais e reconhecendo as posses “mansas e pacíficas” quando o proprietário ocupava as terras e as mantinha produzindo. Além deste artifício os “proprietários” foram beneficiados por prazos dilatados para medição e regularização das áreas.

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dos 910 títulos definitivos que foram expedidos, registrou-se a soma de 650.877,50 ha de área legal e 4.294.216,00 ha de área em excesso.

De forma geral podemos destacar, segundo Silva (1996) citado por Moreno (1999), três fenômenos distintos, porém interligados, que caracterizam de forma geral o processo de ocupação das terras nos Estados da federação, por conta dos desdobramentos da lei de 1850: O primeiro diz respeito à adaptação das leis aos interesses dos grandes ocupantes de terras. Todos os Estados alteraram o prazo de legitimação das posses de 1854 para data posterior (vários até 1889, em muitos casos até 1920 e em alguns casos a 1930). O segundo ponto destacado refere-se aos processos de privatização das terras devolutas que continuou sendo efetivado por meio de invasões e ocupações de forma incontrolada em todas as regiões e, por último a vinculação do processo de privatização das terras devolutas ao coronelismo.

Ficam evidentes pelo processo de ocupação das terras e pelo modelo de produção da época que iniciativas de acesso a terra por parte de pequenos produtores enfrentavam várias dificuldades, às vezes colocando em risco a vida destes sujeitos devido às disputas e a impunidade. Os governos buscaram em algumas regiões específicas do Estado de Mato Grosso expandir a pequena produção por meio de concessões gratuitas, que era um processo de colonização espontânea sem ônus e riscos políticos para o Estado. Os títulos definitivos eram concedidos aos proprietários em menos de um ano, após o pedido de registro, mas como todos os custos eram de responsabilidade do proprietário os resultados foram inexpressivos. Moreno (1999) mostra que entre 1889 a 1930, foram efetivadas 152 concessões gratuitas, para um total de 4.814 hectares alienados no mesmo período, o que significou menos de 1% do total de área regularizada no mesmo período. A área média destas propriedades não chegava a 32 hectares, quando comparamos estas áreas com a média de titulação no mesmo período, para as oligarquias da época, que variavam de 450 a 14.500 ha podemos ter uma noção exata da apropriação injusta das terras públicas e devolutas do Estado de Mato Grosso que excluiu os pequenos posseiros (extrativistas, agricultores e pecuaristas) dos meios de produção.

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uma ação indiscriminada de regularização e legitimação de títulos de domínio, cujas terras já estavam na mão de particulares. Ao ignorar os atos fraudulentos praticados por ocupantes de grandes áreas, com conivência dos responsáveis pelos serviços de registro, medição e demarcação de terras, os Governos Estaduais promovem a regularização de grandes extensões de terras, forjando as bases para concentração fundiária no Estado.

De 1930 a 1945, no Governo Getúlio Vargas, o Estado fica sob intervenção do Governo Federal e as ações fundiárias sofrem algumas modificações no intuito de moralizar o processo, as ações de colonização passam a ser vinculadas ao governo federal. Nesta época os excessos de terras passam a ser limitados a 50% do total da área requerida e constante do título provisório. O Governo Federal passa a fomentar projetos de colonização (Colônias agrícolas nacionais) visando ocupar os espaços vazios do interior do País e o fortalecimento das áreas de fronteira, muda o foco da produção objetivando fortalecer o estabelecimento da pequena propriedade e a diversificação da produção a partir do desenvolvimento da indústria nacional, cria a chamada “Marcha para o Oeste”. O Estado de Mato Grosso do Sul foi “beneficiado” com a política do governo federal de incentivo à expansão da pequena propriedade, quebrando na época, com a atuação direta de Getúlio Vargas, o monopólio das colonizadoras e concessionárias como a Mate Laranjeira (MORENO, 1999). Mesmo com esta ação do governo federal a ocupação das terras já estava praticamente toda definida e o Estado de Mato Grosso do Sul herdou uma desigual divisão da terra em que um pequeno número de proprietários concentra a grande maioria das terras do Estado.

