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Aspectos positivos e negativos da esterilização tubária do ponto de vista de mulheres esterilizadas.

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Academic year: 2017

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Aspectos positivos e negativos

da esterilização tubária do ponto de vista

de mulheres esterilizadas

Po sitive and ne g ative asp e cts o f Fallo p ian tub e

ste rilizatio n as vie we d b y ste rilize d wo me n

1 Dep artam en to d e Ciên cias Socia is, Progra m a d e Pós- Gra d u a çã o em Sociologia Polít ica , Un iv ersid a d e Fed era l d e Sa n t a Ca t a rin a . Ca m p u s Un iv ersit á rio Trin d a d e, C. P. 476, Floria n óp olis, SC 88040- 900, Bra sil.

Lu z in et e Sim ões M in ella 1

Abst ract Th e ob ject iv e of t h is p a p er is t o p oin t ou t t h e p osit iv e a n d n ega t iv e a sp ect s of fem a le st eriliz a t ion a s seen by t w o grou p s of st eriliz ed w om en in Floria n óp olis, Sa n t a Ca t a rin a , Bra z il, ba sed on a sociologica l d iscu ssion of t h eir p resen t h ea lt h st a t u s, eva lu a t in g t h e a ssocia t ion s t h a t t h ey gen era lly m a k e w it h t h e fa ct t h a t t h ey h a v e b een st eriliz ed . Th e first grou p in clu d ed m ost ly h ou sew iv es from a low - in com e n eigh b orh ood , w h ile t h e secon d in v olv ed u p p er- m id d le- cla ss fem a le p u b lic efem p loyees, st u d en t s, a n d u n iv ersit y p rofessors, t ot a lin g 40 w ofem en . D a t a w ere ob -t a in ed -t h rou gh a s-t ru c-t u red q u es-t ion n a ire w i-t h op en - en d ed q u es-t ion s. In form a -t ion on socia l, econ om ic, a n d d em ogra p h ic v a ria b les w a s record ed , a lon g w it h su b ject iv e d a t a a ssocia t ed w it h w om en’s rep resen t a t ion s of t h e p ost st eriliz a t ion p eriod . We con clu d ed t h a t t h ere w a s n o con sen -su s a s t o t h e con seq u en ces of st eriliz a t ion , sin ce a n u m b er of t h e w om en (11/40), m ost ly st eril-iz ed before t h e a ge of 30, p erceived ch a n ges in t h eir h ea lt h st a t u s a ft er su rgery.

Key words Tu ba l St eriliz a t ion ; Wom en’s Hea lt h ; Con t ra cep t ion ; Socia l Rep resen t a t ion

Resumo O ob jet iv o d est e a rt igo con sist e em t ra t a r os a sp ect os p osit iv os e n ega t iv os d a est erili-z a çã o fem in in a , d e a cord o com o p on t o d e v ist a d e d ois gru p os d e m u lh eres est erilierili-z a d a s em Flo-ria n óp olis, Sa n t a Ca t a rin a , Bra sil, a p a rt ir d e u m a d iscu ssã o sociológica sob re o seu est a d o d e sa ú d e a t u a l, a v a lia n d o-se a s rela ções qu e cost u m a m fa z er en t re est e est a d o e a con d içã o d e est e-riliz a d a . O p rim eiro gru p o est á con st it u íd o p or m u lh eres p rov en ien t es d e u m b a irro d e b a ix a ren d a , p red om in a n t em en t e d on a s d e ca sa , e o segu n d o gru p o in clu i fu n cion á ria s p ú blica s, est u -d a n t es e p rofessora s u n iv ersit á ria s, p rov en ien t es -d os set ores m é-d ios -d a socie-d a -d e, t ot a liz a n -d o q u a ren t a m u lh eres. A m et od ologia d a p esq u isa b a seou - se em u m q u est ion á rio est ru t u ra d o com p ergu n t a s a b ert a s d e m od o a regist ra r t a n t o a sp ect os liga d os a v a riá v eis sócio- econ ôm ica s e d e-m ográ fica s, qu a n t o d a d os su bjet ivos liga d os à s rep resen t a ções d a s e-m u lh eres sobre o p eríod o p ós-est eriliz a çã o. Além d e u m a série d e ou t ros a sp ect os, t orn ou - se p ossív el con clu ir q u e n ã o ex ist e con sen so sob re a s con seq ü ên cia s d a est eriliz a çã o, t en d o- se con st a t a d o a ex ist ên cia d e u m a p ro-p orçã o sign ifica t iv a d e m u lh eres est eriliz a d a s (11) ro-p rin ciro-p a lm en t e a n t es d os 30 a n os q u e ro-p erce-bem a lt era ções d e sa ú d e a p ós a la qu ea d u ra .

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Introdução

O ob jetivo d esta p esqu isa con siste em an alisar so cio lo gica m en te a s rep resen ta çõ es d a s m u -lh eres esterilizad as acerca d esta con d ição, ve-rifican d o-se, d e acord o com seu p on to d e vista, tan to os asp ectos p ositivos, qu an to os asp ectos n ega tivos d o p eríod o p ós-esteriliza çã o. Neste sen tid o, en ten d e-se q u e ta is rep resen ta çõ es sã o co n stru íd a s a p a rtir d a rela çã o q u e a m u -lh er p erceb e en tre a realização d a esterilização a t ra vé s d a liga çã o d e t ro m p a s e o se u e st a d o d e saú d e atu al.

Tal en ten dim en to se baseia n a teoria das re-p resen tações sociais, q u e ao cen trar a aten ção n as relações en tre su jeito e ob jeto d o con h eci-m en to (ren u n cia n d o à s id éia s d e u eci-m “su jeito puro” e de um “objeto puro”), “recu pera u m su jei-to qu e, através d e su a ativid ad e e relação com o objeto-m u n do, con strói tan to o m u n do com o a si p róp rio”(Jovch elovitch & Gu aresch i, 1994:19).

Por isto m esm o, tais rep resen tações fu n cio-n a m co m o estru tu ra s sim b ó lica s q u e cio-n a scem tan to d o p róp rio in d ivíd u o qu an to d os in ú m e-ro s co n d icio n a n tes so cia is e cu ltu ra is q u e o cerca m , co n fo rm a n d o u m d in â m ico e co n tí-n u o p ro cesso o tí-n d e ta tí-n to o ití-n d ivíd u o é rep sen ta d o p elo s d em a is, q u a n to se a u to -rep re-sen ta e con strói su a s p róp ria s rep rere-sen ta ções sob re os d em ais (Farr, 1994).

Rea liza d a em Flo ria n ó p o lis, Sa n ta Ca ta ri-n a , esta p esq u isa ri-n a sceu d a co ri-n sta ta çã o d a existên cia d e p on tos d e vista d iferen tes sob re as con seq ü ên cias orgân icas, sociais e em ocio-n a is d a esteriliza çã o fem iocio-n iocio-n a . Mo tiva d a p o r esta con statação, a reflexão sociológica ad ota-d a n este a rtigo b a seia -se n a s segu in tes con si-d erações p relim in ares:

1) De m o d o gera l, a litera tu ra so b re p o p u la -ção e con tracep -ção tem sid o u n ân im e em d es-tacar o con sid erável avan ço d a p rática d a este-rilização fem in in a n as ú ltim as d écad as n o p aís, a va n ço este q u e coin cid e com u m a ten d ên cia geral, ob servável p rin cip alm en te en tre os p aí-ses em d esen volvim en to.

Esta litera tu ra tem sid o u n â n im e ta m b ém em in d ica r q u e este a va n ço é u m d o s resp o n -sáveis, d en tre ou tros fatores (o acelerad o p ro-cesso d e u rb an ização, a exp an são d as relações cap italistas d e p rod u ção e as m u d an ças cu ltu -rais qu e in terferem n a regu lação d a fertilid ad e) p ela d rástica qu ed a d a fecu n d id ad e d a p op u la-ção b rasileira, ob servável a p artir d a d écad a d e 70 (Sim õ es & Oliveira , 1988; Co sta & Pin to, 1989; Martin e, 1989; IBGE, 1994; CN, 1993; Car-valh o, 1994; Berqu ó, 1994).

