EF EI TO DA CE RO SI DA DE FO LI AR NA RE AÇ ÃO
DE VA RI ED AD ES DE CE BO LA
(A ll iu m ce pa
L. )
A HERBICIDAS DE PÓS—EMERGÊNCIA
P.V. FERREIRA* & C.P. COSTA** * Pr of . As si st ente II I — De p. de Ag ro no mi a do
C e n t r o d e C i ê n c i a s A g r á r i a s d a U F A L — 57.700 — Viçosa — AL.
** Prof. Adjun to — Dep. de Genétic a da ESA LQ/ USP — 13.400 — Piracicaba — SP.
RESUMO
Em ensaios experimentais, realizados no De -partamento de Genética da Escola Superior de Ag ri cu lt ur a "L ui z de Qu eiroz " da Un ivers id ade de Sã o Pau lo , Pir acic aba — SP , ve ri fi co u - se o efe it o da ce ro sid ad e fo li ar na re açã o de vari e -dades de cebola a herbicidas de pós -emergência.
Utilizaram se varied ades do grupo não ce ro -so , co mo Gra ne x e Te xas Gra no , e va ri ed ad es do gr up o ce ro so , co mo Ba ia Pe ri fo rm e, Barrei ro SM P - IV, Re d Cre ole e Ro xa Cha ta SM P - IV, no 1.° ensaio ; e varie dades do grupo não ceroso, como Excel Bermudas 986 e Texas Grano, e va -riedade s do grupo ceroso, como Baia Perifor me, Pira Couto, Pira Dura, Pira Ouro A/R , Red Cre ole e Roxa Chata SMP-IV, no 2.° ensaio.
Os herbicidas de pós-emergência e as doses utilizadas foram: bentazon, 0,48 kg i.a./ha e pro -metryne 1,60 kg i.a./ha, no 1.0ensaio; e ácido sul-fúrico (4%), bentazon 0,48 kg i.a./ha, prometryne 1, 60 kg i. a. /h a e di ur on 1, 60 kg i. a. /h a, no 2: ensaio.
Os re su lt ad os ob ti do s mo st ra m qu e a ce ro sida de foli ar é um dos meca nismos de resi stên -cia de cebola àação de herbicidas de pós emer -gência.
PA LA VR AS CH AV ES : Ce ro si da de fo li ar, ce -bola, variedades, herbicidas de pós-emergência.
SUMMARY
EF F EC T O F T H E F O L I A R W A X I N ES S O F O N I O N V A R I E T I E S ( A l l i u m c e p a L . ) I N R E A C T I O N T O P O S T EM E R G EN C E H E R -BICIDES
I n expe rim ental tria ls, car ried ou t in the De pa rt me nt of Ge ne ti c of ES AL Q, Un iv er si ty of Sã o Paulo , P ir acic aba — SP, th e e ff e ct o f th e foliar waxiness in reaction of onion varieties at post -emergence herbicides was studied.
Gl os sy gr ou p va ri et ie s su ch as Gr an ex an d Texas Grano and non-glos sy group varietie s such as Ba ia Pe riforme, Ba rrei ro SMP- IV , Re d Creo le and Roxa-Chata SMP- IV, were tested in 1st. expe-r i m e n t ; a n d g l o s s y g expe-r o u p v a expe-r ie t i e s su c h a s Excel Bermudas 986 and Texas Grano and
non-gl os sy gr ou p va ri eties su ch as Ba ia Pe ri fo rm e, P i r a C o u t o , P i r a D u r a , Pi r a O u r o A / R , R e d C re o le and Rox a C hata SM P- IV, in 2 nd e xpe-riment.
The fo llo win g post- eme rge nce he rb ici des an d do se s we re us ed : be ntaz on 0, 48 kg a. i. /h a and prometryne 1,60 kg a.i./ha, in the last expe -rime nt : and su lp huric ac id (4% ), be ntazon 0,48 kg a.i./ha, prome tryne 1,60 kg a.i./ha and diuron 1,60 kg a.i./ha, in the 2nd experiment.
Th e re sult s obta ine d sho w th a t the fo li a r wa xi ne ss is on e of the me ch an is ms of on ion re-sitance against post-emergence herbicide injury.
KE YWO RD S: Foli ar wa xin es s, oni on, va ri e-ties, post-emergence herbicide.
