IDIOTIA AMAURÓTICA FAMILIAR, FORMA JUVENIL
E S T U D O C L Í N I C O Ε L A B O R A T O R I A L D E T R Ę S C A S O S
O . F R E I T A S J U L I Ă O *
H O R A C I O M . C A N E L A S * *
N O R B E R T O A . L O N G O * * *
Embora se trate de moléstia conhecida desde os primeiros anos do pre
sente século, săo ainda relativamente raras as publicaηőes referentes ΰ forma
juvenil da idiotia amaurσtica familiar. Particularmente na literatura brasi
leira săo em escasso n٥mero as observaηőes registradas: encontramse ape
nas os relatos de trκs casos de Valenηa (1942), um de Guimarăes (1930) e
outro de Marques (1947). Valenηa
4 1observou trκs casos de 12, 10 e 9 anos,
filhas de pais sadios e consang٧νneos, brancos, sem qualquer elemento judai
co na famνlia; as pacientes apresentavam o quadro clνnico caracterνstico
(idiotia, amaurose e convulsőes) e o exame de fundo de olho revelou retinite
pigmentar, acompanhada, em um dos casos, de descoramento da papila; deve
notarse, contudo, que o exame neuropsiquiátrico das pacientes năo pôde ser
realizado com o necessário rigor; Valenηa obteve ainda informaηőes que in
dicavam a existκncia de mais dois irmăos portadores de moléstia semelhante.
No caso de Guimarăes
1 6, os progenitores eram sνrios, năo havia a mancha
de Tay e o quadro neurolσgico era representado por paralisia espástica, amau
rose, convulsőes e demκncia; năo foi encontrada retinite pigmentar, mas ape
nas atrofia σptica; o inνcio da moléstia aos 3 anos e meio, contudo, leva a
pensar que se tratava de modalidade precoce da forma juvenil. Finalmente,
o caso de Marques
2 6 brevestese de caracteres clνnicos atνpicos, porquanto o
inνcio se havia processado aos 9 anos de idade, năo havia alteraηőes oftalmos
cσpicas e as manifestaηőes neurolσgicas, de tipo distônico, foram comparadas
ΰs encontradas na degeneraηăo hepatolenticular e na moléstia de Hallervor
denSpatz; o exame histolσgico revelou as tνpicas alteraηőes das células ner
vosas; o autor năo classifica seu caso em qualquer das diferentes formas
T r a b a l h o da C l ν n i c a N e u r o l σ g i c a ( P r o f . A d h e r b a l T o l o s a ) da F a c . M e d . da U n i v . de S ă o P a u l o , a p r e s e n t a d o no X I X C o n g r e s s o I n t e r n a c i o n a l de O t o n e u r o o f t a l m o l o ¬ g i a ( S ă o P a u l o , j u l h o 1 9 5 4 ) .
* L i v r e D o c e n t e e A s s i s t e n t e ; *'* A s s i s t e n t e ; *** P l a n t o n i s t a d e N e u r o c i r u r g i a .
Nota dos autores — E x p r e s s a m o s nossa p r o f u n d a g r a t i d ă o ΰ i n e s t i m á v e l c o l a b o
clνnicas da idiotia amaurσtica e parecenos, mesmo, que caberia melhor no
grupo das formas tardias. Os demais casos da literatura brasileira consti
tuem exemplos da forma infantil de TaySachs (um de Barbosa
4e F i a l h o
1 3;
um de Fonseca
1 4; trκs de Juliăo e c o l .
1 8) ou da forma infantil tardia, de
Bielschowsky (um caso de Trétiakoff e P u j o l
4 υ; um caso de M a r q u e s
2 6 a) ,
ou ainda de formas atνpicas (um caso de Aidar e Assis
l) .
Os trκs casos plenamente comprovados da forma juvenil de Batten e
Mayou, que ora apresentamos, representam, pois, uma contribuiηăo ΰ reduzida
casuνstica nacional. As curiosas particularidades do estudo heredofamilial e
genéticohematolσgico, os achados eletrencefalográficos, hematolσgicos e hu
morais por nσs assinalados, reforηam, segundo acreditamos, os motivos que
noi levam a divulgálos.
O B S E R V A Ç Υ E S
CASO 1 — T e r e s i n h a R . M . , s e x o f e m i n i n o , b r a s i l e i r a , c o m 16 a n o s de i d a d e , na t u r a l de A l a g o i n h a s ( E s t a d o da B a h i a ) , e x a m i n a d a no A m b u l a t σ r i o de N e u r o l o g i a d o H o s p i t a l das C l ν n i c a s da F a c u l d a d e d e M e d i c i n a da U n i v e r s i d a d e de S ă o P a u l o , e m 11 j u l h o 1953 ( r e g i s t r o m 330.808). Anamnese — A s p r i m e i r a s m a n i f e s t a η ő e s da m o l é s t i a o c o r r e r a m a o s 7 a n o s de i d a d e , a p r o x i m a d a m e n t e . N e s s a o c a s i ă o , a p σ s um " s u r t o f e b r i l " ( i n f o r m a η ő e s p r e s t a d a s p e l a p r o g e n i t o r a ) , a m e n i n a t o r n o u s e m u i t o a g i t a d a , a p r e s e n t a n d o , desde e n t ă o , d e s o r d e n s p s ν q u i c a s : r a s g a v a as roupas, m o r d i a a s pessoas, e t c . N a m e s m a é p o c a , m a n i f e s t a r a m s e d i s t ٥ r b i o s v i s u a i s , q u e r a p i d a m e n t e se a c e n t u a r a m , c u l m i n a n d o c o m o d e s a p a r e c i m e n t o c o m p l e t o d a v i s ă o . A o s 11 a n o s s u r g i r a m crises c o n v u l s i v a s , de t i p o g e n e r a l i z a d o , a c o m p a n h a d a s de p e r d a da c o n s c i κ n c i a . A d e s a g r e g a η ă o m e n t a l a c e n t u o u s e p r o g r e s s i v a m e n t e . H á a l g u n s meses v e m s e t o r n a n d o e x t r e m a m e n t e p á l i d a . A m e n o r r é i a h á 8 meses.
Antecedentes pessoais: N a s c i d a de t e r m o , p a r t o n o r m a l . D e s e n v o l v i m e n t o n e u r o
p s ν q u i c o n o r m a l a t é a i d a d e de 6 p a r a 7 a n o s : f a l o u a o s 18 meses, a n d o u aos 15 m e s e s ; h a v i a c o m e η a d o a f r e q ٧ e n t a r e s c o l a p r i m á r i a , q u a n d o a d o e c e u . D a s d o e n η a s c o m u n s na i n f β n c i a , t e v e s a r a m p o , v a r i c e l a e, a o s 6 anos, " a f e c η ă o f e b r i l " .
Antecedentes familiares: Os pais da p a c i e n t e , * q u e n e g a m q u a l q u e r a s c e n d κ n c i a
i s r a e l i t a , c o n t a m 40 a n o s de i d a d e e s ă o p r i m o s i r m ă o s . D o i s i r m ă o s da d o e n t e a p r e s e n t a m q u a d r o m σ r b i d o s e m e l h a n t e ( c a s o s 2 e 3 ) : Jesuνno, c o m 13 a n o s de i d a d e , e J o a q u i m , c o m 10. D o i s o u t r o s i r m ă o s , a t u a l m e n t e c o m 18 e 15 anos, s ă o sadios. U m i r m ă o f a l e c e u a o s 11 m e s e s de i d a d e , de causa i g n o r a d a . O p a i d a p a c i e n t e r e l a t a t e r c o n t r a ν d o s i f i l i s ; a m ă e é f o r t e e r e f e r e u m a b o r t o .
N a f a m ν l i a há n u m e r o s o s c a s a m e n t o s e n t r e seus p r σ p r i o s m e m b r o s ( p r i m o s e m l o ou 2<> g r a u ) . O p r σ p r i o pai da p a c i e n t e é f i l h o d e p r i m o s . U m a tia d a p a c i e n t e , por p a r t e da m ă e , t e v e dois f i l h o s , nos q u a i s , e m t o r n o dos 8 a n o s de i d a d e , i n s t a l o u s e " m o l é s t i a s e m e l h a n t e " ( a m a u r o s e , r e b a i x a m e n t o das f u n η ő e s i n t e l e c t u a i s , sνn d r o m e c o n v u l s i v a ) , e q u e f a l e c e r a m a o s 18 e 21 a n o s de i d a d e ; a m e s m a s i n t o m a t o l o g i a e s t á s e d e s e n v o l v e n d o a t u a l m e n t e n u m a das f i l h a s ( D . R . M . , c o m 13 a n o s de i d a d e ) , c u j o h e m o g r a m a r e v e l o u a e x i s t κ n c i a de l i n f σ c i t o s v a c u o l i z a d o s n a per c e n t a g e m de 35% ( 2 8 2 1 9 5 5 ) ; os o u t r o s 6 f i l h o s s ă o n o r m a i s ; essa t i a é t a m b é m c a s a d a c o m um p r i m o e m 2<> g r a u e r e s i d e no E s t a d o da B a h i a , o q u e i m p o s s i b i l i t o u u m e x a m e m a i s c o m p l e t o d e sua f i l h a . A o q u e consta, n u m o u t r o g r u p o da m e s m a f a m ν l i a ( p r i m o s e m 1" g r a u ) , e n t r e 10 i r m ă o s , 3 t e r i a m s i d o a c o m e t i d o s p e l a m e s m a m o l é s t i a , t e n d o f a l e c i d o u m d e l e s .