2) De m o d o gera l sa b e-se q u e este d eclín io tem se m a n tid o a celera d o, p o is em 1991, d e

acord o com o IBGE, tem se u m a taxa d e fecu n -d i-d a-d e total n o p aís equ ivalen te a 2,4 filh os p or m u lh er, sen d o q u e a Regiã o Su l vem a p resen -tan d o d esd e 1940, os ín d ices m éd ios m ais b aixos d e fecu n d id ad e, con strastan d o visivelm en -te com o Nor-te e o Nord es-te d o p aís, p rin cip al-m en te. Assial-m p or exeal-m p lo, a ta xa d e fecu n d i-d ai-d e i-d a Região Su l, en tre a i-d écai-d a i-d e 70 e a i-d é-cad a d e 80 d eclin ou 35,0%, (o m aior p ercen tu al d o p a ís), sen d o q u e em ter m o s glo b a is, en tre 1980 e 1991, o n ível d e fecu n d id ad e d a m u lh er b rasileira ap resen tou u m d eclín io eq u ivalen te a 33,0%.

No ca so esp ecífico d e Floria n óp olis, con s-ta s-ta va -se em 1986 q u e a s-ta xa d e fecu n d id a d e eq u iva lia a 3,5 filh o s p o r m u lh er e 27,0% d a s m ulheres casadas, em idade rep rodutiva e u su á-rias d e con tracep tivos já se en con travam este-rilizad as. Em b ora in existam ain d a d ad os m ais atu ais acerca d estes asp ectos, m u ito p rovavel-m en te, ten d o-se erovavel-m vista as ten d ên cias n acio-n a is, h o u ve m o d ifica çõ es acio-n este p a d rã o, esti-m a n d o -se ta n to u esti-m a u esti-m en to d o n ú esti-m ero d e m u lh eres esterilizad as, q u an to u m a b aixa ain -d a m ais sign ificativa -d a taxa -d e fecu n -d i-d a-d e. 3) A co m p lexid a d e e a riq u eza d o tem a refletese n a existên cia d e várias ten d ên cias d e in -terp retação q u e se in serem p rin cip alm en te n o âm b ito d as d iscu ssões em torn o aos segu in tes tem as p rin cip ais: d efin ição d e p olíticas d e saú -d e -d a m u lh er; a n á lise crítica -d a s p rá tica s -d e saú d e n a área d a con tracep ção; an álise d as re-lações en tre esterilização fem in in a e q u estões d e gên ero, sexu a lid a d e e cu ltu ra ; d en ú n cia s d as estratégias in form ais d e con trole d a n atali-d aatali-d e; an álise atali-d as p olíticas atali-d e p op u lação; e, p or ú ltim o, an álises d as ciên cias m éd icas sob re as va n ta gen s e a s d esva n ta gen s d a esteriliza çã o fem in in a.

Os avan ços realizad os p or estas ten d ên cias con stitu em o p a n o d e fu n d o p a ra a s reflexões d o p resen te estu d o, cu ja p ecu liarid ad e con sis-te em an alisar sociologicam en sis-te as rep resen ta-çõ es d a s m u lh eres esteriliza d a s a cerca d o p eríod o p ósesterilização, sen d o m ais d iretam en te in flu en ciad o p ela segu n d a e terceira ten d ên -cias, em b ora in corp ore m u itas d as con q u istas realizad as p elas d em ais.

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o-p u lação fem in in a sob re estes aso-p ectos, faz o-p ar-te d e u m a lu ta m ais am p la p elos d ireitos rep ro-d u tivos ro-d a m u lh er; segu n ro-d o, esp era-se a p artir d aí p od er con trib u ir p ara a form u lação d e p o-líticas p ú b licas n a área d a con tracep ção, atra-vés d e u m a an álise qu e, ab ord an d o a d im en são su b jetiva d o p rob lem a, p ossa su b sid iar as ten -tativas atu ais d e legalização d a esterilização n o p a ís, a fim d e q u e seja m evita d o s o s a b u so s (a m p la m en te d ivu lga d o s) q u e vêm sen d o co-m etid os.

A rea liza çã o d este estu d o se ju stifica p o is, em razão d e d ois fatores: o avan ço in d iscrim i-n ad o d a esterilização fem ii-n ii-n a i-n o p aís e a falta d e assistên cia e orien tação m éd ica n a área d a con tracep ção, en ten d en d o-se qu e a som a d estes fatores tem con d u zid o as m u lh eres a viven -ciarem com m ais freqü ên cia n ovos tip os d e ris-co em relação à su a saú d e, risris-cos qu e resu ltam d as p ráticas con tracep tivas.

Sujeit os e mét odos

Tra ta -se d e u m estu d o q u a lita tivo b a sea d o n a en trevista in d ivid u al d e 40 m u lh eres esterilizad as. Deviesterilizad o à n ecessiesterilizad aesterilizad e esterilizad e estab elecer com -p a ra ções en tre m u lh eres oriu n d a s d e estra tos sociais d istin tos, a fim d e p od er m atizar os re-su ltad os, d ois gru p os con stitu íram o u n iverso d a p esq u isa: u m gru p o d e m u lh eres esteriliza-d a s p roven ien te esteriliza-d e u m b a irro esteriliza-d e b a ixa ren esteriliza-d a , p red om in an tem en te d on asd ecasa e u m gru p o d e m u lh eres p roven ien te d o s seto res m é -d io s, vin cu la -d o à estru tu ra -d e serviço s p ú b licos d a cid ad e, con stitu íd o p red om in an tem en -te p or p rofessoras u n iversitárias e fu n cion árias p ú b licas.

O b a irro d a Co steira d o Pira ju b a é, d en sa m en te p ovo a d o e lo ca liza d o n o Su l d e Flo ria n óp olis, foi escolh id o p ara a realização d as en -trevista s d o p rim eiro gru p o (a p a rtir d e a go ra id en tifica d o co m o Gru p o I); a s en trevista s d o segu n d o gru p o (a p a rtir d e a gora id en tifica d o com o Gru p o II) foram realizad as n o âm b ito d a Un iversid a d e Fed era l d e Sa n ta Ca ta rin a , n o Cam p u s Un iversitário d a Trin d ad e.

Pa ra a co le ta d e d a d o s e la b o ro u -se u m q u estion ário estru tu rad o com p ergu n tas ab er-tas d e m od o a registrar tan to asp ectos ligad os a va riá ve is só cio -e co n ô m ica s e d e m o grá fica s, q u a n to a sp ecto s liga d o s à p ercep çã o d a s m u -lh eres. No Gru p o I foram feitas 22 en trevistas, en q u a n to q u e n o Gru p o II rea liza ra m -se 18, p erfazen d o p ois u m total d e 40 en trevistas.

In icialm en te h avia-se con sid erad o a p ossi-b ilid a d e d e rea liza r a s en trevista s d o Gru p o I n o Cen tro d e Saú d e d o b airro, o qu al, d en tre os

54 p ostos m u n icip ais d a Gran d e Florian óp olis, é resp on sável p elo aten d im en to d o m aior n ú -m e ro d e p e sso a s, co n ta n d o p o r isto -m e s-m o, com u m a equ ip e n u m erosa e d iversificad a, ca-p az d e ca-p restar aten d im en to a 3.000 m u lh eres, co n fo rm e d em o n stra m o s p ro n tu á rio s a rq u i-vad os.