INTRODUÇÃO
A cebola, Allium cepa L., constitui uma das hortaliças de maior importância eco-nôm ica par a o Bra sil , pel o seu pop ula r uso in natura e desidratado para a indús-tria de alimentos. É uma cultura em ex-pansão no nosso país, mas ainda hoje o grosso da produção brasileira se concentra nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul.
30 P. V.
FERREIRA& C. P. COSTA
Entre os métodos disponíveis de con-trole das plantas daninhas, o uso de
her-bicidas é, atualmente, o mais importante na cultura da cebola, por várias razões primeiro, o espaçamento entre plantas é pequeno, tant o na seme adura direta co -mo no sistema de transplante, o que di-ficulta e encarece a capina manual e pra-ticamente impossibilita a mecanizada segundo, o ciclo relativamente longo da cultura exige que sejam feitas várias capin as par a se ev ita r que as pla nt as so -fram concorrência das plantas daninhas ; te rc eiro , a mã o-de -ob ra di sp on ív el no meio rural, na época adequada, está cada vez mais difícil e mais cara.
Fica ev ide nt e que o uso de herbici -das na cultura da cebola é uma prática agrícola bastante vantajosa. Contudo, de-ve-se ressaltar que muitas vezes o
herbi-cida é eficientíssimo no controle de plan-tas daninhas, mas seu uso é limitado na agricultura, porque causa deformações mor fológ icas e reduç ão no rendimento de culturas, devido à sua ação tóxica. Por outro lado, existem diferenças genéticas em resposta a certos herbicidas e que têm sido encontradas em várias espécies cul-tivadas, inclusive em cebola (5 ).
Entr e as cara cterísti cas de resi stên -cia das plantas à ação de herbicidas, a espessura da cutícula foliar é uma das mais importante. Em geral, as cutículas espessas dificultam mais a penetração de herbicidas que as cutículas finas. Entre-tanto, não é apenas pela espessura que a cu tí cu la pr ot eg e a pl an ta , e si m pe la maior quantidade de materiais hidrorre-pelentes (cut ina e ceras) que, em geral, as cutículas mais espessas apresentam. A composição química das ceras, com pre-dominância de triterpenoides, ou de éste-res de hidroxiácidos, também influi na maior ou menor resistência da cutícula à penetração de herbicidas (1).
Não se encontraram na literatura tra bal hos mos trand o o efe ito da cer osi -dade foliar sobre a resis tência de cebol a a herbicidas de pós-emergência. Contudo, as variedadse de cebola que apresentam uma folhagem verde opaco, devido a uma maior quantidade de cera sobre a
super-fície da folha, são, provavelmente, mais resistentes a ação de herbicidas de pós-emergência do que as variedades de fo-lhagem verde brilhante, que apresentam uma quantidade muito pequena de cero-sidade foliar.
O presente trabalho tem por objetivo verificar o efeito da cerosidade foliar na reação de variedades de cebola a herbi-cidas de pós-emergência.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado a par tir de da dos obtido s em ex per im en tos conduzidos nas depe ndên cias do Se -tor de Hortaliças do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricul-tura "Luiz de Queiroz" , da Univ ersidade de São Paulo, em Piracicaba, SP, no de-correr do ano de 1982.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições, nos dois ensaios, tendo 20 tratamentos, correspondentes a todas as combinações entre herbicidas e variedades, no Experim ento I e 56 tratam en -tos, correspondentes a todas as combi-nações entre herbicidas e variedades, no Experimento II. Cada parcela foi consti-tuíd a por um va so de pol ietile no , com 10 cm de diâmetro, contendo 10 plântu-las, nos dois ensaios.
Os segunites herbicidas foram ava-liados : bentazon (3 — isopropil — 2, 1, 3 — be nz ot hi ad ia zi no na — (4 ) — 2, 2 — dióxido) e prometryne (2 – metiltio – 4,6 — isopropilamina — s — triazina ), no Experi men to I, e áci do sulfúr ico, benta -zon, prometryne e diuron [3 — (3,4 — di-clorofenil) — 1,1 — dimetil — uréia 1, no Exp eri men to II. A dos age m dos her bic i -das usada corresponde àquela recomen-dada para a cultura da cebola, ou seja, sol uçã o de 4% , par a o ácido sul fúrico, 0,48 litro/ha em 400 litros de água, para o ben taz on, 1,6 0 kg/ ha em 100 0 lit ros de águ a, par a o pro met ryn e e 1,60 kg/ ha em 800 litros de água para o diuron.