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modernização da agricultura, para a infraestrutura urbana e para a ampliação da malha de transportes (KUDLAVICZ, 2011).

Ainda segundo Kudlavicz (2011), o governo cria na SUDECO, o programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENRO) e começa a selecionar áreas nos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso para implantação dos Projetos. No Estado de Mato Grosso foram selecionadas quatro áreas: Bodoquena (hoje Mato Grosso do Sul), Xavantina, Parecis e Campo Grande-Três Lagoas (hoje Mato Grosso do Sul). Para realização dos projetos o governo contava com a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) e a execução coube à Associação de Crédito e Assistência Rural de Mato Grosso (ACARMAT).

Segundo Abreu (2003), citado por Kudlavicz (2011), as transformações ocorridas no espaço agrário mato-grossense, sob a execução da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), privilegiou por meio de crédito as médias e grandes propriedades, principalmente as que tinham como principal atividade a pecuária. O favorecimento era de forma crescente, quanto maior a propriedade mais recursos recebia. Propriedades com menos de 100 ha receberam apenas 0,38% do crédito liberado, já as propriedades com mais de 500 ha receberam cerca de 77 % do crédito. Essa política de favorecimento teve como resultado entre os anos de 1975 a 1980 a inclusão de 915.000 ha para produção de soja e pecuária de corte no território do atual Mato Grosso do Sul.

Desta forma a grande propriedade foi consolidada no Estado de Mato Grosso do Sul inicialmente pela ilegalidade, abuso de poder e conivência do poder público e, recentemente, pelo Estado que viabiliza sua reprodução e ampliação ao criar condições privilegiadas para sustentação de sistemas produtivos de grande escala. Conforme citado por Almeida (2011), analisando dados dos Censos 1995/96 e 2006,Mato Grosso do Sul revela a concentração da terra em poucas e privilegiadas mãos. Deste modo, enquanto os estabelecimentos menores que 200 ha representam 62% e somam apenas 4,11% da área, os estabelecimentos acima de 2.000 ha, embora representem 7,14% do total, são detentores de 63,42% da terra.

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planos ficaram longe de conseguir alcançar a plenitude de seus objetivos e nem podem ser considerados instrumentos eficientes no processo de desconcentração de terras no Brasil e muito menos no Mato Grosso do Sul; porém trouxeram avanços no processo de democratização do acesso a terra em muitas regiões do País. No ano de 2012 no Mato Grosso do Sul temos, segundo dados do INCRA- Instituto de Colonização e Reforma Agrária, 27.750 famílias assentadas, sendo que destas 818 já se encontram tituladas e 26.932 ainda não tituladas, ocupando uma área de 667.620,3477 hectares, distribuídos em 190 projetos, cujos recursos têm como origem o Governo Federal, por meio dos Planos Nacionais de Reforma Agrária. Conta ainda com oito assentamentos implantados pelo governo estadual, com 694 famílias assentadas em 14.400,35 hectares.

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Tabela 1 - Número de estabelecimentos Agropecuários por grupo de área total – série histórica (1975 a 2006) – Mato Grosso do Sul.

Grupos de

área total 1975 1980 1985 1995/96 2006

Menos de 10 ha 22.279 13.182 14.916 9.170 13.396 10 a menos de

100 ha 20.823 16.796 18.750 17.753 29.277 100 a menos de

1000 ha

9.726 12.034 14.674 15.423 15.286

1000 ha e mais 5.017 5.822 6.215 6.902 6.603

Total 57.853 47.943 54.631 49.423 64.862

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário série histórica.

O mapa dos assentamentos implantados até o ano de 2007 no Estado de Mato Grosso do Sul (anexo 6), ilustra a insignificância das áreas ocupadas com projetos de assentamentos no total da área de Estado de Mato Grosso do Sul, principalmente em algumas regiões do Estado como na microrregião de Três Lagoas, Paranaíba, Alto Taquari e Região Baixo Pantanal, demostrando o quanto ainda podemos e devemos avançar no processo de democratização do acesso a terra neste Estado.

