1 Trabalho baseado na Dissertação de Mestrado da primeira autora realizadonoProgramadePós-GraduaçãoemEducaçãoEspecialda UniversidadeFederaldeSãoCarlos.Financiamento:CAPES. 2 Endereço:RuaDr.DomingosFaro,150ap.14,JardimAlvorada,São
Carlos,SP,Brasil13562-320.E-mail:pbrancalhone@hotmail.com
CriançasExpostasàViolênciaConjugal:
AvaliaçãodoDesempenhoAcadêmico
1PatríciaGeorgiaBrancalhone2
JoséCarlosFogo
LúciaCavalcantideAlbuquerqueWilliams
UniversidadeFederaldeSãoCarlos
RESUMO–Otrabalhoavaliouodesempenhoacadêmicode30criançasempares,sendo15criançasdoEnsinoFundamental expostasàviolênciaconjugale15criançasnãoexpostasàviolência,domesmosexoeidade,escolhidasnasmesmassalasde auladorespectivopar.OsprofessoresresponderamàEscaladeAvaliaçãodaPerformanceAcadêmica(EAPA)eforneceram oBoletimEscolardessascrianças.OTDE–TestedoDesempenhoEscolarfoiaplicadoparaconstatarasáreasacadêmicasem queestascriançasapresentavamdificuldades.Das15criançasexpostasavaliadas,14presenciarampelomenosumepisódio deagressãodamãeeseteestavamconvivendocomviolênciaconjugalhámaisdecincoanos.OsresultadosdaEAPAforam significativamentemenoresparaogrupoexposto,comamédiade52,9pontoscontra67,8dogrupodecriançasnãoexpostas. NasanálisesdosresultadosdosconceitosdoBoletimEscolaredoTDE,asdiferençasnãoforamsignificativas.
Palavras-chave:desempenhoacadêmico;crianças;violênciaconjugal;violênciacontraamulher;resiliência.
ChildrenExposedtoMaritalViolence:
AssessmentofAcademicPerformance
ABSTRACT–Thisstudyassessedtheacademicperformanceof30childreninpairs:15childrenexposedtomaritalviolence attendingelementaryschooland15childrennotexposedtoviolence,ofthesamegenderandagechoseninthesameclasses oftheirrespectivepairs.TheteachersansweredtheAcademicPerformanceRatingScale(APRS),andsuppliedacopyof thechildren’sgrades.TheAcademicPerformanceTest(TDE)wasusedtoassesstheacademicskillsinwhichthechildren haddifficulties.Theresultspointedoutthat,from15childrenexposedtoviolence,14hadwitnessedatleastoneepisodeof aggressiontowardstheirmotherandsevenwerelivinginanviolentenvironmentformorethanfiveyears.APRStestresults weresignificantlylowerforthegroupofexposedchildren,withanaverageof52.9pointsagainst67.8fromthegroupofnon-exposedchildren.IntheschoolgradesandTDEtestthedifferenceswerenotsignificant.
Keywords:academicperformance;children;maritalviolence;violencetowardswomen;resilience.
conjugalrefere-seaocomportamentoagressivoqueocorre contraamulheradultaouadolescentenocontextodeum relacionamentoheterossexualíntimo(legalmentecasados ounão).
EmumestudorealizadoporHilton(1992)commulheres vítimasdeviolência,55%delasrelataramquesuascrianças testemunharamaagressãofísicaepsicológicaqueelassofre-ram.PesquisasrealizadasnosEstadosUnidosestimamque entre3,3milhõesa10milhõesdecriançasestãoexpostasà violênciaconjugalacadaano(Jaffe&Poisson,2000).
SegundoJouriles,McDonald,NorwoodeEzell(2001),a criançanãoprecisaobservaraagressãoparaserafetadapor ela.Assim,acriançaexpostaàviolênciaconjugaléaquela queviu,ouviuumincidentedeagressãoàmãe,viuoseu resultadoouvivenciouoseuefeitoquandointeragindocom seuspais(Holden,1998).