Além d o m a is p reten d ia -se to m a r co m o p o n to d e p a rtid a u m a p esq u isa já rea liza d a com 64 m u lh eres q u e freq ü en tam este Cen tro sob re as m od ificações n os p ad rões d e con tra-cep ção ap ós a im p lan tação d o PAISM em 1990. Os resu lta d os d esta p esq u isa in d ica m q u e em 1989 a esteriliza çã o o cu p a va o terceiro lu ga r en tre os m étod os con tracep tivos, ten d o p assa-d o ao segu n assa-d o lu gar em 1992, n u m a p rop orção eq u iva len te a 12,5% d a s u su á ria s. Os resu lta -d o s in -d ica m a in -d a q u e em 50% -d a s -d ecisõ es a tu a is so b re a u tiliza çã o d o s co n tra cep tivo s, tem h avid o in flu ên cia d os p rofission ais d e saú -d e (Gazola & Boeira, 1992). Deixa-se -d e avaliar, n o en ta n to, em q u e m ed id a existe co erên cia en tre a s p ro p o sta s p ro gra m á tica s d o PAISM (q u e in clu em d isp on ib ilid ad e d e m étod os, in -form ações sob re o seu u so e acom p an h am en to clín ico -gin eco ló gico ) e a s p rá tica s q u e se d e-sen volveram ap ós su a im p lan tação.

Ma s, a id éia in icia l d e rea liza çã o d e u m a p esq u isa n este Cen tro, ca p a z d e co m p lem en -ta r estes resu l-ta d o s a tra vés d a fo rm u la çã o d e n ovos p rob lem as vin cu lad os m ais estreitam en -te à co n d içã o d a s es-teriliza d a s, -teve d e ser a b a n d o n a d a em fu n çã o d e d o is fa to res: p ri-m eiro, a b a ixíssiri-m a freq ü ên cia d a s ri-m u lh eres esteriliza d a s d o b a irro à s co n su lta s, co n d u ta q u e leva a crer q u e d e fato, tratan d o-se d os se-to res p o p u la res, a p ro cu ra p elo s a gen tes d e sa ú d e está co n d icio n a d a à existên cia d e p ro -b lem as graves; segu n d o, as freq ü en tes e às vezes p rolon gad as greves n o setor d e saú d e m u -n icip al, d u ra-n te o p eríod o d a p esq u isa, term i-n a ra m p o r ii-n via b iliza r d e fa to a u tiliza çã o d o Posto com o local p rivilegiad o d e con tato com as m u lh eres. Con statad as estas d ificu ld ad es as en trevista s fo ra m rea liza d a s n a s resid ên cia s d as m u lh eres, ten d o-se localizad o as esteriliza-d as através esteriliza-d e con tatos esteriliza-d iretos com as fam ílias d o b airro e ain d a in d iretam en te através d e in -fo rm a çõ e s d a s e n t re vist a d a s a ce rca d a s su a s vizin h as.

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atu alm en te estim ad o em 9.481 m u lh eres (7.048 estu d an tes, 1.756 servid oras e 677 p rofessoras), o to ta l d e en trevista s fico u a b a ixo d e vin te e d o is d evid o a o b a ixo n ú m ero d e esteriliza d a s en tre as estu d an tes, em geral solteiras e m u ito joven s, e ain d a d evid o à resistên cia m an ifesta-d a p or algu m as serviifesta-d oras e p rofessoras qu e se esq u iva ra m d a s en trevista s p o r co n sid era r a qu estão “m u ito p essoal”. O levan tam en to reali-zou -se em cin co cu rsos, Ciên cia s Socia is, Psi-co lo gia , Ser viço So cia l, Nu triçã o e Histó ria , ten d o in clu íd o p rofessoras u n iversitárias, fu n -cion árias p ú b licas e estu d an tes.

A p ro p o sta o rigin a l d esta p esq u isa p revia ain d a a en trevista d os p arceiros d as m u lh eres in vestiga d a s, d e m o d o a recu p era r o s d ep o i-m en tos d o casal acerca d a esterilização, esp e-cialm en te n os casos em qu e as m u lh eres ad m i-tissem p rob lem as d e saú d e ap ós a ciru rgia. No en tan to, as m u lh eres d os d ois gru p os trataram d e “p ou p ar” seu s com p an h eiros, alegan d o qu e eles “n ão p recisavam ser en trevistad os”, o q u e leva a crer, d en tre o u tra s co isa s, q u e a lém d a m u lh er n a m aior p arte d as vezes assu m ir sozi-n h a a s d ecisõ es so b re a co sozi-n tra cep çã o, evita a in d a in co m o d a r o p a rceiro co m d iscu ssõ es so b re o a ssu n to, p rin cip a lm en te q u a n d o ta is d iscu ssõ es en vo lvem a p resen ça d e terceiro s, estran h os à in tim id ad e d o casal.

Result ados e discussão

A a n á lise d o s d a d o s q u e p erm item a co n stru -çã o d o p erfil d a s m u lh eres in vestiga d a s n o s d ois Gru p os, realizou -se d e m od o a recu p erar em p rim eiro lu gar as in form ações ob jetivas re-lativas à ocu p ação, id ad e, ren d a, n ível d e esco-la rid a d e, n ú m ero d e filh o s, id a d e q u e tin h a q u an d o foi esterilizad a, tip o d e esterilização, e m otivos d a esterilização. Em segu n d o lu gar, fo-ram resgatad os os d ep oim en tos qu e avaliam as con seqü ên cias orgân icas, sociais e em ocion ais d a esterilização con form e a p ercep ção d as es-terilizad as.

Con sid eran d o-se in icialm en te a ocu p ação, verificou -se qu e o p erfil ocu p acion al d as en tre-vistad as e d os seu s p arceiros, coin cid ia com o p erfil d a cid ad e, d esd e qu an d o em Florian óp o-lis os serviços se en con tram en tre as ativid ad es econ ôm icas qu e m ais se d estacam . No caso d o Gru p o I p reva lecera m n itid a m en te a s d o n a s-d e-casa (16), verifican s-d o-se em segu n s-d o lu gar as ativid ad es técn icas(03), em terceiro as ativid a ativid es co m ercia is (02) e p o r ú ltim o, u m a fu n -cio n á ria p ú b lica . No Gru p o II p red o m in a ra m as p rofessoras u n iversitárias (06), segu id as p e-las fu n cion árias p ú b licas (05), 04 q u e con

cilia-vam o estu d o em cu rsos d e n ível su p erior com as ativid ad es d om ésticas, d u as q u e estu d avam e tra b a lh a va m fo ra d e ca sa e u m a q u e a p en a s estu d ava.

Tod as as m u lh eres en trevistad as são b ran -ca s, m o ra va m em -ca sa p ró p ria e su a s id a d es va ria va m en tre u m m ín im o d e 25 e u m m á xi-m o d e 53 an os, sen d o qu e exi-m axi-m b os os Gru p os p red om in ou a faixa etária com p reen d id a en tre 40 e 44 a n o s (06 n o Gru p o I e 07 n o Gru p o II), segu id a p ela fa ixa etá ria en tre 35 e 39 a n o s, corresp on d en d o a 05 m u lh eres d o Gru p o I e 04 d o Gru p o II.

Qu an to ao estad o civil, n o Gru p o I, 21 eram ca sa d a s e 01 sep a ra d a , en q u a n to n o Gru p o II, 14 eram casad as, 02 am asiad as e 02 sep arad as. O n ú m ero d e filh os variou en tre o m ín im o d e 01 (em 02 casos) e o m áxim o d e 08 (em d ois casos, d e d on as-d e-casa). Em b ora ten h a-se ob-ser va d o m a io r p a rid a d e n o Gru p o I, (p o is 08 m u lh eres têm a p a rtir d e q u a tro filh o s, en -q u a n to n o Ca m p u s, a p en a s três se in clu em n este ca so), a m a ior p a rte d a s m u lh eres tin h a três filh os, sen d o q u e n o Gru p o II ap resen tou -se u m eq u ilíb rio en tre a s q u e têm d o is filh o s (07) e as qu e têm três (07).

O n ível d e escolarid ad e oscilou en tre o p rim eiro grau in corim p leto e a p ósgrad u ação, ob -servável em cin co casos. Perceb eu -se u m a n ítid a ítid iferen ça en tre os ítid ois gru p os, p ois n o Gru -p o I, o n ível -p re-p o n d era n te eq u iva lia a o -p rim eiro grau in corim p leto (15) en q u an to n o Gru -p o II , -p revalecia o n ível su -p erior (11).