2.3 A REFORMA AGRÁRIA E A PRODUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Caume (2009) considera que há na sociedade brasileira um pensamento, corrente nos meios intelectuais, que supõe a incompatibilidade entre o agronegócio e a agricultura familiar. Essa idéia está baseada em paradigmas que são à base de diversos projetos político-ideológicos. Neste caso a agricultura familiar teria uma função apenas social de geração de trabalho, renda para um grupo de agricultores que não estão inseridos nas cadeias produtivas completas. Já a grande propriedade seria responsável por desempenhar papeis centrais na economia da agropecuária, gerando ocupação no campo por meio da utilização de mão de obra assalariada. Para o autor essa visão dicotômica do campo é legitimada pelo próprio Estado, como exemplo o autor cita o “Plano Safra” que estabelece financiamento para a agropecuária diferenciando a categoria de produtores; o PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, destinado aos agricultores familiares, servindo como contraposição ao financiamento da agropecuária dita comercial. Para o Autor:

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excluídas do mercado e voltadas à subsistência dos próprios produtores (“agricultura familiar”) (CAUME, 2009, p.26).

Apesar do cenário desfavorável, os dados do Censo Agropecuário de 2006 comprovam a relevância da agricultura familiar para a agropecuária brasileira e para soberania alimentar do país, portanto demostra que o pensamento corrente nos meios intelectuais do País é alienado. Grossi e Marques (2010) analisando estes dados citam que a agricultura familiar apesar de apresentar uma área cultivada menor com lavouras e pastagens (17,7 milhões de hectares) quando comparada às propriedades não familiares (36,4 milhões de hectares) e serem formadas em média por parcelas menores (enquanto a área média dos estabelecimentos de agricultura familiar é de 18,37 ha, os nãos familiares possuem uma área média de 309,18 ha), a agricultura familiar é responsável por garantir grande parte da segurança alimentar do País, como importante fornecedora de alimentos para o mercado interno; além de ocupar mais mão de obra (74% do total) e utilizar formar mais eficiente o solo (isso fica evidente quando os autores citam que a agricultura familiar gera um valor da produção de R$677,00/ha enquanto a não familiar gera apenas R$358,00/ha.

Segundo o IBGE (2006), a agricultura familiar foi responsável em 2006 por 87,0% da produção nacional de mandioca, 70,0% da produção de feijão (sendo 77,0% do feijão-preto, 84,0% do feijão-fradinho, caupi, de corda ou macáçar e 54,0% do feijão de cor), 46,0% do milho, 38,0% do café (parcela constituída por 55,0% do tipo robusta ou conilon e 34,0% do arábica), 34,0% do arroz, 58,0% do leite (composta por 58,0% do leite de vaca e 67,0% do leite de cabra), possuíam 59,0% do plantel de suínos, 50,0% do plantel de aves, 30,0% dos bovinos, e produziam 21,0% do trigo e 16,0% da produção da soja, um dos principais produtos de exportação brasileira.