Exame sômato-neurológico — E s t a d o g e r a l p r e c á r i o , m u c o s a s v i s ν v e i s i n t e n s a
A o e x a m e d o c o r a ç ã o , o u v e - s e s o p r o s i s t ó l i c o i n t e n s o n o f o c o p u l m o n a r . P r e s s ã o a r t e r i a l 11565 m m H g ; pulso 100 b a t . / m i n ; t e m p e r a t u r a 37vC. A b d o m e : t i m p a n i s -m o e x a g e r a d o ; b a ç o e f í g a d o n ã o p a l p á v e i s . Siste-ma nervoso: G r a n d e e x c i t a ç ã o p s i c o m o t o r a . A m a u r o s e . E x i b e m o v i m e n t o s c o n t í n u o s , sem f i n a l i d a d e . F a l a c o n s t a n t e m e n t e , p o r m o n o s s í l a b o s , a l g u n s i n i n t e l i g í v e i s . O e x a m e n e u r o l ó g i c o , p r e j u d i c a d o p e l a a g i t a ç ã o p s i c o m o t o r a , d e m o n s t r a a u s ê n c i a de p a r a l i s i a s ou paresias e h i -p o r r e f l e x i a o s t e o t e n d í n e a g e n e r a l i z a d a . O e x a m e o f t a l m o l ó g i c o r e v e l a a e x i s t ê n c i a de n i s t a g m o v e r t i c a l , c o m c o m p o n e n t e r o t a t ó r i o , de c a r á t e r i n t e r m i t e n t e ; r e f l e x o s pu-p i l a r e s ( f o t o m o t o r e c o n s e n s u a l ) m u i t o d i m i n u í d o s , sendo a a c o m o d a ç ã o pu-p r e j u d i c a d a p e l a a m a u r o s e . C a t a r a t a das s u t u r a s . O e s t a d o p s í q u i c o da p a c i e n t e n ã o p e r m i t i u e x a m e s a t i s f a t ó r i o dos fundos o c u l a r e s , p e r m i t i n d o v e r i f i c a r , c o n t u d o , a e x i s t ê n c i a de a t r o f i a da p a p i l a , e m a m b o s os o l h o s , e d e s a p a r e c i m e n t o de v a s o s ( D r . S c a v o n e ) .
Exames complementares — Exame hematológico ( 2 8 - 5 - 1 9 5 3 ) : e r i t r ó c i t o s 1.900.000
p o r m m1
; h e m o g l o b i n a 3 g / 1 0 0 m l ; l e u c ó c i t o s 14.300 por m m:
' ( n e u t r ó f i l o s b a s t o n e tes 2 % , s e g m e n t a d o s 7 8 % ; e o s i n ó f i l o s 2 % ; b a s ó f i l o s 1 % ; l i n f ó c i t o s t í p i c o s 1 4 % ; m o n ó c i t o s 3 % ) ; a n i s o e p o i c i l o c i t o s e ; i n t e n s a h i p o c r o m i a ; d e s v i o à e s q u e r d a ; g r a n u l a -ηőes t σ x i c a s nos n e u t r σ f i l o s ; p l a q u e t a s a b u n d a n t e s . F o r a m r e a l i z a d o s m a i s trκs h e m o g r a m a s nos m e s e s s e g u i n t e s , c o m r e s u l t a d o s s e m e l h a n t e s ; n o ٥ l t i m o d e l e s ( e m 20 81953) f o r a m e n c o n t r a d o s r a r o s e r i t r o b l a s t o s . Reações sorológicas para sífilis ( W a s s e r m a n n , K a h n e K l i n e ) n e g a t i v a s . Uremia 59 m g / 1 0 0 m l . Proteínas plasmâticas ( e m g / 1 0 0 m l ) : t o t a i s 7,2; a l b u m i n a 4,7; g l o b u l i n a s 2,5; r e l a η ă o A / G 1,9 ( m é t o d o de G o r n a l l , B a r d a w i l l e D a v i d , c o m l e i t u r a e s p e c t r o f o t o m é t r i c a ) . Exame de fezes: l a r v a s d e Strongyloides stercoralis, o v o s d e Schistosoma mansoni, a n c i l o s t o m ν d e o s ,
Asca-ris lumbricoides, Trichocephalus trichiurus; cistos de Endamoeba coli e Endolimax nana. Exame de urina n o r m a l .
CASO 2 — J e s u ν n o R . M . , s e x o m a s c u l i n o , b r a s i l e i r o , c o m 13 anos de i d a d e , e x a m i n a d o e m 20101953 n o A m b u l a t σ r i o de N e u r o l o g i a ( r e g . H C 338.896). Anamnese — T i n h a 6 a n o s de i d a d e q u a n d o c o m e η o u a q u e i x a r s e de d i m i n u i η ă o da a c u i d a d e v i s u a l . E s t e d i s t ٥ r b i o a g r a v o u s e r a p i d a m e n t e ; e m p o u c o s m e s e s i n s t a l o u s e c e g u e i r a t o t a l . A o s 11 a n o s o c o r r e u a p r i m e i r a c o n v u l s ă o ; desde e n t ă o , a p r e s e n t a crises c o n v u l s i v a s , d e t i p o g e n e r a l i z a d o , c o m i n t e r v a l o s d e 10 a 15 dias. A i n t e l i g κ n c i a ficou s e r i a m e n t e c o m p r o m e t i d a , n ă o c o n s e g u i n d o a p r e n d e r o q u e se l h e t e n t o u e n s i n a r . A n t e c e d e n t e s : j á r e f e r i d o s e m r e l a η ă o a o caso 1.
Exame sômato-neurológico — E s t a d o g e r a l b o m ; m u c o s a s v i s ν v e i s c o r a d a s ; g β n
g l i o s de v o l u m e n o r m a l . C a r a c t e r e s s e x u a i s s e c u n d á r i o s b e m d e s e n v o l v i d o s . N o s pés o b s e r v a s e s i n d a c t i l i a p a r c i a l dos 2? e 3<> a r t e l h o s ; nas m ă o s , os dedos m ν n i m o s a p r e s e n t a m s e a r q u e a d o s , c o m a c o n c a v i d a d e p a r a d e n t r o . O e x a m e dos d i v e r s o s a p a r e l h o s n a d a r e v e l o u d i g n o de n o t a . Sistema nervoso: b r a d i p s i q u i s m o ; p a l a v r a confusa, a r r a s t a d a . M o v i m e n t a η ă o a t i v a c o n s e r v a d a ; f o r η a m u s c u l a r s e g m e n t a r e c o o r d e n a η ă o m o t o r a n o r m a i s . T o n o m u s c u l a r n o r m a l . H i p o r r e f l e x i a o s t e o t e n d ν n e a g e n e r a l i z a d a ; r e f l e x o c u t a n e o p l a n t a r e m f l e x ă o ; a u s e n t e s os sinais d e R o s s o l i m o e M e n d e l B e c h t e r e w ; r e f l e x o s c u t β n e o a b d o m i n a i s e c r e m a s t é r i c o s n o r m a i s . S e n s i b i l i d a d e n o r m a l . P s i q u i s m o : c o n s c i e n t e ; o r i e n t a d o q u a n t o ΰ sua pessoa e a o m u n d o o b j e t i v o ; n o η ă o d e m o l é s t i a , m u i t o e m b o r a s e m a c o m p r e e n s ă o g l o b a l da s i t u a η ă o ; d e f i c i κ n c i a p a r a a f i x a η ă o e e v o c a η ă o dos a c o n t e c i m e n t o s , s e c u n d á r i a ΰs a l t e r a η ő e s na e s f e r a i n t e l e c t u a l ; r e b a i x a m e n t o g l o b a l d a s funηőes i n t e l e c t u a i s ; p e r s e v e r a η ă o , v e r b i g e r a η ă o ; a l e n t e c e r d a a s s o c i a η ă o i d e i a t i v a ; e x p r e s s ă o m ν m i c a a d e q u a d a ; c o m p o r t a m e n t o g l i s c r σ i d e , i m p u l s i v o e p u e r i l ( D r . J o s é L o n g m a n ) .