Qu an to à religião p revaleceu n os d ois gru -p o s o ca to licism o (32), ten d o -se en co n tra d o u m a esp írita e d u a s eva n gélica s n o Gru p o I e cin co (q u e se d istrib u em en tre os d ois gru p os) qu e ad m itiam “n ão ter religião”.

Torn ou -se d ifícil p recisar os d ad os sob re o ren d im en to m en sa l d o gru p o fa m ilia r p o rq u e algu m as en trevistad as n ão in form aram sob re o ren d im en to d o côn ju ge. No en tan to foi p ossí-vel verifica r q u e a m a io ria d a s m u lh eres d o Gru p o I (18) situ a va -se n a fa ixa en tre 03 a 05 sa lá rio s m ín im o s. O lim ite m ín im o, p resen te em 03 casos n esse Gru p o ch egou até 01 salário m ín im o. Estes b a ixo s ín d ices co n ferem ta n to co m a rea lid a d e d o Esta d o d e Sa n ta Ca ta rin a q u a n to co m a d e Flo ria n ó p o lis o n d e 52,6% e 31,0% d a s fa m ília s, resp ectiva m en te, tin h a m u m a ren d a m en sal eq u ivalen te a até d ois salá-rios m ín im os em 1991 (IBGE, 1994).

No Gru p o II co n cen tra ra m -se o s m a io res ren d im en tos m en sais, atin gid o p elas p rofesso-ras u n iversitárias e em geral, su p erior a sete sa-lários m ín im os.

(5)

verificad o as segu in tes ocu p ações: m arcen eiro, m ecâ n ico, m estre-d e-o b ra s, m o to rista , etc. além d e com ercian tes; en q u an to isto, n o Gru -p o II -p red om in ou o setor form al, ob servan d o-se a existên cia d e d en tista s, en gen h eiros, téc-n icos, p rofessores u téc-n iversitários e fu téc-n ciotéc-n ários p ú b licos.

O n ível d e escolarid ad e d os com p an h eiros a co m p a n h o u , em term o s gera is o d a s m u lh e-res. Assim , en qu an to n o Gru p o I, treze h om en s tin h a m a p en a s o p rim eiro gra u in co m p leto, sen d o o n ível m ais alto, p resen te em três casos, o segu n d o grau com p leto; n o caso d o Gru p o II, p red om in ou o n ível su p erior (06), o grau m áxi-m o esteve rep resen ta d o p elo Do u to ra d o, e o m ín im o p elo segu n d o grau com p leto.

Os d a d o s so b re o tip o d e esteriliza çã o, em term os gerais, d em on straram qu e p red om in ou a lap arotom ia am p la (feita d u ran te cesarian a), totalizan d o 30 m u lh eres, in d ep en d en tem en te d e id a d e, o cu p a çã o e n ível d e esco la rid a d e. Ap en as 04 realizaram lap aroscop ia (esteriliza-çã o feita com en d oscóp io a tra vés d a b a rriga ), 04 rea liza ra m m in ila p a ro to m ia p eriu m b ilica l (esterilização realizad a através d e p eq u en a in cisã o a b a ixo d o u m b igo rea liza d a im ed ia ta -m en te ap ós o p arto) e 02 realizarm -m in ilap a-rotom ia (ciru rgia realizad a através d e p equ en a in cisã o a cim a d o o sso p ú b ico ), in d ep en d en te d o p arto.

O a lto ín d ice rep resen ta d o p ela la p a ro to -m ia a-m p la realizad a d u ran te cesarian a, con fir-m a u fir-m a ten d ên cia n a cio n a l, co n sta ta d a efir-m ou tros estu d os. Osis et al. (1990), p or exem p lo, en con tram em estu d o realizad o em São Pau lo, q u e a m aioria d as m u lh eres (72,0%) foram es-teriliza d a s d u ra n te cesa ria n a . An teriorm en te, Costa et al. (1989), ao an alisarem a situ ação d as esterilizad as em favelas situ ad as n a região m etro p o lita n a d o Rio d e Ja n eiro, h a via m en co n -tra d o u m a ta xa eq u iva len te a 63,0%. O IBGE p or su a vez, com b ase em d ad os levan tad os em 1986, afirm ava q u e o p ercen tu al d e esteriliza -ções realizad as d u ran te o ú ltim o p arto ch egava a 75,1% n o p aís, e a 69,6% em San ta Catarin a.

Qu an to ao local d a ciru rgia, p revaleceu n itid am en te em am b os os Gru p os, o h osp ital p ú -b lico, coin cid in d o ain d a com a an álise d e Cos-ta et a l. (1989), q u e co n sCos-ta to u em Sã o Pa u lo, u m ín d ice eq u iva len te a 73,0%. Assim , o b ser-va -se q u e vin te m u lh eres d o Gru p o I e 10 d o Gru p o II fora m esteriliza d a s em h osp ita is p ú -b lico s, en q u a n to d u a s d o Gru p o I e d u a s d o Gru p o II fo ra m esteriliza d a s em clín ica p a rti-cu la r e a in d a 06 d este Gru p o fo ra m o p era d a s em h osp itais p articu lares.

A m aior p arte d as m u lh eres (14) foi esterili-zad a en tre os 30 e os 34 an os, on ze ap ós os 35,

en q u an to as d em ais fizeram a ciru rgia q u an d o eram d em asiad am en te joven s: n ove en tre 25 e 29 an os e seis en tre 20 e 24. Estes d ad os con fir-m afir-m qu e a ten d ên cia a esterilizar fir-m u lh eres jo-ven s vem se m a n ifesta n d o n o p a ís co m o u m tod o d e m od o assu stad or. Os d ad os d ivu lgad os p elo IBGE em 1986, sob re o p aís e sob re San ta Catarin a, já d em on stravam qu e 15,5% d as b ra-sileiras e 5,1% d as catarin en ses esterilizad as ti-n h a m rea liza d o a ciru rgia eti-n tre 15 e 24 a ti-n o s; 32,0% d as b rasileiras e 25,4% d as catarin en ses en tre 25 e 29 an os.

Den tre o s m o tivo s d a esteriliza çã o d esta -co u -se cla ra m en te o “n ã o q u erer m a is ter fi-lh os” (34), u m a m u fi-lh er ad m itiu a m esm a coisa e com en tou qu e além d isso “o m arid o n ão qu is fazer vasectom ia”, en q u an to cin co d eclararam q u e d o is fa to res p esa ra m igu a lm en te: “n ã o qu erer m ais ter filh os” e “p rob lem as d e saú d e”: p re ssã o a lta , co le ste ro l, p ro b le m a s n e rvo so s, p rob lem as d e ú tero e ou tras m oléstias atrib u í-d as ao u so p rolon gaí-d o í-d a p ílu la. No Gru p o II, d e m o d o gera l, a n ecessid a d e d e evita r o a u -m en to d a fa-m ília foi relacion ad a a fortes razões m ateriais, ligad as à sob revivên cia d o gru p o fa-m iliar.

A p ílu la , a liá s, p reva leceu co m o m éto d o con tracep tivo m ais u tilizad o an tes, p ois cator-ze d a s m u lh eres exp erim en ta ra m a p en a s este m étod o, en q u an to on ze altern aram a p ílu la, a tab ela e a cam isin h a, in d ep en d en te d e n ível d e in stru ção, idade e ou tras variáveis. Ap en as u m a p rofessora u n iversitária ad m itiu ter u tilizad o o d isp ositivo in tra-u terin o, en q u an to u m a ou tra p rofessora exp erim en tou o d iafragm a.