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No Mato Grosso do Sul os territórios ocupados pela reforma agrária têm sido marcados pelo desenvolvimento de atividades produtivas baseadas na subsistência das famílias. As atividades produtivas têm sido desenvolvidas com baixos índices de rendimentos, resultado da falta de adoção de práticas mais adequadas que visem aperfeiçoar a produção, quer pelo emprego de técnicas modernas de produção como aplicação de insumos externos à propriedade ou de técnicas alternativas que visem o melhor aproveitamento dos recursos locais e naturais disponíveis e dos conhecimentos pré-existentes. Tomich et al. (2004), caracterizando os sistemas produtivos dos assentamentos rurais em Corumbá-MS, observou que das famílias entrevistadas 64,1% declararam praticar alguma atividade agrícola e 100% afirmaram possuir criação animal. Entre as principais culturas apontadas pelas famílias assentadas destacam-se a mandioca e o feijão com 59,3% de propriedades produtoras e o milho com 50,9%, seguidas pela cana (18,6%), horticultura (15,3%), fruticultura (11,9%) e abóbora (10,2%). Com relação à área média destinada a cada cultura, o feijão é a principal com área de 2,75 ha (variação de 16 a 0,2 ha), seguida pela mandioca (1,25 ha), pelo milho (1,24 ha) e pela cana (1,05 ha). Quanto à atividade pecuária, 98,9% dos proprietários entrevistados declararam possuir criação de bovino, sendo este o principal animal de criação, seguido pelo equino (73,6%), pelo suíno (40,7%) e pelas aves (18,7%). A quantidade média de animais por proprietário foi de 17 aves, seis suínos, três caprinos e dois equinos. A quantidade de bovinos por proprietário variou de 2 a 63 animais, sendo que 35,2% das propriedades visitadas continham rebanhos de 1 a 10 animais e 28,57% declararam possuir rebanhos de 11 a 20 animais. Observou-se que o principal objetivo da exploração bovina era o leite (96,6% das propriedades) e que três rebanhos estavam voltados apenas para a produção de carne e um para a produção de leite e carne. A produção estava voltada para o consumo familiar em 75,7% das propriedades e para consumo e comércio em 12,9%. Do total de questionários analisados, 25,5% não constavam resposta sobre o destino da produção.

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cultura bastante cultivada, sendo utilizada na forma de forrageira para alimentação bovina no período da seca.

Precisamos desvendar as nuanças de tão diferentes desempenhos entre a agricultura familiar assentada e os ditos “agricultores familiares tradicionais”, uma vez que grande parte da produção de alimentos, mostrado no Censo Agropecuário de 2006 está concentrado nesta categoria de produtores. Devemos levar em consideração que as condições de vida nestes territórios são em particular muito diferentes desde seu acesso a terra, passando frequentemente por longos períodos de acampamento que em muitos casos empobrecem ainda mais e desestimulam muitas famílias, até a entrada nos assentamentos e a implantação da infraestrutura mínima de vida que às vezes demora anos para ocorrer. Mesmo assim, acreditamos que não só estes fatores são responsáveis pelas dificuldades de produção nestas áreas, existem outros fatores que devem ser verificados. Esta investigação deve ser feita não como forma de desmerecermos o processo, mas sim como forma de apontar possíveis soluções para o sucesso desta importante política pública para a nação que é a distribuição mais equitativa dos meios de produção do país.

Guilhoto et al. (2006) ressaltam que para avaliar com precisão a importância e a complexidade do segmento familiar, deve-se considerar, além da agropecuária propriamente dita, as atividades a montante (antes da fazenda) e a jusante (depois da fazenda). Essas atividades tendem a ser extremamente interdependentes do ponto de vista econômico, social e tecnológico. Portanto, as políticas econômicas e setoriais, de um lado, e as estratégias das entidades representativas dos setores envolvidos, de outro, tenderão a ser mais eficazes sempre que levarem em conta tais interdependências.

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Pensamos que a resolução dos problemas da agricultura familiar não se dá fora do contexto da produção; a reforma agrária não deve ser concebida apenas como uma política social de caráter assistencialista. Trabalhamos com a hipótese de que no Assentamento Alecrim as famílias que recebem há muito tempo recursos dos programas sociais e que têm priorizado a venda de sua mão de obra como assalariado, parecem não ter conquistado sua independência financeira e aparentemente seus lotes não se tornaram os mais produtivos.

Devemos ter em mente que a questão do desenvolvimento na Reforma Agrária está inserido no contexto de desenvolvimento de toda agricultura familiar, sua gênese extrapola os limites da nação, pois tem intima relação com forças externas que segundo as leis da política econômica dominante, privilegia determinados setores mais lucrativos em detrimento de outros, que são postos a margem do processo de desenvolvimento, neste caso a pequena produção, conforme observado por Mazoyer e Roudart (2010).