Bar-reiro SMP-IV, Red Creole e Roxa Chata SMPIV, do grupo ceroso, no Experimen -to I, e Excel Bermudas 986 e Texas Gra-no, do grupo não ceroso, e Baia Perifor-me , Pi ra Co ut o, Pi ra Du ra , Pi ra Ou ro A/R , Red Cre ole e Rox a Cha ta SMP- IV, do grup o cero so, no Expe rime nto II. Ca-da varieCa-dade do grupo ceroso correspon-derá a dois tratamentos, ou seja, com cerosidade foliar mantida e removida.
As semeaduras foram realizadas nos dias16/04/82 e14/07/82, corresponden-tes aos Experimentos I e II, respectiva-me nt e, em va so s de po li et il en o, co m 10 cm de diâmetro. O substrato usado nos ensaios constituiu-se de uma mistura de 3 :1 de terra roxa e esterco, respectiva-mente. O desbaste foi feito logo após a emergência das plântulas de cebola, dei-xando-se 10 plântulas por parcela.
No Expe rimento I, aos 54 dias após a semeadura, pulv eriz ou -se a fol hagem das plântulas das variedades do grupo ceroso, referentes aos tratamentos com cerosidade foliar removida, com uma so-lução de Tween a 0,1%, com a finalidade de se rem ove r a cam ada de cer a das fo -lhas. Utilizou-se, nesta pulverização, um pulverizador costal, marca JACTO, com capacidade de 20 litros. A seguir, foram
efetuadas as pulverizações com os respec-tivos herbicidas, isoladamente, sobre a folhagem das plântulas das variedades de cebola dos grupos ceroso, com cerosidade foliar mantida e removida, e não ceroso. Estas pulverizações foram feitas com um pulveriza dor manua l com capac idade de 1 litr o. No Exper imento II, aos 62 dia s após a semeadura, fez-se o mesmo proce-dimento do experimento anterior. Porém, na re mo çã o da ca ma da de ce ra da s fo -lhas, utilizou-se uma solução de Nichtion a 0, 1% , em ve z de so lu çã o de Tw een a 0,1 %. Par a evi tar a abs orç ão dos her bi-cidas pelas plântulas, através das raízes, coloc ou-se carv ão ativado nos vasos, an-tes das apli caçõ es dos herbicid as benta-zon e prometryne, no Experimento I, e bentazon, prometryne e diuron, no Expe-rimento II.
A av aliação do ef eito de herbicida s de pós-emergência na reação de varieda-des de cebola dos grupos ceroso, com ce-rosidade foliar mantida e removida, e não ceroso foi efetuada aos seis dias após as aplicações dos respectivos herbicidas, nos dois ens aio s, usando uma esc ala de no-tas, vari ando de zero a cinco, conso ante o cr it ér io ad ot ad o po r Fe rr ei ra & Co s-ta(3).
Os ex pe ri me nt os fo ra m ad ub ad os co m su lf at o de am ôn io em co be rt ur a, uma única vez, aplicando-se 1 g do fertili-zante/parcela.
Nos dois ensaios foram feitos o con-trol e prev enti vo cont ra mela, utiliza ndo-se o Antracol na dosagem de20 g do pro-duto/10 litros de água. 0 mesmo foi feito
em relação às pragas e doenças de folhagem , usando, res pec tiv amente , ins eti ci -das e fungici-das adequados, sem o uso de surfactantes.
herbici-32 P. V.FERREIRA& C. P. COSTA
das, já que era fei to ape nas uma irr iga -ção antes da aplica-ção dos mesmos.
As análises da variância do esquema fatorial, dos dois ensaios dispostos no de-lineamento inteiramente casualizado, fo-ram feitas com os dados médios de par-cel as, de aco rdo com Stell e Tor rie (9 ). A comparação das médias dos tratamen-tos foi fei ta pel o tes te DMS, ao nív el de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das análises da variáncia do efeito da cerosida de foliar na rea -ção de variedades de cebola a herbicidas de pós-emergência estão no Quadro 1. Apenas par a h erb ici das , no Experi men -to I, não houve diferença significativa, detectada pelo teste F, ao nível de 5% de
probabilidade, indicando que o bentazon e o prometryne apresentam o mesmo efei-to na reação de variedades de cebola dos gr up os ce ro so , co m ce ro si da de fo li ar mantida e removida, e não ceroso. Os coe ficientes de variação foram 11, 50 e 9,26% para, respectivamente, o Experi-mento I e II.