Esses d ad os con statam q u e o con h ecim en to e a p rática d e m étod os con tracep tivos n atu rais ou d e b arreira é lim itad o, m esm o n o Gru -p o II, con form e d em on stram os resu ltad os d as p esq u isa s rea liza d a s p o r Alm eid a (1988) em Sa lva d o r, so b re st a t u sso cia l e co n tra cep çã o e

Costa et al. (1989) ao an alisar o p ad rão d a con -tracep ção n o Rio d e Jan eiro.

Não ob stan te o u so d os m étod os, o n ú m ero d e ab ortos qu e as m u lh eres d eclararam ter tid o foi alto, registran d o-se on ze n o Gru p o I e n ove n o Gru p o II, co n figu ra n d o -se a ssim u m a m é-d ia é-d e 0,5 ab orto p or m u lh er.

(6)

a d m itia m q u e já tin h a m to m a d o a d ecisã o qu an d o p rocu raram o m éd ico, con firm an d o-se d este m od o tan to a existên cia d e u m a d em an -d a vo lu n tá ria -d a s m u lh eres n este sen ti-d o, qu an to o p od er d os agen tes m éd icos em in terferir cotid ian am en te n os p ad rões d e rep rod u -çã o h u m a n a a tra vés d o refo rço a este tip o d e d em an d a.

De m od o geral, ob servou -se q u e as m u lh e-res, p rin cip a lm en te a s d e b a ixa ren d a (Gru p o I), co stu m a m in fo rm a rse p o u co so b re o p ró -p rio co r-p o, -p a ra isto u tiliza n d o -se d e co n ver-sas com os m éd icos, revistas, p rogram as d e te-levisã o, livro s e a Bíb lia (01 ca so ). Este fa to se refletiu em o u tro s a sp ecto s, p o r exem p lo, n a s in form ações sob re a esterilização: n o Gru p o I, a gran d e m aioria (20) e n o Gru p o II u m a sign ificativa p arcela (8), jam ais p ergu n tou aos agen -tes m éd icos sob re p ossíveis con seqü ên cias p a-ra a sa ú d e. Ap en a s em cin co ca so s o “m éd ico ad m itiu qu e p od ia h aver p rob lem a”.

A m a io r p a rte d ela s co n sen tiu q u e fo sse rea liza d a a ciru rgia (39), o b ser va n d o se, p o -rém , u m ca so em q u e a esteriliza çã o fo i rea li-zad a sem o con sen tim en to d a p acien te.

Tratase de u m a m u lh er en con trada n o Gru -p o I atu alm en te com 53 an os, oito filh os, este-riliza d a a o s q u a ren ta . Segu n d o ela , “o m éd ico con t ou d a liga d u ra seis d ia s a p ós a cesa ria n a . Disse qu e eu n ão p od ia m ais ter filh os. Ele d isse: “Eu fech ei a su a fábrica”.

Mu ito em b ora seja p erfeita m en te p ossível qu e o m éd ico ten h a en con trad o razões clín icas p a ra p ro ced er à ciru rgia , e m u ito em b o ra ele p ossa ter resolvid o u m p rob lem a p ara ela, ch am o u a a ten çã o q u e a p a cien te ten h a sid o co -m u n icad a sob re u -m a in terven ção e-m seu p ró-p rio co rró-p o, seis d ia s a ró-p ó s o ró-p ro ced im en to ter sid o realizad o.

Com relação aos asp ectos p ositivos d a este-rilização, a m aioria d a m u lh eres (23) d as m ais variad as id ad es, ocu p ações e n ível d e escolari-d a escolari-d e a p o n ta ra m a tra n q ü iliescolari-d a escolari-d e q u e a escolari-d q u iri-ram a p artir d a certeza d e qu e n ão vão m ais ter filh os, e n ão vão m ais ter qu e se p reocu p ar com o u tro s m éto d o s. Den tre esta s, sete m u lh eres, seis d as qu ais com qu aren ta an os, in d icam co-m o va n ta geco-m a tra n q ü ilid a d e d a vid a sexu a l com o m arid o. Um a d elas in clu sive argu m en ta qu e m elh orou seu estad o geral d e saú d e a p ar-tir d a esterilização em virtu d e d estas d esp reo-cu p ações.

Ao d ialogar sob re os asp ectos n egativos d a esteriliza çã o, a s m u lh eres co lo ca ra m em p ri-m eiro lu gar os p rob leri-m as d e saú d e q u e p assa-ram a sen tir d ep ois d a ciru rgia, p ois con sid era-ra m q u e estes p ro b lem a s in terferem ta n to n a su a vid a social q u an to afetiva. Den tre as 40 in

-vestiga d a s, o n ze (sete n o Gru p o I e q u a tro n o Gru p o II) a firm a ra m ter p a ssa d o a so frer d o s segu in tes p ro b lem a s: d istú rb io s m en stru a is (có lica s, flu xo a b u n d a n te e irregu la r), d o res n o s seio s, d o res a b d o m in a is, d istú rb io s em o -cion ais, d ores d e cab eça con stan tes e p erd a d a von tad e sexu al; 4 d elas ad m itiram ter p erceb id o a p en a s a ltera çõ es m en stru a is q u e n ã o in terferem n os d em ais asp ectos d e su a vid a. En -q u a n to isto, 15 n o Gru p o I e 14 n o Gru p o II con stataram qu e a exp eriên cia n o geral tem si-d o p ositiva.

Ten d o em vista a existên cia d e u m a p rop or-ção con sid erável d e m u lh eres q u e p erceb eram a lte ra çõ e s d e sa ú d e q u e tê m a fe ta d o su a d is-p o siçã o so cia l, sexu a l e a fetiva , co n sid era -se op ortu n o relatar b revem en te seu s d ep oim en -to s, d esta ca n d o su a s rep resen ta çõ es so b re o p eríod o p ós-esterilização, a fim d e m elh or esclarecer sob re as am b ivalên cias e d ilem as im -p lica d o s n a ex-p eriên cia d a co n tra ce-p çã o d e m o d o gera l e d a esteriliza çã o em p a rticu la r, b em com o a fim d e resgatar com o p erceb em as reações d os agen tes m éd icos an tes e ap ós a ci-ru rgia. In ician d o p elas n arrativas d o Gci-ru p o II, en co n tra ra m -se q u a tro ca so s d e exp eriên cia s n egativas, sen d o q u e tod as realizaram lap aro-tom ia am p la p or ocasião d a cesarian a em h os-p ital os-p ú b lico.

Ma rta te m 42 a n o s, e stá re a liza n d o cu rso su p erior e é ca sa d a com u m p rofission a l lib e-ra l. Tem 03 filh o s, fo i esteriliza d a em h o sp ita l p ú b lico qu an d o tin h a 27 an os d e id ad e. Tom ou a d ecisão com b ase em con versas com o m éd i-co e i-com o m arid o. Sob re su a p ercep ção acerca d e su a con d ição d e esterilizad a com en ta: “sin -t o d ores em v ir-t u d e d e a d erên cia , e sin -t o q u e n ão p od er p rocriar afeta a m u lh er. A m en op au -sa ch ega m ais ced o”.Os m éd icos qu e con su ltou ad m item “qu e os p roblem as têm a ver com a es-t eriliz a çã o. In clu siv e a ch a m ises-t o n orm a l.”... “Sin to raiva. Se fosse h oje, e eu sou besse sobre as con seqü ên cias, n ão faria”.

(7)

Sô n ia tem 30 a n o s e está cu rsa n d o o n ível su p erio r. É fu n cio n á ria p ú b lica e o m a rid o ta m b ém . Tem d ois filh os e foi esteriliza d a a os 24 a n o s: “o m a rid o q u eria fa z er v a sect om ia , m a s eu n ã o q u eria m a is t er filh os e op t ei p ela laqu ead u ra”... “h oje en fren to d istú rbios h orm o-n ais e seios io-n ch ad os”... “qu ao-n d o vou ao m éd ico, eles n em p ergu n tam se eu sou esteriliz ad a”.