Segundo Freire (1983) cabe às entidades envolvidas no processo de desenvolvimento destes territórios, pesquisadores e extensionistas, com a colaboração das comunidades, identificar, a partir de em uma visão holística, os gargalos do processo de desenvolvimento local e a partir daí construir propostas de trabalho no sentido de desfazer estas amaras, de modo que o sujeito das ações sejam as famílias assentadas, envolvidas no processo de forma curiosa, com uma ação transformadora de sua realidade, pautada nas suas reais necessidades e objetivos e dentro de seus limites de ação, inventando e reinventando soluções a cada novo desafio, em que os colaboradores, partindo de uma visão clara da realidade, contribuam permitindo que os sujeitos se apropriem do conhecimento que junto deve ser construído.

2.4 PRODUÇÃO, REFORMA AGRÁRIA E DESENVOLVIMENTO

A luta pela terra no Brasil é uma reivindicação legítima do ponto de vista da justiça social; a história do desenvolvimento econômico do País e da ocupação de suas terras avaliza esta legitimidade, mas não se trata só de justiça social. Segundo Furtado (2004) o processo de desconcentração da terra por meio da reforma agrária é sem dúvida um dos melhores caminhos para um processo de desenvolvimento, porém deve ser entendido e realizado de forma que seu verdadeiro objetivo seja libertar os agricultores, transformando-os em atores dinâmicos no plano econômico.

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Se o homem abandonasse todos os ecossistemas cultivados do planeta, estes retornariam rapidamente a um estado de natureza próximo daquele no qual ele se encontrava há 10 mil anos. As plantas cultivadas e os animais domésticos seriam encobertos por uma vegetação e por uma fauna selvagem infinitamente mais poderosas que hoje. Os nove décimos da população humana pereceria, pois, neste jardim do Éden, a simples predação (caça, pesca e colheita) certamente não permitiria alimentar mais de meio milhão de homens. Se tal “desastre ecológico” acontecesse, a indústria – que não está a altura de sintetizar em grande escala a alimentação da humanidade e não o fará tão cedo – seria um recurso paupérrimo. Tanto para alimentar vinte milhões de homens como para alimentar cinco, não há outra via senão continuar a cultivar o planeta multiplicando as plantas e os animais domésticos, dominando a vegetação e a fauna selvagem (MAZOYER; ROUDART, 2010, p.41)

Os processos de desenvolvimento da humanidade só puderam ocorrer graças aos excedentes das produções agropecuários em diferentes localidades da antiguidade que possibilitaram liberação de mão de obra para formação de outros setores da sociedade e formação de novas classes sociais. A história das civilizações está intimamente ligada aos processos de produção do campo que garante todas as demais etapas. A capacidade produtiva destas sociedades dependia de vários fatores, sendo os mais importantes, segundo Veiga (2010), a combinação de dádivas da natureza com o trabalho humano que propiciaram o surgimento dos recursos iniciais da economia de qualquer comunidade.

É o trabalho humano que transforma os recursos importados da natureza, isolando, recombinando, transferindo, reciclando, etc. E isso envolve muita habilitação, informação e experiência - potencialidades humanas cultivadas - resultantes de investimentos feitos pelo público, por país, por empregadores, e pelas próprias pessoas (VEIGA, 2010, p.60).

Os centros de desenvolvimento da humanidade se deram de maneira mais rápida onde condições edafoclimáticas eram favoráveis e muito particulares, como por exemplo, nos vales que eram inundados, fertilizando e umedecendo o solo e contribuindo para diminuição de pragas e doenças, em áreas de grande fertilidade natural e clima favorável aos cultivos ou com grande capacidade para suporte de animais. Ou seja, onde os recursos naturais estavam prontamente disponíveis para o processo de produção.

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baixa expectativa de vida, pouca ou quase nenhuma participação nos processos sociais e em alguns casos chegam a não ter liberdade política e às vezes de escolha; as pessoas são privadas do acesso aos bens de consumo, devido à situação de pobreza em que vivem.