A Figura 1 mostra o efeito da cerosi-dade foliar na reação de variecerosi-dades de cebola a herbicidas de pós-emergência, expresso através de um índice de injúrias foliar es. Tant o par a o bent az on, como para o prometryne, houve diferença signific ati va entre var iedade s do gru po cer o -so, com cerosidade foliar mantida, e não ceroso, e entre cerosidade foliar mantida e removida, em todas as variedades, atra-vés do teste de D.M.S., ao nível de 5% d€ probabilidade.
O efe ito da cerosid ade foliar na rea -ção de variedades de cebola a herbicidas de pós -emer gênc ia, expr esso atra vés de um índice de injúrias foliares, também é apresentado pela Figura 2. Tanto para o ácido sulfúrico, como para o prometrine, houve diferença significativa entre varie-dades do grupo ceroso, com cerosidade foliar mantida, e não ceroso, e entre ce-rosidade foliar mantida e removida, em todas as variedades, através do teste de D.M.S., ao nível de 5% de probabilidade. Para o bentazon, houve diferença signi-ficativa entre todas as variedades do gru-po ceroso, com cerosidade foliar
manti-da, e não ceroso, e entre cerosidade foliar mantid a e removida, nas var iedades Roxa Chat a SMPIV, Red Cre ole e Pira Ou -ro A/ R. E, fi na lm en te , pa ra o di ur on , houve difer ença significat iva entre todas as variedades do grupo ceroso ,com cero-sidade foliar mantida, e não ceroso, e entre cerosidade foliar mantida e removida, nas varideade s Baia Perif orme, Pira Couto e Red Creole.
no índice de injúrias foliares de cada va-riedade, conforme o herbicida usado. Por outro lado, as vari edade s do grupo cero-so, com a cerosidade foliar mantida, sem-pre asem-presentaram os menores índices de injúrias nas folhas, independente do herbicida usado, sendo superadas signi-ficativamente pelas variedades do grupo nã o ce ro so . Qu an to às va ri ed ad es do grupo ceroso, todas elas, com a cerosida-de foliar mantida, foram superadas sig-nificativamente por elas mesmo, com a cerosidade foliar removida, com exceção das var ied ade s Pir a Dur a, Bai a Per ifo r-me e Pira Couto, com o bentazon, e Pira Dur a, Roxa Cha ta SMP-IV e Pir a Our o A/R, com o diuron, no 2.° ensaio. Ainda, com rel açã o às var ied ade s do gru po ce-roso, com a cerosidade foliar removida, ve ri fi ca -se qu e el as ap re se nt ar am os maior es ín dic es de in júr ias nas folh as com o ácido sulfúrico e superaram signi-fi ca ti va me nt e as va ri ed ad es do gr up o não ceroso, com os outros herbicidas, nos dois ensaios, a maioria delas são supera-das signific ativ amen te pelas vari edad es do grupo não ceroso.
Vários fatores devem ter contribuído para que ocor ress e essa difer ença entr e o ácido sulf úric o e os outr os herb icidas em relaçã o aos índ ices de inj úria s fol ires. Primeir o, o efeito fi tot óxi co caus a-do pelo s herb icid as bentazon, prom etry-ne e diuron só se tornava evidente 6 dias após a aplicação, pois os mesmos são absorvidos lentamente pelas plântulas de cebola, por via foliar, enquanto que o áci-do sul fúr ico é absorviáci-do rap ida ment e e seu efeito torna-se evidente poucas horas após a aplicação. Segundo, como as plân-tulas foram irrigadas normalmente a par-tir do dia seguinte após a aplicação, isso, provavelment e, contribuiu para elimin ar a por ção her bic ida que ain da não ter ia sido absorvida pelas folhas. Terceiro, as plântulas de cebola repõem a camada de cera foliar que foi removida (3 ), dificul-tando ainda mais a absorção dos herbici-das que não apresentam efeito fitotóxico imediato.
A comparação entre variedades de ce bo la do s gr up os ce ro so , co m ce ro si-dade foliar mantida, e não ceroso, e
en-tre cerosidade foliar mantida e removida, em todas as variedades, mostrou que a ca-mada de cera que reveste a superfície fo-liar é, realmente, um dos mecanismos de resistência de cebola à ação de herbicidas de pós-emergência.
Diversos autores (1, 2, 4, 7) afirmam que a cerosidade foliar é um dos meca-nismos de resistência das plantas à ação de herbicidas de pós-emergência. Os re-sultados obtidos no presente trabalho corroboram as afirmações dos autores citados.