Vera tem 43 a n o s, rea liza cu rso su p erio r, é fu n cio n á ria p ú b lica esta d u a l a ssim co m o o m arid o. Tem três filh os e teve u m ab orto n atu ral. Foi esterilizad a com 27 an os e d ecid iu ju n -to co m o m a rid o. Ach a q u e o seu “orga n ism o n ão aceit ou a laqu ead u ra.”... “sin t o cólicas for-t es, a u m en for-t o d o flu x o e n erv osism o. Fiq u ei sexu alm en te fria. O m éd ico d isse qu e p od ia acon -tecer. Se eu p u d esse voltar atrás, n ão faria”.

No ca so d a s sete m u lh eres q u e se sen tem afetad as p ela esterilização n o Gru p o I, seis rea-liza ra m a la p a ro to m ia a m p la p o r o ca siã o d a cesa ria n a e u m a rea lizo u m in ila p a ro to m ia ap ós p arto n orm al, sen d o q u e ap en as u m a re-correu à clín ica p rivad a. São as segu in tes as si-tu ações:

In ês tem 38, o segu n d o grau in com p leto, é d oceira e o seu m arid o é m ecân ico. Tem três fi-lh os e foi esterilizad a q u an d o tin h a 27 an os n a terceira cesa ria n a . “O m éd ico su geriu , m a s eu t a m b ém q u eria”. Acerca d o s seu s p ro b lem a s

com en ta:“a m en stru ação au m en tou , os p raz os ad ian taram , sin to d ores d e cabeça.”Sen d o cate-q u ista e, p o rta n to, ca tó lica p ra tica n te, seu s con flitos au m en tam : “n ão sei com o fico p eran te Deu s, p orq u e a Igreja n ã o con sen t e” ...”t en h o t rês irm ã s e t od a s liga ra m . Um a p rim a m in h a foi liga d a com 22 a n os. Tod a s sen t em a lgu m a coisa d e ru im d ep ois. Um a q u e ligou com 29 an os teve m iom as n o ú tero d ep ois d a esteriliz a-ção.”

Gló ria tem 44 a n o s, cu rso u a té o segu n d o an o p rim ário, é d on a-d e-casa, teve três filh os e tem d ois atu alm en te. Teve tam b ém u m ab orto n atu ral. Foi esterilizad a aos 36 an os. “Tive p ro-blem as d e ú tero virad o. Por m im n ão ligaria as trom p as, m as o m éd ico d isse qu e era n ecessário. N ão escolh i. Dep ois d e sete m eses com a barriga d olorid a o m éd ico d isse qu e era n orm al. O m é-d ico é b u rro. Prob lem a s n ã o p oé-d em ser n or-m ais”... A esterilização tem , segu n d o ela, in

ter-ferid o n a vid a sexu a l: “n ã o t en h o n en h u m a v on t a d e. Por m im n u n ca t eria feit o. Pergu n t ei ao m eu com p an h eiro o qu e ele ach ava d e est ar com u m a m u lh er vaz ia p or d en tro... ele n ão d is-se n a d a ... m e sin t o cu lp a d a p or n ã o t er q u a is-se relações com ele.”

Go rette tem 26 a n o s, cu rso u a té o terceiro an o p rim ário, é d on a-d e-casa, e o seu m arid o é ferreiro. Tem qu atro filh os e d iz qu e tom ou “p

í-lu la p or a lgu m t em p o, m a s n ã o p a ssa v a b em ”.

Foi esterilizad a com 24 an os p orq u e “n ão qu e-ria m a is t er filh os. Ped i a o m éd ico e ele a v isou q u e p od ia t er p rob lem a s p orq u e eu era m u it o n ova. Tive qu e voltar ao h osp ital p orqu e ele d ei-x ou rest os d a p la cen t a lá d en t ro. Fu i op era d a ou tra vez . Sin to can saço, d ores d os lad os até ao d eit a r e d ores n a b ex iga . Ten h o p ou ca d isp osi-çã o p a ra a v id a sex u a l. N ã o sei se ist o t em q u e v er com a est eriliz a çã o, m a s sei q u e n ã o sen t ia isto an tes.”

Carla tem 41 an os, é d on a-d e-casa, fez até o q u arto an o p rim ário, o m arid o ven d e cald o d e can a, tem d ois filh os. Foi esterilizad a d ois an os ap ós o ú ltim o filh o, p or ocasião d e ou tra ciru r-gia, aos 32 an os, p orqu e “n ão p od ia m ais tom ar com p rim id o p orq u e m e sen t ia m u it o m a l. O m éd ico d isse qu e p od ia h aver p roblem a. Ele d is-se qu e a ligação n ão faz bem p ara n in gu ém , traz p rob lem a s p a ra a s m u lh eres com o p a ssa r d os t em p os. Ele foi h on est o. M eu s p rob lem a s sã o n ervosism o e d ores d e cabeça.”... “O aten d im en -to n o Pos-to é h orrível. A m éd ica d isse qu e a d or d e ca b eça p od ia ser lou cu ra , q u e era p a ra p ro-cu rar ou tro m éd ico... Con h eço ou tras m u lh eres qu e ligaram qu e têm os m esm os p roblem as. Es-p ero q u e com o Es-p a ssa r d o t em Es-p o os m éd icos p ossam resolver estes p roblem as.”

Co ra t e m 42 a n o s, é e sp írit a , cu rso u a t é a se xt a sé r ie, é e m p re ga d a d o m é st ica , re ce b e a té u m sa lá rio m ín im o, o seu m a rid o é m o to -rista , a tu a lm en te d esem p rega d o. Teve três filh o s e três a b o rto s p rovo ca d o s. Fo i esteriliza -d a com 23 an os -d u ran te a terceira cesárea. “Ti-v e u m filh o a t rá s d o ou t ro, o m éd ico d isse q u e d evia faz er”. Agora ela acon selh a “a n ão faz er a ligad u ra p or qu e est ou ch eia d e p roblem as. Te-n h o cisto Te-n o ovário, p roblem as d e m eTe-n stru ação e n ão ten h o von tad e sex u al. A esteriliz ação p re-ju d ica o casam en to d evid o à falta d e sexo. O ca-sa m en t o esfriou . Além d o m a is gost a ria d e t er tid o u m a filh a. Já fiz várias ciru rgias d ep ois. Se sou besse qu e ia ter p roblem as n ão teria feito.”

(8)

Cátia tem 25 an os, cu rsou até o q u arto an o p rim á rio, é d o n a d eca sa e o m a rid o é serra -lh eiro. Teve seis fi-lh os, u m ab orto p rovocad o, e foi esterilizad a aos vin te e qu atro an os “p orqu e a p ílu la faz ia m al”e“tin h a certez a d e n ão qu e-rer m ais t er filh os, e t in h a von t ad e d e ser ou t ra m u lh er.”... “t en h o p roblem as, m as n ão cu lp o os m éd icos, a d ecisão foi m in h a, m as gostaria d e ter t id o m a is in form a ções. Sin t o d ores d e ca b eça , p erd a d a von tad e sex u al e tam bém d esân im o e tristez a.”... Su gere q u e sejam realizad as “p ales-tras p ara as m u lh eres qu e p reten d em se esterili-zar”. “Ora m e arrep en d o, ora n ão”...”o m eu m ari-d o ari-d iz qu e eu fiqu ei fria feito u m a gelaari-d eira”.

Ch a m a a ten çã o q u e en q u a n to 25 d a s 40 m u lh eres en trevistad as foram su b m etid as à es-terilização ap ós os 30 an os, d en tre as on ze qu e d eclararam qu e a ligad u ra p rovocou alterações n a su a saú d e, 9 tin h am m en os d e 30 an os; en -tre esta s ú ltim a s, 3 tin h a m m en o s d e 25 a n o s q u an d o foram laq u ead as. Ou tros au tores já ti-n h am ch am ad o a ateti-n ção d o m aior risco d e arrep en d im en to, com tod as as su as con seq ü ên cia s p sico ló gica s e so m á tica s, q u a n d o a la -q u ead u ra era realizad a em m u lh eres com m e-n os d e 30 ae-n os, e m ais aie-n d a em m ee-n ores d e 25 an os (Pin otti et al., 1986).