Estudosdecasoacercadosefeitosdaexposiçãoàvio-lência conjugal em crianças tiveram início na década de 70(Fantuzzo&Lindquist,1989;Kitzmann,Gaylord,Holt & Kenny, 2003; Kolbo, Blakely & Engleman, 1996). Na literaturanacional,foiidentificadoapenasumestudosobre criançasexpostasàviolência.Osdadosobtidosporelecon-firmamosdaliteraturaestrangeiraemrelaçãoàocorrência Aviolênciadomésticaabrangeaagressãodecrianças,
decônjugesdeambosossexosedeidosos(Sadock,1996) epodeincluiragressõesfísicas,psicológicasesexuais.No Brasil,asestatísticassobreotemasãoprecáriaseaindase falainsuficientementesobreaquestãodaviolênciadoméstica (Saffioti&Almeida,1995).Afaltadeinformaçõesoficiais dificultaaelaboraçãodeumdiagnósticomaisprecisopara subsidiarpolíticaspúblicasnestaárea(InstitutoBrasileiro deGeografiaeEstatística[IBGE],1999).
dedepressão,agressividade,isolamentoebaixaauto-estima (Corrêa&Williams,2000).
A literatura na área de crianças expostas à violência conjugal aponta os riscos acarretados por esse fenômeno paraodesenvolvimentocomportamental,emocional,social, cognitivo e físico das crianças (Brancalhone & Williams, 2003;Fantuzzo&Lindquist,1989;Kitzmann&cols.,2003; Kolbo&cols.,1996;Wolfe,Crooks,Lee,McIntyre-Smith &Jaffe,2003).Noentanto,osresultadosdaspesquisasnão implicamofatodequetodacriançaexpostaàviolênciacon-jugalteráproblemas,poismuitassãocapazesdeenfrentar adequadamenteesteseventos(Wolak&Finkelhor,1998).De fato,cercade37%dascriançasexpostasàviolênciamos-traramresultadossimilaresouatémelhoresqueascrianças nãoexpostas(Kitzmann&cols.,2003).
SegundoGraham-Bermann(1998),muitosfatoresinter-feremnomodopeloqualacriançalidacomaexperiência detestemunharaagressãodamãeealgumasdessascrianças apresentarãoproblemasdeajustamento.Essavulnerabilidade resultadeváriosfatores,sendoimportanteconsiderarquea respostadacriançapode,emparte,resultardoseutempera-mento,desuacapacidadeintelectual,oudeoutrasqualidades intraindividuaisquesãomediadorasdograudeajustamento acurtoelongoprazos.Aviolêncianãoocorreisolada,elaé partedeumaconstelaçãodeoutrosfatoresreconhecidospor afetaremodesenvolvimentodacriança(Graham-Bermann, 1998; Jouriles & cols., 2001; Wolak & Finkelhor, 1998; Wolfe&cols.,2003).
Narevisãodaliteraturaforamencontradospoucosestu-dosacercadodesempenhoacadêmicodascriançasexpostas àviolênciaconjugaleconstatou-seumaausênciadeestudos conduzidosporeducadoresouespecialistasnaárea.Penfold (1982)avaliou17criançasdecasaisemqueumdosparceiros agrediuooutro,eidentificouproblemasdecomportamento, dificuldades de aprendizagem, ansiedade, comportamento bizarro,dependênciaeasma.Osresultadosforamcongruen-tesaosdeWildin,WilliamsoneWilson(1991),emque75% dascriançastinhamproblemasdecomportamentoe46%das criançasemidadeescolartinhamevidênciadedificuldades acadêmicas como repetência, baixas notas e necessidade deserviçosdeEducaçãoEspecial,alémdefaltasescolares causadaspelofatodeamãetersidoagredida.
Westra e Martin (1981) estudaram 20 crianças de até oitoanosemuma“casaabrigo”paramulheresagredidas. Encontraramumbaixodesempenhonashabilidadesverbais, cognitivasemotoras,etendênciaaumcomportamentohostil eagressivo,emcomparaçãoaodesempenhopadrão.Dyson (1990)realizouumestudodecasoeilustrouoefeitonegativo daviolêncianaperformanceacadêmicaenocomportamento dascrianças.Sugereumaavaliaçãodaviolêncianodiagnósti-corotineirodecriançasqueapresentamfalhaescolar.Wolak eFinkelhor(1998)reforçamquecriançasdiagnosticadase tratadas devido a problemas de saúde mental, problemas acadêmicos e sociais devem ser questionadas sobre uma possívelexposiçãoàviolênciaconjugal.
Considerandoqueexistempoucosestudosabordando essa questão (Wolfe & cols., 2003), tão recentemente objetodepesquisa,equeháaltaincidênciadeviolência conjugal no Brasil, devido à impunidade e aos sérios problemaseconômicos,sociaiseculturaisqueenvolvem
opaís(Cabral&Brancalhone,2000),esteestudosefaz relevante.Oobjetivodomesmoconsisteemverificarse ascriançasqueestãoexpostasàagressãoconjugalsofrida pelamulher(mãe)têmodesempenhoacadêmicopreju-dicado, quando comparadas às crianças que não estão expostasàviolênciaconjugal.