Exames complementares — Exame neurocular: E s t r a b i s m o c o n v e r g e n t e , p r i n c i
B a r r o s ) . Eletrencefalogramas: v e r c o m e n t á r i o s . Craniograma: d i p l o e de m a l h a s g r o s seiras, densas, c o m t r a b é c u l a s e s p e s s a d a s ; s e l a t u r c a d e t i p o i n f a n t i l ( r e d u ç ã o v o -l u m é t r i c a g -l o b a -l ) ; h i p e r t r o f i a das c -l i n ó i d e s e c a -l c i f i c a ç ã o d o d i a f r a g m a s e -l a r ; escassa p n e u m a t i z a ç ã o d o seio e s f e n o i d a l e p r e s e n ç a de s i n c o n d r o s e e s f e n o c c i p i t a l ( d o b r a d i ç a d e C h a u v a n ) ; n ã o há c a l c i f i c a η ő e s p a t o l σ g i c a s , n e m sinais d e h i p e r t e n s ă o i n t r a c r a n i a n a ; q u a d r o de r e t a r d o na e v o l u η ă o o s t e o g e n é t i c a . Pneumencefalograma: escassa q u a n t i d a d e de a r nos e s p a η o s s u b a r a c n σ i d e o s ; v e n t r ν c u l o s l a t e r a i s e t e r c e i r o v e n t r ν c u l o c o m f o r m a , d i m e n s ő e s e p o s i η ă o n o r m a i s . Liqüido cefalorraqueano, e m 2110 1953: p u n η ă o s u b o c c i p i t a l c o m o p a c i e n t e d e i t a d o ; u m a c é l u l a p o r m m3
; p r o t e ν n a s 15 m g / 1 0 0 m l ; c l o r e t o s 700 m g / 1 0 0 m l ; g l i c o s e 80 m g / 1 0 0 m l ; r e s t a n t e n o r m a l . Exame
hematológico ( r e f e r i m o s a p e n a s u m dos v á r i o s e x a m e s r e a l i z a d o s , cujos r e s u l t a d o s
f o r a m c o m p a r á v e i s ) : e r i t r σ c i t o s 5.100.000 p o r m m3
; h e m o g l o b i n a 12,9 g / 1 0 0 m l ; V G 0,8; l e u c σ c i t o s 5.100 p o r m m: i
( n e u t r σ f i l o s b a s t o n e t e s 8%, s e g m e n t a d o s 5 5 % ; e o s i n σ f i l o s 1 0 % ; l i n f σ c i t o s t ν p i c o s 2 2 % ; m o n σ c i t o s 5 % ) ; d e s v i o ΰ e s q u e r d a , e o s i n o f i l i a , neu t r σ f i l o s c o m g r a n u l a η ő e s t σ x i c a s . E m 1561954 f o r a m e n c o n t r a d o s 15% de
linfóci-tos vacuolizados; e m 621956 a p r o p o r η ă o se e l e v a r a p a r a 2 8 % . Mielograma ( 2 4 6
1 9 5 4 ) : M a t e r i a l n o r m o c e l u l a r . R e l a η ă o G / E de 2 : 1 . D i s c r e t o a u m e n t o d e m i e l o b l a s tos. S é r i e n e u t r σ f i l a c o m m a t u r a η ă o c o n s e r v a d a . E o s i n o f i l i a m o d e r a d a . L i n f o c i t o s e ( c o n t a m i n a η ă o ? ) . H i p e r p l a s i a m o d e r a d a da s é r i e e r i t r o b l á s t i c a . N a d a a a n o t a r na s é r i e m e g a c a r i o c ν t i c a . D e n t r e os e l e m e n t o s l i n f σ i d e s a d u l t o s , a l g u n s s ă o v a c u o l i z a dos. Dosagens no sangue r e f e r i d a s n o q u a d r o 1. Eletroforese das proteínas
plasmá-ticas e do liqüido cefalorraqueano: v e r c o m e n t á r i o s . Provas de função hepática ( r .
W e l t m a n n , r. H a n g e r , r. f o r m o l g e l e r. t i m o l ) n o r m a i s .
CASO 3 — J o a q u i m R . M . , s e x o m a s c u l i n o , b r a s i l e i r o , c o m 10 a n o s de i d a d e , e x a m i n a d o e m 22121953 n o A m b u l a t σ r i o de N e u r o l o g i a ( r e g . H C 352.905). Anamnese — A o s 6 a n o s de i d a d e c o m e η o u a n o t a r d i m i n u i η ă o da a c u i d a d e v i s u a l , q u e se f o i a c e n t u a n d o p r o g r e s s i v a m e n t e . N o f i m de u m a n o , j á se h a v i a e s t a b e l e c i d o c e g u e i r a c o m p l e t a . N u n c a t e v e c o n v u l s ő e s *. S e g u n d o as i n f o r m a η ő e s p r e s t a d a s p e l a p r o g e n i t o r a , e s t e é u m m e n i n o i n t e l i g e n t e , f r e q ٧ e n t a n d o e s c o l a p r i m á r i a a t u a l m e n t e , e m i n s t i t u t o p a r a c e g o s . A n t e c e d e n t e s : n a d a d i g n o d e r e g i s t r o , a l é m d o j á r e f e r i d o a o t r a t a r m o s do caso 1.
Exame sômato-neurológico — B o m e s t a d o g e r a l . O e x a m e dos d i f e r e n t e s a p a
r e l h o s n a d a r e v e l o u de a n o r m a l . Sistema nervoso: A u s κ n c i a d e a l t e r a η ő e s m o t o r a s ; f o r η a m u s c u l a r s e g m e n t a r e c o o r d e n a η ă o dos m o v i m e n t o s , n o r m a i s . R e f l e x o s super f i c i a i s e o s t e o t e n d ν n e o s , n o r m a i s . T o n o m u s c u l a r e s e n s i b i l i d a d e n o r m a i s . P s i q u i s m o : a d e t e r m i n a η ă o d o n ν v e l m e n t a l ( D r . P a u l o V a z de A r r u d a ) r e v e l o u a t r a s o d e 1 a n o ( d e b i l i d a d e m e n t a l l e v e ) .
Exames complementares — Exame oftalmológico: L e v e c o n v e r g κ n c i a dos g l o b o s
o c u l a r e s . D i s c r e t o n i s t a g m o h o r i z o n t a l . P u p i l a s i s o c σ r i c a s e i s o c r ô m i c a s ; r e f l e x o s ΰ luz e c o n s e n s u a l l e n t o s ; a c o m o d a η ă o p r e j u d i c a d a p e l a a m a u r o s e . F u n d o s o c u l a r e s : p a p i l a s de l i m i t e s e n ν v e i s n o r m a i s , de c o l o r a η ă o r σ s e o a m a r e l a d a , t e n d e n d o p a r a o a m a r e l o s u j o ( " c e r a de v e l a " ) ; a r t é r i a s e s t r e i t a d a s e v e i a s de a s p e c t o n o r m a l ; r e t i n a l e m b r a n d o o t i p o s a l p i m e n t a , m u i t o t κ n u e ; r e t i n i t e p i g m e n t a r , sem p i g m e n t o ( D r . P a u l o B . M a g a l h ă e s ) . Eletrencefalograma: v e r c o m e n t á r i o s . Exame
hematoló-gico: e r i t r σ c i t o s 4.100.000 p o r m m: )
; h e m o g l o b i n a 12,6 g / 1 0 0 m l ; V G 0,95; l e u c σ c i tos 7.900 p o r mmJ
( n e u t r σ f i l o s m e t a m i e l σ c i t o s 1%, b a s t o n e t e s 8%, s e g m e n t a d o s 3 0 % ; e o s i n σ f i l o s 8%; l i n f σ c i t o s t ν p i c o s 5 0 % ; m o n σ c i t o s 3 % ) ; d e s v i o ΰ e s q u e r d a ; n e u t r σ f i l o s c o m g r a n u l a η ő e s t σ x i c a s , e o s i n o f i l i a . E m 1161954 f o i o b s e r v a d a vacuolização e m 6% dos l i n f σ c i t o s ; e m 621956, a p r o p o r η ă o j á s u b i r a p a r a 1 9 % . Mielograma
( 2 4 5 1 9 5 4 ) : M a t e r i a l n o r m o c e l u l a r . R e l a ç ã o G / E d e 2 : 1 , a p r o x i m a d a m e n t e . M o d e r a d a a n a p l a s i a na s é r i e n e u t r ó f i l a . E o s i n o f i l i a . N a d a a a n o t a r nas séries e r i t r o -b l á s t i c a e p l a q u e t í n e a . Escassos l i n f ó c i t o s v a c u o l i z a d o s . Dosagens no sangue: v e r q u a d r o 1. Eletroforese das proteínas plasmáticas c do líquido cefalorraqueano: v e r c o m e n t á r i o s . Provas de função hepática ( r e a η ő e s d e W e l t m a n n , f o r m o l g e l , t i m o l e d e H a n g e r ) n o r m a i s .
C O N S I D E R A Ç Υ E S G E R A I S S O B R E A I D I O T I A A M A U R Ó T I C A F A M I L I A R
Distinguemse várias formas clínicas de idiotia amaurσtica familiar, mui
tas delas transicionais: idiotia amaurσtica congκnita (lipidose descrita por
Norman e W o o d
2 7, em 1941); o tipo infantil, de Tay
3 7e Sachs
3 0; a forma
infantil tardia, ou melhor, juvenil precoce, descrita por Bielschowsky
6; a
forma juvenil, de Batten e M a y o u
5; a forma tardia ou do adulto, de Kufs
2 0,
que compreende ainda uma variedade muito tardia (van Bogaert e Borre
m a n s
8) . As formas infantil e juvenil representam, a nosso ver, os tipos po
lares da afecηăo.