Para Furtado (2004), citado por Veiga (2010), o desenvolvimento se caracteriza por seu projeto social subjacente e dispor de recursos para investir está longe de ser condição suficiente para preparar o melhor futuro para a massa da população. Mas quando o projeto social preconiza como objetivo a melhoria das condições de vida da população, o crescimento econômico se metamorfoseia em desenvolvimento.

Longe das generalidades históricas mundiais, mas não menos importante, a agricultura familiar brasileira também tem dado sua cota de contribuição para soberania alimentar do País e servido de suporte para outros processos ligados ao desenvolvimento da nação. No entanto historicamente este processo de “desenvolvimento” nacional excluiu da participação de seus dividendos a população responsável pela produção em menor escala, assim como outros setores da sociedade.

(...) fez-se evidente que no Brasil não houve correspondência entre crescimento econômico e desenvolvimento. É mesmo corrente a afirmação de que o país seria um caso conspícuo de mau-desenvolvimento. Poucas regiões do Terceiro Mundo terão alcançado, nos anos 1950 e 1960, uma taxa de crescimento tão elevada e terão realizado um processo de industrialização tão intenso. A participação do investimento no produto interno brasileiro nesse período atingiu níveis raras vezes igualados, e traduziu um considerável esforço de acumulação, particularmente nos setores de transportes e energia. Porém, nesses anos e nos decênios seguintes, os salários reais da massa da população não refletiram o crescimento econômico. A taxa de subemprego invisível, isto é, de pessoas ganhando até um salário mínimo na ocupação principal, manteve-se surpreendentemente alta. E, mais grave, a grande maioria da população rural pouco ou nada se beneficiou desse crescimento (FURTADO, 2004, p. 483-484).

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família e para sociedade, fomentar a criação de mercados regionais e locais e contribuir para o desenvolvimento local, regional e nacional.

É preciso ponderar também que o desenvolvimento depende de condições preexistentes ou que serão objeto de investimento público e da construção de novos paradigmas pelas populações destes territórios e das instituições que atuam no processo. Algumas destas condições são relacionadas à oferta edafoclimáticas, políticas públicas, investimentos em infraestrutura, articulações institucionais em diferentes níveis, capacidades individuais e coletivas para realização de determinadas ações, conhecimento aplicáveis aos sistemas produtivos, capacidade de inovação, capacidade de implementação de processos produtivos sustentáveis que se adequem a oferta ambiental, etc. Um exemplo, segundo Veiga (2010), é o processo mais recente de povoamento por imigrantes europeus e japoneses que trouxeram em suas bagagens culturais os pressupostos milenares de evolução agrícolas, mercantis e industriais que só ocorreram em algumas zonas temperadas do planeta, o que demonstram a importância do capital humano no processo de desenvolvimento das comunidades.

O desenvolvimento não pode ser restringido ao conceito de crescimento econômico, mas sem crescimento econômico que gera os ativos para aplicação nos demais setores o desenvolvimento fica limitado. Como pensar em melhoria na qualidade da saúde da população sem capacitação, contratação de médicos e melhoria na infraestrutura de atendimento; como aumentar o grau de capacitação das populações e recuperar os passivos ambientais sem investimento? Sendo assim, é evidente a necessidade de crescimento econômico e, portanto, de produção para que ocorra o processo de desenvolvimento.

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capital humano e o capital social têm obtido participação majoritária no desempenho econômico-regional.

O desenvolvimento na reforma agrária está em construção. Assim como no crescimento econômico antes das descobertas da ciência e da tecnologia que impulsionaram sobremaneira o crescimento mundial, esse processo se dará por uma acumulação lenta dos ganhos de trabalho, conseguidos por meio de tentativas e erros. Este mesmo processo é que ajuda a formar um conjunto de conhecimentos que forma a identidade de uma comunidade. A reforma agrária precisa então de políticas favoráveis, investimentos e de tempo que irão permitir a evolução e acumulação deste estoques que irão resultar em maior potencial para o seu processo de desenvolvimento.