Método
Este estudo comparou crianças expostas à violência conjugalcomcriançasnãoexpostas,controlandovariáveis significativascomosexo,idade,escolaridade,condiçãoso-cioeconômicaeconstituiçãofamiliar.Apesardoscontroles tomados, trata-se de um estudo correlacional, freqüente em pesquisas que buscam compreender o fenômeno da violência.
Participantes
OssujeitosforamcriançasdoEnsinoFundamentalde escolasmunicipaiseestaduaisdomunicípiodeSãoCarlos divididasentreosgruposAeB,comodescritoabaixo.
GrupoA(GA):15criançascomidadeentresetee11anos deambosossexos,cursandoasprimeirasquatrosériesdo EnsinoFundamental,cujasmãesdenunciaramaviolência sofrida na Delegacia de Defesa da Mulher de São Carlos (DDM) e que conviviam com uma figura masculina (pai biológicoounão)atéadatadatriagem.Comoacoletados dadoscomascriançasfoirealizadalogoapósadenúnciada mãe,acriançaparticipantepresenciaraosepisódiosviolen-tosrecentemente(dentrodoperíododeummês).Segundo FantuzzoeLindquist(1989)eGraham-Bermann(1998),é importanteinvestigarseacriançatemsidovítimadaviolên-cia,umavezqueexistemevidênciasquemostramque
crian-çasdemulheresagredidastêmumaltoriscodesetornarem vítimas,sendoistoconsideradoduranteatriagem.GrupoB(GB):cadacriançadoGAfoipareadacomuma doGB,grupovistocomonãoexpostoàviolênciaconforme critério,sendoessasdamesmasaladeaula,domesmosexo, faixaetária,nívelsócio-econômicoeconfiguraçãofamiliar (presençadopai).
Procedimento
Pararealizaçãodatriagemaprimeiraautorafreqüentou aDDMnoperíododeagostode2001anovembrode2002 eabordouasmulheresquefizeramdenúnciasdeagressão física.OutraestratégiautilizadafoiaconsultaaosBoletinsde Ocorrênciaparaselecionarasmulheresquehaviamsofrido agressão por parte do companheiro, para posteriormente contatá-lasduranteaaudiênciarealizadanoFórum.
Osprofessoresforneceramosdoisúltimosconceitosda criançaemMatemáticaeLínguaPortuguesaeresponderam umaversãotraduzidapelasautorasdaEAPA–Escalade Avaliação da Performance Acadêmica (DuPaul, Rapport & Perriello, 1991), que discrimina crianças com ou sem problemasdedesempenhonasaladeaula.AEAPAconsiste de19itens,pelosquaisoprofessorestimaodesempenho do aluno na última semana para atividades de matemáti-ca,linguagem,qualidadedotrabalho,leitura,entreoutras (exemplo:Estimequalaporcentagemdeexercíciosescritos dematemáticaqueelerealizou[semconsideraraexatidão] emrelaçãoaoscolegasdeclasse{0–49%}{50–69%}{70 –79%}{80–89%}{90–100%}).PararesponderaEAPA énecessárioqueoprofessorconvivahádoismesescoma criança,condiçãoquefoiinvestigadaerespeitadaduranteas aplicações.Porserumaescalaamericana,suasnormasnão foramutilizadas,sendoosdadosbrutosaliobtidos,compa-radosentreosgrupos.
Aprimeiraautoracoletoudadoscomtodasascrianças, utilizandooTDE–TestedeDesempenhoEscolar(Stein, 1994),queofereceumaavaliaçãoobjetivadascapacidades fundamentaisparaodesempenhoescolar.Otesteécomposto portrêssubtestes:escrita(escritadonomepróprioedepala-vrasisoladassobaformadeditado),aritmética(soluçãooral deproblemasecálculodeoperaçõesaritméticasporescrito)e leitura(reconhecimentodepalavrasisoladasdocontexto).
Resultados
Ascaracterísticasdascriançasparticipantes(sexo,idade, sérieescolar)podemservisualizadasnoQuadro1.