A distinηăo entre as várias formas baseiase especialmente na idade de
aparecimento dos primeiros sintomas, no ritmo evolutivo, no quadro oftalmo
lσgico e nas manifestaηőes neurolσgicas. Assim, na forma infantil o inνcio
se processa entre o e o 8
9lente na raça israelita. Na forma juvenil precoce, os primeiros sintomas
surgem entre dois e três anos de idade; a evolução também é rápida e
pro-gressiva, determinando a morte dentro de 3 anos, na maioria das vezes; o
exame do fundo ocular revela fina pigmentação retiniana e, às vezes, atrofia
óptica; o quadro neurológico é dominado por distúrbios cerebelares. Na
for-ma juvenil típica, o início ocorre dos 5 aos 8 anos, o for-mais tardar aos 13
A Z;
a evolução é relativamente longa, de 10 a 15 anos; observa-se
degenerescên-cia retiniana e, quase sempre, atrofia óptica; os sinais neurológicos são
re-presentados por convulsőes e alteraηőes motoras de tipo extrapiramidal e ce
rebelar. Na forma tardia, os sintomas principiam entre 15 e 26 anos, tendo
sido descritas, porém, modalidades de inνcio muito tardio, ocorrendo já na
présenilidade; a evoluηăo, muito lenta, ultrapassa geralmente 15 anos; de
regra, năo há dist٥rbios visuais; o quadro neurolσgico é semelhante ao da
forma juvenil. Manifestaηăo comum a todas as formas é a decadκncia men
ta! progressiva.
Notase, portanto, que, ΰ medida que avanηa a idade de inνcio da mo
léstia, a evoluηăo tende a se prolongar, os dist٥rbios visuais a decrescer de in
tensidade e o acometimento extrapiramidal a se acentuar. Contudo, embora o
critério etário seja de capital importβncia para a distinηăo dos vários tipos,
é necessário ter em mente que algumas formas infantis podem ter um inνcio
protelado para épocas mais tardias, assim como formas juvenis podem insta
larse já na idade adulta; a existκncia de ocorrκncias precoces da forma de
Kufs também deve ser levada em conta. Por outro lado, embora o caráter
heredofamiliar seja marcante em todas as modalidades, pode verificarse al
ternβncia de formas infantis e juvenis na mesma famνlia
1 2. Ainda convém
frisar que Kufs referiu casos de lesăo macular pura, a par de outros apenas
com lesăo cerebral
1 1; S o r s b y
3 2estabeleceu, por outro lado, que as formas
macular e cerebral puras nunca coexistem na mesma famνlia. A sintomato
logia de cada forma clνnica, embora sujeita a variaηőes, tende a revestir o
mesmo tipo e a seguir evoluηăo idκntica nos membros da mesma fratria
7.
Todos os tipos de idiotia amaurσtica reconhecem como fundamento
histo-patológico as alteraηőes degenerativas do citoplasma das células ganglionares
da retina e do neuraxe; as células gliais também săo secundariamente atin
gidas. De maneira geral, as células se tumefazem, o pericárion e os prolon
gamentos passam a conter massas granulosas constituνdas por lνpides; a subs
tβncia de Nissl fica reduzida a grβnulos muito finos, dispostos ao redor do
n٥cleo; as neurofibrilas, embora deslocadas para a periferia, năo sofrem al
teraηőes tăo intensas. Entretanto, apesar do grau das lesőes celulares e da
longa evoluηăo em alguns tipos da moléstia, os n٥cleos se apresentam rela
tivamente conservados, as bainhas de mielina e os axônios permanecem quase
intactos, o que explica a persistκncia de relativa integridade funcional
2 4.
Marburg
2 5No estudo da idiotia amaurótica, os aspectos histoquímicos são de
impor-tância capital. Entre as tesaurismoses do sistema nervoso, são das mais
ca-racterísticas aquelas que afetam o metabolismo dos fosfatídeos. Elas podem
ser divididas em três grupos: a) moléstia de Gaucher, em que se processa
armazenamento de cerebrosídeos; b) moléstia de Niemann-Pick, na qual
acorre acúmulo de esfingomielina; c ) idiotia amaurótica familiar,
caracteri-zada por entesouramento de gangliosídeos. Esses três fosfatídeos pertencem
ao grupo dos esfingolípides, isto é, contêm como componente fundamental a
esfingosina, que se une com um ácido graxo sob a forma de amida
(cera-m i d a
3 8) . K l e n k
1 9, que se tem particularmente ocupado do estudo
bioquí-mico desses compostos, publicou, recentemente, um trabalho em que os
es-tuda pormenorizadamente. As ceramidas constituem a parte lipófila da
mo-lécula desses fosfatídeos; a distinção entre eles se faz de acordo com o
com-ponente hidrófilo, que, nos cerebrosídeos, é uma hexose (glicose ou
galacto-se), nas esfingomielinas é o ácido colinofosfórico, e nos gangliosídeos é um
complexo hidrocarbonado de molécula elevada, possuindo o ácido neuramínico
como característica principal. Enquanto gangliosídeos e esfingomielinas
pos-suem ácidos graxos com C
1 8(ácido esteárico) e C ,
4(ácido linhocérico), os
cerebrosídeos só possuem ácidos com C
2 4. Por outro lado, cerebrosídeos e
esfingomielinas predominam na substância branca (são os componentes das
bainhas de mielina), ao passo que os gangliosídeos se encontram quase
ex-clusivamente na substância cinzenta (são constituintes dos neurócitos). Os
gangliosídeos são encontrados, na moléstia de Tay-Sachs, em taxas que
so-brepujam a normalidade de 5 a 10 vezes; na moléstia de Niemann-Pick seu
teor ultrapassa ligeiramente o normal.
Apesar da demonstração da associação intrafamiliar da idiotia
amauró-tica e da moléstia de Niemann-Pick
7, já não se admite que aquela constitua
como que a forma nervosa pura desta última. Se não bastassem as
diver-sidades reveladas pelos estudos histoquímicos da substância armazenada e as
diferenças dos quadros neurológicos, ainda se poderiam referir outros
carac-teres distintivos revelados pela histopatologia nervosa. Assim, a
degenera-ção lipídica das células ganglionares da retina é muito menos intensa na
moléstia de Niemann-Pick que na idiotia amaurótica, não sendo encontrada
atrofia óptica; para Rintelen (cit. por W a l s h
4 3) as alteraηőes maculares do
tipo Tay observadas em alguns casos de NiemannPick năo săo patognomô
nicas de uma identidade mσrbida, pois aparecem sempre que ocorrerem de
sordens necrobiσticas das células ganglionares, acompanhadas simultanea
mente de degeneraηăo gordurosa dos componentes celulares. Nesta ٥ltima
forma de lipidose o processo degenerativo cérebroretiniano estendese a es
truturas de origem mesodérmica (no cérebro, as leptomeninges, tela coriσidea
e paredes vasculares; no globo ocular, as camadas nucleares da retina, o
tracto uveal, a esclerσtica e a adventνcia vascular), o que năo sucede na
idiotia amaurσtica familiar
2 8. Por fim, as células granulosas do cerebelo
estăo geralmente poupadas na moléstia de NiemannPick, ao passo que, na
idiotia amaurσtica, săo sede de intensos processos degenerativos
7Quanto à patogenia da idiotia amaurótica familiar, deve tratar-se, como
na moléstia de Niemann-Pick, de anormalidade do metabolismo intracelular
e não do metabolismo intermediário, pois não se verifica, geralmente,
aumen-to da taxa sangüínea de fosfolípides
3 S. Desmielinização da substância
bran-ca cerebral, discreta e em plabran-cas, só foi descrita na forma infantil, o que
indicaria uma parada no processo de mielinização, em lugar de dcgeneração
da mielina pré-existente
2. É importante realçar também que, na forma
ju-venil, à sobrecarga lipídica se associa a persistência de aspectos fetais ou
infantis dos elementos neurais, especialmente observados nas células
pigmen-tadas da substância negra e do tronco cerebral
! )e ao nível do córtex
cere-bral, onde persistem as células horizontais de C a j a l
2 4. Aliás, o estudo do
metabolismo cerebral na idiotia amaurótica familiar revela um aumento na
diferença arteriovenosa de oxigênio, comparável ao que se observa em
recém-nascidos, apesar da substituição de grande parte dos constituintes neuronals
por lípides, que são substâncias inertes do ponto de vista respiratório
1 7.
Portanto, embora se discuta ainda a patogenia do processo lesional, não cabe
dúvida que as alteraηőes se instalam em estruturas que sofreram um atraso
na citogκnese
7.
F O R M A J U V E N I L
Stengel
3 4, já em 1826, havia observado 4 irmăos que, aos 6 anos de
idade, apσs um desenvolvimento psicomotor normal, comeηaram a apresentar
deterioraηăo mental progressiva e amaurose; aos 14 anos surgiram crises
convulsivas; faleceram aos 20 anos. Em 1903, B a t t e n
5 aobservou oftalmos
cςpicamente, em duas irmăs, uma lesăo pigmentar simétrica das máculas,
surgida, respectivamente, aos 5 e 7 anos de idade, e associada a rebaixamen
to mental; no ano seguinte, o mesmo quadro foi observado em trκs casos
por Mayou
5 b; uma dessas pacientes veio a falecer, tendo Batten e Mayou
5 cdescrito, em 1915, o quadro anátomopatolσgico. Por outro lado, Vogt
4 2, em
1905, descreveu moléstia semelhante ΰ de TaySachs, caracterizada também
por amaurose, idiotia e convulsőes, porém sem a mancha vermelhocereja da
mácula e cujos primeiros sinais surgiam durante o fim da primeira ou inνcio
da segunda década. Spielmeyer
3 3, em 1906, fκz o estudo anátomopatolσgico
da afecηăo, verificando sua grande semelhanηa com as lesőes da idiotia amau
rσtica infantil. Em 1908, S t o c k
3 5descreveu o quadro ocular, distinguindoo
do da forma de TaySachs, e Schob
3 1, em 1912, estudou a patologia da mo
léstia, ressaltando também a presenηa de sintomas ataxoespasmσdicos na
forma juvenil.