3 CARACTERIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DE PARANAÍBA (MS) E DO ASSENTAMENTO ALECRIM.

3.1 DIAGNÓSTICO DA MICRORREGIÃO DE PARANAÍBA

De acordo com o “Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável” (SEPLANCT, 2006), o município de Selvíria, onde se encontra o projeto de Assentamento Alecrim, está localizado na microrregião de Parnaíba que compreende os municípios de Selvíria, Paranaíba, Inocência e Aparecida do Taboado. A região possui características particulares pela proximidade com os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, os municípios que compõem a microrregião têm na sua identidade cultural aspectos particulares de comportamento e hábitos que são fortemente influenciados pela proximidade com os Estados vizinhos.

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de Estudos e Pesquisa e Projetos de Reforma Agrária na microrregião só ocorreram seis ocupações de terras entre os anos de 1984 e 2007, portanto registra uma baixa mobilização dos camponeses em luta pela terra. Os autores ainda destacam que a microrregião de Paranaíba apresenta grande volume de terras devolutas, possuindo um total de 471.434,75 ha, o que representa 25,5% do total de terras cadastradas pelo INCRA.

Segundo Oliveira (2008) quando se faz uma análise das terras improdutivas fica ainda mais evidente a problemática em torno da terra nesta região, pois segundo dados do INCRA de 2003, essa microrregião possuía uma área de 357.555,2 ha de terras improdutivas. Mesmo diante deste cenário na microrregião só foram implantados quatro assentamentos com uma área de 12.804,2 ha que comportam 555 famílias (Tabela 2)

Tabela 2 - Assentamentos implantados na Microrregião de Paranaíba (MS). Município/Nome do Assentamento Área do Assentamento

Ha

No de famílias Assentadas Selvíria

PA Alecrim 1.530,0594 83

PA Canoas 4.773,9072 183

PA São Joaquim 3.514,2563 177

Paranaíba

PA Serra 2.986,0267 112

Total 12.804,2496 555

Fonte: Adaptado de MDA/INCRA/2012 (Anexo 4).

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intercalada por pequenas plantas lenhosas até arbóreas e em geral serpenteadas por floresta-de-galeria e Floresta Estacional Semidecidual recobrindo os terrenos mais elevados e de litológicas mais antigas. A fauna da região ainda é bastante rica, apesar da grande antropização, podendo ser encontrada grandes variedades de espécies de animais característicos dos cerrados.

A região é marcada pela presença de dois grandes lagos artificiais decorrentes do represamento do Rio Paraná para construção das Usinas do Complexo de Urubupungá, mais especificamente as Usinas de Ilha Solteira e Usina Souza Dias (Jupiá) que alteraram significativamente as condições naturais dos recursos hídricos da região. No município de Selvíria existem quatro principais microbacias que drenam a área do município: Rio Pântano, Córrego Dois Córregos, Córrego São Mateus e Bebedouro. A microbacia do Rio Pântano contribui para o lago de Ilha Solteira e as demais para o lago de Jupiá. A rede de drenagem ainda é composta por uma dezena de pequenos córregos e nascentes que acabam por formar a malha hídrica do município. Todos os cursos d´água do município apresentam algum grau de degradação, entre as principais alterações podemos citar o assoreamento destes recursos, devido à falta de práticas de manejo e conservação do solo em suas margens e principalmente a falta de mata ciliar, proteção natural para amenizar este processo. A região tem um longo histórico de pecuária de corte produzida de forma extensiva, em que os produtores, até o tempo atual (2013), não têm se empenhado em adotar técnicas que melhorem, de forma significativa, os índices produtivos de sua atividade (P.D.A., 2009).

Este sistema se caracteriza pela exploração de grandes áreas de terra com pastagens mal implantadas, quase sem manejo e com um número reduzido de animais por hectare. Segundo Dias (2005) o tipo de degradação que ocorre nestas áreas pode ser denominado de “degradação biológica”. Este tipo de degradação predomina nas regiões de solo sob cerrado e a degradação se caracteriza pela diminuição da biomassa vegetal da área, provocada pela degradação do solo, que devido a fatores químicos, físicos ou biológicos perde a capacidade de sustentar a produção vegetal.