Con trastan d o visivelm en te com a con d ição d esta s o n ze m u lh eres fo ra m en co n tra d a s situ a çõ es em q u e o b em esta r a p ó s a esteriliza -çã o é in d iscu tível. É o ca so d e Ap a recid a , d o Gru p o II, q u e sen te q u e su a vid a m u d o u p a ra m elh or. Ela tem atu alm en te 32 an os, é católica, p a rticip a d e m ovim en to s religio so s n a Igreja , fez o m a gistério d e segu n d o gra u m a s n ã o le-cion a, d ed ica-se aos afazeres d om ésticos. Tem d ois filh os e foi esterilizad a aos 28 an os. Segu n -d o ela , “a p ílu la era u m h orror. Tin h a p rob le-m as sexu ais e d e saú d e. Min h a le-m ãe e le-m in h as ir-m ã s já fiz era ir-m liga çã o. Tin h a ferid a n o ú t ero, fu n gos, d ep ressão e n ervosism o com o u so d a p í-lu la... Os m eu s p roblem as d esap areceram total-m en te, total-m elh orou cetotal-m p or cen to a ativ id ad e se-x u al, m e sin to m ais livre e sem m ed o.”

An alisad as as rep resen tações d aq u elas q u e n ã o co n sid era ra m ter so frid o a ltera çõ es em su a vid a a p artir d a esterilização, p erceb eram se, a lém d e sen tim en to s d e b em esta r sem e -lh an tes a este, algu m as situ ações q u e tam b ém m erecem registro. Em qu atro casos, com o já se m en cio n o u , o b ser vo u se q u e em b o ra a s m u -lh eres ten h a m n o ta d o a ltera çõ es d o ciclo m en stru al ap ós a ciru rgia (in clu in d o-se cólicas e flu xo ab u n d an te) n ão con sid eraram q u e isto ten h a se tran sform ad o n u m p rob lem a d e saú d e p ara elas, d esd e q u an d o, ap esar d isto, con -segu iram d ar con ta d e seu s afazeres n o trab a-lh o em casa e fora d ela.

Um a d a s m u lh eres, a tu a lm en te co m 46 a n o s, a firm o u ter sen tid o a p en a s n o s p rim ei-ros m eses ap ós a esterilização, “u m a sen sa çã o d e ca st ra çã o”. Mu ito em b o ra ela se sin ta b em

n o geral, com en tou ain d a q u e, se sou b esse d a va sectom ia a n tes, n ã o teria sid o ela a esterili-zar-se, m as o seu com p an h eiro.

Um a o u tra , a tu a lm e n te co m 40 a n o s e e s-terilizad a aos 28, ad m itiu q u e teve u m a q u arta gravid ez in d esejad a, “ap roveitou o en sejo p ara fa z er a la q u ea d u ra”e reco rreu à esteriliza çã o p orq u e an d ava “até com m ed o d e d eitar n a ca-m a coca-m o ca-m a rid o e en gra v id a r ou t ra v ez”. Ela

e st á e n t re a s q u e se q u e ixa m d e flu xo a b u n -d an te.

Fin alm en te, u m a d as in vestigad as esterili-zad a aos 32 an os e atu alm en te com 46 e três fi-lh os, in corp orou d e tal m od o a cu ltu ra d a este-riliza çã o q u e d efen d e q u e este p ro ced im en to d everia ser realizad o “n as m u lh eres p obres, p a-ra d im in u ir a m iséria e a p obrez a e t am bém os b a n d id os”. Ab solu ta m en te con victa sob re seu

p on to d e vista , ela p a rece n ã o se d a r con ta d e qu e a d im in u ição d a p role, p or si só, n ão rep re-sen ta u m a ga ra n tia d e m elh o ra n o p a d rã o d e vid a seq u er p a ra si p ró p ria , p o is seu m a rid o, m ilitar d e b aixa p aten te n ão con segu e gan h ar n em três sa lá rio s m ín im o s m en sa is p a ra su sten tar a fam ília, en q u an to ela se esgota lavan -d o, p a ssa n -d o, cozin h a n -d o, a rru m a n -d o, cu i-d an i-d o i-d os filh os e evitan i-d o q u alq u er i-d esp esa extra p ara a fam ília. Tan to esta com o ou tras si-tu a ções sim ila res leva m a crer q u e a ren ú n cia rad ical à m atern id ad e, ob servável n os setores p op u lares, estru tu rase d e m od o qu e n ão se lu -te p ara -ter m ais; em lu gar d isto, a m eta se d es-loca n o sen tid o d e assegu rar q u e o p ou co q u e se tem seja su ficien te p a ra a lim en ta r p o u co s, tran sform an d o-se n estes casos a esterilização n u m p od eroso in stru m en to d e acom od ação.

Considerações finais

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p ossam tirar con clu sões referen tes à freq ü ên -cia relativa com qu e estas con seqü ên -cias p osi-tivas e n egaosi-tivas p ossam acon tecer. Os resu lta-d os lta-d esta p esq u isa, n o en tan to, p ossib ilitam a ela b o ra çã o d e co n sid era çõ es fin a is a cerca d e vá rio s a sp ecto s. In icia lm en te ca b e ressa lta r q u e o p erfil d as m u lh eres in vestigad as con fir-m a certa s ca ra cterística s existen tes efir-m n ível n acion al, com relação à id ad e, ocu p ação, tip o d e esteriliza çã o, u tiliza çã o a n terio r d e o u tro s m étod os con tracep tivos, escolarid ad e, n ú m ero d e filh os, etc.

Co m b a se n o s d a d o s a resp eito d esta s ca -ra cterística s to rn a -se p o ssível en ten d er q u e a o p çã o p ela esteriliza çã o tem a va n ça d o d e ta l m od o qu e até certo p on to in d ep en d e d aqu elas variáveis, visto qu e tan to m u lh eres com ap en as u m filh o, q u an to m u lh eres m u ito joven s, com d iferen tes ocu p ações e d istin tos grau s d e in form a çã o, têform o p ta d o p o r fa zêla co form o u form a so -lu ção rad ical d e con ten ção d a n atalid ad e.

Esta op ção, p orém , n ecessita ser con textu a-liza d a , u m a vez q u e, em b o ra m u ita s vezes a s en trevistad as m en cion em qu e solicitaram a ci-ru rgia , esta escolh a con form e lem b ra Ba rroso (1984:170), n a m ed id a em q u e im p lica con tra-d itoriam en te tan to a lib ertra-d atra-d e qu an to a op res-são, “ocorre d en tro d e u m con ju n to d e altern a-t iv a s qu e ela s in d iv id u a lm en a-t e sã o im p oa-t en a-t es p a ra a lt era r”; esta s a ltern a tiva s d eco rrem d e

d eterm in an tes sociais, d en tre os q u ais se d es-tacam “a p osição d esvan tajosa d a m u lh er n a fam ília e n o fam erca d o d e t ra b a lh o, a cu lt u ra p a -triarcal, a p olítica d e m ercan tiliz ação d a saú d e e a p olítica d em ográfica”.

A p artir d a b ase d e d ad os, torn a-se p ossível tam b ém in ferir qu e a cu ltu ra p atriarcal, som a-d a à in flu ên cia a-d o s m eio s a-d e co m u n ica çã o a-d e m a ssa , con tin u a op era n d o a fim d e fa zer com qu e recaiam p rin cip alm en te sob re a m u lh er as resp o n sa b ilid a d es ta n to co m a cria çã o d o s fi-lh o s e a m a n u ten çã o d a ca sa , q u a n to co m o s cu id ad os com a con tracep ção, in d ep en d en te-m en te, cote-m o se sab e, d o fato d e q u e ela trab a-lh e fora d e casa. Ao m esm o tem p o esta cu ltu ra im p ele a m u lh er a esco lh er o m éto d o “m en os con sp ícu o, o m a is ga ra n t id o e o m en os d ep en -d en t e -d a coop era çã o m a scu lin a”, ten ta n d o -se

garan tir d esta form a p ara o casal, além d o con -tro le so b re o s n a scim en to s, a segu ra n ça , a li-b erd ad e e o p razer (Barroso,1984:174).