Convém referir aqui a possibilidade de quadros clνnicos superponνveis aos
da idiotia amaurσtica ocorrerem de par com alteraηőes histolσgicas do tipo
da moléstia de Alzheimer. A este propσsito é muito ilustrativo o caso de
Lőken e Cyvin
2 3foi verificada atrofia óptica e retinite pigmentar. Faleceu nessa data e à
necrópsia não foram encontradas as alteraηőes histopatolσgicas caracterνsti
cas da idiotia amaurσtica, mas sim placas senis corticais difusas e alteraηőes
fibrilares nas células ganglionares. Revendo a literatura, Lőken e Cyvin en
contraram outros casos semelhantes ao seu.
Os aspectos histopatológicos da forma juvenil da idiotia amaurσtica, como
dissemos, săo comuns ΰs várias formas de idiotia amaurσtica. As diferenηas
que se observam săo mais de ordem quantitativa que qualitativa. Assim,
na forma infantil, as lesőes cerebrais săo mais difusas e a destruiηăo celular
é mais intensa que na forma juvenil. Nesta, o conte٥do vacuolar tem me
nos afinidade pela hematoxilina férrica e maior para os corantes de gordu
ras neutras; a macroglia participa de maneira mais manifesta na tesauriza
η ă o
7; as alteraηőes da mielina săo menos intensas que no tipo TaySachs
2.
O processo patolσgico é mais intenso em trκs territσrios: cσrtex cerebral, in
clusive faixa denteada; cσrtex cerebelar, sobretudo nas células de Purkinje;
neostriado, onde sobressai o ac٥mulo de lνpides na macroglia. N o cσrtex ce
rebral, particularmente, observase lipidose difusa e tumefaηăo das células
ganglionares; desaparecimento celular năo sistematizado, porém, mais eviden
te nas camadas I I I e V ; esclerose da camada molecular, com perda das fibras
tangenciais
2 4. Portanto, a tesaurismose năo apresenta eletividade para um
determinado sistema cortical, embora exista comprometimento preferencial de
certos tipos de células. No tálamo, contudo, Lemieux
2 1verificou que as al
teraηőes histopatolσgicas sσ incidiam nas células de relay cortical e nos n٥
cleos de associaηăo; estavam indenes as células de conexăo subcortical.
Na retina, as lesőes também diferem amplamente nos dois tipos. En
quanto na forma infantil săo comprometidas exclusivamente as células gan
glionares, na juvenil também as camadas externas săo atingidas. A degene
raηăo do neurepitélio é primária e tăo seletiva quanto a das células granu
lares do cerebelo; as alteraηőes săo mais pronunciadas na regiăo macular.
Nas camadas superficiais da retina, precocemente se desintegram os cones e
bastonetes, a camada nuclear externa se rarefaz e, em seguida, há substitui
ηăo por células gliais, hiperplasia do epitélio pigmentar e invasăo da retina
por grβnulos pigmentares. A retina pode adelgaηarse extremamente, sσ sen
do reconhecνveis as células ganglionares e suas fibras, a camada reticular
interna e a nuclear interna, para fora das quais se encontra u'a massa de
tecido irregular, constituνdo essencialmente por glia e grande quantidade de
pigmento. Por fim, toda a estrutura da retina desaparece, seguindose a de
generaηăo uniforme de todos os elementos nervosos (DukeElder
1 1) .
Do ponto de vista histoquímico, até há pouco, a análise sσ conseguira
esclarecer a natureza da substβncia armazenada na forma infantil de Tay
Sachs; especialmente no que tange ΰ forma juvenil, o estudo de 6 casos, feito
por K l e n k
1 0, resultou negativo, revelando um teor normal de gangliosνdeos.
Entretanto, recentemente, D i e z e l
1 0aventa a possibilidade de que, com o progredir da idade, decresça a atividade
da tesaurismose, reduzindo-se a proporção do componente glicolipídico dentro
da mistura acumulada; tal fato identificaria as várias formas de idiotia
amau-rótica como variedades etárias da mesma moléstia. Quanto à substância
en-contrada nas células gliais, trata-se do produto da reabsorção das células
ganglionares.
O quadro clínico da forma juvenil está atualmente bem estabelecido, a
ponto de Sjogren e Sjővall (cit. por van B o g a e r t
7) falarem no aspecto "foto
gráfico" de suas observaηőes. A moléstia, com caráter heredofamiliar mar
cante, năo é privativa ou prevalente em qualquer raηa, embora Sjogren te
nha observado numerosos casos na Suécia, o que atribuiu ao fato de que os
ancestrais eram provavelmente heterozigotos, seguindo uma heranηa recessiva
monohνbrida. A existκncia de consang٧inidade nos ascendentes é digna de
realce.
Em nossos casos, a consangüinidade era extraordinariamente marcante.
Os progenitores dos pacientes eram primos em l
9grau e em seus ascenden
tes contavamse, também, numerosos matrimônios entre primos.
N o s e n t i d o de d o c u m e n t a r esse c a r a c t e r ν s t i c o e x i b i d o p o r nossos casos, s o l i c i t a m o s o estudo dos tipos sangüíneos na f a m ν l i a p o r nσs e s t u d a d a , o q u a l f o i r e a l i z a d o no I n s t i t u t o Oscar F r e i r e p e l o D r . O d o n R . M a r a n h ă o , c u j o r e l a t σ r i o é o s e g u i n t e : " O e s t u d o dos t i p o s s a n g ٧ ν n e o s p r o c e d i d o nos m e m b r o s dessa f a m ν l i a p o r t a d o r a de casos d e i d i o t i a a m a u r σ t i c a f a m i l i a r v i s o u a e s c l a r e c e r os s e g u i n t e s i t e n s : a ) a c o n s a n g ٧ i n i d a d e dos g e n i t o r e s dos p a c i e n t e s ; b ) a e s t r u t u r a g e n é t i c a da f a m ν l i a , e s c l a r e c e n d o u m a p o s s ν v e l i d e n t i d a d e o u s e m e l h a n η a d e f a t o r e s , a ) Consangüinidade
dos genitores —• O e s t u d o i s o l a d o dos g r u p o s s a n g ٧ ν n e o s n ă o p e r m i t i r i a u m a a f i r m a
η ă o de c o n s a n g ٧ i n i d a d e , m a s a p e n a s o e s t a b e l e c e r s e p e r t e n c e r e m a m b o s a g r u p o s i d κ n t i c o s . E n t r e t a n t o , o i n q u é r i t o f a m i l i a r p e r m i t i u v e r i f i c a r t r a t a r s e de g e n i t o r e s p r i m o s e n t r e si. A s p r o v a s l a b o r a t o r i a i s e v i d e n c i a r a m : 1 —• A m b o s p e r t e n c e m a o g r u p o 0 ( o u z e r o ) da c l a s s i f i c a η ă o , o u m e l h o r , d o s i s t e m a ABO, d e s c r i t o p o r D u n g e r n H i r s z f e l d . S e g u n d o e s t a t ν s t i c a s de v á r i o s a u t o r e s n a c i o n a i s e, p a r t i c u l a r m e n t e , as r e a l i z a d a s n o I n s t i t u t o O s c a r F r e i r e p e l o P r o f . F l a m ν n i o F á v e r o e F a r m . E l i s a N o v a h , esse g r u p o é o q u e e n c e r r a m a i o r n ٥ m e r η de pessoas. E m o u t r o s t e r m o s , é o m a i s f r e q ٧ e n t e e m nosso m e i o . P o r o u t r o l a d o , o c r u z a m e n t o e n t r e duas pessoas p e r t e n c e n t e s a esse g r u p o a s s e g u r a u m a d e s c e n d κ n c i a t o t a l m e n t e e n q u a d r a d a n o m e s m o g r u p o . A a u s κ n c i a dos a g l u t i n σ g e n o s A e Β e a p r e s e n η a das a g l u t i n i n a s a e b sσ p o s s i b i l i t a m u m t i p o d e c r u z a m e n t o . D e s t a f o r m a , p o d e r ν a m o s e s t a b e l e c e r q u e t o d o s os f i l h o s l e g ν t i m o s do c a s a l p e r t e n c e m a o m e s m o g r u p o . 2 — P a s s a n d o s e a o s i s t e m a MN, d e s c r i t o p o r L e v i n e e L a n d s t e i n e r , v e r i f i c a m o s q u e o p a i dos e n f e r m o s p e r t e n c e a o g r u p o IV e a m ă e , a o g r u p o MN. N e s t e sistema, a m b o s os f a t o r e s s ă o d o m i n a n t e s e i g u a l m e n t e s e g r e g á v e i s . C r u z a n d o s e MN c o m N, t e r e m o s c o m o possi b i l i d a d e s g e n é t i c a s os t i p o s Ν e MN. É c u r i o s o n o t a r q u e a d i s t r i b u i η ă o dos f i l h o s v i v o s do c a s a l e m e s t u d o o b e d e c e a e s t a r e g r a , de m o d o a b s o l u t o , s e g u n d o p r o p o r η ă o p r e v i s ν v e l . 3 — T a m b é m o s i s t e m a L a n d s t e i n e r L e v i n e , Rh-Hr, f o i o b j e t o de p r o v a s e o b s e r v a η ő e s . Os p a i s dos p a c i e n t e s p e r t e n c e m a o s s e g u i n t e s s u b g r u p o s d o Rh p o s i t i v o : Rh1 (Rh0 + Rh') e Rh" p o s i t i v o . H á u m a i d e n t i d a d e de f a t o r e s nessas pessoas.