Na região não se encontram grandes áreas de agricultura, predominando a pecuária extensiva, sendo que nos últimos anos iniciou-se a produção de cana-de-açúcar e mais recentemente, por conta da construção das fábricas de celulose da FIBRIA e Eldorado Brasil

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3.1.1 SISTEMA PRODUTIVO E LIGAÇÃO COM O MERCADO

Segundo informações do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Bolsão (200_) a Região do Bolsão tem como característica uma grande concentração de áreas de produção de pecuária de corte. Não se encontram na região grandes áreas com cultivo de grãos; porém recentemente houve um aumento não muito significativo de atividades ligadas a industrialização, como indústria oleiro-cerâmica, a indústria de derivados de leite, a têxtil, a frigorífica, e a indústria de produtos e subprodutos oriundos da silvicultura. A região guarda ainda uma forte relação comercial com o Estado de São Paulo, intensificada na década de 1970 com a construção da BR-267, ligando Mato Grosso do Sul e São Paulo. Somente em 1990, com a inauguração da BR-262, que percorre o trecho de Três Lagoas a Corumbá, passando pela capital do Estado (Campo Grande), que a região começa a se integrar com as demais regiões do Estado do Mato Grosso do Sul.

Apesar dessa recente interligação rodoviária pela BR-262 com as demais Regiões do Estado (antes só havia a ferrovia Noroeste do Brasil), os municípios da microrregião continuam polarizados, principalmente pelo Estado de São Paulo: o gado de corte produzido na região é praticamente todo comercializado com o Estado de São Paulo da mesma forma que grande parte da produção de leite e de seus derivados, a produção de óleo de soja e de seus subprodutos, enquanto a produção de carne de frango, geralmente é enviada para Goiás, São Paulo e outros Estados; por outro lado, a Região importa, basicamente de São Paulo, as máquinas, equipamentos, peças, remédios, produtos veterinários, adubos, herbicidas e outros produtos industriais de que necessita (P.D.A., 2009).

Nas décadas mais recentes a região vem recebendo vários investimentos que possibilitaram uma maior dinamização da economia e integração da área à economia do Estado e do Centro-Sul do País. Dentre esses programas e obras, destacam-se os seguintes: Gasoduto Bolívia-Brasil; Ferronorte; Hidrovia Tietê-Paraná; UHE de Porto Primavera e duplicação da SP-300, que liga Três Lagoas na malha rodoviária duplicada do Estado de São Paulo (P.D.A., 2009).

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asfaltada, no trecho entre Selvíria e Três Lagoas liga o Rio Grande do Sul a Altamira no Pará, passando por diversos Estados.

A Região conta ainda com a ferrovia Ferronorte que cruza parte do Estado, ligando as cidades de Aparecida do Taboado a Chapadão do Sul, importante produtor de grãos na região.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO ALECRIM

O projeto de Assentamento Alecrim recebeu o mesmo nome da Fazenda de origem, cuja área foi desapropriada no ano de 2005, pela portaria nº 31 de 07/12/06 e na data de 29/11/2006 foi dada a imissão na posse. O Assentamento está localizado no município de Selvíria a cerca de 440 km de Campo Grande, capital do Estado, e a 45 km da sede do município (Tabela 3) que faz divisa com os municípios de Inocência, Aparecida do Taboado, Três Lagoas (Figura 3).

Tabela 3 - Distância das sedes municipais ao Assentamento Alecrim.

Município Distância (km)

Selvíria 45

Inocência 40

Aparecida do Taboado 140

Três Lagoas 140

Paranaíba 190

Campo Grande 440

Fonte: P.D.A., 2009.

Figura 3 - Localização do Projeto de Assentamento no município de Selvíria-MS

Inocência-MS

P.A. Alecrim Aparecida do Taboado-MS

Selvíria-MS

Três Lagoas-MS

Referências

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