Ta lvez em virtu d e d esta s exp ecta tiva s, o su rgim en to in esp erad o d e p rob lem as d e saú d e p osteriores à esterilização, afete sob rem an eira a d isp osição d e algu m as m u lh eres in clu íd as n o p resen te estu d o, q u a n d o ela s se d ã o co n ta d e q u e a o reso lver p a ra a fa m ília a q u estã o d a con tracep ção, têm qu e en fren tar ou tros im p

asses liga d o s a o m a lesta r p rovo ca d o p ela so lu -ção qu e se en con trou .

Deste m o d o é p o ssível co n clu ir q u e a d iscu ssão sob re a con tracep ção d eve ser referen -cia d a à p ersp ectiva d e gên ero, n a m ed id a em qu e faz p arte d a con stru ção social e cu ltu ral d o m ascu lin o e d o fem in in o, com p reen d en d o-se, p ortan to, o corp o com o p rod u ção social e cu l-tu ra l “m ed ia d a p or u m a série d e in st it u ições”

(Men icu cci d e Oliveira, 1991:04).

Den tre estas in stitu ições, d estacam -se evi-d en tem en te a s m éevi-d ica s, ten evi-d o sievi-d o p o ssível p erceb er através d os d ep oim en tos d as m u lh e-res, q u e a o m esm o tem p o em q u e esta s in sti-tu ições in terferem n a escolh a , com p orta m -se d e m od o am b ivalen te an tes e ap ós o su rgim en -to d e p rob lem a s d e sa ú d e. Neste ca so ta lvez a d esin form ação d as m u lh eres sob re as p ossíveis con seqü ên cias n egativas d a esterilização resu l-te n ão ap en as d e u m a p ossível falta d e ética ou m o tiva çõ es lu cra tiva s d e a lgu n s p ro fissio n a is d a saú d e (e d e su as con vicções acerca d o con -trole da n atalidade e da esterilização com o m eio d e evitar o ab orto e d im in u ir a m ortalid ad e fe-m in in a), fe-m as d e u fe-m a d esin forfe-m ação e d e u fe-m a falta de con sen so da p róp ria área m édica a p ro-p ósito d estas con seq ü ên cias (Min ella, 1996).

No ca so d a p resen te p esq u isa , esta d esin -form ação atin ge n ão ap en as d on as-d e-casa d e setores p op u lares, com b aixo n ível d e escolari-d aescolari-d e, m as tam b ém p rofessoras u n iversitárias e fu n cio n á ria s p ú b lica s d e n ível su p erio r q u e ta m p o u co fo ra m in fo rm a d a s o u p ro cu ra ra m ob ter in form ações sob re p ossíveis con seq ü ên -cias.

A este resp eito, à lu z d o s resu lta d o s d esta p esq u isa, torn a-se tam b ém p ossível averigu ar q u e o a va n ço d a esteriliza çã o se in screve n o m arco d e u m p rocesso qu e Vieira (1990:96) d e-fin e com o “n atu raliz ação d a in terven ção m éd i-ca n a esfera d o com p ort a m en t o rep rod u t iv o”,

reforçan d o-se assim em escala am p liad a, o p a-p el social d a m ed icin a.

Este p ro cesso, p o r su a vez, d e a co rd o co m Vieira (1990:96), faz p arte d e u m a estratégia d e m ed ica liza çã o d o co rp o fem in in o, tra n sfo r-m an d o o con trole p op u lacion al er-m “u m a qu es-tão qu e em erge n ão m ais com o qu eses-tão d e p olí-t ica d em ográ fica , m a s com o p rob lem a p a ra o qu a l sã o p rop ost a s resolu ções cirú rgica s ou gi-n ecológicas”p ossib ilitan d o-se p or esta via “qu e a socied ad e organ ize seu s con tin gen tes p op u la-cion a is la n ça n d o m ã o d o p red om ín io t écn icocien t ífico p a ra a d m in ist ra r a rep rod u çã o h u -m an a”.

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n o p aís com o u m a “qu ed a cirú rgica”, en qu an to

Giffin (1992:99) relacion a as m u d an ças n o p a -d rão rep ro-d u tivo -d as socie-d a-d es em -d esen volvim en to com o u m p rocesso estreitam en te vin -cu lad o ao con texto d a “m od ern id ad e p erversa”,

ou seja, d a m od ern id ad e qu e im p u lsion a sign i-ficativam en te os avan ços tecn ológicos n a área d a co n tra cep çã o sem a va lia r d evid a m en te a s ch an ces d e risco p ara a saú d e.

Os d ad os levan tad os n esta p esqu isa p erm i-tem con clu ir ain d a qu e a exem p lo d o qu e ocor-re d e m an eira geral, o m od elo d a m u lh er ocor-rep ro-d u to ra está sen ro-d o su b stitu íro-d o p o r o u tro n o q u a l a m u lh er, sa b en d o se rep ro d u to ra , co n -tro la e a té n ega su a ca p a cid a d e rep ro d u tiva , co m o estra tégia d e so b revivên cia (p rin cip a l-m en te n o ca so d o Gru p o I) e co l-m o estra tégia d e a firm a çã o em o u tro s â m b ito s (p rin cip a l-m en te n o caso d o Gru p o II).

De a lgu m a m a n eira , a fa m ilia rid a d e d a s m u lh eres en trevista d a s co m a esteriliza çã o lem b ra os resu ltad os en con trad os n o estu d o d e Citelli et al. (1995:24) qu e, ao an alisar a trajetó-ria rep rod u tiva d e gru p os d e m u lh eres d os se-tores p op u lares em d iferen tes regiões d o p aís, con clu em afirm an d o q u e “a esteriliz ação p are-ce t er se in st a la d o d e m od o d efin it iv o n o cu rso d e v id a d a s m u lh eres com o u m m om en t o “n a -t u ral”, o p on to d e ch egad a d e su a exp eriên cia

rep rod u tiva. Passa-se, p ortan to, d o ciclo b ioló-gico m en arca-con cep ção-gestação-p arto p ara u m n ovo ciclo m en a rca -con cep çã gesta çã o-p a rto -esteriliza çã o, em q u e a d eso-p eito d e ser u m a in terven ção extern a sob re o corp o, a este-riliza çã o a d q u ire o m esm o st a t u sd o s o u tro s m om en tos e, n a su a con cep ção d o ciclo, term i-n a p or “i-n atu ralizar-se”.

Por ú ltim o vale ressaltar q u e em b ora a ob -jetivid ad e d o d iscu rso d as en trevistad as p ossa ser d iscu tid a (p orqu e in flu en ciad a p or u m a sé-rie d e d eterm in an tes sociais), isto n ão in valid a, p or si só, a veracid ad e d as exp eriên cias p ercb id a s a p ós a esteriliza çã o, p orq u e esta s exp e-riên cias são reais, em su as con seq ü ên cias, p a-ra aqu elas qu e a viven ciam .

Po r o u tra p a rte, é u m legítim o d ireito d a s m u lh eres d ecid ir so b re a liga d u ra tu b á ria , qu an d o em con d ições ap rop riad as d e p len a in -form a çã o e a u tod eterm in a çã o. Nossos d a d os, en treta n to, n ã o p erm item d istin gu ir em q u e circu n stâ n cia s a liga d u ra rep resen ta u m ele -m en to d e lib era çã o, e e-m q u a is u -m fa to r d e op ressão, com efeitos n egativos sob re su a vid a, ap esar q u e estes ú ltim os p arecem con cen trar-se n as m u lh eres m ais joven s com o já su gerid o p or ou tros au tores (Hard y et al., 1996).

Ain d a q u e n o sso s resu lta d o s ta m b ém n ã o p erm ita m d eterm in a r em q u e p ro p o rçã o a s

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Referências

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