É c u r i o s o o b s e r v a r q u e t o d o s os f i l h o s t κ m essa m e s m a e s t r u t u r a g e n é t i c a . T a l i d e n t i d a d e n ă o seria o b r i g a t σ r i a f r e n t e ΰs l e i s g e n é t i c a s q u e r e g e m a h e r a n η a desses f a t o r e s . 4 — Dessa f o r m a , p o d e m o s e s t a b e l e c e r a e x i s t κ n c i a de u m a e s t r u t u r a g e n é t i c a q u a s e i d κ n t i c a nos g e n i t o r e s d a f a m ν l i a e m e s t u d o e, a l i a n d o t a i s d a d o s a i n f o r m e s pessoais dos e x a m i n a n d o s , c o n c l u i r p o r u m a estreita consangüinidade entre
eles. b ) Fatores sangüíneos familiares ( f i g . 1 ) — T o d o s os f i l h o s v i v o s do c a s a l p e r
única, de a c o r d o c o m o c r u z a m e n t o o b s e r v a d o e c o n f o r m e j á f i z e m o s n o t a r . N o s i s t e m a MN ( L e v i n e - L a n d s t e i n e r ) e l e s se d i s t r i b u e m 2 a 2 nos g r u p o s MN e N. N o s i s t e m a RhHr ( L a n d s t e i n e r L e v i n e ) t o d o s p e r t e n c e m a i g u a l g r u p o : Rh,. H á , p o r -t a n -t o , g r a n d e s e m e l h a n ç a de f ó r m u l a s g e n é -t i c a s ( g e n ó -t i p o s ) . Conclusões: 1 — A c o n s a n g ü i n i d a d e dos g e n i t o r e s e x p l i c a , e m p a r t e , o f a t o de a p r e s e n t a r e m f ó r m u l a s g e n é t i c a s b a s t a n t e p r ó x i m a s ; 2 — N a d a há de p a r t i c u l a r nos f a t o r e s s a n g ü í n e o s dos d e s c e n d e n t e s , q u e se d i s t r i b u e m s e g u n d o a s p r o b a b i l i d a d e s j á p r e v i s t a s p e l a s leis da h e r a n ç a ; 3 — N ã o se o b s e r v o u n e n h u m a c o r r e l a ç ã o e n t r e a p r e s e n ç a da i d i o t i a a m a u r ó t i c a e a p e c u l i a r f ó r m u l a g e n é t i c a , n o r e f e r e n t e a o s g r u p o s s a n g ü í n e o s ; 4 — F i c o u c l a r a m e n t e d e m o n s t r a d a a e s t r e i t a s e m e l h a n ç a e n t r e a f ó r m u l a g e n é t i c a dos g e n i t o r e s , dos d e s c e n d e n t e s , sadios ou p o r t a d o r e s de i d i o t i a a m a u r ó t i c a ; 5 — A t é o n d e estes e s t u d o s nos l e v a m , n ã o p o d e m o s e x c l u i r a p o s s i b i l i d a d e d e q u e t a l s e m e -l h a n ç a g e n é t i c a possa c o n t r i b u i r p a r a o a p a r e c i m e n t o da m o -l é s t i a e m a p r e ç o " .
Do ponto de vista oftalmológico, as manifestaηőes săo precoces e quase
sempre caracterνsticas. Dado negativo de importβncia é a inexistκncia da
mancha vermelhocereja na mácula, que é substituνda por fina pigmentaηăo
de tipo salpimenta. A princνpio, a papila e os vasos săo normais e a mácula
é ocupada por pequena área esbranquiηada, envolta por uma auréola verme
lha, como se a fσvea fosse excepcionalmente profunda e brilhante, interior
mente, a papila empalidece e os vasos tornamse menores, a área branca da
mácula se expande, a auréola se pronuncia e pigmenta e, na retina perima
cular, surgem radiaηőes brancas. N o estádio seguinte a papila se atrofia,
os vasos tornamse filiformes, a retina periférica fica pulverizada de pigmen
to côr de pimenta, na mácula a área atrσfica se alastra, transformandose
em mancha irregular, fortemente pigmentada e sem limites nνtidos, atingin
do geralmente duas vezes o tamanho da papila e desvanecendose numa área
perimacular opaca, com aspecto de cobre ou prata batida; a retina se atro
fia completamente, tornandose visνveis os vasos corσideos. É importante ter
em conta que a atrofia da papila pode preceder as alteraηőes da mácula
(Pollock, cit. por D u k e E l d e r
1 1) . Taft e M o n r o e
3 6M a r b u r g
2 4, em seu caso, verificaram que a área calcarina era a menos
le-sada, ao passo que as lesőes da retina e do nervo σptico eram evidentes.
A sintomatologia neurológica instalase apσs o aparecimento dos dist٥r
bios visuais. Sjogren distinguiu, na evoluηăo da forma juvenil da idiotia
amaurσtica, cinco perνodos: D o inνcio, caracterizado por dist٥rbios visuais,
seguidos de comprometimento da palavra; 2) uma fase de dist٥rbios do ca
ráter, indiferenηa, torpor e surtos de excitaηăo, e acessos convulsivos; 3)
um estádio em que, aos nνtidos dist٥rbios intelectuais e afetivos, se associam
sinais extrapiramidais; 4) um perνodo de desintegraηăo, com perda da lin
guagem, alteraηőes do tono, desordens cerebelares, hipercinesias e perturba
ηőes neurovegetativas; 5) uma fase terminal, com demκncia total, tetraple
gia espasmσdica e estado de grave caquexia. Năo há desordens sensitivas.
Nistagmo e estrabismo săo freq٧entes. As manifestaηőes extrapiramidais re
vestem, de regra, o tipo hipertônicohipocinético palidal: observase tendκncia
ΰ atitude rνgida do corpo em ligeira anteflexăo, perdemse os movimentos
automáticos associados, a marcha se faz em pequenos passos e instalase len
tidăo do movimento corporal. Há, porém, relatos de sνndromes hipercinético
hipotônicas neostriadas, como no caso de van der Scheer e Winkler (cit. por
Dide e van B o g a e r t
9) , em que havia atetose e distonia de torηăo. A evolu
ηăo da moléstia é lenta e progressiva, ocorrendo o κxito letal de 10 a 15
anos apσs o inνcio da sintomatologia.
N o s casos q u e a p r e s e n t a m o s , a s i n t o m a t o l o g i a c o m p ő e s e , b a s i c a m e n t e , de u m a t r ν a d e , r e p r e s e n t a d a p o r d i s t ٥ r b i o s v i s u a i s , a l t e r a η ő e s p s ν q u i c a s e s ν n d r o m e c o n v u l s i v a .
Os dist٥rbios visuais — b a i x a p r o g r e s s i v a da a c u i d a d e v i s u a l , c u l m i n a n d o , a p σ s p o u c o s meses, e m a m a u r o s e — c o n s t i t u ν r a m , nos t r κ s i r m ă o s , a m a n i f e s t a η ă o i n i c i a l d a m o l é s t i a , s u r g i n d o e n t r e os 6 e 7 a n o s d e i d a d e .
Desordens psíquicas s i g n i f i c a t i v a s a p r e s e n t a r a m s e n o c a s o 1, c o n c o m i t a n t e m e n t e
ΰs a l t e r a η ő e s v i s u a i s , t r a d u z i n d o s e s o b r e t u d o p o r i n t e n s a a g i t a η ă o p s i c o m o t o r a , q u e se p r o l o n g o u , a l i á s , a t é o p e r ν o d o f i n a l d a m o l é s t i a ( a p a c i e n t e f a l e c e u a o s 17 a n o s de i d a d e ) . O r e b a i x a m e n t o g l o b a l d a s f u n η ő e s i n t e l e c t u a i s é t a m b é m p r o n u n c i a d o n o caso 2 e m e n o s i n t e n s o n o c a s o 3.