Quadro1.CaracterísticasdascriançasparticipantesdosgruposAeB
GrupoA GrupoB
Partici-pante Sexo Idade Série Partici-pante Sexo Idade Série
1 F 11,1 4ª 1 F 10,11 4ª
2 M 10,9 4ª 2 M 10,4 4ª
3 F 9,6 3ª 3 F 9,9 3ª
4 M 8,4 1ª 4 M 8,4 1ª
5 F 11,3 4ª 5 F 10,11 4ª
6 M 8,2 1ª 6 M 7,10 1ª
7 M 11,6 4ª 7 M 11,5 4ª
8 F 9,1 3ª 8 F 8,11 3ª
9 F 10,7 3ª 9 F 9,9 3ª
10 F 10,8 4ª 10 F 10,6 4ª
11 M 7,5 1ª 11 M 7,2 1ª
12 F 9,10 3ª 12 F 9,9 3ª
13 M 9,5 3ª 13 M 9,7 3ª
14 M 9,4 2ª 14 M 8,9 2ª
15 M 8,4 1ª 15 M 8,3 1ª
Observa-sequenosdoisgruposamaiorpartedascrianças estavanas3as.e4as.sériesequenenhumacriançaapresentou
distorçãosérie-idade.AmédiadarendapercapitadoGA foideR$134,00eadoGBdeR$147,13,eoresultadodo testet-Student(p=0,588)indicouquenãoexistediferença significativaentreosgruposquantoarenda.Deacordocom
orelatodasmãesdogrupoexposto(GA),14%delassofriam violênciafísicae86%dasmulhereseramvítimasdeviolência físicaepsicológica.Aviolênciafísicaincluía,entreoutras situações,soconacabeça(47%doscasos),fraturas(14% doscasos)eenforcamento(27%);jáaviolênciapsicológica secaracterizavaporinsultoseameaças(ameaçademorte, prometer100facadas).Em80%doscasosoagressorera o próprio pai da criança exposta, e em 20% dos casos, a agressão foi realizada pelo atual companheiro da mãe da criança.
Emrelaçãoaoperíododetempoemqueamãedacriança doGAsofriaviolência(atéadatadacoletadosdados),ob-serva-senaFigura1umagrandeconcentraçãodecasosnas duasprimeirascategorias,AtéumanoeAtétrêsanos,com 47%doscasos.Porém,tambémfoigrandeaquantidadede mãesvítimasdeviolênciaconjugalaMaisdedezanos,com 40%.Apartirdestedado,constata-sequealgumascrianças haviamconvividocomaviolênciaconjugaldurantetodaa vida(apenastrêscriançastinham11anoscompletos),oque ébastantepreocupante.
Figura 1.Período de tempo em que a mãe da criança do GA sofria violência.
NaavaliaçãodaEAPA,oGAobteve52.9pontoseoGB 67.8pontos,sendoque,pelosresultadosdotestet-Student
(p=0,026), verificou-se uma diferença significativa entre osgruposemrelaçãoàquelespontos.Quantoàsnotasde Português (p=0,248) e de Matemática (p=0,296), não existediferençaentreosgrupos.Emrelaçãoàsdificuldades dacriançanaescolaeàsnotasescolaresglobaisrelatadas pelasmães,nostestesrealizados,tambémnãoseconstatou diferençassignificativasentreosgrupos.
NaavaliaçãodoTDE,oGAobteveumapontuaçãomédia de74,07pontosnoEscoreTotal(mínimodetrêsemáximo de120pontos)para88,40pontos(mínimode10emáximo de 125) do GB. Na comparação entre os dois grupos por meiodotestet-Student(p=0,224)epelotestemultivariado
T2deHotteling(p=0,458;gl=3e26;F=0,893),adiferença
observadanãofoisignificativa.
masquandorespondiamàversãooriginaldaCTS-2,apareciam diversas situações de violência conjugal. Esta informação somentesetornoudisponívelapósoiníciodapresentecoleta dedados,masfoipossívelcoletardadosdecincomãesdo GBcomocontroleadicional,sobreosquaisnãoseconstatou discrepâncias em relação à informação obtida inicialmente pormeiodaentrevista;ouseja,todasascincomãesdoGB apresentaramresultadosnegativosnaCTS-2.
Figura2.Retaderegressão(ajustada)EAPAxTDE.
Foramrealizadasalgumasanálisesdaassociaçãoentre asdiversasvariáveisdoestudo.Entretanto,taisresultados forampoucoesclarecedores.Aanálisedaassociaçãoentre aEAPAeoTDEfoirealizadautilizando-seocoeficientede correlaçãolineareposteriorajustedaretaderegressãolinear, conformeindicaaFigura2.Osresultadosindicaramuma correlaçãodemedianaparaforte,ouseja,pode-sepensar queumacriançacomTDEbaixoprovavelmenteapresentará umresultadobaixonaEAPA.
Discussão
DascriançasdoGA,93%presenciaramaviolênciaso-fridapelamãe,confirmandoosdadosdepesquisas(Hilton, 1992) de que a maioria das crianças de casais violentos presenciaepisódiosagressivosdospais.