Crises convulsivas g e n e r a l i z a d a s e s t a b e l e c e r a m s e a p a r t i r dos 11 a n o s d e i d a d e
e m t o d o s os casos; é i n t e r e s s a n t e s a l i e n t a r q u e o p a c i e n t e J o a q u i m R . M . ( c a s o 3 ) , q u a n d o e x a m i n a d o p e l a p r i m e i r a v e z , a o s 10 a n o s de i d a d e , n ă o h a v i a a i n d a s o f r i d o crises c o n v u l s i v a s e s p o n t β n e a s , m a s d u r a n t e o e x a m e e l e t r e n c e f a l o g r á f i c o , a a t i v a η ă o p e l a a m i n o p i r i n a , na d o s e de 115 m g , d e t e r m i n o u a e c l o s ă o de c r i s e c o m p l e t a , de t i p o g e n e r a l i z a d o , s e g u i d a de p r o l o n g a d o p e r ν o d o de a u t o m a t i s m o .
A o exame sômato-neurológico a p e n a s d e s t a c a m o s h i p o r r e f l e x i a o s t e o t e n d ν n e a g e n e r a l i z a d a ( c a s o s 1 e 2 ) . N ă o se e v i d e n c i a r a m m a n i f e s t a η ő e s e x t r a p i r a m i d a i s , c e r e b e l a r e s ou p i r a m i d a i s . O e x a m e dos fundos o c u l a r e s d e m o n s t r o u , a o l a d o d a a t r o f i a das p a p i l a s , r e t i n o s e p i g m e n t a r , e v i d e n t e nos casos 2 e 3.
A s i n t o m a t o l o g i a r e f e r i d a j u s t i f i c a , a nosso v e r , o d i a g n σ s t i c o c l ν n i c o d e i d i o t i a a m a u r σ t i c a j u v e n i l , de B a t t e n e M a y o u . Q u a n t o ΰ p r o n u n c i a d a a n e m i a o b s e r v a d a no caso 1, foi p o r nσs r e l a c i o n a d a a o a l t o g r a u de i n f e s t a η ă o v e r m i n σ t i c a d e q u e e r a p o r t a d o r a a p a c i e n t e .
Vários autores tκm estudado as alterações eletrencefalográficas observa
das na idiotia amaurσtica juvenil. Levy e Little
2 2de-finido nas regiões oceipitais; neste caso, novo eletrencefalograma após o
apa-recimento de convulsões, revelou numerosas ondas δ de elevado potencial.
No caso de Lubin e M a r b u r g
2 4, apesar da existência de convulsões, o
tra-çado estava bem organizado, embora houvesse ondas lentas eventuais,
parti-cularmente nas regiões oceipitais. Em três casos de idiotia amaurótica
ju-venil estudados por Radermecker
2 I ), os achados foram os seguintes: no
pri-meiro, o traçado era sensivelmente alterado por uma disritmia lenta, bem
mais marcada à esquerda, o que, associado à existência de hemiplegia
di-reita, indicava assimetria do processo patológico; havia acentuado
componen-te comicial. Nos outros dois casos (duas irmãs) observou uma disritmia
lenta, mais ou menos acentuada, porém difusa, sobre a qual se inscreviam
surtos paroxísticos de alto potencial, bilaterais e simétricos, de tipo comicial.
Comparando esses achados com os da forma infantil, Radermecker assinala
que, nas formas juvenis, a alteração neuronal é menos difusa e menos
pro-funda; nesta forma, a epilepsia é quase a regra e se traduz pelo componente
comicial generalizado.
r e p e t i d o s s u r t o s de h i p e r s i n c r o n i a , q u e se t o r n a r a m m a i s n u m e r o s o s d u r a n t e a h i -p e r -p n é i a ( f i g . 4 ) . N ã o se o b s e r v a a l t e r a ç ã o e v i d e n t e e m r e l a ç ã o a o e x a m e a n t e r i o r . C o n c l u s ã o : a n o r m a l i d a d e p a r o x í s t i c a b i l a t e r a l s i n c r o n a ( s u r t o s de h i p e r s i n c r o n i a ) . d ) E m 7-11-1955: E m c o m p a r a ç ã o c o m o e x a m e a n t e r i o r , o b s e r v a - s e u m a d i m i n u i ç ã o n o n ú m e r o de s u r t o s d e h i p e r s i n c r o n i a .
Em geral, os vários exames de laboratório, inclusive a dosagem de
fos-folípides no soro
2, não fornecem qualquer elemento para o esclarecimento
dos casos de idiotia amaurótica. Em nossos casos, além de
hipocolesterole-mia, não foram verificadas alterações nítidas pelas provas de laboratório
(quadro 1 ) .
Foi feita, entretanto, nos casos 2 e 3 (em 12-7-1954), a eletroforese das
•
proteínas, glicoproteínas e lipoproteínas do plasma, cujos resultados (quadro
2) podem ser assim resumidos:
" A u m e n t o d a s g l o b u l i n a s d o g r u p o a2, q u e i n d i c a d e s t r u i ç ã o d e t e c i d o s ou e s t í
-m u l o s p a r a a f o r -m a ç ã o d e n o v o s t e c i d o s . E n t r e t a n t o , n ã o se o b s e r v a a u -m e n t o das g l i c o p r o t e í n a s «2, q u e c o s t u m a m f o r m a r a m a t é r i a - p r i m a p a r a as f i b r a s d o c o l á g e n o . P e l o c o n t r á r i o , a a n á l i s e das l i p o p r o t e í n a s m o s t r a q u e o a u m e n t o da g l o b u l i n a a2
é a c o m p a n h a d o p o r u m e l e v a d o t e o r de l í p i d e s d e s t a f r a ç ã o , o q u e p o d e r i a s u g e r i r d i s t ú r b i o s nas f u n ç õ e s m e t a b ó l i c a s d o f í g a d o . O p o s s í v e l c o m p r o m e t i m e n t o d e s t e ó r -g ã o se r e f l e t e n a e l e v a ç ã o d a s -g l o b u l i n a s y e nos g r a n d e s d e s v i o s das f r a ç õ e s g l i c o e l i p o p r o t ê i c a s e m g e r a l . E m síntese, v e r i f i c o u - s e , e m a m b o s os c a s o s : a u m e n t o das p r o t e í n a s e l i p o p r o t e í n a s a2; a u m e n t o d a s g l i c o e l i p o p r o t e í n a s da a l b u m i n a ; a u m e n t o d a s p r o t e í n a s 7; d i m i n u i ç ã o das g l i c o p r o t e í n a s a2 e β; d i m i n u i ç ã o das l i p o p r o t e í
-nas a1 e β" ( D r . G ü n t e r H õ x t e r ) . R e s s a l t e - s e , p o r é m , a n o r m a l i d a d e das p r o v a s
Em janeiro de 1956, foi realizada — cremos que pela primeira vez em
casos de idiotia amaurótica, forma juvenil — a eletroforese das proteínas
do liqüido cefalorraqueano associada à eletroforese das proteínas plasmáticas.
" F o i e f e t u a d o e s t u d o e l e t r o f o r é t i c o d a s p r o t e í n a s d o s o r o e d o l i q ü i d o c e f a l o r r a -q u i d i a n o ( L C R ) dos casos 2 e 3 e m a m o s t r a s c o l h i d a s na m e s m a o c a s i ã o (12-1-1956) e s u b m e t i d a s a o s m e s m o s processos p r e p a r a t ó r i o s . A s a m o s t r a s de L C R f o r a m p r e -v i a m e n t e c o n c e n t r a d a s p e l o p r o c e s s o de d i á l i s e c o n t r a s o l u ç ã o d e p o l i -v i n i l p i r r o l i d o n e a 3 0 % ; e l e t r o f o r e s e e m p a p e l e m a p a r e l h a m e n t o A . H . T h o m a s . P a r t e d o m a t e r i a l f o i u t i l i z a d a p a r a a d e t e r m i n a ç ã o d a t a x a d e p r o t e í n a s t o t a i s ( s o r o : m é t o d o do b i -u r e t o , c o m l e i t -u r a e s p e c t r o f o t o m é t r i c a ; L C R : m é t o d o d o á c i d o t r i c l o r a c é t i c o , s e g -u n d o a t é c n i c a de B o s s a k e c o l . , c o m l e i t u r a e s p e c t r o f o t o m é t r i c a ) ; v a l o r e s c o n s i d e r a d o s c o m o n o r m a i s , 6,5 a 8,0 g / 1 0 0 m l ( p r o t e i n e m i a ) e 10 a 20 m g / 1 0 0 m l ( p r o t e i n o r r a q u i a ) . P a r a as a m o s t r a s d e L C R f o r a m f e i t a s t a m b é m pesquisa d e g l o b u l i n a s ( r e a -ç ã o de P a n d y ) e r e a -ç õ e s c o l o i d a i s ( d o b e n j o i m e de T a k a t a - A r a ) , cujos r e s u l t a d o s e s t ã o l a n ç a d o s n o q u a d r o 3.
-b u l i n a s e s t a v a n i t i d a m e n t e r e l a c i o n a d o a o a u m e n t o da f r a ç ã o 7 e m a m -b o s , a s s o c i a d o a a u m e n t o da f r a ç ã o a2 a p e n a s n e s t e caso, o n d e h a v i a t a m b é m d i m i n u i ç ã o d o v a l o r
da f r a ç ã o β g l o b u l i n a . D i m i n u i ç ã o d a r e l a ç ã o a l b u m i n a / g l o b u l i n a n o L C R f o i e v i -d e n c i a -d a a p e n a s n o caso 2, e s p e c i a l m e n t e l i g a -d a a a u m e n t o -da f r a ç ã o 7; n o L C R d o c a s o 3 v e r i f i c o u - s e a p e n a s a u m e n t o i s o l a d o d e g l o b u l i n a 7, c o m q u e d a d a f r a ç ã o β"
( D r . A . S p i n a - F r a n ç a ) .
Em 1948, Bagh e Hortling '
Λevo-luidos e nos corpúsculos de menor diâmetro médio, sendo ainda mais
fre-qüentes no sangue periférico que na medula óssea. Os vacúolos que, pelo
exame vital, se mostravam cheios de um liqüido fluido, sem birrefringência,
não adsorveram qualquer corante para lípides. Van B o g a e r t
7comprovou o
mesmo aspecto dos linfócitos em dois casos da forma juvenil da idiotia
amau-rótica. Também Thiébaut e col.
3 9verificaram a presença desses vacúolos
lin-focitários, não coráveis pelo Sudan I I I e Sudan I V , em um caso desta
mo-léstia; comentando o fato, lembram que vacúolos citoplasmáticos também
foram descritos em casos de moléstia de Niemann-Pick, porém não se
limi-tam, como na idiotia amaurótica, aos linfócitos e, além disso, apresentam
bir-refringência, sendo coráveis pela hematoxilina e pelo Sudan. Rayner (cit.
por F u r t a d o
1 5) , investigando em famílias de pacientes portadores da
molés-tia de Batten e Mayou, encontrou vacuolização linfocitária na percentagem
de 3 a 14%, nos heterozigotos. Bagh e Hortling levantam a hipótese de que
esses glóbulos sejam específicos da moléstia, indicando distúrbios nas
fun-ções vitais dos linfócitos maduros e devidos, possivelmente, a uma desordem
do metabolismo lipídico. Deve notar-se, no entanto, que a presença de
va-cúolos nos linfócitos pode ocorrer normalmente, embora em percentagem
mui-to inferior à com que são observados na idiotia amaurótica juvenil.
O problema da vacuolização dos linfócitos foi estudado minuciosamente
em nossos casos pelo Dr. Fernando Teixeira Mendes.
"Mιtodos — Os m é t o d o s h e m a t o l ó g i c o s c o n s i s t i r a m e m c o n t a g e n s e x e c u t a d a s da
m a n e i r a clássica, f a z e n d o - s e as d i l u i ç õ e s e m p i p ê t a s h e m a t i m é t r i c a s c o m l i q ü i d o de G o w e r s p a r a os e r i t r ó c i t o s e l i q ü i d o de T ü r k p a r a os l e u c ó c i t o s . A d o s a g e m de h e -m o g l o b i n a foi f e i t a p e l o -m é t o d o da o x i e -m o g l o b i n a e -m -m e i o a l c a l i n o , c o -m l e i t u r a esp e c t r o f o t o m é t r i c a ( e s esp e c t r o f o t ò m e t r o C o l e m a n Jr. m o d e l o 6 A ) e m 545 m/i. Os e s f r e g a ç o s e r a m f e i t o s e m l â m i n a s , da m a n e i r a clássica, secos a o a r e c o r a d o s p e l o c o -r a n t e de L e i s h m a n n d i l u í d o a 0,2% e m m e t a n o l ( 1 m i n u t o sem d i l u i -r e 12 m i n u t o s a p ó s a a d i ç ã o d e á g u a d e s t i l a d a ) . Os m é t o d o s c i t o q u í m i c o s c o n s i s t i r a m e m : a ) p a r a p o l i s s a c á r i d o s , t e s t e d o P . A . S . ( p e r i o d i c a c i d S e h i f f , t e s t ) s e g u n d o H o t c h k i s s *, f i x a n -do-se os e s f r e g a ç o s p e l o s v a p o r e s de f o r m o l , à t e m p e r a t u r a a m b i e n t e , p o r 10 m i n u t o s ; b ) p a r a l í p i d e s u s a m o s o S u d a n B l a c k Β a 1,5% d i l u í d o e m á l c o o l e t í l i c o a 7 0 % , a p ó s f i x a ç ã o pelos v a p o r e s de f o r m o l , c o m o p a r a os p o l i s s a c á r i d o s ; foi e x e c u t a d o , t a m b é m , o t e s t e do S u d a n a 60<>C ( L i s o n * * ) , cujos d e t a l h e s f o r a m d e s c r i t o s e n t r e nós p o r M e n d e s e R a b i n o v i t c h * * * ; c ) p a r a á c i d o d i s o x i r r i b o n u c l e i c o foi f e i t o o t e s t e d e F e u l g e n , s e g u i n d o - s e as r e c o m e n d a ç õ e s de G o m o r i * * * » , e m p r e g a n d o - s e , t a m b é m , e s f r e g a ç o s f i x a d o s pelos v a p o r e s de f o r m o l . Resultados — O a c h a d o h e m a t o l ó g i c o i m p o r t a n t e nos casos de i d i o t i a a m a u r ó t i c a j u v e n i l é a o c o r r ê n c i a de c é l u l a s l i n f ó i -des a p r e s e n t a n d o v a c u o l i z a ç ã o c i t o p l a s m á t i c a ( f i g . 5 ) . A a l t e r a ç ã o m a n i f e s t a - s e e m t o d o s os tipos de e l e m e n t o s , pequenos, m é d i o s e g r a n d e s ( " l e u c o c i t ó i d e s ) , sendo p a r -t i c u l a r m e n -t e v i s í v e l , c o m o é ó b v i o , nos de c i -t o p l a s m a a b u n d a n -t e . N a m a i o r p a r -t e das c é l u l a s , n ã o se c h e g a a o b s e r v a r p r o p r i a m e n t e a f o r m a ç ã o de v a c ú o l o s , c o m o se
f o s s e m o r i f í c i o s c i t o p l a s m á t i c o s , m a s n o t a - s e n i t i d a m e n t e a a u s ê n c i a de c o l o r a ç ã o de á r e a s b e m d e f i n i d a s d o c i t o p l a s m a ; e m o u t r o s , v e r i f i c a s e c o m o q u e v e r d a d e i r a s " p e r -f u r a ç õ e s " . N u m e n o u t r o c a s o as p r i m e i r a s a l t e r a ç õ e s são a p e n a s v i s í v e i s , m e d i n d o a p r o x i m a d a m e n t e 1 μ . E m s e g u i d a , n o t a m - s e v a c ú o l o s m a i o r e s , t e n d e n d o , a l g u n s de-les, à c o n f l u ê n c i a . N o s l i n f ó c i t o s de m é d i o e g r a n d e t a m a n h o , nos q u a i s , p o r t a n t o , o c i t o p l a s m a é m a i s a b u n d a n t e , n o t a - s e q u e o i n í c i o de f o r m a ç ã o dos v a c ú o l o s se p r o c e s s a e m u m a z o n a i n t e r m e d i á r i a e n t r e n ú c l e o e p e r i f e r i a c e l u l a r , q u e é, g e r a l -m e n t e , b e -m l o c a l i z a d a . T e -m - s e a i -m p r e s s ã o d e q u e só p o s t e r i o r -m e n t e o f e n ô -m e n o t e n d e a se e s t e n d e r a o r e s t o do c i t o p l a s m a . F o i f e i t a pesquisa de l i n f ó c i t o s v a c u o -l i z a d o s nos casos 2 e 3, b e m c o m o na p r o g e n i t o r a , nos dois i r m ã o s ( v i v o s e s a d i o s ) e e m u m a p r i m a - i r m ã dos p a c i e n t e s ; e n q u a n t o n e s t a ú l t i m a — D . R . M . , c o m 13 a n o s de i d a d e , q u e a p r e s e n t a s i n t o m a t o l o g i a n e u r o l ó g i c a s e m e l h a n t e à dos p a c i e n t e s a q u i e s t u d a d o s — e nos casos 2 e 3 f o r a m e n c o n t r a d o s l i n f ó c i t o s v a c u o l i z a d o s , nos d e m a i s os e l e m e n t o s e r a m n o r m a i s . E m u m a t e n t a t i v a de identificação citoquímica d a s s u b s t â n c i a s q u e e s t a r i a m e m e l a b o r a ç ã o nos v a c ú o l o s , f o r a m f e i t o s os s e g u i n t e s t e s t e s : 1 ) t e s t e p a r a p o l i s s a c á r i d o s , de H o t c h k i s s - M a c M a n u s ( P . A . S . ) ; 2 ) S u d a n B l a c k Β p a r a l í p i d e s ; 3 ) t e s t e de F e u l g e n p a r a á c i d o d i s o x i r r i b o n u c l ê i c o , e s t e m a i s p a r a a v e r i f i c a ç ã o de p o s s í v e i s a l t e r a ç õ e s de d e t a l h e s da e s t r u t u r a n u c l e a r dos e l e -m e n t o s . Os r e s u l t a d o s f o r a -m n e g a t i v o s , i s t o é, n ã o se c o n s e g u i u e v i d e n c i a r r e a ç ã o p o s i t i v a , q u e r p a r a p o l i s s a c á r i d o s , q u e r p a r a l í p i d e s . Os estudos c i t o q u í m i c o s p r o s -s e g u e m " ( D r . F e r n a n d o T . M e n d e -s ) .
R E S U M O