Osresultadoscontraditóriostornamainterpretaçãodifí-cil,umavezqueopresenteestudonãoencontroudiferenças nodesempenhoacadêmicodecriançasexpostasàviolência quandocomparadasaseusparesdefamíliasnãoviolentas nasavaliaçõesdosrelatosdasmães,notasdeMatemáticae LínguaPortuguesaeTDE,masencontroudiferençasentre osgruposnaavaliaçãodoprofessornaEAPA.
Tomou-seocuidado,nopresenteestudo,denãoinformar aosprofessoresqualeraacriançaqueestavaexpostaàviolên- cia.Noentanto,talvezosmesmospudessemterconhecimen-toprévioacercadessefato;nãoéincomumoprofessortertal informação,sejapormeioderelatosdasprópriascrianças, derelatosdasmães,oumesmo,derelatospormembrosda comunidade.Assim,hipotetiza-sequeodesempenhopreju-dicadodascriançasdoGAindicadopeloprofessorpossater sidoinfluenciadoporconhecimentospréviosdosmesmosa respeitodahistóriadevidadacriança.Éimportanteressaltar queaspontuaçõesdaEAPA,atribuídaspelosprofessores, sãoconceitossubjetivosquesofreminfluênciadediversos fatorescomooníveldeexigênciadoprofessor,asistemática
deavaliaçãoutilizadapelaescola,amotivaçãopararespon-dercorretamenteoinstrumento,ossentimentospessoaisem relaçãoaosalunos,entreinúmerosoutros.
Em situações de violência, é importante considerar o fenômenodaresiliência,caracterizadoporbonsresultados adespeitodassériasameaçasaodesenvolvimento(Masten, 2001). Esse constructo ajuda a esclarecer os resultados indicativosdequeascriançasexpostasàviolênciatêmde-sempenhoigualaodeseusparesnãoexpostos,umavezque característicasdacriançaefatoresdeproteçãomediariam asuaadaptação(Graham-Bermann,1998;Jaffe,Wolfe& Wilson, 1990; Masten, 2001; Wolak & Finkelhor, 1998; Wolfe&cols.,2003).Istoédegrandeimportância,umavez queserumbomestudanteéconsideradoumfortemecanismo deproteção(Rae-Grant,Thomas,Offord&Boyle,1989).
O fato de não apresentar diferenças no desempenho acadêmiconãosignificaqueessascriançasnãopudessem apresentar problemas de outra natureza, como depressão, baixaauto-estima,medoeagressividade,jádocumentados naliteratura(Corrêa&Williams,2000;Holden,1998;Jaffe &cols.,1990;Kitzmann&cols.,2003;Wolfe&cols.,2003). Taishipótesesnãofizerampartedoâmbitodoestudoepo-deriamserexploradasemoutrostrabalhos.
Considerandoaliteraturaatual,nãoéprudenterelacionar qualquer impacto sobre a aprendizagem com exposição à violência(Wolfe&cols.,2003).Defato,aintençãoinicial dessesautoresfoiincluirosresultadosdeavaliaçõesnaárea educacionalecognitivaemsuameta-análise;mas,segundo taispesquisadores,nãoexistiamestudossuficientesparatal inclusão.
Paralelamente,hátodaumaliteratura(Weinstein,2002) queargumentasobreoriscodaprofeciaauto-realizadorapor partedeprofessoreseoquantoénocivoatalprofissionala adoçãodebaixasexpectativasarespeitodeseusalunos,pois asexpectativasnegativascriameperpetuamoportunidades desiguaisparaaprender.
Outrosestudospoderãoaprofundarasquestõesaquitra-balhadascomumaprimoramentometodológico(replicação dosdadoscommaioresamostras).Umadificuldadeadicional dopresenteestudodizrespeitoàutilizaçãodaCTS-2pelo GB.Nãoépossívelafirmarcomplenacertezaquenasdez primeirasfamíliasparticipantesdoGBnãoexistiamepisódios deviolênciaconjugal,umavezquetalescalafoiaplicada apenasemcincoparticipantes.Alémdisto,convémlembrar quenoestudodeMaldonado(2003),aCTS-2foiaplicada emsuaversãooriginal(contendo78questões)enãoaversão adaptadapeloIBGE(1999),comdezquestões.Portanto,resta adúvidase,diantedeopçõesdiversificadas,aparticipantedo GBidentificariaepisódiosdeviolênciaconjugal.
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Recebidoem17.12.2003 Primeiradecisãoeditorialem13.05.2004 Versãofinalem05.07.2004